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O rinoceronte na sala de aula

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Academic year: 2021

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Texto

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Resumo comentado do texto:

“O rinoceronte na sala de aula”

de

Murray Schafer

por

Carlos Roberto Prestes Lopes

Publicado no Brasil como capítulo do livro “O ouvido pensante”

SCHAFER, R. Murray. O ouvido Pensante. Tradução de Marisa T. de O. Fonterrada, Magda R. G. da Silva, Maria L. Pascoal. São Paulo: UNESP, 1991. (p. 277 a 342)

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O início do capítulo apresenta 10 “máximas dos educadores” muito interessantes, que demonstram as inclinações educacionais de Schafer, preceitos contemporâneos que devem ser utilizados em música, mas podem facilmente ser transportados para as outras áreas da educação. Aqui as transcrevo integralmente:

1. O primeiro passo prático, em qualquer reforma educacional, é dar o primeiro passo prático.

2. Na educação, fracassos são mais importantes que sucessos. Nada é mais triste que uma história de sucessos.

3. Ensinar no limite do risco.

4. Não há mais professores. Apenas uma comunidade de aprendizes.

5. Não planeje uma filosofia de educação para os outros. Planeje uma para você mesmo. Alguns outros podem desejar compartilhá-la com você.

6. Para uma criança de cinco anos, arte é vida e vida é arte. Para uma de seis, arte é arte e vida é vida. O primeiro ano escolar é um divisor de águas na história da criança: um trauma.

7. A proposta antiga: o professor tem a informação; o aluno tem a cabeça vazia. Objetivo do professor: empurrar a informação para dentro da cabeça vazia do aluno. Observações: no início, o professor é um bobo; no final, o aluno também.

8. Ao contrário, uma aula deve ser uma hora de mil descobertas. Para que isso aconteça, professor e aluno devem em primeiro lugar descobrir-se um ao outro.

9. Por que são os professores os únicos que não se matriculam nos seus próprios cursos?

10. Ensinar sempre provisoriamente: Deus sabe com certeza.

(p. 277 e 278) Introdução

Na introdução o autor apresenta alguns outros pensadores que trazem novas formas de estudar música, priorizando como ele a criatividade e a exploração, questionando fortemente a maneira como a música é estudada pelos músicos eruditos. Concordo plenamente com várias observações: o estudo técnico/mecânico exaustivo não necessariamente resulta em uma música melhor interpretada; ao ensinar música, a criatividade tem de estar presente... não faz sentido ler partitura se o sujeito não compreende o que faz. Ele também (o autor) dá vários exemplos de como a forma de vida atual se reflete na aula de música, “a aula de música é sempre uma sociedade em microcosmo”.

Schafer considera a música Pop como fenômeno social e não musical, “qualidade musical, sociologia e negócios não se beneficiam quando se misturam”. Concordo em parte com ele... também não considero benéfica essa interação entre música e dinheiro já que os interessados não estão preocupados em produzir algo autêntico ou de alta expressividade artística, porém a música criada para ser vendida é produzida com base no que o consumidor escuta (ou não escuta realmente), é consumida pelo público, e é produto da criação humana (qualquer que seja seu fim), portanto é fenômeno musical e social, já que a meu ver é impossível dissociar esses dois fenômenos, toda música é produto de sua sociedade.

Schafer traz diversas concepção contemporâneas (na verdade nem tanto, porém as instituições de ensino insistem em não vê-la), como o erro considerado melhor que o acerto, pois leva à reflexão. Esta perspectiva também respalda o trabalho do professor pesquisador, que não deve temer o erro, para reforçar esta ideia, o autor relata algumas experiências próprias, onde o erro fez parte do processo.

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Educação musical: considerações  O fazer criativo na música

Ao contrário de outras áreas do conhecimento humano, as artes, e dentro delas a música é claro, não deve ser entendida como matéria de “acumulação de conhecimento” como o tradicional ensino de história (processo adotado em muitas partes do estudo de música), mas deve ter o expressivo e a exploração como objetivo “estamos entrando em uma nova era da educação, que é programada para a descoberta e não para a instrução”.

O autor relata uma forma de trabalho que já experimentei, usando primeiramente a exploração livre dos instrumentos à disposição, depois uma “colheita” do que os alunos apreenderam desta experiência (em forma de organização dos diferentes sons possíveis em cada instrumento), e por último cada um faz uma composição (no meu caso várias improvisações). Este “método” foi utilizado por mim com crianças desde 4 até 14 anos e é muito envolvente e produtivo.

 O ambiente sonoro

Aqui o autor explica melhor as ideias de paisagem sonora e ecologia sonora.

“Se ficarmos todos surdos, simplesmente não haverá mais música. Uma das definições de ruído é que ele é o som que aprendemos a ignorar”. Nesta frase o autor concentra muitas das suas convicções, e através dela é capaz de justificar muitas das escolhas propostas em todo o livro.

 Um ponto de encontro para todas as artes

Expondo a “inaturalidade” da separação das artes, o autor fala sobre o trauma para a criança que tem sua percepção fragmentada, e como esta visão particionada de mundo dificulta a inserção da criança, que recebe todos estes dados juntos, na prática escolar (onde normalmente é iniciada nesta fragmentação).

Esta separação das artes é tão contraditória que não resiste na grande maioria das manifestações culturais/populares, onde em geral a música está fortemente atrelada à dança/movimentação, sabores e cheiros típicos desta festa. Este momento tem um significado totalmente diferente para a comunidade e seus costumes.

Schafer é absolutamente contra a separação total e prolongada das artes, mesmo admitindo que para aprofundar-se em certa área é necessário um estudo super específico e guiado por profissionais (vai falar mais adiante sobre isso).

Outras relações apresentadas no texto são a diferença da interpretação do silêncio pelas sociedades Ocidentais e Orientais, que influenciam claramente na paisagem sonora de cada população.

Educação musical: mais considerações

 Por que ensinar música?

Apontando alguns motivos comumente aceitos para a presença da música na escola, passa pela discussão da moralidade da música (se ela influencia diretamente a ética de um indivíduo)

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chegando à conclusão de que a música é amoral, e ganha vestes de acordo com o uso que lhe é dado, indica a característica socializadora da música.

Ao final da seção revela uma utilidade maior para a música, atribuindo a ela um poder de mediar a ligação com as várias coisas da vida e do universo. Esta observação é interessante, pois cada vez mais percebo o quanto tudo está ligado, e como as relações entre estas coisas é que muitas vezes fazem a diferença.

 O que deve ser ensinado?

O repertório a ser trabalhado na aula de música deve abranger desde as manifestações culturais populares locais (sugere uma expansão/pesquisa desses referenciais, que normalmente ficam presos ao senso comum de folclore) expandindo este referencial até as músicas “mundial étnica”, tradicional e contemporânea.

Propõe uma forma de utilizar as músicas no processo “ouvir => analisar => fazer”, conceito facilmente transportado para o ideal dos PCNs “fazer, apreciar e contextualizar”, diferenciando-se pela não obrigatoriedade desta ordem nos nossos referenciais.

Prega como um direito de todos o “direito ao silêncio”, desrespeitado frequentemente ao viver em sociedade.

 Como a música deveria ser ensinada?

Através da experiência que gera descoberta (como já falado anteriormente, sem transmissão de conhecimento), onde o processo é valorizado respeitando as singularidades de cada aluno. Schafer ressalta que este como deve possibilitar que todos possam participar deste processo, e não somente alguns dotados de um gênio musical apuradíssimo.

 Quem deveria ensinar música?

Na visão do autor somente professores especialistas em música poderiam atender à demanda com a qualidade necessária e apoia-se na ideia que o professor “generalista” não tem a vivência ou entendimento necessários para dar consistência à aula. Propõe como solução para a escassez de profissionais na área um professor especialista trabalhando em várias escolas e a possibilidade de músicos ministrarem aulas, já que lhes falta “somente” a didática para isso. Discordo de Schafer neste ponto, pois trabalho com formação de professores e sei que mesmo não tendo especialização/conhecimentos musicais teóricos, os interessados podem desenvolver trabalhos muito interessantes com crianças de várias idades (creio que em todas as idades isso é possível, falo aqui partindo de minha experiência com Creche, Educação Infantil e Ensino Fundamental 1 com professores generalistas.

Notas sobre notação

Após uma breve enquete com alguns alunos, o professor percebe como de modo geral a notação e o som são confundidos quando associamos música a “notas”, alturas definidas em bolinhas escritas em um papel. Segue-se uma breve explanação sobre a origem das partituras e seus elementos gráfico e simbólico. É interessante perceber como a interação entre esses elementos e

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certa predominância de um deles em cada período da música, influencia seus processos composicionais e a apreciação desta.

A caixa de música

Após conhecer iniciativas e projetos concluídos sobre a produção de materiais didáticos multimeios, o autor se engaja na produção de um novo kit, que possibilita mais atividades e maior criatividade/abertura com os desejos dos alunos, já que tem como objetivo motivar, provocar a curiosidade dos alunos (não correndo o risco do que ocorreu com kits que desembocavam num engessamento do processo criativo/exploratório). Já tendo participado do processo de produção de materiais didáticos e jogos musicais, percebo como esta visão de Schafer é acertada, pois resulta num material que pode gerar muitos projetos dentro da turma, e não somente um jogo musical ordenado... o kit tem como objetivo inserir a desordem dentro de uma proposta.

Contendo materiais estranhos à prática musical corrente, a provocação visa possibilitar a criação por parte dos alunos e incentiva a adição de novos elementos pelo grupo.

Trenodia

Através desta peça o compositor Schafer busca alcançar os interesses do público adolescente para questões musicais. A forma encontrada foi abordar um tema forte (textos sobre a bomba atômica jogada em Nagasaki, narrados e cantados), e utilizar elementos da música contemporânea como sons eletrônicos e vozes.

Partindo para novas direções

Neste trecho a meu ver o autor tenta apresentar propostas mais práticas (atividades propriamente ditas) para seus ideais de educação musical e de integração das artes.

“Ao tornar-se desconhecido, o conhecido escapa à monotonia”. Nesta frase, refere-se a experimentos de treinamento dos sentidos, onde propõe a utilização de elementos conhecidos pelo ouvinte, que através da privação da visão acaba por os modificar a percepção que se tem do objeto sonoro (ou instrumento), desta forma aguçando a audição e tornando a atividade mais atrativa.

Curriculum Vitae

Expondo novamente suas opiniões sobre as instituições de ensino musical engessadas e sem qualquer compromisso com o ensino de música de uma nova maneira, Schafer faz correspondência com a dificuldade da criatividade entrar na academia, já que esta não pode ser medida e nem tem métodos para ser desenvolvida tecnicamente.

A presente obra encontra-se licenciada sob a licença Creative Commons Atribuição-Compartilhamento pela mesma licença 3.0 Brasil. Attribution-Share Alike 3.0 Brazil.

Referências

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