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LIXO LIMPO VIRA LEITE EM PÓ

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Academic year: 2021

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MOVIMENTO SAÚDE AMBIENTAL

Apresenta

“LIXO LIMPO VIRA LEITE EM PÓ”

Céu do Mapiá – Amazonas

2011

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Introdução

A campanha “Lixo limpo vira leite em pó” é uma das ações realizadas pelo movimento Saúde Ambiental na Vila Céu do Mapiá, situada na Floresta Nacional do Purus, município de Pauiní, estado do Amazonas. Tendo por objetivo incentivar a coleta seletiva na comunidade, o movimento promove a troca de uma lata de leite em pó por um saco cheio (em média de 8 quilos) de lixo selecionado e limpo. O lixo recolhido é novamente separado pelos voluntários do movimento, e uma parte é utilizada em oficinas de reciclagem e na fabricação de objetos (móveis, brinquedos, etc.), e a outra, é armazenada em local apropriado para que não seja queimado ou enterrado no solo. Atualmente a maioria das famílias da comunidade participa da campanha e a consciência dos cidadãos em relação ao trato do lixo tem melhorado cada vez mais.

A Vila Céu do Mapiá

A Vila Céu do Mapiá (figura 1) é a maior comunidade da Floresta Nacional do Purus, uma Unidade de Conservação de Uso Sustentável situada na porção ocidental do estado do Amazonas (ver mapas em anexo). Localizada em meio a floresta amazônica, a vila possui em média 600 habitantes que vivem principalmente da agricultura de subsistência, do turismo, do artesanato e do manejo florestal madeireiro. Devido às suas características culturais, a comunidade possui uma população diversificada onde a maioria da população, descendente de povos tradicionais da Amazônia como os seringueiros e caboclos, convive com pessoas oriundas de outras regiões brasileiras e também de outros países. A realidade amazônica é, e sempre foi um local, de forte atração para aqueles que buscam conhecer, e até habitar, ambientes distantes das grandes cidades e cercados de natureza.

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Figura 1. Imagem de satélite da comunidade Vila Céu do Mapiá – AM.

Fonte: Google Earth.

A principal via de acesso à vila é o igarapé Mapiá, afluente do médio Purus, por meio do qual tem acesso à cidade mais próxima, Boca do Acre, que fica no encontro dos Rios Purus (Foto 1) e Acre. Esta região apresenta alguns dos menores IDHs (Índice de Desenvolvimento Humano) do país e recebe pouca atenção, por parte dos órgãos administrativos públicos e do resto da população brasileira.

A comunidade criada em 1983, atualmente conta com uma escola estadual que oferece Ensino Fundamental e Médio. De tempos em tempos, a mesma abriga cursos e oficinas através de visitantes e instituições interessadas em contribuir com o desenvolvimento sustentável do local e da região.

Foto: a canoa é o principal meio de transporte para entrar e sair da vila. A viagem até a cidade mais próxima pode demorar de sete horas (na cheia) a dois dias (na seca), dependendo da época do ano.

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Foto 1: O Rio Purus é um dos principais afluentes do Rio Solimões e um dos maiores rios da Amazônia.

A problemática do lixo

O igarapé Mapiá, por suas características, não permite em nenhuma época do ano a circulação de grandes embarcações, suportando apenas as pequenas embarcações como canoas e voadeiras. Este fator determinou que o manejo de transporte do lixo se restringisse ao espaço geográfico da comunidade, que tradicionalmente resolvia o problema do lixo queimando-o ou enterrando-o no solo, ou mesmo deixando a céu aberto (foto 2), causando assim fortes impactos no ambiente e riscos para a saúde humana. A comunidade, como não dispõe de serviço de limpeza pública oferecido pela prefeitura local, teve de arcar com a responsabilidade de encaminhar o lixo a um destino apropriado e daí surgiu o movimento de Saúde Ambiental, como veremos a seguir.

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O Movimento Saúde Ambiental

O movimento Saúde Ambiental surgiu em 1997, como conseqüência da preocupação dos jovens da comunidade, alarmados com o acúmulo de resíduos domésticos e comerciais em locais inapropriados (cursos d’água, quintais residenciais, vias públicas e caminhos nas matas) e da falta de ações do poder público, agravada pela dificuldade de acesso já citada. As primeiras ações se basearam na limpeza dos caminhos e igarapés (campanha “Lixo no lixo”), divulgação de materiais informativos (plaquetas educativas) pelos caminhos e passeatas de conscientização. Este movimento inicial não teve nenhum apoio financeiro e material de instituições, ONGs e muito menos, do poder público, e todos os envolvidos participaram como voluntários em dias de mutirão (atividade realizada tradicionalmente na comunidade toda segunda-feira).

Em 2004 ocorreu importante mudança estratégica no movimento. Um estudo da WWF-Brasil, oferecido à população, dentro do Plano de Desenvolvimento Comunitário (PDC), ao analisar as condições ambientais do local, em especial o manejo de resíduos, concluiu que a mais acertada política seria a da coleta seletiva e armazenamento de plásticos, metais, vidros, isopor e embalagens tetrapak. Além disto, propunha o estímulo à compostagem dos resíduos orgânicos produzidos nas residências. A partir do PDC o movimento ganhou força e passou a ser chamado de Saúde Ambiental. Nesta primeira etapa da nova estratégia a adesão da comunidade foi relativamente baixa, com o apoio de 20 famílias num universo de 120 famílias.

Mudanças de compreensão do grupo que lidera o movimento foram importantes e, então, criou-se adaptações às práticas sugeridas pela WWF-Brasil. Tratou-se, a partir daí, de dar benefícios diretos para a população estimulando a seleção, limpeza e entrega do resíduo reciclável. Primeiro foram criadas oficinas lúdicas para as crianças e jovens da comunidade em torno da educação ambiental e da reciclagem de materiais recolhidos. Estas oficinas tiveram como benefício adicional às famílias o reforço educativo, o reforço alimentício (lanches nutritivos são servidos nas oficinas), além do cuidado com as crianças por um determinado tempo da semana permitindo aos pais e mães maior espaço para outras atividades. Assim, o movimento também criou vínculos com a escola local, oferecendo atividades conjuntas regulares de aprendizado ambiental, artístico e

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cultural, como complemento e reforço ao currículo convencional numa comunidade de poucos recursos.

“Lixo limpo vira leite em pó”

Para incentivar ainda mais a participação das famílias, o movimento criou a campanha “LIXO LIMPO VIRA LEITE EM PÓ”. Considerando a importância do leite na dieta diária das famílias e considerando também o preço em que o leite em pó é vendido dentro da comunidade (de R$ 10,00 a R$ 14,00 dependendo da marca), o movimento passou a trocar uma lata de leite em pó por um saco cheio de lixo limpo (em média de oito quilos). O leite em pó utilizado na campanha é na maior parte doado pela lanchonete “Vendinha da Floresta”, localizada no centro da vila, que gasta grande parte de seu lucro na compra do leite. Uma pequena parte chega através de doações de visitantes e de comerciantes da cidade de Boca do Acre. Muitas famílias carentes já contam com o leite recebido na campanha e por isso se preocupam cada vez mais em separar e limpar seu lixo doméstico. São trocados em média, 35 sacos de lixo por semana.

A adesão das famílias cresceu muito com as mudanças introduzidas, e hoje das 140 famílias que residem na comunidade, 120 participam ativamente da coleta seletiva, perfazendo um índice de 85% de inserção. Apenas para ilustrar, a cidade brasileira com melhor índice de coleta seletiva de resíduos não chega a 5% do total de famílias, e a média nacional de coleta seletiva em volume é de 0,008% em relação ao total de resíduos produzidos por habitante (fonte). Desta maneira, a campanha fez com que a vila Céu do Mapiá, seja a campeã brasileira na participação das famílias na coleta seletiva.

Resumo das principais atividades realizadas pelo Movimento hoje:

Em dias de mutirão (toda segunda-feira): - Coleta de lixo das vias e espaços públicos; - Campanha “Lixo limpo vira leite em pó”;

- Separação do lixo recolhido por tipo de material: plásticos, vidros, metais, isopor, pilhas, etc. Uma parte é utilizada nas oficinas e outra, é armazenada no galpão de reciclagem;

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- Fabricação e instalação de lixeiras públicas feitas com material reciclado; - Produção de plaquetas educativas.

Outros:

- Oficinas de arte e reciclagem com crianças, jovens e adultos onde são produzidos pequenos móveis de garrafas pet, brinquedos e outros objetos, feitos com materiais reciclados. Estas oficinas, também são oferecidas na escola junto aos professores;

- Gincana Ambiental em parceria com a escola local.

- Periódico semestral “A Folha Reciclada”, com informações educativas e divulgação das ações do movimento.

Metas do movimento.

O movimento possui um terreno próximo a área central da vila onde há espaço para construir as estruturas necessárias para o seguimento das atividades, e realizar, diversas experiências com a educação ambiental e alternativas ecológicas de ocupação do espaço. Além, deste terreno, são necessárias outras estruturas para o transporte e armazenamento do lixo não utilizado.

Os principais objetivos do movimento atualmente são:

- Construção de um espaço para realização de oficinas de reciclagem, arte e educação ambiental. A própria estrutura do imóvel poderá ser feita com novas tecnologias sociais, utilizando materiais reciclados e de modo ecológico;

- Construção de um espaço para a separação do lixo recolhido na comunidade;

- Construção de um novo galpão próprio para armazenamento do lixo;

- Continuação e ampliação das campanhas já desenvolvidas (incluindo patrocínio para a compra de leite em pó);

- Continuação e ampliação das oficinas de reciclagem, arte e educação ambiental;

-Continuação e ampliação da pareceria com a escola estadual Cruzeiro do Céu.

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Considerações finais

A questão do lixo no mundo ainda é um desafio a ser solucionado pela humanidade, e na Amazônia este problema se torna ainda mais grave devido às grandes distâncias, ausência do poder público e falta de projetos que busquem dar alternativas de consumo para a população local. A reciclagem do lixo tem se mostrado uma alternativa para a vila Céu do Mapiá, apesar de não impedir a produção de resíduos sólidos no local , principalmente, embalagens de produtos industrializados.

O movimento de Saúde Ambiental já conseguiu melhorar muita coisa, os caminhos já não são tão sujos e muitos materais são reutilizados com praticidade e criatividade nas oficinas; as famílias já não enterram nem queimam tanto lixo e as crianças incentivam os pais a limparem e juntarem o lixo para trocar pelo leite em pó. O que ainda falta é apoio financeiro e técnico para os inúmeros projetos do movimento, e no caso da campanha, há necessidade de patrocínio para o fornecimento do leite em pó, para que ela possa se expandir e incentivar cada vez mais pessoas a cuidar de seu lixo de uma maneira mais direcionada e ecológica.

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ANEXOS

MAPAS DE LOCALIZAÇÃO DA FLORESTA NACIONAL DO PURUS E DA COMUNIDADE VILA CÉU DO MAPIÁ.

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FOTOS DE ALGUMAS ATIVIDADES DO MOVIMENTO DE SAÚDE AMBIENTAL.

1. CAMPANHA “LIXO LIMPO VIRA LEITE EM PÓ”.

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Famílias exibem seus saquinhos de leite em pó, trocados pelos sacos de lixo limpo. 2. MUTIRÕES:

Lixo limpo recolhido e entregue pelos moradores.

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O lixo para ser armazenado é preciso ser transportado até o galpão.

Este é o galpão de armazenamento. Atualmente, super lotado.

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Lixeiras feitas de materiais reciclados.

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3. OFICINAS

Oficina de banquinhos feitos de garrafas pet, brinquedos e fantoches.

Oficina com jovens e adultos para produzir bancos e outros objetos úteis. Aqui a criatividade toma conta.

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Produtos das oficinas de jovens e adultos: banquinhos feitos de garrafas pet com acabamento de papietagem e pintados a mão.

Referências

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