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O mundo deve quebrar a patente dos remédios? Café da Manhã

07/04/2021

É muita gente que precisa e poucas doses da vacina contra a Covid-19. Mesmo assim, tem lugar em que a falta delas não é uma preocupação.

“Metade dos adultos do Reino Unido já tomaram ao menos uma dose da vacina contra a Covid-19. O país se tornou a primeira grande economia mundial a atingir essa marca”. E tem lugar que tá passando aperto.

“E quando parecia que o Plano Nacional de Imunização estava começando a pegar ritmo, cidades brasileiras começaram a suspender a vacinação por conta da falta de doses. A história se repete em pelo menos oito Estados”.

São poucas as farmacêuticas com a tecnologia para fazer os imunizantes e todos os países dependem delas para conseguir comprar as doses que eles precisam.

Diante desse cenário de escassez algumas vozes começam a se levantar propondo uma ideia. E se a gente quebrar as patentes das vacinas?

“Índia e África do Sul começaram um movimento na OMC para quebrar as patentes das vacinas, o que tornaria os imunizantes mais baratos e acessíveis para nações mais pobres”. As vacinas que são a solução para essa crise sanitária são protegidas por propriedade intelectual. Afinal, a tecnologia de um imunizante foi criada por alguém e as leis garantem exclusividade para exploração comercial da descoberta por um tempo. É assim que as

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farmacêuticas ganham dinheiro.

Quem resiste à quebra das patentes diz que tirar o direito de alguém lucrar com uma descoberta científica pode desestimular o investimento em pesquisa e consequentemente novas descobertas.

Diante da urgência por vacina, o Café discute se medidas como a quebra de patentes podem ajudar a acelerar a imunização e diminuir desigualdades.

Quem conversa com a gente sobre isso é Pedro Villardi, coordenador de projetos da ABIA —

que é a Associação Brasileira Interdisciplinar — de Aids e também do grupo de trabalho sobre propriedade intelectual.

Café da manhã - Pedro nesse último ano de pandemia a gente tem visto as farmacêuticas correrem por vacinas e elas se tornarem o Santo Graal, né? Que análise você faz do posicionamento dessas empresas diante da urgência que o mundo tem em relação a esses produtos?

Pedro Villardi - Olha Magê, primeiro eu acho que a gente tem que colocar em perspectiva o volume de investimentos públicos frente aos investimentos privados. Os dados mostram que os investimentos públicos superam os das empresas em três vezes, ou seja, muito dinheiro de contribuintes de todos os países do mundo, eu não diria todos mas de muitos países do mundo, em busca dessa vacina. Então se esse é um esforço global patrocinado pelas pessoas que deveriam receber essas vacinas, nada mais justo do que pensar que essas vacinas devem ser um bem comum, que o seu acesso não deve estar atrelado à capacidade de compra ou poder aquisitivo de países por causa de altos preços ou mesmo de escassez. É claro que o setor privado tem um papel importante no desenvolvimento dessas tecnologias mas isso não pode ser uma desculpa ou uma cortina de fumaça para que isso se transforme num apartheid, numa geopolítica perversa da distribuição das vacinas pelo mundo.

Café - De que forma o começo da vacinação contra a Covid-19 pelo mundo evidenciou a desigualdade entre os países?

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Pedro - Maurício, essas desigualdades, a gente que trabalha com esse tema de acesso a medicamentos, acesso à tecnologias de saúde, já vem de muitos anos. Se a gente recuperar a história de outras doenças, como por exemplo HIV-Aids ou Hepatite C ou mesmo o início da vacinação para a H1N1, a gente tinha plena consciência de que o risco dessas desigualdades era muito evidente. Se a gente pensar que os países começaram a dar antirretrovirais — que são os medicamentos para combater a infecção pelo HIV — muito antes dos países pobres, se a gente pensar que muitos países ricos já conseguiram erradicar a Hepatite C enquanto os países em desenvolvimento estão lutando para comprar esses medicamentos (...)

“O número de pacientes notificados com casos de hepatites virais no Brasil aumentou 20% entre os anos de 2008 e 2018”.

Se a gente pensar que na pandemia de H1N1 os países europeus começaram a vacinar 8 meses antes do Brasil, mesmo o Brasil tendo sido um dos países a desenvolver essa vacina, não é de surpreender que isso tenha acontecido com a Covid-19. É claro que causa indignação, é claro que isso tem que ser combatido, mas a gente via que a postura dessas empresas não seria diferente de outras epidemias.

Café - E como é regulada a propriedade sobre as vacinas?

É regulada por um acordo internacional que foi internalizado por cada país, o acordo TRIPS ou ADPIC1 em português, que normaliza, que harmoniza o tema em termos

globais. O que que o acordo TRIPS diz? Que todos os países devem reconhecer patentes para todos os campos tecnológicos, inclusive o campo químico-farmacêutico. Se antes do acordo TRIPS, que foi assinado em 1994, os países tinham flexibilidade para decidir “bom, esse campo eu considero um campo sensível”, não, o Brasil mesmo não reconhecia patentes para produtos farmacêuticos antes de 1994. Porque entendia que era um campo sensível. Só que depois do acordo TRIPS essa flexibilidade não existia mais. O monopólio gerado pelas patentes farmacêuticas passou a ser obrigatório em todos os países. Na prática, é isso que a patente gera. A patente, quando concedida, ela gera para o titular daquele pedido 20 anos de

1Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual relacionados ao Comércio

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monopólio garantidos pelo Estado. Então, durante aqueles 20 anos, nenhum outro competidor pode entrar naquele mercado para disputar. E o que é que isso gera? Duas coisas: escassez e alto preço. E é exatamente isso que a gente viu nessas pandemias anteriores: HIV-Aids, Hepatite C, a gente vê isso com câncer e a gente tá vendo isso com a Covid-19 (...)

“A União Européia vem se estranhando principalmente com a AstraZeneca, que alega problemas na capacidade de produção. A empresa já falou que vai entregar só 30 dos 90 milhões de doses encomendadas pelo bloco para esse primeiro trimestre”.

A gente vê uma escassez, que na verdade é uma escassez artificial, porque se a gente tivesse a suspensão temporária dos direitos de propriedade intelectual que está sendo tratada na OMC, a gente poderia ter muitos outros laboratórios ao redor do mundo produzindo essas vacinas e fazendo essas doses chegarem aos braços das pessoas em todos os países do mundo.

Café - Bem, você já falou aí que tem algumas vozes se levantando em defesa da quebra das patentes dessas vacinas contra a Covid-19. Em que contexto é considerado aceitável ou até necessário, passar por cima da propriedade intelectual de um medicamento?

Pedro - Maurício, eu acho que a gente tem que separar em dois níveis. A gente fala quebra de patente popularmente, a gente chama a licença compulsória. E isso é no nível nacional, dentro do nosso país o que a gente pode fazer: a gente pode emitir licenças compulsórias. No âmbito internacional o que se está propondo é suspender os direitos de propriedade intelectual. Essas duas possibilidades, tanto a licença compulsória, como os direitos de propriedade intelectual já são medidas previstas —

no caso de licença compulsória na lei brasileira e no caso da suspensão dos direitos de propriedade intelectual no próprio acordo TRIPS dentro de algumas situações específicas. Em que situações a licença compulsória é aceitável? No ponto de vista de quem defende a saúde pública, todas as vezes em que existe uma ameaça à saúde pública. A única vez que houve licenciamento compulsório no Brasil foi por caso do medicamento Efavirenz, medicamento para tratar a infecção por HIV. O ministro era o José Serra, isso em 2001. Houve a ameaça da licença compulsória com grandes

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reduções de preços e depois em 2007 quando o ministro era o Temporão, houve de fato a emissão da licença compulsória que gerou grandes economias para o SUS. (...) “O governo brasileiro anunciou hoje a quebra da patente do medicamento Efavirenz que substitui o AZT no tratamento de pacientes com AIDS. O laboratório americano cobrava do governo brasileiro 136% a mais do que recebia pelo mesmo comprimido de outros países. O antirretroviral é consumido por 75 mil pacientes de AIDS na rede pública brasileira”.

E o Brasil em cinco anos, com a compra de versões genéricas e posteriormente a produção do medicamento em território nacional, permitiu ao SUS economizar 100 milhões de dólares com apenas um medicamento. Então, depende de quais termos a gente tiver conversando sobre o que é aceitabilidade. Eu considero que a situação que a gente vive é absolutamente inaceitável. A gente precisa dizer que a licença compulsória é uma medida legal, é uma medida legítima. Não é expropriação, não é roubo, não é nada disso. É uma medida de defesa da saúde pública que pode e deve ser usada em emergências nacionais como a que a gente está vivendo hoje. E é impensável que existam empresas que pensem em lucrar com a morte das pessoas. Porque é isso que está acontecendo: a distribuição desigual gera morte, a distribuição desigual gera doenças. A gente está vendo que os casos de Covid longa são inúmeros, alguns estudos apontam que dois terços das pessoas que têm Covid podem desenvolver Covid longa (...)

“Um estudo inédito feito no Incor avaliou 300 pacientes que tiveram Covid-19 e identificou problemas cognitivos. 63% apresentaram problemas de memória, 92% alterações na percepção visual e 72% problemas de atenção”.

Então a gente não está vendo só um problema, um morticínio, a gente também está vendo um problema de saúde pública que vai seguir ao longo de muitos anos e a vacinação é a saída que a gente tem. E a gente não consegue estabelecer ao redor do mundo e no Brasil uma política pública de ampla vacinação exatamente porque existe uma escassez da distribuição de vacinas no mundo.

Café - Quebrar as patentes das vacinas contra a Covid-19 garantiria doses para os países mais pobres ou têm outros obstáculos a serem superados?

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Pedro - Olha, a gente não pode dizer que é a solução para todos os problemas. Dizer isso seria leviano, mas o que a gente pode dizer é que as patentes são o principal empecilho para que a gente tenha uma distribuição em massa das vacinas ao redor do mundo. Por que a gente diz isso? Atualmente a produção e o abastecimento de vacinas está sendo controlada por poucas empresas. Essas empresas têm o poder de decidir preços, prazos de entrega, quem compra, quem recebe primeiro, depois impõe condições abusivas aos países. No entanto, essa escassez é artificial, não precisava ser assim. Existem algumas vacinas que têm mais de setenta pedidos de patentes ao redor do mundo. E isso torna a entrada de possíveis competidores genéricos impossível, com a ameaça de serem processados e terem que ressarcir as empresas por lucros cessantes e outros tipos de danos. Nenhuma empresa entra no mercado. Por isso que é importante, é fundamental que o Brasil mude de posição na Organização Mundial do Comércio e apoie a proposta que foi liderada por Índia e África do Sul de suspensão dos direitos de propriedade intelectual. Com isso, seria possível que outras empresas ao redor do mundo produzissem essas vacinas e que aumentasse esse volume e que essas vacinas fossem distribuídas para todas as pessoas que estão urgentemente necessitando.

Café - Você já mencionou o posicionamento de alguns países como a África do Sul em torno dessa questão e a discussão em órgãos internacionais né, como a OMC. Como têm sido a articulação sobre isso?

Pedro - Bom, está em discussão na Organização Mundial do Comércio desde o ano passado a proposta que é liderada por Índia e África do Sul da suspensão dos direitos de propriedade intelectual em tempos da pandemia de Covid-19. O que significa essa proposta? Significa que patentes, segredos industriais, desenhos industriais e outros tipos de proteção da propriedade intelectual estariam suspensos durante esse momento de pandemia. E qual é a racionalidade dessa proposta? É que existe uma capacidade ociosa no mundo de vários laboratórios, em vários países, que poderiam produzir vacinas e respiradores e outras tecnologias: reagentes, kits diagnósticos para o enfrentamento da pandemia. E isso acontece porque poucas empresas controlam a produção e o abastecimento dessas tecnologias. Essas empresas decidem o preço, decidem o calendário de entrega, quem recebe primeiro, que recebe depois. Impõe

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condições abusivas aos países e isso gera uma disputa entre os países. E o que a gente diz é que não precisava ser assim, o que a gente diz é que essa escassez é artificial. Existem produtores qualificados que poderiam diversificar e ampliar essa produção, gerando mais opções de compras pros governos e até reduzindo preços. Só que por conta dessas patentes e de outros direitos de propriedade intelectual como esses segredos industriais, essas empresas que poderiam produzir, este laboratórios que poderiam produzir, eles não entram no mercado.

Café - E como o Brasil tem se posicionado nessas rodadas de negociação?

Pedro - A posição do Brasil, Maurício, é vergonhosa. É vergonhosa frente a outros países em desenvolvimento e é vergonhosa frente à nossa própria história da diplomacia em saúde. (...)

“A posição adotada pelo Brasil é que o atual sistema de patentes já garante acesso aos produtos de forma igualitária a todos os países em caso de necessidade”.

O Brasil desde sempre tem sido um dos líderes globais no debate sobre patentes farmacêuticas e acesso a medicamentos. O Brasil liderou, fez parte do grupo de países que liderou a resistência às condições abusivas que os países mais ricos queriam colocar no acordo TRIPS na década de 1990. O Brasil liderou a Declaração de Doha sobre TRIPS e saúde pública que foi fundamental para que vários países emitissem licenças compulsórias. O Brasil liderou uma das discussões mais importantes no âmbito da Organização Mundial da Saúde sobre inovação e patentes farmacêuticas e agora o Brasil se coloca nessa posição que é lamentável, de ser contra a proposta de suspensão temporária dos direitos de propriedade intelectual. E o Brasil fazendo isso ele não só se prejudica, como prejudica outros países em desenvolvimento que precisam dessa diversificação de fonte para ter acesso a vacinas. E o Brasil dá argumento pros países ricos que são contrários a essa distribuição para se manterem contra. Porque os países falam “não, mas vê, o Brasil é contra. Não tem porque a gente ser a favor”. Então o Brasil precisa mudar hoje essa posição. O Brasil precisa apoiar a proposta que a gente chama em inglês de Waiver, que é a suspensão dos direitos de propriedade intelectual para que esse debate avance na Organização Mundial do Comércio e que a gente tenha uma distribuição mais igualitária das

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vacinas ao redor do mundo.

Café - Bom, existe um argumento contrário em relação ao desrespeito da propriedade intelectual de que isso poderia desmotivar as farmacêuticas a investir em inovação. Essa ideia faz sentido?

Pedro - Não faz. Primeiro dizer que não é desrespeito nenhum. Se a gente pensar nacionalmente, a licença compulsória é uma medida legal, legítima, prevista em lei. O PL 1462 que está tramitando no Congresso brasileiro foi unanimidade na comissão externa do coronavírus, que tem quatorze parlamentares signatários, que tem um requerimento de urgência assinado por trezentos parlamentares. Inclusive hoje o presidente da Câmara, Deputado Arthur Lira, ele desburocratiza o processo de licenças compulsórias e ele prevê indenizações aos detentores das patentes. Não se trata de roubo, não se trata de desapropriação, não é nada disso. É uma suspensão temporária dos monopólios. E sobre isso ser um desincentivo à inovação, eu costumo dizer que as patentes são um desincentivo à inovação, porque se a gente pegar os dados a partir de 1994, a gente vê que o número de patentes no mundo e nos países só subiu e a gente vê que o número de medicamentos realmente inovadores só caiu. Aí você me pergunta, mas Pedro, por que o número de patentes sobe e o número de medicamentos realmente inovadores cai? Porque a gente tem essa visão, que não é verdadeira, de que existe uma patente para cada medicamento. Não é assim que acontece. As empresas cercam por todos os lados uma determinada tecnologia com o maior número de pedidos de patentes possíveis. Então é possível que a gente tenha um medicamento com centenas de pedidos de patentes. O que na verdade, essas patentes não são inovações. Elas são apenas uma forma de criar um cerco àquela tecnologia para que nunca exista concorrência. A gente tem esse exemplo da vacina da Covid, que existem vacinas que já tem mais de setenta pedidos de patentes. É impossível que qualquer fornecedor entre no mercado com essa incerteza jurídica, se vai ou não infringir uma patente já que são centenas e às vezes até milhares de patentes para cada tecnologia. Se a gente pensar por exemplo o caso dos antibióticos, a gente tem uma crise global de inovação porque não existem novos antibióticos e a Organização Mundial de Saúde estima que até 2050, caso a gente não lide com essa crise de inovação, pessoas vão morrer de infecções absolutamente tratáveis por conta da resistência antimicrobiana.

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Café - A tecnologia molecular empregada em vacinas como a da Moderna, da Janssen, a da Pfizer foi desenvolvida por cientistas do governo americano. O fato de um governo estar envolvido nessa descoberta facilita na hora de ter esse conhecimento compartilhado?

Pedro - O que eu considero aqui uma patente, sendo ela de um governo ou de uma empresa, ela tem a possibilidade de bloquear outros competidores de entrarem no mercado. Os Estados Unidos têm sido um dos dos governos que têm feito oposição a essa proposta de suspensão do direitos de propriedade intelectual no âmbito da Organização Mundial do Comércio. Só que isso já está chegando no gabinete do presidente Biden para que os Estados Unidos revejam essa posição. Se a postura do governo americano for a de compartilhar esse conhecimento, o que eu acho que é um imperativo moral, essa patente não vai ser um problema. Agora, se os Estados Unidos, se o governo americano usar essa patente para bloquear outros competidores e outros laboratórios de aprenderem a desenvolver essa tecnologia que pode ser importante inclusive para outras doenças, aí isso sim será um problema. Então, eu acho que a resposta para essa pergunta é: depende de como o governo americano vai lidar com esse monopólio.

Café - Bom Pedro, você já deixou claro que é importante nesse momento que todos os países tenham acesso a vacinas. O que pode acontecer se não for todo mundo vacinado?

Pedro - Eu acredito que é sempre importante lembrar que a vacinação é uma estratégia de saúde pública coletiva, que não existe imunidade individual. Então, ou o mundo inteiro está seguro ou ninguém está seguro. A gente está vendo o que é que as novas variantes causam no sistema de saúde, como elas destroem o sistema de saúde. Como tudo entra em colapso com as novas variantes. E se a gente não conseguir vacinar o mundo inteiro, as variantes vão continuar surgindo. Existem países que não conseguiram doses nem para vacinar os seus profissionais de saúde e isso como humanidade deveria nos envergonhar. (...)

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da vacina contra a Covid-19, enquanto os mais pobres sofrem. Essa foi a mensagem do diretor geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom, nesta segunda-feira”.

Os efeitos da gente não conseguir vacinar a população mundial são perversos. Pesquisadores da Universidade de Duke estimaram que caso a gente continue persistindo nessa distribuição desigual das vacinas, a pandemia pode perdurar por até sete anos ou mais dependendo das variantes que surgirem. Então a mensagem é: a vacinação é uma estratégia coletiva. Não existe proteção individual, então ou todas e todos estamos protegidos ou ninguém estará protegido. Então a gente diversificar os laboratórios que produzem as vacinas, a gente no Brasil aprovar o PL 1462 de 2020, internacionalmente o Brasil mudar a sua posição e ser líder para aprovar essa proposta da Índia e África do Sul de suspender os direitos de propriedade intelectual, são medidas fundamentais para que a gente consiga diversificar as fontes e aumentar em muitas vezes a capacidade global de produção de vacinas, para que a gente de fato saia dessa pandemia e que a gente se sinta seguro novamente.

O que mais você precisa saber hoje

O Brasil ultrapassou ontem pela primeira vez a marca de 4 mil mortes pela Covid-19 em um só dia. O número é sinal do avanço descontrolado da doença. O país cruzou a marca 14 dias depois do primeiro registro de 3 mil mortos no mesmo intervalo e 27 dias depois de bater 2 mil. Só os Estados Unidos, que têm população 56% maior, superaram esse recorde diário. Ao todo, o Brasil registrou 4.211 mortes, segundo dados do Consórcio de veículos de imprensa. A quantidade de vítimas é maior do que o número somado dos dois primeiros meses da pandemia, quando 4.066 pessoas morreram pela doença. O número é maior do que o registro de mortes em países inteiros. O Paraguai por exemplo teve 4.463 óbitos ao todo desde o começo da pandemia, o que foi suficiente para a população tomar as ruas pedindo a renúncia do presidente. Enquanto isso, o Brasil continua sem uma política de enfrentamento da pandemia centralizada. Além do governo enviar mensagens desencontradas, a aplicação de vacinas é lenta no país, que ainda enfrenta a escassez de imunizantes depois de atrasos do Ministério da Saúde na compra deles.

O novo Ministro da Justiça e Segurança Pública Anderson Torres assumiu o cargo fazendo mudanças. Ontem ele anunciou a troca de comando da Polícia Federal, o nome escolhido para

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o cargo foi o do Delegado Paulo Maiurino. Até Setembro do ano passado ele era Secretário de Segurança do Supremo Tribunal Federal. O Delegado vai substituir Rolando de Sousa que tinha sido escolhido por Alexandre Ramagem, que tinha sido impedido pelo Supremo de assumir a diretoria da PF em Abril do ano passado. O comando da PF é considerado estratégico pelo presidente Jair Bolsonaro e estava no centro da disputa dele com o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro. Quando Moro pediu demissão, ele acusou o presidente de tentar interferir politicamente na polícia, que mantém investigações no entorno de aliados e da família presidencial. No discurso de posse, o Ministro Anderson Torres disse que a força da segurança pública tem que se fazer presente para garantir um ir e vir sereno e pacífico. O pano de fundo para a declaração do ministro são os embates entre Planalto e governadores em torno da adoção de medidas de restrição para conter o avanço da Covid-19. O presidente Bolsonaro tem comparado as medidas, de forma equivocada, ao estado de sítio e chegou a pedir ao STF a suspensão de decretos estaduais de combate à pandemia. A ação foi rejeitada. Esse foi o Café da manhã, o podcast mais importante do seu dia. Uma parceria entre a Folha e o Spotify. Eu sou Magê Flores e eu sou Maurício Meirelles. A produção é de Jéssica, Maila, Mahara Aguiar, Vitor Lacombe e a edição de som é de Thomé Granemann. Este episódio usa áudio da CNN Brasil, Tv Anhanguera, Tv cultura, Tv Globo, Tv Gazeta, SBT e AFP. Até amanhã.

Referências

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