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Perceção e adoção de práticas de Responsabilidade Social Empresarial nos estabelecimentos hoteleiros dos Açores

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Academic year: 2021

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Perceção e adoção de práticas de

Responsabilidade Social Empresarial nos

estabelecimentos hoteleiros dos Açores

por

Marcos Melo Moniz

Dissertação de Mestrado em Gestão Comercial

Orientado por

Professora Doutora Vera Cristina Fontes Teixeira Vale Co-orientado por

Professora Doutora Catarina Judite Morais Delgado Castelo Branco

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Nota Bibliográfica

Marcos Melo Moniz nasceu no dia 16 de novembro de 1994, no concelho de Nordeste, ilha de São Miguel nos Açores.

Ingressou na Universidade dos Açores no ano letivo de 2012/2013, concluindo a sua licenciatura em Gestão no ano letivo de 2015/2016. Durante este período realizou vários estágios profissionais de verão, inseridos no programa Estagiar U do Governo Regional dos Açores.

Em 2017 realizou um estágio profissional na área da gestão comercial. O estágio teve a duração de 9 meses e permitiu-lhe adquirir experiência na área, um maior conforto na interação com clientes e fornecedores e acima de tudo aumentar o seu interesse na área comercial.

Este interesse levou a que ingressasse na Faculdade de Economia da Universidade do Porto, mais concretamente no Mestrado em Gestão Comercial, acreditando que esta formação poderia ajudar a garantir mais competências e possuir um maior conhecimento sobre a área, de modo a utilizar isso no seu futuro profissional.

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Agradecimentos

Aos meus pais e irmã, por sempre me incentivarem a prosseguir nos estudos, por todos os sacrifícios que realizaram para que isso fosse possível e, acima de tudo, por todo o apoio que sempre recebi da parte deles, quer a nível académico como a nível pessoal, sabendo que esta pequena dedicatória nunca será suficiente para agradecer o que sempre fizeram por mim. À minha família, em especial aos meus avós, por estarem sempre lá para me apoiar e ajudar nos momentos mais complicados.

À minha Orientadora, Professora Doutora Vera Cristina Fontes Teixeira Vale, por todos os ensinamentos que me deu ao longo deste trabalho, por estar disponível para me ajudar sempre que necessário e, acima de tudo, por ter acreditado no meu trabalho.

À minha Co-orientadora, Professora Doutora Catarina Judite Morais Delgado Castelo Branco, por conseguir sempre retirar tempo do seu apertado horário para me ajudar a ultrapassar os obstáculos que foram surgindo ao longo do trabalho.

Aos meus amigos, por toda a motivação dada ao longo deste trajeto, e por, mesmo estando longe por diversas vezes, me proporcionarem momentos de alegria e descontração.

A todos os responsáveis dos estabelecimentos hoteleiros que tiraram um bocadinho do seu tempo, mesmo com horários apertados, para responderem aos inquéritos. Sem eles, este trabalho não seria possível.

Este trabalho contou com o apoio do FEDER – Fundo europeu de Desenvolvimento Regional (programa COMPETE 2020) e da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, no âmbito do projeto POCI-01-0145-FEDER-031821.

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Resumo

Atualmente, o turismo é visto como um dos maiores e mais importantes setores económicos de quase todos os países do mundo. Para que seja possível usufruir de todas os recursos oferecidos pelo turismo, é necessário, antes de mais, conservá-los, e numa região como a dos Açores, com todo o potencial natural que possui, o recurso que salta mais à vista é a Natureza, tornando-se essencial preservá-lo de forma a obter a sua sustentabilidade. Ora, não é possível falar de sustentabilidade, ambiente e turismo sem abordar o conceito de Responsabilidade Social Empresarial.

Este estudo procura, então, perceber o conhecimento que os responsáveis dos estabelecimentos hoteleiros da região têm sobre este conceito de RSE. Para tal, utilizou-se um inquérito para recolher os dados sobre os estabelecimentos, sendo que a amostra foi de 40 respondentes.

Os resultados da investigação demonstram que os responsáveis pelos estabelecimentos hoteleiros estão, de um modo geral, cientes do conceito de RSE e, consequentemente, da sua importância para salvaguardar a sustentabilidade do setor e da própria região. Associam o conceito de RSE, principalmente, ao ambiente e à sociedade e, em particular, aos funcionários. Foi ainda recolhida informação sobre as ações socialmente responsáveis adotadas pelos mesmos estabelecimentos, sendo de notar as várias políticas já praticadas pelos mesmos.

Palavras-Chave: Açores, hotelaria, Responsabilidade Social Empresarial (RSE), sustentabilidade, turismo

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Abstract

Nowadays, tourism is considered one of the biggest and most important economic sectors in almost every country of the world. In order to take advantage of all the resources provided by tourism, it is necessary to conserve them, and in a region like the Azores, with all its natural potential, the resource that stands out the most is the Nature, making it essential to preserve it in order to obtain its sustainability. It is not possible to talk about sustainability, environment and tourism without addressing the concept of Corporate Social Responsibility. This study aims to understand the knowledge of the hotel managers in Azores about the concept of CSR. For that, a survey was created to collect data about the establishments, with a final sample of 40 respondents.

The results indicate that the hotel managers are, in general, aware of the concept of CSR, and, consequently, of its importance to maintain the sustainability of the sector and the region itself. Mainly, they associate the concept of CSR with the environment and the society, in particular, the employees. Data was also collected on the socially responsible actions taken by those establishments, with emphasis on the many policies already practiced by those.

Keywords: Azores, hotel industry, Corporate Social Responsability (CSR), sustainability, tourism

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Índice de Conteúdos

1. Introdução ...9

1.1 Tema e relevância do estudo ...9

1.2 Estrutura da Dissertação ... 11

2. Revisão de Literatura ... 12

2.1 Responsabilidade Social Empresarial ... 12

2.2 Teoria dos Stakeholders ... 17

2.3 Responsabilidade Social Empresarial no setor do Turismo ... 19

2.4 Responsabilidade Social Empresarial em Portugal ... 21

2.5 Turismo Sustentável ... 23

2.6 Açores... 26

2.6.1 As ilhas ... 27

2.6.2 Turismo nos Açores ... 31

2.6.3 Análise SWOT do Turismo nos Açores ... 33

2.6.4 Setor Hoteleiro nos Açores ... 34

2.6.5 Tipos de Estabelecimentos abordados no estudo ... 35

3. Metodologia de Investigação... 37

3.1 Questões de Investigação ... 37

3.2 Metodologia ... 38

3.3 Construção do Questionário ... 38

4. Análise e Discussão dos Resultados ... 42

4.1 Caracterização da amostra ... 42

4.1.1 Caracterização dos Estabelecimentos Hoteleiros ... 42

4.1.2 Caracterização dos Sujeitos Inquiridos ... 48

4.2 Análise dos Dados... 55

4.3 Adoção das práticas de RSE ... 58

4.3.1 Poupança de Energia ... 58 4.3.2 Reciclagem... 59 4.3.3 Poupança de água ... 59 4.3.4 Comunidades locais ... 60 4.3.5 Colaboradores ... 61 4.3.6 Normas e certificações... 61

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4.4 Discussão dos Resultados... 63

5. Considerações Finais ... 65

5.1 Conclusão... 65

5.2 Limitações e sugestões futuras ... 66

6. Referências Bibliográficas ... 68

Anexo B - Questionário ... 77

Anexo C – Lista dos Estabelecimentos Hoteleiros nos Açores ... 90

Anexo D – Variáveis, respetiva descrição e escalas de medição ... 94

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Índice de Figuras

Figura 1 - Teoria dos Stakeholders ... 18

Figura 2 - Stakeholders Internos e Externos ... 18

Figura 3 - Objetivos de Desenvolvimento Sustentável ... 22

Figura 4 – Arquipélago dos Açores ... 27

Figura 5 - Passageiros desembarcados nos aeroportos dos Açores ... 32

Figura 6 - Tipos de Estabelecimentos... 42

Figura 7- Tipos de Estrutura da Gerência ... 43

Figura 8 – Classificação dos Estabelecimentos ... 43

Figura 9 – Localização dos Estabelecimentos ... 44

Figura 10 – Número de Funcionários no Estabelecimento... 46

Figura 11 – Taxa de Ocupação dos Estabelecimentos ... 46

Figura 12 – Número de camas nos Estabelecimentos ... 47

Figura 13 – Idade dos Inquiridos ... 49

Figura 14 – Cargo do Inquirido no Estabelecimento ... 50

Figura 15 – Experiência dos Inquiridos ... 50

Figura 16 – Escolaridade ... 51

Figura 17 – Formações no Setor Hoteleiro ... 52

Figura 18 – Formações em Gestão Hoteleira ... 52

Figura 19 – Formações no Turismo ... 53

Figura 20 – Formações sobre RSE ... 54

Figura 21 – Formações sobre o Ambiente ... 54

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Índice de Quadros

Tabela 1 - Relação entre questões do questionário, respetivas variáveis e questões de investigação

... 40

Tabela 2 - Estatísticas sobre o Ano de Abertura dos Estabelecimentos ... 45

Tabela 3 - Estatísticas sobre a capacidade dos estabelecimentos ... 47

Tabela 4 – Estatísticas sobre a Idade dos Inquiridos ... 48

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1. Introdução

1.1 Tema e relevância do estudo

Atualmente, o Turismo é considerado um dos maiores fenómenos sociais e uma das maiores indústrias no mundo inteiro (Bohdanowicz & Zientara, 2009), sendo que, em 2016, estimava-se que empregava cerca de 120 milhões de pessoas e gerava, anualmente, receitas de aproximadamente 500 milhões de dólares em todo o mundo (Fatma, Rahman, & Khan, 2016). É um setor importante, pois oferece vários benefícios para a sociedade em geral, desde: desenvolvimento económico dos países (Horng, Hsu, & Tsai, 2017); oferta de empregos; desenvolvimento de infraestruturas; promoção de produtos nacionais e ainda a preservação e promoção das culturas e tradições locais (Alrousan, Bader, & Abuamoud, 2015; Bohdanowicz & Zientara, 2009). Além disso, o Turismo também é visto como uma forma de reduzir e combater a pobreza em países menos desenvolvidos (Croes, 2014). Pese embora todos estes benefícios, o Turismo pode, também, criar impactos negativos no ambiente e na sociedade, como o aumento do custo de vida nas comunidades locais e a diminuição da segurança (C.-K. Lee & Back, 2006), bem como a degradação do ambiente natural e cultural (Bowers, 2016). Deste modo, as organizações do setor turístico são responsáveis pelo ambiente natural e pelos destinos em que operam (Fatma et al., 2016). Em relação ao conceito de Turismo, Cunha (2007) afirma que não é correto aplicar uma definição concreta ao Turismo, uma vez que existem várias abordagens sobre a mesma. Para Henderson (2007), o Turismo representa um serviço promovido por indivíduos ou organizações em que a oferta corresponde a experiências de lazer, transporte (viagens), conveniência e entretenimento. Já Cunha (2007) considera que o Turismo não só engloba as atividades de viagens e estadias dos não-residentes - isto é, das pessoas fora do seu local habitual de residência - mas também todas as relações estabelecidas com o destino visitado. De acordo com Fleckenstein e Huebsch (1999) podem ser considerados como serviços do setor turístico, os hotéis (ou outros estabelecimentos logísticos), os restaurantes, centros comerciais, companhias aéreas, rent-a-cars, ou até mesmo os serviços de transporte (comboios, autocarros, metros, cruzeiros, etc.). De uma forma geral, os autores consideram seis dimensões essenciais no turismo: o ambiente, as atividades, a acomodação, o transporte, os serviços e as infraestruturas.

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10 O arquipélago dos Açores é um destino turístico que prima pelos seus recursos naturais, tornando-se primordial preservá-los através de uma oferta sustentável. Aliás, o Governo Regional dos Açores pretende fazer do desenvolvimento sustentável um dos pontos diferenciadores deste destino (Guerreiro, 2017). Tal tarefa tem sido cumprida, provado pelo facto de que em 2017 a região integrou pela terceira vez o Top100 dos destinos mais sustentáveis do mundo, sendo a Green Destinations a entidade responsável por esta distinção (ATA, 2017c). Em 2019, os Açores não só marcaram presença no Top100 novamente, como foram eleitos um dos 10 destinos mais sustentáveis no mundo e o melhor no Oceano Atlântico (ATA, 2018). No presente ano, a região foi galardoada com o prémio “Best of Nature”, atribuído pela Green Destinations, o que, de acordo com o Governo Regional, vem reforçar o posicionamento da região no desenvolvimento do turismo sustentável (Público, 2020). Outro galardão que distinguiu e certificou a região como um destino sustentável foi o de “Destino de QualityCoast de Platina”, entregue em 2017, fazendo dos Açores uma das primeiras regiões a receber a distinção máxima, por cumprir 96% dos critérios estabelecidos para a atribuição do prémio (ATA, 2017b).

Para que esse reconhecimento continue, é necessário que os diferentes operadores turísticos proporcionem uma oferta eticamente responsável, dado que os consumidores que procuram este tipo de turismo preferem pagar mais, desde que usufruam de serviços e produtos provenientes de empresas que adotem práticas de Responsabilidade Social Empresarial, uma vez que a preocupação com o ambiente e com a sociedade, por parte dos turistas, é cada vez maior (Mitrokostas & Apostolakis, 2013).

O objetivo desta investigação passa por obter uma perceção do nível de consciencialização dos responsáveis pelos estabelecimentos hoteleiros da região quanto ao conceito de Responsabilidade Social Empresarial e a respetiva adoção destas práticas nos mesmos, tendo em conta que estes são um elemento chave na indústria turística (Gurlek, Duzgun, & Uygur, 2017). O estudo é altamente motivante, quer a nível pessoal, devido à naturalidade do autor do estudo, interesse pelo tema e por possíveis futuros investimentos na área, quer a nível académico, uma vez que se trata de um tema pouco investigado nos Açores e, como se pode comprovar, este é fundamental para o desenvolvimento sustentável da região.

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1.2 Estrutura da Dissertação

A presente dissertação está dividida em 6 capítulos. O primeiro capítulo, o da Introdução, foi subdividido pelo Tema e Relevância do estudo, bem como pela Estrutura da Dissertação. No segundo capítulo – Revisão de Literatura – foram explicados os principais conceitos e temas do estudo, como a Responsabilidade Social Empresarial, seja de um modo geral como em Portugal e no setor do turismo em concreto; os conceitos de Turismo e Turismo Sustentável e a evolução dos mesmos ao longo do tempo, assim como uma breve apresentação da região Autónoma dos Açores e da área do Turismo nesta.

A Metodologia de investigação surge no capítulo 3, onde são apresentadas as questões de investigação, a metodologia utilizada no estudo e a amostra referente ao mesmo.

No quarto capítulo, é realizada uma caracterização da amostra, quer a nível dos estabelecimentos hoteleiros quer dos indivíduos inquiridos. Posteriormente os dados preliminares são analisados e debatidos.

O capítulo V é dedicado à conclusão da investigação, sendo respondidas as respostas da mesma, e são apresentadas as limitações do estudo, assim como algumas sugestões para investigações futuras.

Por último, a dissertação termina com as referências bibliográficas bem como todos os anexos.

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2. Revisão de Literatura

2.1 Responsabilidade Social Empresarial

Nos últimos anos, o conceito de Responsabilidade Social Empresarial tem ganho importância e tem sido, cada vez mais, objeto de estudo por parte dos académicos (Ghaderi, Mirzapour, Henderson, & Richardson, 2019). A constante pressão por parte da sociedade, dos governos, ou, até mesmo dos consumidores para que o mundo empresarial seja mais responsável, fez com que as organizações, das mais variadas indústrias, olhassem para as práticas de Responsabilidade Social Empresarial de uma forma mais séria (Kim & Kim, 2014).

Apesar do termo “Responsabilidade Social Empresarial” não possuir, ainda, um conceito definitivo – prova disso é o fato de ter diversas terminologias, desde “Performance Social Empresarial”; “Sustentabilidade Empresarial”; ou “Responsabilidade Social e Ambiental Empresarial” (Fatma et al., 2016) - pode ser visto de diversas perspetivas.

Um dos primeiros autores a referir-se a esse termo foi Bowen (1953), que o definiu como a obrigação das organizações para adotar políticas e tomar decisões que fossem de encontro aos objetivos e valores da sociedade (Rahman, 2011). Carroll (1979) referiu-se à responsabilidade social como a vertente dos negócios que compreende os aspetos económicos, legais, éticos e as expetativas que a sociedade tem das organizações ao longo do tempo. Isto implica que as organizações tenham responsabilidades para além da parte financeira. Mais tarde, Carroll (1991) apresentou a ideia de que a Responsabilidade Social Empresarial deveria ser analisada de quatro pontos de vista diferenciados: o económico, o legal, o ético e o filantrópico. As responsabilidades económicas consistiam em maximizar o lucro da organização; as responsabilidades legais englobavam o cumprimento das leis e as obrigações legais; já as responsabilidades éticas iam um pouco mais longe, visto que não era suficiente cumprir as normas legais, mas, também, respeitar as normas morais da sociedade; quanto às responsabilidades filantrópicas, estas contemplavam as ações da organização para se tornar num bom “cidadão”, e iam desde a oferta de recursos para a comunidade até à contribuição para o aumento da qualidade de vida da sociedade.

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13 Segundo Brown e Dacin (1997) a Responsabilidade Social Empresarial é vista como um conjunto de iniciativas por parte das organizações, que origina atividades benéficas à sociedade e que ultrapassam o interesse económico. A World Business Council for Sustainable Development (WBCSD) divide a Responsabilidade Social Empresarial em três categorias (economia, ambiente e sociedade) e define-a como o compromisso das organizações em operar de uma forma ética, contribuindo, sempre, para a maximização do lucro, promovendo em simultâneo a qualidade de vida dos seus trabalhadores, assim como de toda a comunidade em redor e da sociedade de um modo geral (World Business Council for Sustainable Development, 1999). Para o seu estudo, Nicolau (2008) utilizou a definição dada pelo World Bank, que referencia a Responsabilidade Social Empresarial como as obrigações de uma organização para com os seus stakeholders. Também afirma que as empresas socialmente responsáveis têm de ter em conta o seu impacto na sociedade e no ambiente e equilibrar as suas ações para os satisfazer, sem desprezar a parte financeira da organização.

Por outro lado, McWilliams e Siegel (2001) consideram a parte legal da questão, afirmando que a Responsabilidade Social Empresarial corresponde às ações das organizações que tinham o propósito de melhorar a sociedade, sendo que teriam de ser ações para além daquelas exigidas por lei. Em 2001, a Comissão das Comunidades Europeias definiu a Responsabilidade Social Empresarial como a integração das preocupações sociais e ambientais das organizações nos seus negócios e as respetivas interações com os seus

stakeholders de uma forma voluntária (Commission of the European Communities, 2001).

Van Marrewijk (2003) referiu-se à Responsabilidade Social Empresarial como as atividades das organizações – voluntárias – que demonstravam preocupação com o aspeto social e ambiental e com a interação com os stakeholders (Jenkins & Karanikola, 2014). Várias organizações sugeriram, de igual modo, definições para este termo, como por exemplo a Organização Mundial do Turismo, que definiu a Responsabilidade Social Empresarial como a adoção de práticas transparentes, baseadas nos valores éticos e morais (UNEP-WTO, 2005).

De qualquer forma, o que se retira de todas essas definições é que as organizações devem satisfazer não apenas os stockholders mas, também, todos os intervenientes do seu negócio, como clientes, fornecedores, empregados e comunidades locais (Serra-Cantallops, Pena-Miranda, Ramon-Cardona, & Martorell-Cunill, 2018), tendo sempre em atenção as três

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14 principais dimensões: económica, social e ambiental (Golja & Nižić, 2010). Para além destas três dimensões, a Comissão das Comunidades Europeias refere a dimensão interna e externa. De acordo com o seu Livro Verde (Comissão Das Comunidades Europeias, 2001), na dimensão interna está incluída:

• Gestão dos Recursos Humanos - por exemplo a formação contínua dos colaboradores, igualdade nas remunerações, a criação de regimes de participação de lucros, preocupação com a segurança nos postos de trabalho, práticas de recrutamento responsáveis (recrutar minorias);

• Saúde e Segurança – para além das atividades exigidas por lei, a utilização de formas complementares de promoção de saúde e segurança como critério para aquisição de produtos e serviços de outras organizações e, também, como forma de marketing dos seus próprios produtos e serviços. O lançamento de programas de certificação de sistemas de gestão relacionados com a saúde e segurança está incluído, igualmente, nesta dimensão;

• Adaptação à mudança – conseguir restruturar uma organização tendo sempre em consideração os interesses de todas as partes envolvidas no processo e que podem sofrer com as alterações. Isto pode ser realizado através da participação da empresa no desenvolvimento local e no envolvimento da mesma em parcerias locais de emprego ou inclusão social.

• Gestão do impacto ambiental e dos recursos naturais – contribuir para a diminuição do impacto ambiental, reduzindo as emissões poluentes e a produção de resíduos, bem como, gerindo a utilização de recursos (vantagem financeira adjacente). Foram criadas várias políticas e programas para ajudar as empresas a serem “eco-friendly”, como o exemplo da Política Integrada de Produto (PIP), que integra políticas e instrumentos com o objetivo de reduzir a pegada ecológica das empresas (Agência Portuguesa do Ambiente, 2012).

A mesma publicação refere a importância do fator externo e apresentou também a dimensão externa:

• Comunidades locais – é essencial integrar as organizações nas comunidades locais, sendo que grande parte dos seus recursos humanos daí proveem. Na vertente

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15 ambiental é importante, ainda, demonstrar preocupação com o ambiente local, uma vez que as organizações operam nesses mesmos locais.

• Parceiros comerciais, fornecedores e consumidores – procurar parceiros comerciais que sejam socialmente responsáveis, uma vez que poderá afetar a própria organização. Tentar que esses parceiros sejam empresas locais, de modo a ajudar a desenvolver a comunidade local. Construir relações duradouras com os clientes locais de modo a fornecer serviços e produtos mais especializados e personalizados. • Direitos Humanos – elaboração de códigos de conduta e aplicação dos mesmos,

não só aos empregados da empresa, mas à comunidade de um modo geral, sendo extremamente necessária uma verificação contínua dos cumprimentos dos mesmos. • Preocupações ambientais globais – aplicar normas ambientais de carácter mundial, participando nas iniciativas das organizações mundiais não governamentais, como a ONU, onde procuram associar várias empresas, de forma a se atingir um desenvolvimento global sustentável, tanto a nível ambiental como social.

Existem inúmeras formas para as organizações serem responsáveis e são várias as ações socialmente responsáveis que os investigadores sugerem. Por exemplo, em 2005, a Organização Mundial do Turismo refere que, em relação aos empregados, as organizações podem assegurar oportunidades iguais para todos, oferecer todas as condições de trabalho aos seus colaboradores ou oferecer salários justos. Quanto ao aspeto social, referem a qualidade dos produtos e serviços (durabilidade e segurança, por exemplo), mas também referem ações que podem ser desenvolvidas para a comunidade, como a preservação das culturas locais e das tradições ou, até, desenvolver ou melhorar a qualidade de vida da sociedade em redor (UNEP-WTO, 2005). A produção de produtos “green”; programas de reciclagem; poupança de energia; utilização de energias renováveis; caridade para com a comunidade local (doações, por exemplo) são algumas das ações propostas por Parsa, Lord, Putrevu e Kreeger (2015).

Atualmente, muitas organizações têm adotado ações ou práticas responsáveis, quer sociais, quer ambientais. Isto deve-se a diversos motivos, tais como forma de obter vantagens competitivas, melhor posicionamento da imagem corporativa através do comportamento responsável (Adams, Font, & Stanford, 2017; Babiak & Trendafilova, 2011; Bagur-Femenias, Marti, & Rocafort, 2015; Sharma, 2000) e até, maior satisfação dos clientes (Nicolau, 2008). Bello, Banda e Kamanga (2017) consideraram no seu estudo, que existem vários motivos

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16 para as organizações se tornarem responsáveis. Os autores referem que, em primeiro lugar vem o fato das sociedades simplesmente pretenderem ser um “bom cidadão”. Depois acreditam que as práticas responsáveis ajudam a motivar os trabalhadores e a recrutar novos colaboradores. O facto de satisfazer os clientes também é visto como um fator chave para a adoção de medidas socialmente responsáveis. Ross, Stutts e Patterson (1991) afirmaram que, quando uma organização atua de forma responsável, os clientes não se importam de pagar mais pelos produtos ou serviços. Finalmente, (Bello et al., 2017) referem a dimensão ambiental, onde as organizações acreditam que através da preocupação ambiental, conseguem reduzir custos de produção.

Uma vez que, hoje em dia, é essencial comunicar estas ações socialmente responsáveis (Fu, Ye, & Law, 2014), sempre evitando o “greenwashing”, isto é, tirar proveito do “marketing responsável” e enganar os clientes com produtos e serviços que não são assim tão eco-friendly, como as empresas querem fazer parecer (Aggarwal & Kadyan, 2011), houve uma necessidade de criar um método onde fosse possível medir os esforços realizados pelas organizações para serem socialmente responsáveis. No final da década de 1990, John Elkington aborda pela primeira vez o conceito de “Triple Bottom Line” (TBL). Este representa um método de medição (voluntário) da performance das organizações, que vai para além da vertente financeira, abrangendo, também, os fatores ambientais e os fatores sociais. As dimensões do TBL também são conhecidas como os 3P’s - Planet, Profit e People – representando respetivamente, o ambiente, a economia e a sociedade, as mesmas dimensões presentes na Responsabilidade Social Empresarial. Assim, foi criado um sistema onde cada dimensão teria as suas medidas e variáveis específicas. No caso da dimensão económica, os exemplos vão desde receitas a despesas; rendimentos pessoais dos colaboradores; impostos; entre outros. Em relação à vertente ambiental, são exemplos de variáveis: a qualidade do ar e da água nos estabelecimentos das organizações ou nas suas áreas de trabalho; o desperdício causado pelas mesmas, assim como o lixo produzido; o consumo de eletricidade ou água; e todos os fatores que podem influenciar a viabilidade dos recursos naturais à disposição das empresas. Finalmente, são tidas como variáveis para medir o impacto social das organizações, a taxa de desemprego; a percentagem de minorias incluídas na força de trabalho das empresas; o nível de escolaridade dos colaboradores; a segurança oferecida a todos os empregados e famílias dos mesmos, entre outras. Sendo este um aspeto mais geral, muitas destas variáveis são medidas a nível regional ou nacional e não na comunidade local (Slaper & Hall, 2011).

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17 Embora pese todos estes benefícios, existem autores e investigadores que são críticos das políticas de Responsabilidade Social Empresarial. Friedman (2007) afirma que não faz sentido aplicar responsabilidades a um negócio, uma vez que, de acordo com o mesmo, apenas as pessoas (no máximo uma empresa no sentido de pessoa artificial) podem arcar com responsabilidades. Para este autor, a responsabilidade social deve ser endereçada aos gestores, de forma pessoal e de forma separada da entidade, e não às organizações, uma vez que o único propósito destas deve ser o de gerar lucro. Também Levitt (1958) afirma que a única responsabilidade das organizações é a de maximizar os lucros, enquanto que Sheldon e Park (2011) referem que esta preocupação deveria recair apenas sobre os governos, dado que grande parte das empresas não possui os recursos suficientes para aplicar tais medidas.

2.2 Teoria dos Stakeholders

Uma vez que nos, últimos anos, o principal foco da Responsabilidade Social Empresarial tem sido os stakeholders faz sentido correlacionar os dois conceitos. Contudo, a relação entre estes dois conceitos ainda não está claramente definida, pois alguns autores consideram a Teoria dos Stakeholders um subtema da RSE, enquanto outros consideram que ambas se complementam (Freeman & Dmytriyev, 2017). Estes autores argumentam que a principal semelhança entre os dois conceitos consiste na importância das questões sociais para as empresas. Recuando até às primeiras aparições do conceito da Teoria dos Stakeholders, um dos principais e primeiros estudos sobre os stakeholders foi o de Freeman (1984). Este formulou a Teoria dos Stakeholders, na qual sugere que as organizações expandem o raio de consideração para a sua tomada de decisão para além dos shareholders, como por exemplo, clientes, trabalhadores, fornecedores, governos ou a comunidade em geral (Figura 1).

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18 Figura 1 - Teoria dos Stakeholders

Fonte: (Freeman, 1984)

Ainda de acordo com este autor, um stakeholder consiste em qualquer grupo ou indivíduo que possa afetar ou possa ser afetado pelas ações da organização ou pela concretização dos objetivos desta. Alguns estudos indicam que os stakeholders podem ser divididos em dois grupos: os internos e os externos (Figura 2).

Figura 2 - Stakeholders Internos e Externos

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19 Os internos correspondem, como o próprio nome indica, àqueles que atuam na organização, como por exemplo, os diretores, gestores, empregados. Os externos correspondem àqueles que não participam diretamente na organização, entre os quais os governos, os clientes, fornecedores, os media, ou as comunidades (Buchholz & Rosenthal, 2005; Dangi & Gribb, 2018). Mais recentemente, Jensen (2010) aperfeiçoou a teoria dos Stakeholders, desenvolvida por Freeman, ao afirmar que uma organização não consegue manter o seu valor, ou o dos seus shareholders, a longo prazo, caso não tenha em conta o interesse dos seus stakeholders, tanto internos como externos. Por outras palavras, a vertente financeira da organização apenas se manterá saudável ao longo do tempo, caso sejam aplicadas políticas de Responsabilidade Social Empresarial pelas respetivas organizações. Se assim for, os

stakeholders poderão alavancar a organização em termos financeiros, como é o caso dos

trabalhadores, que ao sentirem que estão a ser valorizados e respeitados, aumentarão a sua produtividade e lealdade para com a organização (Cho, Woods, Jang, & Erdem, 2006; Yoon & Chung, 2018). Do ponto de vista de alguns autores, a Teoria dos Stakeholders deve ser compreendida através de três aspetos, ou abordagens: a descritiva, a normativa e a instrumental (Donaldson & Preston, 1995).

No caso da abordagem descritiva, esta é utilizada, globalmente, para descrever, explicitar ou especificar determinadas características assim como certos comportamentos da empresa, como por exemplo a natureza da empresa e a forma como os seus gestores e diretores tomam as decisões. O aspeto normativo foca-se na interpretação da função das organizações, isto é, ajuda a identificar as diretrizes morais e éticas inseridas nas decisões de gestão das empresas. Finalmente, a abordagem instrumental serve, essencialmente, para identificar as conexões, ou a falta destas, entre a gestão dos stakeholders e a concretização dos objetivos, como o crescimento da empresa ou o lucro da mesma. (Donaldson & Preston, 1995).

2.3 Responsabilidade Social Empresarial no setor do

Turismo

Toda esta recente preocupação com as políticas de Responsabilidade Social Empresarial não é alheia ao setor do Turismo. Apesar disso, os estudos nesta área são relativamente recentes, uma vez que há 10 anos atrás não existia nenhum estudo sobre a Responsabilidade Social

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20 Empresarial no Turismo, sendo que 70% dos estudos agora existentes foram publicados nos últimos 6 anos (Font & Lynes, 2018). Como foi citado anteriormente, a Responsabilidade Social Empresarial assume várias definições. Assim sendo, para o setor do Turismo em particular, esta pode ser vista como uma estratégia que reduz o impacto negativo dos estabelecimentos turísticos no ambiente, na cultura local e na sociedade (Martínez & del Bosque, 2013). Estudos indicam que 75% do impacto causado pelos hotéis no ambiente é proveniente do consumo excessivo de bens não duráveis, do desperdício de energia e água, e da consequente poluição do ar, do solo e da água (Robinot & Giannelloni, 2010). Por conseguinte, nos últimos anos, vários hotéis têm adotado diversas políticas de Responsabilidade Social Empresarial com o intuito de preservar o ambiente, contribuir para a melhoria do nível de vida da sociedade e ajudar a desenvolver as comunidades locais (S. Lee & Park, 2009), atendendo que, para operar de forma natural, o setor do turismo depende altamente das comunidades locais, do ambiente natural e respetivos recursos naturais, e até mesmo da sociedade (Moisescu, 2015). As políticas adotadas e as implementadas pelos hotéis englobam as principais dimensões da Responsabilidade Social Empresarial (economia, sociedade, ambiente e cultura) e vão desde doações à comunidade local; gestão justa dos recursos humanos; redução dos gastos de energia e água; adoção de programas de reciclagem (Alameeri, Ajmal, Hussain, & Helo, 2018; Serra-Cantallops et al., 2018); compra de produtos com pouco ou nenhum impacto ambiental, o chamado “green consumerism” (Hamilton, 2010); compra e promoção de produtos locais (Henderson, 2007); oferta de oportunidades “iguais para todos”; recrutamento justo e não discriminatório; oferta de condições de trabalho; salários justos aos trabalhadores (Holcomb, Upchurch, & Okumus, 2007); promoção e preservação das culturas e tradições locais (Martínez & del Bosque, 2013). Holcomb et al. (2007) foram mais além e dividiram os vários exemplos de práticas de RSE recolhidos em categorias: Comunidade (doações de caridade, bem-estar da comunidade, voluntariado); Ambiente (gestão da energia, de água e de resíduos, herança cultural); Mercado (publicidade ética, relação com clientes, fornecedores); Visão e Valores (código de conduta, valores duradouros, comportamento ético, justiça); e Força de Trabalho (benefícios justos e igualitários, compensações e prémios, igualdade de oportunidades; saúde; segurança e formações).

Tal como em todos os outros setores, as organizações relacionadas com o turismo olham para a Responsabilidade Social Empresarial como uma vantagem competitiva (Adams et al., 2017), tendo em conta que muitos clientes preferem serviços e produtos oferecidos por

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21 organizações que atuem de forma responsável (Lebe & Vrecko, 2014). Isto leva a que seja importante comunicar e divulgar a prática de tais políticas, o que faz com que as organizações procurem, cada vez, mais o reconhecimento, principalmente através de certificados (Fu et al., 2014), sendo que muitos hotéis dedicam parte das suas páginas online às questões sociais (Holcomb & Smith, 2017). Vassilikopoulou, Siomkos e Mylonakis (2005) referem que a comunicação de tais ações por parte das organizações pode melhorar a imagem das mesmas, pois grande parte dos clientes ajuda a promover práticas responsáveis, estando dispostos a comprar produtos mais “éticos”, mesmo que signifique um aumento de custo. A adoção destas práticas também pode ser vista como uma oportunidade de redução de custos operativos, ao reduzir gastos de energia, por exemplo. (Han, Hsu, & Lee, 2009). Apesar de todos estes benefícios, alguns estudos apontam para algumas limitações aquando da adoção de práticas de Responsabilidade Social Empresarial no setor turístico, principalmente entre as pequenas e médias empresas. Entre essas limitações destacam-se a falta de capital para investir nas ações, a pouca estabilidade financeira ou o risco inerente a tais investimentos (Ateljevic & Doorne, 2000; Tamajón & Aulet, 2013).

2.4 Responsabilidade Social Empresarial em Portugal

Sendo a RSE extremamente importante hoje em dia, é normal que grande parte das empresas em Portugal procure adotar esta “filosofia” ao máximo. Assim sendo, a RSE é um termo cada vez mais presente na visão e missão das empresas portuguesas, tal como indica o estudo feito pela KPMG em 2017, onde afirma que, apesar de ter descido um ponto percentual desde 2015, 80% das 100 melhores empresas de Portugal adota e comunica políticas de RSE (Blasco & King, 2017). Em Portugal já existem diversas organizações e entidades focadas apenas na RSE, como a Associação Portuguesa de Ética Empresarial (APEE), organização criadora da Comissão de Trabalho (CT 164) responsável pela publicação das normas NP4469-1: 2008 (Sistema de gestão de responsabilidade social Parte1: Requisitos e linhas de orientação para a sua utilização) e NP4469-2: 2010 (Sistema de gestão de responsabilidade social Parte 2: guia de orientação para a implementação) (APEE, 2011); a Rede de Responsabilidade Social RSO PT, criada em 2008 com o objetivo de promover a responsabilidade social nas organizações portuguesas e a adoção de práticas sustentáveis (RSOPT, 2015); ou o Concelho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável – BCSD

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22 – associação responsável por promover o impacto positivo das empresas nos stakeholders. Para além de publicar anuários de sustentabilidade, esta associação projetou, em conjunto com a ONU, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, representados na Figura 3 (BCSD Portugal, 2015). Também a própria Direção Geral das Atividades Económicas desenvolveu uma carta de Responsabilidade Social com vários pontos a promover por esta (DGAE, 2008).

Figura 3 - Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

Fonte: (BCSD Portugal, 2015)

Além destas medidas de promoção por parte das entidades e organizações, existem ainda as normas: a norma ISO 26000, que consiste num padrão global que tem como objetivo ajudar a implementar nas empresas ações socialmente responsáveis (Bureau Veritas, 2014); a norma SA8000, que tem em conta o impacto que as organizações têm na sociedade, assim como o impacto que causam nos seus colaboradores (SGS, 2019a); a certificação ISO 14001, que permite às organizações demonstrar o seu compromisso com a preservação do meio ambiente (SGS, 2019b), ou a certificação OHSAS 18001, que certifica as entidades que possuem boas políticas de saúde e segurança no trabalho, sendo uma certificação mais direcionada para os colaboradores (SGS, 2019c). Existe, ainda, um mecanismo voluntário chamado Sistema Comunitário de Ecogestão e Auditoria (EMAS), onde o objetivo passa por promover a melhoria do desempenho ambiental das organizações (Agência Portuguesa do Ambiente, 2019).

No caso dos Açores, são poucos os estudos e/ou relatórios em relação à RSE nas empresas da região. Aliás, uma das poucas investigações partiu da Associação Centro de Estudos de Economia Solidária do Atlântico (ACEESA), em 2012, a qual investigou as práticas de

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23 responsabilidade social nas empresas dos Açores, apresentando posteriormente os resultados (ACEESA, 2012). Tal como a presente investigação, o estudo da ACEESA consistia em perceber se as empresas açorianas estavam consciencializadas da importância da responsabilidade social empresarial. Os resultados demonstraram que, à data do estudo (2012), as empresas da região já estavam cientes da importância da RSE, tanto para estas como para a própria sociedade. Contudo não estavam preparadas para adotar tais práticas, não indo para além das suas obrigações legais. Para além disso, o estudo foca a importância da comunicação de tais práticas responsáveis por parte das empresas, afirmando também que a divulgação por parte das entidades governamentais era parca e que a quantidade de estudos relacionados com a RSE na região era diminuta.

Apesar de serem poucas as investigações, a região está claramente preocupada com a sua sustentabilidade, provado pela criação de cada vez mais certificações e galardões para promover a responsabilidade empresarial no setor. O já referido programa QualityCoast, com o objetivo de promover o desenvolvimento sustentável em destinos costeiros (Governo dos Açores, 2016c); a Carta Europeia de Turismo Sustentável nas Terras do Priolo, que pretende que o turismo concilie os aspetos ambientais, culturais e sociais com os aspetos económicos nas áreas protegidas (Governo dos Açores, 2016b); ou o galardão Miosotis Azores, que certifica e reconhece os alojamentos que implementam boas práticas ambientais (Governo dos Açores, 2012b). A ilha do Faial recebeu a distinção de destino de excelência na Europa, chamado de EDEN, onde é promovido o turismo sustentável ou eco-friendly

(European Best Destinations, 2016). Existe ainda o programa “Green Key”, que promove o

Turismo Sustentável em Portugal, pretendendo com isso consciencializar todos os intervenientes a adotar práticas sustentáveis, reduzir o impacto nos diferentes ambientes, promover a redução do consumo de recursos naturais, entre outos objetivos (ABAE, 2015). Em 2011 este prémio distinguiu vários espaços rurais nos Açores, como por exemplo a Quinta do Martelo, na ilha Terceira, a Casa das Torres, a Casa do Ouvidor e o aparthotel Baía da Barca, todas estas na ilha do Pico (ATA, 2017a).

2.5 Turismo Sustentável

É importante definir o Turismo Sustentável, uma vez que este apresenta diversos pontos em comum com o conceito de Responsabilidade Social Empresarial, pois ambos focam os

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24

stakeholders e a importância de reduzir o impacto negativo nos mesmos (Alrousan et al., 2015).

A sustentabilidade pode, então, ser vista como o modo de atingir as necessidades e os objetivos da organização e dos seus stakeholders atuais, sem comprometer o futuro dos mesmos. Para tal é necessário que a organização se concentre nos três pontos chave da sustentabilidade (presentes, também, na Responsabilidade Social Empresarial): Economia, Sociedade e Ambiente (Dyllick & Hockerts, 2002). A sustentabilidade pode, ainda, ser definida como a transformação do modelo de negócio das organizações de modo a atingir com maior eficiência os seus objetivos económicos de uma forma responsável, quer a nível social, quer a nível ambiental (Alonso-Almeida, Bagur-Femenias, Llach, & Perramon, 2018; De Grosbois, 2012).

Hoje em dia, vários hotéis e outras organizações do ramo do turismo pretendem ser “amigos do ambiente”, adotando práticas “green” e socialmente responsáveis (Seoki Lee & Heo, 2009), uma vez que os clientes procuram ofertas deste tipo e sendo que a única forma de um destino turístico se tornar competitivo é através de uma oferta responsável e de um destino altamente sustentável. Desta forma, é possível afirmar que o Turismo Sustentável e a Responsabilidade Social Empresarial se encontram constantemente interligados (Golja & Nižić, 2010). Assim sendo, o Turismo Sustentável pode ser definido como um tipo de turismo que tira partido da eficiente utilização dos recursos naturais, que respeita a sociedade e a comunidade local e que assegura a saúde financeira das organizações a longo prazo, de modo a satisfazer todos os seus stakeholders, tanto os atuais, como os futuros. Como tal, os produtos e os serviços oferecidos pelas organizações relacionadas com o Turismo Sustentável devem respeitar os aspetos essenciais da sustentabilidade: respeitar a sociedade e o ambiente, e serem economicamente viáveis (Golja & Nižić, 2010). Dávid (2011) afirma que o Turismo Sustentável deve ser, a longo prazo, durável ecologicamente e economicamente, mas, ao mesmo tempo, deve respeitar a sociedade e as comunidades locais e respetivas culturas e tradições. Deve também conseguir satisfazer as necessidades dos consumidores atuais. De um modo mais geral, o Turismo Sustentável deve conseguir interligar os turistas, as organizações e as comunidades locais através de um desenvolvimento sustentável. De acordo com a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, o desenvolvimento sustentável consiste num processo onde a exploração de recursos deve ter sempre em consideração o presente e o futuro, de modo a cumprir com as necessidades humanas e as suas aspirações (World Commission on Environment and Development, 1987).

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25 Dado que uma grande parte do setor turístico é representado por hotéis, e tendo em conta que estes provocam grande impacto no ambiente e na sociedade em redor, torna-se essencial falar em sustentabilidade (Jenkins & Karanikola, 2014). Outro fator que leva a que seja necessário transformar os destinos turísticos em destinos sustentáveis é o facto de que, atualmente, os consumidores estarem suscetíveis a escrutinar as ações menos positivas das organizações, fazendo com que seja necessário preservar todos os recursos necessários ao bom funcionamento do setor, entre os quais as dimensões da Responsabilidade Social Empresarial e da Sustentabilidade: Economia, Ambiente, Sociedade e respetiva Cultura (Anuwichanont, Mechinda, Serirat, Lertwannawit, & Popaijit, 2011). Tzschentke, Kirk e Lynch (2008) afirmam que, devido à crescente perceção dos consumidores em relação ao impacto ambiental e às práticas de Responsabilidade Social Empresarial, as políticas de sustentabilidade tornaram-se num fator competitivo chave. Hoje em dia, os turistas tomam decisões baseadas em questões ambientais e sociais como as alterações climáticas, desastres naturais, ou crises financeiras, tornando-se essencial que as organizações tomem medidas para prevenir ou combater estes problemas, criando lealdade para com os turistas (Fatma, Khan, & Rahman, 2018).

Como já foi referido, para que as medidas adotadas pelas organizações sejam totalmente eficientes, é importante que as mesmas sejam comunicadas, não só aos turistas, mas também a todos os stakeholders das organizações, incluindo os funcionários. Na maior parte das vezes, esta comunicação é realizada através dos certificados recebidos pelas organizações aquando do cumprimento de requisitos de sustentabilidade. Geerts (2014) considera a certificação ambiental como um procedimento voluntário, que verifica e garante que um negócio ou uma organização, e os respetivos produtos e serviços, cumprem com os requisitos impostos por esse certificado. Em relação ao turismo em específico, o autor refere que as certificações têm como objetivo promover as ações sustentáveis voluntárias e o aumento da procura, dado que os turistas procuram cada vez mais este tipo de oferta. Apesar disso, muitas organizações não comunicam as suas práticas voluntárias, mantendo-as longe do conhecimento do público em geral, não obtendo todas as vantagens que daí advêm de um modo eficiente. É importante, então, educar os consumidores a respeito das práticas de sustentabilidade, uma vez que, apesar de grande parte da população já adotar políticas responsáveis em casa (reciclagem, redução do consumo de energia e água, etc.), estes não pretendem ter essa mesma preocupação enquanto estão de férias, provocando um impacto negativo no ambiente dos destinos turísticos que visitam (Miller, Rathouse, Scarles, Holmes, & Tribe,

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26 2010). Quem também tira proveito da adoção e respetiva comunicação destas políticas sustentáveis por parte das organizações turísticas são os funcionários, que sentem agrado por trabalhar numa organização amiga do ambiente, contribuindo para o aumento da sua moral e respetivo aumento da sua performance (Bonilla Priego, Najera, & Font, 2011).

2.6 Açores

Os Açores são um arquipélago composto por nove ilhas, divididas em três grupos: Santa Maria e São Miguel, que constituem o Grupo Oriental; Terceira, São Jorge, Pico, Faial e Graciosa, que constituem o Grupo Central; e Flores e Corvo, que compõem o Grupo Ocidental (Figura 4). Este arquipélago representa, desde 1976, uma das Regiões Autónomas de Portugal, possuindo autonomia política, legislativa, administrativa, financeira e patrimonial. Possui ainda bandeira, brasão de armas, selo e hino próprios, todos estes aprovados pela Assembleia Legislativa, que, em conjunto com o Governo Regional são considerados os órgãos do governo próprio da região. Ambos são representados por um presidente que é eleito pela população da região através de eleições regionais (Lei n.º 2/2009 de 12 de janeiro, 2009). O arquipélago está localizado no Oceano Atlântico, abrangendo três placas tectónicas, sendo elas a Euroasiática (Grupo Central), a Africana (Grupo Oriental) e a Norte-Americana (Grupo Ocidental), o que faz com que todas as ilhas sejam de origem vulcânica, mas de diferentes composições entre si, sendo relativamente fácil distingui-las. (ATA, 2010). Possui uma área total de 2 346 km2 e estima-se que a população atual ronde os

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27 Figura 4 – Arquipélago dos Açores

Fonte: (byAçores, 2018)

2.6.1 As ilhas

Santa Maria

Integrada no Grupo Oriental, Santa Maria foi a primeira ilha do arquipélago a ser descoberta, em meados do século XV, e também a primeira a ser formada, tendo emergido há cerca de 10 milhões de anos. Tem cerca de 97 km2 e uma população de 5 552 habitantes (de acordo

com dados de 2011), e é composta apenas por um concelho, o de Vila do Porto. Ao longo dos anos foi criado um sistema de distinção das 9 ilhas através de cores, cada uma representando a cor que mais a identifica. Assim, Santa Maria é considerada a ilha Amarela, por ser a que apresenta um clima mais quente e seco, contribuindo para uma vegetação mais seca e consequente tonalidade amarela. É também reconhecida como a ilha do Sol. Tem como principais atrações turísticas o Barreiro da Faneca, uma área de paisagem protegida que também é conhecida como o deserto vermelho; e as várias zonas balneares da ilha, entre as quais a Praia Formosa, caracterizada por ser a única praia de areia branca no arquipélago (ATA, 2016a).

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28

São Miguel

Juntamente com Santa Maria forma o Grupo Oriental. É a maior ilha dos Açores, com 744,7 km2, e alberga grande parte da população do arquipélago, com 137 856 habitantes (dados de

2011). É constituída por 6 concelhos: Ponta Delgada, Ribeira Grande, Lagoa, Vila Franca do Campo, Nordeste e Povoação. É conhecida como a ilha Verde, devido à grande quantidade de florestas, matas e prados extensos; também é apreciada pela existência de várias lagoas naturais. Entre os principais pontos turísticos de São Miguel, encontram-se o Ilhéu de Vila Franca do Campo, uma reserva natural ao largo da costa, muito procurada na época balnear; a Lagoa do Fogo, classificada como reserva natural e considerada uma das 7 Maravilhas de Portugal na categoria de Praia Selvagem; a Lagoa das Sete Cidades, dividida em 2 outras lagoas (Verde e Azul) e considerada uma das 7 Maravilhas de Portugal; e o Vale das Furnas, local conhecido por ser uma cratera de um vulcão ativo e onde abriga uma das maiores lagoas da ilha e também a freguesia das Furnas (ATA, 2014c).

Terceira

Uma das cinco ilhas que compõem o Grupo Central, e a que se situa mais a Leste deste grupo. Com 56 437 habitantes (dados de 2011) e com uma superfície de 401,9 km2 é

considerada uma das ilhas mais desenvolvidas do arquipélago, juntamente com São Miguel e Faial. Está dividida em dois concelhos – Praia da Vitória e Angra do Heroísmo – e é conhecida como a ilha Lilás, caracterizada pelas grandes manchas de urzes espalhadas pela ilha. Como pontos de interesse, esta ilha possui o Miradouro da Serra do Cume, onde é possível avistar as planícies do interior da ilha dividida por muros de pedra, personificando uma autêntica “manta de retalhos”; e o Algar do Carvão, uma chaminé vulcânica com cerca de 90 m de profundidade, formada há mais de 3 mil anos. Outro dos pontos de maior interesse da ilha é a Base das Lajes, base aérea estrategicamente bem localizada e explorada pela Força Aérea Norte-Americana (ATA, 2014b).

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São Jorge

São Jorge é a ilha mais próxima da ilha Terceira e é um dos vértices das “ilhas do triângulo”. Com 9 171 habitantes (dados de 2011) e uma área de 243,9 km2 é composta pelos concelhos

de Calhetas e Velas. É conhecida como a ilha Castanha, muito devido às vertentes escarpadas e à cor das terras agrícolas. A forma da ilha, com o seu comprimento alongado e com os cones vulcânicos situados no seu centro, faz lembrar um animal pré-histórico adormecido. Tem como pontos de interesse turístico o Pico da Esperança (1053 m), onde é possível avistar as outras ilhas do Grupo Central; e as típicas Fajãs, como a Fajã da Caldeira do Santo Cristo e a Fajã dos Cubres, eleita uma das 7 Maravilhas de Portugal na Categoria das Aldeias (Aldeia de Mar).

Pico

Considerada a segunda maior ilha dos Açores em termos de superfície, com 444,9 km2, a ilha

do Pico possui 14 148 habitantes (dados de 2011) e é um dos vértices das “ilhas do triângulo”. É composta pelos concelhos da Madalena, Lajes do Pico e São Roque do Pico. Nesta ilha situa-se o ponto mais alto do país, a Montanha do Pico. É uma ilha reconhecida mundialmente pela vinicultura, sendo a Paisagem da Cultura da Vinha classificada como Património Mundial da Humanidade. É denominada de ilha Cinzenta pela particularidade de ter diversos currais de vinha (muros de pedra) e pelos extensos campos de lava. As principais atrações turísticas da ilha do Pico são a Montanha do Pico e respetiva escalada da mesma; a Paisagem Cultural da Vinha; e o Museu dos Baleeiros – esta é a ilha onde a atividade baleeira foi mais próspera (ATA, 2014a).

Faial

É uma ilha caraterizada pela sua forma pentagonal, com 173,1 km2 e com 14 994 habitantes

(dados de 2011). É a terceira ilha mais habitada dos Açores e onde se encontra a Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores. Tal como São Jorge e Pico, pertence às “ilhas do triângulo”. É apenas constituída por um concelho: o da Horta. É considerada a ilha azul, em consequência da quantidade avultada de hortênsias azuis presentes na sua paisagem, o

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30 que faz com que a ilha se envolva com o mar. Isso não se verifica na parte da ilha formada pelo Vulcão dos Capelinhos, onde o cinzento das cinzas, provocadas pela erupção do mesmo, caracterizam a paisagem. Os locais de maior interesse turístico são a Caldeira, classificada como Reserva Natural e habitat de populações raras de flora endémica; a Marina da Horta, uma das mais famosas do mundo; e o Vulcão dos Capelinhos (ATA, 2014f).

Graciosa

A Graciosa é a ilha do Grupo Central situada mais a Norte. Possui uma área de 60,66 km2 e

tem 4 391 habitantes. Denominada por ilha Branca, devido à presença de um tipo de rocha mais esbranquiçada, a ilha é composta apenas pelo concelho de Santa Cruz da Graciosa. É também a segunda mais pequena do arquipélago e está classificada pela UNESCO como Reserva da Biosfera. As termas do Carapacho são a sua principal atração turística e representam uma estância termal de águas quentes, situada junto ao mar (ATA, 2014e).

Flores

Com 16,6 km2 de área e 3 793 habitantes (dados de 2011), a ilha das Flores está dividida em

dois concelhos: Santa Cruz das Flores e Lajes das Flores. Denominada a ilha Rosa devido à abundante presença de azálias e hortênsias na sua paisagem, representa o ponto mais ocidental da Europa e, consequentemente, de Portugal, e também é conhecida pelas suas quedas de água e lagoas. Como pontos de interesse tem o ilhéu de Monchique, o ponto mais ocidental do território europeu; as Sete Lagoas; e a Fajãzinha, uma pequena fajã onde existem várias cascatas (ATA, 2014d).

Corvo

A menor ilha dos Açores, com cerca de 17 km2 e 430 habitantes (dados de 2011). Tal como

as Flores, pertence ao Grupo Ocidental e é apenas composta pelo concelho de Vila do Corvo, sendo esta a única freguesia aí existente. Uma vez que a ilha corresponde a um único cone vulcânico, trata-se de uma ilha-vulcão. É também conhecida como a ilha Preta, devido ao

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31 seu tamanho pequeno – é representada apenas por um ponto preto no mapa – e pelos campos de lava. Como principal ponto de interesse turístico a ilha do Corvo tem o Miradouro do Caldeirão, uma cratera com 2,3 km de diâmetro e onde se diz estarem retratadas todas as ilhas dos Açores (ATA, 2016b).

2.6.2 Turismo nos Açores

O PEM – Plano Estratégico e de Marketing do Turismo dos Açores – foi criado a pensar no desenvolvimento do turismo na região, de forma a prevenir e aconselhar as entidades e organizações relacionadas com esta área. De acordo com este relatório, a missão do turismo dos Açores consiste em:

“Atingir a verdadeira sustentabilidade através do Turismo, proporcionando aos nossos visitantes uma

experiência de convidados especiais em ambiente natural, recebendo-os com carinho e cortesia genuínas, para que a experiência dos Açores lhes deixe saudade e os faça voltar. Assim assumimos o compromisso de trabalhar o nosso destino de modo próximo com as nossas comunidades para que, de forma integrada e inclusiva, consigamos atingir o equilíbrio social, económico, cultural e ambiental.”

(IPDT, 2016, p. 14) Com esta missão é importante passar a mensagem de que a população local é uma parte importante da experiência turística da região, tanto quanto a natureza; também é essencial que a oferta da região se foque em produtos e serviços sustentáveis, uma vez que os Açores têm de se caracterizar, cada vez mais, como um destino verde. Tal como a própria definição de RSE, é enfatizado que o desenvolvimento da região deve ter como obrigação a preservação tanto do ambiente natural, como também do económico, do social e das comunidades locais.

Passando da teoria à prática, o Turismo é visto como um dos grandes pilares económicos da região autónoma dos Açores, e as receitas geradas pelas unidades hoteleiras (hotelaria tradicional) muito contribuem para isso. Por exemplo, no ano de 2019, as unidades hoteleiras dos Açores geraram cerca de 104.5 milhões de euros de receita, comprovando que se trata de um setor altamente lucrativo (SREA, 2020a). Estas unidades hoteleiras, nesse mesmo ano, empregaram, em média, 2360 pessoas (SREA, 2020c), registando um aumento de cerca de

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32 53% em relação a 2015, ano em que foi liberalizado o espaço aéreo dos Açores. Esta liberalização, assim como o novo modelo de transporte aéreo da região, em vigor desde 29 de março de 2015, contribuíram para que o arquipélago se tenha transformado num dos “novos destinos da moda”, como afirmam fontes do Governo Regional (TVI24, 2016). Analisando os dados estatísticos e comparando o período anterior a esta liberalização com o período atual chega-se à conclusão de que o aumento de passageiros desembarcados nos aeroportos dos Açores foi de quase 100% desde a liberalização do espaço aéreo da região, como indica a figura 5. Ainda de acordo com dados do SREA, em 2019 a hotelaria tradicional contou com cerca de 644 000 hóspedes, com um tempo médio de estadia de 2.9 dias (SREA, 2020b).

Figura 5 - Passageiros desembarcados nos aeroportos dos Açores

Fonte: (Fundo de Maneio, 2017)

Se considerarmos as estatísticas fornecidas pela plataforma Travel BI do Turismo de Portugal, verifica-se que, em 2019, os Açores receberam perto de 775 000 turistas no total – considerando a hotelaria tradicional, o turismo em espaço rural e o alojamento local – o que corresponde a um aumento de 7,8% em relação a 2018 (Travel BI, 2020).

A crescente tendência em definir o turismo da região como sustentável é confirmada também pelo facto de em dezembro de 2019 ter sido realizado, na ilha Terceira, o congresso anual organizado pelo Concelho Global de Turismo Sustentável, onde os Açores receberam o certificado de destino turístico sustentável, sendo a primeira região do país a obtê-lo e o único arquipélago do mundo com este certificado (Público, 2019). A constante preocupação com

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33 o ambiente e com a sua sustentabilidade por parte das entidades governamentais da região levou a que fosse criado um programa – o Blue Azores – em parceria com a Fundação Oceano Azul e a Waitt Foundation, para que, no espaço de 3 anos, sejam declarados 15% da Zona Económica Exclusiva dos Açores como área protegida, de modo a preservar as áreas marinhas protegidas, assim como os seus recursos minerais, e poder conciliar o cada vez mais procurado Turismo de Natureza sem prejudicar os ecossistemas existentes no território da região (Expresso, 2019). Também os dados revelados pelo SREA (2018) demonstram a recente preocupação com o meio ambiente e com a sua preservação: em 2007, a percentagem de espaços naturais protegidos nos Açores era apenas de 6%, ao passo que em 2017 este valor já era de 24,2%, o que corresponde a um aumento de 303% no espaço de 10 anos. Todo este esforço foi recompensado através do reconhecimento por parte da Mission Blue Foudation “Sylvia Earle Alliance” ao considerar os Açores como um “Hope Spot” – lugar de esperança – de proteção dos oceanos (Açoriano Oriental, 2019). Para além disso, as ilhas do Corvo, da Graciosa e das Flores e as Fajãs de São Jorge integram a Rede Nacional de Reservas da Biosfera da UNESCO (UNESCO Portugal, 2016). Todavia, como a preocupação com o ambiente não é a única prioridade, cada vez mais se investiga a influência da sociedade e das comunidades locais no desenvolvimento das regiões ou dos diferentes setores das mesmas. Por exemplo, de acordo com Gursoy, Boğan, Dedeoğlu e Çalışkan (2019), é importante que a comunidade local tenha noção das atividades socialmente responsáveis desenvolvidas pelos diferentes estabelecimentos hoteleiros, uma vez que assim existe grande possibilidade de se envolverem e empenharem na ajuda ao desenvolvimento do turismo da sua região. As entidades governamentais da RAA já se aperceberam disso e no seu relatório enfatizam que “As pessoas são parte integrante da experiência turística nos Açores, podendo ser, a par com a natureza do território, o elemento diferenciador” (IPDT, 2016).

2.6.3 Análise SWOT do Turismo nos Açores

A análise SWOT ao Turismo dos Açores foi realizada a partir de dados obtidos através de inquéritos realizados a organizações e entidades relacionadas com o turismo e também à população em geral. Quanto aos Fatores Internos, foram definidas como principais forças da região os seus recursos naturais e a sua biodiversidade, fazendo com que o turismo de Natureza seja um dos principais tipos de turismo praticados na região; a melhoria da

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34 economia e o desenvolvimento da região; a segurança, tanto dos turistas como da população em geral; e a oferta cultural e histórica. No campo das fraquezas, é referido o preço do destino (viagens, estadias e serviços); os recursos humanos alocados à área do turismo e a fraca formação dos mesmos; a qualidade da oferta dos produtos e dos serviços; e a comunicação do destino.

No que concerne os Fatores Externos, são consideradas como Oportunidades o potencial da diversidade dos recursos; a tendência de crescimento do turismo de natureza; o turismo rural; e a entrada de companhias low-cost (Ryanair e EasyJet numa primeira fase). A ameaça do turismo de massas; a atual política e estratégia pública; a competitividade dos destinos concorrentes; e a política de preço desajustada ao mercado são vistas como as principais ameaças ao destino Açores (IPDT, 2016).

2.6.4 Setor Hoteleiro nos Açores

Assim como o setor hoteleiro é responsável pela maioria do impacto negativo do turismo no ambiente natural, também é possível afirmar que é um dos principais – se não o principal – responsáveis para o desenvolvimento do turismo. Assim, o investimento neste setor torna-se estorna-sencial para que o turismo torna-se detorna-senvolva de forma próspera. Nos Açores, este investimento tem se verificado gradualmente, mas não de forma muito notória, uma vez que os dados disponibilizados e divulgados geralmente correspondem à hotelaria tradicional, enquanto que nos últimos anos o principal tipo de alojamento criado e desenvolvido na região tem sido o Alojamento Local. Tal como é referido no PEM, o tipo de alojamento que as entidades governamentais tentam incentivar ao investimento é o Turismo em Espaço Rural (IPDT, 2016), que consiste numa forma de alojamento mais enquadrada nos parâmetros da RSE e da sustentabilidade, isto é, o TER é uma forma de alojamento turístico onde as casas utilizadas para esse efeito estão localizadas em aglomerados populacionais ou em explorações agrícolas, sendo possível que estas sejam, simultaneamente, residência permanente dos proprietários. Com isto, pretende-se que os turistas usufruam de uma experiência mais completa, com um maior contacto com a natureza, com a população local e os seus costumes. É possível englobar no TER o turismo de habitação, o turismo rural, o agro-turismo, o turismo de aldeia e as casas de campo. Por outro lado, o Alojamento Local consiste num estabelecimento destinado a oferecer alojamento temporário, mobilado e de

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35 forma onerosa, sendo obrigatório cumprir certos requisitos impostos pelo Governo Regional (SREA, 2020a). Ainda de acordo com as definições do SREA (2020a), dentro da Hotelaria Tradicional estão englobados os hotéis, os hotéis-apartamentos (ou Aparthotéis) e os apartamentos turísticos.

De acordo com os dados do OTA (2020), à data de novembro de 2019, a Região Autónoma dos Açores possuía 94 estabelecimentos de hotelaria tradicional, mais um que no ano anterior. Também o número de camas disponíveis na hotelaria tradicional dos Açores registou um aumento de cerca de 4.5%, sendo que a taxa de ocupação na região manteve-se praticamente inalterada, situando-se atualmente nos 56.31%. Se olharmos para as diferentes ilhas, a que possui mais estabelecimentos é a ilha de São Miguel, que conta com cerca de 47% dos estabelecimentos presentes na região, ao passo que o Corvo é a que apresenta menos estabelecimentos, contando apenas com 1 hotel.

Os dados apresentados pelo SREA, indicam que no ano de 2019, a hotelaria tradicional contabilizou 1 896 258 dormidas, enquanto que o TER contabilizou 68 564 dormidas e o AL registou 953 021 dormidas. Estes dados confirmam também que o período de estadia é maior no TER e AL (3.6 e 3.5 dias, respetivamente) do que na hotelaria tradicional (2.9 dias) (SREA, 2020b).

De acordo com Travel BI (2019), em 2018 os Açores contavam com 73 Hotéis (sendo 3 deles de 5 estrelas; 29 de 4 estrelas; 17 de 3 estrelas; e 24 de 1 e 2 estrelas), 4 Aparthotéis, 2 Pousadas e 18 Apartamentos Turísticos, totalizando 97 estabelecimentos. Estes valores diferem ao longo do ano, uma vez que existem alguns estabelecimentos que apenas operam durante a época alta, funcionando de acordo com a sazonalidade.

2.6.5 Tipos de Estabelecimentos abordados no estudo

Uma vez que grande parte das ações de RSE abordadas nesta investigação não se aplicam, ou são extremamente difíceis de aplicar, aos estabelecimentos de TER e AL, dado que grande parte destes espaços são geridos por particulares e não contemplam a mesma diversidade de recursos financeiros e humanos que as grandes empresas possuem, estes não foram considerados para efeitos desta investigação. Assim, para além dos estabelecimentos englobados na Hotelaria Tradicional, foram considerados os hostels da região – as pousadas

Referências

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