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Subsídio de Primeira Infância

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Academic year: 2021

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O Subsídio de Primeira Infância (SPI) é uma

transferência monetária incondicional, dirigida a crianças até aos 2 anos de idade que vivam em agregados familiares pobres ou vulneráveis, com o objectivo de promover a redução da desnutrição crónica e de melhorar o acesso das crianças aos serviços de saúde, acção social e de registo civil.1 O SPI é proposto (a título experimental numa primeira fase) na Estratégia Nacional de Segurança Social Básica (ENSSB) 2015-2024 e é uma reiteração do compromisso assumido no Plano de Acção Multissectorial de Redução de Desnutrição Crónica 2011-2015. Desde 1990, Moçambique tem um programa de protecção social crescentemente robusto e abrangente. Não obstante, os programas de transferências sociais monetárias ao abrigo

Subsídio de Primeira Infância

O Que é o Subsídio de Primeira Infância

destes programas não tiveram ainda impactos significativos ao nível das crianças, em particular no que diz respeito à redução da desnutrição crónica. Moçambique tem uma taxa de desnutrição entre as mais elevadas do mundo, afectando cerca de 43% das crianças menores de 5 anos.2 A desnutrição tem impactos negativos não só ao nível do desenvolvimento e saúde da criança, mas também ao nível da sua produtividade em adultos, podendo, inclusive, causar danos irreversíveis. Reduzir a desnutrição crónica e melhorar o acesso aos serviços de saúde por parte das crianças torna-se, assim, um objectivo primordial que justifica a aposta numa Protecção Social a pensar na criança, nomeadamente através da implementação de um Subsídio de Primeira Infância.

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O período inicial do desenvolvimento da criança

(os chamados primeiros 1000 dias, desde a gravidez aos 23 meses de vida) é um período crítico para o desenvolvimento global da criança, em particular ao nível cognitivo. Este período oferece uma “janela de oportunidade” única para o investimento no desenvolvimento da criança, com resultados a longo prazo ao nível

Porquê o Enfoque na Primeira Infância?

da saúde e da produtividade de uma sociedade. Os resultados nutricionais nestes primeiros mil dias impactam significativamente no estado nutricional e na produtividade do adulto que a criança se vai tornar. Existem evidências que, mesmo em países de baixa renda, por cada dólar gasto na redução da desnutrição crónica, há um retorno de 30 dólares.3

NUTRIÇÃO

Existem fortes evidências do impacto de trans-

ferências sociais monetárias (de valor significativo) nas famílias com crianças ao nível da redução da desnutrição, quer através da melhoria da segurança e variedade alimentar, quer do acesso a serviços de saúde materno-infantis.

Na África do Sul, verificou-se uma associação positiva entre o recebimento do Subsídio de Apoio à Criança (Child Support Grant - CSG) e o aumento do indicador altura-para-idade, indicador antropométricoi de medição do nível de desnutrição.4 No Lesoto, ainda que a avaliação do impacto do Programa de Apoio

Porquê Apostar no Subsídio de Primeira Infância?

à Criança (Child Grants Programme - CGP) não tenha recolhido informação antropométrica, verificou-se que a percentagem de crianças que comeram menos refeições ou refeições menores devido à escassez de alimentos (nos três meses que antecederam a avaliação) diminuiu em 11 pontos percentuais.5

Diversos programas de transferências sociais monetárias em outros países da África Subsariana mostraram igualmente ter tido impacto ao nível de indicadores intermediários de nutrição, tais como a diversidade alimentar, frequência de refeições e consumo de alimentos.6

© UNICEF/Mozambique/2015/K. Schermbrucker

i Indicadores Antropométricos: medidas do corpo, tais como peso, altura e circunferência do braço, em combinação com a idade e sexo, para

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“A segurança e variedade alimentar

são pré- requisitos para uma

boa nutrição. As transferências

sociais monetárias, associadas

à transmissão de informação

relativa aos requisitos de uma

dieta adequada, aumentam

a capacidade das famílias de

evitarem e tratarem a desnutrição.”

A segurança e variedade alimentar são pré-

requisitos para uma boa nutrição. As transferências sociais monetárias, associadas à transmissão de informação relativa aos requisitos de uma dieta adequada, aumentam a capacidade das famílias de evitarem e tratarem a desnutrição.

No Quénia, o Programa de Transferências Monetárias para Crianças Órfãs e Vulneráveis

(Cash Transfer Program for Orphans and Vulnerable Children - CT-OVC) aumentou o nível

de gastos com alimentação e a diversidade da dieta dos agregados, em particular no que concerne ao consumo de proteína animal, leite, açúcar e gorduras.7 Uma avaliação posterior confirmou o impacto do programa no aumento do nível de consumo por parte dos agregados beneficiários, em particular no consumo de carne e produtos lácteos.

Numa análise dos resultados de diversas avaliações de impacto em países da África Subsariana, verificou-se que as transferências monetárias tiveram um impacto claro e consistente na melhoria do nível de segurança alimentar e nutricional.8 Na Zâmbia, Quénia e Malawi, entre os beneficiários de programas de transferências sociais monetárias, houve um aumento entre 10 e 30 pontos percentuais na aquisição de comida, incluindo alimentos de origem animal, especialmente carne e produtos lácteos, o que contribuiu para o aumento da diversidade da dieta entre os beneficiários.9

SEgURANÇA E VARIEdAdE

AlImENTAR

©UNICEF Mozambique/2014/A. Marques

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O impacto dos programas de transferências monetárias sociais na redução da morbidez é também significativo, de uma forma consistente, em outros países da África Subsariana, nomead-amente Zâmbia e Quénia. O programa da Zâmbia levou ainda a uma melhoria na alimentação de lactentes e crianças na primeira infância, bem como a uma melhoria dos indicadores de desen-volvimento da primeira infância.14

O impacto dos programas

de transferências monetárias

sociais na redução da morbidez

é significativo, de uma forma

consistente, em diversos

países da África Subsariana,

nomeadamente Zâmbia,

Quénia e Malawi.

SAÚdE

A avaliação do impacto ao CGP do Lesoto registou uma diminuição de 15% na proporção de crianças entre os 0 e os 5 anos de idade que haviam sofrido de alguma doença (regra geral, gripes ou constipações) nos 30 dias que precederam a avaliação.10 Na África do Sul, as crianças beneficiárias do CSG desde o nascimento tinham menos probabilidade de terem estado doentes nos 15 dias antes da avaliação do impacto do Subsídio do que as crianças que passaram a beneficiar do programa apenas aos 6 anos de idade.

No Quénia, o Programa CT-OVC conduziu a um aumento percentual de 12 pontos na frequência da “Clínica do Bébé Saudável”, de 15 pontos na vacinação completa e de 16 pontos na aquisição e posse do cartão de saúde entre as crianças em idade pré-escolar.11 Para além disso, a avaliação mais recente ao impacto deste programa demonstrou ainda que os agregados beneficiários gastavam significativamente mais em saúde e menos em álcool e tabaco que os agregados de controlo.12

No Malawi, uma análise ao impacto das transferências sociais monetárias mostrou uma redução de 10% no nível de morbidez, em comparação com o grupo de controlo (23% no total).13

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EdUCAÇÃO

Numa análise do impacto do CSG na África do Sul, foi demonstrado um resultado positivo entre a frequência da escola/ resultados escolares e o programa: as crianças que beneficiavam do programa desde o nascimento completaram significativamente mais anos escolares que as crianças que haviam começado a beneficiar do programa apenas aos 6 anos de idade, bem como tiveram melhores resultados numa avaliação do nível de conhecimento matemático. Tais resultados foram particularmente significativos no que toca às raparigas (cerca de um quarto de grau de escolaridade entre as beneficiárias desde o nascimento e as beneficiárias desde os 6 anos de idade), principalmente devido ao facto de o Subsídio ter evitado atrasos destas na entrada na escola.15 O CGP do Lesoto conduziu a um aumento na proporção de crianças inscritas na escola e contribuiu para a permanência das crianças entre os 13 e os 17 anos no ensino primário que teriam, de outra forma, desistido.16

No Malawi registou-se uma diferença de 4.2% no número de crianças inscritas na escola. Análises do impacto de programas de transferências monetárias entre outros países da África Subsariana (Gana, Quénia, Lesoto, Malawi, África do Sul e Zâmbia) revelaram haver forte e consistente relação entre estes e o nível de crianças inscritas na escola, em particular na faixa etária entre os 12 e os 17 anos (variando o aumento entre 5 e 10 pontos percentuais nos vários países). As avaliações de impacto dos programas do Gana e Quénia demonstraram ainda um impacto positivo ao nível da redução da repetição de ano e no Gana, Malawi e Lesoto ao nível da frequência da escola.17

Existem fortes evidências positivas entre os programas de transferências monetárias sociais e o nível de inscrição e permanência de crianças na escola

© UNICEF Mozambique/2012/Chris Steele-Perkins/Magnum Photos

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Outros Impactos

Para além dos impactos mencionados, há ainda fortes evidências de relações positivas entre os subsídios com enfoque nas famílias com crianças e o desenvolvimento na primeira infância, os comportamentos de risco por parte dos jovens, as estratégias de subsistência e economia local, a participação e coesão social, entre outros. Diversas avaliações do impacto dos subsídios com enfoque nas crianças sugerem que o efeito multiplicador destas transferências se situa entre os 2,5 e os 4 por transferência.

O impacto do SPI ao nível do desenvolvimento das crianças e do crescimento económico inclusivo é maximizado com a implementação de determinadas medidas ou programas comple-mentares – tais como medidas de promoção do acesso a serviços de saúde e de acção social, apoio psicossocial, planeamento familiar, aumento da disponibilidade de alimentos.

A Necessidade

de Medidas

Complementares

FERTIlIdAdE

Não existe até à data qualquer evidência

significativa de que os subsídios de primeira infância tenham um impacto perverso ao nível da fertilidade, isto é, que a atribuição de subsídios direccionados para a criança resulte num maior número de gravidezes.18 Pelo contrário, avaliações de impacto das transferências monetárias, têm demonstrado que, em comunidades com acesso a planeamento familiar, conduzem a um aumento do uso de contraceptivos. Para além disso, estes programas constituem uma oportunidade única de fazer chegar aos cuidadores informação relevante ao nível do planeamento familiar, nutrição e cuidados parentais.

Na Europa, as transferências sociais monetárias não tiveram qualquer impacto ao nível do aumento da fertilidade, ainda que tivessem sido concebidas para fazê-lo, sendo que o único factor que revelou conduzir a um aumento da fertilidade foi o acesso universal a creches para crianças pequenas.

Os programas de

transferências sociais

monetárias são uma

oportunidade única de fazer

chegar aos cuidadores

informação relevante ao nível

do planeamento familiar,

nutrição e cuidados parentais.

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Embora não exista ainda uma projecção de custos oficial do SPI para Moçambique, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que a atribuição de um subsídio de apoio à criança seja possível de alcançar com 1-2% do PIB de um país.19 Existem também evidências dos potenciais ganhos na produtividade a longo prazo através da contribuição de uma melhor nutrição, saúde e educação para o crescimento económico nacional, resultando assim numa diminuição e recuperação dos custos dos programas de protecção social a longo prazo.20

REFERÊNCIAS

Custos e Viabilidade Financeira do Subsídio

de Primeira Infância

A produtividade económica destes é, assim, maximizada através do investimento no desen-volvimento do capital humano.21 Estimativas preliminares realizadas no âmbito da ENSSB 2015-2024 relativamente aos impactos do pacote de transferências monetárias do INAS ao nível nacional, indicam que, quando alcançada a cobertura completa (2024), segundo o cenário principal proposto na Estratégia e quando im-plementado em escala nacional, o Subsídio de Primeira Infância contribuiria para uma redução em mais de 10% na incidência de pobreza.22

1 MINISTÉRIO DO GÉNERO, CRIANÇA E ACÇÃO SOCIAL (2005)

Estratégia Nacional de Segurança Social Básica 2015-2019,

Moçambique: Governo da República de Moçambique

2 INSTITUTO NACIONAL DE ESTATÍSTICAS (2011) Inquérito

Demográfico e de Saúde (IDS) 2011

3 HODDINOTT; ROSEGRANT; E TORERO, Documento da avaliação

sobre a fome e desnutrição para a 3º consenso de Copenhaga, Centro do Concenso de Copenhaga, 2012 apud ECONOMIC

POLICY AND RESEARCH INSTITUTE, Advocar para a Proteccao

Social Sensivel à Crianca. Economic Policy and Research Institute.

Documento de Trabalho, 2015

4 AGÜERO, J.M.; CARTER, M.R.; WOOLARD, I., Impacto de

Transferências Incondicionais de Dinheiro na Nutrição: Subsídio de Apoio à Criança na África do Sul . Southern Africa do Trabalho e da Unidade de Pesquisa de Desenvolvimento da África Austral,

Documento de Trabalho Número 06/08, Cidade do Cabo: SALDRU, Universidade da Cidade do Cabo, 2006 apud ECONOMIC POLICY AND RESEARCH INSTITUTE, Advocar para a Proteccao Social

Sensivel à Crianca. Economic Policy and Research Institute.

Documento de Trabalho, 2015

5 PELLERANO, Luca et al. Child Grants Programme Impact

Evaluation – Follow-up report – Executive Summary, Oxford Policy

Management, 2014

6 THE TRANSFER PROJECT, The Broad Range of Cash Transfer

Impacts in Sub-Saharan Africa: Consumption, Human Capital and Productive Activity. Research Brief, 2014

7 WARD, Patrick et al, Kenya CT-OVC Programme – Operational

and Impact Evaluation: 2007–2009. Final Report. Oxford Policy

Management, 2010

8 THE TRANSFER PROJECT, The Broad Range of Cash Transfer

Impacts in Sub-Saharan Africa: Consumption, Human Capital and Productive Activity. Research Brief, 2014

9 Ibid.

10 PELLERANO, Luca et al, Child Grants Programme Impact

Evaluation – Follow-up report – Executive Summary. Oxford Policy

Management, 2014

11 THE TRANSFER PROJECT, The Broad Range of Cash Transfer

Impacts in Sub-Saharan Africa: Consumption, Human Capital and Productive Activity. Research Brief, 2014

12 INTERNATIONAL POLICY CENTRE FOR INCLUSIVE GROWTH,

Do Cash Transfers Change Household Consumption Preferences? – Evidence from an Unconditional Cash Transfer in Kenya. One Pager

no.151. IPC –IG, 2012

13 HANDA, Sudanshu; DEVEREUX, Stephen; WEBB, Douglas (Eds.),

Social Protection for Africa’s Children, New York: Routledge, 2011

14 THE TRANSFER PROJECT, The Broad Range of Cash Transfer

Impacts in Sub-Saharan Africa: Consumption, Human Capital and Productive Activity. Research Brief, 2014

15 DSD, SASSA and UNICEF, The South African Child Support Grant

Impact Assessment: Evidence from a survey of children, adolescents and their households. Pretoria: UNICEF South Africa, 2012

16 PELLERANO, Luca et al, Child Grants Programme Impact

Evaluation – Follow-up report – Executive Summary. Oxford Policy

Management, 2014

17 THE TRANSFER PROJECT, The Broad Range of Cash Transfer

Impacts in Sub-Saharan Africa: Consumption, Human Capital and Productive Activity. Research Brief, 2014

18 UNICEF, Os programas de transferência social monetária têm

impacto sobre a fertilidade? Nota Informativa do UNICEF, 2015

19 Pal et al., 2005 apud ECONOMIC POLICY AND RESEARCH

INSTITUTE, Advocar para a Proteccao Social Sensivel à Crianca. Economic Policy and Research Institute. Documento de Trabalho, 2015

20 ECONOMIC POLICY AND RESEARCH INSTITUTE, Advocar para a

Protecção Social Sensível à Criança. Economic Policy and Research

Institute. Documento de Trabalho, 2015

21 SAMSON, 2009 apud ECONOMIC POLICY AND RESEARCH

INSTITUTE, Advocar para a Proteccao Social Sensivel à Crianca. Economic Policy and Research Institute. Documento de Trabalho, 2015

22 OXFORD POLICY MANAGEMENT e ORGANIZACAO

INTERNACIONAL DO TRABALHO, O Pacote de Transferências Sociais

na ENSSB II. Análise da Cobertura, Custos e Impacto Na Pobreza.

Working Presentation, 2015 e OXFORD POLICY MANAGEMENT e ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO, Estratégia

Nacional de Segurança Social Básica (ENSSB II), Documento Técnico

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UNICEF mOÇAmbIqUE Av. Zimbabwe 1440 C.P. 4713 Maputo, Moçambique +258.21.481.100 www.unicef.org.mz facebook.com/unicef.mozambique

Referências

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