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Estrutura urbana e movimentos populacionais intrametropolitanos

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Academic year: 2021

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Estrutura urbana e movimentos populacionais intrametropolitanos

Érica Tavares da SilvaResumo

A problematização para a análise da mobilidade espacial neste trabalho está na importância da relação entre a dinâmica populacional e urbana. Num primeiro momento, no caso do Brasil, os movimentos populacionais expressavam uma busca por estar na cidade, evidente especialmente pelos enormes contingentes populacionais que se dirigiram para o espaço urbano. Num período posterior, que de certa forma estende-se até a atualidade, os movimentos passam a revelar uma busca por apropriar-se da cidade, não só estar nesse espaço, mas conseguir viver plenamente, aproveitando as oportunidades que lhe são próprias – como condições de infraestrutura, acesso a bens e serviços públicos e privados, inserção no mercado de trabalho urbano, moradia adequada, etc. É sob essa perspectiva que pretendemos analisar os movimentos populacionais na metrópole fluminense. Para a migração intrametropolitana, serão considerados os períodos de 1986-1991, 1995-2000 e 2005-2010, já para uma análise da articulação dos movimentos migratórios com os movimentos pendulares, analisaremos os anos de 2000 e 2010. Serão considerados os fluxos realizados do núcleo para a periferia, da periferia para o núcleo e as trocas realizadas na própria periferia. O objetivo é identificar o comportamento das mudanças de localização da população, a fim de avançar na análise das lógicas de mobilidade espacial que estejam operando sobre o espaço metropolitano. Os estudos têm demonstrado que ao mesmo tempo em que há permanências de processos de periferização na metrópole, que já ocorrem desde décadas anteriores, surgem também novos padrões de mobilidade espacial, que se articulam aos elementos da estrutura urbana, como o acesso à moradia, ao trabalho, às condições de deslocamento.

Palavras-chave: migração intrametropolitana, movimento pendular, Metrópole do Rio de

Janeiro.

Trabalho apresentado no XVIII Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Águas de Lindóia/SP – Brasil, de 19 a 23 de novembro de 2012.

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Introdução

Os movimentos populacionais metropolitanos, estudados aqui sob o conceito de mobilidade espacial, são o principal objeto de investigação deste trabalho, especialmente por associarem-se aos processos de estruturação urbana na metrópole. A mobilidade espacial é encarada como uma dimensão da produção da existência, refletindo as estratégias e trajetórias espaciais dos indivíduos e famílias na busca pela apropriação da cidade, ou a realização efetiva da conquista desse espaço em sua escala metropolitana. As informações sobre mobilidade espacial remetem a diversas dimensões essenciais para a compreensão das mudanças e tendências na estruturação do espaço urbano. As migrações e os movimentos pendulares constituem uma possibilidade de operacionalizar os estudos sobre a mobilidade espacial.

Nesse sentido, o objetivo mais geral deste texto será atualizar algumas informações sobre esses movimentos populacionais na metrópole do Rio de Janeiro, em virtude da disponibilização dos microdados do Censo Demográfico Brasileiro de 2010 realizado pelo IBGE. Obviamente esse é um objetivo de caráter mais empírico, que traz suporte para a análise das mudanças ocorridas na configuração do espaço urbano-metropolitano brasileiro, principalmente as mutações internas na metrópole. Temos argumentado que os movimentos populacionais são cada vez mais diversos em quantidade de tipos e razões, ao mesmo tempo são peculiares na explicação de cada um desses tipos. Por isso, os movimentos populacionais refletem uma busca pela apropriação efetiva da cidade, já que atualmente ocorrem cada vez mais entre áreas urbanas. Portanto, o objetivo analítico é prosseguir na identificação das lógicas de mobilidade espacial que atuam no espaço metropolitano, conforme em Silva (2012).

Sendo assim, o texto está estruturado em três seções. A primeira traz uma abordagem sobre a metropolização no Brasil, especialmente sob o pressuposto da relação entre a dinâmica populacional e urbana – a relação entre os movimentos populacionais e a estruturação do espaço urbano. A perspectiva da transição urbana – não só em termos quantitativos de transferência de população entre áreas, mas também em termos qualitativos, como o significado desses movimentos – é uma orientação para a investigação. Na seção seguinte, tratamos sobre os movimentos populacionais nas metrópoles, retomamos alguns estudos que já foram realizados principalmente sobre as mudanças da população entre os próprios municípios metropolitanos, identificando que essas tendências já eram notadas desde o auge do processo de urbanização em algumas metrópoles.

Embora nosso foco sejam os movimentos intrametropolitanos, estes serão considerados no contexto dos movimentos populacionais de maneira geral, ou seja, tratamos também a respeito dos fluxos que envolvem apenas a própria metrópole, os que envolvem outras regiões do estado e aqueles que tiveram origem além do próprio estado em que a metrópole está inserida, revelando a expressividade de cada um desses fluxos entre o núcleo e a periferia. O recorte espacial desse texto será a metrópole do Rio de Janeiro, diante do que traçamos um breve contexto de sua composição municipal e da dinâmica populacional recente na metrópole. É a partir disso que analisamos na terceira seção um panorama dos movimentos migratórios e pendulares segundo os tipos de fluxos.

Apesar da limitação para apreender toda a dimensão da mobilidade espacial através de informações sobre migrações e movimentos pendulares, esses dados também apresentam grande potencialidade especialmente para os estudos na escala da metrópole, já que os movimentos entre municípios traduzem muito da articulação existente entre as unidades

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político-administrativas, o que é importante para o planejamento urbano na dimensão metropolitana. A potencialidade ao considerar os dados sobre mobilidade espacial (envolvendo tanto as mudanças de residência como a mobilidade cotidiana) está no aporte empírico que proporcionam, ao permitir debater temas metropolitanos, tanto em termos conceituais e operacionais como de políticas públicas. Entre estes temas, podem-se destacar as desigualdades sociais que se expressam na espacialização da população, a consequente segregação espacial, as mudanças na territorialização da estrutura produtiva, do emprego e da moradia, o surgimento ou reforço de centralidades.

1. Metropolização, estrutura urbana e movimentos populacionais

O crescimento da população urbana e das cidades brasileiras na segunda metade do século XX foi um processo bastante acelerado envolvendo grandes proporções do espaço e da população. Foi o próprio gigantismo de tais fenômenos que trouxe consigo a constituição do fato metropolitano – a chegada de elevados contingentes populacionais acabou por generalizar o urbano, ao mesmo tempo, as características próprias desse urbano e o modo de vida que engendra também influenciaram o comportamento da população e a sua distribuição nesses espaços adensados.

Para chegar a este sistema urbano atual que temos no Brasil, a migração e a distribuição da mão-de-obra foram aspectos marcantes no desenvolvimento regional brasileiro, na constituição da sociedade urbano-industrial e na conformação da sua força de trabalho, diante de uma considerável “assimetria de oportunidades” regionais. Segundo Brandão (2007), “massas populacionais imensas buscaram novos lugares geográficos (promovendo uma das maiores mobilidades espaciais do mundo, uma verdadeira transumância) e novos loci de status social” (BRANDÃO, 2007, p. 170).

Mas essa elevada migração campo-cidade acabou concentrando-se em algumas áreas que foram tornando-se grandes aglomerados urbanos, apresentando um caráter cada vez mais metropolitano, já que em 1970, quase um terço dos 93 milhões de brasileiros residia em aglomerações metropolitanas, se esse total fosse considerado apenas sobre a população urbana, a proporção subiria para quase 50%. “Levando em conta que foi somente na década de 60 que a população urbana superou a rural, pode-se afirmar que a transformação urbana no Brasil foi tão acelerada que fez coincidir, no tempo, a urbanização e a metropolização” (BRITO e SOUZA, 2005, p.50).

Até os anos 1970, aproximadamente, as metrópoles brasileiras seguiram apresentando expressiva concentração populacional e econômica. Apesar do crescimento econômico, da expressiva industrialização, da integração via acumulação de capital e da modernização produtiva de períodos anteriores, a crise dos anos 1980 e as constantes manipulações de instrumentos financeiros reduziram em muito a capacidade de fazer planejamento de longo prazo, a economia funcionava segundo ciclos de crescimento e estagnação. A década de 1980 foi considerada como o fim da era industrial e início da era da informação. Tais condições adversas afetaram justamente as metrópoles que eram as áreas de concentração dos setores mais modernos e dinâmicos. Formou-se um ambiente extremamente adverso ao mercado de trabalho, com aumento do desemprego e maior desgaste das condições de inserção ocupacional, houve uma precarização e informalização do trabalho, simultaneamente ao aumento da pobreza nas metrópoles (ROCHA, 2000).

Em meio a todo esse contexto de crise e recessão econômica nos anos 1980, ocorreram mudanças significativas na dinâmica demográfica. As transformações

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industriais anteriores, os movimentos populacionais em direção às cidades e o convívio urbano modificaram os padrões de sociabilidade, o acesso à informação e serviços, o sistema de valores sociais e familiares, a participação no mercado de trabalho, etc. Esse novo urbano também levou a alterações nas componentes demográficas, pois a fecundidade em geral começou a declinar no país, a esperança de vida continuou a aumentar e as taxas de mortalidade que já vinham em declínio diminuíram ainda mais, especialmente as taxas de mortalidade infantil. Essas ocorrências fazem parte do processo de transição demográfica e do consequente envelhecimento populacional, estreitamente ligado ao nível de urbanização e, no caso brasileiro, de acompanhada metropolização.

Essa inflexão da dinâmica demográfica, especialmente pela queda da fecundidade, incidiu diretamente sobre a redução da taxa de crescimento populacional, em especial nas metrópoles, apesar da população aí concentrada permanecer constante. Nesse período, a população brasileira cresceu a uma taxa em torno de 2% ao ano (de 1980 a 1991) e a participação da população urbana na população total continuou crescendo – em 1980 era de 67,6% e em 1991 foi em torno de 75%. Segundo alguns autores (RIGOTTI, 2008; BRITO e MARQUES, 2005), é nesse contexto que a migração vai consolidando-se como um movimento urbano-urbano e os fluxos de longa distância vão sendo substituídos por fluxos intraestaduais, ganhando maiores contornos a migração intrarregional. Para os movimentos interestaduais, o eixo em direção a São Paulo/Rio de Janeiro ainda era expressivo, mas reduziu-se consideravelmente o volume de imigrantes neste sentido. Apesar da diminuição dos enormes fluxos migratórios em direção aos espaços metropolitanos, a participação da população metropolitana era em torno de 32% da população total, sendo ainda quase 43% da população urbana. Portanto, as mudanças demográficas foram sentidas primeiramente em espaços mais urbanizados, principalmente nas áreas metropolitanas, justamente onde as mudanças econômicas também foram mais evidentes.

Através do olhar sobre a mobilidade espacial, é bastante nítida a estreita relação entre as dimensões urbana e demográfica, o que tem sido um pressuposto em nossa investigação. No que se refere aos estudos urbanos e populacionais, tal relação era mais enfatizada especialmente no período de elevado crescimento populacional e acelerada urbanização. Atualmente, conforme ressaltam Silva e Monte-Mór (2010), é preciso estimular a criação ou reforço de um campo de convergência maior entre problemas que são frequentemente abordados mais de forma separada do que conjunta: a mudança entre regimes demográficos, com seus componentes sócio-históricos, e a produção e reprodução do espaço urbano e, consequentemente, as implicações socioespaciais da distribuição e reprodução da população no território. Para estes autores, cabe observar que os estudos sobre população não podem conferir a sua interface com a questão urbana um status menor do que foi no passado. Essa associação foi bastante acentuada no período da intensa migração rural-urbana, quando este fenômeno ganhou expressivo relevo nos estudos acadêmicos e nas intervenções políticas. Além da importância de acentuar essa relação, é preciso considerar que há distintos grupos sociais com dinâmicas demográficas diferenciadas.

Geralmente o conceito de transição urbana aborda a predominância da população urbana em determinado espaço, com enfoques diferenciados conforme a sociedade que se esteja considerando1

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Torres, Alves e Oliveira, 2007; UNFPA, 2007; Ojima 2007, Alves, 2009; Ojima e Carvalho, 2009 apud Silva, Monte-mór, 2010.

. Mas podemos trabalhar com a ideia de que a transição urbana teria duas fases, uma primeira transição urbana seria o momento em que a população urbana supera a população rural e o grau de urbanização se eleva sustentadamente. Já o que poderíamos chamar de segunda transição urbana é uma fase em que as tendências de crescimento

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populacional urbano perdem sua força para dar lugar à acomodação dessa população dentro de seu tecido urbano (OJIMA, 2006, p. 3 apud SILVA e MONTE-MÓR, 2010). Ou seja, a primeira seria uma dimensão mais quantitativa do processo de urbanização, já a segunda remete mais a uma dimensão qualitativa. Também é possível interpretar que essas fases estão estreitamente relacionadas com a dinâmica demográfica e os movimentos populacionais, foco deste trabalho. No primeiro momento, é a elevada migração para as cidades e os filhos tidos por estes migrantes que permitem a superação da população urbana (ou seja, a demografia constitui o urbano). Posteriormente, o foco passa a ser a adaptação desta população no modo de viver urbano, nas condições sobrevivência, nas formas de produzir (o urbano influenciando a demografia).

A investigação aqui empreendida sobre mobilidade espacial nas metrópoles terá como pano de fundo essa relação entre a dinâmica urbana e populacional – pois é possível colocar que, num primeiro momento, a preocupação era o que fazer para estar na cidade, era a conquista da cidade. No período seguinte, que de certa forma se estende até a atualidade, a preocupação é como fazer para apropriar-se da cidade, não apenas habitar nesse ambiente, mas ter acesso às oportunidades, bens e serviços que esse espaço oferece – remete as estratégias adotadas pelos distintos grupos sociais para efetivar a conquista desse espaço e os movimentos populacionais fazem parte dessas estratégias.

É nesse sentido que a demografia é considerada não apenas como mais uma dimensão para ilustrar processos que vem ocorrendo no espaço urbano. A dinâmica demográfica é em si mesma um processo social que interfere na estrutura urbana, sendo também por ela influenciada, apresenta implicações bastante significativas para pensarmos qual tipo de espaço urbano e metropolitano teremos num futuro próximo, mediante as mudanças no comportamento demográfico, em especial as migrações urbanas, associada ainda à mobilidade cotidiana. Essa dinâmica também se liga aos elementos da estrutura urbana, como as transformações no mercado de trabalho, no acesso à moradia e nas condições de mobilidade.

Como afirma Castells (1983), ao falarmos que o espaço urbano é estruturado, significa que apresenta uma organização não aleatória, “os processo sociais que se ligam a ele exprimem, ao especificá-los, os determinismos de cada tipo e de cada período da organização social” (CASTELLS, 1983, p. 182). São diversos mecanismos que organizam a distribuição da população no território, entre estes, as dimensões relacionadas ao trabalho, à moradia e à mobilidade nos parece essenciais, constituindo-se em chaves de leitura analítica, portanto, interpretativas do processo de conformação da estrutura urbana. O trabalho se relaciona com a forma segundo a qual as atividades se distribuem conformando uma divisão econômica do espaço metropolitano, esta divisão está associada às características do mercado de trabalho e da estrutura produtiva – à sua espacialização.

Outro mecanismo se relaciona com a distribuição territorial das formas de provisão de moradia. Falamos em formas de provisão em razão da existência de uma pluralidade de sistemas de produção e circulação da moradia, indo da autoconstrução às formas empresariais, passando pela provisão pública de habitação. Podemos falar que cada cidade tem uma estrutura de provisão de moradia resultante da diversidade das formas existentes e de sua articulação, desta espacialização temos uma divisão social do espaço da metrópole.

Já a componente mobilidade, é conformada por dois elementos: sistemas de transportes em suas diversidades (coletivo x individual; público x privado; etc.) e o sistema físico de circulação. Em princípio este terceiro componente deveria ser entendido como resultante dos outros dois. Esquematicamente então, as divergências/convergências entre a espacialização dos mercados de moradia e trabalho no espaço urbano podem ser contornadas

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pela espacialização das condições de mobilidade, conformando-se em elementos da estrutura urbana que, por sua vez, está relacionada também à dinâmica populacional. Claro que a estrutura urbana envolve outras dimensões, como acesso a serviços públicos e privados, a gestão urbana, aspectos morfológicos e políticos, mas estes primeiros que temos elencado aqui são fundamentais para nossa reflexão.

Portanto, um estudo sobre os movimentos populacionais se insere nesse contexto de mudanças na relação entre a dinâmica populacional e urbana, na conexão com a estrutura urbana mediante alguns mecanismos socioespaciais como o trabalho, a moradia, a mobilidade. Estes mecanismos podem ser aproximados por meio de dados sobre mobilidade espacial, avaliando as mudanças de residência na metrópole através da migração, assim como os deslocamentos realizados cotidianamente através do movimento pendular – que permitem avaliar inclusive o lugar de moradia e de trabalho.

2. Movimentos populacionais metropolitanos

Qual a relação entre a mobilidade espacial e a estrutura urbana? Qual o papel dos movimentos populacionais nos processos de reorganização social interna nas metrópoles? Para responder a essa questão, ou aproximar-se dessa resposta, são considerados os movimentos migratórios e pendulares, entendendo a mobilidade espacial como uma das estratégias empreendidas pela população na produção da existência, em nosso caso, no espaço urbano-metropolitano. Durante o período de intensa urbanização, as grandes cidades e áreas metropolitanas atraíam elevado contingente de pessoas que iam residir nestes espaços principalmente em busca de trabalho e mobilidade social. Entretanto, atualmente, não há uma razão majoritária para explicar os movimentos populacionais, há diversos aspectos operando sobre as lógicas de mobilidade. Quanto à mobilidade cotidiana, Palomares (2008) afirma que passamos do contexto de uma mobilidade de massas para uma mobilidade singular2

Nos anos 1970, especialmente para a aglomeração metropolitana de São Paulo, que foi a que mais cresceu no período de intensa urbanização, já era possível identificar algumas tendências particulares no interior da própria metrópole – simultaneamente ao reforço da concentração populacional nos municípios metropolitanos, havia processos de relocalização populacional interna nestes espaços. Na década de 1970, o município de São Paulo ainda mantinha sua condição de polo de atração populacional, praticamente todos os demais municípios da Grande São Paulo também podiam ser classificados como zonas de atração, pois tinham saldos migratórios positivos, de acordo com Cunha (1990). Neste período era possível identificar que a maioria dos municípios mais atrativos nesta periferia eram os mais . Já em termos de mobilidade espacial pelas migrações, uma “regionalização dos fluxos” tem sido observada, levando ao encurtamento de distâncias, pode-se dizer que ocorre também uma “fragmentação dos fluxos” – emergência de novos centros regionais que se espalharam no território nacional: mais áreas de retenção da migração do que uma tendência polarizadora de longa permanência (RIGOTTI, 2008). Sobre os movimentos em espaços metropolitanos, segundo Brito e Marques (2005), na sua grande maioria os imigrantes interestaduais preferem as capitais, e os do interior as periferias metropolitanas. Enquanto os emigrantes, sejam para o interior ou para os outros estados, partem mais da capital do que da periferia metropolitana – o que mostra que a capacidade de retenção migratória das capitais tem diminuído. Vale destacar alguns processos que já foram observados nas metrópoles.

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De certa forma, essa passagem de uma mobilidade de massas para uma mobilidade singular também pode ser considerada para os movimentos migratórios.

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próximos à capital, com volume populacional elevado e taxa de imigração alta, quanto aos movimentos internos, foram mais de 920 mil pessoas que se deslocaram no interior da RMSP nesta década. Para os demais municípios da periferia, já se verificava que a origem em São Paulo era muito marcante, ou seja, os movimentos do núcleo para a periferia já eram possíveis de se identificar na RMSP a partir dos dados censitários de 1980. Enquanto no processo migratório global, São Paulo era área de imigração, no contexto intrametropolitano, já era uma área de evasão populacional – alguns municípios de atração já constituíam as cidades-dormitório, onde a moradia fosse mais acessível, ou seja, a questão do custo da terra já determinava esses movimentos populacionais. Segundo o mesmo autor, as migrações intrametropolitanas na RMSP estiveram ligadas ao desdobramento de dois processos: a periferização da população (fruto de problemas urbanos ligados à utilização e valorização do solo) e a redistribuição espacial da atividade produtiva dentro da região (CUNHA, 1990, p. 28).

Já na RMRJ, segundo Jardim (2001), com os dados de 1991, também foi possível identificar no interior da metrópole fluminense três grandes fluxos migratórios, que o autor chama de “expansão do núcleo da periferia” – referindo-se aos emigrantes do município do Rio de Janeiro com boas condições de renda que foram morar em municípios como Niterói, Nova Iguaçu, Duque de Caxias e São Gonçalo; “periferização do núcleo”, referindo-se a alguns imigrantes intrametropolitanos que saíram da periferia e foram residir no núcleo que, segundo o autor, corresponderam ao aumento e adensamento da população residindo em favelas e o distanciamento socioeconômico entre os bairros do município; e finalmente os movimentos denominados de “periferização da periferia”, envolvendo as trocas populacionais nos próprios municípios da periferia metropolitana, que apesar de no geral envolver uma população de renda mais baixa, no interior deste fluxo ainda havia grande diversidade econômica e social. As tendências mais atuais indicam que esses processos se complexificam, por exemplo, para os que saem do núcleo da metrópole não dá para dizer que é uma simples “expansão do núcleo” com movimentos de camadas sociais com melhores rendimentos, pelo contrário, nossa hipótese é a de que para muitos grupos sociais havia dificuldades de permanência no núcleo que impulsionaram movimentos de mudança de residência para a periferia.

Para a RMBH, já mais recentemente, Brito e Souza (2005) ressaltam que o padrão de expansão urbana na região tem como uma de suas características básicas a segregação espacial da população mais pobre. A expansão metropolizou a segregação social dos mais pobres (BRITO e SOUZA, 2005, p.52), e tem seguido direções espaciais semelhantes à expansão da própria cidade de Belo Horizonte, a partir do rígido sistema viário, formando os vetores de expansão urbana metropolitanos, para o vetor oeste, por exemplo, a expansão se dá numa combinação entre crescimento industrial e urbanização desordenada. Já o vetor norte-central foi marcado pela possibilidade de loteamentos para assentamentos populares, e acabou se tornando um “polo de atração de pobreza” (BRITO e SOUZA, 2005, p.56). Os saldos migratórios negativos da capital aliados à baixa fecundidade têm sido os responsáveis pelos menores ritmos de crescimento populacional. O mais importante destacado pelos autores é o saldo favorecendo a periferia da região. Os autores testam a hipótese de uma redistribuição espacial da pobreza e apontam que as migrações, resultantes do movimento do capital imobiliário e da própria atuação do Estado, têm promovido uma redistribuição social e espacial da população na RMBH, acabam por reproduzir as desigualdades sociais no espaço. Esta hipótese é confirmada pelos dados analisados, uma vez que os emigrantes do núcleo são geralmente os mais pobres, com alguns diferencias entre os vetores. Além disso, verifica-se também que boa parte dos que saíram de Belo Horizonte trabalham neste município, ampliando os deslocamentos pendulares.

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Portanto, essas mudanças internas nas metrópoles já ocorriam em alguns casos desde os anos 1970 e 1980, passando a coexistir com processos ainda mais amplos no contexto da dinâmica urbana e populacional, como a redução dos fluxos migratórios de longa distância, a intensificação da migração de retorno, o fortalecimento da migração entre áreas urbanas, a maior relevância dos movimentos pendulares, e indicações de aumento da circularidade dos migrantes.

3. A dinâmica populacional recente na Metrópole do Rio de Janeiro

Antes de analisar o comportamento mais atual desses movimentos populacionais intrametropolitanos no Rio de Janeiro, objetivo deste trabalho, é importante colocar algumas observações sobre a realidade política, econômica e demográfica desta metrópole. Na perspectiva nacional, desde o pós-guerra, a metrópole fluminense veio reduzindo sua função de centro do poder econômico e produtivo nacional, tornando-se uma metrópole de características mais terciárias e com baixo dinamismo em relação à metrópole de São Paulo, por exemplo. Assim também ocorreu com a dimensão política, pois a transferência da capital nacional para Brasília exerceu forte impacto nesse processo, especialmente com a perda de empregos públicos com altas remunerações (RIBEIRO, CORREA e RODRIGUES, 2008).

A crise dos anos 1980, a erosão da aliança desenvolvimentista e a ausência de um projeto nacional, em que o país passou por ciclos de crescimento e estagnação, trouxeram graves consequências para a metrópole do Rio de Janeiro. Esta instabilidade econômica dos anos 1980 também permaneceu durante o começo dos anos 1990, o crescimento econômico neste período foi reduzido e inconstante. As iniciativas liberalizantes dos anos 1990, também fizeram retroceder ainda mais as políticas nacionais de desenvolvimento, gerando um contexto macroeconômico bastante desfavorável ao crescimento econômico e um grau elevado de incerteza para a realização de investimentos. Como muitos autores destacaram, não foi só um período de “reestruturação produtiva”, as empresas passaram por uma grande “racionalização organizacional defensiva” (COUTINHO, 1997; BRANDÃO, 2007; SIQUEIRA e MAIA, 2010). É claro que toda esta reorganização da economia produziu sérios impactos no mercado de trabalho, principalmente das metrópoles, aumentando inclusive a pobreza metropolitana, como apontado por Rocha (2000). Desde essa época até o início do século XXI, a metrópole do Rio de Janeiro passou por período de estagnação econômica, experimentando uma condição de marginalização em relação a outras áreas que se tornaram mais dinâmicas no próprio Sudeste do país. Estudo de Ruiz e Pereira (2007) evidenciam a ocorrência de problemas relacionados à organização da produção interna na metrópole, com perda de participação no PIB nacional e no próprio conjunto formado pela região e sua área de influência. Ainda segundo estes autores, entre os maiores grandes espaços urbanos brasileiros, o Rio de Janeiro é o único que apresenta uma relação reduzida entre capacidade tecnológica e base industrial, sendo incapaz de capturar espacialmente os ganhos do progresso tecnológico por ele gerados internamente.

Mesmo diante de tais condições adversas, a metrópole do Rio de Janeiro manteve sua posição de segunda maior metrópole do país, abrangia em 2010 cerca de 11,8 milhões de pessoas (tabela 1). O caráter mononuclear de sua organização interna ainda é muito marcante – 6,3 milhões residiam no município núcleo em 2010, que concentrava também 69% do PIB e 74% dos empregos formais da metrópole em 2009. Os demais municípios dividem-se ao norte, os municípios que formam a Baixada Fluminense: Nilópolis, São João de Meriti, Duque de Caxias, Nova Iguaçu, Japeri, Queimados e Belford Roxo – esses municípios

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geralmente apresentam alto nível de integração3 na dinâmica metropolitana e condições socioespaciais relativamente melhores, em comparação com outros municípios metropolitanos. Ao fundo da Baía de Guanabara, os municípios de Magé e Guapimirim; a leste da Baía de Guanabara – o eixo leste metropolitano –, os municípios de Niterói, São Gonçalo, Itaboraí, Tanguá e Maricá; a oeste – no limite da região –, os municípios de Mangaratiba e Itaguaí, junto da Baía de Sepetiba; e a noroeste, os municípios de Seropédica e Paracambi (CARDOSO et al., 2007).

Tabela 1

Metrópole do Rio de Janeiro: Municípios, População e Crescimento – 1991/2010

Municípios Nível de Integração

População Distribuição (%) 1991 2000 2010 1991 2000 2010 Belford Roxo Muito Alta - 434.474 469.261 - 4,0 4,0 Duque de Caxias Muito Alta 667.821 775.456 855.046 6,8 7,1 7,2

Guapimirim Média - 37.952 51.487 - 0,3 0,4 Itaboraí Alta 162.743 187.479 218.090 1,7 1,7 1,8 Itaguaí Alta 113.057 82.003 109.163 1,2 0,8 0,9 Japeri Alta - 83.278 95.391 - 0,8 0,8 Magé Alta 191.734 205.830 228.150 2,0 1,9 1,9 Mangaratiba* Outros 17.924 24.901 36.311 0,2 0,2 0,3 Maricá* Outros 46.544 76.737 127.519 0,5 0,7 1,1 Nilópolis Muito Alta 158.092 153.712 157.483 1,6 1,4 1,3 Niterói Muito Alta 436.155 459.451 487.327 4,4 4,2 4,1 Nova Iguaçu Muito Alta 1.297.704 920.599 795.212 13,2 8,5 8,1 Paracambi Média 36.427 40.475 47.074 0,4 0,4 0,4

Queimados Alta - 121.993 137.938 - 1,1 1,2

Rio de Janeiro Polo 5.480.768 5.857.904 6.323.037 55,8 53,8 53,2 São Gonçalo Muito Alta 779.833 891.119 999.901 7,9 8,2 8,4 São João de Meriti Muito Alta 425.772 449.476 459.356 4,3 4,1 3,9

Seropédica Média - 65.260 78.183 - 0,6 0,7

Tanguá Baixa - 26.057 30.731 - 0,2 0,3

Total Metrópole 9.814.574 10.894.156 11.875.063 - - - Fonte: Censos Demográficos de 1991, 2000 e 2010.

*Mangaratiba não faz parte oficialmente da RMRJ, mas é considerada como parte da metrópole em nossos estudos. Como Mangaratiba e Maricá não faziam parte da RMRJ não foram computados na elaboração dos níveis de integração à época do estudo. Mesquita não é considerada, pois não era emancipada ainda em 2000 – em 2010 está junto com Nova Iguaçu.

Essa é uma divisão da metrópole fundamentada nas direções espaciais, que guardam maior relação com o processo de ocupação do território. No geral, a metrópole tem apresentado baixos ritmos de crescimento populacional, em torno de 1% a.a. nas últimas décadas. Apesar disso, alguns municípios da periferia metropolitana, consideradas áreas de

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Os níveis de integração constituem uma tipologia baseada nas diferenças entre os municípios quanto à integração na dinâmica da metrópole correspondente. As variáveis utilizadas para essa classificação foram: taxa média geométrica de crescimento populacional (1991-2000); densidade demográfica; contingente de pessoas que realizam movimento pendular; proporção de pessoas que realizam movimento pendular; proporção de emprego não-agrícola (Observatório das Metrópoles, 2009).

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expansão, apresentam ainda crescimento considerável como Guapimirim e Itaguaí, e mais ainda Mangaratiba e Maricá. É a partir dessa contextualização que analisamos os movimentos populacionais na metrópole fluminense.

3.1. Movimentos migratórios na Metrópole Fluminense

Os movimentos migratórios intrametropolitanos constituem-se numa expressão das mudanças de residência na metrópole, sendo reflexo da busca por uma localização satisfatória na cidade. Em linhas gerais, tais movimentos estão relacionados aos próprios elementos da estrutura urbana, à busca por apropriar-se da cidade. Portanto estão ligados ao acesso às diferentes formas de provisão de moradias, à inserção no mercado de trabalho, às condições de deslocamento no espaço metropolitano, à oferta de bens e serviços públicos, à própria morfologia urbana.

Após um período de elevado crescimento populacional nos grandes centros urbanos, especialmente nos núcleos dos aglomerados metropolitanos, é a população dos municípios periféricos que passa a apresentar maior crescimento populacional, em decorrência do próprio crescimento vegetativo, mas também do afluxo de imigrantes nestes espaços. No caso de algumas metrópoles, são os movimentos metropolitanos que mais dinamizaram essa participação elevada da migração na periferia. Sendo assim, o objetivo deste trabalho é identificar as tendências dos movimentos migratórios em direção à metrópole, especialmente os intrametropolitanos, aproveitando para explorar os primeiros resultados da amostra do Censo Demográfico de 2010. Para tanto, de forma ainda inicial, trabalhamos apenas com a metrópole do Rio de Janeiro, também a fim de atualizar trabalhos que já têm sido elaborados sobre o tema para esta metrópole.

Ao trabalhar com o volume de migrantes por data fixa, observamos que de 1991 para 2000 aumentou o quantitativo de pessoas que chegaram ou se movimentaram na metrópole no período. Mas ao considerar o período seguinte, na primeira análise de dados possibilitada pelo Censo de 20104

Quanto à distribuição desses migrantes por tipo de fluxo, intrametropolitano, intraestadual e interestadual para o núcleo ou para a periferia, não ocorreram mudanças tão grandes de 2000 a 2010. Para os movimentos intrametropolitanos, que abarcam praticamente 50% dos migrantes na metrópole, diminui um pouco a participação da migração do núcleo para a periferia; aumenta em apenas 0,5 p.p. a participação dos que saíram da periferia para o núcleo, ficando com mesmo valor de 1991; e aumenta um pouco a participação das trocas migratórias na própria periferia. Nesse sentido, a tendência que se observa é de um ligeiro, porém sustentado aumento na participação dos movimentos migratórios entre municípios da periferia metropolitana. No geral o destino para a periferia continua a predominar e a ida para o núcleo permanece ainda com participação reduzida.

, vê-se que esse volume diminuiu, ficando em torno de meio milhão de migrantes na metrópole do Rio de Janeiro de 2005 a 2010 – ainda assim um volume expressivo (tabela 2).

Já os movimentos intraestaduais com destino à metrópole que sofreram grande redução nos anos 1990, aumentam pouco sua participação de 2000 a 2010, mas permanecem com patamares bem reduzidos, indicando que a metrópole continua pouco atrativa para as demais regiões do Estado do Rio de Janeiro. Simultaneamente, os movimentos interestaduais,

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Essas informações resultam de uma primeira análise exploratória dos microdados do Censo Demográfico de 2010.

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que geralmente têm sido apontados com tendência de declínio, ainda permanecem com parcela considerável de participação da migração na metrópole. Enquanto a participação dos movimentos interestaduais com destino ao núcleo aumenta um pouco, diminui alguns pontos percentuais para a periferia.

Tabela 2

Migrantes da Metrópole do Rio de Janeiro por tipo de fluxo (%) – 1991, 2000, 2010

Fluxos 1986-1991 1995-2000 2005-2010 Intrame- tropolitano Núcleo-Periferia 25,8 21,3 20,1 Periferia-Núcleo 5,5 5,0 5,5 Periferia-Periferia 21,0 22,8 23,7 Intra- estadual Núcleo 11,8 3,0 3,8 Periferia 10,9 4,8 5,1 Inter- estadual Núcleo 16,4 27,4 28,5 Periferia 8,6 15,8 13,3 Total (100%) 455.160 637.906 502.683

Fonte: Censos Demográficos de 1991, 2000 e 2010.

Sendo assim, apesar da relevância dos movimentos intrametropolitanos, não se pode desconsiderar que a metrópole do Rio de Janeiro, mesmo com diminuição da pujança econômica do período de intensa urbanização e de quando abrigava a capital federal, ainda atrai pessoas de outras UFs, provavelmente pela inércia da trajetória migratória de fases anteriores, como apontado por Brito (2009) e Silva (2012). Já no caso dos movimentos intrametropolitanos, mais do que o volume, é o significado dessa mobilidade que assume importância cada vez maior para compreender a própria estruturação urbana da metrópole.

Ao observar apenas estes fluxos intrametropolitanos na periferia (tabela 3), em alguns municípios predominavam e ainda predominam fluxos de migrantes que saíram do núcleo, como em Duque de Caxias e Itaguaí, com mais de 60%, Mangaratiba, Seropédica e Nilópolis, com mais de 56% dos migrantes que saíram do núcleo e foram para estes municípios em 2000. Além destes, em 2000, Maricá e Nova Iguaçu também apresentaram maior participação de migrantes do núcleo para a periferia, mas em 2010, passam a exibir maiores trocas migratórias na própria periferia. Já Belford Roxo, Itaboraí, Paracambi, Queimados, São Gonçalo e Tanguá expressaram maior participação em 2000 de migrantes que saíram do núcleo e permanecem em 2010 com essa maior participação. Japeri foi o município que manifestou maior mudança, pois antes apresentava maior participação do fluxo periferia-periferia, passando posteriormente a ter maior participação do fluxo núcleo-periferia. Já Guapimirim, Magé, São João de Meriti e Niterói, ficam em torno de 45 a 55% de participação em cada fluxo, permanecendo nessa separação mais equânime no período seguinte. Principalmente Niterói continua com cerca de 50% dos migrantes intrametropolitanos em cada um destes tipos de fluxo, ou seja, ao mesmo tempo em que recebe gente do núcleo, recebe a mesma proporção de outros municípios da periferia.

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Tabela 3

Distribuição dos movimentos intrametropolitanos nos municípios da periferia da Metrópole do Rio de Janeiro – 2000 e 2010

Municípios 2000 2010 Núcleo-Periferia Periferia-Periferia Total (100%) Núcleo-Periferia Periferia-Periferia Total (100%) Belford Roxo 38,1 61,9 27.510 41,0 59,0 17.424 Duque de Caxias 66,2 33,8 34.258 61,4 38,6 22.460 Guapimirim 48,5 51,5 3.956 46,4 53,6 3.443 Itaboraí 28,1 71,9 20.137 25,0 75,0 13.558 Itaguaí 69,4 30,6 6.156 60,3 39,7 4.989 Japeri 39,6 60,4 4.940 60,5 39,5 5.357 Magé 46,3 53,7 14.653 43,5 56,5 9.795 Mangaratiba 59,4 40,6 3.582 60,9 39,1 4.280 Maricá 54,6 45,4 13.204 39,7 60,3 20.631 Nilópolis 56,4 43,6 9.818 53,8 46,2 6.143 Niterói 50,6 49,4 22.422 50,6 49,4 21.628 Nova Iguaçu 54,4 45,6 45.261 47,5 52,5 36.633 Paracambi 33,8 66,2 1.253 27,7 72,3 829 Queimados 34,9 65,1 6.201 32,8 67,2 5.740 São Gonçalo 35,5 64,5 34.822 31,7 68,3 24.700 São J. de Meriti 49,3 50,7 24.743 54,3 45,7 15.271 Seropédica 57,8 42,2 6.526 62,8 37,2 5.972 Tanguá 30,4 69,6 1.956 9,6 90,4 1.208 Total 48,4 51,6 281.398 45,9 54,1 220.061

Fonte: Censos Demográficos de 2000 e 2010.

Até esta parte, consideramos a distribuição dos migrantes intrametropolitanos no próprio contexto da migração. Ao observar a proporção destes migrantes sobre a população total de cinco anos ou mais, também notamos diferenciais consideráveis (gráfico 1). Entre os que migraram do núcleo para a periferia, a proporção sobre a população da periferia diminui um pouco de 1991 para 2000, apresentando maior diminuição em 2010. Os que migraram para o núcleo em relação à população deste espaço apresentam participação muito pequena, mas aumentaram pouco de 1991 a 2000 e reduziram de 2000 a 2010. Já os que migraram na própria periferia aumentaram a participação de 1991 a 2000 e também voltaram a diminuir em 2010, entretanto, permaneceram com maior proporção entre estes três tipos de fluxos em relação à população dos respectivos espaços – núcleo ou periferia.

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Gráfico 1

Proporção dos migrantes em relação à população total do núcleo ou da periferia por tipo de fluxo intrametropolitano – 1991, 2000, 2010

Fonte: Censos Demográficos de 1991, 2000 e 2010.

A saída de pessoas do núcleo da metrópole em direção aos municípios da periferia foi um movimento recorrente nas décadas mais recentes, expressando especialmente dificuldades de acesso ao solo urbano nas áreas mais centrais e reforçando o processo de periferização nas metrópoles brasileiras. Ao observar o saldo migratório entre o núcleo e a periferia da metrópole nos três últimos censos (gráfico 2), podemos observar que ainda ocorre perda de população do núcleo para a periferia pela migração. Embora essa perda permaneça na metrópole fluminense, houve diminuição desse saldo negativo para o núcleo, já que de 1995 para 2000 o município do Rio de Janeiro perdeu mais de 100 mil pessoas para a periferia, mas de 2005 para 2010, essa perda foi em torno de 73 mil pessoas. Cabe investigar quais as razões para essa possível “retenção” da população do núcleo: Será que se reverterá a tendência de saída dos núcleos para as periferias metropolitanas? Isso também ocorreu em outros núcleos metropolitanos? São questões a serem aprofundadas posteriormente.

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Gráfico 2

Saldo migratório entre núcleo e periferia da Metrópole do Rio de Janeiro – 1986/1991, 1995-2000, 2005-2010

Fonte: Censos Demográficos de 1991, 2000 e 2010.

Diante do exposto até aqui, nota-se que, embora ainda expressivo, diminui o volume de migrantes na metrópole do Rio de Janeiro. Ao mesmo tempo, para os movimentos intrametropolitanos, diminui a proporção de migrantes que saem do núcleo em direção à periferia, mas aumentam as trocas migratórias na própria periferia no universo da migração. Em relação à população total, também diminui a participação de migrantes nos três tipos de fluxos intrametropolitanos.

3.2. Movimentos pendulares na Metrópole Fluminense

Juntamente com a migração, os deslocamentos pendulares também conformam os processos de mobilidade espacial na metrópole, delineando os movimentos populacionais metropolitanos, no nosso caso, os movimentos intermunicipais na dimensão da metrópole. Enquanto os movimentos pendulares em função de trabalho5

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Em 2010, o Censo Demográfico passou a diferenciar os movimentos pendulares para trabalho e estudo. Em 2000, a pergunta era a mesma para ambos os motivos. Para viabilizar a comparação por razões de trabalho, separamos para o ano de 2000, entre os que faziam movimento pendular: 1) as pessoas que apenas trabalhavam, 2) aqueles que trabalhavam e estudavam, e 3) os que só estudavam. Excluindo esses últimos, ficamos com a população que só trabalhava (que abrangia quase 90%), acrescida de uma pequena participação dos que trabalhavam e estudavam (para os quais não era possível saber se o movimento era pelo trabalho ou pelo estudo ou os dois motivos). Como o trabalho predomina, comparamos esses dois grupos com a população que fazia movimento pendular para trabalho em 2010.

na metrópole do Rio de Janeiro em 2000 envolviam cerca de 738 mil pessoas, em 2010 já abarcavam quase 1 milhão de trabalhadores, 20% da população ocupada da metrópole. Além disso, aumentou o volume de trabalhadores pendulares em todos os tipos de fluxos, à exceção apenas daqueles que saem de

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algum município da periferia para trabalhar em outro estado. Em linhas gerais, o movimento pendular é muito mais intenso na própria metrópole, sendo inclusive um indicador de sua constituição enquanto grande aglomerado urbano e de sua integração interna, por isso, os valores para os fluxos intraestaduais e interestaduais são bem menores.

Ao determo-nos nestes movimentos pendulares metropolitanos, observamos que, embora em números mais reduzidos se comparados com os outros tipos de deslocamento, o quantitativo de trabalhadores que sai do núcleo para trabalhar na periferia quase dobrou de 2000 a 2010, aumentando ainda sua participação em 1,5 p.p. no total (de 3,2% para 4,7%). Será importante qualificar posteriormente esse tipo de movimento e quais municípios têm atraído esse pessoal.

O maior contingente de trabalhadores permanece realizando o movimento da periferia para o núcleo metropolitano, o município do Rio de Janeiro. Apesar de diminuir um pouco a participação (de 65% para 61% entre os que fazem o movimento pendular), aumentou em quase 120 mil o número de pessoas que realiza esse movimento frequente principalmente nas grandes vias de acesso que ligam o núcleo a outros municípios, como a Ponte Rio-Niterói, a Avenida Brasil e a Linha Vermelha, que nos momentos de tráfego muito intenso, apresentam às vezes longos congestionamentos. Complementar a esse quadro, soma-se o elevado contingente de trabalhadores que se movimenta entre os próprios municípios da periferia metropolitana, esse quantitativo também aumentou em mais de 100 mil pessoas de 2000 a 2010, elevando-se ainda sua proporção no total dos que realizam movimento pendular na metrópole, passando de 24% para 29% no período.

Tabela 4

Pendulares da Metrópole do Rio de Janeiro por tipo de fluxo (%) – 2000 e 2010

Fluxos Volume Distribuição (%)

2000 2010 2000 2010 Intrametropolitano Núcleo-Periferia 23.790 46.680 3,2 4,7 Periferia-Núcleo 479.685 610.435 65,0 61,1 Periferia-Periferia 177.161 290.447 24,0 29,1 Intraestadual Núcleo-RJ 4.985 9.912 0,7 1,0 Periferia-RJ 14.880 20.506 2,0 2,1 Interestadual Núcleo-Outra UF 6.998 9.689 0,9 1,0 Periferia-Outra UF 30.850 11.532 4,2 1,2 Total (100%) 738.348 999.201 100,0 100,0 Fonte: Censos Demográficos de 2000 e 2010.

Ao analisar o movimento pendular por município da metrópole, aumenta a quantidade de pessoas realizando esse deslocamento em todos os municípios. Embora apresente volume mais reduzido se comparado a outros municípios, o maior aumento percentual do período foi em Mangaratiba, onde os pendulares mais que triplicam, seguido por Maricá. Em Guapimirim, este contingente praticamente dobra e no Rio de Janeiro, apesar da pequena proporção em relação à população ocupada do município, o número de pessoas que realiza movimento pendular para outro município também se duplica. Os maiores volumes absolutos são em São Gonçalo, Nova Iguaçu, Duque de Caxias, Belford Roxo e São João de Meriti, em torno de 100 mil ou mais que saem destes municípios para trabalhar em outro (tabela 5).

Em todos os municípios aumenta a proporção de pendulares sobre a população ocupada, apenas em Duque de Caxias diminui, mas somente em 1 ponto percentual. Muitos

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municípios ainda apresentam boa parte de trabalhadores que sai, como em Belford Roxo, Japeri, Nilópolis, Queimados e São João de Meriti como mais de 50% que sai para trabalhar em outro município. Embora tenha apresentado considerável aumento percentual, Mangaratiba ainda é o que apresenta menor proporção de ocupados que sai, seguido por Itaguaí na periferia metropolitana – também em torno de 20%.

Em números absolutos, o município da periferia que mais envia trabalhadores para o núcleo é Nova Iguaçu, cerca de 100 mil pessoas. Já em termos proporcionais, Duque de Caxias apresenta a maior proporção de seus pendulares que se dirige para trabalhar no núcleo da metrópole, cerca de 86%. Também em Japeri, Nilópolis, Niterói, Nova Iguaçu, Queimados e São João de Meriti, mais de 70% trabalham no núcleo. Entretanto, em vários municípios diminuiu essa proporção dos que trabalham no núcleo, ao mesmo tempo aumentou os deslocamentos para trabalho entre municípios da periferia (dados não apresentados).

Tabela 5

Percentual de trabalhadores que realiza movimento pendular e percentual que se destina ao núcleo da Metrópole do Rio de Janeiro por município – 2000 e 2010

Municípios 2000 2010 Pendular* % sobre pop. Ocup. % para Núcleo Pendular % sobre pop. Ocup. % para Núcleo Belford Roxo 73.350 50,67 68,3 101.000 55,7 66,2 Duque de Caxias 92.582 34,36 86,2 112.835 33,3 86,1 Guapimirim 3.234 23,41 48,7 6.403 31,0 46,7 Itaboraí 25.374 37,19 34,3 36.978 40,9 30,9 Itaguaí 6.339 21,92 66,4 9.650 22,6 68,9 Japeri 14.314 55,16 72,3 19.375 59,1 75,2 Magé 23.595 33,86 64,0 31.377 37,0 59,8 Mangaratiba 971 10,24 48,0 3.049 19,6 47,5 Maricá 6.481 21,84 47,8 16.778 31,2 48,9 Nilópolis 29.320 51,25 76,9 34.412 54,1 76,7 Niterói 54.017 27,59 76,6 69.017 30,8 76,4 Nova Iguaçu 126.959 39,39 78,4 169.692 45,3 73,8 Paracambi 2.742 20,45 46,1 4.048 24,4 47,5 Queimados 18.325 45,77 71,4 28.433 54,9 73,7 Rio de Janeiro 35.773 1,52 - 72.057 2,6 - São Gonçalo 134.052 39,18 44,2 171.597 40,5 38,9 São J. de Meriti 81.614 49,91 78,7 97.259 51,3 77,3 Seropédica 6.349 27,61 69,0 10.354 33,4 64,1 Tanguá 2.957 32,40 19,1 4.888 41,4 14,5 Total 738.348 17,69 68,3 999.202 19,9 61,1 Fonte: Censos Demográficos de 2000 e 2010.

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A proporção dos que se destinam para o núcleo da metrópole vista na tabela 5 é sobre o próprio quantitativo dos que realizam movimento pendular em cada município. Nos mapas a seguir, apresentamos o percentual de pessoas nos municípios da periferia que trabalham no núcleo sobre a população ocupada do respectivo município, o que dá uma ideia da relação existente entre a periferia e o núcleo.

Enquanto em 2000, a proporção dos ocupados que trabalhavam no núcleo em cada município da periferia variava de 4,9% a 39,9%, em 2010 essa proporção variava de 6,0% a 44,4%. No geral, apesar das mudanças nos valores, o comportamento ainda é semelhante, já que são especialmente os municípios da Baixada Fluminense que permanecem com as proporções mais elevadas de ocupados que trabalham no Município do Rio de Janeiro. Os municípios a leste da Baía de Guanabara e aqueles a oeste no limite da região apresentam proporções menores, muitos desses apresentam relações de trabalho com outros municípios da própria periferia, como visto acima.

Mapa 1

Percentual dos ocupados do município que trabalham no núcleo da Metrópole do Rio de Janeiro – 2000

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Mapa 2

Percentual dos ocupados do município que trabalham no núcleo da Metrópole do Rio de Janeiro – 2010

Fonte: Microdados do Censo Demográfico de 2010 do IBGE.

O movimento pendular também pode ser uma contrapartida interessante para compreender os movimentos migratórios na metrópole. Uma investigação que temos realizado se refere ao lugar de trabalho dos migrantes intrametropolitanos. As razões, como considerado em Silva (2012), envolvem as condições de acesso à moradia, as intervenções públicas na área de habitação, as condições adversas no mercado de trabalho nos anos 1980 e 1990 (elementos da estrutura urbana), e também a formação de novas famílias, as mudanças nos arranjos familiares, entre outros aspectos que devem ter contribuído para essa mobilidade espacial. A pergunta então colocada foi: será que as pessoas que migraram, mas permaneceram residindo no aglomerado metropolitano se deslocam com frequência entre a área de origem e destino?

Ao cruzar o município de origem da migração com o município de destino do movimento pendular, vê-se que em 2000 53% dos migrantes intrametropolitanos que estavam ocupados faziam movimento pendular. Desagregando esse valor, para aqueles que migraram do núcleo para a periferia, quase 60% faziam movimento pendular; para os que saíram da periferia e foram morar no núcleo 11% realizavam este movimento; já para os que mudaram de residência na própria periferia quase 58% se deslocavam para trabalho ou estudo em município diferente do que residia (tabela 6). No total, vê-se que 31,2% destes movimentos eram para o município de origem da migração. Ao fazer essa relação direta entre município de origem da migração e município de destino do movimento pendular, a proporção mais elevada era para os que migraram do núcleo para a periferia, mas deslocavam-se em função de trabalho para o núcleo – 51,2%.

Enquanto houve uma considerável redução do movimento pendular em direção ao núcleo metropolitano no período que vai de 1980 a 2000, conforme mostramos em Silva

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(2012), de 2000 a 2010, há poucas mudanças, as proporções permanecem muito semelhantes e, como visto, em números absolutos aumenta. Ou seja, as mudanças na economia e no mercado de trabalho nos anos 1980 e 1990 certamente apresentaram relação com a diminuição dos fluxos pendulares em direção ao núcleo metropolitano, entretanto, essa redução não se manteve de forma acentuada na primeira década deste século na metrópole fluminense.

Em 2010, ainda havia quase 53% dos migrantes intrametropolitanos ocupados que faziam movimento pendular. Para os que migraram periferia-núcleo em 2010 há uma leve diminuição na proporção de pessoas que trabalham na origem da migração, a periferia. Para os que migraram entre municípios da periferia e se deslocam para trabalhar na origem da migração praticamente não houve mudança na proporção. Além disso, observa-se que em 2010, apesar de uma pequena redução, os migrantes que mudaram de residência do núcleo para a periferia permanecem com aproximadamente a metade se deslocando para trabalhar no núcleo. Portanto, no contexto da migração intrametropolitana, o contingente de trabalhadores que se movimenta com frequência para o município de origem da migração continua apresentando expressividade.

Tabela 6

Migrantes intrametropolitanos ocupados que realizam movimento pendular para trabalho (%) – 2000 e 2010 Tipo de Fluxo Migratório Intrametropolitano 2000 2000 Faz Mov. Pendular Para Mun. Origem Faz Mov. Pendular Para Mun. Origem Núcleo-Periferia 59,4 51,2 60,0 49,8 Periferia-Núcleo 10,9 7,4 11,6 6,8 Periferia-Periferia 57,8 19,0 58,5 18,1 Total 52,9 31,2 52,8 28,9

Fonte: Censos Demográficos de 2000 e 2010.

Considerações finais

Os movimentos populacionais apresentam estreita relação com a estruturação urbana da metrópole, estão ligados, por exemplo, às condições de moradia e ao acesso ao mercado de trabalho, à oferta de bens e serviços públicos, entre outras dimensões. Embora tenha ocorrido diminuição da migração na década de 2000 no país, o que passa a ser mais interessante é o significado que esses movimentos apresentam especialmente no contexto metropolitano.

Com os dados exploratórios analisados aqui, observa-se que permanecem algumas tendências que já eram observadas no final do século passado na Metrópole do Rio de Janeiro, ao mesmo tempo, novos elementos se colocam. No contexto da migração, mesmo com ritmos de crescimento mais reduzido, enquanto nos anos 1990 aumentou o volume de imigrantes, nos anos 2000 houve diminuição. Os fluxos intrametropolitanos ainda predominam na migração total, mas ocorreram mudanças consideráveis, que inclusive devem ser melhor analisadas. Inicialmente, diminui em volume e proporção a saída do Município do Rio de Janeiro em direção aos municípios da periferia, interrompendo o comportamento de crescimento da saída do núcleo metropolitano. Ao mesmo tempo, prossegue a tendência de aumento dos fluxos populacionais entre os próprios municípios da periferia. É muito importante destacar que, embora haja diminuição no país da migração de longa distância, o

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núcleo do Rio de Janeiro ainda recebe um contingente considerável de pessoas de outros estados, e a proporção desses no total de imigrantes aumenta nos anos 2000. Cabe observar quais as origens desses fluxos, pois em estudo que ainda considerava os dados de 2000 (SILVA, 2012), mostramos que a migração de longa distância no Rio de Janeiro parecia revelar uma certa dualidade, já que envolvia tanto pessoas que foram morar em áreas mais abastadas quanto pessoas que foram para áreas mais pobres. Será importante investigar se essa separação permaneceu ou se os fluxos sofreram diferenças também em termos sociais e econômicos.

Os movimentos pendulares, por sua vez, apresentaram mudanças mais significativas na metrópole do Rio de Janeiro, especialmente pelo aumento tanto no volume quanto na proporção de pessoas que realizam deslocamento para outro município em função de trabalho, esse aumento ocorreu em todos os municípios. A metrópole passou a ter quase 1 milhão de pessoas se deslocando cotidianamente entre municípios, fora os que se movimentam internamente a esses. Embora tenha ocorrido esse aumento considerável, diminuiu a participação daqueles que saem da periferia para trabalhar no núcleo, de aproximadamente 65% para 61%, mas ainda é predominante esse tipo de deslocamento. Vale notar que, apesar de em número mais reduzido se comparado aos outros deslocamentos e de ter pequena participação no total (4,7% em 2010), a quantidade de pessoas que sai do núcleo para trabalhar na periferia dobrou na década de 2000, indicando a importância de avaliar conjuntamente a saída de pessoas dos municípios, mas também a atração para trabalho exercida por cada um desses. Até porque, assim como ocorre com os movimentos migratórios, os movimentos pendulares na própria periferia também aumentam consideravelmente, e já se sabe que alguns subcentros metropolitanos atraem população para trabalho.

Finalmente, é importante reconhecer mais uma vez que os movimentos populacionais expressam as estratégias e trajetórias da população em sua busca pela apropriação efetiva da cidade, do urbano, do metropolitano. Essa busca pode estar ligada a dimensões econômicas, sociais, ambientais, etc. – a aspectos objetivos e subjetivos que atuam sobre os movimentos da população no espaço. Portanto, algumas novas lógicas de mobilidade espacial merecem ser mais investigadas, especialmente a dinâmica metropolitana impulsionada mais recentemente nos municípios que historicamente foram considerados como periféricos, mas que apresentam atualmente uma diversidade econômica e social enorme, não havendo um conteúdo claro quanto a essa definição. Além disso, parte dos movimentos populacionais na Metrópole do Rio de Janeiro está relacionada a dinâmicas peculiares de sua realidade local, ao mesmo tempo, as transformações econômicas, sociais, políticas que o país vem passando de maneira geral – como as mudanças na inserção no mundo trabalho, por exemplo – também influenciam a movimentação das pessoas no espaço.

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Referências

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