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DIREITOS HUMANOS E SOBERANIA POPULAR: A PROPOSTA DE JÜRGEN HABERMAS

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DIREITOS HUMANOS E SOBERANIA POPULAR: A PROPOSTA DE

JÜRGEN HABERMAS

VITÓRIA ARRUDA BORGES ICARO PINHO DIAS FRANCISCO ROMULO ALVES DINIZ

Resumo: O artigo aborda a articulação entres os princípios da Soberania Popular e dos Direitos Humanos, analisado sob

a perspectiva de Jürgen Habermas. Parte-se da análise que Habermas realiza das propostas de Rousseau Kant, indicando os limites daquelas e apontando para uma possível uma cooriginariedade entre os suprareferidos princípios. Investigou-se, ao mesmo tempo, o alcance da teoria discursiva do Direito e sua contribuição ao problema proposto. Percebeu-se, assim, os Direitos Humanos como direitos fundamentais de liberdade individual e Soberania

Popular como os direitos políticos de participação e comunicação, modo pelo qual Habermas articula uma maneira de

suplantar a concorrência entre estes princípios, buscando um nexo entre ambos, nexo que seria assegurado através da formação discursiva da opinião e da vontade, e assim superar as propostas de concorrência inconfessada de Rousseau e Kant, fugindo do paradigma da filosofia da consciência.

Palavras-chave: Soberania Popular. Direitos Humanos. Direito. Democracia.

INTRODUÇÃO

Pretende-se esclarecer a relação entre Direitos Humanos e Soberania Popular a partir do pensamento do filósofo e sociólogo alemão Jürgen Habermas (1929) realizado a partir do seu texto de 1992, Faktizität und Geltung, com vistas a demarcar os alcances como também os limites de cada um dos princípios. Para tanto, faremos um cotejamento das reflexões realizadas a esse respeito a partir de duas obras de dois filósofos modernos, a saber, Jean-Jacques Rousseau (1712 – 1778) e Immanuel Kant (1724 – 1804).

Derivam de Rousseau e Kant os princípios em questão, de um lado os Direitos Humanos que encontram no pensamento kantiano seu respaldo a partir da concepção de liberdade defendida por ele tanto na sua filosofia teórica quanto na sua filosofia prática.1 Em Rousseau

pode conceber a defesa da Soberania Popular a partir do seu Contrato Social e O Discurso sobre a origem

1 Cf. A esse respeito veja-se a Crítica da Razão Pura e a fundamentação transcendental da liberdade; mais adiante a Crítica da Razão Prática; como também A Metafísica dos Costumes, e a Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Esta última

apresenta as configurações da liberdade como fundamento da moral e do Direito. Também na primeira parte da

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das Desigualdades entre os homens Habermas irá confrontar esses dois autores, destacando as suas

contribuições, mas ao mesmo tempo mostrando os limites de cada proposta.

À medida que se avançar na análise dos dois princípios, tocaremos dois conceitos caros ao Direito moderno, a saber, autonomia pública e autonomia privada. Delimitaremos os seus contornos e perceberemos como eles indicam o caminho para uma possível cooriginariedade entre a moral e o Direito. Certamente que tocaremos essas questões não de forma aprofundada, pois nos desviaria do nosso objeto de investigação.

Por fim, mostraremos como Habermas sugere a superação dos modelos kantianos e rousseaunianos, uma vez que eles se fundamentam no paradigma da consciência, propondo, uma correção da proposta kantiana a partir de Rousseau e deste a partir da de Kant. Além da correção ele indica uma mudança paradigmática a partir da qual elabora sua leitura do problema da conciliação entre os dois princípios.

DIREITOS HUMANOS E SOBERANIA POPULAR

Para que se possa compreender o problema dos princípios dos Direitos Humanos e da

Soberania Popular, deve-se entender, primeiramente, o Direito e os seus conceitos fundamentais,

isto é, o que é o direito e qual sua finalidade. Partindo da interpretação comum do Direito enquanto normas reguladoras da conduta humana, que possui uma força coativa, e com a intenção última de promover a justiça social, é possível compreender qual a relação do Estado com a Soberania Popular. Esta sendo a ideia segundo a partir da qual o Estado é criado e está submisso à vontade das pessoas, sendo estas a fonte de todo poder.

Como dito, todos se encontram em um Estado, e mesmo sem uma aquiescência expressa, todos estão sujeitos à vida em coletividade, aceitando a limitação da liberdade. Predomina-se desse modo a autonomia pública. Entendendo a criação do Estado a partir de um contrato social hipotético presume-se que os indivíduos aceitam estabelecer um acordo, uns com os outros,

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abrindo mão, na condição de um ser livre, de alguns direitos tendo em troca o direito de proteção contra os perigos de um estado natural.2

Sem pôr em questão a origem histórica das normas, mas buscando na lógica sua razão maior, isto é, sua eficácia, sua validade e legitimidade, através de um processo legislativo, que tem no princípio da Soberania Popular sua fundamentação última, vista a partir da versão rousseauniana, surge a necessidade de relacionar o Estado ao Direito, conciliação do político com o jurídico, uma vez que o Estado é uma sociedade organizada, e para tal organização é indispensável ao Direito. É este que deve promover o controle social, com uma função ordenadora, imperativa, de modo a organizar os conflitos sociais e interesses diversos.

Não obstante, para entender as relações entre os princípios da Soberania Popular e dos

Direitos Humanos, é preciso entender as relações entre o direito e a moral, e aqui o ponto em que

Habermas indica serem estes cooriginais.3 O conceito de moral, primeiramente observando a

visão de Kant, se caracteriza pela relação do indivíduo com a própria consciência, com pretensão à universalidade, um dever agir sempre baseado naqueles princípios que desejaria ver aplicados universalmente, um agir livre, pois o indivíduo obedece apenas às leis criadas pela sua consciência moral, e que atinge a todos (Kant, 2007).

O termo Direito pode ser entendido como liberdades garantidas. Dessa maneira, os

Direitos Humanos baseiam-se no princípio do respeito ao indivíduo, de forma a garantir-lhes

liberdade e dignidade. E são denominados Direitos Humanos por serem universais, e estão, numa análise kantiana, ligados intrinsecamente ao liberalismo. Já a Soberania Popular trata de uma autorrealização ética a partir de uma história de uma comunidade política, que compartilha valores que formam uma identidade coletiva, numa análise rousseaniana. Dessa forma, Habermas busca uma parcialidade entre ambas, buscando uma complementaridade. Para ele, o exercício da

Soberania Popular assegura ao mesmo tempo os Direitos Humanos. (Habermas, 1994, p. 611).

2 Cf. HOBBES, T. O Leviatã.

3 A tese da defesa de uma cooriginariedade entre o direito e a moral pode ser vista no texto Faktizität und Geltung de 1992.

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Analisa-se, assim, a proposta de Rousseau, e posteriormente a de Kant, para poder compreender como Habermas pretende corrigir Kant por meio de Rousseau e Rousseau por meio de Kant. Visto que tanto a tradição liberal como a republicana mostram certa hierarquia e subordinação entre os princípios, o que afeta o seu nexo interno.

Neste sentido, na análise acerca dos Direitos Humanos e da Soberania Popular, não tem em Habermas uma originalidade total para seu propósito, pois já em Rousseau e Kant seria possível perceber o objetivo de pensar, partindo do conceito de autonomia, a interpretação mútua entre os dois princípios. Todavia, na base dos pensamentos daqueles filósofos os princípios se mostravam com uma concorrência inconfessada, visto que Rousseau, como dito anteriormente, estava de um lado republicano, da Soberania Popular (ético-voluntário), e Kant, de um lado liberal,

Direitos Humanos (moral-cognitivo).

As tradições políticas surgidas nos Estados Unidos e caracterizadas como “liberais” e “republicanas” interpretam os Direitos Humanos como expressão de uma autodeterminação moral e a soberania do povo como expressão de auto-realização (sic) ética. Nesta perspectiva, os Direitos Humanos e a Soberania Popular não aparecem como elementos complementares, e sim, concorrentes. (HABERMAS, 1997, P. 133)

A influência da doutrina contratualista de Rousseau foi fundamental na determinação dos movimentos de afirmação e defesa dos direitos naturais da pessoa humana, sendo ela marcante no pensamento moderno e até os dias atuais sua obra serve como base fundamentar ou mesmo justificar análises políticas e morais, exercendo, contudo, maior repercussão no plano prático tais como, a Revolução Francesa e o Iluminismo. Em sua teoria verifica-se a afirmação da igualdade como fundamento da sociedade, da legitimidade do povo como soberano, e da necessidade do contrato social para garantir os direitos da coletividade, com a consciência de que existem interesses coletivos diversos dos interesses de cada membro da coletividade. E os direitos da coletividade seriam determinados pela vontade humana que daria fundamento à sociedade, pondo leis em prática visando o bem-estar de todos e instituindo a vontade geral baseado na igualdade e firmando assim a fraternidade.

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Na visão de Rousseau, no estado de natureza o homem embora seja essencialmente bom, só se preocupa com sua própria conservação prescindindo a desigualdade natural, assim, por meio de convenções, todos concordam na prevalência da vontade geral, que é a lei. Lei essa que firma direitos e deveres entre os cidadãos e permite que se estabeleça uma sociedade justa, com igual justiça. É então que a associação a partir do contrato produz um corpo coletivo e moral, que é o Estado, onde há a substituição da liberdade natural pela liberdade moral ou civil, uma vez que todos buscam viver juntos em condições de liberdade e igualdade (ROUSSEAU, 1978, p.36).

Segundo Rousseau, o homem ao renunciar à própria liberdade abre mão da qualidade que o define como homem. E para ele a desigualdade suprime gradativamente a liberdade dos indivíduos. Em seu livro A origem da desigualdade entre os homens Rousseau questiona qual a origem da desigualdade entre os homens e se esta é autorizada pela lei natural. Propõe assim, dois tipos de desigualdades; a desigualdade natural e a desigualdade moral. A desigualdade natural (ou física) é estabelecida pela natureza, e que consiste na diferença das idades, da saúde, das forças do corpo e da qualidade do espírito, ou da alma. Já as desigualdades morais (ou políticas) dependem de uma espécie de convenção e que é estabelecida ou, pelo menos, autorizada pelo consentimento dos homens que consiste nos diferentes privilégios de que gozam alguns com prejuízo dos outros. E esta desigualdade provém da desigualdade natural, posto que dá-se primeiramente ao mais forte autoridade sobre o mais fraco, conforme indica a seguir: “Renunciar à liberdade é renunciar à qualidade de homem, aos direitos da humanidade, e até aos próprios deveres [...] Tal renúncia é incompatível com a natureza do homem, e destituir-se voluntariamente de toda e qualquer liberdade equivale a excluir a moralidade de suas ações. ” (Rousseau, 1978, p. 27)

Desse modo, a razão de ser do Estado realiza-se na finalidade social. No entanto, faz-se necessário administrar a liberdade dos indivíduos que deverá ser controlada até certo limite, necessária para que o Estado consiga desempenhar suas funções. Na visão de Rousseau, apesar dos homens abrirem mão de sua liberdade e independência naturais, os indivíduos permanecem tão livres quanto antes porque só obedecerão às leis que eles próprios instituírem. (ROUSSEAU, 1978, p. 36) O governante, nesta mesma visão, é representante e executor da vontade dos

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indivíduos (soberania do povo). Cada membro da comunidade dar-se-ia a ela no início em que esta se forma; os bens que a comunidade possui dela fazem parte. Assim, o pacto fundamental, ao invés de destruir a igualdade natural, a substitui por uma igualdade moral e legitima a desigualdade física que a natureza pode pôr entre os homens, fazendo com que estes, enquanto possam ser desiguais em força ou em talento, se tornem iguais por convenção ou por direito.

Por fim, Rousseau indica que o objetivo de todo sistema de legislação se reduz a dois objetos principais: a liberdade e a igualdade. Cabendo a cada cidadão buscar preservar estas sem influenciar na supressão da liberdade dos seus semelhantes, havendo a conciliação de interesses. Assim, o justo estaria implícito no ideal das pessoas como sendo livres e iguais, o que caracteriza uma sociedade democrática. Desse modo, ideias que constituem a base do pensamento de Rousseau são atualmente consideradas fundamentos da democracia.

Dessa maneira, vê-se na proposta de Rousseau que há uma subordinação entre os princípios da Soberania Popular e dos Direitos Humanos, visto que, em sua doutrina há uma maior preocupação com a Soberania Popular, ou seja, com os direitos de participação política, um republicanismo.

Em relação a Kant, importa frisar o que indica Luiz Repa, (2013, 106/107)

O conceito de autonomia kantiano seria, como dá a entender Habermas, mais complexo que o de Rousseau, na medida em que ele não se expressa apenas pelo princípio da democracia (vontade unida do povo), mas também no princípio moral (o imperativo categórico na ética) e o princípio do direito (a lei universal do direito). É na articulação desses três princípios – que, para Habermas, permanece obscura – que se fundamentaria a intuição kantiana da cooriginariedade de direitos humanos e soberania popular.

Ora, o que nos é possível inferir da leitura da obra de Kant é que seu conceito de

autonomia é mais complexo e dele pode-se derivar outros conceitos que originam direitos

fundamentais, tais como a liberdade, a igualdade e a cidadania. (Cf. REPA, 2013, p. 107) Ao mesmo tempo nos chama a atenção para a fundamentação moral dos direitos. Por outro lado, Kant não criou uma ideia de um contrato social hipotético, mas se preocupava ao máximo em proteger os Direitos Humanos e garantir a dignidade da pessoa humana. Segundo o filósofo, para se

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entender o que era justo dever-se-ia começar pela ideia de liberdade, atos livres e autônomos. (KANT, 2009).

A ideia de que somos todos seres racionais, segundo Kant, é o que nos diferencia, nos separa, e nos coloca acima da mera existência animal. Por este motivo, o indivíduo, a pessoa, todos os seres humanos possuem dignidade, e assim são merecedores de respeito, isto por conta da racionalidade humana, e não por sermos donos de nós mesmos, e assim somos capazes de pensar, e desse modo também somos seres autônomos. Assim, quer Kant dizer que os seres humanos têm a capacidade de raciocinar e de ser livre, capacidade exclusivamente humana. Mas que também somos capazes de sentir dor e prazer, sofrimento e satisfação, mas que não somos jamais comandados por estes. Somos comandados, na concepção kantiana, pela razão e pela liberdade.

Segundo o filósofo, uma Constituição justa tem por objetivo harmonizar a liberdade de cada indivíduo com a liberdade de todos os demais. Para ele cada um deve buscar sua felicidade da maneira que achar conveniente, desde que não infrinja a liberdade dos outros de fazer o mesmo, fundamentando a justiça e os direitos em um contrato social, um contra original não real, e sim imaginário.

E assim, vê-se na proposta de Kant que há uma subordinação entre os princípios, assim como se vê em Rousseau, sendo que na doutrina kantiana há uma maior preocupação com os

Direitos Humanos, ou seja, com os direitos fundamentais de liberdade individual, um ponto de vista

do liberalismo. Eis o que afirma Habermas.

Rousseau parte da constituição da autonomia civil e produz a fortiori um nexo interno entre a Soberania Popular e os Direitos Humanos. Uma vez que a vontade soberana do povo só pode se exteriorizar na linguagem de leis universais e abstratas, está inscrita nela por origem [...] aquele direito a liberdades subjetivas iguais que Kant antepõe, como direito humano moralmente fundamentado, à formação da vontade política. (HABERMAS, 1994, P. 131)

Habermas afirma, em Faktizität und Geltung, não somente a cooriginalidade entre Direito e Moral, como também assemelha o princípio jurídico com o princípio da democracia, e o fundamenta, com base em uma argumentação que parte de Kant e de Rousseau, com uma

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pressuposição recíproca para o discurso legiferante da democracia deliberativa, da autonomia individual das pessoas e da autonomia política dos cidadãos, ou seja, da Soberania Popular. Sem dúvidas evidencia-se que Habermas é influenciado pelas filosofias políticas de Rousseau e de Kant.

Habermas assegura sua crítica esquematicamente através do princípio do discurso “D”. Não é, portanto, uma avaliação individual que pode afirmar o atendimento de “U” por uma norma. Contudo, o sentido desde princípio apenas se dá quando uma norma for aceita por todos, a partir da perspectiva de cada um. Ao princípio “D” se dá a definição de que: “só podem reclamar validez as normas que encontrem o assentimento de todos os concernidos enquanto participantes de um discurso prático” (HABERMAS, 1997, p. 116). O que procura, ainda assim, garantir a liberdade individual no meio social, através do discurso.

Para Habermas, o princípio da democracia “Pd” não pode ser subordinado ao princípio

moral, como é feito na construção kantiana da doutrina do direito. Habermas pretende, como fundamento da filosofia prática, uma filosofia do discurso moralmente neutra no lugar da ética do discurso e sua base moral. E dessa forma, o direito deve ser fundamentado com base na teoria do

discurso, sendo esta teoria, a base normativa de toda filosofia prática, contudo, moralmente neutra.

Assim, objetiva que a moral juntamente com o Direito, considerando-os cooriginais, exerçam juntas a coordenação normativa. Habermas busca, em Faktizität und Geltung, construir uma fundamentação normativa, todavia moralmente neutra, da diferenciação entre direito e moral.

Partindo do pressuposto de que uma formação política racional da opinião e da vontade é possível, o princípio da democracia simplesmente afirmar como esta pode ser institucionalizada – através de um sistema de direitos que garante a cada uma igual participação em um processo de normatização jurídica, já garantindo em seus pressupostos comunicativos. Enquanto o princípio moral opera no nível da constituição interna de um determinado jogo de argumentação, o princípio da democracia refere-se ao nível da institucionalização externa e eficaz da participação simétrica em uma formação discursiva da opinião e da vontade, a qual se realiza em formas de comunicação garantidas pelo direito. (Habermas, 1997, p. 146)

Assim, Habermas busca um nexo entre os princípios da Soberania Popular e dos Direitos

Humanos, como dito, corrigir Kant por meio de Rousseau e este último por meio de Kant,

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consciência, em torno dos quais se perpetua o conflito entre liberais e republicanos. E a proposta habermasiana seria solucionar tal conflito a partir da formação discursiva da opinião e da vontade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao final deste artigo, vê-se em Habermas a busca por um nexo, uma cooriginariedade entre os dois princípios, Direitos Humanos e Soberania Popular, conservando, ao mesmo tempo, a autonomia privada e autonomia pública, uma herança do pensamento de Rousseau e a liberdade fundante dos Direitos Humanos de cada ser humano e a igualdade de cada um. Assim propõe uma formação discursiva da opinião e da vontade. Corrigindo as propostas kantianas por meio de Rousseau e vice-versa. Portanto, é esses dois princípios como imparciais e neutros, que possibilitam a democracia de forma que nela estejam as condições fundamentais da autonomia privada e pública, fazendo com que ambos princípios entrem em consenso.

Dessa forma, Direitos humanos e soberania popular são princípios fundamentais de uma democracia, um direito atribuído a todas as pessoas no interior de uma sociedade, um direito inalienável, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, e o respeito à dignidade da pessoa humana. Assim, a igualdade de possibilidades deve ser buscada para que todos tenham a mesma chance de desenvolvimento, obtenham educação, alimentação, empregos de qualidade, para que não estejam sempre à margem da sociedade, ridicularizada, banalizada, oprimida, que não dão mais valor à vida, o que gera mais conflitos sociais, mais violência, mais morte, mais cadeias lotadas. Uma desigualdade que no Brasil é produto, principalmente da escravidão (exclusão da liberdade), e que a extrema desigualdade causa discriminações e é com a mesma oportunidade de educação que as sociedades poderão escolher melhores governantes, uma vez que a ignorância é adubo para demagogos e corruptos. E, somente na conquista de uma sociedade mais igual, mais fraterna (sem discriminações), é possível que as pessoas sejam realmente livres, a liberdade que deve ser deliberada como uma liberdade com respeito a todas as pessoas. Daí a necessidade de cultivar uma sociedade menos individualista e mais preocupada

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com o bem comum, com a solidariedade que é movida pelo desejo de justiça, igualdade de oportunidades e efetivação da dignidade humana. Por fim, a importância do incentivo a educação, que desta resultam indivíduos socializados, que reduzem as desigualdades sociais e os conflitos sociais, e produzem uma nação melhor, uma nação livre, igual e fraterna. Tendo a igualdade de possibilidades como princípio meio para a finalidade de uma sociedade verdadeiramente livre, utilizando sempre da moralidade, da ética na política.

REFERÊNCIAS

GÜNTHER, KLAUS. Teoria da argumentação no direito e na moral, justificação e aplicação. 2. Tradução de Claudio Molz. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011

HABERMAS, JÜRGEN. Direito e democracia: entre facticidade e validade. Tradução de Flávio B. Siebeneichler Rio de Janeiro: tempo brasileiro, 2003.

KANT IMMANUEL. Fundamentação Metafísica dos Costumes. Lisboa. Edições 70.

ROUSSEAU. J. J. Discurso sobre a origem e os fundamentos das desigualdades entre os homens. 2. Ed. São Paulo: Abril Cultural, 1978

ROUSSEAU.J.J. O contrato social. 2. Ed. São Paulo: Abril Cultural, 1978

REPA, L. “A Cooriginariedade entre direitos Humanos e soberania popular: a crítica de Habermas a Kant e Rousseau”. In: Transformação. Marília, Vol. 36, pp.103-120, 2013.

Referências

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