CURSO – ESCOLA DE DEFENSORIA PÚBLICA 2016.1 Nº
DATA –
DISCIPLINA – Direito Administrativo
PROFESSOR – Barney Bichara
MONITOR – Bruna Oliveira
AULA – Aula 08
TEMA: INTERVENÇÃO DO ESTADO NA PROPRIEDADE E CONTROLE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
INTERVENÇÃO DO ESTADO NA PROPRIEDADE 1. Fundamentos:
a. Princípio da supremacia do interesse público sobre o particular: o direito à propriedade será sacrificado em prol do interesse da sociedade – o proprietário fará jus, em alguns casos, a um ressarcimento.
b. Função social da propriedade: o Estado está autorizado a sacrificar a propriedade privada para que ela cumpra o seu papel social
2. Modalidades:
a. Intervenção restritiva: é aquela que afeta um dos atributos da propriedade, sem, contudo, extingui-la, ou seja, o proprietário ainda é proprietário, todavia o seu direito proprietário foi afetado pelo Estado.
i. Limitações administrativas
ii. Requisição administrativa: se a requisição administrativa recai sobre bens consumíveis, a intervenção terá natureza supressiva, uma vez que destrói a propriedade
iii. Ocupação temporária: iv. Tombamento:
v. Servidão administrativa:
b. Intervenção supressiva: é aquela que destrói o direito de propriedade.
i. Desapropriação: não é ato auto executório, o proprietário deve concordar, anuir ou o Estado entrará com ação de desapropriação.
a. Conceito: são atos gerais voltados para propriedades indeterminadas para proteger o interesse público abstratamente considerado, ostentando natureza jurídica de poder polícia – estes atos gerais são praticados pela União, os Estados Membro e Municípios e impõe limitações administrativas, cada um dentro da sua competência. Ex. lei de uso e ocupação do solo urbano – o ato é para todos e restringe a propriedade para todos.
b. Atributo da propriedade afetado: a propriedade é absoluta (pode fazer o que quiser na propriedade), perpétua (é sempre do proprietário e seus herdeiros) e exclusiva (pertence apenas ao proprietário) – a limitação administrativa interfere no caráter absoluto da propriedade, pois nem sempre o proprietário poderá fazer o que quiser. c. Indenização: as limitações administrativas não importam em indenização, pois o ato
é geral.
Obs: (Exceção) o STF entende que a limitação administrativa que recaia sobre área onde a cobertura vegetal dá ensejo à indenização, neste caso haveria indenização, não indeniza a perda da propriedade, mas sim o prejuízo de não poder explorar a área onde há a cobertura vegetal.
Obs: haverá indenização quando o Estado causar dano e não quando houver limitação administrativa.
4. REQUISIÇÃO ADMINISTRATIVA
a. Competência legislativa: somente a União tem a competência para legislar (art. 22, III CR/88) – competência privativa da União, todavia, a lei disporá sobre quem poderá exercer o ato de requisição administrativa (Estados, Municípios).
b. Conceito: ato administrativo auto executório pelo qual o poder público utiliza bens móveis, imóveis e serviços particulares em caso de guerra ou perigo público iminente, durante um período (transitória) e em razão de um contexto (art. 5º, XXV CR/88) – não depende de ordem judicial.
c. Atributo da propriedade afetado: o caráter exclusivo da propriedade é afetado, ou seja, o Estado utilizará a sua propriedade, sendo assim o uso não será apenas do proprietário.
d. Indenização: se houve dano haverá direito à indenização, este ressarcimento é pago depois – a indenização não ocorre por causa do uso, mas apenas por causa do dano se houver. Indenização condicionada à existência de dano.
5. OCUPAÇÃO TEMPORÁRIA
a. Conceito: é o ato administrativo pelo qual o Poder Público utiliza bens imóveis em razão do interesse público definido em lei – há várias leis que admitem a ocupação temporária e cada uma delas definirá a razão da ocupação temporária. CUIDADO! Contratos administrativos (cláusulas exorbitantes – art. 58, V Lei 8.666) a lei não fala em ocupação temporária, e sim, ocupação provisória.
b. Atributo da propriedade afetado: a ocupação temporária afeta o caráter exclusivo da propriedade, pois o Estado usará.
i. Vinculada à desapropriação: art. 36 Dec Lei 3365/41 – por ser vinculada à desapropriação, ela segue os procedimentos da desapropriação – o resultado não será a retirada da propriedade, mas sim a ocupação temporária. Área não edificada e contígua.
ii. Para outros fins de interesse público: os fins estão estabelecidos nas legislações. Ex. justiça eleitoral ocupando imóveis particulares para sessão eleitoral.
d. Indenização:
i. Vinculada à desapropriação: dá direito à indenização.
ii. Para outros fins de interesse público: em regra não dá direito à indenização, salvo se houve dano (indenização condicionada à existência de dano). 6. TOMBAMENTO
a. Patrimônio cultural brasileiro: art. 216 CR/88 – existem vários meios para a proteção do patrimônio conforme o §1º do artigo supramencionado.
Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:
I - as formas de expressão;
II - os modos de criar, fazer e viver;
III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais;
V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.
§ 1º O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação.
b. Competência legislativa: competência concorrente – legisla a União, o Estado, Município e DF, sendo a norma geral o Decreto Lei 25/1937 que regula o tombamento.
c. Conceito de tombamento: é o procedimento administrativo pelo qual o Poder Público impõe restrições parciais sobre o direito de propriedade, para conservar o bem vinculado ao patrimônio cultural brasileiro. Restringe-se o direito a propriedade para preservar a coisa.
OBS: o tombamento se consuma com a inscrição do bem no Livro do Tombo. OBS: iniciado o tombamento e ainda não inscrito no Livro do Tombo, tem-se o Tombamento Provisório.
OBS: o tombamento provisório produz os mesmos efeitos do tombamento definitivo. O processo de tombamento inicia-se pela notificação do proprietário.
OBS: o tombamento pode recair sobre bens móveis, imóveis, público ou privado. O tombamento que recai sobre bens públicos chama-se de tombamento de ofício. OBS: o Decreto Lei 25 impõe o registro do tombamento no cartório – são, portanto, dois registros, o primeiro registro ocorre no livro do tombo, o segundo no cartório para dar publicidade – a falta do registro no cartório não invalida o tombamento, posto que já consumado no registro do livro do tombo.
OBS: Há divergências sobre a possibilidade de tombamento legislativo e judicial, embora na prática eles existam, via de regra, o Tombamento é procedimento administrativo.
OBS: Tombamento constitucional: art. 216, §5º CR/88 – não precisa inscrever no livro do tombo, pois está previsto na constituição, não precisa ter procedimento administrativo.
§ 5º Ficam tombados todos os documentos e os sítios detentores de reminiscências históricas dos antigos quilombos.
d. Atributo da propriedade afetado: o caráter absoluto é afetado. O bem tombado pode ser alienado, mas deve seguir algumas regras, direito de preferência, conforme art. 22 do Decreto Lei 25.
e. Indenização: não dá direito à indenização, salvo se houver dano. 7. SERVIDÃO ADMINISTRATIVA
a. Conceito: é o direito real de gozo de natureza pública instituído pelo Estado ou por quem lhe faça as vezes sobre bens imóveis para atender um fim de interesse público.
OBS: não há lei sobre servidão administrativa, seu fundamento é o art. 40 Decreto Lei 3365/41, aplicando no que couber o código civil. Aplica-se à servidão administrativa o regime da desapropriação, todavia, o seu fim não é a retira da propriedade, o resultado final é impor um direito real. As regras de servidão do direito civil são aplicadas na servidão administrativa naquilo que lhe couber.
O imóvel serviente oferece uma utilidade ao imóvel dominante, desta forma, impõe-se um direito real ao imóvel impõe-serviente para que ele continue oferecendo a utilidade – no direito administrativo é a mesma coisa, todavia o imóvel dominante é substituído por um serviço público – Ex. Condomínio que permite a instalação de antena de telecomunicação.
b. Atributo da propriedade afetado: o caráter exclusivo é afetado, o proprietário não utiliza sozinho.
c. Indenização: não dá direito à indenização, apenas se houver dano, em regra se presume o dano como nos casos de energia.
d. Registro: a lei de registros públicos Lei 6015/73 impõe o registro das servidões. Há divergência na doutrina se há servidão por lei – se considerar permitido, não é necessário registro, uma vez que a lei é pública. Há autores que dizem que não existe servidão por lei.
CONTROLE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
1. Conceito: é poder de fiscalização e correção que sobre a administração pública exercem os Poderes Executivo, Legislativo e o Poder Judiciário, para garantir a observância do princípio da juridicidade (também chamado de legalidade em sentido amplo, é o dever da Administração de observar a lei e o Direito).
2. Formas de controle: a doutrina classifica as formas de controle de diferentes formas: a. Quanto ao momento do controle: o controle pode ser:
i. Anterior/A priori/ Prévio: o controle administrativo ocorre antes que o ato seja praticado pela Administração Pública. Ex. todos os atos sujeitos a autorização – o Presidente da República para nomear o Presidente da ANATEL, o Senado deve aprovar.
ii. Concomitante: a medida que o ato é realizado, o controle também é realizado paralelamente. Ex. Execução orçamentária – O TCU acompanha a execução orçamentária.
iii. Posterior/Ulterior/ A posteriori: o controle é feito depois do ato. Ex. Mandado de Segurança.
b. Quanto ao aspecto do controle:
i. Legalidade: quem controla afere se o ato é conforme a lei. Quem exerce o controle é a própria Administração (poder de autotutela – a administração pode rever seus próprios atos); o Poder Judiciário (art. 5º, XXXV CR/88); o Poder Legislativo: o legislativo só pode exercer controle de legalidade nas hipóteses estritamente previstas na Constituição (ex. art. 49, V, CR/88) ii. Mérito: controle de oportunidade e conveniência – a própria administração,
com base na autotutela; poder legislativo (nas hipóteses previstas na CR/88 – ex. declarar guerra e paz, o Presidente manifesta e o Congresso é quem deve aprovar).
c. Quanto à posição do órgão controlador:
i. Interno: o órgão controlado se insere na estrutura do órgão controlador. Ex. A controladoria Geral da União controlando a Administração Pública. O Poder Executivo fazendo controle sobre órgãos do Poder Executivo – sistema de auditoria interna.
ii. Externo: o órgão controlado e o órgão controlador se encontram em estruturas orgânicas diversas. Ex. Administração Pública Direta controlando a Administração Indireta (são pessoas jurídicas diferentes), a este controle dá-se o nome de Tutela (autora: Maria Silvia)
OBS: Para Celso Antônio Bandeira de Mello: a tutela é controle interno exterior, interno, pois no âmbito da estrutura da Administração e exterior, porque são pessoas jurídicas distintas, para Celso Antônio, só é externo o controle de um poder sobre o outro, é a própria Administração se controlando.
d. Quanto ao órgão controlador: o controle pode ser:
i. Legislativo: controle que o poder legislativo exerce sobre a administração ii. Judicial: controle que o poder judicial exerce sobre a administração
iii. Administrativo: controle que o poder administrativo exerce sobre a administração
3. CONTROLE LEGISLATIVO: é controle que o Poder Legislativo exerce sobre a Administração Pública para garantir o cumprimento das leis e da Constituição.
Pode ser de 02 tipos:
a. Controle parlamentar direto: o próprio parlamento realiza o controle.
i. Sustação de atos e contratos do Poder Executivo – art. 49, V e 71, §1º da CR/88
ii. Convocação de Ministros, autoridade ou pessoas para prestar esclarecimentos (depor) – art. 50, §1º e 2º e art. 58, §2º, III, IV e V da CR/88.
iii. CPI – art. 58 da CR/88
iv. Autorizações ou aprovações do Congresso necessárias para a prática de atos concretos do Executivo – art. 49, I, XII, XIII, XVI, XVII CR/88.
v. Poderes controladores privativos do Senado – art. 52, III, IV, V, VI, VII, VIII, IX, da CR/88.
vi. Julgamento das Contas do Executivo - art. 49, IX e 51, II da CR/88
vii. Impeachment de Presidente ou Ministros – art. 85, I ao VII e parágrafo único, art. 86, §1º, I e II, art, 51, I, art. 52, I e II da CR/88
b. Controle Parlamentar auxiliado pelo Tribunal de Contas – art. 70 e 71 da CR/88 – o TCU dá o parecer, o Congresso é quem decide.
4. CONTROLE JUDICIAL: controle que o Poder Judiciário exerce sobre a Administração Pública – art. 5º, XXXV CR/88 – o poder judiciário exerce jurisdição, aplica-se as regras do processo judicial e todas as suas características, todavia uma das partes é o próprio Estado (e suas prerrogativas).
a. Controle judicial ordinário: ações ordinárias regidas pelo CPC.
b. Ações Constitucionais: remédios constitucionais – ações especiais previstas na CR/88 como mecanismo de proteger as garantias fundamentais. Ex. habeas corpus art. 5º, LXVIII CR/88 art. 647 a 667 do CPC; mandado de segurança art. 5º, LXIX e LXX e lei 12.016/2009; Habeas Data art. 5º, LXXII da CR/88 e lei 9.507/97; Mandado de injunção art. 5º, LXXI da CR/88 vide Mandado de Injunção 447-1 e 708; ação popular art. 5º, LXXIII da CR/88 e lei 4717/65; ação civil pública art. 129, III da CR/88 e lei 7347/95; ação direta de inconstitucionalidade art. 102, I, a, art. 103, §2º da CR/88 e lei 9868/99
5. CONTROLE ADMINISTRATIVO: controle que a própria administração exerce sobre os seus atos
a. Controle hierárquico: controle que decorre do poder hierárquico, não necessita de previsão legal, a autoridade superior controlando órgão subordinado – autotutela (sum 473, 356 STF, art. 53 da Lei 9784/99 – a administração pública pode rever seus próprios atos).
b. Controle finalístico: é aquele que decorre da lei, não decorre da relação hierárquica, a lei determina o controle e a sua extensão – Tutela (controle administrativo a administração direta exerce controle sobre a administração indireta, não é relação hierárquica).
c. Recursos administrativos:
i. Conceito: é qualquer meio hábil a provocar a administração pública para que se manifeste sobre algo ligado ao interesse público ou ao interesse de quem postula. É uma expressão ampla.
ii. Fundamento: direito de petição art. 5º, XXXIV da CR/88. Qualquer cidadão tem o direito de provocar a Administração Pública acerca do seu interesse ou interesse público
iii. Garantia: Sum Vinculante 21 STF – a administração pública não pode exigir garantia, pode ser interposto independente de garantia.
iv. Efeito: em regra tem efeito devolutivo, salvo diante expressa previsão legal art. 109 da lei 8666 (lei de licitação).
v. Reformatio in pejus: recurso administrativo admite reformatio in pejus, salvo aquele que impõe sansões. O recurso pode piorar a situação do recorrente, salvo quando se discute sansões impostas. Art. 64 e 65 da lei 9784/99. vi. Espécies de Recurso: não há uma lei que defina os recursos
administrativos, pois há leis diferentes para cada matéria, cada lei preverá os recursos cabíveis. É impossível a sistematização de recursos de forma linear. O que a doutrina consegue fazer é identificar alguns recurso, quais sejam:
I. Representação: meio pelo qual se denuncia irregularidades II. Reclamação:
a. Administrativa: meio pelo qual se deduz uma pretensão à administração. Ex. usar um bem público
b. Constitucional: garantir a autoridade da Súmula vinculante III. Pedido de reconsideração: dirige o pedido para própria
autoridade que decidiu.
IV. Recurso hierárquico: dirigido à autoridade superior para analisar o ato do órgão subordinado.
V. Revisão: revisão da penalidade aplicada (não admite reformatio in pejus)