• Nenhum resultado encontrado

Ricardo Augusto Santos de Oliveira Extensão Pesquisa

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Ricardo Augusto Santos de Oliveira Extensão Pesquisa"

Copied!
6
0
0

Texto

(1)

APRENDER E ENSINAR:TROCA DE EXPERIÊNCIAS ENTRE PROEESSORES DE DANÇA BRASILEIRA

Ricardo Augusto Santos de Oliveira e-mail: ricktchen@gmail.com

Universidade Federal de Uberlândia – Curso de Teatro Painel – Relato de Experiência

O Grupo Baiadô é um grupo de pesquisa, ensino e extensão do Laboratório de Ações Corporais do Curso de teatro da Universidade Federal de Uberlândia. Grupo aberto e gratuito composto por integrantes de diferentes grupos sócio culturais como congadeiros, professores, profissionais liberais e estudantes de dez cursos diferentes desta universidade, homens e mulheres, crianças e adultos. O grupo desenvolve trabalhos na área de educação, inclusão social, cidadania e arte, por meio do diálogo entre as tradições populares e acadêmica, e da recriação de danças populares brasileiras. Tem em seu repertório danças de diferentes regiões do país: cacuriá e caroço do Maranhão, côco de Alagoas, ciranda de Pernambuco, Jongo do Rio de Janeiro, entre outras.

O grupo Baiadô atua em quatro dimensões:

• Extensão, em diferentes instâncias, com a participação de membros da comunidade

externa à UFU como integrantes do grupo, realizando apresentações e oferecendo oficinas para a comunidade, por meio da pesquisa de campo e da reflexão sobre o contexto sócio cultural onde estamos inseridos. O diálogo com a comunidade externa à UFU se estabelece especialmente com as tradições populares, a saber, congada, umbanda, folia de reis e festas juninas. O grupo Baiadô dança com e para os grupos tradicionais, que também têm na dança, no canto e na percussão sua expressão mais forte. Esta relação de troca com a comunidade influencia diretamente a pesquisa e a criação do grupo.

• Pesquisa, por meio de propostas investigativas referentes à área de conhecimento na qual

cada um está inserido academicamente ou coletivamente, tendo nas atividades do grupo o foco de pesquisa, para tanto, faz-se o registro e a análise das atividades desenvolvidas no grupo. A tradição popular é campo de pesquisa principalmente em suas expressões simbólicas e no diálogo que estabelece com o grupo. O repertório do Baiadô referencia esta tradição, tendo por base o processo de criação popular, conforme Burke analisa e da mesma forma é encontrado nestas tradições. Movimentos, melodias e ritmos são recriados, citados, reorganizados na dança do Baiadô, pela receptividade que tem tido na

(2)

comunidade tradicional confirma que estas atividades valorizam a cultura popular, sem no entanto imitá-la ou substituí-la, o trabalho é de respeito aos saberes e fazeres populares, que são entendidos como autônomos. Não deve ser confundido com resgate cultural.

• Ensino, participando das oficinas que o grupo recebe e que o grupo oferece, analisando e

refletindo sobre a transmissão que se dá nestas oportunidades, percebendo as diferenças entre portadores de tradição e educadores, conhecendo e criando metodologias de ensino para os diferentes públicos que enfrentamos. A educação é percebida imbricada na sociedade, nas oportunidades de convívio. O aprendizado se faz vivendo as festas e as danças. Ensinar para aprender, apresentar para aprender, estar em campo para aprender. O grupo se coloca receptivo, todos estão em processo de desenvolvimento. O desafio de tentar algo mais do que o já dominado é incentivado e praticado por todos, independente do tempo de permanência no grupo ou nas práticas de dança e música.

• Arte, participando da elaboração dos roteiros e versos que definem cada apresentação,

compondo músicas, tocando, cantando dançando e interpretando, e também refletindo sobre o processo de criação da cultura popular e do grupo Baiadô. O Baiadô desenvolve Processos Criativos que têm por base, oferecendo a estrutura, a cultura tradicional popular.

O fato de ser um grupo aberto para pessoas da comunidade e da universidade marca as atividades de arte educação desenvolvidas pelo Baiadô. Cada integrante possui um histórico em atividades educacionais, , os congadeiros trazem a experiência em tradição oral, passada de geração em geração, os graduandos são de diferentes cursos, de teatro à medicina, os professores tem experiência em salas de aula de diferentes espaços escolares, tudo isso enriquece os projetos de extensão e ensino do grupo.

Uma atividade que exemplifica essa situação, foi o projeto desenvolvido durante um mês com crianças de dois a seis anos na Escola Viva. A finalidade era realizar a festa junina onde os alunos pudessem vivenciar as danças brasileiras e o processo que as envolve: brincadeiras, preparação corporal, construção de figurinos e bandeiras, ritmo, e o contexto onde estão inseridas as danças. Nesse projeto toda a escola com cerca de quarenta crianças, e todos os profissionais, entre eles professores, faxineiros, diretora e supervisora, estariam envolvidos, fazendo as aulas. E junto com o Baiadô construiriam um imaginário poético para a festa, onde as crianças se envolvessem e através delas os pais.

(3)

GRUPO DE PROFESSORES E PLANEJAMENTO DAS AULAS

Para execução desse projeto foram escalados quatro integrantes do Baiadô que não tinham experiência com crianças dessa faixa etária. Por isso foi constituído um grupo de baiadores formado pelos quatro responsáveis pelas aulas – um aluno do curso de teatro, uma aluna da ciências sociais, uma aluna do pré-vestibular e uma professora de história -, por professores da educação infantil na rede pública, um sociólogo, uma professora de educação física, uma estudante do curso de teatro e a coordenadora do grupo. A finalidade era a troca de experiências entre eles, e que através disso os responsáveis pelo projeto preparassem as aulas.

Na primeira reunião do grupo, Renata, coordenadora do Baiadô, e Túlio, sociólogo, apresentaram o projeto para os demais. A escola, incluindo funcionários e alunos, se envolveriam nas aulas. Possuía espaço físico adequado, um gramado e uma varando, onde poderiam acontecer as aulas. Falaram sobre a realidade da escola, qual era seu objetivo. As aulas teriam duração de um mês com três encontros semanais de duas horas cada. Seriam três professores integrantes do Baiadô, Ricardo, Marinalda e Aline, e uma estagiária, Mônica, que seriam os responsáveis pelas aulas da Escola Viva. Esta última acompanharia as aulas para se capacitar e assim se tornar uma oficineira do grupo.

As professoras que davam aula para crianças dessa idade e que utilizavam as danças do Baiadô na escola, relataram suas experiências. Começaram falando quais músicas as crianças gostavam, sobre a dificuldade de ensinar para trinta/quarenta alunos em espaço físico adequado, como fazer para que os alunos ficassem atentos e disponíveis para o trabalho durante duas horas, como estabelecer uma relação de confiança entre professores e alunos. Elas contavam histórias de bichos que estavam presentes nas letras das músicas, usavam fantoches, diziam que no próximo encontro trariam uma música nova e que esta possuía uma surpresa.

Ao final da reunião um documento foi redigido. Ele continha quais e como as músicas poderiam ser aplicadas, quais histórias poderiam ser contadas, quais jogos teatrais e brincadeiras trabalhariam ritmo, coordenação motora e preparação corporal. As dicas dadas pelas professoras foram anotadas, e ainda contava com um item chamado de “cartas na manga”. Ele continha idéias que eram pertinentes às aulas, e que seriam utilizadas caso a aula preparada não estive funcionando ou não ocupasse as duas horas do encontro.

(4)

EXECUÇÃO DO PROJETO

No primeiro encontro os professores chegaram mais cedo para se encontrarem com a diretora e para conhecerem o espaço. Os alunos foram levados para a varanda que ficava no fundo da escola, os quatro baiadores chegaram dançando, cantando e tocando tambores e caxixis. Se apresentaram e fizeram uma roda com os alunos, disseram o motivo para estarem lá. Fizeram um jogo de bater palmas no ritmo do tambor, e disseram que o tambor seria o chefe durante todos os encontros. Quando algum professor batesse no tambor, ele iria dizer algo importante, e todos deveriam ouvir. Esse foi um dos códigos que se manteve durante todo o mês. Quando os alunos se dispersavam, um dos professores executava um ritmo no tambor, imediatamente todos os alunos batiam palmas e escutavam o que este iria dizer.

As aulas se desenrolaram bem. Durante a oficina, as palavras que orientaram as atividades indicavam ações e imagens que qualificavam o movimento para que cada aluno desenvolvesse o movimento dentro de sua própria característica. Essas imagens traziam referências do universo popular tradicional, da convivência com a natureza e com o universo mágico simbólico da arte. Junto a essas imagens foram utilizadas palavras que indicavam ações concretas ou simbólicas

Durante as três primeiras semanas, os professores do Baiadô que estavam desenvolvendo o projeto se reuniam antes e depois de cada aula para fazer uma avaliação e preparar a próxima, baseando-se no documento redigido na reunião do grupo de professores. Começaram a chegar mais cedo na escola para brincarem com as crianças no intervalo entre a aula regular e o projeto do Baiadô, era uma maneira de se aproximar dos alunos e criarem um vínculo. Durante uma aula, por exemplo, disseram aos alunos que eles teriam um segredo. Cada um pensaria em um pedido, que seria escrito ou desenhado em um papel e no dia da festa colocado na bandeira junina, e até a próxima festa este seria realizado.

A reunião do grupo de professores e o documento foram essenciais para o desenvolvimento das aulas. Mas outros livros ajudaram, principalmente os da área da pedagogia teatral, que continham outros jogos, e falavam sobre o interesse da criança naquela idade. Os professores desenvolveram junto com os alunos e a professora de arte da Escola Viva, as atividades de confecção de figurinos, construção da bandeira que seria colocada no mastro e

(5)

erguida no dia da festa e os desenhos que representavam os desejos das crianças, cada atividade em uma semana. Essa última também foi feita pelos pais dos alunos.

FESTA JUNINA

Realizou-se outra reunião do grupo de professores. Nesta os responsáveis pelas aulas na Escola Viva falaram sobre o desenvolvimento do projeto, as dificuldades, as conquistas. Observaram que os alunos não estavam executando com clareza os passos básicos das danças, que o repertório pensado para este trabalho tinha sido executado parcialmente, que alguns alunos se interessavam pouco. O grupo fez algumas colocações, achavam que era importante que todos executassem os passos básicos e sugeriram exercícios para isso, e não era visto negativamente os outros problemas apontados.

Decidiram um possível roteiro para apresentação que incluía exercícios que poderiam ser apresentados e quais músicas e a ordem destas. Isso foi feito de maneira que pudesse ser mudado depois, de acordo com a necessidade dos professores. Depois dessa reunião foram feitos mais três aulas/ensaios. Foi decidido junto com os alunos quais músicas eles gostariam de dançar, por isso um terço do roteiro foi cortado.

No dia da apresentação todo o grupo Baiadô estava presente na Escola. Junto com os pais, os alunos e os profissionais da escola levantaram o mastro onde estava a bandeira confeccionada e os desenhos dos pedidos. A ordem das apresentações foi: 1- o Baiadô, 2- os alunos, junto com as professoras da Escola Viva e os professores do Baiadô, 3- os pais dos alunos, que fizeram uma quadrilha.

A terceira reunião do grupo foi feita junto com todos os integrantes do Baiadô. A avaliação do projeto foi positiva. Como em outras atividades do grupo, o fato de ser constituído por pessoas de diferentes lugares e com experiências distintas em educação, ajudaram na realização das aulas na Escola Viva. Cada um traz uma idéia, uma história, uma lembrança, que juntas ajudam a constituir a identidade do grupo, que é refletido em suas atividades de extensão.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: SPOLIN, Viola. Improvisação para o Teatro. São Paulo: Perspectiva, 1987. ________. Jogos Teatrais. O fichário de Viola Spolin. São Paulo: Perspectiva,

(6)

2001.

________. O Jogo Teatral no livro do diretor. São Paulo: Perspectiva, 1999.

PUPO, Maria Lúcia de Souza Barros. Entre o atlântico e o mediterrâneo. São Paulo: Perspectiva, 2006.

KOUDELA, Ingrid Dormien. Brecht: um jogo de Aprendizagem. São Paulo: Edusp/Perspectiva, 1992.

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996

COURTNEY,RICHARD.Jogo, Teatro & pensamento. São Paulo: Perspectiva, 1980.

Referências

Documentos relacionados

20 Quais os géneros para os quais existem no vídeo-clube mais do que 2 filmes (indique o nome do género)?. Which types for which there are more than 2 films in the video

De seguida, vamos adaptar a nossa demonstrac¸ ˜ao da f ´ormula de M ¨untz, partindo de outras transformadas aritm ´eticas diferentes da transformada de M ¨obius, para dedu-

Agora olha que legal, se você pode confiar, você pode confiar em alguém, este verbo pede a preposição “em”, então “em mim” veio do verbo, é objeto indireto.. Quem não vai

Foram registrados casos de dengue na região do Curimataú Paraibano (Baraúnas, Barra de Santa Rosa, Cubati, Cuité, Damião, Frei Martinho, Nova Floresta, Nova Palmeira,

Diante da importância da prevalência das DAI e de suas consequências, é essencial e de extrema importância que os profissionais da saúde, em específico da atenção

Em análise realizada com dados de usuários atendidos por laboratório de análises clínicas público da cidade de Conde – PB durante o período de 2009 e 2010, contatou-se que 42,1%

O diagnóstico sorológico da hepatite B é feito com base na detecção sorológica de dois antígenos HBsAg (Antígeno de superfície do vírus da hepatite B) e HBeAg

[r]