PORTUGUÊS
REVOLUCIONÁRIO É GANHAR DINHEIRO
Se não fosse por dinheiro, eu não escreveria. Não confio em quem escreve de graça. Escrever é um trabalho como outro qualquer. Ninguém trabalha de graça no Rei do Mate. Ninguém trabalha de graça na Drogaria Pacheco. Então só um desequilibrado quereria escrever de graça. Se não me pagassem para escrever, eu agora estaria na frente da televisão, vendo uma luta de Minotouro ou um torneio de bilhar. Passar o dia todo na frente da televisão é melhor do que escrever.
A relação dos brasileiros com o dinheiro sempre foi muito atrapalhada. A eleição de Lula ajudou a embaralhar nossa cabeça. Pegue por exemplo, essa última viagem do presidente à Venezuela. No fim do encontro, Lula e Hugo Cháves declararam que o comércio com os países do Sul é mais importante do que com os Estados Unidos ou Europa, “mesmo que custe mais caro”. Na opinião deles, o ruim e o caro são preferíveis ao bom e ao barato. Países cujos líderes defendem a utilidade de perder dinheiro só podem ir para o buraco. Aparentemente, Cháves demonstrou seu espírito de sacrifício comprando caças-bombardeiros brasileiros por 300 milhões de dólares. Agora Lula tem a obrigação de fazer o seguinte: pegar o telefone, ligar para o presidente da França, Jacques Chirac, e comunicar-lhe quanto desse dinheiro será destinado para combater a fome na Etiópia. Não foi o próprio Lula, quem lançou a idéia de taxar o comércio internacional para criar um Fome Zero planetário?
Se o Lula tem o Fome Zero, os novos chefes do Legislativo, Renan Calheiros e Severino Cavalcanti, não ficam muito atrás. O primeiro criou Criança Cidadã, um programa assistencial para atender a juventude da Zona da Mata alagoana. O segundo é autor da Mãe Crecheira, um programa assistencial que beneficia mães carentes com filhos menores de seis anos. Os comentaristas políticos deram atenção exagerada à derrota do governo na Câmara, esquecendo de mencionar o dado mais significativo: a grande satisfação lulista pelo triunfo de Renan Calheiros, seu candidato do Senado. Trata-se do mesmo Renan Calheiros que, até pouco tempo atrás, era definido pelo PT como um político “que tenta posar de democrata, mas caiu fora do governo Collor quando o barco já estava afundado, porque não recebeu tudo o que queria do esquema PC”
O fato é que Lula, Severino Cavalcanti e Renan Calheiros são iguais e se entendem. Representam um tipo de sociedade falimentar em que o valor de trabalho foi subvertido. Uma sociedade que dá esmola ao pobre, subsídio ao rico, cargo ao correligionário, emprego ao parente, reserva de mercado ao industrial, informação privilegiada ao político, impunidade ao corrupto, aposentadoria a quem não contribui, financiamento a fundo perdido ao artista, terra ao grileiro, liberdade ao escravista. Repito o que já disse em outro lugar: revolucionário, no Brasil, é ganhar dinheiro sem falcatruas. Quanto mais, melhor.
Diogo Mainardi – Veja, 23/2/2005.
01. A leitura do primeiro parágrafo do texto possibilita o entendimento de que: a) escrever é um trabalho que requer habilidade específica;
b) é considerado desequilibrado todo aquele que trabalha de graça; c) as pessoas que escrevem de graça não são dignas de confiança; d) a remuneração é necessária a quem trabalha;
02. No primeiro parágrafo do texto, se substituíssemos o ponto que une os dois períodos “Ninguém trabalha de graça no Rei do Mate. Ninguém trabalha de graça na Drogaria Pacheco.” por um conectivo, não haveria ruptura semântica em:
a) contanto que; b) por conseguinte; c) nem;
d) ainda que; e) apesar de.
03. “Se não me pagassem para escrever, eu agora estaria na frente da televisão, vendo uma luta de Minotouro ou um torneio de bilhar.” O comentário adequado à estrutura desse segmento do texto é:
a) há três períodos: coordenados e subordinados;
b) o emprego das vírgulas destacam uma oração adjetiva explicativa;
c) a terceira oração é uma reduzida de gerúndio que pode ser desenvolvida em uma oração substantiva;
d) a conjunção ‘ou’ tem um valor semântico aditivo;
e) a primeira oração do período é uma subordinada adverbial.
04. O texto é claramente expositivo e se estrutura em torno de uma tese que é explicitada em: a) “Se não fosse por dinheiro eu não escreveria.”
b) “Ninguém trabalha de graça no Rei do Mate.”
c) “Repito o que já disse em outro lugar: revolucionário, no Brasil, é ganhar dinheiro sem falcatruas.”
d) “O fato é que Lula, Severino Cavalcanti e Renan Calheiros são iguais e se entendem.” e) “A relação dos brasileiros com o dinheiro sempre foi muito atrapalhada.”
05. “A relação dos brasileiros com o dinheiro sempre foi muito atrapalhada.” Ao fazer essa afirmação, o autor do texto a fundamenta com a seguinte passagem:
a) “A eleição de Lula ajudou a embaralhar nossa cabeça. Pegue por exemplo, essa última viagem do presidente à Venezuela.”
b) “Não foi o próprio Lula, quem lançou a idéia de taxar o comércio internacional para criar um Fome Zero planetário?”
c) “No fim do encontro, Lula e Hugo Cháves declararam que o comércio com os países do Sul é mais importante do que com os Estados Unidos ou Europa, “mesmo que custe mais caro”. Na opinião deles, o ruim e o caro são preferíveis ao bom e ao barato.”
d) “Aparentemente, Cháves demonstrou seu espírito de sacrifício comprando caças-bombardeiros brasileiros por 300 milhões de dólares. Agora Lula tem a obrigação de fazer o seguinte: pegar o telefone, ligar para o presidente da França, Jacques Chirac, e comunicar-lhe quanto desse dinheiro será destinado para combater a fome na Etiópia.”
e) “Países cujos líderes defendem a utilidade de perder dinheiro só podem ir para o buraco.” 06. O título do texto se justifica em:
a) “Se não fosse por dinheiro, eu não escreveria.”
b) “Os comentaristas políticos deram atenção exagerada à derrota do governo Câmara, esquecendo de mencionar o dado mais significativo: a grande satisfação lulista pelo triunfo de Renan Calheiros, seu candidato do Senado.”
c) “Repito o que já disse em outro lugar: revolucionário, no Brasil, é ganhar dinheiro sem falcatruas. Quanto mais, melhor.”
d) “O fato é que Lula, Severino Cavalcanti e Renan Calheiros são iguais e se entendem. Representam um tipo de sociedade falimentar em que o valor de trabalho foi subvertido.”
e) “Uma sociedade que dá esmola ao pobre, subsídio ao rico, cargo ao correligionário, emprego ao parente, reserva de mercado ao industrial, informação privilegiada ao político, impunidade ao corrupto, aposentadoria a quem não contribui, financiamento a fundo perdido ao artista, terra ao grileiro, liberdade ao escravista.”
07. “...Lula e Hugo Cháves declararam que o comércio com os países do Sul é mais importante do que com os Estados Unidos ou Europa...” o termo sublinhado possui o mesmo valor sintático em:
a) “O segundo é autor da Mãe Crecheira, um programa assistencial que beneficia mães carentes com filhos menores de seis anos.”
b) “Os comentaristas políticos deram atenção exagerada à derrota do governo Câmara, esquecendo de mencionar o dado mais significativo: a grande satisfação lulista pelo triunfo de Renan Calheiros, seu candidato do Senado.”
c) “Trata-se do mesmo Renan Calheiros que, até pouco tempo atrás, era definido pelo PT como um político “que tenta posar de democrata, mas caiu fora do governo Collor quando o barco já estava afundado, porque não recebeu tudo o que queria do esquema PC”.
d) “O fato é que Lula, Severino Cavalcanti e Renan Calheiros são iguais e se entendem.” e) “Aparentemente, Cháves demonstrou seu espírito de sacrifício comprando caças-bombardeiros brasileiros por 300 milhões de dólares.”
08. “Uma sociedade que dá esmola ao pobre, subsídio ao rico, cargo ao correligionário, emprego ao parente, reserva de mercado ao industrial, informação privilegiada ao político, impunidade ao corrupto, aposentadoria a quem não contribui, financiamento a fundo perdido ao artista, terra ao grileiro, liberdade ao escravista.” Sobre esse segmento do texto pode-se dizer que:
a) “Revolucionário é ganhar dinheiro”;
b) “O fato é que Lula, Severino Cavalcanti e Renan Calheiros são iguais e se entendem.” c) “Representam um tipo de sociedade falimentar em que o valor de trabalho foi subvertido.” d) “Países cujos líderes defendem a utilidade de perder dinheiro só podem ir para o buraco.” e) “Na opinião deles, o ruim e o caro são preferíveis ao bom e ao barato.”
09. No segmento “A relação dos brasileiros...”, o termo dos brasileiros indica um agente do termo anterior. O item em que o termo sublinhado possui um valor diferente é:
a) Cargo ao correligionário; b) Impunidade ao corrupto; c) Liberdade ao escravista; d) Terra ao grileiro;
e) Emprego ao parente.
10. “Os comentaristas políticos deram atenção exagerada à derrota do governo na Câmara, esquecendo de mencionar o dado mais significativo: a grande satisfação lulista pelo triunfo de Renan Calheiros, seu candidato do Senado.”
O acento grave indicativo da crase neste segmento se deve a:
a) Ocorrência a união da preposição a com o artigo definido feminino singular; b) Regência do verbo exagerada exige o uso da preposição a;
c) A obrigatoriedade do emprego do artigo definido feminino singular; d) Fazer parte de uma locução adverbial;
GABARITO 01. D
Comentário: É possível inferir que as pessoas trabalham por necessidade e não por mero lazer. Observemos as outras opções:
a) escrever é um trabalho que requer habilidade específica; erro de extrapolação.
b) é considerado desequilibrado todo aquele que trabalha de graça; ‘todo aquele?’ No texto “... só um desequilibrado quereria escrever de graça...”.
c) as pessoas que escrevem de graça não são dignas de confiança; “Não confio em quem...”; opinião do autor que não pode ser generalizada por todo entendimento do primeiro parágrafo.
d) CORRETA.
e) não há pessoa que escreva de graça. Uma vez que o autor não confia em quem escreve de graça, há alguém que escreva de graça... no qual ‘ele’ não confia.
02. C
Comentário: Do mesmo modo que o e, o conectivo NEM marca uma relação de adição entre os segmentos coordenados, porém o NEM adiciona segmentos negativos ou privativos.
03. E
Comentário: O período é subordinado e a oração reduzida de gerúndio não pode ser desenvolvida em oração substantiva, visto que o gerúndio tem valor adverbial.
04. C
Comentário: A tese / tema de um texto dissertativo, seja ele qual for, deve ser verificada na introdução e/ou conclusão, a fim de ratificá--la ou refutá-la.
05. E
Comentário: Se o líder de uma nação – Brasil – defende a utilidade de perder dinheiro, a relação dos brasileiros com o mesmo tende a ser “atrapalhada”.
06. C
Comentário: Assim como a tese de todo o texto, o título se justifica na conclusão. Não basta ‘ganhar dinheiro’, não basta ‘trabalhar’, é necessário fazer a diferença, ou seja, é necessário revolucionar. E, aqui no Brasil, é revolucionário o trabalhador que ganha sem falcatruas.
07. E
Comentário: O termo sublinhado é uma oração subordinada substantiva objetiva direta e a opção E possui um objeto direto.
08. C
Comentário: Lula, Severino Cavalcanti e Renan Calheiros são iguais, se entendem e representam uma sociedade. Sociedade esta que “... dá esmola ao pobre, ... liberdade ao escravista”.
08. E
Comentário: O termo dos brasileiros no texto exerce a função sintática de adjunto adnominal, que é um termo agente do termo anterior – caso genitivo –, e o termo ao parente exerce a função sintática de complemento nominal dentro do contexto, uma vez que parente é empregado e não possuidor do termo anterior.
10. A
Comentário: O verbo ‘dar’, bitransitivo no contexto apresentado, exige a presença da preposição a que fará a fusão com o artigo feminino singular que precede a palavra derrota.
