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Nota Técnica nº 71/2015

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Gestão Pública, Assessoria Contábil, Auditoria e Assessoria em Administração Municipal S/S Ltda.

Nota Técnica nº 71/2015

Assunto: Considerações a respeito da possibilidade de abertura de concurso público e nomeação dos aprovados nos três meses que antecedem o pleito e até a posse dos eleitos

Prezado Gestor:

A GEPAM, no exercício de sua missão orientativa, edita a presente Nota Técnica com a finalidade de esclarecer importante e recorrente dúvida dos agentes políticos durante o ano eleitoral municipal: a

abertura de concursos públicos visando o provimento de cargos e empregos públicos, bem como a nomeação dos candidatos aprovados nos três meses que antecedem a realização do pleito e até a posse dos eleitos. Para esclarecê-la, far-se-á a análise do disposto no inciso V do artigo 73 da Lei

Federal nº 9.504/97, inclusive da exceção prevista no alínea “c”. Far-se-á, ainda, a identificação de dois importantes aspectos previstos no indigitado dispositivo, cuja correta compreensão torna-se fundamental para apreender quais são as condutas vedadas, o local de proibição (aspecto territorial) e a partir de qual momento (aspecto temporal ou espacial) deve o agente público abster-se de realizá-las, sob pena de atrai a nulidade de pleno direito, além das cominações previstas nos §§ 4º, 5º e 7º, todos do citado artigo 73. Finalmente, alertar-se-áque, ainda que seja possível a nomeação do aprovado em ano eleitoral, mister que o agente político, além da observância dos requisitos previstos na Lei Eleitoral, deverá atentar-se aosrequisitos previstos na Constituição Federal e na Lei de Responsabilidade Fiscal.

Preliminarmente, para facilitar o entendimento da matéria suscitada, far-se-á a análise individual e sucessiva das normas citadas na preambular desta Nota Técnica. Ao fragmentar os assuntos cujo esclarecimento se pretende com esta Nota. Desta forma, primeiramente, far-se-á a análise da Lei Eleitoral, ou seja, as condutas previstas no artigo 73, inciso V, enfatizando-se inexistir proibição quanto à abertura de edital de concurso público em ano eleitoral. Num segundo momento far-se-á a análise dos aspectos territorial e espacial ou temporal previstos no inciso V do artigo 73. Logo após far-se-á a análise da exceção prevista na alínea “c” do inciso V do artigo 73 da Lei nº 9.504/97. Na sequência far-se-á a análise do artigo § 1º, do 169 da Constituição Federal, que estabelece requisitos para a criação de cargos e empregos públicos, assim como requisitos para a admissão, a qualquer título, de pessoal. E, finalmente, far-se-á a análise do parágrafo único do artigo 21 da Lei de Responsabilidade Fiscal, que estabelece a nulidade pleno direito do ato de que resulte aumento da despesa com pessoal expedido no cento e oitenta dias anteriores ao final do mandato do titular do Poder Executivo. É o que passamos a fazer.

1. A possibilidade de abertura de concurso público em ano eleitoral: uma análise do inciso V do artigo 73 da Lei nº 9.504/97

A Lei nº 9.504/97, denominada de Lei Geral das Eleições, disciplina em seu artigo 73 as condutas vedadas durante o ano eleitoral, bem como prevê as cominações nos casos em que houver violação dos seus mandamentos. O dispositivo encontra-se assim redigido:

Art. 73. São proibidas aos agentes públicos, servidores ou não, as seguintes

condutas tendentes a afetar a igualdade de oportunidades entre candidatos nos pleitos eleitorais:

I - ceder ou usar, em benefício de candidato, partido político ou coligação,

bens móveis ou imóveis pertencentes à administração direta ou indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, ressalvada a realização de convenção partidária;

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II - usar materiais ou serviços, custeados pelos Governos ou Casas

Legislativas, que excedam as prerrogativas consignadas nos regimentos e normas dos órgãos que integram;

III - ceder servidor público ou empregado da administração direta ou indireta

federal, estadual ou municipal do Poder Executivo, ou usar de seus serviços, para comitês de campanha eleitoral de candidato, partido político ou coligação, durante o horário de expediente normal, salvo se o servidor ou empregado estiver licenciado;

IV - fazer ou permitir uso promocional em favor de candidato, partido político

ou coligação, de distribuição gratuita de bens e serviços de caráter social custeados ou subvencionados pelo Poder Público;

V - nomear, contratar ou de qualquer forma admitir, demitir sem justa causa,

suprimir ou readaptar vantagens ou por outros meios dificultar ou impedir o exercício funcional e, ainda, ex officio, remover, transferir ou exonerar servidor público, na circunscrição do pleito, nos três meses que o antecedem e até a posse dos eleitos, sob pena de nulidade de pleno direito, ressalvados:

a) a nomeação ou exoneração de cargos em comissão e designação ou

dispensa de funções de confiança;

b) a nomeação para cargos do Poder Judiciário, do Ministério Público, dos

Tribunais ou Conselhos de Contas e dos órgãos da Presidência da República;

c) a nomeação dos aprovados em concursos públicos homologados até o

início daquele prazo;

d) a nomeação ou contratação necessária à instalação ou ao funcionamento

inadiável de serviços públicos essenciais, com prévia e expressa autorização do Chefe do Poder Executivo;

e) a transferência ou remoção ex officio de militares, policiais civis e de

agentes penitenciários;

VI - nos três meses que antecedem o pleito:

a) realizar transferência voluntária de recursos da União aos Estados e

Municípios, e dos Estados aos Municípios, sob pena de nulidade de pleno direito, ressalvados os recursos destinados a cumprir obrigação formal preexistente para execução de obra ou serviço em andamento e com cronograma prefixado, e os destinados a atender situações de emergência e de calamidade pública;

b) com exceção da propaganda de produtos e serviços que tenham

concorrência no mercado, autorizar publicidade institucional dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos federais, estaduais ou municipais, ou das respectivas entidades da administração indireta, salvo em caso de grave e urgente necessidade pública, assim reconhecida pela Justiça Eleitoral;

c) fazer pronunciamento em cadeia de rádio e televisão, fora do horário

eleitoral gratuito, salvo quando, a critério da Justiça Eleitoral, tratar-se de matéria urgente, relevante e característica das funções de governo;

VII - realizar, no primeiro semestre do ano de eleição, despesas com

publicidade dos órgãos públicos federais, estaduais ou municipais, ou das respectivas entidades da administração indireta, que excedam a média dos gastos no primeiro semestre dos três últimos anos que antecedem o pleito;

VIII - fazer, na circunscrição do pleito, revisão geral da remuneração dos

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aquisitivo ao longo do ano da eleição, a partir do início do prazo estabelecido no art. 7º desta Lei e até a posse dos eleitos.

§ 1º Reputa-se agente público, para os efeitos deste artigo, quem exerce,

ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nos órgãos ou entidades da administração pública direta, indireta, ou fundacional.

§ 2º A vedação do inciso I do caput não se aplica ao uso, em campanha, de

transporte oficial pelo Presidente da República, obedecido o disposto no art. 76, nem ao uso, em campanha, pelos candidatos a reeleição de Presidente e Vice-Presidente da República, Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal, Prefeito e Vice-Prefeito, de suas residências oficiais para realização de contatos, encontros e reuniões pertinentes à própria campanha, desde que não tenham caráter de ato público.

§ 3º As vedações do inciso VI do caput, alíneas b e c, aplicam-se apenas aos

agentes públicos das esferas administrativas cujos cargos estejam em disputa na eleição.

§ 4º O descumprimento do disposto neste artigo acarretará a suspensão

imediata da conduta vedada, quando for o caso, e sujeitará os responsáveis a multa no valor de cinco a cem mil UFIR.

§ 5o Nos casos de descumprimento do disposto nos incisos do caput e no §

10, sem prejuízo do disposto no § 4o, o candidato beneficiado, agente público

ou não, ficará sujeito à cassação do registro ou do diploma.

§ 6º As multas de que trata este artigo serão duplicadas a cada reincidência. § 7º As condutas enumeradas no caput caracterizam, ainda, atos de

improbidade administrativa, a que se refere o art. 11, inciso I, da Lei nº

8.429, de 2 de junho de 1992, e sujeitam-se às disposições daquele diploma legal, em especial às cominações do art. 12, inciso III.

§ 8º Aplicam-se as sanções do § 4º aos agentes públicos responsáveis pelas

condutas vedadas e aos partidos, coligações e candidatos que delas se beneficiarem.

§ 9º Na distribuição dos recursos do Fundo Partidário (Lei nº 9.096, de 19 de

setembro de 1995) oriundos da aplicação do disposto no § 4º, deverão ser excluídos os partidos beneficiados pelos atos que originaram as multas.

§ 10. No ano em que se realizar eleição, fica proibida a distribuição gratuita

de bens, valores ou benefícios por parte da Administração Pública, exceto nos casos de calamidade pública, de estado de emergência ou de programas sociais autorizados em lei e já em execução orçamentária no exercício anterior, casos em que o Ministério Público poderá promover o acompanhamento de sua execução financeira e administrativa.

§ 11. Nos anos eleitorais, os programas sociais de que trata o § 10 não

poderão ser executados por entidade nominalmente vinculada a candidato ou por esse mantida.

§ 12. A representação contra a não observância do disposto neste artigo

observará o rito do art. 22 da Lei Complementar no 64, de 18 de maio de

1990, e poderá ser ajuizada até a data da diplomação.

§ 13. O prazo de recurso contra decisões proferidas com base neste artigo

será de 3 (três) dias, a contar da data da publicação do julgamento no Diário Oficial.

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Gestão Pública, Assessoria Contábil, Auditoria e Assessoria em Administração Municipal S/S Ltda.

O exercício de 2016, como é sabido por todos, será marcado pelas eleições municipais. Neste sufrágio o povo elegerá os novos representantes do Poder Executivo (Prefeito e Vice-Prefeito) e do

Poder Legislativo (Vereadores). Em função disso, não raras vezes os agentes públicos1 deparam-se

com a seguinte dúvida: em ano eleitoral é possível a abertura de concurso público, bem como se a

nomeação de candidatos aprovados poderá ocorrer nos três meses que antecedem o pleito e até a posse dos eleitos?

Conforme será demonstrado, o ano eleitoral não é impeditivo à deflagração de edital de concurso público qualquer que seja a esfera de governo que se encontre em disputa eleitoral. Noutras palavras, pode-se afirmar, sem qualquer constrangimento, que a União, Estados, Distrito Federal e Municípios podem, ainda que se trate de ano eleitoral, deflagrar editais de concurso público objetivando o provimento de cargos e empregos públicos.

O legislador infraconstitucional, no artigo 73, supra, relacionou diversos comportamentos que se-ão vedados em ano eleitoral. Referido dispositivo elenca condutas que ora encontrar-se-ão vedadas em caráter permanente (caso dos incisos I, II, III, IV e §§ 10 e 11, do artigo 73) ora em caráter temporário (caso dos inciso V, VI, VII, VIII do artigo 73, do art. 75 e do 77, todos do artigo 73).

Fundamentalmente, o objetivo do artigo 73 da Lei Eleitoral é o de impedir que candidatos usem a máquina administrativa para obter, para si ou para outrem, vantagens eleitorais, quer por meio de apadrinhamento, quer por perseguição de funcionários.

Para a temática ora abordada – realização de concurso público e nomeação dos candidatos aprovados em ano eleitoral –a dúvida deve ser saneada a partir da correta análise do inciso V do artigo 73 da Lei nº 9.504/97, que traz norma com conteúdo proibitivo temporário. Assim está redigido:

Art. 73. São proibidas aos agentes públicos, servidores ou não, as seguintes

condutas tendentes a afetar a igualdade de oportunidades entre candidatos nos pleitos eleitorais:

[...]

V - nomear, contratar ou de qualquer forma admitir, demitir sem justa causa,

suprimir ou readaptar vantagens ou por outros meios dificultar ou impedir o exercício funcional e, ainda, ex officio, remover, transferir ou exonerar servidor público, na circunscrição do pleito, nos três meses que o antecedem e até a posse dos eleitos, sob pena de nulidade de pleno direito, ressalvados: [...]

Conforme se infere do inciso V, o legislador ordinário não previu como conduta vedada a “abertura” de edital de concurso público. As condutas vedadas estão relacionadas aos seguintes atos administrativos: nomear, contratar ou de qualquer forma admitir, demitir sem justa casa, suprimir ou readaptar vantagens ou por outros meios dificultar ou impedir o exercício funcional, e, ainda, ex

officio, remover, transferir ou exonerar servidor público. A prática desses atos atrai a nulidade de

1Art. 73.São proibidas aos agentes públicos, servidores ou não, as seguintes condutas tendentes a afetar a igualdade de

oportunidades entre candidatos nos pleitos eleitorais: [...]

§ 1º Reputa-se agente público, para os efeitos deste artigo, quem exerce, ainda que transitoriamente ou sem

remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nos órgãos ou entidades da administração pública direta, indireta, ou fundacional.

[...]

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pleno direito, além de ensejar ao agente público as cominações previstas nos §§ 4º, 5º e 7º do

artigo 73 da Lei nº 9.504/972.

Nesse sentido, cita-se Carlos Eduardo de Oliveira Lula3, que sobre a possibilidade de abertura de

concurso público em ano eleitoral, ensina que:

[...] Não há também qualquer proibição para a realização ou abertura de concurso público em ano eleitoral, uma das mais velhas “lendas urbanas” que vagam por aí em período de disputa pelo voto popular. O que o inciso V do

art. 73 veda é a ocorrência de nomeações, contratações e outras movimentações funcionais.

[Grifos e negritos nossos].

A Lei Eleitoral, em suma, não prevê proibição, regramento ou ingerência quanto à possibilidade de o agente público, no ano eleitoral, determinar a abertura de concurso público. Não haverá qualquer transgressão da lei. Nesse sentido, vale finalizar o presente tópico frisando que o artigo 73 possui caráter proibitivo ou restritivo, de modo que, segundo as normas de hermenêutica jurídica, deve ser interpretado modo restritivo, ou seja, não cabe ao intérprete ampliar o seu alcance. Assim, se o legislador não vedou, deve-se concluir pela ilicitude do ato que determinar a abertura de edital de concurso público, ainda que se trate de ano eleitoral.

A restrição imposta pela aludida lei limita-se à expedição do ato de nomeação do candidato aprovado, ou seja, do ato da administração que concretiza a investidura do cidadão no cargo ou emprego público.

No tópico a seguir, portanto, será analisado o aspecto territorial e o aspecto temporal existente no inciso V do artigo 73 da Lei nº 9.504/97. Noutras palavras, analisar-se-á “quem” é o destinatário da norma e “a partir de quando” as condutas descritas não mais poderão ser realizadas pelo agente público.

2. Os aspectos territorial e temporal previsto no inciso V do artigo 73 da Lei nº 9.504/97

As condutas previstas no inciso V do artigo 73 da Lei nº 9.504/97 encontram-se temporariamente proibidas no ano eleitoral. Isso significa dizer que o agente público poderá ou não realizá-las, conforme o período do ano em que se encontre.

Reproduz-se, novamente, o artigo 73, inciso V da Lei nº 9.504/97, no intuito de destacar os aspectos territorial e temporal existentes no dispositivo. Vejamos:

2Art. 73. São proibidas aos agentes públicos, servidores ou não, as seguintes condutas tendentes a afetar a igualdade de

oportunidades entre candidatos nos pleitos eleitorais: [...]

§ 4º. O descumprimento do disposto neste artigo acarretará a suspensão imediata da conduta vedada, quando for o caso, e

sujeitará os responsáveis a multa no valor de cinco a cem mil UFIR. [...]

§ 5º. Nos casos de descumprimento do disposto nos incisos do caput e no § 10, sem prejuízo do disposto no § 4o, o

candidato beneficiado, agente público ou não, ficará sujeito à cassação do registro ou do diploma. [...]

§ 7º.As condutas enumeradas no caput caracterizam, ainda, atos de improbidade administrativa, a que se refere o art. 11, inciso I, da Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992, e sujeitam-se às disposições daquele diploma legal, em especial às cominações do art. 12, inciso III.

[...]

[Grifos e negritos nossos].

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Gestão Pública, Assessoria Contábil, Auditoria e Assessoria em Administração Municipal S/S Ltda.

Art. 73. São proibidas aos agentes públicos, servidores ou não, as seguintes

condutas tendentes a afetar a igualdade de oportunidades entre candidatos nos pleitos eleitorais:

[...]

V - nomear, contratar ou de qualquer forma admitir, demitir sem justa causa,

suprimir ou readaptar vantagens ou por outros meios dificultar ou impedir o exercício funcional e, ainda, ex officio, remover, transferir ou exonerar servidor público, na circunscrição do pleito, nos três meses que o

antecedem e até a posse dos eleitos, sob pena de nulidade de pleno

direito, ressalvados: [...]

[Grifos e negritos nossos]

Por isso que, como dito alhures, as condutas descritas no inciso V, no ano eleitoral, encontrar-se-ão temporariamente vedados pela esfera de governo que encontrar-se em disputa eleitoral. A observância pelo agente público do aspecto territorial e do aspecto temporalé de suma importância, de modo que o descumprimento, além de atrair a nulidade do ato, sujeita ainda o responsável pelas cominações previstas nos §§ 4º, 5º e 7º do artigo 73 da Lei nº 9.504/97.

Vejamos, a seguir, o que orienta o aspecto territorial e o aspecto temporal.

O aspecto territorial orienta que as condutas previstas no inciso V não podem ser realizadas na “circunscrição do pleito”. Está previsto no artigo 86 do Código Eleitoral (Lei nº 4.737/65), da seguinte maneira:

Art. 86. Nas eleições presidenciais, a circunscrição será o País; nas eleições

federais e estaduais, o Estado; e nas municipais, o respectivo município. [Grifos e negritos nossos].

O aspecto temporal norteia que as referidas condutas descritas no inciso V não podem ser realizadas “nos três meses que antecedem o pleito e até a posse dos eleitos”, o qual se denomina de período vedado.

Aqui, cabe abrir um parêntese. A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 29, inciso II4,

estabeleceu que a eleição do Prefeito e do Vice-Prefeito será realizada no primeiro domingo de

outubro do ano anterior ao término do mandato dos que devam suceder. Assim, salvo

superveniência de informação posterior editada pelo Tribunal Superior Eleitoral, as eleições municipais realizar-se-ão no dia 02 de outubro de 2016 (primeiro turno) e, eventualmente, no

dia 30 de outubro de 2016 (segundo turno). A posse dos eleitos ocorrerá no dia 01 de janeiro de 2017.

4Art. 29. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos, com o interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços dos membros da Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do respectivo Estado e os seguintes preceitos:

[...]

II -eleição do Prefeito e do Vice-Prefeito realizada no primeiro domingo de outubro do ano anterior ao término do mandato dos que devam suceder, aplicadas as regras do art. 77, no caso de Municípios com mais de duzentos mil eleitores;

[...]

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Nesse interim, entende-se por circunscrição do pleito a esfera político-administrativa que está

em disputa, ou seja, os Municípios. Entende-se por “os três meses que antecedem o pleito e até

a posse dos eleitos” o período que se inicia no dia 02 de julho de 2016 e que termina no dia

01 de janeiro de 2017.

Em suma, no Município, o agente público pode, até o iníciodo período eleitoral (dia 01 de julho de 2016), nomear, contratar ou qualquer forma admitir. Logo, uma vez iniciado o período eleitoral (a partir do dia 02 de julho de 2016 até a posse dos eleitos), a priori, o agente público não poderá nomear, contratar ou de qualquer forma admitir. Diz-se, a priori, porque a Lei Eleitoral trouxe

exceção, e, que será objeto de análise do tópico seguinte.

3. A exceção prevista na alínea “c” do inciso V do artigo 73 da Lei nº 9.504/97

Como dito alhures, a regra prevista no dispositivo em análise visa coibir o uso da máquina administrativa, seja por meio de apadrinhamentos ou perseguição política, já que tais comportamentos repercutem na isonomia entre os candidatos. Exatamente por isso é vedado ao agente público nomear, contratar ou de qualquer forma admitir, demitir sem justa casa, suprimir ou readaptar vantagens ou por outros meios dificultar ou impedir o exercício funcional, e, ainda, ex

officio, remover, transferir ou exonerar servidor público, no período que se inicia no dia 02 de julho

de 2016 e se estende até a posse dos eleitos,

Toda nomeação ocorrida nesse período vedado é tida por nula de pleno direito.

Entretanto, a Lei nº 9.504/97 excepcionou algumas hipóteses. De acordo com a alínea “c” do inciso V do artigo 73, o agente público municipal pode nomear candidatos aprovados em concurso públicos homologados até o dia 02 de julho de 2016. Com efeito, veja:

Art. 73. São proibidas aos agentes públicos, servidores ou não, as seguintes

condutas tendentes a afetar a igualdade de oportunidades entre candidatos nos pleitos eleitorais:

[...]

V - nomear, contratar ou de qualquer forma admitir, demitir sem justa causa,

suprimir ou readaptar vantagens ou por outros meios dificultar ou impedir o exercício funcional e, ainda, ex officio, remover, transferir ou exonerar servidor público, na circunscrição do pleito, nos três meses que o

antecedem e até a posse dos eleitos, sob pena de nulidade de pleno

direito, ressalvados: [...]

c) a nomeação dos aprovados em concurso públicos homologados até o

início daquele prazo; [...]

[Grifos e negritos nossos]

Para que a nomeação seja legal, a Lei Eleitoral exige que tanto a homologação do certame quanto à nomeação do candidato aconteçam antes do início do período vedado. Logo, caso a lista de resultados não tenha sido homologada até três meses antes do pleito, a nomeação e a posse somente poderão ocorrer após a posse dos eleitos.

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Aqui, do mesmo modo, cabe abrir um parêntese. Não se deve confundir “nomeação” com “posse”. A Lei Eleitoral exige que a nomeação do aprovado ocorra até o início do período vedado. A nomeação, como sabido, é a investidura do cidadão no cargo ou emprego público. Posse, por sua vez, constitui o início do exercício. Assim, se a nomeação se deu antes do período vedado, a posse poderá ocorrer dentro do prazo vedado por lei, tendo em vista a exceção prevista. Caso isso não ocorra, a nomeação e a posse somente poderão ocorrer após o período vedado.

Em suma, a Lei Eleitoral vedou a nomeação nos três meses que antecedem o pleito e até a

posse dos eleitos. Ressalvou-se, dentre outras hipóteses, somente as nomeações decorrentes de

certames cujos resultados tenham sido homologados até o início daquele prazo.

4. A contratação de pessoal e os requisitos previstos no artigo 169, § 1º da Constituição Federal

Nos tópicos anteriores restou demonstrado que a abertura ou realização de concurso público não figura entre as condutas temporária ou permanentemente vedadas pelo legislador. Assim, em qualquer período do ano eleitoral, inclusive nos três meses que antecedem o pleito e até a posse dos eleitos, quaisquer das esferas de governo podem abrir ou realizar concursos públicos. O que resta temporariamente vedado é a nomeação, contratações e outras movimentações funcionais. Destarte, viu-se que a Lei Eleitoral admitiu, dentre outras, a nomeação de candidatos aprovados em concursos públicos homologados até o início do período vedado.

No entanto, é importante frisar que, ainda que a Lei Eleitoral admita a nomeação nas hipóteses da alínea “c” do inciso V do artigo 73, é certo que a Constituição Federal de 1988, no § 1º do artigo 169, determina que a contratação de pessoal somente poderá ser realizada se houver prévia dotação orçamentária capaz de suportar as projeções de despesa com pessoal e aos acréscimos dela decorrentes, e, ainda, se houver autorização específica na lei de diretrizes orçamentárias. Com efeito, veja:

Art. 169. A despesa com pessoal ativo e inativo da União, dos Estados, do

Distrito Federal e dos Municípios não poderá exceder os limites estabelecidos em lei complementar.

§ 1º. A concessão de qualquer vantagem ou aumento de remuneração, a

criação de cargos, empregos e funções ou alteração de estrutura de carreiras, bem como a admissão ou contratação de pessoal, a qualquer título, pelos órgãos e entidades da administração direta ou indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo poder público, só poderão ser feitas:

I - se houver prévia dotação orçamentária suficiente para atender às

projeções de despesa de pessoal e aos acréscimos dela decorrentes;

II - se houver autorização específica na lei de diretrizes orçamentárias,

ressalvadas as empresas públicas e as sociedades de economia mista. [...]

[Grifos e negritos nossos].

Desta forma, não basta apenas atender os preceitos da Lei Eleitoral. Mister, primeiramente, atender o comando constitucional, dispondo das respectivas autorizações na lei orçamentária anual e na lei de diretrizes orçamentárias.

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Gestão Pública, Assessoria Contábil, Auditoria e Assessoria em Administração Municipal S/S Ltda.

5. A LRF e a impossibilidade de editar ato de que resulte aumento da despesa com pessoal nos últimos cento e oitenta dias que antecedem o término do mandato

O ano eleitoral é também o último ano de mandato. Assim, em se tratando de nomeação, contratação ou qualquer forma de admissão, além da necessária observação do artigo 169, § 1º da CF/88, bem como da Lei Eleitoral (inciso V do artigo 73 da Lei nº 9.704/97), o agente público municipal também deverá estar atento à despesa com pessoal.

Reza o parágrafo único do artigo 21 da LRF – Lei de Responsabilidade Fiscal que:

Art. 21. É nulo de pleno direito o ato que provoque aumento da despesa com

pessoal e não atenda: [...]

Parágrafo único. Também é nulo de pleno direito o ato de que resulte

aumento da despesa com pessoal expedido nos cento e oitenta dias anteriores ao final do mandato do titular do respectivo Poder ou órgão referido no art. 20.

Assim, ainda que seja possível a nomeação, nos três meses que antecedem o pleito e até a posse dos eleitos, de candidato aprovado em concurso homologados até o início daquele prazo (02 de julho de 2016 até a posse dos eleitos), o agente público, também deverá atentar-se ao disposto no parágrafo único do artigo 21 da LRF, que considera nulo de pleno direito o ato de que resulte aumento da despesa com pessoal expedido nos centos e oitentas dias que antecedem o término do mandato.

Desse modo, entre os dias 05 de julho até 31 de dezembro de 2016, é vedado ao agente público aumentar a despesa com pessoal.

6. Considerações finais

A presente Nota Técnica teve por intuito esclarecer que não há na legislação eleitoral qualquer regramento ou ingerência proibindo a abertura ou a realização de concurso público. As esferas governamentais, independentemente da disputa eleitoral, podem fazê-lo em qualquer período. No entanto, esclareceu-se que a Lei Eleitoral impede, apenas, nomeações, contratações ou quaisquer outras movimentações funcionais “nos três meses que antecedem o pleito e até a posse dos eleitos”. Mas, por outro lado, viu-se que a alínea “c” do inciso V do artigo 73 da Lei nº 9.504/97 admite, excepcionalmente, que os candidatos aprovados em concurso públicos homologados até o dia 02 de julho de 2016 sejam nomeados, caso em que a posse, inclusive, poderá ocorrer durante o período previsto naquele inciso. Caso o resultado do concurso não seja homologado até aquela data, a nomeação e a posse somente poderão ocorrer após a posse dos eleitos. Finalmente, em que pese à possibilidade de nomeação nos três meses que antecede o pleito, viu-se que a Constituição Federal, no § 1º do artigo 169, informa que a admissão de pessoal somente poderá ocorrer se houver previsão de dotação lei orçamentária anual para fazer face as projeções de despesa com pessoal e encargos, e, ainda, se houver específica autorização na lei de diretrizes orçamentárias. Não bastasse isso, viu-se, finalmente, que o ano de 2016, além de ser ano eleitoral, também constitui o último ano de mandato no Poder Executivo. Dessa forma, a partir do dia 05 de julho até 31 de dezembro de 2016 o mandatário não poderá, sob pena de nulidade, expedir ato de que resulte aumento da despesa com pessoal, nos termos do parágrafo único do artigo 21 da LRF.

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Gestão Pública, Assessoria Contábil, Auditoria e Assessoria em Administração Municipal S/S Ltda.

A GEPAM está à disposição para dirimir quaisquer dúvidas e prestar quaisquer esclarecimentos porventura existentes a respeito da presente Nota Técnica, seja via contato telefônico pelo número

(18) 3521-5386, ou pelo site www.gepam.adm.br, por meio do canal “Fale Conosco”.

Atenciosamente,

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