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Análise das formas de governança utilizadas nos processos de carregamento e transporte de cana-de-açúcar

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Academic year: 2021

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Análise das formas de governança utilizadas nos processos

de carregamento e transporte de cana-de-açúcar

Luciano Rodrigues

CPF 294082428-23

Mestrando em Ciências: Economia Aplicada, Escola Superior de Agronomia Luiz de Queiroz –ESALQ/USP

Rua Lamartine Babo, 257. Santa Teresinha, Piracicaba-SP. CEP 13411-033 E-mail lurodrig@esalq.usp.br

Márcia Azanha Ferraz Dias de Moraes

CPF 066698338-06

Profa. Dra. Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – ESALQ/USP Av. Pádua Dias, n. 11, Caixa Postal 9

Piracicaba – SP – CEP – 13418-900 E-mail: mafdmora@esalq.usp.br

Área Temática: Sistemas Agroalimentares e Cadeias Agroindustriais Forma de Apresentação: apresentação em sessão sem debatedor

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Análise das formas de governança utilizadas nos processos

de carregamento e transporte de cana-de-açúcar

Resumo

Este estudo procura apresentar uma contribuição para o entendimento do mecanismo de escolha e manutenção das diferentes formas de governança encontradas nas operações de carregamento e transporte da cana-de-açúcar, adotadas pelas empresas do setor sucroalcooleiro. Objetiva, portanto, analisar os determinantes da seleção e manutenção das formas de governança utilizadas. O referencial teórico utilizado é a Economia dos Custos de Transação, e a metodologia adotada envolve dois estudos de caso. Os dados foram obtidos a partir de entrevistas em profundidade com os responsáveis pelas empresas. Observou-se que as empresas utilizavam diferentes formas de governança para coordenar processos semelhantes, as quais não foram explicadas exclusivamente por custos de transação distintos. Dentre as principais motivações para a decisão da terceirização dos processos estudados cita-se a dificuldade de investimento em novos equipamentos e a possibilidade de redução dos custos dos serviços agrícolas. Também foram influenciadas por características como o elevado grau de confiança entre os agentes, a necessidade de equipamentos para a realização de outras atividades na entressafra, além das competências administrativas e gerenciais das empresas.

PALAVRAS-CHAVE: custos de transação, formas de governança, carregamento e

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Análise das formas de governança utilizadas nos processos

de carregamento e transporte de cana-de-açúcar

1 - INTRODUÇÃO

Este estudo apresenta uma contribuição para o entendimento do mecanismo de escolha e manutenção das formas de governança adotadas pelas empresas do setor sucroalcooleiro na coordenação dos serviços agrícolas de carregamento e transporte.

Nos últimos anos foram inúmeras as mudanças ocorridas na economia mundial e, em particular, na economia brasileira. No setor sucroalcooleiro a mudança na atuação do Estado provocou alterações na forma de gestão da cadeia produtiva da cana-de-açúcar, no modo de organização do setor e nas estratégias e condutas adotadas pelas empresas, entre outras.

Segundo Vian (2002), as principais estratégias competitivas adotadas pelas agroindústrias sucroalcooleiras foram: a diversificação produtiva, os processos de fusões e aquisições, a criação de grupos de comercialização e o aprofundamento e especialização na produção de açúcar e álcool, este último inclui, entre outros aspectos, a terceirização de serviços agrícolas e industriais.

Dentre os serviços agrícolas terceirizados pelas usinas, destacam-se os de carregamento e transporte da cana-de-açúcar, pois representam cerca de 10% dos custos da saca de açúcar e 25% dos custos totais da tonelada de cana (ProCana, 2005).

Entretanto, não existe uma convergência entre as estruturas de governança1 utilizadas pelas usinas e destilarias do Estado de São Paulo, pois observam-se diversas formas de governança para coordenação dessas operações (desde estruturas totalmente terceirizadas até estruturas verticalizadas, e ainda uma diversidade de formas intermediárias entre essas). Segundo Mizumoto (2004), pela lógica da economia neoclássica, as firmas menos eficientes são eliminadas pelas mais eficientes; a mesma lógica pode ser aplicada a forma de governança das transações, ou seja, espera-se que a mais eficiente (que minimize os custos de transação e produção) se estabeleça em detrimento das demais, existindo uma tendência de homogeneização das estruturas adotadas.

Algumas questões relevantes surgem nesse ponto: porque coexistem instituições de governança distintas entre as empresas para governar as mesmas operações? Quais os principais fatores que condicionam a escolha do arranjo utilizado por elas? Existem diferenças nos atributos das transações, e portanto, nos custos de transação, para cada uma das empresas?

Nesse sentido, este estudo procura analisar os mecanismos e critérios utilizados pelas usinas e destilarias na seleção e manutenção das formas de governança adotadas para a coordenação dos processos de carregamento e transporte da cana-de-açúcar.

Especificamente, pretende-se:

• Descrever as formas de governança utilizadas pelas duas empresas;

• Caracterizar os atributos das transações envolvidas nos processos de carregamento e transporte da cana-de-açúcar;

• Identificar se existem variáveis que não são incorporadas à ECT, mas afetam a escolha e manutenção das formas de governança utilizadas.

1

O termo utilizado segue a definição de Farina et al (1997), onde estrutura de governança é definida como o “ conjunto de regras – tais como contratos entre particulares ou normas internas às organizações – que governam uma determinada transação”.

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Além da presente introdução, o trabalho foi dividido em outras 6 seções: na seção 2 descreve-se o referencial teórico utilizado no estudo; a terceira seção faz uma breve descrição do setor sucroalcooleiro no Brasil, para contextualização do leitor; na quarta seção são descritos os procedimentos metodológicos utilizados; na quinta seção serão discutidos os resultados obtidos; na sexta seção são expostas as considerações finais; e, a sétima e última seção descreve as referencias dos trabalhos e pesquisas citadas neste estudo.

2 – REFERENCIAL TEÓRICO

Para Carlton e Perloff (1994), a decisão de integração vertical das atividades da firma envolve uma série de aspectos. Os autores destacam que as firmas geralmente integram suas atividades levando em consideração os seguintes benefícios:

• Garantia de oferta de um insumo chave ou distribuição do produto final; • Internalização de externalidades;

• Evitar restrições governamentais, regulações, taxas, controle de preços e impostos; • Aumento ou criação de poder de mercado;

• Eliminação do poder de monopólio de outra firma; • Redução dos custos de transação.

No caso das operações de carregamento e transporte da cana-de-açúcar os aspectos referentes à garantia da oferta de insumo (no caso a matéria-prima) para a indústria e a redução dos custos de transação parecem ser os mais relevantes.

Ainda segundo Carlton e Perloff (1994), a maioria dos trabalhos que estudam as razões da integração vertical focam sua análise no ganho de poder de mercado ou na teoria dos custos de transação (Williamson, 1989) que faz emergir a questão da eficiência. No presente estudo, o referencial teórico utilizado para estudar o processo de escolha da forma organizacional empregada pela usina nas operações de transporte e carregamento da cana-de-açúcar é o da Economia dos Custos de Transação (ECT), uma das vertentes da Nova Economia Institucional-NEI.

2.1 – A Economia dos Custos de Transação

Antes de iniciar a apresentação da teoria da ECT, faz-se necessário definir o conceito de custos de transação, o qual é utilizado como foco principal no desenvolvimento dessa teoria.

Os custos de transação são os custos necessários para que o sistema econômico funcione. Para Azevedo (1996), os custos de transação são definidos como os custos de elaboração de contratos, mensuração e fiscalização dos direitos de propriedade, monitoramento do desempenho, organização das atividades e adaptações ineficientes às mudanças do sistema econômico.

Williamson (1989) faz uma analogia entre os custos de transação e a força de atrito presente nas engrenagens mecânicas, assim, desconsiderar os custos de transação é semelhante a aceitar a pressuposição de que não existe atrito entre duas engrenagens que trabalham conjuntamente, ou seja, não existe nenhum tipo de perda de energia nesse processo. Sob o ponto de vista econômico, seria o mesmo que considerar que os agentes operam harmoniosamente, sem nenhum tipo de conflito ou ineficiências.

A aceitação da existência dos custos de transação e a não neutralidade das instituições são os aspectos fundamentais da teoria da Economia dos Custos de Transação.

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Williamson (1985), citado por Moraes (2000), afirma que na ECT a firma é vista como um nexo de contratos que disciplinam as transações, entendidas como as transformações de um produto através de interfaces tecnologicamente separáveis.

Portanto, para determinar a melhor forma de transacionar seus produtos e/ou insumos a firma deve levar em consideração não só os custos de produção, mas também os custos associados as diferentes formas de transacioná-los (custos de transação). Segundo Moraes (2000), na ECT a decisão sobre o modo mais eficiente de transacionar vai além das estratégias empresariais que buscam reduções dos custos de produção envolvidos, devendo considerar os custos decorrentes de fazer o sistema funcionar, que surgem ao se utilizar o sistema de preços como alocador de recursos em um ambiente onde não existam as condições vigentes em um mercado de concorrência perfeita.

Assim, de acordo com as características de uma determinada transação, a firma deve adotar uma forma de governança tal que os custos de produção e transação sejam minimizados. As diferentes formas de governança encontradas (transacionar no mercado, produção própria ou formas híbridas entre as duas anteriores) são respostas eficientes dos agentes em relação ao problema dos custos de transação.

De acordo com Williamson (1989), as transações apresentam certas dimensões relacionadas à especificidade dos ativos envolvidos, à incerteza e a freqüência, que somadas ao pressupostos comportamentais da teoria (racionalidade limitada e oportunismo), definem as formas organizacionais mais eficientes.

A seguir aborda-se de forma mais detalhada os pressupostos comportamentais da ECT e os atributos que diferenciam as transações (especificidade dos ativos, incerteza e freqüência).

2.1.1 – Pressupostos comportamentais

A ECT tem como principais pressupostos comportamentais a racionalidade limitada e o comportamento oportunista, sem os quais os custos de transação não existiriam. Se todos os agentes fossem super racionais (possibilitando a previsão de todas as atitudes alternativas no decorrer de uma transação) e completamente honestos (impedindo que quebras contratuais ocorressem), os custos de transação se reduziriam a zero (Ribeiro, 1998).

A racionalidade limitada

Segundo Simon (1961), citado por Williamson (1989), os agentes econômicos são intencionalmente racionais, porém o fazem de forma limitada. Ou seja, um determinado agente não é capaz de prever todas as possíveis contingências futuras de uma transação devido a sua limitada capacidade racional.

Williamson (1989) distingue três tipos diferentes de racionalidade dos agentes: • Maximização ou racionalidade forte – considera que os indivíduos podem absorver e

processar todas as informações disponíveis, agindo de forma a maximizar seu objetivo. É o tipo de comportamento utilizado na economia neoclássica;

• Racionalidade limitada – esse é o conceito utilizado na Economia dos Custos de Transação. Ele considera que os agentes não são capazes de antecipar todas as contingências futuras, de tal forma que os contratos são incompletos;

• Racionalidade orgânica – é um tipo de racionalidade mais fraca. Segundo Farina et al.(1997), esse tipo de racionalidade assume que a capacidade racional dos indivíduos

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não é suficiente para direcionar a escolha de um quadro institucional com a finalidade de amenizar problemas contratuais ex-post.

Como citado anteriormente, a pressuposição de que os agentes possuem racionalidade limitada tem como conseqüência contratos incompletos. Para Moraes (2000), a impossibilidade de prever todas as condições futuras de uma transação faz com que os contratos sejam incompletos, o que leva os agentes a incluir salvaguardas contratuais (mesmo limitadamente, eles são racionais e sabem da necessidade de adaptações e negociações contratuais ex-post), que permitam lidar com alterações inesperadas, aumentando os custos de transação.

Dado que os contratos são incompletos, os custos de transação não podem se reduzir aos custos de elaboração dos contratos já que não é possível antecipar todas as contingências futuras, dessa forma, também existem custos de governança da transação ex-post. Na verdade existe um trade off entre os custos ex-ante e ex-post, pois na medida em que se inclui um maior número de salvaguardas na elaboração do contrato os custos ex-ante se elevam, porém os custos ex-post tendem a se reduzir, e vice-versa.

Vale ressaltar que o conceito de racionalidade difere do conceito de incerteza, embora possam ser confundidos como sinônimos. Para Azevedo (1996), a diferença principal é que a racionalidade limitada é uma característica do agente, enquanto que a incerteza é uma característica do ambiente; e, a relação entre os dois conceitos esta no fato de que em um ambiente com maior incerteza, existe um maior número de contingências futuras e, portanto, mais complexa é a elaboração de um contrato, aumentando os custos de transação.

Oportunismo

A hipótese de comportamento oportunista por parte dos agentes considera que os mesmos podem, em algum momento, adotar um comportamento oportunista, sendo necessário estabelecer mecanismo de fiscalização e controle ou mecanismos de incentivos para se controlar este eventual tipo de comportamento, o que implica em custos de transação (Moraes, 2000).

Segundo Williamson (1989), entende-se por oportunismo a busca de interesses próprios. Para o autor o comportamento oportunista pode ocorrer ex-ante (fase pré-contratual) ou ex-post. O comportamento ex-ante ocorre porque uma das partes pode possuir algum tipo de informação prejudicial à outra parte (se a informação fosse de conhecimento de ambas, a relação contratual poderia não ocorrer ou ocorreria em outras bases); já o comportamento oportunista na fase pós-contratual é chamado de risco moral, ele ocorre devido a uma assimetria de informação.

Portanto, os pressupostos de racionalidade limitada e oportunismo fazem com que existam custos de transação. A racionalidade limitada leva a contratos incompletos necessitando de renegociações futuras, enquanto o comportamento oportunista assume que as partes podem aproveitar de uma renegociação, agindo aeticamente e, por conseqüência, impondo perdas à sua contraparte na transação (Farina et al., 1997).

2.1.2 – As dimensões das transações

Os pressupostos comportamentais revelam a existência de custos de transação. Estes se diferenciam de acordo com o tipo de transação envolvida, dessa forma, para cada tipo específico de transação uma determinada forma de governança será adotada.

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Devido à dificuldade de mensuração dos custos de transação, considera-se que os atributos das transações podem ser tomados como elementos explicativos dos custos das mesmas. Para Azevedo (1996), ao se considerar que os atributos das transações explicam os custos de transação, elimina-se o obstáculo aos estudos empírico, já que os custos de transação podem ser considerados como uma função definida pelos seus atributos.

A seguir faz-se uma breve descrição de cada um dos atributos considerados por Williamson em seu modelo para a análise das estruturas de governança.

Especificidade dos ativos

Os ativos específicos são aqueles que não podem ser reempregáveis sem perda de valor. Segundo Farina et al (1997), a especificidade é a característica de um ativo que expressa a magnitude do seu valor que é dependente da continuidade da transação à qual ele é específico. Portanto, quanto maior a especificidade de determinado ativo maior o risco de um eventual rompimento na continuidade da transação, já que o custo de re-alocação desse ativo em outras transações é bastante elevado.

A especificidade dos ativos pode ser classificada da seguinte forma:

• Especificidade locacional – a localização próxima de firmas de uma mesma cadeia produtiva reduz os custos de transporte e armazenagem e significa retornos específicos a essas unidades produtivas;

• Especificidade de ativos humanos – refere-se a necessidade de capital humano especializado para certa atividade. Essa especificidade está relacionada ao fato de que um trabalhador mais preparado pode produzir bens ou serviços mais eficientemente que outros. Williamson (1991), refere-se a esse processo através da expressão learning by doing;

• Especificidade física – ocorre quando uma ou ambas as partes fazem investimentos em equipamentos ou máquinas que envolvem características específicas a uma determinada transação, e que tem baixo valor para usos em outras transações;

• Especificidade de marca – refere-se aos investimentos feitos na marca do produto; • Especificidade temporal – relacionada ao tempo durante o qual a transação se

processa e à sincronia entre as etapas produtivas distintas que é função deste tempo (Ribeiro, 1998);

• Especificidade de ativos dedicados – refere-se aos investimentos realizados para um cliente específico, sem uso alternativo (Moraes, 2000).

Por fim, vale ressaltar a diferença entre ativos específicos, custos fixos e sunk costs. Farina et al. (1997) aborda de forma clara a diferença entre esses três conceitos: o sunk cost refere-se aos custos fixos incorridos e irrecuperáveis. Contudo, nem sempre um sunk cost é um ativo específico (por exemplo, um investimento em capital genérico é um sunk cost, mas não um ativo especifico); o custo fixo, por sua vez, pode diferir de ativos específicos na medida em que o custo fixo pode ser utilizado para fins diversos.

Freqüência

A freqüência com que as transações ocorrem é um dos fatores que influencia os custos de transação. Para Azevedo (1996), a freqüência das transações tem dois importantes aspectos: a) diluição dos custos de adoção de um mecanismo complexo por várias transações e b) a possibilidade de construção de uma relação de confiança entre os agentes envolvidos nessa transação.

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A repetição de uma transação possibilita ainda: 1) que as partes adquiram conhecimento umas das outras – reduzindo a incerteza; 2) que se construa uma reputação em torno de uma marca; 3) que se crie um compromisso confiável entre as partes objetivando a continuidade da transação (Azevedo, 1996).

Incerteza

A incerteza certamente é um dos atributos importantes nas transações. Farina et al.(1997), define a incerteza sob três diferentes ângulos:

• o primeiro tratamento a incerteza é mais conhecido como risco – diz respeito a variância de uma determinada distribuição de probabilidades

• o segundo tratamento refere-se ao caso em que a incerteza está associada ao desconhecimento dos possíveis eventos futuros.

• o terceiro e último, diz que a incerteza é derivada da informação incompleta e assimétrica.

Dentre as estruturas de governança, a mais susceptível ao efeito da incerteza é a forma híbrida. As adaptações do tipo híbrido (estruturas intermediárias entre mercado e hierarquia) são mais difíceis, pois não podem ser realizadas unilateralmente (como no caso da governança pelo mercado) ou por imposição, como no caso da hierarquia.

A partir dos pressupostos comportamentais e dos atributos das transações é possível determinar a estrutura de governança mais eficiente para determinado tipo de transação. No próximo tópico apresenta-se o modelo na forma reduzida proposto por Williamson (1991).

2.1.3 – Forma reduzida do modelo

A proposição inicial de Coase (1937) para explicar a adoção de diferentes formas de coordenação se concentra no fato de que cada uma delas possui custos diferentes, assim, dependendo da magnitude desses custos uma ou outra forma deverá ser adotada.

Formalmente, como descrito por Farina et al.(1997), o argumento de Coase pode ser expresso da seguinte forma:

dado dois mecanismos distintos de coordenação entre os agentes, Gi e Gj. E seus custos de coordenação Ci e Cj, respectivamente. Diz-se que:

Gi é mais eficiente se Ci < Cj Gj é mais eficiente se Cj < Ci

O problema do argumento proposto por Coase era de que os custos de transação dos respectivos mecanismos de coordenação não eram facilmente mensuráveis, dificultando a definição da estrutura de governança mais apropriada.

Nesse sentido, foi bastante importante a contribuição dada por Williamson, que relaciona os atributos das transações aos seus respectivos custos, dessa forma, pode-se comparar a eficiência de diferentes formas de governança a partir dos atributos das transações envolvidas em cada processo.

Em seu modelo, Williamson não propôs uma forma de medir os custos de transação, ou seja, a partir do modelo de Williamson não é possível determinar quanto uma estrutura de governança é mais eficiente que a outra, mas é possível ordenar as diferentes estruturas quanto a sua eficiência através dos atributos das transações.

O modelo proposto por Williamson (1991), baseia-se na definição de três funções de custos de governança, M, X e H. As quais referem-se aos custos de transação das

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estruturas de mercado, híbrida e hierárquica, respectivamente. Esta funções são determinadas por dois parâmetros básicos: a especificidade de ativos-K (variável de maior relevância no modelo descrito por Williamson) e um vetor de parâmetros-B que pode deslocar cada uma das funções.

M(K,B) X(K,B) H(K,B)

Posteriormente são impostas as seguintes restrições as funções: M(0,B) < X(0,B) < H(0,B), para todo

B

R

n (1)

M

X

h

K

k

>

>

∂k

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A primeira delas se refere ao fato de que na ausência de especificidades a estrutura de governança mais eficiente é o mercado. A segunda diz que conforme aumenta a especificidade dos ativos aumenta a dependência bilateral entre as partes, portanto, eleva-se a necessidade de controle, dessa forma os custos de transação do mercado aumentam relativamente mais que os da forma hierárquica.

Todas as derivadas são positivas porque o aumento da especificidade dos ativos cria uma dependência bilateral entre as partes, elevando os custos de transação em cada uma das estruturas de governança.

O modelo pressupõe que tanto o mercado quanto as firmas apresentam custos de produção idênticos e despreza a existência de economias de escala e escopo.

A Figura 1 representa as funções de custo de governança em uma dimensão de custos x especificidade de ativos, dado o vetor de parâmetros de deslocamento constante.

Figura 1. Custos de governança em função da especificidade de ativos

Fonte: Williamson, 1991.

k $

M X H

k1 k2

Verifica-se que para baixos níveis de especificidade de ativo o mercado é a estrutura de governança mais eficiente. A media que a especificidade de ativos se eleva, os

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custos de governança do mercado aumentam de forma crescente, até um determinado ponto onde a forma híbrida passa a ser mais eficiente. Para elevados níveis de especificidade de ativos a forma hierárquica se mostra mais eficiente.

Segundo Azevedo (1996), em seu modelo Williamson não trata especificamente de freqüência, mas seus efeitos estão presentes no modelo através do efeito da reputação, pois se uma transação é recorrente pode existir uma relação maior de confiança entre os agentes.

Portanto, as dimensões referentes a freqüência e a incerteza causam deslocamentos nas curvas de custo de governança, já que as mesmas são plotadas em um gráfico de duas dimensões somente. Esse vetor de parâmetros também inclui alterações no ambiente institucional no qual a transação está inserida.

3 – O SETOR SUCROALCOOLEIRO NO BRASIL

O Brasil é o maior produtor mundial de açúcar, na última safra foram produzidas mais de 20 bilhões de toneladas de açúcar (UNICA, 2004). Neste ano o Brasil deve obter US$ 2,5 bilhões em divisas com as exportações de 13,5 milhões de toneladas de açúcar e 690 milhões de litros de álcool (Jornal da Cana, 2005). Na safra 03/04, os principais países de destino do açúcar brasileiro foram: EUA, Rússia, Emirados Árabes, Nigéria, Canadá e Senegal (UNICA,2004).

A cadeia produtiva da cana-de-açúcar é uma das principais cadeias do país, não só pelo montante de divisas geradas, mas também pela sua relevância na geração de empregos e na ativação dos mercados de fatores e de economias regionais.

No Estado de São Paulo, a cana de açúcar é a principal cultura na demanda por força de trabalho, em 2003 a cultura foi responsável por cerca de 35% da demanda total por força de trabalho rural no Estado (Fundação SEADE, 2005).

Hoje a produção de cana-de-açúcar no Brasil se concentra no Estado de São Paulo, de acordo com dados do IBGE(2005), no último ano o Estado foi responsável por cerca de 57% da produção de cana-de-açúcar, precedido pelo estado do Paraná (8%), Alagoas (6%), Minas Gerais (5%), Pernambuco (5%), Mato Grosso (3,7%) e Goiás (3,3%).

Segundo Moraes (2000), o setor sucroalcooleiro sofreu forte intervenção estatal ao longo de sua existência, tendo sido marcante dos anos 30 até a década de 90. Havia a intervenção do governo nos sistemas de fixação de preços dos insumos e produtos, nas formas de comercialização, no controle de produção e planos de safra, entre outras. Ainda segundo a autora, com o processo de desregulamentação observou-se mudanças no ambiente institucional e organizacional do setor.

Para Vian (2002), as mudanças nos ambiente institucional levaram a adoção de novas estratégias competitivas e modernização das empresas do setor. Dentre as estratégias adotadas o autor cita:

a) Estratégia de diferenciação de produto: desenvolvimento de novas marcas de açúcar refinado, diferentes tipos de embalagem e de açúcares.

b) Estratégia de diversificação produtiva: permite que se minimize o risco de queda da receita e da lucratividade em épocas de preços. Muitas destilarias buscaram essa diversificação, tendo como base a exploração dos subprodutos, além de outras produções como suco de laranja e criação de gado;

c) Estratégia de aprofundamento e especialização na produção de açúcar e álcool: através da especialização na produção de açúcar e álcool e a elevação da produtividade das indústrias e da produção agrícola. Dentre as práticas utilizadas cita-se: a terceirização

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agrícola e industrial, a automatização da produção industrial, a mecanização agrícola e a melhora da logística de transporte e produção da cana;

d) Formação de grupos de comercialização de álcool e de açúcar: o autor observou uma tendência de estruturação dos sistemas comuns de comercialização do açúcar e do álcool, parcerias para a exploração dos produtores e uma estruturação de sistemas comuns de compras;

e) Fusões e aquisições: movimento comum a todo setor sucroalcooleiro brasileiro e paulista foi a concentração e centralização de capital, impulsionados pelos altos índices de endividamento, a fragmentação e estagnação do setor, o aumento dos preços do açúcar nas safras 2000 e 2001, e a extrema competitividade no país. Os principais benefícios almejados foram os ganhos de escala, redução dos custos e despesas de administração e profissionalização da mesma, entre outros.

4 – METODOLOGIA

Este trabalho utilizará dois estudos de caso para análise das transações e formas de governança envolvidas nos processos de corte e carregamento em Usinas e Destilarias no Estado de São Paulo. Para Lazzarini (1997), esse tipo de método foca a compreensão dos fatos e não a sua mensuração, ele proporciona um maior entendimento das causas do fenômeno, inserindo o objeto de análise em seu contexto, porém, não permite a realização de inferências estatísticas, tão pouco a extrapolação dos resultados obtidos.

As informações utilizadas foram levantadas a partir de entrevistas em profundidade realizadas com os responsáveis pelas duas empresas analisadas. As empresas foram escolhidas por dois motivos: facilidade de obtenção dos dados e pelo fato de utilizarem estruturas de governança distintas para transações envolvendo os mesmos ativos.

5 – RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 – Descrição dos processos de carregamento e transporte utilizados pelas empresas

Antes de proceder à analise dos resultados faz-se necessário a descrição dos processos de carregamento e transporte utilizados pelas empresas analisadas.

A operação de colheita da cana-de-açúcar pode ser realizada por dois diferentes processos:

• o primeiro caso consiste na queima da cana-de-açúcar, corte manual e carregamento a partir tratores com implemento acoplado (carregadeiras). Esse processo é denominado comumente por “colheita de cana inteira” ou “colheita manual”.

• o segundo processo é aquele onde toda a colheita é realizada mecanicamente. Nesse caso utiliza-se uma colheitadeira que corta e pica a cana em pequenos pedaços, sem a necessidade de queima da mesma. Essa cana picada é transportada, a partir de um sistema de esteira da colheitadeira, para carretas2 que são arrastadas por tratores de porte pesado até a estrada, onde a cana é depositada na carroceria dos caminhões e julietas a partir de uma operação de transbordo.

O transporte da cana-de-açúcar até a unidade industrial é realizado a partir de treminhões (caminhão + 2 julietas), esses caminhões possuem carrocerias com

2

O termo carreta utilizado neste trabalho refere-se ao equipamento utilizado no processo de carregamento da cana colhida mecanicamente, para o transporte da cana da lavoura até a estrada.

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características distintas para os dois processos de carregamento. No caso do carregamento de cana picada a carroceria do caminhão e das julietas são fechadas lateralmente para evitar maiores perdas durante trajeto, já no caso do carregamento de cana inteira as carrocerias são apenas parcialmente fechadas na lateral e a carga é amarrada à carroceria utilizando cabos de aço ou cordas.

Ambos os processos de carregamento envolvem a utilização de tratores de porte pesado (mais de 150 cv). No caso da cana inteira, os tratores arrastam as julietas para serem carregadas dentro da lavoura e, posteriormente, acopladas novamente aos caminhões na estrada (fora da lavoura). No processo de colheita de cana picada, os tratores são utilizados para transportar as carretas que levam a cana picada da lavoura até a estrada, onde ela é depositada nas julietas e nos caminhões a partir de uma operação de transbordo.

A Tabela 1 resume os equipamentos utilizados em cada um dos processos envolvidos no carregamento e transporte da cana-de-açúcar.

Tabela 1. Descrição dos equipamentos utilizados nas operações de carregamento e

transporte.

Equipamento Cana inteira Cana picada

Carregamento

Carregadeira Sim Não Colheitadeira Não Sim

Tratores Sim Sim

Carretas transporte da cana picada da lavoura até a estrada

Não Sim

Transporte

Caminhões (caminhão+

julietas) Sim Sim

5.2 – Descrição das estruturas de governança utilizadas pela “empresa A”

A primeira empresa analisada neste trabalho (denominada como “empresa A”) trata-se de uma destilaria localizada na região de Araçatuba/SP. A empresa processa anualmente aproximadamente 1 milhão de toneladas de cana-de-açúcar, colhida em uma área ao redor de 14.000 ha. Do total de cana processada pela industria, cerca de 25% é cana própria e 75% de pequenos e médios fornecedores, entretanto, a empresa é responsável pelo corte, carregamento e transporte de toda cana processada. Vale ressaltar ainda que toda cana é queimada e cortada manualmente , ou seja, a empresa não utiliza nenhuma colheitadeira.

As seguintes estruturas de governança foram observadas na empresa:

Transporte

Para o transporte da cana de açúcar a empresa utiliza 19 treminhões, desses, 12 são caminhões próprios e 7 de terceiros. Ou seja, a empresa adota uma estrutura de governança híbrida, a qual é utilizada há mais de 10 anos.

Carregamento de cana colhida manualmente

No caso do carregamento da cana, a empresa utiliza duas frentes de trabalho, cada uma composta por 5 carregadeiras, as quais pertencem a duas empresas prestadoras de serviço. Ambas as prestadoras trabalham na empresa há bastante tempo, a primeira

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trabalha há 7 anos e a segunda há 10 anos. Portanto, todo o carregamento da cana-de-açúcar é terceirizado. Já os tratores utilizados no processo de colheita da cana inteira são de propriedade da destilaria.

Resumindo: toda a cana processada é colhida manualmente, o carregamento dessa cana é realizado exclusivamente por terceiros e os tratores utilizados nesse processo são da destilaria, caracterizando uma estrutura totalmente terceirizada no caso das carregadeiras e uma hierárquica no caso dos tratores.

5.3 – Formas de governança utilizada pela “empresa B”

A segunda empresa estudada (“empresa B”) está localizada na região de Piracicaba e processa cerca de 3 milhões de toneladas de cana-de-açúcar anualmente, destinadas a fabricação de álcool e açúcar. Desse total, apenas 10% da cana é de propriedade de fornecedores, os quais entregam a cana na usina.

As seguintes estruturas de governança foram encontradas:

Transporte

Todo o transporte da cana é realizado por caminhões terceirizados, esse sistema existe a mais de 15 anos e o contrato entre as parte é de curta duração (anual).

Carregamento de cana picada

Aproximadamente 70% da cana é colhida mecanicamente e a empresa é proprietária de todas as colhedeiras e carretas utilizadas. No caso dos tratores, apenas 10% da frota utilizada nessa operação é terceirizada, essa terceirização parcial foi implantada há apenas 4 anos. Dessa forma, pode-se considerar que a estrutura de governança utilizada é mais próxima da forma hierárquica.

Carregamento de cana inteira

Essa transação é governada por uma estrutura híbrida, pois 35% das carregadeiras e tratores utilizados são terceirizados. Esse sistema existe a 5 anos e o contrato entre as partes também é de duração curta (1 ano).

5.4 – Caracterização dos atributos das transações 5.4.1 – Especificidade dos ativos envolvidos

O carregamento de cana inteira envolve dois tipos de ativos, o trator e a carregadeira. A carregadeira é uma máquina que utiliza um sistema hidráulico para o carregamento da cana nos caminhões, sua re-alocação em outra atividade é relativamente difícil (a re-alocação mais comum é a utilização desse equipamento para o carregamento de madeira, porém o equipamento deve sofrer algumas modificações para ser utilizado nessa atividade). O trator utilizado é considerado uma máquina tradicional, portanto com baixa especificidade de ativo, já que pode ser re-empregado facilmente em outras atividades na lavoura de cana-de-açúcar ou mesmo em outras lavouras.

O carregamento de cana picada também envolve a utilização de tratores de elevado porte, que possuem baixa especificidade. Já a colheitadeira é um equipamento de alto custo e praticamente impossível de ser re-alocado em outras atividades, ou seja, é um ativo com elevada especificidade física. As mesmas características descritas para a colheitadeira

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podem ser aplicadas para o caso das carretas utilizadas para o transporte da cana picada da lavoura até a estrada.

O ativo utilizado no transporte é um ativo com menor especificidade, porém não tão baixa como no caso dos tratores, pois os caminhões utilizados preservam algumas características que dificultam sua alocação em outras atividades sem alguma perda de valor. O caminhão utilizado é um caminhão traçado e de alta potência. Novamente, o uso alternativo mais comum para esse tipo de equipamento é o transporte de madeira.

Todos os ativos descritos possuem um certo grau de especificidade temporal, já que o seu emprego em outras atividades durante a entressafra é difícil, exceto no caso das colheitadeiras e carretas utilizadas no carregamento da cana picada, onde a utilização se restringe especificamente ao período da safra.

A Tabela 2 apresenta um resumo do grau de especificidade de cada ativo envolvido nessas operações.

Tabela 2. Especificidades dos ativos utilizados nas operações de carregamento e

transporte.

Grau de especificidade

Ativos envolvidos Cana inteira Cana picada

Carregamento

Carregadeira +++ Colheitadeira ++++

Tratores + +

Carretas transporte da cana picada da lavoura até a estrada

++++

Transporte

Caminhões (caminhão+

julietas) ++ ++

Observação: os sinais + até ++++ representam de forma crescente a especificidade dos ativos

Vale ressaltar que em todas as atividades descritas não existe elevado grau de especificidade de ativo humano, entretanto, esse tipo de especificidade está mais presente no caso das operações que envolvem a carregadeira e a colheitadeira.

Nas duas empresas estudadas a percentagem de prestadores de serviço (terceiros) que moram ou possuem sede na região é elevada (100% no caso da primeira empresa e 50% para a segunda), porém a dificuldade para contratar empresas prestadoras de serviço de outras regiões é reduzida, dessa forma, sob o ponto de vista das empresas, não existe alta especificidade locacional.

5.4.2 – Freqüência

Todas as operações analisadas são sazonais, pois são realizadas somente durante um período do ano (período de safra). Porém são recorrentes, na medida em que são utilizadas todos os anos.

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5.4.3 – Incerteza

Para caracterizar o grau de incerteza envolvido em cada transação, considerou-se o grau de dificuldade de contratação de terceiros no início e durante a safra; analisou-se ainda o número de empresas que param de trabalhar durante a safra e o impacto sobre o fluxo de cana entregue na usina caso 20% dos terceiros deixassem de trabalhar durante a safra.

Pressupõe-se que quanto maior for a dificuldade de contratação de novas empresas, o impacto no fluxo de matéria-prima entregue na indústria e maior o número de empresas que “quebram o contrato” e param de trabalhar durante a safra, mais elevada será a incerteza e a tendência de verticalização desses processos.

As respostas obtidas junto as empresas foram bastante semelhantes (Tabela 3).

Tabela 3. Resposta das empresas quanto a dificuldade de contratação de terceiros.

Empresas analisadas

Ativos envolvidos “empresa A” “empresa B”

Dificuldade de contratação no início da safra

Carregadeira Baixo médio

Colheitadeira não utiliza muito alto

Tratores Médio baixo

Carretas transporte da

cana picada não utiliza muito alto

Caminhões Baixo baixo

Dificuldade de contratação durante a safra

Carregadeira Alto alto

Colheitadeira não utiliza muito alto

Tratores Alto alto

Carretas transporte da

cana picada não utiliza muito alto

Caminhões Baixo baixo

Observa-se a partir da Tabela 2, que no início na safra as maiores dificuldades de contratação referem-se as colheitadeiras e carretas, já que não existe um grande número de empresas que prestam esse tipo de serviço. Durante a safra, chama a atenção a dificuldade de contratação de tratores e carregadeiras, portanto, nesse caso, é necessário a adoção de medidas que evitem a quebra de contrato. No caso dos caminhões, não existe dificuldade de contratação de novas empresas em nenhum momento.

Ambas as empresas consideram que caso 20% dos caminhões, tratores, carregadeiras ou colheitadeiras saíam da empresa durante a safra, existe um impacto muito alto sobre o fluxo de matéria-prima transportada para a indústria; porém, a possibilidade desse fato ocorrer é reduzida.

5.5 – Outras características que condicionam a escolha da forma de governança a ser adotada

Analisando as empresas estudadas, verifica-se que as mesmas utilizam instituições de governança distintas para transações com características semelhantes. Além disso, observa-se que as respostas das empresas em relação aos atributos das transações envolvidas foram semelhantes, sugerindo que a adoção de diferentes formas de governança

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não decorre exclusivamente de níveis distintos de custo de transação, representados por diferentes níveis de incerteza entre as empresas.

Portanto, provavelmente existem outras variáveis não abordadas de forma clara pela ETC que afetam a escolha e adoção da forma de governança utilizada. As empresas podem possuir estratégias, competências gerenciais e administrativas, e, conhecimento baseado em experiências passadas distintas, por exemplo. A seguir são descritos alguns aspectos relevantes para um melhor entendimento do processo de escolha e manutenção das instituições de governança analisadas:

• O primeiro aspecto a ser destacado refere-se ao fato de apenas uma pequena parte dos tratores ser terceirizada, pois esse ativo possui baixa especificidade e está associado a reduzido grau de incerteza. Para entender melhor esse processo deve-se levar em consideração a necessidade desses equipamentos na entressafra, já que as empresas utilizam os tratores na entressafra para a realização de outras atividades como subsolagem, gradagem, etc. Assim, a terceirização dos processos de carregamento e transporte teria como conseqüência a necessidade de terceirização dos outros serviços realizados na entressafra, esses últimos são de difícil monitoramento e controle, visto que a qualidade do serviço é uma característica importante e de difícil mensuração.

No caso das carregadeiras e caminhões a necessidade na entressafra é bastante reduzida (geralmente utilizados para o carregamento e transporte de mudas no plantio). • Outro aspecto que merece uma análise mais detalhada é a terceirização total das

carregadeiras utilizadas no processo de carregamento de cana inteira pela “empresa A”, pois são equipamentos de elevada especificidade.

O principal motivo para a terceirização da frota de carregadeiras pela empresa foi a dificuldade de investimento em novos equipamentos, já que havia a necessidade de substituição dos equipamentos utilizados. Dessa forma, a empresa terceirizou metade de sua frota de carregadeiras há 10 anos atrás e, a partir dessa experiência, três anos depois terceirizou a outra metade da frota.

Portanto, apesar de ser um ativo específico e com grau de incerteza maior que os tratores (onde observa-se uma estrutura hierárquica), a forma de governança caracterizada por uma estrutura totalmente terceirizada é mantida devido a relação de confiança entre os agentes, formada a partir de um relacionamento que dura cerca de 10 anos. Para Mizumoto (2005), nas transações recorrentes que envolvem os mesmos agentes podem emergir confiança entre as partes, isso deslocaria as curvas de custo de transação e alterariam os critérios de escolha dos arranjos institucionais. Esse fato pode ajudar a esclarecer a adoção de uma forma de governança mais próxima do mercado em uma transação que envolve ativos com elevada especificidade.

Além disso, a empresa retém mensalmente uma parte da receita de cada terceiro e o montante acumulado é pago somente no último mês de safra. Dessa forma, caso algum terceiro não cumpra o contrato estabelecido, esse valor retido não lhe é devolvido. Essa estratégia também é uma forma de reduzir a incerteza relacionada a essas transações. • Com relação as diferentes estruturas de governança observadas entre as empresas para

a operação de transporte, pode-se acrescentar que na “empresa B”, onde esse processo é totalmente terceirizado, também existe uma forte relação de confiança entre os agentes.

A empresa terceirizou sua frota há aproximadamente 20 anos, quando vendeu seus equipamentos para os funcionários, os quais passaram a ser prestadores de serviço (o

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principal motivo para a terceirização foi a possibilidade de redução dos custos de produção). Hoje, cerca de 50% desses funcionários ainda estão prestando serviço na empresa e aproximadamente 90% dos prestadores de serviço atuais trabalham na empresa a mais de 7 anos. Além disso, o tamanho médio das empresas prestadoras de serviço é de 3 caminhões, reduzindo a dependência bilateral entre as partes.

Resumindo: a empresa terceirizou totalmente sua frota com o objetivo de redução dos custos de produção e utilizou como uma estratégia para a redução da incerteza a “pulverização” dos prestadores de serviço. A estabilidade da forma de governança adotada pode ser explicada pela relação duradoura entre os agentes (contratante e contratada).

6 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo procurou analisar as variáveis e critérios utilizados pelas empresas na seleção e manutenção das formas de governança adotadas para coordenar os processos de carregamento e transporte de cana-de-açúcar, tendo sido realizado uma análise de duas empresas que atuam no setor, usando como foco principal a Teoria dos Custos de Transação.

Observou-se que as transações analisadas – carregamento e transporte - envolvem ativos distintos, o que sugere diferentes instituições de governança. Entretanto, verificou-se que as duas empresas analisadas utilizam formas de governança distintas para coordenar processos semelhantes (por exemplo o carregamento), as quais não foram explicadas exclusivamente por custos de transação diferenciados.

Verificou-se ainda, que algumas características intrínsecas às empresas exercem influencia na escolha e manutenção das instituições de governança adotadas. Dentre as principais motivações para a decisão da terceirização cita-se a dificuldade de investimento aliada a necessidade de substituição dos equipamentos, e a possibilidade de redução dos custos dos serviços agrícolas. Já a escolha e estabilidade dos arranjos adotados foram influenciadas por características como o elevado grau de confiança entre contratante e contratada, a necessidade de equipamentos para a realização de outras atividades na entressafra, além de competências administrativas e gerenciais de cada empresa.

A abordagem teórica utilizada (a Teoria dos Custos de Transação proposta por Williamson) mostra-se adequada para a análise das instituições de governança utilizadas pelas empresas, entretanto, deve-se somar a ela um enfoque dinâmico do processo, já que existem outras variáveis que influenciam diretamente a escolha e manutenção das formas de governança adotadas.

Por fim, ressalta-se as limitações do estudo na impossibilidade de extrapolar os resultados obtidos. Contudo, espera-se contribuir para o entendimento da escolha das formas de governança, quando outras variáveis - como confiança e necessidade de capital - tem um peso importante nas decisões.

Sugere-se como estudos futuros a incorporação de outras abordagens teóricas e de um maior número de empresas e operações, pois isso promoveria uma maior diversidade de formas de governança a serem analisadas (suspeita-se que outras variáveis como o ambiente institucional, competências não replicáveis ou mesmo distintos níveis de custos de transação possam ser incorporados na explicação da coexistência de diferentes instituições de governança entre as empresas do setor).

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