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TIAGO JUNIOR ROKS ELITE EMPRESARIAL PARANAENSE : UM ESTUDO SOBRE RECRUTAMENTO E CULTURA POLÍTICA

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TIAGO JUNIOR ROKS

ELITE EMPRESARIAL PARANAENSE 2010-2011: UM ESTUDO SOBRE RECRUTAMENTO E CULTURA POLÍTICA

CURITIBA 2011

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TIAGO JUNIOR ROKS

ELITE EMPRESARIAL PARANAENSE 2010-2011: UM ESTUDO SOBRE RECRUTAMENTO E CULTURA POLÍTICA

Monografia apresentada como requisito parcial à obtenção do grau de bacharel em Ciências Sociais, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná.

Orientador: Prof. Dr. Paulo Roberto Neves Costa

CURITIBA 2011

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Aos meus Pais, pela dedicação contínua À Fabíola, pelo coração enorme

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AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador, Professor Paulo Roberto Neves Costa, pela oportunidade, orientação, dedicação e confiança.

Aos meus amigos Edson Barbieiri, Rogério Santana e Maurício Doré, por todas as conversas de bar.

Aos meus pais, pelo apoio constante.

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“A investigação é, ou deve ser uma ciência, e deve ser tratada de forma fria e sem emoção”

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RESUMO

Este trabalho se propõe analisar a Elite Empresarial Paranaense, entendida como os presidentes das entidades de representação do empresariado do Paraná. As respostas a estas questões pretendem compreender algumas das características dessa parcela da elite política do estado, marcada principalmente pela propriedade ou controle do capital e pela ocupação de posições privilegiadas de representação e, por isso, capazes de exercer algum tipo de influência sobre os órgãos e centros de decisão política do Estado. Para a compreensão desse grupo, foram tratados temas fundamentais nos estudos sobre elites, quais sejam, recrutamento, trajetória e valores políticos. Os dois temas em conjunto permitirão, por um lado, compreender a maneira como esta elite é constituída, quem são seus membros, como são recrutados, e os caminhos percorridos para se alcançar tal posição de elite, e por outro, o grau de coesão e homogeneidade desse grupo frente à democracia no dias de hoje. A conclusão é a de que a Elite Empresarial Paranaense possui uma cultura política altamente homogênea e coesa, advinda principalmente do processo específico de recrutamento do qual ela se origina.

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ABSTRACT

This paper aims to analyze the Elite Entrepreneurial Paranaense, understood as the presidents of the entities representing the business of Paraná. The answers to these questions seek to understand some of the features of this portion of the political elite of the state, marked mainly by the ownership or control of the capital and occupy privileged positions of representation and, therefore, able to exert any influence on the organs and decision-making of state policy. To understand this group, subjects were treated in fundamental studies on elites, namely, recruitment, career and political values. The two themes together will, on the one hand, to understand how this elite is formed, who its members are, how they are recruited, and the paths taken to reach such an elite position, and secondly, the degree of cohesion and homogeneity of the group in front of democracy today. The conclusion is that the business elite political culture Paranaense has a highly homogeneous and cohesive, arising mainly from the specific process of recruitment which it originates.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ... 9

1.1 METODOLOGIA ... 9

1.2 JUSTIFICATIVA E OBJETIVO ... 11

2. ESTADO DA ARTE ... 12

2.1 O CONCEITO DE ELITE, ELITE EMPRESARIAL E MÉTODO POSICIONAL .... 12

2.2 COMO ESTUDAR AS ELITES? RECRUTAMENTO E VALORES POLÍTICOS. . 14

2.3 A TEORIA CLÁSSICA DA CULTURA POLÍTICA: O CONCEITO DE CULTURA POLÍTICA ... 16

3. RESULTADOS ... 18

3.1 UNIVERSO DA PESQUISA ... 19

3.2 ATRIBUTOS ADSTRITOS: IDADE, GÊNERO, COR E RELIGIÃO ... 20

3.3 ATRIBUTOS ADQUIRIDOS: ESCOLARIDADE E OCUPAÇÃO ... 20

3.4 TRAJETÓRIA ... 22

3.5 A CULTURA POLÍTICA DA ELITE EMPRESARIAL PARANAENSE ... 23

4. CONCLUSÕES ... 30

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9 1 INTRODUÇÃO

Esta monografia apresenta parte dos resultados das pesquisas Quem governa? Mapeando as elites políticas e econômicas no Paraná contemporâneo e Elite empresarial e democracia no Brasil: questões de teoria e método, vinculadas ao Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política Brasileira da UFPR. Busca-se caracterizar e analisar o que tem sido apontado como a Elite Empresarial Paranaense, investigando questões relativas ao recrutamento, trajetória e valores políticos.

As respostas a estas questões pretendem desvendar importantes informações a respeito dessa pequena parcela da população, marcada principalmente pela propriedade ou controle do capital e pela ocupação de posições privilegiadas de representação e, por isso, capazes de exercer algum tipo de influência sobre os órgãos e centros de decisão política do Estado.

Quanto aos resultados, verificou-se neste grupo um alto grau de homogeneidade com relação aos aspectos socioeconômicos, bem como um alto grau de coesão relacionado aos valores políticos frente à democracia. Nesse sentido, a consideração de variáveis relacionadas ao recrutamento e valores políticos mostrou-se importante para a compreensão das avenidas de acesso pelas quais passaram os indivíduos que compõem esta elite, bem como para estabelecer elementos para futuras pesquisas sobre os padrões de ação política do empresariado e sua relação com as instituições democráticas.

1.1 METODOLOGIA

Quando decidido o objeto de estudo, como nesse caso uma elite empresarial, uma questão metodológica importante logo se coloca: como localizar e definir seus componentes? Em outras palavras: como identificar os indivíduos que farão parte do estudo?

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10 Para identificar a elite empresarial paranaense no período considerado por este trabalho 2010-2011, optamos por aquilo que os estudos clássicos convencionalmente chamaram de “método posicional” (MILLS, 1981; MILIBAND, 1978). Segundo este método, o poder ou a capacidade de tomar as principais decisões políticas é exercido pelos indivíduos que controlam, formalmente, determinada instituição. Isso sugere uma “sociologia das posições institucionais”. As posições são o pré-requisito para o mando, poder ou influência, e os indivíduos que ocupam essas posições são o objeto de estudo (MILLS, 1985).

O uso do método posicional necessariamente nos obriga a identificar os membros da elite empresarial a partir da entidade empresarial em que atuam. Para isso, consideramos as principais entidades de representação empresarial do Paraná nos anos de 2010 e 2011. Cabe ressaltar que utilizamos para a caracterização das entidades o seu auto-posicionamento, que consiste na maneira pela qual a própria entidade se define em termos de atuação e representação. Foram consideradas entidades de representação empresarial tanto de caráter sindical como associativo.

Fica evidente que toda escolha metodológica possui algum grau de arbitrariedade. Por que escolher determinadas entidades e não outras? Essa questão nos remete diretamente ao critério usado para a definição das entidades abarcadas pelo estudo.

Quando pensamos em entidades de representação empresarial, uma das primeiras coisas que nos vem à mente é o poder econômico por elas monopolizado. Deduzimos, a partir dessa idéia, que o poder de influência de determinada entidade é tanto maior quanto mais poder econômico ela possui. Esse tipo de raciocínio, freqüentemente utilizado pela mídia em geral, relaciona diretamente poder político a poder econômico. Equivale dizer, que as entidades empresariais mais importantes e politicamente mais influentes são aquelas que representam regiões e setores empresariais de capital econômico elevado. Se adotássemos esse critério em nossa pesquisa, correríamos o risco de tomar como objeto de análise entidades com grande poder econômico, mas politicamente pouco influentes ou representativas. Visto que, uma entidade pode possuir um alto poder econômico e mesmo assim ser mal sucedida em suas demandas. Desse modo, o peso econômico não pode ser desconsiderado, mas também não pode ser tomado sem estudos de caso que se

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11 voltem para a ação política dessas entidades, permitindo assim, explicar a relação entre poder econômico e poder político (COSTA, 2007).

Posto isso, optamos por definir o nosso universo de análise a partir de dois recortes: 1) setor do qual a entidade faz parte (indústria, comércio e serviços) e 2) a natureza da entidade, associativa ou sindical (associações, sindicatos, federações e confederações). Acreditamos que esse recorte nos forneça um plano que contemple, de forma mais viável, as especificidades do universo empresarial paranaense.

A obtenção dos dados foi realizada através de entrevistas pessoais com base em um questionário padrão com questões fechadas e abertas. O questionário consistia em dois blocos: i) recrutamento e trajetória política e ii) cultura política e atitudes.

No bloco de recrutamento e trajetória foram analisadas as seguintes variáveis: data e local de nascimento, religião, cor ou raça, ocupação, nível de escolaridade, ocupação do pai, nível de escolaridade do pai, ocupação em cargos públicos eletivos ou não, é/foi presidente ou membro de outras entidades, é/foi filiado a partidos políticos. Já em relação ao bloco de cultura política, os seguintes pontos foram abordados: concepção sobre os aspectos gerais da democracia, grau de adesão à democracia, funcionamento e confiança nas instituições democráticas, consolidação da democracia no Brasil e opiniões frente à reforma política.

1.2 JUSTIFICATIVA E OBJETIVO

Pretendemos nesse trabalho analisar a Elite Empresarial Paranaense, entendida como os presidentes das entidades de representação do empresariado do Paraná, abordando questões relativas ao recrutamento, trajetória e valores políticos.

Com relação ao estudo do recrutamento, obtivemos informações referentes aos atributos pessoais, educacionais e ocupacionais dos seus membros. A partir destes dados, procuramos responder quais seriam os condicionantes de acesso, grau de homogeneidade e as “avenidas” que um indivíduo deve percorrer para atingir determinadas posições de poder.

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12 Já em relação à cultura política, nosso objetivo foi analisar, a partir de questões abertas, o grau de coesão desse grupo a partir das percepções e justificativas quanto ao grau de adesão, às concepções de democracia, grau de confiança nas instituições políticas e às posições frente à reforma política no Brasil.

Pretendemos assim, contribuir e fornecer elementos para futuras pesquisas sobre empresariado, em especial, sua ação política concreta frente às instituições democráticas.

2 ESTADO DA ARTE

2.1 O CONCEITO DE ELITE, ELITE EMPRESARIAL E MÉTODO POSICIONAL

Cabe, antes de tudo, estabelecer o conceito de elite e situá-lo dentro do próprio debate em que surge. A teoria das elites nasce como uma reação às teses igualitárias vigentes no final do século XIX: a teoria democrática e a teoria socialista. Segundo a tese central da teoria das elites, “em qualquer sociedade, em qualquer organização, haveria sempre uma minoria que governa e uma maioria que é governada”. Essa proposição teórica por parte da teoria das elites ataca o princípio fundamental da teoria democrática, a saber: “governo do povo pelo povo para o povo”, bem como desmorona os pressupostos de um regime socialista, no qual “o proletariado exerceria a função de organização do Estado”. O objetivo, entretanto, não é polemizar as teorias apresentadas, mas sim situar o surgimento da teoria das elites como crítica a essas duas concepções, crítica esta que revela de forma bastante clara as implicações tanto normativas quanto ideológicas presentes em ambas.

Deve ficar claro, que não é nosso objetivo defender a tese de que as elites de fato governam, ou decidem os rumos da história. Compartilhamos das palavras de Wright Mills de que, “não devemos confundir a concepção da elite, que

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13 desejamos definir, como uma teoria sobre o seu papel, ou a teoria de que seja a mola da história de nossa época” (Mills, 1968, pg. 30).

O termo elite passa a se difundir através da teoria sociológica das elites, elaborada principalmente por Gaetano Mosca, Robert Michels e em especial Vilfredo Pareto. Este último autor define o termo elite de forma bastante abrangente: “reunamos, pois, em uma categoria, as pessoas que possuem os índices mais altos em seus ramos de atividades, e a essa categoria daremos o nome de elite”. (BOTTOMORE, 1965, pg. 8) Raymond Aron em seu Estudos Sociológicos participa da mesma opinião, definindo como elite: “o conjunto daqueles que, nas diversas atividades, são alçados ao topo da hierarquia e ocupam posições privilegiadas, que consagram a importância seja dos rendimentos, seja do prestígio” (ARON, 1991, pg. 155).

Tanto Pareto como Aron definem o termo elite de maneira objetiva referindo-se a traços externos obreferindo-serváveis. Isso referindo-serve, por um lado, para acentuar a desigualdade de atributos individuais em todas as esferas da vida social e, por outro, como ponto de partida para o estudo de outras elites (políticas, judiciárias, empresariais ou administrativas).

Quando decidido o objeto de estudo, como nesse caso uma elite empresarial, uma questão metodológica importante logo se coloca: como localizar e definir seus componentes? Em outras palavras: como identificar os indivíduos que farão parte do estudo?

Para identificar a elite empresarial paranaense no período considerado por este trabalho 2010-2011, optamos por aquilo que os estudos clássicos convencionalmente chamaram de “método posicional” (MILLS, 1981; MILIBAND, 1978). Segundo este método, o poder ou a capacidade de tomar as principais decisões políticas é exercido pelos indivíduos que controlam, formalmente, determinada instituição. Isso sugere segundo Wright Mills (1985), uma “sociologia das posições institucionais”. As posições são o pré-requisito para o mando, poder ou influência, e os indivíduos que ocupam essas posições são o objeto de estudo.

Se definirmos como Elite os indivíduos que ocupam formalmente estas posições, estamos nos referindo diretamente ao critério do poder, seja ele político ou econômico. Isso traz, de certa forma, implicações consideráveis quando tomado como objeto uma elite empresarial.

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14 Pode-se interpretar, em alguns casos, que a característica fundamental da elite empresarial reside no fato dela possuir, ou controlar, um grande poder econômico. Essa perspectiva, muitas das vezes, acaba por reduzir quase que totalmente a questão do poder ao controle ou propriedade dos meios de produção. Em outras palavras, relaciona diretamente poder econômico a poder político. É importante frisar que essa perspectiva relacional do poder, acaba por subtrair agentes do empresariado cuja importância se dá mais em função da dimensão política que possuem, do que propriamente de aspectos econômicos envolvidos.

Nesse sentido, compartilhamos das palavras de Paulo Costa e Ícaro Engler (2008), segunda a qual, a questão do poder político por parte dos membros da elite empresarial deve ser colocada em relação a dois aspectos fundamentais: a “capacidade (do empresário) de se constituir como o dirigente mais importante de uma instituição de representação de interesses empresariais” e, por isso, “exercer algum tipo de influência sobre os órgãos e centros de decisão do Estado” (Costa e Engler, 2008, p. 490).

Essa perspectiva “posicional” nos autoriza, em última instância, a reduzir nosso objeto de análise aos presidentes das principais entidades de representação do empresariado do Paraná.

2.2 COMO ESTUDAR AS ELITES? RECRUTAMENTO E VALORES POLÍTICOS.

Feitas as considerações sobre o conceito de elite, elite empresarial e método posicional, faz-se necessário voltarmos nossa atenção aos temas fundamentais nos estudos sobre elites, quais sejam: recrutamento e valores políticos.

A importância de se estudar o recrutamento por parte das elites diz respeito ao processo de escolha dessa minoria. Estes estudos procuram por em relevo os mecanismos sociais de constituição dessas minorias politicamente ativas.

Em resumo, as questões que regem esses estudos são: quais os atributos e condicionantes de acesso a posições de elite? Quais são as “avenidas” que um indivíduo necessita seguir para chegar a determinadas posições de mando?

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15 São comuns os estudos sobre recrutamento, se iniciarem na investigação das origens familiares dos indivíduos estudados. Essas informações de origem de classe são importantes, pois permitem compreender em que medida ocorrem processos de mobilidade social entre os indivíduos integrantes das elites e as famílias das quais são originários.

Podemos identificar também, em caso de existir mobilidade social, em que medida, ela está atrelada a trajetória política desses indivíduos, ou seja, em que medida a atividade política foi capaz de produzir rendimentos econômicos e sociais capazes de promover ascensão social. Por último, em casos onde a mobilidade social não é existente, podemos verificar em que medida as atividades dos indivíduos pertencentes a determinada elite são “tradições familiares”, ou seja, passadas de pais para filhos.

Em geral, os estudos de recrutamento se apóiam em dois itens, chamados por Keller (1971) de: atributos adstritos e atributos conquistados. O primeiro se refere às propriedades naturais dos indivíduos, aquelas com as quais eles já nasceram e que permanecem acopladas a eles ininterruptamente, quais sejam: idade, gênero, cor e religião. Embora esses atributos não possam ser vistos como determinantes de acesso, eles funcionam como filtros de seleção dos componentes.

Segundo a autora, as elites tendem a ser mais homogêneas com relação aos atributos adstritos do que com relação aos conquistados, que são os adquiridos e aperfeiçoados pelos indivíduos ao longo da sua vida, tal como escolaridade e ocupação.

As variáveis que se enquadram na definição de atributos conquistados são aquelas que geralmente recebem a maior parte da dedicação ou atenção dos estudos sobre recrutamento. Elas permitem compreender o processo de socialização das elites para além das origens familiares. Variáveis como, por exemplo, escolaridade fornece elementos sobre as instituições onde esses indivíduos foram socializados.

Outra variável que está diretamente ligada à questão da escolaridade é a ocupação profissional. Esta variável, por sua vez, nos remete à profissão exercida pelos integrantes das elites. Podemos elaborar a partir desses dados, questões como, por exemplo, se existem profissões que facilitam o acesso a determinadas posições de elite.

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16 Em síntese, a análise destas questões fornece elementos para pensar a homogeneidade e coesão das elites. Permite compreender também em que medida vigora um recrutamento aberto ou recrutamento fechado (GIDDENS, 1974). Isso é importante, pois permite saber quão elitista ou democrática é a sua forma de seleção. Em outras palavras, em que medida elas se abrem às classes mais privilegiadas ou às classes que ocupam posições mais baixas na sociedade.

Embora as variáveis relacionadas ao recrutamento nos promovam inúmeras informações sobre os indivíduos com posição de elite, elas vão um pouco além, fornecendo elementos que revelam aspectos importantes a respeito do funcionamento e estrutura da sociedade. Segundo Putnam (1976), a análise sobre o recrutamento de elites pode dizer mais sobre a sociedade na qual os seus membros são recrutados do que propriamente sobre sua constituição enquanto elite.

Deste modo, estudos diacrônicos funcionariam como um “sismógrafo” social, onde as mudanças ao longo do tempo na constituição das elites forneceriam um indicador de modificações sociais mais profundas.

2.3 A TEORIA CLÁSSICA DA CULTURA POLÍTICA: O CONCEITO DE CULTURA POLÍTICA

Ao longo das últimas décadas, um fenômeno extremamente singular e importante varreu boa parte do mundo: o processo de democratização. Esse processo foi o responsável por mobilizar a atenção de uma série de estudiosos - na sua maioria cientistas políticos - a adotarem novas perspectivas teóricas capazes de darem conta da complexidade do fenômeno em questão. É precisamente nesse contexto que a abordagem que ficou conhecida como culturalista deu seus primeiros passos.

Incorporando, e procurando responder as questões suscitadas pelo processo de democratização, surge no ano de 1963 The Civic Culture1, obra que estabelece e consolida uma nova abordagem da Ciência Política: a de que, o processo de democratização e a consolidação da democracia deveriam ser

1

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17 analisados não apenas em relação aos aspectos institucionais, como sufrágio universal e partidos políticos, mas principalmente em relação aos aspectos culturais, vistos como necessários à expansão e consolidação das novas democracias (Ribeiro, 2008).

Para essa corrente teórica, o termo cultura política é definido como um conjunto de atitudes ou orientações acerca de um conjunto de assuntos políticos. De forma mais detalhada,

“a cultura política se refere a uma variedade de atitudes, crenças e valores políticos – como o orgulho nacional, respeito pela lei, participação e interesse em política, tolerância, confiança interpessoal e institucional – que afetam o envolvimento das pessoas com a vida pública” (Moisés, 2010).

Em síntese, o pressuposto fundamental da cultura política é o de que os valores políticos orientam a ação ou o comportamento político dos indivíduos.

A literatura especializada tem tratado do tema da cultura política a partir de três tópicos básicos: adesão à democracia, satisfação com o regime e confiança nas instituições democráticas.

A adesão à democracia geralmente é entendida a partir de uma esfera normativa, segundo a qual, percebe-se que o regime democrático se tornou um valor universal. A adesão se dá aos princípios ou ideais democráticos, tais como liberdade de expressão, direito ao voto e a crença de que o regime democrático é a melhor forma de sistema político. Esse ponto ganha importância quando se é analisado os países com recente transição democrática como o Brasil e outros países da América Latina. É possível, nesses casos, perceber em que medida há sobrevivências de concepções autoritárias nas atitudes dos indivíduos (Moisés, 2010).

O segundo aspecto se refere ao viés prático, ou seja, relativo às experiências práticas dos indivíduos em relação ao funcionamento das instituições democráticas. Essa esfera tem sido observada a partir do conceito de satisfação democrática. Ela representa a avaliação dos cidadãos quanto à capacidade dos governos de responderem as suas demandas (Moisés, 2010).

Por sua vez, a confiança nas instituições democráticas está ligada diretamente ao seu funcionamento e desempenho. A confiança ou desconfiança nas instituições políticas e nos seus comandantes pode ser analisada a partir de uma série de contextos. Em democracias estabelecidas, as contínuas experiências de

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18 corrupção e déficits de desempenho institucional podem aumentar o nível de desconfiança dos indivíduos com relação à política. Em recentes democracias, a desconfiança pode se entendida pelo distanciamento dos indivíduos de uma esfera da vida política da qual eles possuem pouco, ou nenhum controle (Moisés, 2010).

Vimos até aqui, que os trabalhos clássicos sobre cultura política se voltaram especialmente para o tema da transição e consolidação democrática ocorrida nas últimas décadas. Esse conjunto de trabalhos tem se baseado em pesquisas de surveys em massa, obtendo dados representativos do conjunto da sociedade2.

Porém, quando se estuda valores políticos de uma determinada elite, uma questão logo se apresenta: a cultura política de grupos mais restritos, como as elites, é mais ou menos articulada quando comparada com o conjunto da população em geral?

A hipótese é a de que cultura política de uma dada elite é mais sofisticada, posto que se trata de um grupo que ocupa posições em espaços de poder estratégicos e, estão diretamente envolvidas em tomadas de decisões que demandam o domínio de um conjunto de capitais sociais.

Vale lembrar também, que os valores políticos agem no sentido de estruturar as decisões tomadas por esses indivíduos. Isso ganha importância fundamental no caso de uma elite empresarial, quando levado em consideração o fato de estamos nos referindo a um grupo que possui uma ação política mais intensa do que outras partes menos favorecidas da população.

A tese central é a de que ao lado de um recrutamento diferenciado e do contexto institucional em que agem, esses indivíduos são freqüentemente submetidos a tomadas de decisões de ampla repercussão, diversas, portanto, daquelas tomadas pela população em geral.

3 RESULTADOS

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19 3.1 UNIVERSO DA PESQUISA

É importante destacar que os dados obtidos são parciais e referem-se a 7 das 12 entidades que compuseram o universo de pesquisa.

Não foi possível abarcar um número maior de entidades devido principalmente a grande dificuldade de entrevistar e coletar dados desse tipo de elite. Cabe salientar também os dados apresentados aqui e suas afirmações possuem limites e não podem ser generalizados para fora das entidades analisadas.

Os dados que serão utilizados referem-se às respostas dadas pelos presidentes das seguintes entidades:

 Associação Paranaense dos Empresários de Obras Públicas – APEOP, fundada em 1960, representa o setor de empreiteiras e infra-estrutura.

 Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Paraná – FACIAP, fundada em 1959, representa atualmente 288 associações comerciais e mais de 40 mil empresas.

 Federação da Agricultura do Estado do Paraná – FAEP, fundada em 1965, defende a categoria econômica rural, sindicatos e produtores rurais, representa 178 sindicatos.

 Federação do Comércio do Estado do Paraná – FECOMERCIO, fundada em 1948, representa o setor de comércio, serviços e turismo.

 Sindicato das Empresas de Seguros privados, de Resseguros, de Previdência Complementar e de Capitalização nos Estados do Paraná e do Mato Grosso do Sul – SINDISEG - PR/MS, fundada em 1953, representa 26 seguradoras.

 Organização das Cooperativas do Estado do Paraná – OCEPAR, fundada em 1971, representa 238 cooperativas e mais de 535 mil cooperados.

 Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha de Curitiba – AHK, fundada em 1972, promove o intercâmbio de investimento, comércio e serviços entre Alemanha e o Brasil.

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20 3.2 ATRIBUTOS ADSTRITOS: IDADE, GÊNERO, COR E RELIGIÃO

Como visto anteriormente, os atributos adstritos funcionam como um primeiro filtro seletivo. Podemos dizer que esses atributos funcionam mais no sentido de favorecer e não de determinar o acesso de indivíduos a posições de poder. Vimos também que as elites tendem a ser mais homogêneas em relação aos atributos adstritos do que em relação aos atributos adquiridos.

A partir dos dados coletados podemos dizer que a elite empresarial paranaense é formada predominantemente por homens, brancos, católicos e com uma faixa etária média de 67 anos. Dados que sugerem a existência de uma elite altamente homogênea.

É certo que a posse desses atributos não garante o acesso à elite empresarial, já que nem todos os homens, brancos, católicos e de idade média de 67 anos fazem parte desse grupo limitado. De qualquer modo, a predominância desses atributos sugere a existência de filtros sociais que agem no sentido de limitar o acesso de grupos, como mulheres, negros e jovens à ocupação dos espaços de poder.

3.3 ATRIBUTOS ADQUIRIDOS: ESCOLARIDADE, OCUPAÇÃO E TRAJETÓRIA

Atributos como escolaridade (nível educacional, curso e instituição) fornecem dados que nos permite verificar uma gama de informações, que dizem respeito à mobilidade social, se há cursos que favorecem a entrada dos indivíduos a posições de elite, se determinadas instituições de ensino funcionam como lugar de socialização política capaz ou não de produzir uma elite homogênea.

No que se refere às informações obtidas em relação à escolaridade, a elite empresarial paranaense figura com um índice de educação altamente elevado. De acordo com os dados obtidos, todos os entrevistados possuem ensino superior completo, possuindo alguns destes, pós-graduação.

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21 Ainda quanto à formação acadêmica dos entrevistados, o curso de Engenharia consta em 3 dos 7 currículos analisados, seguido pela graduação em Direito com 2 entrevistados e Ciências Econômicas e Contábeis com 2 entrevistados.

Quando relacionado o nível de educação dos filhos em relação aos pais, percebemos que houve mobilidade educacional em 3 dos 7 casos.

Por último, no que diz respeito às instituições de ensino superior freqüentadas, tem-se a Universidade Federal do Paraná com quase a totalidade dos casos, 5 dos 7 entrevistados.

Ao mesmo tempo em que a elite empresarial paranaense se aproxima de outras elites (Costa e Engler, 2008; Perissinotto, 2007) no que se refere aos atributos educacionais que figuram como extremamente importantes para ter acesso ao topo das posições políticas, ela se distância da população em geral, onde os índices de educação são extremamente baixos3.

Já em relação à ocupação profissional, essa variável compartilha da mesma importância da escolaridade e recebe uma grande atenção nos estudos sobre elites (Rodrigues 2002; Braga 1988). A ocupação sócio-profissional permite responder, entre outras questões, se existem profissões que favorecem o acesso às posições de poder.

Cabe ressaltar a diferença entre formação e diploma, de ocupação real, pois as duas coisas podem coincidir, mas sempre devemos tomar o cuidado de não tomar uma coisa pela outra. Optou-se por analisar a trajetória da elite empresarial a partir da ocupação que os entrevistados exerceram por mais tempo antes de chegarem à presidência da entidade de representação.

No que diz respeito à ocupação de cargos em instituições como clubes e sociedades, 5 dos 7 entrevistados possuíram cargos de direção desse gênero.

Assim, com base nos dados obtidos, os presidentes das instituições concentravam-se, anteriormente, nas seguintes ocupações: na função de diretor e executivo de empresa 3 entrevistados, seguidos de proprietário urbano 2 entrevistados e profissionais liberais com 2 entrevistados. Isso sugere que a elite empresarial paranaense é por excelência de origem empresarial. Aqui, a ocupação

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22 de diretor, executivo de empresa e proprietário urbano aparecem como um atributo mais do que fundamental para se chegar a posições de representação empresarial.

3.4 TRAJETÓRIA

Por fim, a trajetória política é um elemento fundamental do estudo sobre recrutamento, uma vez que permite descobrir se existe um caminho que um indivíduo deve seguir para alcançar determinados postos políticos, ou seja, por quais instituições ele deve passar antes de atingir posições de poder.

Essa parte do trabalho foi guiada pelas seguintes questões: “O Sr. já assumiu algum cargo político ou administrativo público, eletivo ou não?”; “O Sr. já assumiu algum cargo ou foi membro de outras entidades, sejam de representação empresarial ou de qualquer outra natureza?”; “Atualmente o Sr. ocupa cargo ou é membro de outras entidades, sejam de representação empresarial ou de qualquer outra natureza?” e “Em relação à filiação a partidos políticos, qual (is) o Sr. já foi ou está filiado?”.

Observamos, primeiramente, a participação dos membros da elite empresarial paranaense na ocupação de cargos públicos. Do total de entrevistados, 4 não possuíram cargos públicos. Os 3 entrevistados restantes possuíram cargos de direção nas secretarias estaduais. Quanto ao pertencimento a partidos políticos, 5 dos 7 foram filiados. Esse número cai em sua totalidade quando perguntados se atualmente pertencem a algum partido político.

Em contrapartida, observamos um alto grau de participação em entidades de representação empresarial. Todos os entrevistados possuíram cargos de direção em outras entidades ou nas próprias entidades em diretorias anteriores. Isso indica a importância da ocupação de cargos de diretoria anteriores, em especial, o cargo de presidente nas instituições sindicais locais. Isso, por um lado, sugere que a trajetória dentro de setores de representação empresarial é importante na medida em que faz parte do recrutamento de postos de comando mais altos, como é o caso da presidência das entidades. Por outro lado, esse dado indica uma alta capacidade política por parte dos membros da elite empresarial, seja ela a experiência na

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23 obtenção dos votos dos filiados, seja na própria gestão e administração da entidade. Por fim, essa experiência pode ser verificada através do período em que os entrevistados estiveram à frente de entidades de representação empresarial, que é em média 24 anos.4

3.5 A CULTURA POLÍTICA DA ELITE EMPRESARIAL PARANAENSE

Tratado os aspectos gerais sobre recrutamento e trajetória política, apresentaremos agora os valores políticos que a elite empresarial compartilha, especialmente, aqueles relacionados aos seguintes temas: concepção sobre os aspectos gerais da democracia, funcionamento e confiança nas instituições democráticas, consolidação da democracia no Brasil e opiniões frente à reforma política. Preocupamo-nos principalmente em analisar a dimensão qualitativa das respostas, ou seja, aquelas que permitem compreender as motivações subjetivas dos posicionamentos tomados.

Em primeiro lugar, os dados sobre os aspectos gerais da democracia são interessantes para perceber o grau de coesão dessa elite. Os entrevistados foram perguntados sobre algumas características gerais do sistema democrático e em que medida essas características seriam importantes para o bom funcionamento da democracia. Apresentaremos os dados de forma agregada, sem a identificação dos entrevistados, conforme lhes foi assegurado.

A participação da população nos processos decisórios é vista pelos entrevistados como essencial e necessária à democracia. A justificativa se deu pelo fato da participação se mostrar um princípio democrático, que é dever dos cidadãos analisar a ação dos políticos, que uma democracia só existe se o cidadão se manifestar. Em suma a participação é o meio de consolidação da democracia. As ressalvas se deram pela dificuldade de submeter todos os temas à discussão coletiva, mas que as linhas gerais sim, essas deveriam ser o mais validadas possíveis pela sociedade.

4 Houve casos de presidentes que possuíam mais de 35 anos à frente de entidades de representação

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24 Outro ponto importante foi a adesão da população aos valores democráticos, visto como essencial e necessária, já que a adesão a esses valores pode levar a uma maior participação da população na vida política. Já em relação à competência administrativa por parte dos governos, esta é vista como essencial e necessária. As opiniões se justificaram por um lado, na competência e eficiência administrativa ser uma obrigação por parte dos governos para com o bem público, e por outro, pela sua falta levar a um enfraquecimento da democracia, acabando até por criar terreno para soluções não democráticas.

O respeito às autoridades constituídas aparece de forma unânime, as justificativas foram de que o respeito é um princípio hierárquico que mantém a ordem e a harmonia e que é um elemento essencial para o funcionamento da democracia, mas que só deve ser mantido enquanto as autoridades constituídas forem dignas de tal. Quando não merecerem mais tal respeito elas devem ser destituídas, mas que isso deve ocorrer sempre dentro do devido processo legal.

Outro aspecto analisado foi a liberdade de mercado e iniciativa. Esse item aparece como essencial e necessário à democracia. As respostas variam de que o Estado deve cuidar apenas dos setores básicos, como saúde, educação e habitação, que dentro do sistema capitalista a liberdade é fundamental, e que, a liberdade de mercado garante o desenvolvimento empresarial, que por sua vez, garante o desenvolvimento da nação. A ressalva diz respeito ao fato de que essa liberdade não deve ser ilimitada, deve estar sempre sobre o controle dos dispositivos legais.

Por último foi analisado a importância do equilíbrio entre o poder executivo e legislativo. As justificativas foram de que o equilíbrio é essencial e necessário já que evita possíveis crises políticas e motins políticos, mantendo assim a harmonia entre os poderes. A falta desse equilíbrio foi exemplificada pelo fato do executivo legislar cada vez mais, sendo que essa seria uma atribuição específica das instituições legislativas, comprometendo assim o bom funcionamento do sistema democrático.

A adesão à democracia por parte da elite empresarial situa-se em níveis muito altos. Quando perguntados se a democracia é a melhor forma de governo para solucionar crises, as respostas foram unânimes. Apesar dos problemas que o sistema democrático possui, ele é considerado a melhor forma de governo possível.

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25 Segundo eles, a democracia gera o consenso, o entendimento e a participação política, elementos essenciais para solucionar crises e consolidar a democracia.

Ainda em relação às instituições democráticas, confrontamos os entrevistados com a seguinte questão: se fosse necessário optar entre o bom funcionamento das instituições políticas ou o bom funcionamento das instituições econômicas, qual o senhor escolheria? As respostas na sua totalidade foram pelo bom funcionamento das instituições políticas, justificadas pelo fato de que o bom funcionamento das instituições políticas é o pré-requisito para a estabilidade e o bom funcionamento das instituições econômicas. A ressalva por parte de um entrevistado foi a de que apenas o bom funcionamento das instituições econômicas seria porta que levaria a um estado autoritário, onde poderiam ser garantidas as condições econômicas para a população, mas suprimidas suas liberdades individuais.

Quanto à possibilidade de uma reforma nas instituições políticas representativas e a possibilidade disso mudar a forma como o governo toma as decisões econômicas, os entrevistados se mostraram bastante confiantes. A reforma política foi vista como extremamente necessária. Segundo os empresários, essa mudança poderia facilitar a cobrança dos eleitos, bem como contribuir na solução de erros, levando assim a um maior aperfeiçoamento das instituições.

Quando perguntados se a democracia brasileira estaria consolidada e por isso, pouco sujeita a crises que poderia levar a seu abandono, as respostas dos empresários foram de que a democracia brasileira está sim consolidada, as justificativas foram de que a sociedade em geral está atenta aos rumos do país e que nem mesmo o quadro institucional interno, nem mesmo o cenário mundial, permitiria mudanças autoritárias nos rumos da democracia brasileira. As ressalvas se deram no sentido da democracia estar consolidada, mas as instituições políticas não. Elas precisam ser aperfeiçoadas continuamente.

Feitas as considerações sobre alguns aspectos gerais da democracia verificaremos agora questões relativas ao grau de confiança do empresariado frente às instituições democráticas. Essa parte do trabalho abrange uma vasta literatura. São dois os pressupostos que regem essa parte da cultura política, primeiro, a cultura política, e em especial o conceito de confiança, funcionaria como um elemento que facilitaria a consolidação e estabilidade do regime democrático, segundo, como um fator que diminuiria a incerteza provocada pelos riscos da ação

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26 coletiva, o que sem dúvida é interessante quando se estuda um grupo com ações articuladas constantes como é o caso do empresariado. (PUTNAM, 2002; ALMOND e VERBA, 1989).

A seguinte tabela resume os posicionamentos dos entrevistados sobre o grau de confiança nas instituições sociais.

Tabela 1.

Confia Confia

pouco Não confia

Poder Executivo Federal 2 5

Poder Executivo Estadual 2 4 1

Poder Executivo municipal 4 2 1

Poder Judiciário federal 5 2

Poder Judiciário estadual 5 2

Ministério Público Federal 6 1

Ministério Público Estadual 5 2

Senado 2 4 1

Câmara dos Deputados 2 4 1

Assembléia Legislativa de seu estado 1 3 3

Câmara de Vereadores 2 4 1

Partidos políticos 1 3 3

Sindicatos de trabalhadores 2 4 1

Entidades sindicais patronais 7

Associações patronais 7

Fonte: pesquisa de campo. N= 7

Quanto ao grau de confiança da elite empresarial paranaense em relação às instituições políticas, em especial as do executivo, a Presidência da República recebeu uma avaliação entre pouco confiável e confiável, as justificativas foram de que a economia brasileira vai bem, mas que há um desequilíbrio entre os setores, uns recebendo mais atenção por parte do executivo federal do que outros, que o governo segue muito influenciado pelos partidos e por vezes, incompetente. O governo do Estado foi mal avaliado por quase a totalidade dos entrevistados, as justificativas foram de que a atuação do governo do Estado não foi satisfatória e em certos sentidos até mesmo de caráter populista, muito “politizado”. Por último, a Prefeitura de Curitiba aparece entre confiável e pouco confiável, as respostas indicam uma satisfação com o executivo municipal no sentido que a cidade de Curitiba sempre teve um histórico de bons prefeitos e que atualmente as demandas

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27 continuam sendo atendidas, que o executivo municipal é extremamente sério em suas funções.

No que tange às instituições jurídicas (poder judiciário Federal e Estadual, Ministério Público Federal e Estadual), as instituições foram em sua totalidade avaliadas como confiáveis ou no máximo pouco confiáveis. As justificativas foram de que as instituições estão cumprindo seus objetivos, embora alguns entrevistados afirmassem não possuir conhecimentos suficientes sobre estas instituições. As justificativas de poucos confiáveis foram no sentido de avaliar essas instituições como pouco efetivas.

Por outro lado, as instituições legislativas (senado e câmara federal) não possuíram a mesma avaliação. As justificativas foram de que o Senado e a Câmara Federal estão partidarizados, que as decisões são tomadas mais em função dos objetivos individuais e partidários do que em função das necessidades da nação. São pouco efetivas e não defendem os Estados. Essa afirmação foi seguida de que os órgãos legislativos federais são formados por uma representação muito ruim, ou seja, de políticos de pouca qualidade.

Quanto aos partidos políticos, as avaliações dos entrevistados quanto ao grau de confiança foram de forma geral negativas. Os partidos políticos foram, na sua maioria, vistos como não confiáveis ou pouco confiáveis. As justificativas foram de que na sua maioria, os partidos possuem plataformas muito vagas e que geralmente as alianças entre os partidos são incoerentes com as suas propostas originais, que os partidos lutam para chegar ao poder para benefícios próprios, como por exemplo, imunidades penais.

Por último, as entidades de representação empresarial foram avaliadas com um alto grau de confiança. Esse grau de confiança maior do que o visto em outras instituições pode ser explicado, pois estamos falando de um grupo limitado, formado por um processo de socialização comum e que dentro das suas atribuições enquanto presidentes de entidades de representação empresarial possuem ações articuladas entre si. Socialização comum e ações articuladas são pré-requisitos para o aumento da confiança mútua. Esses dois fatores explicam o porquê do maior grau de confiança nas entidades de representação empresarial do que, por exemplo, nas instituições políticas.

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28 Como vimos anteriormente, a maneira como os indivíduos avaliam o desempenho das instituições acaba por influenciar diretamente o grau de confiança ou desconfiança nessas mesmas instituições. Veremos agora, a avaliação do empresariado frente ao desempenho das seguintes instituições: Presidência da República, Governo do Estado, Banco do Brasil, BNDES, Banco Central, Sistema Partidário e Sistema Eleitoral.

A seguinte tabela resume os posicionamentos dos entrevistados sobre o desempenho nas instituições sociais.

Tabela 2.

Bom Satisfatório Ruim

Presidência da República 1 4 2

Governo do seu estado 1 6

Banco do Brasil 3 3 1

BNDES 3 4

Banco Central 5 2

Sistema Partidário 3 4

Sistema eleitoral 2 2 3

Fonte: pesquisa de campo. N= 7

Com relação à Presidência da República, os entrevistados avaliaram a Presidência a partir de seu desempenho econômico, embora positivo, este, foi fruto de ações de governos anteriores. A presidência foi criticada por ser muito “personalista”, por aproveitar de propagandas de programas assistenciais como meio de obter popularidade, confundindo assim a população e deixando projetos nacionais de lado. Já a avaliação do governo do Estado é vista por quase a sua totalidade como ruim. As justificativas foram de que o governo foi também populista e com uma administração letárgica, pouco eficiente e que por isso, deixou o Estado quebrado. O desempenho do Banco do Brasil foi avaliado como bom e satisfatório, visto como um banco fortalecido pela política financeira do Estado, mas que deveria ser mais profissional. A avaliação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) foi relativamente positiva. Houve, entretanto, críticas quanto ao banco favorecer determinados setores em detrimento de outros. O banco Central é bem avaliado pelo fato de possuir um corpo técnico sério, competente e

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29 por desempenhar bem o seu papel controlando a inflação, mesmo que a partir da manipulação dos juros altos.

Em relação ao funcionamento do sistema partidário e do sistema eleitoral, estes, foram avaliados como ruins ou no máximo satisfatórios. As críticas foram que os partidos políticos não possuem nenhum tipo de ideário e que estão mais preocupados com seus ganhos do que com o Estado como um todo e que por isso, precisa ser aperfeiçoado. A satisfação em relação ao sistema eleitoral por parte dos entrevistados foi de que o sistema é de fato eficiente. Essa afirmação foi seguida pela indicação da necessidade de uma reforma política, sugerindo, por exemplo, que a implementação do sistema distrital aumentaria o grau de responsividade dos governantes, aumentando assim, a relação entre eleitos e eleitores.

Perguntados sobre a reforma política os entrevistados se mostraram coesos com relação aos temas fundamentais que permeiam o debate, como voto obrigatório, financiamento público de campanhas, constituinte exclusiva, entre outros. A seguir apresentaremos os posicionamentos levantados, bem como as suas justificativas.

Fonte: pesquisa de campo. N= 7

Com relação ao financiamento público de campanha os posicionamentos se mostraram divergentes. As justificativas favoráveis foram de que o financiamento público poderia dar mais transparência aos partidos políticos, mas que deveria ser exclusivamente público, sem doações privadas. Os votos contrários afirmaram que já existe, por exemplo, o horário gratuito de campanha e que os partidos devem buscar doações a partir da mobilização do seu eleitorado não nos cofres públicos. Em suma, que o Estado não deve dar dinheiro público para fins privados.

Tabela 3.

Favor Contra

Financiamento público de campanha 4 3

Voto distrital 7

Fidelidade partidária 7

Fim da reeleição para cargos do poder Executivo 6 1

Voto obrigatório 1 6

Constituinte exclusiva para fazer a reforma política 5 2

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30 No que tange o debate sobre voto distrital, os entrevistados na sua totalidade se mostraram a favor, as afirmações foram acompanhadas de justificativas indicando que o voto distrital poderia levar a uma maior responsividade e representatividade por parte dos eleitos. A fidelidade partidária é vista por todos os entrevistados como uma obrigação por parte dos candidatos em relação aos partidos, permitindo assim, a manutenção de uma linha ideológica estruturada.

Os entrevistados também entendem que o fim da reeleição para cargos do executivo é necessário, as justificativas foram que os segundos mandatos são sempre ruins. Quase todos os entrevistados também são a favor do fim do voto obrigatório, as justificativas foram de que o Brasil este preparado e sua democracia consolidada e que uma democracia é feita de escolhas livres. Por último, quanto à necessidade de uma constituinte exclusiva para votar a reforma política quase todos os entrevistados se mostraram a favor. A justificativa foi a de que atualmente nem a oposição, nem a situação desejam fazer a reforma política. As contrarias, foram de que o congresso nacional tem competência para fazê-la.

4 CONCLUSÕES

O primeiro ponto a ser observado é de ordem teórica e metodológica. A contribuição teórica se deu no sentido de analisar a cultura política de um ator tão importante na democracia contemporânea como o empresariado, levando em conta mais a sua dimensão política do que sua dimensão econômica. Isso não significa, entretanto, que deixamos de lado atributos como poder ou representação econômica, o que seria um tanto quanto contraditório, já que estamos falando de um grupo que possui ou controla formalmente meios de produção ou capital. Mas que a ênfase do trabalho se deu mais na compreensão da formação desses indivíduos enquanto membros da elite empresarial e por isso, atores políticos. O que sem dúvida encontra lugar nos pressupostos da teoria das elites, qual seja, de tomar como objeto de análise os que são lançados ao topo de uma hierarquia, e que por ocupar posições estratégicas de poder, podem influenciar decisivamente os órgãos de decisão do Estado.

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31 Para a compreensão desse grupo, voltarmos nossa atenção aos temas fundamentais nos estudos sobre elites, quais sejam: recrutamento e valores políticos. Os dois temas em conjunto nos permitem, por um lado, compreender a maneira como esta elite é constituída, quem são seus membros e de que maneira são recrutados. Levando em consideração, sejam suas características adstritas, se referindo aqueles atributos com os quais os indivíduos nascem e permanecem a eles acoplados continuamente, como idade, gênero, cor e religião, importantes no sentido de facilitar a entrada desses indivíduos a posições de elite, sejam seus atributos conquistados, se referindo aqueles adquiridos e aperfeiçoados pelos indivíduos ao longo da sua vida, tal como escolaridade e ocupação, tão importantes para ter acesso ao topo das posições políticas.

Não menos importante é o estudo da sua trajetória política, figurando como um elemento fundamental do estudo sobre recrutamento, uma vez que permite descobrir se existe um caminho que um indivíduo deve seguir para alcançar determinados postos políticos, ou seja, por quais instituições ele deve passar antes de atingir posições de poder.

Por último, o estudo da cultura política, entendida aqui, como um conjunto de atitudes ou orientações acerca de um conjunto de assuntos políticos e, como um aparato cognitivo a partir do qual os indivíduos se orientam no mundo. É importante, pois pode contribuir como um elemento considerável para futuros estudos que voltem sua atenção para os padrões de ação política desse grupo e sua relação com as instituições políticas.

Ainda quanto à cultura política, diferente da maioria dos trabalhos sobre o tema, este, procurou contribuir ao analisar a dimensão qualitativa das respostas, ou seja, aquelas que permitem compreender as motivações subjetivas dos posicionamentos tomados. O que dá maior riqueza de detalhes a respeito das atitudes verificadas, e que permite saber por que os indivíduos se posicionaram da maneira como se posicionaram e não de outra forma.

Quanto aos resultados obtidos, em especial o recrutamento, podemos dizer que a elite empresarial paranaense é altamente homogênea, formada predominantemente por homens, brancos, católicos e com uma faixa etária média de 67 anos e que figuram com índices altíssimos de educação, com todos os entrevistados possuindo ensino superior e, alguns destes, pós-graduação. Em

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32 relação à trajetória, a elite paranaense pouco participou de cargos públicos, em contrapartida, observamos um alto grau de participação em entidades de representação empresarial, tendo como média a frente destas entidades 24 anos.

Por último, dentro dos limites claros da nossa pesquisa, apresentaremos as principais conclusões que pudemos chegar quanto à cultura política da elite empresarial paranaense.

Verificamos que há por parte dos membros da empresarial paranaense um alto grau de coesão quanto aos valores políticos e atitudes. Em primeiro lugar, a adesão à democracia por parte da elite empresarial paranaense é altíssima se comparada com a população em geral5, bem como a opinião de que a democracia brasileira está consolidada e pouco sujeita a crises que poderiam levar a seu abandono. Quanto ao grau de confiança em relação às instituições democráticas, os dados sugerem que a elite empresarial paranaense tende a confiar mais nas instituições jurídicas e entidades patronais, do que nas instituições políticas, sejam elas do executivo, sejam do legislativo.

Já o que diz respeito à avaliação do empresariado frente ao desempenho das instituições apresentadas, percebeu-se que o empresariado paranaense avalia positivamente as instituições financeiras como BNDES, Banco Central e Banco do Brasil, ainda que com ressalvas, e negativamente as instituições políticas, como Presidência da República, governo do Estado, sistema partidário e sistema eleitoral.

Podemos dizer que apesar do empresariado paranaense possuir um alto grau de adesão ao regime democrático ele tende a confiar pouquíssimo nas instituições políticas, bem como avaliar seu desempenho de forma negativa.

Entre os resultados apresentados neste trabalho estão também algumas questões que se colocam para pesquisas futuras sobre o tema. Em primeiro lugar esse trabalho contribui ao tratar do tema do empresariado a partir de bases regionais, o que permite, sem sombra de dúvidas, pesquisas posteriores comparativas, seja em âmbito nacional como estadual. Em segundo lugar, contribui na medida em que fornece elementos para verificação de aspectos relacionados à circulação das elites, ou seja, como ocorre o processo de renovação da elite empresarial paranaense, bem como fornecer elementos para pesquisas futuras

5

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33 sobre os padrões de ação política do empresariado e sua relação com as instituições democráticas.

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