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A C Ó R D Ã O (1ª Turma)
GMWOC/ta/af
RECURSO DE REVISTA. TURNO ININTERRUPTO DE REVEZAMENTO. NEGOCIAÇÃO COLETIVA. INVALIDADE. LIMITE DE OITO HORAS EXTRAPOLADO.
Nos termos da Súmula nº 423 do TST, a
validade da adoção dos turnos
ininterruptos de revezamento em jornada superior a seis horas, autorizada em norma coletiva autônoma, condiciona-se ao não extrapolamento do limite diário de oito horas. Precedentes.
Recurso de revista conhecido e provido.
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Recurso de Revista n° TST-RR-571-64.2012.5.03.0026, em que é Recorrente BRANDY
HENRIQUE TORRES PEDROSO e Recorrida FIAT AUTOMÓVEIS S.A.
O Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região, mediante o acórdão às fls. 389-394, complementado pelo de fls. 408-409, negou provimento ao recurso ordinário interposto pelo reclamante.
Inconformado, o reclamante interpõe recurso de revista, às fls. 412-450, com apoio no art. 896 da CLT.
Admitido o recurso às fls. 446-448, foram apresentadas contrarrazões às fls. 453-461.
Dispensada a remessa dos autos ao Ministério Público do Trabalho.
É o relatório.
V O T O
1. CONHECIMENTO
O apelo é tempestivo (fl. 477) e o preparo é desnecessário. O reclamante, à fl. 21, juntou regular procuração
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outorgando poderes ao Dr. Cristiano Couto Machado, signatário do apelo, o que afasta a preliminar de não conhecimento do recurso, por irregularidade de representação, arguida em contrarrazões pela reclamada.
Satisfeitos os pressupostos extrínsecos, analisam-se os específicos de admissibilidade do recurso de revista.
TURNO ININTERRUPTO DE REVEZAMENTO. NEGOCIAÇÃO COLETIVA. INVALIDADE. LIMITE DE OITO HORAS EXTRAPOLADO
O Tribunal Regional negou provimento ao recurso ordinário interposto pelo reclamante, sob os seguintes fundamentos, fls. 389-383, verbis:
Inicialmente, vale registrar que é fato incontroverso que em parte do período contratual, o autor cumpria jornada alternada, principalmente em dois turnos, nos horários de 6h às 15h48min e de 15h48min à 1h09min, conforme demonstram os espelhos de ponto jungidos às fls. 43/113.
O labor em tais condições configura, sim, o sistema de turnos ininterruptos de revezamento.
Isso porque, ainda que não tenham sido contempladas as 24 horas do dia, houve labor nos turnos da manhã, tarde e noite, o que traz prejuízos ao organismo do trabalhador e, por isso, existe a proteção constitucional da jornada reduzida de 6 horas, nos termos do artigo 7°, XIV, da Constituição da República. Assim, aplica-se o entendimento pacificado pelo col. TST, por meio de sua OJ n. 360 da SDI-1, in verbis:
(...)
Compulsando os autos, verifica-se que a reclamada colacionou os ACT's, de fls.. 167/187 com vistas a comprovar a existência de normas coletivas autorizando o elastecimento da jornada dos empregados que laboram em turnos de revezamento.
Pois bem.
O ACT de 2001/2002 (fls. 164/166) prevê e fixa os horários dos turnos de revezamento, de acordo com o artigo 7º, XIV, da Constituição da República.
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O mesmo se verifica do ACT de 2008 (fls. 174/1755) que autorizou, até que os empregados da reclamada fossem consultados, a manutenção de dois turnos de trabalho.
Desta feita, a Magistrada de primeiro grau, brilhante como sempre, por sinal, já havia decidido no sentido de que embora o autor tivesse laborado em turnos ininterruptos de revezamento, durante de seu contrato, já havia acordos coletivos de trabalho que autorizavam o labor além das 06 horas diárias neste sistema.
Registro que o reclamante foi admitido em 07.05.2007(fl. 20), quando já vigorava o termo aditivo de fls. 170/171, firmado em 31.08.2006. Havia, assim, expressa autorização para adoção de jornada superior a seis horas diárias em regime de revezamento, atendendo ao disposto na CRF/88. Frise-se que embora as normas coletivas não possam retroagir para regular situações pretéritas - autorização de jornada superior a seis horas e turnos ininterruptos de revezamento -, sua validade remanesce quanto às jornadas cumpridas após a sua celebração, sendo este o caso em tela, particularmente em relação ao termo de fls. 170/171. Revela ainda salientar que após a publicação da OJ 360 em 14.03.2008, a reclamada e o sindicato da categoria decidiram reavaliar os fatores psico-fisiológicos, sociais e familiares dos empregados submetidos a dois turnos de revezamento, mediante consulta direta a estes. Realizada em junho de 2008, o resultado obtido revelou a preferência dos empregados pelos turnos de revezamento, sendo que 92,72% (noventa e dois vírgula setenta e dois por cento) optaram pela sua manutenção (fl.182).
Sendo assim, não merece prosperar o pedido do autor, com relação ao pedido de horas extras além da 6ª hora, em razão do trabalho em turno de revezamentos".
O recorrente sustenta que a jornada de trabalho do turno ininterrupto de revezamento, quando fixada por negociação coletiva, não pode ultrapassar o limite de oito horas, o que a torna inválida. Aponta contrariedade à Súmula nº 423 do TST, bem como transcreve aresto para cotejo de teses.
O recurso alcança conhecimento.
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Consoante se extrai do excerto reproduzido, o quadro fático delineado pelo Tribunal Regional revela que os acordos coletivos de trabalho juntados contêm a previsão de carga horária superior a 8 horas, nos horários contratuais das 6h às 15h48min e das 15h48min à 1h09min, em turnos ininterruptos de revezamento.
Esta Corte Superior, a propósito do disposto no art. 7º, XIV e XXVI, da Constituição da República, já consagrou o entendimento de ser imperioso prestigiar o pactuado em norma coletiva, invocando-se o princípio da autonomia da vontade coletiva.
Em observância ao referido princípio constitucional, a jurisprudência deste Tribunal Superior, consubstanciada na Súmula nº 423, firmou-se no sentido de que é válida a norma coletiva que estabelece jornada superior a seis horas e limitada a oito horas aos empregados submetidos a turnos ininterruptos de revezamento, verbis:
TURNO ININTERRUPTO DE REVEZAMENTO. FIXAÇÃO DE JORNADA DE TRABALHO MEDIANTE NEGOCIAÇÃO COLETIVA. VALIDADE. (conversão da Orientação Jurisprudencial nº
169 da SBDI-1) Res. 139/2006 - DJ 10, 11 e 13.10.2006)
Estabelecida jornada superior a seis horas e limitada a oito horas por meio de regular negociação coletiva, os empregados submetidos a turnos ininterruptos de revezamento não têm direito ao pagamento da 7ª e 8ª horas como extras.
Dessarte, segundo a compreensão depositada na Súmula nº 423 deste Tribunal Superior, a validade da adoção dos turnos ininterruptos de revezamento em jornada superior a seis horas, autorizada em norma coletiva autônoma, condiciona-se à não extrapolação do limite diário de oito horas. Resulta inválida, portanto, a cláusula coletiva que fixou jornadas com cargas diárias superiores a oito horas (de 6h às 15h48min e das 15h48min à 1h09min), sendo irrelevante a existência de folgas compensatórias em virtude da invalidade da norma coletiva.
Nesse sentido são os precedentes, em que figura como parte a recorrida:
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RECURSO DE REVISTA SOB A ÉGIDE DA LEI Nº 13.015/14. HORAS EXTRAS. TURNOS ININTERRUPTOS DE REVEZAMENTO. ELASTECIMENTO DA JORNADA DE TRABALHO ALÉM DA
OITAVA HORA DIÁRIA POR NORMA COLETIVA.
IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA Nº 423 DO TST. A Súmula n° 423 desta Corte Superior estabeleceu o limite máximo em que se pode prorrogar a jornada laborada em turnos ininterruptos de revezamento, de modo que, se o limite é de oito horas, não se pode cogitar de compensação de jornada que implique trabalho além da oitava hora diária. Assim, in casu, é inválida a norma coletiva que estipulou jornada superior a seis horas para os empregados submetidos a revezamento de turno, porquanto extrapolada a jornada de oito horas. São devidas, portanto, como extras, as horas trabalhadas além da sexta diária. Precedentes da SDI-1/TST. Recurso de revista conhecido e provido. (RR-10618-26.2014.5.03.0027, Rel. Min. Dora Maria da Costa, 8ª Turma, Data de Publicação: DEJT 06/03/2015)
TURNOS ININTERRUPTOS DE REVEZAMENTO.
ALTERNÂNCIA DE TURNOS. HORÁRIO DIURNO E NOTURNO.
PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO SETORIAL NEGOCIADA.
ELASTECIMENTO DE JORNADA PARA ALÉM DO LIMITE DE 8 HORAS DIÁRIAS. NULIDADE DA NORMA COLETIVA. SÚMULA 423/TST. Nos termos da OJ 360/SBDI-1 do TST, faz jus à jornada especial prevista no art. 7º, XIV, da CF o trabalhador que exerce suas atividades em sistema de alternância de turnos, ainda que em dois turnos de trabalho, que compreendam, no todo ou em parte, o horário diurno e o noturno, pois submetido à alternância de horário prejudicial à saúde, sendo irrelevante que a atividade da empresa se desenvolva de forma ininterrupta. Ademais, é certo que esta Corte, ante a controvérsia surgida em torno da interpretação do art. 7º, XXVI, da CF, editou a Súmula 423, no sentido de que é possível a ampliação, por meio de negociação coletiva, da jornada superior a 6 horas, limitada a 8 horas por dia, e carga de trabalho semanal, para o limite de 44 horas, pagando-se como extra as horas que ultrapassarem estes limites. Contudo, conforme consta da citada Súmula, a validade do elastecimento de jornada em turnos ininterruptos de revezamento apenas pode ser aceita se fixada por regular negociação coletiva e se for limitada a 8 horas diárias. Noutro norte, amplas são as possibilidades de validade e eficácia jurídicas
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das normas autônomas coletivas em face das normas heterônomas imperativas, à luz do princípio da adequação setorial negociada. Entretanto, essas possibilidades não são plenas e irrefreáveis, havendo limites objetivos à criatividade jurídica da negociação coletiva trabalhista. Desse modo, ela não prevalece se concretizada mediante ato estrito de renúncia ou se concernente a direitos revestidos de indisponibilidade absoluta (e não indisponibilidade relativa), os quais não podem ser transacionados nem mesmo por negociação sindical coletiva. Nesse contexto, não poderia a norma coletiva restringir os efeitos de um direito assegurado constitucionalmente aos empregados, mormente quando se sabe que a jornada de trabalho superior a 8 horas diárias é, obviamente, mais desgastante para o trabalhador, sob o ponto de vista biológico, familiar e até mesmo social, por supor o máximo de dedicação de suas forças físicas e mentais. Sendo assim, é de se reconhecer a nulidade de cláusula coletiva que determine o elastecimento de jornada em turnos ininterruptos de revezamento para além de oito horas diárias, devendo ser aplicada a norma prevista no art. 7º, XIV, da CF, e reconhecidas, por conseguinte, como extraordinárias as horas excedentes à 6ª diária. Precedentes. Recurso de revista conhecido e provido no tema. 4. MINUTOS RESIDUAIS. Esta Corte Superior firmou entendimento de que se configura como tempo à disposição da empresa aquele gasto pelo empregado com a troca de uniforme, lanche e higiene pessoal, destacando que não serão descontadas nem computadas como jornada extraordinária as variações de horário no registro de ponto não excedentes de cinco minutos, observado o limite máximo de dez minutos diários. Se ultrapassado esse limite, será considerada como extra a totalidade que exceder a jornada normal (Súmula nº 366/TST). Recurso de revista conhecido e provido no tema. (RR-11363-43.2013.5.03.0026, Rel. Min. Mauricio Godinho Delgado, 3ª Turma, Data de Publicação: DEJT 06/03/2015)
RECURSO DE REVISTA - TURNOS ININTERRUPTOS DE REVEZAMENTO - HORA EXTRA - ELASTECIMENTO DA JORNADA - COMPENSAÇÃO E BANCO DE HORAS - INVALIDADE A jornada de trabalho em turnos ininterruptos de revezamento, nos termos do artigo 7º, inciso XIV, da Constituição da República, é de 6 (seis) horas, podendo, mediante negociação coletiva, ser elastecida para 8 (oito), na forma da
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Súmula nº 423 do TST. É inválida norma coletiva que estabelece jornada superior a 8 (oito) horas para turnos ininterruptos de revezamento, sendo devido o pagamento como extras das horas a partir da 6ª (sexta). Precedentes. Recurso de Revista conhecido e provido. (RR-1991-04.2012.5.03.0027, Rel. Desembargador Convocado: João Pedro Silvestrin, 8ª Turma, Data de Publicação: DEJT 27/02/2015)
RECURSO DE REVISTA - PROCESSO ELETRÔNICO - TURNOS ININTERRUPTOS DE REVEZAMENTO. TRABALHO EM DOIS TURNOS. CARACTERIZAÇÃO. ELASTECIMENTO DO TURNO ININTERRUPTO DE REVEZAMENTO POR MEIO DE NEGOCIAÇÃO COLETIVA. CUMPRIMENTO DE JORNADA DIÁRIA SUPERIOR A OITO HORAS. HORAS EXTRAS A PARTIR DA SEXTA HORA DIÁRIA. Nos termos da OJ 360 da SBDI-1 do TST, "faz jus à jornada especial prevista no art. 7º, XIV, da CF/1988 o trabalhador que exerce suas atividades em sistema de alternância de turnos, ainda que em dois turnos de trabalho, que compreendam, no todo ou em parte, o horário diurno e o noturno, pois submetido à alternância de horário prejudicial à saúde, sendo irrelevante que a atividade da empresa se desenvolva de forma ininterrupta." Por outro lado, é inválida a norma coletiva que elastece a jornada de trabalho praticada em turnos ininterruptos de revezamento, além da oitava hora diária. Inteligência da Súmula 423 do TST. Recurso de Revista conhecido e provido. (RR-2015-69.2011.5.03.0026, Rel. Min. Márcio Eurico Vitral Amaro, 8ª Turma, Data de Publicação: DEJT 27/02/2015)
Como se observa, o Tribunal Regional dissentiu da orientação contida na Súmula nº 423 desta Corte, razão pela qual, CONHEÇO do recurso de revista.
2. MÉRITO
No mérito, conhecido o recurso por contrariedade à Súmula nº 423 do TST, DOU-LHE PROVIMENTO para condenar a reclamada ao pagamento das horas excedentes da sexta diária como extraordinárias, observados os adicionais convencionais, os reflexos sobre as parcelas de natureza salarial, na forma postulada na petição inicial, e a dedução
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dos valores já pagos sob o mesmo título, conforme se apurar em liquidação de sentença. Contribuições fiscais e previdenciárias na forma da Súmula nº 368 do TST, ao passo que os juros de mora e a correção monetária incidem como previsto na Súmula nº 381 do TST e no art. 883 da CLT. Invertido o ônus da sucumbência, para efeito de novo recurso, arbitra-se à condenação o valor de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), com custas de R$ 400,00 (quatrocentos reais), pela reclamada.
ISTO POSTO
ACORDAM os Ministros da Primeira Turma do Tribunal
Superior do Trabalho, por unanimidade, conhecer do recurso de revista, por contrariedade à Súmula nº 423 do TST, e, no mérito, dar-lhe provimento para condenar a reclamada ao pagamento das horas excedentes da sexta diária, como extraordinárias, observados os adicionais convencionais e os reflexos sobre as parcelas de natureza salarial, na forma postulada na petição inicial, com dedução dos valores já pagos sob o mesmo título, conforme se apurar em liquidação de sentença. Contribuições fiscais e previdenciárias na forma da Súmula nº 368 do TST, ao passo que os juros de mora e a correção monetária incidem como previsto na Súmula nº 381 do TST e no art. 883 da CLT. Invertido o ônus da sucumbência, para efeito de novo recurso, arbitra-se à condenação o valor de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), com custas de R$ 400,00 (quatrocentos reais), pela reclamada.
Brasília, 25 de março de 2015.
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WALMIR OLIVEIRA DA COSTA Ministro Relator