Nota Introdutória
Digamos que a sociedade portuguesa começou a ponderar a fragilidade
das questões económicas versus saúde, bem-estar e segurança. Porque se, depois de
tudo isto, não percebemos o quanto dependemos uns dos outros, o quanto
precisamos uns dos outros seja nos relacionamentos sociais, seja na troca de saberes…
então não aprendemos nada com esta pandemia e vamos sofrer muito com as
próximas, porque elas vêm aí… dizem os cientistas, a imprensa falada e escrita mais
as redes sociais que falam disso frequentemente. Não podemos continuar a achar que
um mundo tão desigual…é normal e aceitável. Porque se temos mais conhecimento,
mais tecnologia e acesso a mais informação… Temos de ser mais esclarecidos. Temos
de mudar o que está mal- na saúde e na doença, na escola, na investigação e no
ensino, na justiça, no ambiente, nos transportes, no trabalho e no desemprego… foi
nesse sentido que aqui registei a minha opinião de cidadã comum que convida outros
a expressar as suas preocupações, nesta época tão particular.
As informações e orientações esclarecidas e especializadas … essas terão
o seu lugar reservado em sede própria.
Nós por cá…também temos de fazer a nossa parte: começando pela
denúncia, pela exigência, pela participação cívica, pela luta das nossas aldeias, das
nossas vilas ou cidades, pelo nosso país, por um mundo melhor e mais equilibrado. E
porque ficou tanto por dizer e fazer …lembro que estamos a viver uma época única a
todos os níveis sociais, humanos, económicos e financeiros. Estamos a viver uma crise
sanitária mundial. Séria, muito séria.
Estamos a viver uma época única marcante a todos os níveis sociais,
humanos, económicos e financeiros. Estamos a viver uma crise sanitária séria,
mundial. Estamos a viver uma pandemia planetária como outras que a Humanidade
já experimentou, só que mais rápida; Daquelas que a globalização propagou
velozmente pelo mundo inteiro, mais eficaz e mais surpreendentemente. O Homem
chegou a um ponto de arrogância, de soberania tal que se esqueceu que as
pandemias, as pestes e os fenómenos naturais acontecem e têm força para o parar.
Estamos a viver uma época única. Um vírus aquietou-nos. Paralisou-nos. Estamos diferentes, embora ainda não saibamos o que nos mudou… percebemos pelas notícias nacionais e estrangeiras que nenhum serviço de saúde, no mundo, estava preparado para as grandes doenças, para as grandes “pestes”, ficámos esclarecidos quanto à importância da escola enquanto instituição e aquilatámos o papel dos professores na sociedade. Reconhecemos muitas coisas nestes tempos…
Olívia Wintacem, Novembro de 2020
Estamos a viver uma época única.
de
desenvolvimento,
de
conhecimento,
de
olhares
diferentes,
de
grandes
transformações e, ainda assim,
não ouvimos com a devida atenção
as vozes dos cientistas a avisarem
que mais vírus virão no futuro. Ora,
se assim é, tendo em conta este
mundo global, facilmente se
entende que, se há áreas que os
programas políticos têm de
proteger a da saúde é uma delas.
A OMS mais todas as organizações
de referência internacional como a
OCDE, por exemplo, têm de dar o
“mote” no sentido de chamarem as
lideranças mundiais à atenção
para estas questões. Os países têm
de criar condições de protecção da
saúde e da vida dos seus cidadãos.
Porque as pandemias matam
todos, independentemente da
raça, do género ou do credo. E este
mundo é cada vez mais global,
mais pequeno e mais aldeia. E
mesmo assim, não se tem tornado
um lugar mais aprazível para viver.
A nossa casa comum tem muitos
compartimentos
pequenos,
sempre superlotados e, cada vez
mais, muitos compartimentos
maiores…desocupados!
Esta
situação é do conhecimento de
todos, mas pelos vistos, o acesso à
informação não está a fazer de nós
melhores pessoas. A tecnologia, a
ciência, o acesso às universidades e
ao Conhecimento deveriam
tornar-nos mais esclarecidos
.
E a
liberdade de pensamento e de
acção mais a tão ambicionada
globalização também deveriam
contribuir. Mas não. Mantemo-nos
pequeninos, egoístas e indiferentes
ao que se passa ao nosso redor.
Mantemo-nos sós… connosco. É
isso que aqui pretendo deixar
registado: falar da pandemia que
mata todos, mais uns do que
outros; falar do que a imprensa nos
diz; e falar do modo como os
governantes do mundo com a sua
soberba prejudicaram toda a
população do planeta. Referir o
papel da UE nessa conjuntura e o
que nos aconteceu a todos nesse
emaranhado.
As
lições
que
devemos tirar e o que devemos ou
podemos fazer são as perguntas
que não calam às respostas que
não sei dar, mas espero que outros,
com os seus contributos, as ajudem
a esclarecer.
A Envolvente internacional
Tanto os Estados Unidos como a China dependem do comércio
externo como importadores e como exportadores e, no caso americano,
acrescem os vínculos financeiros, empresariais e tecnológicos.
Entretanto, a crescente influência da China em cada uma das suas
províncias pode afectar a hegemonia e a capacidade americanas de, lá,
exercerem a sua “influência”. Esta disputa pela hegemonia no cenário
internacional alertou os cidadãos mais incautos para a pequenez do
nosso mundinho, porque o que determina os nossos futuros são
questões muito mais largas sem que nós, disso, tenhamos consciência.
Falo dos resultados das eleições nos Estados Unidos; da luta contra a
Pandemia; dos conflitos raciais nos EUA, da política americana e da
não-cooperação com seus aliados tradicionais. Penso que, mais cedo que
tarde, o tema das eleições americanas seja com a vitória de
Republicanos ou dos Democratas deixará as parangonas; Que a
descoberta da vacina vencerá esta pandemia e que, do mesmo modo, os
conflitos raciais nos Estados Unidos acalmarão e, espero, acabarão um
dia. Agora, a demanda pela hegemonia global…essa não cessará.
A União Europeia
Será que a Europa percebeu como políticas exclusivamente
economicistas podem pôr em causa as soberanias dos estados? As
políticas de saúde têm de ser, devem ser mais ambiciosas e considerar
as questões sociais de forma séria. Lembro que elas são parte intrínseca
das democracias e que, até ver, em democracia as pessoas contam. Os
tratados comerciais têm de ser mais ponderados. Em alguns casos até
renegociados, manda o bom senso, mandam as economias dos países e
exigem os trabalhadores europeus porque precisam de trabalho digno e
bem remunerado. Os trabalhadores qualificados da Europa ficaram no
desemprego porque eram bem pagos, tinham regalias, direitos e
capacidade reivindicativa. Foi então que as empresas se deslocalizaram
para a Ásia. A mão- de-obra barata está lá, nas mãos das crianças que
não vão à escola, do trabalho infantil e dos trabalhadores sem direitos.
Lá, onde não se respeitam nem os Direitos Humanos nem sequer se
considera a OIT. Mas o mundo ocidental, o que “respeita e cumpre todos
os direitos”, por razões escusas, transferiu empresas e tecnologia para a
Ásia. E foi assim que, em plena pandemia, o mundo ficou sem aspirinas,
sem máscaras e sem álcool… Por ganância, que fique claro.
E a solidariedade do mundo ocidental?
As economias não podem «conceptualizar-se» ao ponto de
construírem um mundo em ‘si’. As economias são, têm de reflectir
pensamento “organizado” de determinada sociedade. Na qualidade de
pensamento teórico e económico pode e deve especular, reflectir e
apontar caminhos, nunca exercer um dictatum à sociedade: um mundo
da “economia” alheio às necessidades e aos anseios das pessoas.
Trocarem as fábricas, os sonhos, o modo de vida de sociedades inteiras
em prol de uma qualquer convicção filosófico/política ou…estritamente
economicista… não é solidário, nem serve o bem-estar social. Mas a
verdade é que os estados, as sociedades, as organizações internacionais,
as multinacionais, as grandes empresas, as ONG’s e as igrejas… todos
participam nesses dois “mundos” que se intrincam, enrolam, asfixiam e
matam. Lembremo-nos da pobreza, da cada vez maior exclusão social,
da pandemia e falemos da europa. Os países da UE reagiram
isoladamente. Não se verificou uma política de ataque à crise pandémica
coordenada ou sugerida pela Europa. Cada país seguiu o caminho que
melhor lhe pareceu.
Entretanto, a pandemia criou condições para que a própria UE
desenvolva políticas de saúde que contemplem exigências básicas em
todos os estados-membros… A cooperação entre todos os SNS dos
estados-membros…porque não? Neste momento, a compra das vacinas
COVID é disso exemplo. À semelhança, aliás, da compra de muitos
medicamentos para doenças raras. A UE tem de ter reservas estratégicas
para as emergências, para o inesperado. Porque esperar uma política
europeia de saúde é uma aspiração com muito passado que se antevia
para um futuro hoje, é uma exigência do presente e para já. Olhemos
para a agenda deste mês da Comissão europeia. As mudanças chegaram:
Cronologia da intervenção da EU
Temos de cuidar uns dos outros, temos de apoiar-nos mutuamente na superação desta crise. Porque, se há algo mais contagioso do que este vírus, esse algo é o amor e a compaixão.
Face à adversidade, os cidadãos europeus estão a demonstrar o quão fortes podem ser.
Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, na sessão plenária do Parlamento Europeu (26 de março de 2020)
Novembro, 2 de novembro, UE aumenta a sua contribuição para o Mecanismo COVAX
A União Europeia anunciou que contribuirá com um montante adicional de 100 milhões de EUR em subvenções de apoio ao mecanismo COVAX, a fim de garantir o acesso à futura vacina contra a COVID-19 em países de baixo e médio rendimento. O mecanismo COVAX é o pilar das vacinas do acelerador do acesso aos meios de combate à COVID-19 (acelerador ACT), uma parceria mundial para acelerar o desenvolvimento, a produção e o acesso equitativo de todos os países do mundo aos testes, aos tratamentos e às vacinas para a COVID-19. Os fundos complementarão os 400 milhões de EUR em garantias que a UE já atribuiu ao mecanismo COVAX, o que faz da União um dos principais doadores.
A Comissão Europeia deu os primeiros passos no sentido da construção da União Europeia da Saúde. As novas propostas apresentadas, informadas pelos ensinamentos da atual crise, deverão garantir uma melhor preparação e resposta durante a atual crise e em futuras crises sanitárias. Entre elas incluem-se ações destinadas a reforçar o quadro de segurança sanitária da UE e a reforçar o papel das principais agências da UE em termos de preparação e resposta a situações de crise.
11 de novembro, Quarto contrato com empresas farmacêuticas para garantir acesso a uma potencial vacina
A Comissão Europeia aprovou, em nome de todos os Estados-Membros da UE, um quarto contrato com as empresas farmacêuticas BioNTech e Pfizer, que prevê a aquisição inicial de 200 milhões de doses, bem como a opção de requerer 100 milhões de doses suplementares, uma vez comprovada a segurança e a eficácia de uma vacina contra a COVID-19.
10 de novembro, Acordo sobre um pacote de 1,8 biliões de EUR para ajudar a construir uma Europa mais ecológica, mais digital e mais resiliente
A Comissão congratulou-se com o acordo entre o Parlamento Europeu e os Estados-Membros da UE no Conselho sobre o próximo orçamento de longo prazo da Europa e o Next Generation EU. Uma vez adotado, o pacote de um total de 1,8 biliões de EUR ajudará a reconstruir uma Europa pós-COVID-19. Será mais ecológica, mais digital, mais resiliente e mais adaptada aos desafios atuais e futuros.
9 de novembro, Apoio de 92 milhões de EUR à resposta do Sael à pandemia de coronavírus No âmbito da sua cooperação com o Sael, a UE anunciou um financiamento de 92 milhões de EUR para reforçar a resposta do Burquina Faso, da Mauritânia, do Níger e do Chade à propagação do coronavírus. O objetivo é proporcionar cuidados de saúde de qualidade às populações e reduzir o impacto económico e social da pandemia.
Coronavírus: Comissão estimula a investigação e a inovação
Fonte: Comunicado de imprensa/ 19 de maio de 2020Bruxelas
A União Europeia mostra como a transformação das mentalidades
está a acontecer. A matriz económica vai, gradualmente, abraçando as
outras componentes sociais:
Apoio à investigação sobre tratamentos, meios de diagnóstico e vacinas A maratona de angariação de fundos no âmbito da Resposta Mundial ao Coronavírus recolhe fundos destinados a permitir o acesso universal aos tratamentos, testes e vacinas contra o coronavírus. Teve início em maio e culminou numa Cimeira Global de Doadores e num concerto, em junho de 2020.
16 mil milhões de EUR de compromissos assumidos por doadores de todo o mundo. Neste montante está incluído um compromisso da Comissão no valor de 1,4 mil milhões de EUR.
A Comissão participará no mecanismo COVAX para um acesso equitativo a vacinas contra a COVID-19 a preços acessíveis e contribuirá com 500 milhões de EUR em garantias.
Desde janeiro, a Comissão mobilizou mais de 660 milhões de EUR ao abrigo do programa Horizonte 2020 para desenvolver vacinas, novos tratamentos, testes de diagnóstico e sistemas médicos destinados a impedir a propagação do coronavírus e a salvar vidas humanas.
A Comissão disponibilizou apoio financeiro à CureVac, uma empresa na vanguarda da inovação em matéria de vacinas, garantindo um empréstimo do Banco Europeu de Investimento no montante de 75 milhões de EUR.
O Banco Europeu de Investimento também assinou um acordo de financiamento no valor de 100 milhões de EUR com a empresa de imunoterapia BioNTech SE para desenvolver um programa de vacinas. O financiamento do BEI é apoiado pelo programa Horizonte 2020 e pelo Plano de Investimento para a Europa.
Até à data, a Comissão autorizou 5 contratos, num total de 1,2 mil milhões de doses de potenciais vacinas:
em acordo com a BioNTech-Pfizer com vista a uma aquisição inicial de
200 milhões de doses em nome de todos os Estados-Membros da UE, com uma opção de compra de mais 100 milhões de doses.
um acordo com a AstraZeneca para a aquisição de 300 milhões de doses da vacina, com a opção de compra de mais 100 milhões, em nome dos Estados-Membros da EU
um acordo com a Sanofi-GSK para a aquisição de 300 milhões de doses da vacina, em nome de todos os Estados-Membros da UE
um acordo com a Johnson and Johnson para a aquisição inicial de 200 milhões de doses da vacina em nome de todos os Estados-Membros da UE, com uma opção de compra de mais 200 milhões de doses
em acordo com a CureVac para a aquisição de 225 milhões de doses, em nome de todos os Estados-Membros da UE
A Comissão concluiu ainda negociações exploratórias com a Moderna e um contrato-quadro para a aquisição inicial de 80 milhões de doses em nome de todos os Estados-Membros da UE, com uma opção de compra de mais 80 milhões de doses.
A estratégia de vacinação apresentada pela Comissão ajuda a identificar os grupos vulneráveis que deveriam beneficiar da vacinação.
Além disso, formula recomendações sobre os serviços e as infraestruturas de vacinação, a distribuição, disponibilidade e acessibilidade dos preços das vacinas, bem como sobre a comunicação, a fim de garantir a confiança do público.
A Comissão vai criar um quadro comum para a comunicação de informações e uma plataforma para monitorizar a eficácia das estratégias nacionais de vacinação.
A estratégia em matéria de vacinas da Comissão está concebida para acelerar o desenvolvimento e a disponibilidade de vacinas. Os seus objectivos são:
assegurar a produção de vacinas na UE
garantir um abastecimento suficiente dos seus Estados-Membros através de acordos prévios de aquisição com produtores de vacinas
adaptar o quadro regulamentar da UE à atual situação de emergência
utilizar a flexibilidade das nossas regras para acelerar o desenvolvimento, a autorização e a disponibilidade de vacinas
A Comissão lançou um novo processo para aquisição conjunta de equipamento médico para vacinação.
A Comissão propôs igualmente que os hospitais e os médicos não tenham de pagar IVA sobre as vacinas e os testes de despistagem.
Saúde pública
Um passo rumo a uma União Europeia da Saúde
Em 11 de novembro de 2020, a Comissão lançou a primeira pedra de uma União Europeia da Saúde, fundada em dois pilares:
Um quadro de segurança da saúde mais robusto, que contemplará:
A harmonização dos planos de preparação e resposta europeus, nacionais e regionais. Estes planos serão sujeitos a testes de esforços e auditados regularmente pela Comissão e pelas agências da UE.
Um sistema de emergência da UE, que ativaria uma maior coordenação e uma ação rápida com vista a desenvolver, armazenar e adquirir o equipamento necessário para enfrentar a crise.
Agências da UE mais sólido:
O Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças acompanhará a situação epidemiológica com base em dados comuns.
O mandato da Agência Europeia de Medicamentos abrangerá a segurança dos medicamentos e dos dispositivos médicos, o risco de escassez e os ensaios clínicos de medicamentos.
Será criada uma Autoridade para Resposta a Emergências Sanitárias (HERA). Orientações médicas para os países da UE
O painel da Comissão de 7 epidemiologistas e virologistas independentes fornece orientações e aconselhamento com base científica sobre
medidas de resposta em todos os países da UE deficiências na gestão clínica
definição de prioridades em matéria de cuidados de saúde, de proteção civil e de outros recursos
medidas estratégicas para fazer face às consequências do coronavírus a longo prazo
O caso português
A pandemia alertou-nos para algumas questões - lembrou-nos
que o país tem de ter e de reter mais conhecimento técnico e evidenciou
a escandalosa dependência de terceiros. Foram várias as situações
delicadas que nos surpreenderam: desde logo, a falta de máscaras. A
sua utilização por todos era a medida indicada para impedir a
propagação do vírus. O país não as tinha em número suficiente. A
produção de máscaras fazia-se do outro lado do mundo. Depois, os
equipamentos de protecção do pessoal médico e de enfermagem, o
álcool gel, os equipamentos hospitalares, os ventiladores… tudo, tudo se
produzia noutro lugar, noutro continente... E essa circunstância atrasou
tratamentos, inibiu cuidados e mostrou como a interdependência é uma
coisa; Coisa diferente é a dependência total. Portanto, os poderosos
que decidiram estabelecer
estes protocolos, estes tratados
comerciais…esqueceram-se das populações, do ambiente, das regras da
boa governança, do respeito pelo outro e mandaram a ética às ortigas!
E Isso não pode ser uma política a continuar. Esses acordos não são
sérios nem se podem respeitar. Isso é ter vistas curtas, é cometer crime
de lesa-pátria ou pátrias!
Ventilador criado para cuidados intensivos já em fase de certificação
A pandemia pelo SARS-CoV-2 (COVID 19) surpreendeu o mundo pela exigência súbita e massiva de recursos diferenciados. Em março de 2020 não havia tratamento etiológico para esta doença, a mortalidade associada era elevada, não existia vacina, o contágio era vertiginoso e por isso serviços de saúde de vários países europeus entraram em rotura, com necessidade de reforço em várias frentes, muito em particular nos cuidados intensivos, quer em recursos humanos quer em equipamentos diferenciados como ventiladores. Neste contexto, em Portugal, o bastonário da Ordem dos Médios definiu três prioridades: Apoiar e promover todas as medidas de contenção da disseminação da doença; Promover e apoiar iniciativas para montar um hospital de retaguarda para doentes com COVID-19, se o Sistema Nacional de Saúde não conseguisse responder às solicitações, o que felizmente não veio a ser necessário. Desta forma, os esforços estão agora concentrados em contribuir para a construção de um centro de infeciologia altamente diferenciado no sentido de reforçar a capacidade de resposta do serviço de Infeciologia do Centro Hospitalar Universitário de São João, juntamente com a Associação Empresarial de Portugal e o movimento SOS Coronavírus. Promover uma parceria entre a SYSADVANCE e intensivistas portugueses convidados pela Ordem dos Médicos, para produção em Portugal de um ventilador de cuidados intensivos. A SYSADVANCE tem o Sistema de Gestão da Qualidade (QMS) certificado de acordo com a norma ISO 9001 para toda a gama de produtos industriais e do setor energético e certificado de acordo com a norma
ISO 13485 para dispositivos médicos: geradores de oxigénio médico e sistemas de geração de oxigénio, sistemas médicos de ar e vácuo. Estes dispositivos médicos são certificados de acordo com a Diretiva 93/42/CEE de Dispositivos Médicos. As autoridades sanitárias portuguesas apostaram fortemente nas medidas de contenção da disseminação da COVID-19 e o SNS aguentou o impacto da pandemia e mantém o controlo da propagação do vírus. Portugal não teve picos de incidência que provocassem a rotura dos hospitais, até porque muita da atividade programada foi cancelada ou adiada, pelo que não foi preciso construir uma retaguarda, mas a pandemia não desapareceu e o objetivo e a necessidade de construir um ventilador português mantém-se pelo que o projeto SYSADVANCE-OM seguiu o seu percurso.
Neste momento está produzido e testado o protótipo SysVent OM1 – ventilador de cuidados intensivos. A prova de conceito foi feita com testes de bancada, tendo os resultados sido aceites para publicação na revista científica Acta Médica Portuguesa. Foram feitos teste fisiológicos cujos resultados estão em preparação para publicação. O ventilador permite uma regulação muito rigorosa tanto na pressão como no volume do gás enriquecido em oxigénio, o que melhora os resultados finais. Além disso, pode ser controlado remotamente, reduzindo-se as intervenções presenciais junto de doente e o risco de contágio. Ultrapassada a fase de contingência, considerou-se estarem reunidas as condições para certificação CE, pelo que o processo está em curso e entregue a uma empresa certificada para o efeito. A empresa tem capacidade para produzir entre 20 a 60 equipamentos por dia.
Lisboa, 27 de julho de 2020
Outro exemplo a considerar onde tecnologia e ciência em Portugal
mostram como é possível criar riqueza, desenvolvimento, mais valia:
O ventilador pulmonar produzido em Portugal designado Atena recebeu uma autorização especial do Infarmed para o seu uso em contexto hospitalar na luta contra a covid-19, anunciou esta quinta-feira o CEiiA - Centro de Engenharia e Desenvolvimento, em Matosinhos.
Numa publicação na rede social Facebook, o CEiiA avança que o Atena foi “autorizado pelo Infarmed para uso no âmbito do procedimento da covid-19”. “Foi com humanidade, resiliência, paixão e entrega que a comunidade 4Life, através do CEiiA, desenvolveu e produziu em 45 dias o ventilador Atena e recebeu ontem (14 de Julho) autorização especial do Infarmed para o seu uso em contexto covid-19”
Covid-19: Ventilador produzido em Portugal recebe autorização de utilização do Infarmed
Ventilador Atena poderá ser utilizado nos hospitais no contexto da pandemia da covid-19.
Lusa, 16 de Julho de 2020,
O ventilador pulmonar Atena durante a fase de desenvolvimento PAULO PIMENTA.O ventilador pulmonar produzido em Portugal designado Atena recebeu uma autorização especial do Infarmed
Ventilador português Atena testado em porcos
Covid-19: SPA atribui prémio ao CEiiA e Universidade do Minho por criação de ventilador
Para o centro, este é um “passo importante” para a distribuição nacional e internacional daquele ventilador médico invasivo para dar suporte ao tratamento de doentes com falência respiratória aguda provocada pela covid-19 produzido em Portugal. “Um momento histórico que valida definitivamente a nossa capacidade para desenvolver e produzir novos produtos críticos para a soberania do país”, adianta ainda o CEiiA.
Produzido em 45 dias pelo CEiiA, no âmbito da comunidade 4Life, o ventilador juntou o conhecimento médico especializado, empresas, universidades e o apoio financeiro de mecenas e de milhares de portugueses. O equipamento, que também foi distinguido entre 349 iniciativas no concurso “express” do programa Caixaimpulse da Fundação “la Caixa”, conta com o apoio do grupo Clarke Modet para a obtenção da propriedade intelectual e industrial, anunciado pela empresa a 21 de Maio.
A primeira fase do projecto já foi concluída, com a entrega de 100 unidades que passaram nos ensaios pré-clínicos, e na segunda fase a previsão do CEiiA é produzir mais 400 unidades até Setembro.
Outra faceta da sociedade portuguesa que a pandemia expôs foi a
deficiente rede de lares de Idosos existente no país, o elevado número
de lares ilegais, a falta de condições de higiene, de cuidados
especializados, a inexistência de legislação específica para o normal
funcionamento destas instituições e outros considerandos que
acabaram por se revelar fatais para dezenas e dezenas de idosos que
pereceram desde março do corrente até agora e que, infelizmente,
continuam a morrer. Aqui chegados, não posso deixar de manifestar a
o meu mais profundo repúdio pelo comportamento social e político
dedicado aos “mais velhos” portugueses. Durante um tempo
considerável foi aceite como verdeiro que os idosos eram a faixa etária
atingida. E esse dado levou muitos a comportamentos
de risco
intoleráveis. Durante muito tempo achou-se que só os idosos eram
mortalmente atingidos… e essa indiferença levou o vírus para dentro
dos lares. Isso mais o desleixo e a indiferença do poder político
ajudaram a matar os idosos. Este testemunho quero registar. Este
testemunho grafa o que sinto e, nessa medida, aqui fica o respeito pela
memória dos que partiram e pela dor dos seus familiares.
Papa Francisco condena mortes de idosos por Covid-19: "As pessoas não deviam morrer assim"
"Não deviam morrer assim": Papa alerta para "descartamento" e impacto da pandemia nos mais velhos.”
Vimos o que aconteceu com as pessoas de idade nalgumas partes do Mundo por causa do coronavírus. Não deviam morrer assim. Na realidade, porém, tinha já acontecido algo semelhante devido às ondas de calor e noutras circunstâncias: cruelmente descartados.” Na encíclica ‘Fratelli Tutti’ (Todos irmãos), a terceira do Papa Francisco, assinada em Assis e este domingo divulgada no
Vaticano, o líder da Igreja diz que a pandemia veio expor a fragilidade da Humanidade, condenando o elevado número de idosos mortos e falando em vidas “cruelmente” descartadas.
CM, Secundino Cunha, 5 de Outubro de 2020.
Outra lacuna evidente foi a incapacidade da Segurança Social em
dar resposta aos pedidos solicitados. A urgência em organizar e dotar
os serviços públicos de meios humanos e técnicos revelou-se
fundamental. Os serviços não conseguiram responder, em tempo, às
solicitações extraordinárias a que foram sujeitos. Todos sabemos que
os organismos do estado precisam de reforço de RH há décadas e que
a política de recrutamento de pessoal é deficitária, portanto
dificilmente se poderia responder, com qualidade, às solicitações (é
bom lembrar que os trabalhadores do estado também estavam em
teletrabalho). Falta de pessoal, equipamento informático obsoleto,
trabalhadores em teletrabalho, burocracia excessiva, normas avulsas
do governo, mais as ansiedades dos cidadãos mostraram como foi difícil
conciliar as vontades de responder aos pedidos naquelas condições.
Outra má memória dos portugueses tem a ver com a decisão de
confinamento total aquando da primeira vaga Covid19. Nesta fase
foram muitas as manifestações de solidariedade. Desde os restaurantes
que cozinhavam para os trabalhadores da saúde, às manifestações de
solidariedade na partilha de tarefas na entrega de refeições na rua aos
sem-abrigo, às cantigas nas ruas, aos pescadores, aos agricultores, aos
trabalhadores da segurança, dos correios, dos supermercados, da
saúde24, do lixo…houve muitos trabalhadores que trabalharam muito
para que, apesar de tudo, tivéssemos pão em casa e nada faltasse.
Apesar disso, o país dificilmente repetirá. Foi uma medida de natureza
política com consequências económicas graves. Das mais graves da
História de Portugal. As empresas e o emprego foram seriamente
afectados. O desemprego atinge números assustadores e com ele a
fome.
Banco de Portugal vê desemprego acima dos 10% em 2020.
O Banco de Portugal divulgou uma projecção, segundo a qual se esperava para este ano, uma subida da taxa de desemprego para valores superiores a 10%. Esperando-se que em 2021 a taxa desça para 9,5% e para 8% em 2022. “A Contracção da actividade económica em 2020 tem reflexo numa destruição de postos de trabalho, projectando-se uma redução de emprego de 3,5 (após um crescimento de 0,8% em 2019)”
Em 2019, a taxa de desemprego ficou-se pelos 6,5%
Fonte JM, Março, 2020.
Há áreas económicas parcial ou totalmente destruídas. A
cultura, a restauração, a aviação, o turismo e o comércio, na
generalidade, foram particularmente afectadas. Impõe -se fazer a
pergunta que cala: quais são expectativas? Os dados e a experiência de
hoje apontam para respostas de confinamento sectorial e cirúrgico
consoante o alastramento da pandemia. Ainda assim, à época, o
confinamento total foi a política adoptada pela generalidade dos
países. A situação não é paradigmática, governou-se «à vista», à
semelhança do que se fazia nos outros países. Houve erros. Uns
desculpáveis outros nem por isso. Esperemos que os governantes não
os repitam. Há medidas governativas que podem pela sua indiferença
anular, acabar com a vida de um trabalhador, de um empresário, de
muitas famílias. O conjunto de medidas de apoio directo às famílias e
às empresas como as moratórias e todos os outros apoios económicos
e sociais mostraram-se e continuam a mostrar-se insuficientes. São
muitas as famílias cujo todo o rendimento foi reduzido a 2/3, ou que
perderam o emprego, ou, ainda, que caíram na situação de
dependência alimentar social. E também são muitas as PME que
sucumbiram dadas as quebras assinaláveis nos rendimentos.
Infelizmente, adivinham-se mais fechos de empresas, mais
desemprego e mais fome. E embora todos saibamos da difícil situação
económico-financeira do país…a preocupação-primeira dos governos
tem de ser os cidadãos. É aqui que surgem muitas vozes que se
insurgem contra os apoios a determinadas empresas, ao Novo Banco…
Por último, lembrar a necessidade de começar já a pensar nas
escolhas, nos critérios, nas políticas a adoptar para a pós-pandemia. A
este propósito a Ordem dos médicos portugueses, já em agosto deste
ano, comunicava o seguinte:
Antecipar, a melhor estratégia contra o vírus O bastonário da Ordem dos Médicos e o Gabinete de Crise da Ordem dos Médicos para a COVID-19, na sequência de uma reunião extraordinária que teve como objetivo analisar a atual situação epidemiológica nacional e internacional, decidiu emitir as seguintes recomendações:
1.Maximizar a eliminação da atividade viral durante o Verão, aproveitando as temperaturas mais elevadas, o aumento da radiação UV, a dispersão populacional e o encerramento das escolas;
2. Promover a realização precoce do teste de diagnóstico nos contactos de alto risco de casos confirmados, dotando as estruturas dos meios técnicos e recursos humanos necessários;
3. Equacionar a utilização da máscara facial em espaços públicos abertos e de acordo com a avaliação do risco local, sem prejuízo da adoção das outras medidas de prevenção da transmissão e contribuindo para a proteção de outros vírus respiratórios;
4. Elaborar legislação específica e de normas de Saúde Pública para a realização de eventos de massas com critérios uniformes e coerentes e, no âmbito da pandemia a SARS-CoV-2, de acordo com a avaliação do risco e o nível de atividade epidémica;
5. Facilitar o licenciamento, comercialização e aquisição de novos testes de diagnóstico para o SARS-CoV-2 e o vírus influenza, nomeadamente testes rápidos;
6. Antecipar a vacinação contra a gripe e a possibilidade de prescrição em receita com validade até ao final do ano.
Lisboa, 10 de agosto de 2020
Todos sabemos que “planear” não é o forte deste governo. E
também temos consciência de que considerar o conhecimento
científico, tê-lo em conta para as decisões políticas é sinal de política
esclarecida. Sabemos que isso não se está a verificar. Muito embora
saibamos que só planeando se dão os saltos qualitativos. Seja para as
políticas de emergência, (protecção civil, bombeiros, hospitais de
campanha, militares, forças de segurança…); seja na capacidade de
decisão e de reacção − ter trabalhadores formados para essa
circunstância. E ainda, ter bem estruturado em termos de política e de
apoios à economia, como e quem apoiar e que garantias exigir. De que
forma se vai relançar o país, atendendo sempre que Portugal mudou e
o mundo também…é uma dúvida que todos queremos ver rapidamente
esclarecida. Hoje, os cidadãos têm preocupações ambientais, de
segurança e de bem-estar impossíveis de adivinhar há duas ou três
décadas atrás. Hoje, as políticas devem e têm de se adaptar às novas
exigências sociais, sob pena de não traduzirem nem satisfazerem a
vontade dos cidadãos.
Saber se, no futuro, teremos uma sociedade mais informada e
cautelosa que exija respostas relativas às políticas de saúde… é uma
dúvida que só o tempo esclarecerá.
Enquanto isso, Portugal deve fazer a sua parte: prestar atenção
aos equipamentos de saúde, renovar o SNS e reconhecer os seus
profissionais. O Estado português não pode continuar a querer ter
trabalhadores qualificados e pagar-lhes “tuta e meia”. Neste momento
estamos a atravessar uma segunda vaga da pandemia e os serviços da
saúde públicos não têm profissionais que queiram fazer parte dos
quadros do Estado, o tal “que paga muito bem”. A este propósito tenho
de confessar que há qualquer coisa entre as ditas “excessivas regalias
dos trabalhadores do estado” e a” realidade de não se conseguir
mantê-los nos hospitais públicos” … escapa ao entendimento do
cidadão comum. Até porque a saúde pública portuguesa é cara. Muito.
Será que está a ser mal gerida? Será?!
Portugal é o sexto país da Europa com mais doentes de covis19 per capita
A pandemia mudou-nos. Ainda não descobrimos até que ponto.
Mas estamos diferentes. Digamos que a sociedade portuguesa
começou a ponderar a fragilidade das questões económicas, da saúde,
do bem-estar e da segurança.
Porque, se depois de tudo isto, não
percebemos o quanto dependemos uns dos outros seja nos
relacionamentos sociais, seja na troca de saberes… então não
aprendemos nada com esta pandemia e vamos sofrer muito com as
próximas, porque elas vêm aí… dizem os cientistas, a imprensa falada e
escrita mais as redes sociais que falam disso frequentemente. Não
podemos continuar a achar que um mundo tão desigual…é normal e
aceitável. Porque se temos mais conhecimento, mais tecnologia e
acesso a mais informação… Temos de ser mais esclarecidos. Temos de
mudar o que está mal- na saúde e na doença, na escola, no ensino na
investigação e na justiça, no ambiente, nos transportes, no trabalho e
no desemprego… foi nesse sentido que aqui registei a minha opinião de
cidadã que convida outros a expressar as suas preocupações, nesta
época tão particular. As informações e orientações esclarecidas e
especializadas … essas terão, certamente, o seu lugar reservado em
sede própria. Nós, por cá…também temos de fazer a nossa parte:
começando pela denúncia, pela exigência, pela participação cívica, pela
luta das nossas aldeias, das nossas vilas ou cidades, pelo nosso país…por
um mundo melhor e mais equilibrado. Ficou tanto por dizer … Estamos
a viver uma época única; marcante a todos os níveis sociais, humanos,
económicos e financeiros. Estamos a viver uma crise sanitária mundial.
Séria, muito séria.
Pensar Portugal no contexto europeu
Pensar o Estado Português
Pensar o Portugal regioanl com local
Pensar o Portugal
Nota explicativa
Os “anexos” que a seguir se elencam pretendem
fundamentar algumas afirmações feitas ao longo do texto
anterior; justificando, de algum modo, a leitura e as
interpretações em contexto. Só. Nada mais do que isso.
Entretanto, também poderão consolidar ideias ou motivar
outras pesquisas. Assim espero.
A talhe de foice, Advirto para a falta de critério da e na
ordem apresentadas seja nos conteúdos seja nas datas, ou
nas fontes. Essa foi a ideia: justificar como os temas se
intrincaram uns nos outros - da Europa se passou para os
Estados Unidos se referiu a Ásia e, embora omissos
explicitamente, estiveram sempre presentes os países mais
pobres do continente Africano. Mostrar como todos os países
foram afectados ricos, ou pobres; foi, efectivamente, essa a
ideia: não vincular leituras, apenas tecer opiniões que, espero,
motivem outras tantas a abordar este, ou outros temas.
Anexos
Covid-19: Fome ameaça matar mais do que o vírus em 2020.
O mundo caminha em direção a uma crise de fome sem precedentes.
David Ryder/Bloomberg
05 de Setembro de 2020 às 17:00
O número de pessoas que passam fome em 2020 pode ser até 132 milhões maior do que se estimava anteriormente. A pandemia está a provocar disrupções nas cadeias de abastecimento de alimentos, a debilitar economias e a corroer o poder de compra dos consumidores. Algumas projeções mostram que, no final do ano, a covid-19 causará um número maior de mortes diárias por fome do que pela infeção pelo vírus. A situação não tem precedentes já que o aumento está a acontecer numa altura de grandes excedentes globais de alimentos.
E está a acontecer em todas as partes do mundo, com novos níveis de insegurança alimentar em países que tinham uma relativa estabilidade nesse indicador. Em Queens, Nova Iorque, as pessoas esperam oito horas nas filas dos bancos alimentares, enquanto agricultores destroem plantações de alface na Califórnia e deixam frutas a apodrecer nas árvores no estado de Washington.
No Uganda, bananas e tomates acumulam-se nas feiras ao ar livre e, por mais que os preços baixem, não são acessíveis para tanta gente sem trabalho.
Carregamentos de arroz e carne foram deixados nos portos no início do ano devido a congestionamentos logísticos nas Filipinas, China e Nigéria. Na América do Sul, a Venezuela está à beira da fome generalizada.
"Veremos as cicatrizes desta crise por gerações", disse Mariana Chilton, diretora do Centro para Comunidades Livres da Fome na Universidade Drexel. "Em 2120, ainda estaremos a falar sobre esta crise". A covid-19 expôs algumas das desigualdades mais profundas, e determina quem come e quem não come, destacando divisões sociais globais em que os mais ricos continuam a desfrutar de um ritmo alucinante de acumulação de riqueza. Milhões de pessoas foram despedidas e não têm dinheiro suficiente para alimentar as suas famílias, apesar dos biliões de dólares em estímulos dos governos que sustentaram recordes nas bolsas globais. Além da crise económica, medidas de isolamento social e disrupções nas cadeias de abastecimento também criaram um sério problema de distribuição de alimentos. A paralisação súbita dos restaurantes levou produtores a despejar leite e destruir ovos por não conseguirem redirecionar mercadorias para supermercados nem para pessoas necessitadas. Previsões iniciais da Organização das Nações Unidas mostram que, no pior cenário possível, cerca de um décimo da população mundial não terá comida suficiente este ano. Os efeitos serão duradouros. Na melhor das hipóteses, a ONU prevê que a fome será maior ao longo da próxima década do que o previsto antes da pandemia. Em 2030, o número de subnutridos pode chegar a 909 milhões, em comparação com um cenário pré-covid de 841 milhões. A crise atual é uma das "mais raras", com limitações físicas e económicas de acesso a alimentos, disse Arif Husain, economista-chefe do Programa Mundial de Alimentos da ONU. Até ao final do ano, até 12.000 pessoas podem morrer diariamente de fome causada pela covid-19, potencialmente mais do que o número de mortes causadas pelo próprio vírus, segundo estimativas da organização beneficente Oxfam International. O cálculo baseia-se num salto de mais de 80% na população sujeita a fome crítica. O esperado aumento da desnutrição também tem um impacto profundo. A desnutrição pode enfraquecer o sistema imunológico, limitar a mobilidade e até prejudicar o funcionamento do cérebro. Crianças que enfrentam desnutrição nos primeiros anos de vida podem sofrer sequelas até à idade adulta.
Défice orçamental agrava-se em 8197 milhões de euros até outubro Rafael Marchante – Reuters
2020, Novembro, 25.
O défice orçamental agravou-se em 8197 milhões de euros até outubro, face ao mesmo período do ano passado, para 7198 milhões, evidencia a execução em contabilidade pública das Administrações Públicas, conhecida esta quarta-feira. A "deterioração", sublinha o Ministério das Finanças, fica a dever-se ao impacto da pandemia da Covid-19. "Esta evolução do défice – justificada pela pandemia - resulta do efeito conjugado de redução da receita (-6,4%) e acréscimo da despesa (+5,1%), seja pelos seus impactos desfavoráveis na economia associados à redução acentuada da receita fiscal e contributiva; seja pelo acréscimo na despesa associado às medidas extraordinárias de apoio às famílias e empresas", lê-se numa nota das Finanças a antecipar a publicação da síntese da Direção-Geral do Orçamento.Estes efeitos já justificam um agravamento adicional do saldo até outubro de, pelo menos, 3.865 milhões de euros”, acrescenta o comunicado. Para explicar a queda da receita, o ministério de João Leão aponta os impactos da suspensão dos pagamentos por conta (menos 791 milhões de euros) e da prorrogação das retenções na fonte (IRC e IRS) e pagamento do IVA, da suspensão de execuções da receita e de medidas de isenção ou redução da taxa contributiva (menos 240 milhões de euros)."A estes efeitos acresce o impacto da perda de receita contributiva pela isenção de pagamento de TSU no âmbito do regime de lay-off simplificado, apoio à retoma progressiva e incentivo financeiro à normalização da atividade empresarial estimada em cerca 477 milhões de euros até outubro", refere o comunicado. O Ministério das Finanças estima um crescimento da despesa em 2357
milhões de euros, o que está maioritariamente associado às medidas de lay-off (875 milhões de euros), aquisição de equipamentos na saúde (430 milhões de euros), outros apoios suportados pela Segurança Social (461 milhões de euros) e no âmbito do incentivo extraordinário à normalização (221 milhões de euros).A receita fiscal recuou 7,6 por cento, "com a generalidade dos impostos a evidenciar quebras que refletem a contração da atividade económica, destacando-se a redução de 8,6 por cento no IVA", sublinha o Ministério das Finanças. As contribuições para a Segurança Social também apresentaram uma redução de 1,3 por cento, como resultado do "do abrandamento da atividade económica e os meses mais intensos do lay-off simplificado". Por sua vez, a despesa primária cresceu 6,4 por cento, "influenciada pelo forte crescimento da despesa da Segurança Social (mais 12,8 por cento, isto é, mais 2743 milhões de euros), dos quais cerca de 1623 milhões de euros associados à Covid-19, que representam já 84 por cento do orçamentado em sede de Orçamento Suplementar, antecipando-se a sua plena execução". Investimento no SNS atinge "máximos históricos “Na resposta à pandemia, o Ministério das Finanças sublinha que a despesa do Serviço Nacional de Saúde (SNS) "aumentou a um ritmo muito elevado de 5,8 por cento". Para este incremento da despesa, a tutela de João Leão explica que contribuíram o aumento extraordinário do investimento (mais 108 por cento), atingindo 217 milhões de euros, um aumento de 40 por cento face à execução completa do ano de 2019 (156 milhões de euros) e o aumento das despesas com pessoal (6,1 por cento), associado também ao aumento do número de profissionais de saúde do SNS de 5,2 por cento até outubro, o que representa mais 6861 trabalhadores. Ainda sobre o SNS, a nota das Finanças refere que "o SNS lidera redução dos pagamentos em atraso". Segundo o Ministério, os pagamentos em atraso reduziram-se em 303 milhões de euros face a outubro de 2019, o que se justifica pela diminuição dos pagamentos em atraso no SNS em 335 milhões de euros.
Estudo.
Só 33% dos portugueses consideram que saúde é prioridade do Governo A maioria (46 por cento) defende que é uma área indiferente
para o executivo Benoit Tessier - Reuters por Mariana Ribeiro Soares - RTP
O estudo “Cancro: O que pensam os Portugueses”, apresentado esta quarta-feira pela Apifarma - Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica, conclui que 97 por cento dos portugueses afirmam que, a nível pessoal, a saúde tem uma importância extrema e 75 por cento elegem o cancro como a doença mais preocupante. Por sua vez, apenas 33 por cento dos inquiridos veem a saúde entre as prioridades do Governo. O objetivo do estudo da Gfk Metris foi perceber a opinião da população portuguesa sobre o cancro, nomeadamente o nível de importância que conferem à doença e o conhecimento que dispõem da mesma, assim como avaliar a perceção que têm da resposta do Governo à área da saúde. Do total dos 1001 inquiridos, 97 por cento responderam que a saúde tem uma importância extrema. No entanto, quando questionados sobre a importância da saúde para o Governo, apenas três em cada dez portugueses consideram tratar-se de uma prioridade. A maioria (46 por cento) defende que é uma área indiferente e 20 por cento afirmam que a saúde é pouco prioritária para o Governo. Quando se trata do acesso aos cuidados de saúde, a avaliação também não é positiva, principalmente nos centros de saúde, quando comparados com os hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS). De um modo geral, apenas dois em cada dez
portugueses consideram fácil o acesso a cuidados de saúde no SNS. Em centros de saúde públicos, 32 por cento dos inquiridos responderam que o acesso é difícil, mais oito por cento do que em relação a hospitais públicos. A maioria (mais de 40 por cento) respondeu que o acesso ao SNS “não é fácil nem difícil”. Cancro é a doença que mais preocupa Quando questionados sobre a doença que mais os preocupa, excluindo a Covid-19, 75 por cento dos inquiridos – o que equivale a 6,208 milhões de portugueses com mais de 18 anos – referem o cancro como a patologia mais alarmante. As doenças cardiovasculares e acidentes vasculares cerebrais (AVC) são também uma preocupação expressa (24 e 17 por cento, respetivamente), mas muito distante do receio declarado face às doenças oncológicas. Como principais razões para as preocupações, os portugueses apontam a “taxa de mortalidade elevada” (25 por cento), o facto de “terem ou terem tido familiares com doença oncológica” (25 por cento) e também o facto de esta ser uma doença que “qualquer um pode ter” (17 por cento). O estudo procurou também perceber a opinião dos portugueses sobre até que ponto o cancro é uma prioridade para o Governo. Cada quatro em dez portugueses, ou seja 41 por cento, consideram que as doenças oncológicas têm uma maior atenção do Governo quando comparado com a saúde em geral. Entre os doentes oncológicos, esta perceção é mais positiva, com 56 por cento dos inquiridos a considerar que o cancro é, efetivamente, uma prioridade do Governo. Quando questionados sobre o nível de investimento do Estado na área do cancro, 68 por cento dos portugueses classificam-no de insuficiente. Apenas 11 por cento dos inquiridos classificam a verba destinada ao combate ao cancro como justa. Em relação aos obstáculos no acesso a cuidados de saúde no SNS para cancro em específico, os doentes oncológicos parecem ter uma opinião mais positiva face à população em geral, principalmente relativamente aos hospitais. Dois em cada dez doentes oncológicos consideram fácil o acesso a cuidados nos centros de saúde, mais cinco por cento do que a opinião da população em geral. Já em relação aos hospitais do SNS, apenas 15 por cento da generalidade da população considerou fácil o acesso, comparando com 19 por cento dos doentes oncológicos inquiridos. No entanto, prevalece a opinião de que o acesso a cuidados no SNS é difícil: 32 e 27 por cento dos doentes oncológicos consideraram difícil o acesso a cuidados de saúde em centros de saúde e hospitais públicos, respetivamente. Os tempos de espera no acesso a cuidados de saúde para cancro são, claramente, o principal obstáculo, referenciado por quase metade dos portugueses com mais de 18 anos (44 por cento). Os inquiridos apontaram também a dificuldade em fazer diagnóstico rápido/precoce e a distância/deslocações para tratamentos. Desigualdade no acesso ao tratamento. Outro dado preocupante diz respeito à equidade no acesso ao tratamento para doentes oncológicos. O estudo revela que mais de metade dos portugueses consideram que a qualidade e a disponibilidade dos cuidados de saúde variam de hospital para hospital. De acordo com 30 por cento dos portugueses, existem “grandes diferenças com elevado impacto” e 29 por cento referem que há “algumas diferenças com algum impacto”. Apenas dezes por cento dos inquiridos consideram que a disponibilidade e qualidade dos serviços de saúde que um doente
oncológico recebe é igual em todos os hospitais. Por sua vez, seis em cada dez portugueses consideram, por isso, mais fácil para um doente oncológico aceder a cuidados de saúde no serviço privado do que no SNS. Questionados sobre a qualidade global do serviço prestado a doentes com cancro em instituições públicas e privadas, o privado também fica à frente, embora por uma margem não muito expressiva na opinião da população em geral: 37 e 40 por cento consideram o serviço do SNS e do serviço privado de “boa qualidade”, respetivamente. Porém, do ponto de vista de doentes oncológicos, a opinião sobre a qualidade global do tratamento nos dois serviços é contrária à da população em geral: 65 por cento destacam a boa qualidade do SNS, contrastando com os 28 por cento do serviço privado. A principal crítica apontada ao SNS são os longos tempos de espera. Na comparação entre o serviço público e privado, 48 por cento dos inquiridos destacam, precisamente, que a principal vantagem do privado é a maior rapidez de atendimento, seguindo-se o melhor acompanhamento e qualidade de atendimento. Investimento na área do cancro é insuficiente. Sobre tratamentos inovadores para o cancro, apenas 12 por cento dos portugueses consideram-nos de fácil acesso. Mais uma vez, a opinião dos doentes oncológicos é substancialmente mais positiva, com 27 por cento a considerarem estes tratamentos acessíveis. Nó entanto, 42 por cento dos inquiridos consideram mais fácil o acesso a tratamentos inovadores por parte de outros países da União Europeia. A Apifarma destaca que estes dados estão em linha com o relatório Patients W.A.I.T. Indicator, de 2019, da Federação Europeia de Associações e Indústrias Farmacêuticas (EFPIA), que indica que em Portugal, a taxa de disponibilidade de medicamentos inovadores ronda os 50 por cento e o tempo necessário para aprovação de financiamento destes medicamentos pelo Estado demora, em média, 711 dias, ou seja, quase dois anos. No que diz respeito a medicamentos oncológicos, este período de espera aumenta para 836 dias. No que concerne aos apoios financeiros, sociais e laborais a doentes oncológicos, o que se destaca é o desconhecimento sobre os mesmos (principalmente financeiros), tanto na população em geral, como dos doentes com cancro em particular. Nesta questão, a grande maioria dos inquiridos respondeu “não sei/não respondo”. No entanto, a grande maioria dos portugueses (42 por cento) concorda que nos restantes países europeus a qualidade global dos apoios é melhor e 68 por cento defende que o investimento do Estado português na área do cancro é insuficiente. Apesar de a grande maioria dos inquiridos considerar fácil o processo de obtenção de apoio ou pensão da Segurança Social, quase 90 por cento dos doentes oncológicos diz não ter recebido qualquer apoio.
Falta investimento público no combate ao cancro em Portugal 25 Novembro 2020,
Cenários apontam para 10 a 35 milhões de pessoas com fome
na CPLP
Agência Lusa , 01 maio 2020
Entre 10 milhões e 35 milhões de cidadãos da CPLP deverão ser afetados pela fome extrema devido à covid-19, mas estes países ainda dispõem de alguns instrumentos para minimizar os impactos da pandemia, segundo o último chefe da FAO em Lisboa.
Em entrevista à agência Lusa, Francisco Sarmento, que até dezembro chefiou o escritório da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) em Portugal, antes de este deixar de estar em funcionamento, referiu alguns dos cenários possíveis para o impacto da pandemia na alimentação na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), exceto Portugal.
A concretização destes cenários dependerá da duração e intensidade da pandemia, bem como das respostas que os Estados derem para minimizar o impacto, mas deverão começar a sentir-se dentro de poucos meses.
Francisco Sarmento tem uma certeza: “Quem já estava vulnerável, vai ficar mais vulnerável e os fortalecidos vão ficar mais fortalecidos”. “Os impactos da covid-19 não se vão distribuir de uma forma igual em territórios que já estavam numa situação de desigualdade à partida”, disse. E recordou os progressos que os países da CPLP realizaram até 2014, conseguindo reduzir o número de “pessoas afetadas direta ou indiretamente pelo fantasma da fome”, o que se deveu a uma estabilidade político-militar que permitiu o desenvolvimento de programas públicos. Angola registou o progresso mais expressivo, reduzindo de 55% para 23% a abrangência do impacto da fome na sua população. Em Moçambique essa
diminuição foi de 37% para 30% da população, com reduções importantes também nos outros países da CPLP. “Isto significa que em Angola o número de pessoas com fome extrema passou de 18 milhões para oito milhões e, em Moçambique, esse número baixou de 8,9 milhões para 4,5 milhões. O Brasil saiu do mapa da fome em 2014, tendo livrado deste flagelo 30 milhões de pessoas”, referiu. As melhorias continuaram, embora com crescimentos muito mais reduzidos, até que os fenómenos climáticos extremos, como as cheias em Moçambique e a seca severa em Angola, vieram colocar milhões de pessoas em situação de fome. Perante a atual pandemia, estes países apresentam-se sem ferramentas nem soberania para tratar da questão dos alimentos, uma vez que são grandes importadores e dependem do abastecimento de países que, por seu lado, já se encontram a reduzir as exportações para garantirem o abastecimento interno. “Vamos ter países altamente dependentes de produtos importados, a preços muito mais elevados, porque existem em menor quantidade”, disse. Com a covid-19 e respetivas restrições os Estados desses países deixaram de ter mecanismos financeiros para fazerem face à situação, como a diminuição do valor do petróleo de Angola ou do gás de Moçambique, ou ainda do turismo em Cabo Verde e São Tomé e Príncipe. A juntar a estas dificuldades, a economia informal, que é muito frequente nestes países, está a revelar a fragilidade dos apoios sociais, deixando sem receitas muitos milhões de pessoas a quem resta engrossar as fileiras da pobreza e da fome, considerou o especialista.
Perante estas circunstâncias, Francisco Sarmento apresenta três cenários para eventuais impactos da pandemia nos países da CPLP, apontando o “mais otimista” para 10 milhões de pessoas que vão ficar numa situação de fome extrema, “tantos quantos os residentes em Portugal”. Um cenário “do meio”, e que o especialista em alimentação considera como mais provável, resulta em 25 milhões de pessoas com fome devido à covid-19. “Se a intensidade e a duração da crise forem muito maiores do que o desejável, poderemos estar a falar de 35 milhões de pessoas” que vão ficar a sofrer com a fome.
Sublinhando que esta é uma análise com base em cenários, Francisco Sarmento diz ter apenas uma certeza: “Os impactos desta crise nos países vão ser desproporcionais, porque partiram num nível de grande vulnerabilidade para a pandemia”. Impactos que deverão começar a sentir-se dentro de três meses e que poderão ser minimizados se os países apostarem numa aprendizagem coletiva de respostas que uns e outros têm aplicado. “Até 2014, o Brasil livrou da fome 30 milhões de pessoas através de medidas como a compra de alimentos nacionais, as hortas nas escolas e a dinamização do comércio local. Angola tem escolas de campo para a agricultura, Moçambique conta com programas de produção de alimentos locais e saudáveis e São Tomé e Príncipe é o país onde a agricultura menos depende de agroquímicos importados”, enumerou.
“Esta aprendizagem coletiva pode ser posta ao serviço destes países. Isto é que é materializar os vínculos históricos e de solidariedade entre eles”, disse, esperando
que as medidas cheguem às populações antes dos jornalistas, porque “quando a fome é notícia é porque há muito que está a roubar a dignidade ao ser humano”. O número de mortes provocadas pela covid-19 em África subiu para 1.589 nas últimas horas, com quase 37 mil casos da doença registados em 52 países, segundo as estatísticas mais recentes sobre a pandemia naquele continente.
Entre os países africanos que têm o português como língua oficial, Guiné Equatorial lidera em número de infeções (315) e uma morte, seguido da Guiné-Bissau (197 e uma morte), Cabo Verde (113 e uma morte), Moçambique (76), Angola (27 infetados e dois mortos) e São Tomé e Príncipe tem 14 casos confirmados.
Covid-19 agrava índices de fome severa em países
vulneráveis, diz estudo
Acnur/Rocco Nuri, 16 setembro 2020
República Democrática do Congo, RD Congo, atravessa a maior crise alimentar do mundo com 21,8 milhões de pessoas vivendo em situação de insegurança alimentar aguda.
AJUDA HUMANITÁRIA
Relatório sobre relação da pandemia com insegurança alimentar é publicado às vésperas dos debates da Assembleia Geral; parceiros internacionais e atores relevantes analisaram situação em países que já sofriam com escassez de comida antes da crise. A República Democrática do Congo, RD Congo, atravessa a maior crise alimentar do mundo com 21,8 milhões de pessoas vivendo em situação de insegurança alimentar aguda. A informação consta do Relatório da Rede Global Contra Crise alimentar.
Burkina Fasso figura entre os países com pior índice de deterioração da fome nos últimos meses. Foto: Ocha/Giles Clarke
Efeitos Colaterais
O documento analista os efeitos colaterais da Covid-19 sobre a fome severa em países que já sofriam de crise alimentar antes da pandemia. Na reunião que divulgou o relatório, os participantes analisaram as prioridades emergentes e o financiamento, entre outros temas.
As medidas restritivas da Covid-19 estariam agravando os vetores da fome como: a insegurança e conflito armado, demorada depressão econômica, fortes chuvas e inundação na RD Congo entre outros.
O subsecretário-geral da ONU para os Assuntos Humanitários, Mark Lowcock, afirmou que uma ação atempada pode prevenir que a maior crise alimentar mundial em 50 anos se torne um problema ainda maior.
Iniciativa Global
Burkina Fasso figura entre os países com pior índice de deterioração da fome nos últimos meses. Ali houve um aumento de 300% no número de pessoas passando fome. Já na Nigéria, são 8,7 milhões de pessoas na mesma situação, que afeta ainda a Somália, o Sudão e mais da meta da população na República Centro-Africana.
O relatório fornece uma atualização sobre 55 países, este ano, e que já estariam em situação de crise alimentar desde 2019.
O diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, Qu Dongyou, defendeu uma intervenção focalizada na prevenção, nos sistemas de alerta precoce e ações. Ele realçou ainda a importância da recolha de dados e a “diferenciação global”, base da iniciativa denominada “de mãos dadas”.
© Unicef/Ashley Gilbertson
Transformação
A FAO inclui a recém-lançada Plataforma Aerospacial de coleção de dados e visa desenvolver parcerias entre as nações desenvolvidas e os países mais carentes. A ideia é estimular o sistema de transformação agroalimentar e o desenvolvimento rural sustentável.
A agência lançou também o Programa de Recuperação e Resposta Abrangente à Covid-19 para apoiar os países e agricultores a resolverem os desafios relacionados à alimentação e à agricultura e a protegerem-se melhor da pandemia. O foco é mitigar os impactos imediatos da Covid-19 e fortalecer a resiliência dos sistemas de alimentação e sustento a longo prazo. O apoio aos mais vulneráveis através da promoção da inclusão económica e proteção social, e o aumentar da resiliência dos pequenos produtores são as principais prioridades do programa.
Filas da fome percorrem Nova York
Um milhão e meio de habitantes precisa dos bancos de alimentos para sobreviver. A pandemia colocou oito milhões de norte-americanos na pobreza desde maio
MARÍA ANTONIA SÁNCHEZ-VALLEJOSPENCER PLATT / AFP Nova York - 28 OCT 2020 - 12:00 CET
Vizinhos recebem comida em uma igreja do Bronx (Nova York), em 22 de outubro. Na primavera, quando a pandemia se agravou, muitos produtores agrícolas do Estado de Nova York foram obrigados a jogar fora sua produção depois do fechamento das lojas e restaurantes que abasteciam antes do confinamento. Ao mesmo tempo, os trabalhadores desses estabelecimentos ficaram sem rendimentos e começaram a recorrer aos bancos de alimentos para subsistir. Para remediar o desperdício e a fome –frequentemente as duas faces da mesma pobreza–, a senadora democrata de Nova York, Jessica Ramos, idealizou um circuito de abastecimento, sem intermediários, para alimentar milhares de moradores do Queens, seu distrito –um dos mais atingidos pela covid-19–, com a distribuição gratuita de cerca de 16.000 quilos de alimentos por semana: os agricultores cobriram os custos e tinham um pequeno lucro enquanto os moradores enchiam a despensa. Na entrada de seu escritório, conta, ainda está um refrigerador horizontal “onde as pessoas do bairro pegam comida ou, as que podem, a deixam; cada vez que a enchemos, as provisões duram duas horas”.
Os Estados Unidos já estão votando
EL PAÍS , MARÍA ANTONIA SÁNCHEZ-VALLEJONova York - 28 OCT 2020 - 12:00 CET
Confirmação da juíza Barrett consolida vitória conservadora de Trump sobre a Corte Suprema, prestes a julgar Obamacare. Cerca de 1,5 milhão de nova-iorquinos, em uma cidade de quase nove milhões, hoje depende da distribuição de comida para sobreviver. É a nova pobreza derivada da covid-19, que engorda as filas da fome que não são inéditas, mas que fazem corar de vergonha em algumas regiões. “Ando muito pelo meu bairro e todos os dias encontro dezenas de novos moradores de rua, a situação é alarmante”, explica Ramos, nova força do Partido Democrata, especialmente combativa em uma emergência “próxima de um inverno muito rigoroso” e às vésperas de uma eleição em que, nos programas econômicos dos candidatos, entre a vanglória pré-pandêmica de Trump e o brinde de Biden à classe média, parece não haver espaço para os novos párias.
Em sete meses, desde o início da crise sanitária, os bancos de alimentos da cidade receberam 12 milhões de visitas, 36% a mais que no mesmo período do ano passado, segundo a ONG City Harvest. A demanda por comida de graça é tanta que foi criado um aplicativo online para procurar despensas comunitárias por regiões. Segundo um estudo da Universidade de Columbia, oito milhões de