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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP. Ana Lúcia dos Santos. Usos dos Verbos Ser e Estar no Português Brasileiro:

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(1)

Ana Lúcia dos Santos

Usos dos Verbos Ser e Estar no Português Brasileiro:

Uma Abordagem Funcional.

MESTRADO EM LÍNGUA PORTUGUESA

SÃO PAULO 2016

(2)

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO – PUC-SP

Ana Lúcia dos Santos

Usos dos Verbos Ser e Estar no Português Brasileiro:

Uma Abordagem Funcional.

MESTRADO EM LÍNGUA PORTUGUESA

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para a obtenção do título de MESTRE em Língua Portuguesa, sob a orientação da Professora Doutora Regina Célia Pagliuchi da Silveira.

SÃO PAULO 2016

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Ana Lúcia dos Santos

Usos dos Verbos Ser e Estar no Português Brasileiro:

Uma Abordagem Funcional.

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para a obtenção do título de MESTRE em Língua Portuguesa, sob a orientação da Professora Doutora Regina Célia Pagliuchi da Silveira.

Aprovado em: ____/____/____

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________

__________________________________________

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“Gosto de sentir a minha língua roçar A língua de Luís de Camões

Gosto de ser e de estar E quero me dedicar

A criar confusões de prosódias E uma profusão de paródias Que encurtem dores

E furtem cores como camaleões [...]” (Caetano Veloso, “Língua”, 1984.)

(5)

AGRADECIMENTOS

A Deus, em primeiro lugar, por me sustentar a cada dia.

Aos familiares e amigos, pelo apoio e carinho em todas as horas.

À professora Dra. Regina Célia Pagliuchi da Silveira, pelo privilégio de tê-la tido como orientadora nesta pesquisa. Obrigada por dividir comigo seu enorme conhecimento!

Às professoras Dra. Aparecida Regina Borges Sellan e Dra. Siomara Ferrite Pacheco, membros da banca de qualificação, pelas sugestões que enriqueceram este trabalho.

Aos professores da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, que muito contribuíram para minha formação intelectual e pessoal.

Aos colegas do Núcleo de Pesquisas Português Língua Estrangeira (NUPPLE) – em especial, ao Paulo e à Ivaneide –, com quem tive a oportunidade de conviver e aprender cada vez mais.

Aos colegas de classe, que me acompanharam no decorrer do curso.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela cessão da bolsa de estudo para esta pesquisa.

A todos os demais que, direta ou indiretamente, contribuíram para que eu chegasse até aqui.

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RESUMO

SANTOS, Ana Lúcia dos. Usos dos Verbos Ser e Estar no Português Brasileiro: Uma Abordagem Funcional. Dissertação de Mestrado. Programa de Estudos Pós-Graduados em Língua Portuguesa, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, SP, Brasil, 2016.

Esta dissertação está situada na área da gramática de língua portuguesa e trata da variação de uso dos verbos ser e estar por falantes brasileiros. Tem-se por pressuposto que as unidades sistêmicas de uma língua adquirem novas funções quando efetivamente usadas nas relações interpessoais. O problema tratado decorre das diferentes funções adquiridas por esses verbos que não são previstas pelas regras gramaticais sistêmicas da língua portuguesa. O objetivo desta pesquisa é contribuir com os estudos gramaticais do português brasileiro, e os objetivos específicos são: 1. Descrever o uso dos verbos ser e estar na dimensão lexical; 2. Verificar os usos dos verbos ser e estar na dimensão proposicional; 3. Buscar as diferentes funções atualizadas na dimensão pragmático-discursiva, relativas à ressemantização e à gramaticalização, no uso dos referidos verbos. Justifica-se a pesquisa realizada, pois as descrições sistêmicas e as da gramática tradicional relativas aos verbos ser e estar não dão conta das variações desses verbos no uso efetivo do português brasileiro. A pesquisa realizada está fundamentada na vertente moderada do funcionalismo linguístico, segundo Givón (1993), para quem a estrutura da língua não está desvinculada de sua função. O procedimento metodológico adotado é qualitativo, e o material de análise foi coletado tanto no uso escrito, quanto no uso oral de falantes brasileiros. As análises foram realizadas a partir das três dimensões propostas por Givón (1993) – lexical, proposicional e pragmático-discursiva. Os resultados obtidos indicam que, na dimensão lexical, a escolha entre ser ou estar é feita no conteúdo vocabular e atende ao que é previsto no sistema lexical; na dimensão proposicional, esses verbos participam de orações, pessoais ou impessoais, como plenos ou exprimindo, dentro das proposições, as noções de localização espacial, companhia, tempo, modo, equanimidade, posse ou qualidade; e, na dimensão pragmático-discursiva, em virtude das intenções comunicativas dos usuários da língua, esses verbos sofrem gramaticalizações, tornando-se copulativos ou auxiliares, e ressemantizações, ou seja, adquirem novos sentidos e funções que diferem dos previstos inicialmente no conteúdo vocabular. Desse modo, entende-se que é impossível se fazer menção à dimensão pragmático-discursiva, concernente ao discurso, sem considerar as dimensões proposicional e lexical. A pesquisa realizada abre novas perspectivas de investigação dos verbos ser e estar a partir da variedade de ocorrências desses verbos.

Palavras-chave: Verbo SER. Verbo ESTAR. Gramaticalização. Gramática sistêmico-funcional. Funcionalismo.

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ABSTRACT

SANTOS, Ana Lúcia dos. Usos dos Verbos Ser e Estar no Português Brasileiro: Uma Abordagem Funcional. Dissertação de Mestrado. Programa de Estudos Pós-Graduados em Língua Portuguesa, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, SP, Brasil, 2016.

This dissertation is situated in portuguese grammar área and discusses the variation of uses of ser and estar verbs by brazilian speakers. It presupposes that the systemic units of a language acquire new functions when they are used in interpersonal relationships. The problem arises from the different functions acquired by these verbs that are not covered by systemic grammar rules of the portuguese language. The main goal of this paper is contribute with brazilian portuguese gramatical studies, and the specific goals are: 1. Describing the use of ser and estar verbs in the lexical dimension; 2. Verifying the uses of ser and estar verbs in the propositional dimension; 3. Finding the distinct functions updated in the pragmatic-discursive dimension, on resemantization and grammaticalization in the use of these verbs. The background of this research is that systemic and traditional grammar descriptions are not able to explain the variations of ser and estar in the brazilian portuguese actual use. This research is founded on moderate current of linguistic functionalism, according to Givón (1993), to whom language structure is not separated from its function. The adopted methodological procedure is qualitative, and the corpus was collected in both, writing and oral brazilian speakers uses. The analyses were carried out from the three dimensions proposed by Givón (1993) – lexical, propositional and pragmatic-discursive. The results indicate that, in the lexical dimension, the choice between ser or estar made in the vocabular content complies with lexical system; in the propositional dimension, these verbs partake of personal or impersonal sentences, as lexical verbs or by giving these sentences the notions of spatial location, companion, time, mode, equanimity, possession or quality; in the propositional dimension, duo to communicative purposes of language users, these verbs are grammaticalizated, becoming copula and auxiliary verbs, and ressemantizated, i. e., they acquire new meanings and functions that differ from those from vocabular content. It means that it is impossible to refer to pragmatic-discursive dimension without considering propositional and lexical dimensions. This research opens up new prospects of ser and estar studies given the variety of uses of these verbs.

Keywords: SER verb. ESTAR verb. Grammaticalization. Systemic functional grammar. Functionalism.

(8)

LISTA DE FIGURAS

Figura 01: Os sistemas de que é feita a língua, segundo a teoria multissistêmica funcionalista cognitivista (CASTILHO, 2014)... 35 Figura 02: Modelo de organização hierárquica vertical dos níveis semântica lexical, semântica proposicional e pragmática discursiva, com base em Givón (1993)... 91 Figura 03: Trajetória de gramaticalização dos verbos segundo Travaglia (2002a, p.138 apud TRAVAGLIA, 2003, p. 98)... 124 Figura 04: Configuração do sintagma verbal (BAGNO, 2012, p.603)... 128 Figura 05: Estrutura locativa simples (Arrais 1984,

p.77)... 132 Figura 06: Estrutura locativa – localização absoluta ou relativa (Arrais 1984,

p.78)... 134 Figura 07: Estrutura atributiva – objetivo ou experienciador (Arrais 1984, p. 76) 138 Figura 08: Estrutura atributiva – causativo, origem e meta (Arrais 1984, p. 77) 140 Figura 09: Estrutura equativa (Arrais 1984,

p.74)... 143 Figura 10: Estrutura possessiva (Arrais 1984, p. 81)... 145 Figura 11: Estrutura possessiva – posse alienável/ inalienável (Arrais 1984,

(9)

LISTA DE QUADROS

Quadro 01: Formalismo e funcionalismo segundo Dik (1978/ 1981, p.4

apud CASTILHO, 2014, p. 66)... 18 Quadro 02: Parâmetros da transitividade segundo Hopper e Thompson

(1980, apud FURTADO DA CUNHA E SOUZA, 2011, p. 47)... 63 Quadro 03: Propriedades de individuação (FURTADO DA CUNHA E

SOUZA, 2011, p.49)... 65 Quadro 04: Tipos de Circunstâncias segundo Furtado da Cunha e Souza (2011, p. 77), com base em Eggins (1995)... 70 Quadro 05: Passagem da voz ativa à passiva e vice-versa (BECHARA,

(10)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO... 10

CAPÍTULO 1 – BASES TEÓRICAS... 13

1.1. Antecedentes... 13

1.2. Formalismo x funcionalismo... 16

1.2.1. Formalismo... 16

1.2.2. Funcionalismo... 17

1.2.3. Um confronto entre as visões formalista e funcionalista... 18

1.3. Outras considerações a respeito do funcionalismo: posições funcionais... 20

1.4. A Linguística Funcional e seus temas de estudo... 21

1.4.1. Linguística Funcional Centrada no Uso: uma nova tendência... 22

1.5. Diferentes funcionalismos... 28

1.5.1. O funcionalismo europeu... 28

1.5.2. O funcionalismo norte-americano... 32

1.5.3. O funcionalismo brasileiro... 34

1.6. Alguns conceitos basilares do funcionalismo... 39

1.6.1. Gramaticalização... 40

1.6.2. Metáfora... 48

1.6.3. Metonímia... 52

1.6.4. Mudança Linguística... 53

1.6.5. A relação entre discurso e gramática... 56

1.6.6. Transitividade... 58

1.6.7. Transitividade e plano discursivo... 71

1.6.8. Iconicidade... 73

1.6.9. Marcação e contrastividade... 76

1.7. Halliday e a Linguística Sistêmico-Funcional... 78

1.7.1. Oração como troca... 81

1.7.2. Oração como representação... 82 1.7.3. Oração como mensagem... 84

1.8. O funcionalismo proposto por Givón: a gramática nasce do discurso... 87

CAPÍTULO 2 – UMA REVISÃO DOS VERBOS SER E ESTAR: ETIMOLOGIA, TRATAMENTO GRAMATICAL DADO POR ESTUDIOSOS BRASILEIROS, GRAMATICALIZAÇÃO E ALGUMAS FUNÇÕES... 93

(11)

2.2. Revisão do tratamento gramatical dado por autores brasileiros para os verbos ser e estar...

. 95

2.2.1. Revendo as gramáticas históricas... 96

2.2.1.1. Grammatica Histórica da Língua Portugueza (SAID ALI, 1927)... 96

2.2.1.2. Compêndio de Gramática Histórica Portuguesa (J.J. NUNES, 1945)... 99

2.2.2. Revendo as gramáticas tradicionais... 101

2.2.2.1. Nova Gramática do Português Contemporâneo (CUNHA e CINTRA, 2007)... 101

2.2.2.2. Moderna Gramática Portuguesa (BECHARA, 2009)... 105

2.2.3. Revendo as gramáticas que abordam o uso efetivo do português brasileiro... 109

2.2.3.1. Gramática da Língua Portuguesa – Gramática da palavra . Gramática da frase . Gramática do texto/ discurso (VILELA e KOCH, 2001)... 109

2.2.3.2. Gramática de usos do português (NEVES, 2011)... 111

2.2.3.3. Nova Gramática do Português Brasileiro (CASTILHO, 2014)... 115

2.3. Considerações gramaticais sobre o processo de gramaticalização dos verbos... 123

2.4. Considerações gramaticais sobre os verbos de ligação... 125

2.5. Considerações gramaticais sobre os verbos auxiliares... 127

2.6. Algumas funções de ser e de estar... 129

2.6.1. Ser e estar como verbos plenos... 129

2.6.2. Ser e estar como verbos funcionais... 129

2.6.2.1. Ser e estar e as estruturas locativa, modal, atributiva, equativa e possessiva... 131

A) Estrutura locativa... 131

B) Estrutura modal... 134

C) Estrutura atributiva... 136

D) Estrutura equativa... 142

E) Estrutura possessiva (Arrais, 1984)... 144

2.6.3. Ser e estar como verbos auxiliares... 147

2.6.3.1. Verbo ser... 147

(12)

CAPÍTULO 3 – RESULTADOS OBTIDOS DAS FUNÇÕES DO VERBO SER NO USO DO

PORTUGUÊS BRASILEIRO... 149

3.1. Dimensão lexical vocabular... 149

3.2. Resultados obtidos nas análises... 152

3.2.1. Verbo ser como verbo pleno... 152

3.2.2. Verbo ser como verbo funcional... 157

3.2.2.1. Estrutura locativa... 158

A) Com sentido comitativo... 158

B) Com sentido locativo... 159

3.2.2.2. Estrutura modal... 166

3.2.2.3. Estrutura atributiva... 169

A) Com sintagma adjetival... 169

B) Com sintagma preposicional... 181

C) Com sintagma nominal... 185

D) Com particípio de valor adjetivo... 189

3.2.2.4. Estrutura equativa... 192

3.2.2.5. Estrutura possessiva... 198

3.2.4. Outras funções do verbo ser... 202

3.2.4.1. Advérbio de afirmação... 202

3.2.4.2. Marcador discursivo... 204

3.2.4.3. Preenchedor de pausa... 212

CAPÍTULO 4 – RESULTADOS OBTIDOS DAS FUNÇÕES DO VERBO ESTAR NO USO DO PORTUGUÊS BRASILEIRO... 227

4.1. Dimensão lexical vocabular... 227

4.2. Resultados obtidos nas análises... 228

4.2.1. Verbo estar como verbo pleno... 229

4.2.2. Verbo estar como verbo funcional... 231

4.2.2.1. Estrutura locativa... 232

A) Com sentido comitativo... 232

(13)

C) Com sentido temporal... 240

4.2.2.2. Estrutura modal... 242

4.2.2.3. Estrutura atributiva... 245

A) Com sintagma adjetival... 245

B) Com sintagma preposicional... 258

C) Com sintagma nominal... 261

D) Com particípio de valor adjetivo... 263

4.2.2.4. Estrutura equativa... 267

4.2.2.5. Estrutura possessiva... 268

4.2.3. Verbo estar como auxiliar de gerúndio... 272

4.2.4. Outras funções do verbo estar... 279

4.2.4.1. Advérbio de afirmação... 279 3.2.4.2. Marcador discursivo... 280 4.2.4.3. Operador argumentativo... 283 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 297 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 307 ANEXOS... 312

Anexo I - Conjugação dos verbos ser e estar (Cunha e Cintra, p. 413-416)... 312

Anexo II - Conjugação da voz passiva – ser e estar (Cunha e Cintra, p. 419-421)... 316

Anexo III - Conjugação dos verbos auxiliares mais comuns (Bechara, 2009, p. 254-256)... 319

Anexo IV - Conjugação de um verbo composto na voz passiva: ser amado (Bechara, 2009, p. 260-261)... 320

(14)

INTRODUÇÃO

Esta dissertação está situada na área da gramática da língua portuguesa e tem por tema as funções que os verbos ser e estar adquirem no uso efetivo do português brasileiro.

Tem-se por pressuposto que as unidades mórficas de uma língua, ao serem usadas nas relações interpessoais, adquirem novas funções, a fim de atender às necessidades comunicativas dos falantes, de forma a produzirem uma dinâmica que, em cada estado de língua, resulta em gramaticalização.

O problema tratado é a variedade/variação de usos dos verbos ser e estar no português brasileiro.

Tem-se por objetivo geral contribuir com os estudos gramaticais do português brasileiro, e, por objetivos específicos:

1. Descrever o uso dos verbos ser e estar na dimensão lexical;

2. Verificar os usos dos verbos ser e estar na dimensão proposicional; 3. Buscar as diferentes funções atualizadas na dimensão

pragmático-discursiva, relativas à ressemantização e à gramaticalização, no uso dos referidos verbos.

Justifica-se a pesquisa realizada, pois as descrições dos verbos ser e estar relativas ao sistema da língua portuguesa não dão conta das variações do uso efetivo desses verbos pelos seus falantes nativos.

Há dificuldades para o ensino do português brasileiro como língua estrangeira, e, também, como segunda língua, na medida em que o material existente, com enfoque gramatical, apresenta lacunas quanto à descrição da variação de usos no português brasileiro. Vários autores, na atualidade, têm se preocupado com o uso efetivo da língua, dentre eles Vilela e Koch (2001), Neves (2011) e Castilho (2014).

Neves (1994), ao tratar da gramática funcional, cita Nichols (1984), que afirma a existência de três grandes vertentes: a conservadora, a extrema e a moderada. A primeira não propõe uma análise da estrutura, apenas aponta a inadequação do formalismo/ estruturalismo; a segunda nega a estrutura como estrutura e defende que as regras estão baseadas internamente na função e que não há, portanto, restrições sintáticas; a última, por sua vez, além de também apontar a inadequação do formalismo/ estruturalismo, propõe uma

(15)

análise da estrutura (Cf. NEVES, 1994, p.116). Esta pesquisa está fundamentada na vertente moderada, uma vez que tanto Givón (1993) quanto Halliday (2004) propõem que a estrutura não está desvinculada da função.

Esta dissertação tem como ponto de partida o tratamento dado por gramáticos brasileiros com enfoque funcionalista a respeito do uso dos verbos ser e estar.

O procedimento metodológico adotado é qualitativo e os corpora para análise foram coletados tanto no uso escrito quanto no uso oral, a saber:

Uso escrito:

 Corpus Discurso & Gramática (D&G);

 Bíblia sagrada, especificamente a edição denominada A Bíblia de Jerusalém;

 Textos literários: Mr. Slang e o Brasil e Problema Vital, de Monteiro Lobato (1957).

 Sites diversos da internet, por oferecerem grande variedade de ocorrências escritas.

Uso oral:

 Corpus Discurso & Gramática (D&G), do Departamento de Linguística e Filologia da Faculdade de Letras de três universidades: a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e a Universidade Federal Fluminense (UFF);  Projeto da Norma Urbana Oral Culta do Rio de Janeiro (NURC-RJ);  programas televisivos;

 vídeos de canais da internet.

As análises foram realizadas a partir das três dimensões propostas por Givón (1993):

 dimensão lexical, concernente ao significado dado pelo léxico;

 dimensão proposicional, concernente à combinação das palavras do léxico, expressando um conceito;

(16)

 dimensão pragmático-discursiva, concernente ao discurso formado pela reunião das proposições.

Os resultados apresentados para a dimensão lexical tiveram por ponto de partida o conteúdo vocabular presente no Grande Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa, em sua versão online. O critério de seleção encontrado nesse dicionário decorre da organização do próprio conteúdo vocabular proposto para os verbos ser e estar, em que o autor separa por itens os usos mais frequentes desses verbos em situações reais de comunicação.

Esta dissertação está organizada em quatro capítulos:

O capítulo 1, Bases Teóricas, apresenta o funcionalismo linguístico, situando-o nos estudos gramaticais da língua, em seu uso efetivo, e apresentando algumas das abordagens funcionalistas existentes.

O capítulo 2, Uma Revisão dos Verbos Ser e Estar: Etimologia, Tratamento Gramatical Dado por Estudiosos Brasileiros, Gramaticalização e Algumas Funções, revê os verbos ser e estar, apresentando sua história, o tratamento dado a esses verbos e algumas das funções que eles exercem.

O capítulo 3, Resultados Obtidos das Funções do Verbo Ser no Uso do Português Brasileiro, é composto pelos resultados obtidos nas análises relativas às variações dos usos do verbo ser no português brasileiro, tanto na oralidade quanto na escrita.

O capítulo 4, Resultados Obtidos das Funções do Verbo Ser no Uso do Português Brasileiro, semelhante ao capítulo anterior, contém os resultados obtidos nas análises relativas às variações dos usos do verbo estar no português brasileiro, tanto na oralidade quanto na escrita.

(17)

CAPÍTULO 1 – BASES TEÓRICAS

Este capítulo apresenta a revisão teórica que norteia esta pesquisa. Inicia-se com uma breve retomada dos estudos linguísticos a partir do início do século XX e com as diferenças existentes entre formalismo e funcionalismo. Trata do funcionalismo linguístico, de suas principais escolas, de alguns de seus princípios basilares e dos postulados de Halliday (2004), Castilho (2014) e Givón (1993).

1.1 Antecedentes

O início do século XX foi o marco divisor dos estudos linguísticos. A obra fundadora da Linguística é o Curso de Linguística Geral (1916), publicado três anos após a morte de Ferdinand de Saussure, professor da Universidade de Genebra, por dois de seus alunos – Bally e Sechehaye, a partir de suas anotações de aula. Com a divulgação dos trabalhos de Saussure, a Linguística passou por um processo de reconhecimento como Ciência até se tonar autônoma. Antes, estava submissa às exigências de outros estudos, tais como a Lógica, a Filosofia, a História e outras.

Para Saussure (1969, apud PETTER, 2008), a língua é um sistema de signos formado por um conjunto de unidades que se relacionam organizadamente dentro de um todo. Constitui um sistema externo ao falante e que não pode ser modificado por este pelo simples fato de que ela obedece a convenções (leis) sociais estabelecidas dentro da comunidade. É, portanto, ao mesmo tempo, “física, fisiológica e psíquica; pertence ao domínio individual e social.” (PETTER, 2008, p.14). Desse modo, as línguas são sistemas autônomos, regidos por leis internas e alheios a forças internas. O caráter social de tal sistema é dado pelo fato de que ele é socialmente partilhado entre os usuários de uma língua.

Petter (2008, p.14) afirma que:

Para o mestre Genebrino, “a Linguística tem por único e verdadeiro objeto a língua considerada em si mesma, e por si mesma”. Os seguidores dos princípios saussureanos esforçaram-se por explicar a

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língua por ela própria, examinando as relações que unem os elementos no discurso e buscando determinar o valor funcional desses diferentes tipos de relações. A língua é considerada uma estrutura constituída por uma rede de elementos, em que cada elemento tem um valor funcional determinado. A teoria de análise linguística que desenvolveram, herdeira das ideias de Saussure, foi denominada estruturalismo.” [...]

Como acreditava ser a língua um sistema estático, Saussure priorizava o estudo sincrônico em detrimento do diacrônico, até porque, para ele, os falantes não tinham consciência das mudanças diacrônicas. Eles apenas faziam uso da língua que aprendiam desde a infância, em um determinado recorte de tempo.

Entretanto, Martelotta (2011) afirma que, para as pesquisas atuais sobre a mudança linguística, a separação absoluta entre sincronia e diacronia proposta por Saussure é ingênua por encarar as línguas como completamente uniformes em um determinado momento de sua evolução. Ademais, para Martelotta, diante da noção sincrônica “determinado momento”, não é possível estipular um prazo de duração de um estado de língua.

Esse autor ainda discorda da afirmação de que “para o falante, a sucessão de fatos não existe”. Para ele, não se pode inferir que os falantes não percebam as mudanças em sua língua, ao contrário, eles são, sim, sensíveis às mudanças que ocorrem em sua língua, e isso é perceptível por exemplo, quando se observar que fazem ou deixam de fazer uso de determinada expressão por ela ser típica de pessoas mais velhas ou mais jovens. O chamado “gerundismo” percebido no português brasileiro atual também pode ser citado como um exemplo disso.

Os linguistas da atualidade, sobretudo os que estudam a gramática pela perspectiva do uso efetivo da língua, partem da noção de pancronia. Segundo Martelotta (2011), pancronia diz respeito à convivência das estruturas sincrônicas e diacrônicas em língua. Desse modo, pode-se afirmar que, em um estado de pancronia, fragmentos de velhos sistemas e de novos sistemas não se excluem, mas convivem, e os primeiros não desapareceram completamente, mostrando seus vestígios nas construções contemporâneas.

Sob essa noção, o sistema da língua deixa de ser estático e passa a ser visto como dinâmico, uma vez que as unidades sistêmicas, ao entrarem em

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uso, pragmaticamente, adquirem, pelo uso, novas funções que, ao se cristalizarem, passam a compor o sistema.

Segundo a visão estruturalista, o sistema é estático; a fala é dinâmica. Por essa razão, conforme Ilari (2011), os estruturalistas entendiam que a parole não poderia ser objeto de um estudo realmente científico, o que fez chegar a uma situação extrema em que toda a atenção foi voltada ao sistema e suas regras, e o estudo do uso foi posto em segundo plano, como objeto de estudo da Linguística da fala ou da estilística, como uma “tarefa menos nobre” (Ilari 2011, p.59).

Na década de 70, o Estruturalismo ainda era a orientação mais importante dos estudos da linguagem no Brasil. Com o tempo, o paradigma acabou sendo superado pelas novas tendências que surgiram na Linguística. Entretanto, na década de 1960, essa vertente já começava a dar sinais de esgotamento no hemisfério norte. Isso porque nela se desconsideravam aspectos dos fenômenos linguísticos que são essenciais para sua compreensão, como o papel do sujeito.

A grande crítica feita ao estruturalismo por Émile Benveniste (1966, apud ILARI, 2011) é que o estruturalismo teria negligenciado o papel essencial que o sujeito desempenha na língua. Benveniste também afirmou que algumas estruturas centrais em qualquer língua deixam de fazer sentido se a língua for descrita sem referência à fala e aos diferentes papéis que os falantes assumem na interlocução.

Uma crítica de Coseriu (1973, apud ILARI, 2011) sobre o estruturalismo foi em relação à dicotomia sincronia x diacronia. Para Coseriu, era ilusório delimitar um estado de sincronia, uma vez que, em qualquer língua, a todo momento, mecanismos gramaticais e recursos lexicais que são frutos de diferentes momentos da história convivem, e é essa convivência que caracteriza um estado de língua dado (=pancronia). Coseriu revisou também a oposição língua e fala. Para ele, entre essas duas instâncias, há uma ainda mais operacional e mais real que a própria língua: a norma.

Para Pêcheaux (1969, apud ILARI, 2011), ao descartar a fala como objeto de estudo científico, Saussure teria destruído ao mesmo tempo a possibilidade de uma linguística textual e a de uma análise científica do sentido dos textos.

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Por essas razões, entende-se que o estruturalismo, pela Linguística Francesa, foi visto como réu, por se restringir à análise do sistema; por dar significações sem considerar fatores ideológicos e políticos; enfim, por seu caráter “anti-historicista, anti-idealista e anti-humanista” (ILARI, 2011, p.83). Assim, o estruturalismo foi perdendo seu prestígio.

Os estudos linguísticos durante o estruturalismo e o gerativismo foram realizados na dimensão da frase, por estarem voltados para a descrição da língua, mas fora de seu uso efetivo. Para os estruturalistas, a tarefa do linguista era descrever as unidades e as regras gramaticais combinatórias dessas unidades, a fim de se obter a descrição do sistema da língua. Para os gerativistas, a tarefa do linguista era descrever as regras gramaticais da competência linguística de um falante ideal e, portanto, abstrato.

As contribuições dadas por essas duas correntes foram importantes para mostrar que o estudo de uma língua não pode ser feito fora de seu uso efetivo. De fato, com a atenção voltada para o uso, foi possível verificar que as regras gramaticais de uma língua são sistêmicas, mas dinamicamente modificadas pelas diferentes funções que essas unidades vão adquirindo nas reais situações de interação comunicativa.

Oposto ao estruturalismo está o funcionalismo, nascido na Escola de Praga, que conseguiu harmonizar os ensinamentos de Saussure com a linha de reflexão sobre a linguagem do psicólogo Karl Bühler.

1.2. Formalismo x funcionalismo

Na Linguística, há diferentes pontos de vista. As abordagens linguísticas atuais são divididas em formalismo, que abrange o gerativismo e o estruturalismo; e funcionalismo.

1.2.1. Formalismo

O formalismo é uma abordagem linguística que compreende a língua como objeto autônomo, não dependente do uso em situações reais de

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comunicação. Prioriza o estudo da forma – fonologia, morfologia e sintaxe –, deixando a análise da função em segundo plano.

Os formalistas interessam-se apenas pelas formas e suas relações entre si, mas não pela relação dessas formas com os significados ou funções, ou entre a língua e seu meio, ou contexto de uso. Os formalistas ainda consideram que as funções externas não influenciam a estrutura interna da língua. Bloomfield, Trager, Bloch, Harris e Fries são exemplos de formalistas.

1.2.2. Funcionalismo

O funcionalismo é uma abordagem linguística que compreende a língua como instrumento de interação social que é maleável e moldado pela interação. Desse modo, a pragmática é um marco globalizador, dentro do qual devem ser estudadas a semântica e a sintaxe. Prioriza o estudo da função que a forma linguística desempenha na interação comunicativa, ou seja, também estuda a forma, porém, analisando-a segundo as motivações funcionais que a influenciam – semântico, pragmáticas, sociais, cognitivas.

Para os funcionalistas, o contexto de uso motiva as diferentes construções sintáticas. Isso significa que, para essa corrente teórica, não há como explicar a estrutura da língua sem levar em conta a comunicação na situação social.

Esses linguistas consideram as regularidades observadas no uso interacional da língua, analisando as condições discursivas desse uso, ultrapassando o âmbito da estrutura gramatical. Eles buscam na situação comunicativa a motivação para os fatos da língua. Consideram, assim, os interlocutores, seus propósitos e o contexto discursivo. Para tanto, trabalham essencialmente com informações, faladas ou escritas, retiradas de situações reais de comunicação, evitando a utilização de frases criadas, dissociadas do contexto, como o fazem os formalistas.

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1.2.3. Um confronto entre as visões formalista e funcionalista

Acerca das distinções entre formalistas e funcionalistas, Leech (1983, apud FURTADO DA CUNHA e SOUZA, 2011, p. 16-17) entende que:

• os formalistas tendem a conceber a língua como um fenômeno mental, um objeto autônomo, cuja estrutura pode ser analisada sem que seja levado em conta seu uso em situações reais de comunicação. Os funcionalistas, por outro lado, tendem a considerar a comunicação, cuja estrutura se adapta a pressões provenientes das diversas situações comunicativas em que é utilizada;

• os formalistas tendem a considerar que os universais linguísticos derivam de uma herança linguística genética que é comum a toda a espécie humana. Os funcionalistas, por sua vez, tendem a explicar os universais linguísticos como derivados da universalidade dos usos a que a língua serve na sociedade humana; • os formalistas tendem a explicar a aquisição da linguagem pelas crianças em termos de uma capacidade humana inata para aprender uma língua. Em oposição, os funcionalistas tendem a explicar a aquisição da linguagem em termos do desenvolvimento das necessidades e habilidades comunicativas da criança na sociedade.

Dik (1978/1981 p. 4 apud CASTILHO, 2014, p. 66) apresenta um quadro que resume bem as oposições entre o formalismo e o funcionalismo:

PARADIGMA FORMAL PARADIGMA FUNCIONAL 1. A língua é um conjunto de sentenças. 1. A língua é um instrumento de interação

social. 2. A função primária da língua é a expressão

dos pensamentos. 2. A função primária da língua é a comunicação. 3. O correlato psicológico da língua é a

competência: a capacidade de produzir, interpretar e julgar sentenças.

3. O correlato psicológico da língua é a competência comunicativa: a habilidade de conduzir a interação social por meio da língua. 4. o estudo da competência tem uma

prioridade lógica e metodológica sobre o estudo do desempenho.

4. o estudo do sistema linguístico deve ter lugar no interior do sistema de usos

linguísticos. 5. As sentenças de uma língua devem ser

descritas independentemente do contexto em que ocorreram.

5. A descrição dos elementos linguísticos de uso de uma língua deve proporcionar pontos de contato com o contexto em que ocorreram. 6. A aquisição da língua é inata. Os inputs

são restritos e não estruturados. A teoria do estímulo é pobre.

6. A criança descobre o sistema que subjaz à língua e ao uso linguístico ajudada por inputs de dados linguísticos extensos e altamente

estruturados, presentes em contextos naturais.

7. Os universais linguísticos são propriedades inatas do organismo biológico e psicológico

do homem.

7. Os universais linguísticos são especificações inerentes às finalidades da comunicação, à constituição dos usuários da

língua e aos contextos em que a língua é usada.

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8. A sintaxe é autônoma em relação à semântica. A sintaxe e a semântica são autônomas com relação à pragmática, e as prioridades vão da sintaxe à pragmática via

semântica.

8. A pragmática é a moldura dentro da qual a semântica e a sintaxe devem ser estudadas. A

semântica é dependente da pragmática, e as prioridades vão da pragmática para a sintaxe

via semântica.

Quadro 01: Formalismo e funcionalismo segundo Dik (1978/ 1981, p.4 apud CASTILHO, 2014, p. 66)

Ambas as abordagens – formalismo e funcionalismo – consideram que a gramática é composta pela sintaxe, a morfologia e a fonologia, e que, por sua vez, a gramática, o léxico, o discurso e a semântica constituem os quatro sistemas linguísticos das línguas naturais.

Outro ponto de convergência entre funcionalismo e formalismo a ser citado é que o gerativismo, abrigado no formalismo, de certa maneira, faz menções à semântica em sua subteoria de papéis temáticos. (KATO, 1998, apud CASTILHO, 2014).

Já a sintaxe funcional não pode ignorar as regularidades da estrutura da língua, uma vez que nem sempre tais regularidades podem ser explicadas por determinações de caráter social. A teoria funcionalista não exclui o sistema -forma- estrutura, mas os integra ao discurso-uso-pragmática, além do embasamento cognitivo (NEVES, 1997b, p.20).

Apesar das oposições, pode-se afirmar que formalismo e funcionalismo diferenciam-se apenas na abordagem do fenômeno linguístico e no papel que cada uma delas confere à gramática, ao léxico, ao discurso e à semântica (Cf. CASTILHO, 2014, p. 64). Isso significa que há multiplicidade de olhares sobre os fenômenos da língua. Deve-se considerar que há diversos enfoques ou pontos de vista diante de um mesmo objeto. É como observar uma árvore: um botânico, um biólogo, um paisagista ou um madeireiro observarão o mesmo ‘objeto’, porém, vê-lo-ão sob seus pontos de vista, de acordo com o que lhes interessa: “é o ponto de vista que cria o objeto” (SAUSSURE, 1969, p.15 apud PIETROFORTE, 2008, p.77).

Por ser esta dissertação embasada na abordagem funcionalista da língua, apresentar-se-á, a seguir, um conjunto de considerações a respeito dessa abordagem.

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1.3. Outras considerações a respeito do funcionalismo: posições funcionais

O funcionalismo tem como cerne estudar as formas linguísticas sempre atreladas às funções a que servem em situações reais de comunicação, não utilizando meros exemplos formulados proposital e artificialmente para uma análise. Isso porque no âmbito dos estudos funcionalistas, a estrutura reflete e é motivada pela função, desempenhando funções no discurso (Cf. FURTADO DA CUNHA E SOUZA, 2011, p. 9-10). Desse modo, as estruturas da linguagem servem a funções comunicativas e cognitivas.

Mattos e Silva (2008, p.72) afirmam, citando Labov (1987), que é possível distinguir três posições funcionais, “cada uma delas apresentando o contexto progressivamente mais abrangente”, a saber:

A primeira será a de A. Martinet, que diz respeito à eficiência comunicativa das unidades estruturais. A segunda, conforme Labov, é a de P. Kiparsky, que propõe uma restrição funcional que governa as condições da mudança linguística, havendo uma tendência para que a informação mais relevante, quanto à semântica, seja retida na estrutura superficial. Desse ponto de vista, o conceito de função se refere a uma relação entre a forma e seu significado referencial; diferentemente de Martinet, para quem o conceito de função tem a ver com a oposição entre as unidades do sistema. O terceiro é o de M. A. K. Halliday que, em artigo de 1967, “Notes on Transitivity and Theme in English”, se refere à motivação discursiva da estrutura sentencial, que se vincula à Escola de Praga no que se refere à oposição entre dado versus novo e tema versus rema. [...]

De acordo com Martelotta e Alonso (2012), o termo funcionalismo pode se remeter a:

1. “funcionalismos”: holandês, inglês, norte-americano etc., isto é, às escolas funcionalistas;

2. qualquer abordagem teórica que considere que a função principal da língua é a comunicação nas situações reais de interação entre os falantes.

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1.4. A Linguística Funcional e seus temas de estudo

A gramática funcional, para bem cumprir o objetivo a que se propõe, ultrapassa o limite da sentença, partindo para a análise de textos extensos, estabelecendo correlações entre os fatos gramaticais e os dados da comunidade que o gerou.

De acordo com Castilho (2014, p. 68):

O funcionalismo acolhe uma série de teorias auxiliares: (i) a língua como competência comunicativa; (ii) a língua como um conjunto de funções socialmente definidas; (iii) a língua como conjunto de atos de fala; (iv) a língua como variação e mudança; (v) a língua como discurso.

Desse modo, uma gramática funcional tem a preocupação de estudar a sintaxe no discurso. Ainda de acordo com Castilho (2014, p.65):

A sintaxe funcional contextualiza a língua na situação interacional a que as estruturas se correlacionam, prestando mais atenção ao modo como ela se gramaticaliza, ou seja, o modo como ela representa as categorias sociais e cognitivas em sua estrutura gramatical.

Dois importantes conceitos em funcionalismo são língua e gramática. O primeiro é tido como atividade social arraigada no uso corrente e altamente influenciado por pressões advindas de situações interacionais diversas. O segundo é definido como uma estrutura dinâmica e flexível, emergente das situações cotidianas de interação (Cf. FURTADO DA CUNHA E SOUZA, 2011, p. 9).

Diferente da teoria gerativa, que ignora totalmente as condições reais de uso da língua, assim como a interferência de fatores extralinguísticos na formação da estrutura linguística, a teoria funcionalista concebe a gramática como resultado da estruturação de fatores cognitivos e comunicativos da língua. Para Furtado da Cunha, Bispo e Silva (2013, p.15),

A gramática de uma língua é constituída tanto de padrões regulares no nível dos sons, das palavras e de unidades maiores, como os sintagmas e as orações, quanto de formas emergentes, em decorrência da atuação desses fatores.

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Assim, a Linguística Funcional reconhece o estatuto fundamental que as funções da língua têm na descrição das formas linguísticas. Cada entidade linguística deve ser definida com relação ao papel que ela desempenha nos processos reais de comunicação, e, por isso, a Linguística Funcional utiliza dados reais em suas análises.

Existem vários ‘funcionalismos’, dentre eles, os conhecidos como pertencentes:

 à Escola de Genebra (Bally e Frei);

 à Escola de Praga (Mathesius, Trubetzkoy, Jakobson, Firbas e outros);  à Escola de Londres (Firth e Halliday);

 à Escola [da Costa Oeste] Norte-Americana (Bolinger, Givón, Hopper, Thompson, Chafe);

 à Escola da Holanda (Reichiling e Dik); etc.

1.4.1. Linguística Funcional Centrada no Uso: uma nova tendência

Mais recentemente, surgiu, dentro do funcionalismo, uma nova tendência: a Linguística Funcional Centrada no Uso. De acordo com Tomasello (1998, apud FURTADO DA CUNHA, BISPO e SILVA, 2013), essa é uma tendência de estudos linguísticos que também pode ser denominada como Linguística Cognitivo-Funcional. Essa corrente é fruto da união das tradições desenvolvidas pelos estudiosos da Linguística Funcional (Givón, Hopper, Thompson, Chafe, Bybee, Traugott, Lehmann, Heine e outros) com as tradições desenvolvidas por estudiosos da Linguística Cognitiva (Lakoff, Langacker, Fauconnier, Goldberg, Taylor, Croft e outros).

A Linguística Cognitiva, que emerge na mesma época que a Funcional, considera que o comportamento linguístico é reflexo de capacidades cognitivas que dizem respeito aos processos de categorização, organização conceptual, aspectos ligados ao processamento linguístico e, sobretudo, à experiência humana no contexto de suas atividades individuais, sociointeracionais e culturais.

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Nessa perspectiva, as construções linguísticas, tal como outras habilidades não linguísticas, são concebidas como esquemas cognitivos. O falante vai adquirindo esse conhecimento à medida que aprende a usar sua própria língua. A gramática é tida como uma representação cognitiva da experiência dos indivíduos com a língua, uma vez que aquela é afetada pelo uso linguístico.

As categorias linguísticas são baseadas na experiência que temos das construções em que elas ocorrem, da mesma forma que as categorias por meio das quais classificamos objetos da natureza e da cultura são baseadas na nossa experiência com o mundo. Acredita-se, assim, que todos os processos de construções gramaticais são moldados pelo uso da língua.

Furtado da Cunha, Bispo e Silva (2013, p.14) apresentam alguns pressupostos teórico-metodológicos em comum entre a Linguística Funcional e a Cognitiva:

 Rejeição à autonomia da sintaxe;

 Incorporação da semântica e da pragmática nas análises;  Não distinção estrita entre léxico e gramática;

 Relação estreita entre a estrutura das línguas e o uso que os falantes fazem delas em contextos reais de comunicação;

 Uso de enunciados reais nas análises linguísticas.

De acordo com Bybee (2010, apud FURTADO DA CUNHA, BISPO E SILVA, 2013, p.15), a Linguística Funcional Centrada no Uso se propõe a

[...] descrever e explicar os fatos linguísticos com base nas funções (semântico-cognitivas e discursivo-pragmáticas) que desempenham nos diversos contextos de uso da língua, integrando sincronia e diacronia, numa abordagem pancrônica. [...]

De maneira geral, a Linguística Funcional Centrada no Uso estuda temas relacionados à emergência e também à regularização de padrões construcionais no nível da proposição, levando em conta fatores fonológicos, morfológicos e sintáticos, e busca identificar nesses padrões motivações discursivo-pragmáticas e semântico-cognitivas.

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De acordo com Furtado da Cunha, Bispo e Silva (2013, p.18), são temas de estudo de interesse para a Linguística Funcional Centrada no Uso:

 Processos de variação e mudança linguísticas, principalmente aqueles relativos à gramaticalização;

 Estrutura argumental e transitividade;  Universais e tipologia linguística;

 Aspectos funcionais na constituição morfológica de vocábulos e na codificação da cláusula.

 Elementos organizadores do texto/ discurso no que se refere, por exemplo, a informatividade, plano discursivo, cadeia tópica e planificação textual.

Segundo os mesmos autores (p.18-21), são alguns conceitos-chave para a Linguística Funcional Centrada no Uso, resumidos a seguir:

a) Cognição – conjunto de operações mentais que promovem a construção do conhecimento humano a partir do contato do indivíduo com o ambiente físico e sociocultural em que está inserido.

b) Linguagem – rede complexa de atividades sociocomunicativas e cognitivas estritamente integrada às demais áreas da psicologia humana, ou seja, está fundamentada em processos cognitivos, sociointeracionais e culturais.

c) Discurso – Segundo a definição de Du Bois (2003, apud FURTADO DA CUNHA, BISPO E SILVA, 2013, p.19), “qualquer ato motivado de produção e compreensão de enunciados em um contexto de interação verbal. ” Isso inclui as estratégias sociopragmaticamente orientadas de sua configuração, em uma determinada situação intercomunicativa. d) Padrão Discursivo – De acordo com Östman (2005, apud FURTADO DA

CUNHA, BISPO E SILVA, 2013, p.19), diz respeito a um

[...] construto sociocognitivo de comunicação, atualizado em uma dada configuração textual, que emerge e se ritualiza em contextos sociocomunicativos específicos nos quais os indivíduos se engajam cotidianamente.

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Esse padrão recobre as noções de gênero discursivo e tipo textual. São exemplos de padrão discursivo: Receitas culinárias, ofícios, conferências etc.

e) Texto – Locus da manifestação discursiva. É atualizado pela linguagem, constituindo um todo significativo. Não envolve apenas o modo como se dá o encadeamento das proposições, mas também as regras que regem tais proposições para que a estrutura temática e a coerência discursiva sejam mantidas. (GIVÓN, 1984, apud FURTADO DA CUNHA, BISPO E SILVA, 2013).

f) Língua – Sistema, ou, estrutura fluida formada, simultaneamente, de padrões mais ou menos regulares ou estáveis, e de padrões em permanente emergência, para atender a necessidades comunicativas e/ou intercomunicativas.

g) Gramática – É definida como (p. 20)

[...] conjunto de esquemas/ processos simbólicos utilizado na produção e organização de discurso coerente. Desse modo, configura-se em categorias morfossintáticas rotinizadas1, exibindo padrões funcionais mais regulares e formas alternativas em processo de mudança motivada por fatores cognitivo-interacionais.

h) Gramaticalização – Processos de variação e mudança linguística, tanto no plano do conteúdo (elementos discursivo-pragmáticos/ semântico-cognitivos), quanto no plano da forma (elementos morfossintáticos e fonológicos). Esses processos geram padrões gramaticais que tendem a se tornar frequentes e a se regularizar.

i) Construção – União de forma e função. Constitui parte do conhecimento que se tem sobre a língua. De acordo com Furtado da Cunha, Bispo e Silva (2013, p.21), cada um dos elementos que formam a construção gramatical

[...] contribui com um componente de significado, os quais [os elementos] são fundidos de forma: (a) inteiramente inovadora, ou não especificada, dando origem a construções abertas, como as formadas por sujeito e predicado; (b) lexicalizada em alguma medida, produzindo as construções parcialmente especificadas, do tipo

1 A rotinização refere-se à alta frequência e regularidade com as quais certas estruturas ou categorias morfossintáticas ocorrem, ocasionando a cristalização destas.

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quanto mais X, mais Y; e (c) totalmente idiomática, gerando as construções inteiramente especificadas, como vai com Deus! (FILLMORE, 1985; GOLDBERG, 1995; KAY; FILLMORE, 1999).

Os autores ainda acrescentam que, para a Linguística Funcional Centrada no Uso, léxico e gramática formam um contínuo que abrange desde as palavras até as sequências maiores. O que difere as construções lexicais das sintáticas é o grau de complexidade interna de cada uma delas. Assim, as fronteiras entre léxico e gramática não são rígidas, mas fluidas.

Um postulado basilar da Linguística Funcional Centrada no Uso é o da categorização conceptual. Tal categorização é análoga à categorização linguística. A primeira está relacionada ao conhecimento de mundo do indivíduo; a segunda, ao conhecimento linguístico.

A categorização conceptual é o processo cognitivo mais básico. Por meio dela se estabelecem “as unidades da língua, seu significado e sua forma” (BYBEE, 2010, apud FURTADO DA CUNHA, BISPO E SILVA, 2013, p.15). Nessa visão, princípios cognitivos e interacionais desempenham um papel fundamental na mudança linguística, na aquisição e no uso da língua, pois é essa interação que acaba por moldar a língua. (Cf. FURTADO DA CUNHA, BISPO E SILVA, 2013, p.15).

As categorias conceptuais são criadas a partir da percepção e da experiência humanas com o mundo biofísico e sociocultural do indivíduo, independente da língua que este fale. No campo linguístico, a categorização se refere à semelhança ou identidade entre palavras e sintagmas e representações cognitivas armazenadas. Essas categorias são a base do sistema linguístico. Assim, as estruturas refletem a compreensão acerca dos domínios abstratos (Cf. FURTADO DA CUNHA, BISPO E SILVA, 2013, p.28).

Cada categoria criada é conceitualizada em termos do representante prototípico, isto é, o elemento que caracteriza o protótipo. Os demais elementos são classificados de acordo com as características mais próximas ou mais distantes do exemplo prototípico. A categorização pode tanto expressar traços das estruturas conceituais mais gerais, extensivas a todos, quanto daquelas próprias de cada cultura. Sobre aquela, Furtado da Cunha, Bispo e Silva (2013, p.29) definem que

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[...] as coisas percebidas distribuem-se num continuum categorial, em que alguns elementos localizam-se mais nos polos da escala, com propriedades conceituais mais ou menos bem definidas, e outros se situam em instâncias intermediárias, por compartilharem características de uma e outra categoria.

Um exemplo disso pode ser dado com relação à categoria mamífero: pela nossa experiência, não há dificuldades em classificar um gato ou um leão como pertencentes a tal categoria, por exibirem um conjunto de propriedades (morfologia e hábitos) que nos permitem enquadrá-los nessa classe. Nesse caso, representam, convencionalmente, protótipos (membros centrais) dessa categoria. Já em relação a animais como peixe-boi ou morcego, eles não são facilmente apontados como sendo também participantes da mesma categoria, visto que, perceptualmente, afastam-se desse modelo, situando-se num ponto mais periférico, em razão de apresentarem características que, normalmente, não são associadas aos mamíferos, tais como possuir nadadeiras e viver na água (no caso do peixe-boi) ou ter asas e ser voador (no caso do morcego).

De acordo com esses autores, os seres humanos entendem o mundo não apenas em termos de coisas individuais, mas também em termos de categorias de coisas. Isso não significa, no entanto, que os conceitos possam ser tomados como reflexo da realidade externa. A língua, por exemplo, não serve para rotular as coisas, tampouco é a representação da realidade objetiva, mas, sim, do modo como essa realidade é percebida e/ou experienciada pelos humanos.

À concepção que os indivíduos têm do mundo está ligada a existência dos universais linguísticos. Estes constituem a universalidade dos usos a que a linguagem serve nas sociedades humanas, ou ainda, são as propriedades comuns que se manifestam na maioria das línguas naturais. Para Bybee (2010, apud FURTADO DA CUNHA, BISPO E SILVA, 2013), as condições de uso da língua são semelhantes de uma cultura para outra, e, desse modo, a substância e a forma da gramática também serão semelhantes.

Os objetivos e as necessidades comunicativas dos humanos parecem ser universais. Logo, os universais linguísticos parecem refletir universais psicológicos e socioculturais. É por isso que existem os universais linguísticos e que se pode afirmar que existem trajetórias universais de gramaticalização (Cf. FURTADO DA CUNHA, BISPO E SILVA, 2013, p.16-17).

A Linguística Funcional Centrada no Uso, conforme Furtado da Cunha, Bispo e Silva (2013), postula que esses universais devem ser procurados na cognição humana, nos modos como os homens conceitualizam o mundo, e não

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em categorias ou construções linguísticas particulares. Deve-se, então, focalizar os processos que criam e mantêm as estruturas linguísticas, e não as estruturas em si mesmas.

Em vista disso, podem ser identificadas semelhanças entre a Linguística Funcional Tradicional e a Linguística Funcional Centrada no Uso. Na realidade, Bybee (2010, apud FURTADO DA CUNHA, BISPO E SILVA, 2013) afirma que a teoria centrada no uso nasceu no funcionalismo norte-americano, sendo, de certa forma, apenas um novo nome para ele.

Entende-se, desse modo, que o funcionalismo não é um campo de estudos completamente homogêneo, mas abriga diferentes versões. É fato que todas elas concordam que a análise das formas linguísticas não deve, de modo algum, ocorrer desvinculada da análise de suas funções. O que distancia as versões do funcionalismo são os diferentes conceitos e modos de abordagem aos dados tidos como relevantes a esse campo (Cf. FURTADO DA CUNHA E SOUZA, 2011, p.10).

1.5. Diferentes funcionalismos

A seguir, serão apresentadas sucintamente algumas características do funcionalismo europeu, do norte-americano e do brasileiro, este último segundo os postulados de Ataliba Teixeira de Castilho.

1.5.1. O funcionalismo europeu

Na Escola de Praga realizaram-se as primeiras análises na linha funcionalista. O Círculo Linguístico de Praga foi fundado em 1926 por Mathesius, entre as duas grandes Guerras Mundiais. A partir da influência desse linguista, os estudiosos de Praga desenvolveram uma concepção de comunicação mais rica do que a de Saussure. Criou-se a perspectiva de análise conhecida como Perspectiva Funcional da Sentença.

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Para Mathesius, a comunicação afeta dinamicamente os conhecimentos e a consciência dos falantes acerca das situações. Dessa forma, o dinamismo comunicativo se distribui de maneira desigual nos enunciados da comunicação, comportando uma parte menos dinâmica (tema) e uma parte mais dinâmica (rema), que são autônomas em relação às funções sintáticas do sujeito e do predicado. Essas ideias, de acordo com Ilari (2011, p.69) foram retomadas após a Segunda Guerra Mundial por linguistas como Firbas e Halliday.

Os funcionalistas de Praga “enfatizavam o caráter multifuncional da linguagem, ressaltando a importância das funções expressiva e conotativa [...]” (FURTADO DA CUNHA, 2013, p.161). As principais contribuições de seus estudiosos foram:

 Distinção entre as análises fonética e fonológica dos sons;  a análise dos fonemas em traços distintivos; e

 as noções correlatas de binário e marcado.

Com relação aos postulados de Saussure, os estudiosos de Praga faziam oposição à dicotomia sincronia x diacronia e também à ideia de homogeneidade do sistema linguístico. Dentro dessa tradição, acreditava-se que a organização sintática da oração é motivada pelo contexto discursivo em que esta ocorre.

Dentre os que se destacaram na Escola de Praga, está Roman Jakobson. Para esse linguista, a linguagem tem diferentes funções, associadas a comportamentos enraizados na vida social que transcendem a mera transmissão de informações. Em 1931, ele publicou seus Princípios de Fonologia Histórica, em que ainda apresentava uma visão funcionalista-estruturalista.

Já em seu artigo intitulado Linguística e Poética, publicado em 1970, Jakobson vai além do estruturalismo ao considerar a língua em uso, e não apenas sua estrutura, e a interação dos participantes de um ato de fala. Ele reelaborou a teoria das funções da linguagem proposta por Buhler, a partir da teoria da comunicação, que considera os participantes da interação. (Cf. MATTOS E SILVA, 2008, p.71). A seguir estão as funções propostas por Jakobson no referido artigo e seus respectivos fatores:

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I – Função referencial  remete ao contexto;

II – Função emotiva ou expressiva  centra-se no remetente; III – Função conativa  remete ao destinatário;

IV – Função fática  remete ao canal, que é a forma de contato entre os interlocutores;

V – Função metalinguística  remete ao próprio código;

VI – Função poética  remete à mensagem, ultrapassando, porém, os limites da poesia.

De acordo com Martelotta (2013), Jakobson propõe o seguinte esquema para a linguagem:

Segundo Martelotta (2013), para Jakobson, a fim de que haja sucesso na compreensão da linguagem, não bastam apenas um remetente e um destinatário. Uma mensagem eficaz requer:

a) Um contexto apreensível pelo destinatário

A noção de contexto inclui todas as informações referentes às condições de produção da mensagem: o emissor, o destinatário, o tipo de relação existente entre eles, o local e a situação em que a mensagem é proferida. Martelotta (2013, p.32) afirma que

[...] a noção de “contexto” remete ao próprio conteúdo referencial da mensagem, ou seja, às informações que fazem referência à realidade biossocial que circunda nossa vida e que estão em evidência na mensagem transmitida, nesse sentido, podemos dizer que as informações, na prática, nunca se limitam ao conteúdo da mensagem em si. Ou seja, a interpretação adequada de uma frase pode, por exemplo, depender de informações transmitidas em frases proferidas anteriormente (contexto linguístico) ou de dados referentes ao local,

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ao momento da comunicação ou mesmo ao tipo de relação entre os interlocutores (situação extralinguística).

b) Um código que seja conhecido por remetente e destinatário

“Código” diz respeito ao conjunto de sinais ou signos convencionados que servem para promover a comunicação entre as pessoas. As línguas faladas, bem como suas correspondentes escritas, a língua de sinais, os painéis de sinalização de trânsito, o código Morse e outros são exemplos de tipos de código.

c) Um contato ou canal físico e uma conexão psicológica entre remetente e destinatário que permita a troca de informações

O canal nada mais é que o meio pelo qual a mensagem é transmitida. Na comunicação verbal presencial, o canal transmissor é o ar, que faz com que as ondas sonoras se propaguem. Já no caso da comunicação a distância, pode-se considerar, por exemplo, o telefone.

De acordo com Mattos e Silva (2008), o ponto em comum entre o funcionalismo de Jakobson e os funcionalismos atuais – alemão, norte-americano, francês, inglês, brasileiro – é, sem dúvida, o objeto teórico: A língua em uso nos diversos contextos sociais e sociointeracionais.

A Escola de Praga, com seus linguistas, realizou uma produção muito rica que influenciou duradoura e profundamente a Linguística.

Dentre as outras escolas do funcionalismo europeu, pode-se citar também:

Escola de Londres: Movimentada pelas ideias de Michael K. Halliday. Sua teoria funcional surge na década de 70. Essa Escola traz o conceito amplo de função, que inclui as funções de enunciados e textos e também as funções de unidades dentro de uma estrutura. Para Halliday, “a natureza da linguagem, enquanto sistema semiótico, e seu desenvolvimento em cada indivíduo, devem

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ser estudados no contexto dos papéis sociais que os indivíduos desempenham.” (FURTADO DA CUNHA, 2013, p.162).

Escola da Holanda: Representada por Simon C. Dik. Apresenta em sua teoria um modelo de sintaxe funcional em que as funções de uma sentença são analisadas em três níveis: função semântica, função sintática e função pragmática. Segundo Furtado da Cunha (2013) para Dik, o principal interesse da Linguística funcionalista está nos processos relacionados ao êxito dos falantes ao se comunicarem por meio de expressões linguísticas.

1.5.2. O funcionalismo norte-americano

Essa designação é dada aos estudos funcionalistas desenvolvidos por linguistas da Costa Oeste dos Estados Unidos (Bolinger, Givón, Hopper, Thompson, Chafe e outros.). De acordo com Furtado da Cunha e Souza (2011, p.21), tal corrente funcionalista segue o seguinte postulado: “a língua é uma estrutura maleável, sujeita às pressões de uso e constituída de um código parcialmente arbitrário” (grifo das autoras). Por isso, acredita-se que, para se compreender o fenômeno sintático, é preciso estudar a língua em uso, pois a forma é explicada pelas funções mais frequentes que ela exerce na interação.

De acordo com Furtado da Cunha e Souza (2011), o funcionalismo norte-americano tem como propósito investigar a língua baseada no uso, considerando o contexto linguístico e a situação extralinguística. A ideia central dessa Escola é a de que a língua é usada principalmente para a satisfação das necessidades comunicativas.

Bolinger (1977, apud FURTADO DA CUNHA E SOUZA, 2011) foi um dos precursores dessa Escola. Ele observou que fatores pragmáticos operavam em determinados fenômenos linguísticos estudados pelos estruturalistas e gerativistas. Estudou também sobre a pragmática da ordenação das palavras na cláusula.

A partir da década de 1970, a Linguística Norte-Americana ganha posição, passando a identificar as pesquisas que têm como cerne analisar a língua considerando tanto o contexto linguístico quanto a situação

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extralinguística. Por essa abordagem, estuda-se o discurso juntamente com a gramática, a fim de que se possa entender como a língua se configura, pois, entre esses dois elementos, há uma relação de simbiose: o discurso molda a gramática, da mesma forma que a gramática molda o discurso (Cf. FURTADO DA CUNHA, BISPO E SILVA (2013, p. 14).

Por volta de 1975, houve o boom dos estudos funcionalistas na literatura norte-americana. Em 1979, Talmy Givón publicou From Discurse to Syntax, um texto totalmente antigerativista. Seus trabalhos posteriores caracterizam-se pela busca de parâmetros motivados comunicativa ou cognitivamente para a explicação de fatores gramaticais.

Para a Linguística Funcional Norte-Americana, a sintaxe nada mais é do que a regularização de estratégias discursivas que ocorrem com muita frequência. Dessa forma, segundo Furtado da Cunha e Souza, 2011, p.23),

[...] a gramática tem sua origem no discurso, aqui tomado como um conjunto de estratégias criativas empregadas pelo falante para organizar funcionalmente seu texto para um determinado ouvinte em uma determinada situação de comunicação.

Por essa razão, as mudanças ocorridas e que ainda ocorrerão são motivadas pelas pressões de uso. Justamente pelo fato de as regras gramaticais serem modificadas pelo uso é que é necessário observar a língua como é falada.

Essa Escola propõe, desse modo, que a gramática das línguas naturais é moldada a partir das regularidades encontradas no uso da língua, isto é, a codificação morfossintática é, em sua maioria, resultado do uso da língua. Sob a ótica dessa escola, Furtado da Cunha e Souza (2011) explicam que o conjunto de convenções designados gramática nada mais é do que o resultado de motivações de natureza vária, dentre as quais se sobressaem as pressões de uso.

A gramática de qualquer língua apresenta padrões morfossintáticos estáveis, que são sistematizados pelo uso, ao lado de mecanismos de codificação emergentes. Isso significa que fatores de natureza comunicativa e também cognitiva são os motivadores do surgimento dessas novas estruturas.

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Desse modo, “a língua está em um processo contínuo de variação e mudança para atender a necessidades cognitivas e/ou interacionais de seus usuários” (FURTADO DA CUNHA e SOUZA, 2011, p.22). Por isso, no funcionalismo norte-americano, considera-se a variação linguística como um estágio da trajetória de regularização gramatical das formas linguísticas.

Até hoje, a perspectiva funcionalista de linha norte-americana vem refinando seus princípios teóricos e atualizando os pressupostos com que investiga os fenômenos. Desde a emergência do funcionalismo até a atualidade, houve acréscimos e reformulações na base de seus conceitos.

1.5.3. O funcionalismo brasileiro

Muito embora o formalismo e o funcionalismo tenham se fixado fortemente na Linguística Brasileira, os estudos funcionalistas são mais recentes.

No Brasil, o funcionalismo emergiu a partir da década de 80. Ilari foi um dos pioneiros nos estudos funcionalistas no país, com a publicação de Perspectiva Funcional da Frase Portuguesa (1987). Seguindo os pressupostos da Escola de Praga, trabalhou o dinamismo comunicativo em termos de tema e rema.

Outro notável nome nos estudos funcionalistas no Brasil é o de Ataliba T. de Castilho. Segundo Mattos e Silva (2008, p.73), Castilho poderia ser considerado o “pai do funcionalismo no Brasil”. Em sua gramática (2014) ele propõe um estudo funcionalista da língua, em que esta última é constituinte de um conjunto de processos mentais, estruturantes, diferente do que faz a gramática tradicional. Defende uma teoria multissistêmica da língua, isto é, uma teoria modular segundo a qual há simultaneamente em todo enunciado linguístico quatro formas de estruturação: lexical, sintática, semântica e discursiva, cada uma delas ativada, desativada ou reativada pelo falante ao mesmo tempo em que as outras no discurso.

O autor aplica em seus estudos a ciência do caos, ou ciência dos sistemas complexos, cujos elementos são dinâmicos e se comportam de maneira parcialmente imprevisível ou altamente irregular. Apresentam um tipo

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de ordem sem periodicidade, com fluxo contínuo de mudança. Para ele, as línguas são, então, um conjunto de atividades mentais, pré-verbais, organizáveis em um multissistema operacional.

Castilho tem uma visão da língua que está mais próxima da abordagem cognitivista, segundo a qual a língua se fundamenta em um aparato cognitivo. Para representar os sistemas em sua teoria multissistêmica funcionalista-cognitivista, Castilho (2014, p.69) propõe o seguinte esquema:

Figura 01: Os sistemas de que é feita a língua, segundo a teoria multissistêmica funcionalista cognitivista (CASTILHO, 2014)

Os sistemas expostos na figura são conceituados em sua independência uns em relação aos outros. Isso significa que são interdependentes e um não governa o outro, embora haja interfaces entre eles.

Castilho (2014, p. 69-81) apresenta os postulados de sua teoria multissistêmica funcionalista-cognitivista, que seguem de maneira sucinta:

a) A língua se fundamenta num aparato cognitivo

As categorias de pessoa, coisa, espaço, tempo, movimento, visão, qualidade, quantidade, entre outras, são representadas nas estruturas das línguas naturais. Ainda que essa representação mude de língua para língua, e até mesmo dentro de uma mesma língua, ao longo de seu percurso histórico,

Referências

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