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Breve resumo sobre o NEW JOURNALISM

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Academic year: 2021

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Breve resumo sobre o

NEW JOURNALISM

Fonte:

http://www.csonlineunitau.com.br/jo/apostilas/robsonbastos/2jo/newjournalism.doc

Os primeiros indícios do tal New Journalism podem ser percebidos em obras-primas de tempos remotos. Como a que Henry Morton Stanley (1841 – 1904) escreveu no New York Herald, em 1872, ao localizar o missionário escocês David Livingstone dado como perdido na África:

“...Há um grupo de árabes extremamente respeitáveis, e, ao aproximar-me, vejo o rosto branco de um senhor de idade entre eles. Usa um boné com uma fita dourada amarrada em volta, uma jaqueta curta de pano de cobertor, e calças-bem, eu não reparei. Trocamos um aperto de mãos. Tiramos nossos chapéus, e eu pergunto:

-Dr Livingstone, eu presumo? E ele responde: „Sim‟.”.

E mesmo no Brasil podemos usar como exemplo as reportagens que Euclides da Cunha fez para o Estadão sobre a Guerra de Canudos, em 1897, que mais tarde seriam publicadas no livro Os Sertões.

Não tão antigo assim um exemplo foi dado por Gerald Clarke, veterano redator do assunto de capa da revista Time, dizendo que a repórter Lílian Ross já escrevera, com o viés da ficção, perfis de gente famosa como Ernest Hemingway, em 1950, no New York Times.

Dividindo as redações americanas ao meio, o New Journalism, passou a consolidar-se no início da década de 60 para mostrar, principalmente, a diferença nos fatores sócio-culturais dos Estados Unidos. De um lado ficaram os jornalistas que cobriam o dia-a-dia, produzindo matérias factuais, de interesse imediato. De outro, os repórteres do feature, que se dedicavam às chamadas matérias de interesse humano, vulgarmente conhecidas como “matérias-frias”. Enquanto os jornalistas de matérias factuais competiam entre si pelo ineditismo (furo), os jornalistas de feature gozavam de certa liberdade para experimentações de natureza literária.

Dentro do jornalismo, não havia unanimidade em torno do movimento do New Journalism. A contribuição ao pouco de reconhecimento obtido por meio de um ficcionista (literato), Trumam Capote (1924 – 1984), com o lançamento do livro A sangue frio. Romancistas e redatores de revistas fizeram proezas de reportagem utilizando-se de dois recursos narrativos básicos: a construção cena-a-cena e o diálogo. As cenas da vida das pessoas podiam ser efetivamente testemunhadas enquanto aconteciam. Da mesma forma, nada melhor do que o diálogo realista, que sabidamente envolve o leitor muito mais do que os demais recursos.

Mas a princípio, acreditava-se que os diálogos reproduzidos não eram verdadeiros, porque tal precisão só poderia ser obtida com recursos ficcionais. Muitos editores negavam o monólogo interior e o uso de narrativa em primeira pessoa. Os novos jornalistas eram acusados de compor cenas e personagens. Porém o mais impressionante nisso tudo é acreditar na afirmação de Trumam Capote, que dizia não ter usado gravador durante as entrevistas para a revista New Yorker, que geraram o best-seller A sangue frio. Veracidade comprovada por Sandy Campbell, checadora da revista, que constatou que as principais informações como nomes, datas, descrições e distâncias, estavam corretas.

O jornalista Gerald Clarke, autor de Capote – Uma biografia, coloca que seu biografado, era “bisbilhoteiro e registrava o que as pessoas diziam, não o que elas queriam que ele dissesse. Seu estilo de reportagem hoje é comum, mas na época era algo ainda bastante novo”.

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Podemos classificar como responsáveis pela consolidação do New Journalism, além de Trumam Capote, Tom Wolfe e Gay Talese (que escreveram para a revista Esquire), Normam Mailer, Lilian Ross, Jimmy Breslin e John Sack.

Esse gênero se esvaziou no final da década de 70, mas deixou raízes profundas para reelaboração do chamado “jornalismo literário”. Em outras palavras, a grande-reportagem por excelência. A que combina a fidelidade ao mundo real e a melhor técnica literária.

New Journalism no Brasil

No Brasil, o maior expoente no “novo jornalismo” foi a criação da revista Realidade, lançada em abril de 1966. O sucesso foi tão grande que em um ano sua tiragem dobrou (de 251.250 para 505.300). A cobertura era ampla e ambiciosa. A revista traçava uma espécie de mapa da realidade contemporânea, sem resistência a esta ou aquela pauta. O mundo - e o Brasil, em especial – eram desvendados de modo multifacetado. Realidade dava ao acontecimento um caráter de permanência. A preocupação era com o contexto e a situação em torno do acontecimento.

Por ser mensal, o tempo de apuração, fundamentação e documentação livrava os profissionais da revista do círculo vicioso e imediatista dos jornais. O repórter mergulhava no assunto que tinha de cobrir, por vezes até confundindo-se com o novo universo de abordagem. A captação da essência do assunto/tema não era apenas “intelectual” (razão), mas também emocional. Um pouco da sensação/impressão iniciada com o New Journalism. Além disso, o texto de Realidade era solto, fora das fórmulas tradicionais do jornalismo diário.

Neste sentido os textos eram personalizados e permitiam o uso variado de técnicas literárias, de acordo com o efeito desejado. Antes de revelar, Realidade particularizava. Primeiro centrava o interesse num microcosmo específico – o dos salineiros do Rio Grande do Norte, por exemplo -, depois traçava uma perspectiva do mundo externo àquele microcosmo. Isto faz com que o leitor primeiro descubra o novo “cosmo” e então o compreenda sob uma interpretação mais abrangente. Veja o exemplo que talvez seja o texto mais marcante da história da revista Realidade escrito por José Hamilton Ribeiro, depois de perder a perna durante a Guerra do Vietnã:

“Nunca imaginei que fosse sofrer tanto na minha vida. Hoje, o médico me disse a razão de tanta dor. Uma perna amputada se deixada livre, encolhe, atraída pelo repuxamento dos músculos. Assim, tratadas as feridas, elas se curam, mas a perna retorce, enrijece e nunca mais poderá assumir qualquer de suas funções...”.

Entre os expoentes do New Journalism no Brasil além de José Hamilton Ribeiro, estão: Joel Silveira, Rubem Braga, Zuenir Ventura, Flávio Tavares, Fernando Portela, Washington Novaes, Roberto Freire, Marcos Faerman, Lucas Mendes, Audálio Dantas, Plínio Marcos, Luiz Fernando Mercadante, Domingos Meirelles e Ricardo Kotscho.

Análise

Segundo Muniz Sodré, o estilo de um bom profissional de revista poderá ser definido como a técnica da isenção e do encantamento. “Um estilo que fica a meio caminho entre o discurso denotativo e a literatura, combinando, às vezes, os dois sistemas”. No passado, muitas revistas, como Life e Realidade, lançaram mão, com freqüência, da estrutura do conto em suas personagens. Não quer dizer que faziam literatura, exatamente. Do ponto de vista do profissional da palavra, há diferenças de perfil entre o escritor e o redator.

Para o redator, a linguagem é puro instrumento do pensamento, um meio de transmitir realidades. Para o escritor, ao contrário, a linguagem é um lugar dialético, em que as coisas se fazem e desfazem. Ou seja, o discurso literário está fundado na possibilidade de traduzir diferentes matizes do real. Sendo assim, a liberdade é total, inclusive para reinventar a própria linguagem. O jornalismo não. A base do discurso jornalístico é a simplicidade, a clara determinação do que tem correspondência com o real comum a todos(...).

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Não é a supra-realidade literária que interessa ao jornalismo. O que interessa é a precisão, pois tudo que se escreve em jornalismo deve ser verificável, comprovado na realidade imediata. A realidade do jornalismo se aproxima, então, de uma literatura não exatamente ficcional. Mas isto não impede o contrário: que a literatura de ficção, no conceito clássico, se utilize na realidade imediata e comprovável.

De certa forma, os meios de comunicação impressos acabaram tomando o lugar do livro, principalmente no Brasil, onde o jornal serve como livro texto. É um resumo dos conhecimentos humanos e acontecimentos do momento. Como categoria estética literária, a linguagem jornalística se caracteriza pela correção, clareza, precisão, harmonia e unidade. E o texto literário tem uma função estética. O modo como se diz alguma coisa em literatura, às vezes, é mais importante do que o próprio conteúdo do que se diz.

(...) Informar, acima de tudo, é um compromisso do jornalismo. Compromisso que a literatura não tem(...).

Em uma reportagem narrativa, é possível suscitar que sua matéria não se encerra depois de narrados os acontecimentos. E, dentro de um “imponderável limite”, você deve ser sensível, não ter medo de ser literário e expressivo jornalisticamente. É “imponderável” simplesmente porque é difícil demarcar uma divisória entre narrativa literária e jornalística. Então, ser expressivo significa, dentre outras coisas, que sua reportagem narrativa tem a obrigação de informar sempre do modo mais transparente. Por outro lado, ser literário significa, grosso modo, narrar com efeito, com beleza e imaginação. Sem perder de vista os fatos.

Literatura sob pressão

A reportagem narrativa é um dos gêneros mais importantes em jornalismo e, provavelmente, o que mais se aproxima o jornalismo da literatura. Mas jornalismo é mesmo gênero literário? É literatura menor, maior, útil? Definir os laços que unem os dois estilos é tão difícil quanto demarcar as divisórias. Assim como alguns valorizam a condição literária do jornalismo, reconhecendo-o como uma espécie de literatura sob pressão, há os que rejeitam esta hipótese e até acusam o jornalismo de obstruir a criação literária.

Podemos dizer que jornalismo é uma das categorias da literatura. Em outras palavras, é literatura de massa. Segundo Alceu Amoroso Lima, jornalismo é um gênero literário, com seu próprio estilo, as suas regras, o seu jargão.(...).

Como gênero literário, Alceu Amoroso Lima situa o jornalismo como prosa de apreciação, ao lado da crítica e da biografia. Em prosa, Alceu divide literatura em romance, conto, novela, teatro, prosa de apreciação e de comunicação. Assim, na crítica aprecia-se uma obra; na biografia, as pessoas; e o jornalismo aprecia os acontecimentos.

O ideal sem fim

Nesse sentido, nada impede que o jornalismo seja também uma literatura sob pressão. Para escrever, seja literatura ou jornalismo, é preciso inspiração, que nada mais é do que um exercício de criatividade. Em jornalismo, as pressões do tempo, do espaço e das circunstâncias podem ser tornar o ato de escrever uma verdadeira transpiração, mas nem por isso menos inventivo. É preciso escrever em pouco tempo, num espaço limitado de papel e sob a pressão do “tem que sair”, por sua vez a literatura não. Porém, esta pressão não impede que o jornalista produza uma obra de arte, como ocorre na literatura. Muitas vezes, tempo espaço e conteúdo, por exemplo, dependem muito mais da cabeça do autor.

Para fugir da mediocridade, (para mim da obviedade) o escritor e o repórter devem tomar o ato de escrever como um momento de livrar o corpo e o espírito de uma coceira, que apenas sossega quando o texto está pronto. Diz-se, muito oportunamente, que escrever é uma obsessão, uma praga. A busca do texto ideal não tem fim , porque se renova a cada reportagem escrita.

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Mas há quem diga que jornalismo e literatura são independentes um do outro. Considerando, inclusive, que o jornalismo é a morte da palavra. Sem dúvida que Machado de Assis e Euclides da Cunha se consideravam mais livres quando podiam fazer exclusivamente literatura.

Edvaldo Pereira Lima comenta assim as interações da literatura contemporânea com a imprensa moderna:

“O jornalismo absorve assim elementos do fazer literário, mas, camaleão, transforma-os, dá-lhes um aproveitamento direcionado a outro fim. A literatura está, até então, basicamente interessada na escrita. Mesmo quando representa o real, através da ficção, a factualidade concreta, efetiva – de acontecimentos, personagens e ambientes perfeitamente existentes e nominados, no espaço social verdadeiro – não é, na maioria dos casos o item primordial. (...) Mas, grosso modo, não há na literatura contemporânea aos primórdios da imprensa moderna atual a necessidade do reportar, e completamente factual. E é esta tarefa, a de sair do real para coletar dados para retratá-los, a missão que o jornalismo exige das formas de expressão que passa a importar da literatura, adaptando-as, transformando-as”.

Por outro lado, o jornalismo possui uma técnica específica de explorar a realidade. A literatura influenciou o jornalismo, mas o contrário também ocorreu, principalmente durante a década de 60, no movimento norte-americano conhecido como New Journalism. Esta influência pode ser comprovada na revista O Cruzeiro, dos anos 50, nas assinaturas de Jorge Amado, Érico Veríssimo e Graciliano Ramos, que em seus livros abordaram muito bem o realismo social brasileiro. Muitos jornalistas – escritores, inclusive – acham que o dia-a-dia do jornalismo ajuda a “depurar” o texto, no sentido de ser mais “direto’ e mais “conciso”. “Verossimilhança, é isso que aprenderam os ficcionistas com o jornalismo, um recurso para lhes dar força ao texto imaginário”.

Literatura se alimenta de enfoques contemporâneos ampliados. Além disso, é arte. Mas nada impede que a reportagem, a interpretação, a análise, o editorial se convertam em expressões de arte. Porém, o que o jornalismo expressa tem estilo e conduta próprios. Por isso, ele está pronto para sacrificar as virtudes da linguagem em nome da clareza, surpresa, síntese, consenso, impacto, novidade, efeitos, etc. São características inerentes à notícia, que é a expressão básica do jornalismo e tem seu próprio território. Não é uma contradição afirmar que o jornalismo é um gênero literário. Apesar disso, o jornalismo, expresso pela técnica de “noticiar”, é também antiliterário. Isto por uma razão muito simples: não pode alterar os fatos ou ser prolixo, sob pena de distorce-los ou descaracterizá-lo.

Em literatura, a língua pode servir para fins teóricos ou estéticos. Em jornalismo, não. O jornalista não pode acrescentar aos personagens de uma reportagem uma projeção pessoal. Os personagens em jornalismo são fato. Na ficção, o autor interpreta a “pessoa viva” na pele de uma outra pessoa – “o personagem de ficção”. O autor elabora esta interpretação “com a sua capacidade de clarividência e com a onisciência de criador, soberanamente exercida”, conforme diz Antonio Cândido.

Cuidado com o recheio

É verdade que literatura e jornalismo sempre tiveram ótimas relações. São vários exemplos em que o grande escritor e o grande jornalista habitam uma só pessoa. Como Euclides da Cunha, Bernard Shaw, Ernest Hemingway, T.S. Eliot, Otto Lara Resende, Mario Quintana etc. Se escritor e jornalista diferem entre si quanto ao discurso, o mesmo nem sempre ocorre com o conto e a reportagem, por exemplo.

As duas formas em muito se assemelham. O conto é a forma mais curta da narrativa literária. A reportagem é a forma mais longa em jornalismo. Com certo cuidado, podemos afirmar que a reportagem está para o jornalismo como o conto está para a literatura. Em literatura, o conto, geralmente, já se inicia próximo do momento de maior tensão, do clímax.

Mas nada impede que uma narrativa seja também um “crescendo”, ou seja, que os elementos (personagem, ação, espaço, tema, etc) estejam organizados de modo a deixar para o final o

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conteúdo de maior impacto. Como já vimos, tudo depende da escolha que será feita previamente. Seja no conto ou na reportagem, uma coisa é certa: há sempre – do ponto de vista do leitor-alvo – linguagem, forma e angulação mais adequados para a narrativa. É preciso pensar nisso.

Fontes:

www.igutenberg.org/newjorna.html

Vilas Boas, Sergio O estilo magazine: o texto em revista – São Paulo – Summus Editorial – 1996

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