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A crise da zona do Euro no processo de integração europeu

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A CRISE DA ZONA DO EURO NO PROCESSO DE INTEGRAÇÃO EUROPEU: ALMANHA E A POSIÇÃO DO PAÍS PAGADOR

Florianópolis 2015

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A CRISE DA ZONA DO EURO NO PROCESSO DE INTEGRAÇÃO EUROPEU: ALMANHA E A POSIÇÃO DO PAÍS PAGADOR

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de relações internacionais da Universidade do Sul de Santa Catarina como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Relações Internacionais.

Orientador: Prof. Paulo Roberto Ferreira, Me.

Florianópolis 2015

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A CRISE DA ZONA DO EURO NO PROCESSO DE INTEGRAÇÃO EUROPEU: ALMANHA E A POSIÇÃO DO PAÍS PAGADOR

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado à obtenção do título de Bacharel em Relações Internacionais e aprovado em sua forma final pelo Curso de Relações Internacionais da Universidade do Sul de Santa Catarina.

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Primeiramente gostaria de agradecer o apoio e todo o incentivo de meu pai e minha mãe ao longo da graduação, sem os quais não seria possível trilhar minha caminhada em busca da minha formação acadêmica. Agradeço também por terem sempre me encorajado a seguir os meus sonhos, abrindo meus olhos para a realidade e sem nunca deixar de acreditar em mim. Em seguida quero agradecer a todos os meus amigos da Punta Cana e do Forte Cacupé. Agradeço por serem minha segunda família, e terem partilhado suas experiências e conhecimento durante o período vivido junto, sempre com muita alegria e riso. Fazendo com que eu aprendesse muito e contribuindo para minha formação e evolução pessoal.

Não menos importante, agradeço ao professor Paulo Ferreira pelo tempo e dedicação despendidos para me orientar no presente trabalho de conclusão de curso. Graças a ele a realização deste foi possível e o conhecimento a respeito do tema foi alcançado, sua sabedoria e empenho ao me motivar foram fundamentais para que eu pudesse concluir a realização da presente monografia.

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Qual é a posição da Alemanha a respeito da integração europeia frente a crise vivenciada no velho continente? Há mais de meio século França e Alemanha iniciaram um processo de cooperação relacionado ao carvão e o aço, cujo sucesso atraiu outros países, e fez estender as práticas colaborativas para os âmbitos social, econômico e monetário, dando origem a União Europeia. A partir de tal processo de cooperação integram-se atualmente diversos países sob as leis de uma União Econômica e Monetária, cuja característica em destaque é a adoção do Euro como moeda única. Entretanto, após menos de uma década da implementação do Euro desencadeou-se uma crise financeira vindo a abalar a economia do bloco como um todo, pondo a prova a integridade da moeda única. Em tal contexto, organismos tiveram de ser criados para impedir o colapso de algumas economias, assim como volumosos empréstimos tiveram que ser tomados por estas. Estas iniciativas permitiram que o Euro se mantivesse sendo a moeda única do bloco, e que nenhum país tivesse que se retirar da união econômica e monetária. Neste cenário a Alemanha desempenhou um papel fundamental para garantir a integridade da União europeia.

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What is Germany's position regarding the European integration in the financial crisis experienced in the old continent? For over half of a century France and Germany have begun a process of cooperation around coal and steel, whose success attracted other countries, and extend the collaborative practices to social, economic and currency spheres, leading to the creation of the European Union. From the cooperation process many countries are currently integrated under the laws of an Economic and Monetary Union, whose main feature is the use of the euro as a single currency. However, after less of a decade of the euro’s implementation a financial crisis was triggered, which shook the bloc's economy as a whole, putting into test the integrity of the single currency. In this context, financial bodies had to be created in order to prevent the collapse of some economies and large loans had to be taken. These initiatives allowed the Euro to remain as the single currency of the block and that no country had to withdraw from the economic and monetary union. In this scenario, Germany played a key role ensuring the integrity of the block.

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Figura 1 - Distribuição do programa assistencial a Irlanda...63

Figura 2 - Detentores da dívida grega (em bilhões de euros - 2015)...68

Figura 3 - Países mais expostos a dívida grega (bilhões de euros) ...69

Figura 4 - Custo da dívida grega por habitante para os países mais expostos...70

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Gráfico 1 - Distribuição da dívida grega (total €355 bilhões)...61

Gráfico 2 - Débito grego em 2012...65

Gráfico 3 - Balança comercial alemã de 2007 a 2015...74

Gráfico 4 - Principais parceiros comerciais da Alemanha - 2014 ...75

Gráfico 5 - principais parceiros comerciais da Alemanha - 2007 ...76

Gráfico 6 - Produtos importados pela Alemanha em 2014 ...78

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Tabela 1 - Déficit (-) e superávit (+) em % do PIB...54

Tabela 2 - Dívida soberana em milhões de euros...55

Tabela 3 - Dívida soberana em relação ao PIB ...55

Tabela 4 - Crescimento do PIB (%) ...56

Tabela 5 - Taxa de desemprego...58

Tabela 6 - Participação no primeiro resgate a Grécia por membro da União Europeia...61

Tabela 7 - Contribuição por país para o FEEF...72

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1 INTRODUÇÃO...12

1.1 EXPOSIÇÃO DO TEMA E DO PROBLEMA...12

1.2 OBJETIVOS ...14 1.2.1 Objetivo geral ...14 1.2.2 Objetivos específicos ...14 1.3 JUSTIFICATIVA ...14 1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS...15 1.5 ESTRUTURA DE PESQUISA...17

2 TEORIAS DE INTEGRAÇÃO REGIONAL ...19

2.1 INTEGRAÇÃO REGIONAL ...19

2.2 FUNCIONALISMO ...21

2.3 NEOFUNCIONALISMO ...24

2.4 INTERGOVERNAMENTALISMO...26

3 A INTEGRAÇÃO EUROPEIA...31

3.1 OS NÍVEIS DE INTEGRAÇÃO REGIONAL...31

3.1.1 Área de preferência comercial ...31

3.1.2 Área de livre comércio ...32

3.1.3 União aduaneira ...32

3.1.4 Mercado comum...33

3.1.5 União econômica e monetária ...33

3.1.6 União politica...33

3.2 A UNIÃO EUROPEIA E A SUA FORMAÇÃO...34

3.2.1 A origem da união europeia ...34

3.2.2 Etapas da integração regional europeia...38

3.2.2.1 O tratado da comunidade econômica europeia (CEE). ...39

3.2.2.2 O ato único europeu...41

3.2.2.3 O tratado de Maastricht ...43

3.3 A ZONA DO EURO...45

3.4 O EURO...48

4 CRISE DO ENDIVIDAMENTO DOS ESTADOS EUROPEUS ...50

4.1 A CRISE ESTADUNIDENSE ...50

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4.2.1.2 Dívida Soberana ...54

4.2.1.3 Crescimento do PIB...56

4.2.1.4 Nível de desemprego ...58

4.3 RESGATES A ZONA DO EURO...59

4.3.1 Primeiro resgate concedido a Grécia...59

4.3.2 Resgate concedido a Irlanda...62

4.3.3 Resgate concedido a Portugal...63

4.3.4 Resgate concedido aos bancos espanhóis ...64

4.3.5 Segundo resgate concedido a Grécia ...65

4.3.6 Resgate concedido a Chipre. ...66

5 O PAPEL DA ALEMANHA MEIO A CRISE DA ZONA DO EURO ...67

5.1 PAÍSES QUE ARCARAM COM O EMPRÉSTIMO GREGO ...67

5.2 PAÍSES QUE GUARNECEM O FEEF ...71

5.3 HISTÓRICO ECONÔMICO DA ALEMANHA. ...73

5.4 A POSIÇÃO DA ALEMANHA NA INTEGRAÇÃO EUROPEIA NO CONTEXTO DA CRISE DA ZONA DO EURO ...79

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS...82

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1 INTRODUÇÃO

A presente monografia trata sobre os aspectos que concernem à posição da Alemanha no processo de integração europeu meio ao cenário da crise da Zona do Euro, cujo ápice se deu nos anos de 2011 e 2012.

Para a realização deste trabalho foram abordadas questões de cunho teórico a fim de embasar o estudo sobre o processo de integração regional europeu e trazer visões sobre a necessidade da existência de um país pagador para a integração regional. Também se encontram aqui uma breve contextualização histórica da formação da União Europeia e subsídios fundamentais para a compreensão da crise da Zona do Euro, assim como informações sobre as medidas adotadas para que o continente europeu não entrasse em colapso.

Por fim, a partir de tais estudos, buscar-se-á analisar e entender quais são os interesses da Alemanha no cenário europeu em meio à crise descrita acima para finalmente entender-se qual é a sua posição junto a integração europeia atual.

1.1 EXPOSIÇÃO DO TEMA E DO PROBLEMA

Interações entre Estados compreendem uma temática frequentemente presente nos estudos das Relações Internacionais. Tais Interações, em certas dimensões, podem se relacionar por meios de processos de integração regional, tornando-se objeto de estudo de diversos autores. Sobre este assunto, a União Europeia é reconhecida como sendo o maior exemplo de integração entre nações, tanto economicamente quanto socialmente, e sem dúvida serve de modelo para outros países que almejam a integração regional.

Até chegar no nível de integração que apresenta hoje, diversos processos foram necessários para que o bloco europeu alcançasse o patamar de União econômica monetária. Seu início se deu em 1952 com a criação da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA)1, a partir dos membros fundadores: Bélgica, Alemanha, França, Itália, Luxemburgo e os Países Baixos. Esta foi a primeira vez na Europa que Estados abriram mão de sua soberania nacional em prol de um interesse comum, dando, assim, um primeiro passo para o processo de integração regional (BORRAGÁN; CINI, 2010). Devido ao êxito da CECA os países

1A CECA tinha como objetivo a integração das indústrias do carvão e do aço como uma forma de cooperação

econômica para manter a paz de uma forma duradoura, e reerguer a Europa economicamente em um cenário pós-segunda guerra mundial.

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membros decidiram integrar outros setores de suas economias. Criou-se então em 1958 a Comunidade Econômica Europeia (CEE) e a Comunidade Europeia da Energia Atómica (Euratom), que com o decorrer dos anos, seriam integradas entre si. O sucesso da criação destas comunidades de integração através da cooperação fez que demais países passassem a aderir à integração até que finalmente, em 1993, a União Europeia foi criada através do Tratado de Maastricht (BORRAGÁN; CINI, 2010).

O processo de integração regional é um processo que dificilmente é igualitário para os membros que dele participam, por isso, para que a integração tenha sucesso é necessário que haja liderança, isto é: países que estejam dispostos a tomar iniciativas e pagar os custos deste processo; Países que privilegiem a condição do bloco como um todo em detrimento da sua soberania e do capital a ser investido. A Alemanha se mostra importante em tal contexto, uma vez que esteve presente apoiando diversas decisões referentes a integração europeia tanto de forma política quanto econômica, chegando até mesmo a ter que interferir em suas políticas internas em virtude da manutenção e estabilização da integração.

Há Dentro do âmbito da União Europeia a Zona do Euro, que representa uma união econômica monetária composta por alguns países, cuja característica é a utilização do Euro como moeda oficial. Para fazer parte desta união os países devem adotar tal moeda oficialmente, deixando de utilizar suas moedas antigas. A criação da Zona do Euro se deu oficialmente em janeiro de 1999, quando 11 países (entre eles a Alemanha) começaram a fabricar o Euro. Em 2002, a moeda foi introduzida fisicamente, passando assim a circular dentro dos países membros. Desde a sua fundação, diversos países já aderiram a Zona do Euro, e atualmente entre os 28 Estados-membros que compõem a União Europeia, 17 deles utilizam o Euro como moeda oficial (União Europeia).

O sistema de unificação monetária do Euro se demonstrou ótimo até que ao final 2009, iniciou-se a crise que ficou conhecida como a crise da Zona do Euro, de forma a abalar a estabilidade do sistema econômico e monetário europeu. A razão da crise teve origem no endividamento dos Estados europeus, sendo que o gatilho para o seu acontecimento se deu a partir do transbordamento da crise americana para o continente europeu. Pode-se dizer de uma forma geral que o problema da crise europeia remete ao alto nível de endividamento contraído por alguns Estados europeus.

Frente a turbulenta situação da Zona do Euro, a Alemanha se demonstrou forte, sendo um dos países menos abalado pelo enfraquecimento da economia do bloco. Além disso, devido a sua posição econômica menos instável, ela foi capaz de conceder empréstimos que serviram de ajuda aos países mais afetados pela crise. Tais atitudes tornaram a Alemanha uma

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referência econômica e de liderança dentro do bloco, assim como confirmaram sua posição a favor da estabilidade da Zona do Euro e consequentemente da União Europeia. Tornando-a uma das principais economias, se não a principal, do continente europeu na conjuntura atual.

Deste modo o presente projeto pretende analisar mais detalhadamente questões sobre a crise do continente europeu para que ao final do estudo seja possível ter base para entender melhor a posição da Alemanha meio a integração do bloco europeu frente a crise já citada.

Portanto, o presente estudo tem a seguinte pergunta como ponto inicial de investigação: A Alemanha apresenta as características de um país pagador do processo de integração na crise da zona do Euro?

1.2 OBJETIVOS

A seguir, apresentamos o objetivo geral assim como os objetivos específicos, visando orientar o desenvolvimento deste trabalho de conclusão de curso.

1.2.1 Objetivo geral

O objetivo geral deste trabalho de conclusão de curso é entender se a Alemanha possui a posição de país pagador na crise da Zona Euro.

1.2.2 Objetivos específicos

- Estudar as teorias de integração regional e como elas enxergam a necessidade de um país pagador;

- Compreender a crise da Zona do Euro e quais são os países mais afetados; - Identificar se a Alemanha possui a posição de país pagador da integração europeia no contexto da referida crise e entender a atuação da Alemanha no mesmo.

1.3 JUSTIFICATIVA

Se assume que seja de conhecimento geral o fato de que não existem países autossuficientes em todos os recursos necessários para a manutenção de uma economia saudável, desta maneira, isolar-se torna-se o oposto desejado pelas nações que visam um crescimento econômico, sendo a inter-relação econômica entre Estados um dos principais

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fatores que garantem a manutenção da estabilidade econômica. No cenário mundial atual, a integração entre Estados é vista, em muitos casos, como vantajosa para as partes envolvidas, seja na busca de novos mercados, na concretização de parcerias econômicas ou até mesmo em questões que tragam benefícios sociais para a população. Para que tal integração ocorra é necessário que um ou mais países envolvidos neste processo tomem iniciativa econômica e se caracterizem como países pagadores da integração, a fim de viabilizar a harmonia desejada pelas partes.

Sendo assim, este trabalho se demonstra relevante, pois traz conhecimentos para a academia a respeito da posição e dos objetivos da Alemanha na Zona do Euro, assim como demonstra as funções, vantagens e desvantagens de ser, ou não, um país pagador da integração.

Sua importância se dá também pelo fato de que tal trabalho contribui com conhecimentos para estudos do processo de integração regional no âmbito do Mercado Comum do Sul - Mercosul, no qual o Brasil se posiciona como um possível país pagador.

Esta pesquisa justifica-se também pela vontade do autor em especializar-se e conhecer a posição alemã em meio a União Europeia de forma mais aprofundada, visando, no futuro, trabalhar em organizações alemãs. Além de cumprir com o requisito para a colação de grau de bacharel em Relações Internacionais na Universidade do Sul de Santa Catarina.

Por fim esta pesquisa se demonstra importante pois poderá servir de fonte de informação tanto para acadêmicos quanto empresas que desejam conhecer mais sobre o envolvimento da Alemanha na Zona do Euro.

1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A elaboração de um trabalho de conclusão de curso visa contribuir com conhecimento para a academia assim como para a sociedade, demandando desta maneira uma pesquisa com seriedade. A fim de conter apenas informações verídicas e evitar conceituações sem embasamento e principalmente falsas se deu necessário a realização de uma pesquisa bem elaborada garantindo a confiabilidade do trabalho.

Gil (2008), define pesquisa como o desenvolvimento do conhecimento científico de modo formalizado e sistemático, tendo por objetivo primário o progresso cientifico, independentemente de sua aplicação prática e imediata.

Para a realização de tal pesquisa utilizou-se a investigação científica, que é caracterizada pelo método científico.

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Os cientistas realizam descobertas de várias maneiras, conforme a matéria que estudam, os meios de que dispõem e seus traços pessoais. Método científico é versão bem simplificada daquilo que acontece ou que pode acontecer no processo de realização de descobertas. Uma descrição do método científico relaciona-se com a pesquisa original como a gramática se relaciona com a linguagem cotidiana ou com a poesia. Uma estrutura formal qualquer está por trás do que é feito, dito ou escrito, mas a pesquisa mais frutífera, tal como a comunicação mais eficaz ou a poesia tocante, é com frequência, não metódica; e, aparentemente, chega a violar tantas regras quantas observa (WEATHERALL, 1970, p. 3-4).

Tomando como base a citação de Weatherall (1970) o método científico define a maneira como a investigação científica é estruturada, visando obter resultados mais confiáveis quanto possíveis. Entretanto, o método científico corresponde a maneira de pensar, investigar e estruturar o trabalho utilizada pelo cientista, de modo que pode apresentar diferentes formas de acordo com o tema pesquisado e métodos utilizados.

Método científico implica, portanto, em suceder alternativo de reflexão e experimento. O cientista elabora ideias ou hipóteses definidas, à luz do conhecimento disponível; concebe e realiza experimentos para verificar essas hipóteses. O conhecimento se amplia e o ciclo prossegue, indefinidamente, sem que nunca se alcance a certeza absoluta, mas sempre conseguindo generalidade maior e possibilitando crescente controle do ambiente (WEATHERALL, 1970, p. 5).

Este trabalho enquadra-se como sendo uma pesquisa de natureza básica, pois busca unicamente a aquisição de conhecimento sobre o assunto tratado, a fim apenas de difundi-lo na comunidade. Como consideram Castilho, Borges e Pereira (2011), esta pesquisa é majoritariamente intelectual e impulsionada pelo desejo de conhecimento, sem aplicação imediata no desenvolvimento prático.

Seus objetivos têm foco exploratório, uma vez que o aprimoramento do conhecimento do tema em pauta se mostra como sendo o principal objetivo da pesquisa. Segundo Gil (2008) a pesquisa exploratória tem como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias, tendo em vista a formulação de problemas mais preciosos ou pesquisáveis para estudo posteriores. Köche (1997) defende que o principal objetivo da pesquisa exploratória é proporcionar maior familiaridade com o objeto de estudo.

Portanto, tomando como base o tema deste trabalho que envolve as teorias de integração regional, a crise da Zona do Euro e a posição da Alemanha meio ao processo de integração da União Europeia durante a referida crise, a pesquisa de foco exploratória se encontra como sendo a mais adequada, uma vez que pretende reunir informações sobre estes

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assuntos de forma a fazer uma conexão entre eles para proporcionar maior familiaridade sobre o tema.

A abordagem será feita de modo qualitativo, pois no que tange a abordagem do problema dentro do campo de pesquisa das teorias de integração regional, assim como na contextualização da crise da zona do euro, não cabe a quantificação de números ou métodos estatísticos.

Para Godoy (1995, p.58):

[…] a pesquisa qualitativa não procura enumerar e/ou medir os eventos estudados, nem emprega instrumental estatístico na análise dos dados. Parte de questões ou focos de interesses amplos, que vão se definindo à medida que o estudo se desenvolve. Envolve a obtenção de dados descritivos sobre pessoas, lugares e processos interativos pelo contato direto do pesquisador com a situação estudada, procurando compreender os fenômenos segundo a perspectiva dos sujeitos, ou seja, dos participantes da situação em estudo.

Por fim o procedimento utilizado será bibliográfico e documental, porque estas formas representam a melhor maneira de obter conhecimento sobre a crise da Zona do Euro assim como as teorias de integração. Leonel (2013) afirma que a pesquisa bibliográfica se assemelha muito a pesquisa documental, porém, segundo o autor, a diferença entre as duas é que enquanto a primeira se utiliza de fontes primárias para obter informação, a segunda faz uso de fontes secundárias.

A seguir, de modo a finalizar o capítulo introdutório, consta a estrutura de pesquisa. 1.5 ESTRUTURA DE PESQUISA.

O primeiro capítulo do presente trabalho será iniciado a partir da contextualização das teorias de integração regional, em seguida explicar-se-á quais são os fatores motivadores para que esta ocorra. O capítulo será finalizado com um estudo das seguintes teorias: funcionalismo, neofuncionalismo e intergovernamentalismo, explicitando a ótica de cada uma a respeito da integração regional, mais especificamente sobre o papel do país pagador.

O segundo capítulo trata inicialmente sobre os diferentes níveis de integração regional. Posteriormente segue um apanhado histórico a respeito de como se deu o surgimento da cooperação no território europeu, e em seguida serão evidenciados os principais tratados que culminaram para que a integração chegasse ao nível de uma União Econômica e monetária. Terminar-se-á o segundo capítulo com um estudo a respeito da Zona do Euro e o Euro em si.

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O terceiro capítulo irá abordar a crise do endividamento dos Estados europeus, partindo de uma breve análise da crise estadunidense, de modo a evidenciar o motivo pelo qual esta se originou. Para depois adentrar no caso europeu propriamente dito. A fim de entender melhor a o turbulento cenário, haverá uma análise sobre alguns números mais a fundo, como a taxa de déficit e superávit dos países mais críticos, a dívida soberana dos Estados, o crescimento do PIB e taxa de desemprego. Por fim realizar-se-á uma análise sobre os resgates concedidos aos países que deles necessitaram.

Para concluir este trabalho, o último capítulo explicitará quais foram os países que arcaram com os empréstimos cedidos as economias mais fracas do bloco europeu, estudando as particularidades da economia alemã relacionadas ao comércio exterior e sua inserção meio a união europeia. A conclusão se dará então a partir de uma análise sobre a posição de tal país na Zona do Euro no período de crise levando em conta a integração do bloco.

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2 TEORIAS DE INTEGRAÇÃO REGIONAL

Este capítulo tem por objetivo estudar a importância de um país pagador a partir das teorias de integração regional.

Sua importância para a presente pesquisa se dá pela necessidade de entendimento das diferentes visões, de acordo com as diferentes teorias, sobre a função e importância de um país pagador no processo de integração regional. Para que posteriormente, se faça a compreensão sobre o papel e os objetivos da Alemanha meio à crise da Zona do Euro.

As teorias de integração regional foram formuladas, em sua grande maioria, em torno do continente europeu, afinal é nesta região que se encontra o maior sucesso de integração entre Estados, a União Europeia. “A Europa foi a primeira zona a descortinar o universo da integração que, na sequência, se espalhou por várias partes do mundo (SILVA; COSTA, 2013).

Sendo assim, diversas teorias de integração surgem a partir da ótica da integração europeia com o objetivo de explicar tal processo, cada qual com a sua perspectiva específica e defendendo diferentes ideias.

Não cabe, na dimensão deste trabalho de conclusão de curso, a abordagem de todas as teorias que possuem foco na integração regional, restando assim apenas algumas delas, consideradas mais relevantes, para serem analisadas. São elas: o Funcionalismo; Neofuncionalismo; e o Intergovernamentalismo.

Este capítulo trará, portanto, contribuições teóricas para fundamentar conceitos dentro do campo das teorias de integração regional essenciais ao entendimento deste trabalho, assim como uma breve explicação sobre o que é a integração regional.

2.1 INTEGRAÇÃO REGIONAL

Existem diversos interesses que levam as nações a participarem de um processo de integração regional. Este, por sua vez, tem o objetivo de somar forças de diferentes Estados para convergir no alcance de um bem-estar coletivo maior. Portanto, segundo Silva e Costa (2013) fatores que se sobrepõem às estruturas estatais contribuem para a interação entre diferentes Estados. Tal interação pode ocorrer por meio de assinatura de tratados e acordos, podendo estes serem de conteúdo econômico, social, cultural e político. Uma vez que os Estados participantes de tais trados resolvem assina-los, inicia-se um processo de cooperação entre eles, que pode convergir para a integração regional.

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Ao aceitarem participar de um processo de integração, os Estados optam por abdicar de certos atributos de sua soberania nacional em prol de um bem-estar comum a todos. Por consequência aceitam participar de um sistema de soberania dividida entre Estados. Sobre a integração “Estados se mesclam, confundem e fundem-se voluntariamente com seus vizinhos de tal modo que perdem certos atributos fáticos da soberania, uma vez que adquirem novas técnicas para resolução conjunta de seus conflitos” (HAAS, 2004, P. 6). Sobre o mesmo tema Herz e Hoffmann (2004, p.168) afirmam que a integração é “Um processo dinâmico de intensificação em profundidade e abrangência das relações entre atores, levando à criação de novas formas de governança político-institucional de escopo regional”

Lindberg (1963), afirma que a integração política:

É o processo pelo qual os Estados renunciam ao desejo e a faculdade de conduzir independentemente uns dos outros a sua política externa, assim como as suas principais políticas domesticas e procuram tomar decisões em conjunto ou delegar o processo decisional a um novo órgão central.

Pode-se observar, portanto que a integração regional consiste em um processo onde países transferem o poder que possuem sobre determinado segmento dentro do seu país para um organismo maior. Tal processo pretende então, em uma estância maior, ser benéfico a todos os atores que dele participam. Mesmo que dentro de uma esfera menor haja objetivos distintos (SILVA; COSTA, 2013).

Malamud (2010) defende que a integração regional é motivada por fatores econômicos e pela integração política, de forma a promover a interação entre entidades públicas e privadas com atores nacionais, criando assim instituições permanentes comuns capazes de tomar decisões juridicamente vinculantes tanto para Estados como para particulares.

A partir do momento em que se inicia a consolidação de um bloco de integração, os Estados participantes se tornam interdependentes em diferentes esferas, de acordo com o nível de integração: política, social, ambiental, entre outras. A economia é, porém, como será demonstrado no decorrer do trabalho, a principal esfera a ser afetada e claramente o maior fator motivacional que impulsiona a integração.

Sobre a integração econômica Silva e Costa (2013, p. 32) dizem que “este não é um processo isolado, fechado em torno de si. Tal fenômeno surge e sofre alterações, inserindo-se em um contexto mundial cada vez mais interligado e interdependente”. Pode-se então, ainda segundo os mesmos autores (2013, p. 32), sintetizar a integração como:

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O fenômeno de integração regional, apesar de demonstrar interesses predominantemente econômicos, contidos em todos os modelos existentes, também possibilita a circulação dos fatores de produção, da informação, de padrões culturais e de tecnologias. Do mesmo modo, promove a interação política e social entre os países e povos. Além disso, aglutina em torno de um eixo decisório próprio a solução de problemas comuns, que podem inclusive afetar todo o globo. Por conseguinte, exige a adoção de medidas conjuntas, em caráter de cooperação, especialmente em matérias relativas à democracia, ao meio ambiente e aos direitos humanos. Esse é o caso específico da união europeia.

Um fator chave para o desenvolvimento deste trabalho é a posição de liderança de um país dentro de um processo de integração. Sobre tal tema Schmitter (2010) defende: a integração regional requer liderança, isto é, atores que sejam capazes de tomar iniciativas e estejam dispostos a pagar uma parte desproporcional dos custos delas. Este autor defende também que é fundamental que os atores regionais que se comprometerem em liderar a integração estejam dispostos a subutilizar seus recursos imediatos de poder a fim de investir na estratégia de longo prazo e principalmente legitimar o empreendimento como um todo.

A seguir, para dar continuidade ao trabalho, será apresentada a primeira teoria de integração regional estudada neste trabalho de conclusão de curso, o Funcionalismo.

2.2 FUNCIONALISMO

O funcionalismo é uma das principais teorias que serve para fundamentar a integração da região europeia, uma vez que esta se baseia em praticais liberais, e principalmente funcionais, isto é: praticas que através de suas funções garantem a integração regional.

Suas características estão fortemente presentes na união europeia, e quanto a elas Nogueira e Messari (2005, p. 75) comentam: o funcionalismo representa a tentativa liberal de fundamentar seus modelos teóricos em um método baseado na observação científica da realidade.

A teoria aqui em questão surge com o propósito de explicar a integração europeia a partir de hipóteses liberais, através da observação empírica da realidade (NOGUEIRA; MESSARI, 2005). Esta teoria busca então, ressaltar as possibilidades de cooperações entre os Estados para que, através de tais cooperações, possa-se proporcionar a integração e reduzir os conflitos entre nações.

O Objetivo principal dos funcionalistas era estudar o funcionamento das organizações internacionais e analisar como a criação de agências especializadas no tratamento de questões específicas das relações entre Estados poderia conduzir gradualmente ao aprofundamento da cooperação (NOGUEIRA; MESSARI, 2005, p.76).

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Para o funcionalismo a “forma segue a função”, portanto a forma que uma organização se estrutura depende da função específica que ela desempenha (NOGUEIRA; MESSARI, 2005, p. 76). Desta maneira a função que uma organização exerce deve servir como parâmetro para sua criação.

A teoria funcionalista considera então que a integração se dá através da propagação da cooperação de certas tarefas funcionais, podendo estas serem tanto de natureza técnica ou econômica. Esta considera também que a cooperação acarreta na criação de organizações internacionais, ao invés de novas entidades políticas, uma vez que estas estariam mais habilitadas que os Estados para realizar tais tarefas que garantiriam a integração.

“Ao privilegiar a função como parâmetro para a criação de organizações, os funcionalistas pretendiam desvincula-las de projetos políticos mais ambiciosos e restringi-las ao cumprimento de tarefas técnicas” (NOGUEIRA; MESSARI, 2005, p.76).

O funcionalismo vê então, que tais organizações desvinculadas de projetos políticos recebem um aumento progressivo de confiança, tornando-as cada vez mais importantes e dando assim cada vez mais autonomia a elas. Desta maneira as instituições, através de sua eficácia, se tornam os principais mecanismos que contribuem para a integração regional. Nogueira e Messari (2005) dizem que a medida que a eficácia das organizações funcionais para o aumento do bem-estar geral se tornasse evidente, elas seriam valorizadas e se tornariam objeto de lealdade dos indivíduos. Portanto os Estados perderiam cada vez mais sua influência nas sociedades modernas.

Mitrany (1943) alega em sua obra “A working peace system” que para o funcionalismo: (1) O desenvolvimento econômico e tecnológico gera uma necessidade de integração, tornando-a, por consequência, possível; (2) A guerra pode ser evitada através de acordos internacionais em áreas funcionais específicas, como saúde, comunicação, tecnologia, etc.; (3) O mundo globalizado integra tecnologia e economia entre diferentes países, abrindo, desta maneira, espaço para problemas tecnicamente complexos, cuja resolução foge à capacidade dos Estados individualmente, mas cabem às organizações internacionais; (4) É de interesse dos Estados-Nação estabelecer tais organizações internacionais para poderem disfrutar das vantagens da cooperação pacífica, diluindo, assim, a importância das fronteiras políticas.

Desta maneira a teoria funcionalista defende, como já citado anteriormente, que a cooperação é a chave para que se chegue na integração regional, vindo garantir até mesmo a paz duradoura entre países historicamente rivais. Como ocorrido, por exemplo, no caso da

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CECA. Onde Alemanha e França, até então rivais, passaram a cooperar entre si na produção de carvão e de aço. “Essa corrente (funcionalista) abandona a crença nas organizações de alcance global […] e apostam na funcionalidade das organizações setoriais, de fins específicos, dedicadas a cumprir funções técnicas, especializadas” (SILVA; COSTA, 2013, p. 42).

A cooperação, segundo os funcionalistas, deveria então se tornar algo plausível, pois os países passariam a optar cada vez mais por medidas que trariam um bem-estar para todos a um custo menor, fortalecendo, desta maneira, cada vez mais a interação entre si. Segundo Silva e Costa (2013) não seria a política que traria a paz, mas sim cooperação técnica com eficiência funcional.

O lema da corrente funcionalista é peace by pieces (Paz por partes). Seu significado se apoia na ideia que a paz seria trazida através de redes de Organizações Internacionais que se formariam, de modo a assumir funções domésticas as quais não conseguiriam ser desempenhadas pelos Estados de maneira Individual, uma vez que estas funções, apesar de serem domésticas, extrapolariam o âmbito do cenário interno dos países. O sucesso da cooperação resultaria, então, em um transbordamento (Spillover). Isso quer dizer que a cooperação quando bem-sucedida em uma determinada área transbordaria para outras, de modo a chegar em esferas que antes se encontravam sob poder dos Estados. Criando assim uma espécie de teia de instituições. (SILVA; COSTA, 2013, p.43)

Sobre o efeito de transbordamento Nogueira e Messari (2005) afirmam: é possível observa-lo quando o sucesso de uma determinada forma de realização eficiente de uma tarefa ou função se transfere para uma outra área, incentivando a cooperação intergovernamental em setores antes submetidos à esfera do Estado nacional. Este processo de transbordamento, segundo o funcionalismo, não se daria por uma lógica política, mas somente pela eficiência funcional das atividades exercidas por instituições internacionais.

A teoria tratada nesta seção do trabalho comete um erro ao deixar de considerar um ponto muito relevante no processo de integração regional: a dimensão política. Tal teoria desconsidera grupos de interesse, partidos políticos, burocratas governamentais, pressão internacional, etc. Delegando a competência do exercício da integração, apenas a órgãos não públicos. A partir desta lacuna deixada pelo funcionalismo surge então a teoria neofuncionalista, que será explicada mais à frente.

Por não entrar no aspecto que tange a esfera política no processo de integração regional, e por consequência não abordar a função dos governos em tal processo, a teoria

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funcionalista não trata sobre a importância do país pagador no processo de integração regional.

2.3 NEOFUNCIONALISMO

A teoria do neofuncionalismo, como citado anteriormente, surge a partir das bases e da lacuna deixada pelo Funcionalismo, uma vez que o aprofundamento da integração e o efeito de transbordamento no continente europeu não ocorreram da forma prevista pelos funcionalistas (SILVA; COSTA, 2013). Ficou provado, então, que tal efeito não poderia ocorrer de forma tão natural como previsto, afinal este estava sim atrelado a decisões políticas.

A política é o motor que garante a continuidade da integração e viabiliza a transferência de competências dos Estados para a organização supranacional, de modo que a integração é aprofundada mediante decisões políticas alavancadas pelos setores domésticos (SILVA; COSTA, 2013, p. 46).

Haas (2004), um dos principais, se não o principal autor sobre o neofuncionalismo, afirma que a integração é um processo no qual os atores com realidades domésticas distintas devem mudar suas lealdades, expectativas e atividades políticas para um novo e ampliado centro, onde instituições possuam, ou necessitem de jurisdição sobre os Estados nacionais preexistentes. Se dá como resultado final de um processo de integração política o surgimento de uma nova comunidade política que se sobrepõe sobre as anteriores. Haas permite observar então que a política está ligada diretamente ao processo de integração. Portanto, ignora-la ao elaborar uma teoria integracionista, não reflete a realidade. Para este Autor, há quatro motivações básicas para que a integração regional ocorra. São elas: (1) desejo de se promover segurança em uma determinada região, alinhando a defesa de maneira conjunta entre Estados contra uma ameaça comum; (2) promover a cooperação a fim de obter desenvolvimento econômico e maximizar o bem-estar dos envolvidos; (3) interesse por parte de uma nação mais forte em querer dirigir e controlar as políticas de seus aliados menores; (4) vontade comum de construir uma supra entidade que vise a unificação das comunidades nacionais.

Haas (2004) apoia, portanto o neofuncionalismo na criação do poder supranacional. Este poder nasce, segundo o autor, quando as elites governamentais cedem certos aspectos políticos do contexto interno a um órgão que esteja acima do poder dos Estados nacionais. Ainda segundo o mesmo autor a integração “significa o processo de

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transferência das expectativas excludentes de benefícios do Estado-nação para alguma entidade maior” (HAAS, 1964, p. 710).

Neste cenário o efeito de transbordamento (Spillover) aconteceria, uma vez que o ponto de partida para integração surgiria de iniciativas burocrático-estatais, e ao longo de sua existência alcançaria a sociedade, criando uma dinâmica de reações, demanda e respostas. (MARIANO; MARIANO, 2014)

O spillover:

Depende de impulsos decisórios internos emergentes de uma sociedade política formada por uma pluralidade de atores dotados de interesses próprios, nomeadamente, as elites e os grupos de pressão que negociam e envolvem-se em um processo de convencimento sobre os benefícios materiais da integração. (SILVA; COSTA, 2013, p.46).

Desta maneira os atores políticos não são, conforme defendido no funcionalismo, passivos de serem ignorados. Eles são na verdade de indispensável importância para que o processo de integração ocorra. Afinal são eles que, entre si, negociam a criação de um órgão supranacional

Mais além Oliveira (2009, p.68) defende:

O neofuncionalismo questiona as separações entre as áreas da alta e baixa política, alegando que a distinção entre o político e o técnico não se sustenta, porque os temas se tecnificam por uma decisão política prévia […] o econômico não está inteiramente separado do político.

O Spillover Effect ou efeito de transbordamento, já presente na teoria funcionalista, se encontra no neofuncionalismo como sendo a peça chave, uma vez que este efeito é considerado o mecanismo responsável pelo avanço da integração.

Na visão de Oliveira (2009) o processo de transbordamento gera etapas escalonadas, que constituem a lógica do processo de integração. Ainda sobre o Spillover na visão do mesmo autor, este implica em uma interação entre diferentes aspectos de política e economia dos Estados e regiões aos quais estejam vinculados, de forma que uma área interfere em outra, requerendo desta soluções, e vice-versa.

Apesar de englobar a política em sua teoria, o neofuncionalismo não a tem como principal foco dentro do processo de integração, sendo ainda a economia o fator número um causador da cooperação e por consequência da integração entre nações.

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Tal processo (a integração), em princípio, abrangerá áreas estritamente econômicas e, em sua evolução, se estenderia a áreas políticas diante da dificuldade de estabelecer uma separação tangente entre ambas. Nisto, precisamente, consiste a integração: um processo de politização progressiva, estimulada na lógica do princípio spillover, pelo qual certos grupos transbordam suas demandas e expectativas de solução de problemas econômicos e progressivamente políticos a um novo centro. (OLIVEIRA, 2009. P 68).

Desta maneira, ao não entrar a fundo na questão da política no que se refere ao processo de integração regional, a teoria neofuncionalista, assim como o funcionalismo, não evidencia o papel dos governos e por consequência o papel do país pagador no processo de integração regional.

Segue abaixo a última teoria de integração regional que se mostra relevante para o presente trabalho: o intergovernamentalismo.

2.4 INTERGOVERNAMENTALISMO

Nesta seção a teoria considerada fundamental para o entendimento do processo de integração que culminou na criação da Zona do Euro será abordada, o intergovernamentalismo. Através dela poderemos compreender melhor como as relações e dinâmicas acontecem dentro do cenário europeu.

Assim como o funcionalismo, e por consequência o neofuncionalismo, o Intergovernamentalismo também se trata de uma teoria que parte dos pressupostos do realismo. Esta, surge, porém a partir de críticas feitas as duas teorias estudadas anteriormente.

A teoria intergovernamentalista defende que os Estados são atores racionais, cujas tomadas de decisões e comportamentos refletem pressões sofridas internamente e externamente (MARIANO; MARIANO, 2014).

Ao se referirem sobre a racionalidade dos Estados, Mariano e Mariano (2014) afirmam que estes são capazes de formular um conjunto de fins e objetivos, de acordo com certo grau de importância, para então estabelecerem parâmetros para a tomada de decisão. E mesmo que ao final os países busquem, de forma egoísta, a satisfação de seus interesses a cima de tudo, a integração e o fato de cooperar uns com os outros, acarreta em ganhos maiores do que a não cooperação. A final de maneira isolada diversos objetivos não poderiam ser alcançados pelos Estados.

Seu ponto de partida (do intergovernamentalismo) encontra-se na crítica explicita ao federalismo e implícita no neofuncionalismo, sob o argumento de que os membros da União Europeia estão empenhados em processo de formação de nova entidade,

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uma entidade supranacional, que irá substituir o conceito do velho Estado-nação, em virtude de certas políticas de reciprocidade mútua ou de jogo de soma zero, isto é, o que um estado perde em soberania ganha em outra atividade. (OLIVEIRA, 2009, p.71).

Segundo Ramos, Marques e Jesus (2008) o Intergovernamentalismo difere do neofuncionalismo, no que tange a ênfase sobre a relevância dos grupos de interesse não-governamentais no processo de integração europeu, uma vez que o primeiro destaca a importância dos Estados, ao tratar estes como os principais atores do processo de integração regional. Hoffmann (1966) ainda afirma que para que haja processo de integração, é necessário que os Estados envolvidos no processo tenham preferências e interesses em comum, e que, portanto, a integração depende essencialmente da posição e interesses individuais dos Estados envolvidos. Enfatizando, assim, a posição das nações como atores da integração. Em suma, a teoria afirma que os Estados cooperam na medida em que esta cooperação vá de encontro e atenda os seus interesses. (RAMOS; MARQUES; JESUS, 2008). A integração, do ponto de vista do intergovernamentalismo, segundo Moravcsik e Schimmelfennig (2009), não pode ser explicada partindo de apenas um fator, esta dever ser compreendida como sendo uma mescla de diversas teorias e fatores que convergem de maneira coerente e visam explicar a integração regional ao longo do tempo.

Desta maneira, o Intergovernamentalismo admite que a integração segue a lógica de tomada de decisão, e não o contrário, uma vez que os Estados não agem visando alcançar os objetivos da União Europeia como um todo, mas sim visando alcançar separadamente os seus interesses nacionais (OLIVEIRA, 2009).

Tratando-se da região europeia esta teoria ainda admite que a comunidade europeia não é o principal ator do processo de integração, mas sim um meio pelo qual os países, estes sim principais atores, conseguem dar continuidade as suas políticas domesticas. Neste cenário, segundo Moravcsik e Schimmelfennig (2009) as barganhas e negociações intergovernamentais são fundamentais para que os países consigam atingir seus objetivos nacionais. Desta maneira a integração regional serve como um meio para o alcance destes objetivos.

Tendo como premissa a situação de que os países defendem em primeira estância os seus objetivos internos, deve-se assumir que os países são atores racionais, sendo assim:

Atores calculam a utilidade de cursos alternativos de ação e escolhem aquele que maximiza (ou satisfaz) a sua utilidade de acordo com as circunstâncias. Os resultados coletivos são explicados como resultado de ações individuais agrupados com base na busca eficiente das suas preferências. [...] Acordos de cooperação, ou

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estabelecer instituições internacionais, é explicado como resultado coletivo de escolhas interdependentes (estratégicas) estaduais racionais e negociações intergovernamentais. (MORAVCSIK; SCHIMMELFENNIG, 2009, p. 7, tradução livre.)2

Oliveira (2009) concluí que, por considerar que a dinâmica da União Europeia não limita nem extingue a soberania nacional dos Estados e ainda por afirmar que a soberania, ao ser compartilhada não é recompensada de maneira inversamente proporcional em outras áreas, o intergovernamentalismo enxerga que as negociações devem ser feitas de acordo com as decisões dos Estados-membros, de modo que tais decisões reflitam suas posições de poder, porém de maneira a garantir que os menos favorecidos também sejam compensados. “Tanto instituições quanto as políticas comunitárias sempre influenciam o processo (de integração). Na esfera da União Europeia existe um vínculo entre instituições e formação dos interesses dos Estados” (OLIVEIRA, 2009 p.73).

Dada as características desta teoria, pode-se observar que a dinâmica que ocorre na União Europeia se encaixa melhor nos moldes do intergovernamentalismo. E que o regimento das decisões tomadas, que visam a integração regional se embasa primeiramente em fatores econômicos, estando os governos presentes nas decisões centrais, de modo a defender os interesses nacionais de seus países. “As preferências dos governos nacionais no que tange a integração europeia tem refletido primordialmente interesses econômicos concretos, e não outros de aspectos gerais, como segurança ou ideais europeus” (MORAVCSIK; SCHIMMELFENNING, 2009, p. 7, tradução livre).3

Como se vê a teoria intergovernamentalista faz ligação entre economia e política dentro do processo de integração regional, alegando que em um ambiente econômico internacional os governos têm o papel de garantir a segurança das vantagens comerciais para o seu país utilizando-se da integração para alcançar tal objetivo. Desta mesma maneira, os governos devem priorizar uniões e acordos governamentais que estejam alinhados com suas políticas macroeconômicas.

“Governos buscam a integração como ‘um meio de garantir vantagens comerciais para grupos de produtores, que estão sujeitos a restrições regulamentares e orçamentais’ e ‘as 2 Actors calculate the utility of alternative courses of action and choose the one that maximizes (or satisfies)

their utility under the circumstances. Collective outcomes are explained as the result of aggregated individual actions based on efficient pursuit of their preferences. […] Agreement to cooperate, or to establish international instituitions, is explained as collective outcome of interdependent (strategic) rational state choices and intergovernamental negotiations.

3 The preferences of national governments regarding European integration have mainly reflected concrete

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preferências macroeconômicas’” (MORAVCSIK; SCHIMMELFENNIG, 2009, p. 7, tradução livre)4

É possível compreender, por meio desta teoria, que os processos de integração, e por consequência a comunidade europeia, são meios para que os interesses econômicos e geopolíticos nacionais sejam satisfeitos. Portanto a integração visa garantir a integridade e o fortalecimento econômico aos países que desta participam.

[...] Analisando a União Europeia como um regime intergovernamental desenhado para questionar a interdependência econômica por meio de negociações coordenadas de políticas, explicando as decisões em um processo de duas etapas: primeira, as preferências nacionais são determinadas primariamente dentro dos limites e oportunidades impostas pela interdependência econômica; segunda os resultados das negociações intergovernamentais são determinados pelo próprio poder de negociação dos governos e pelos incentivos funcionais para a instituição. (OLIVEIRA, 2009, P. p.73)

Tomando como ponto de partida os interesses econômicos como fator crucial para a solidificação da integração regional, e o fato de que os países se utilizam da integração como um meio para alcançarem maiores vantagens para a sua economia, obtêm-se um ambiente no qual cada nação busca defender os seus interesses nacionais. Mattli (1999) afirma que, por ser a barganha algo presente no processo de integração, o Estado que apresentar com mais frequência as melhores soluções às negociações, assim como o maior interesse e maior capacidade de solucionar atritos assume naturalmente uma posição de líder em tal processo.

Mattli (1999) diz que O Estado líder serve como um ponto focal na coordenação das regras, regulamentos e políticas da integração. E mais: para que a integração seja bem-sucedida é necessário que o líder assuma o papel de país pagador, estando disposto a disponibilizar fundos para ajudar na dissolução de pontos de atrito no ambiente da integração.

A função do país pagador seria então coordenar, regulamentar e gerir as regras e políticas da integração, assim como facilitar negociações para que esta possa ocorrer da melhor maneira possível. Como estas ações requerem investimentos econômicos, o país pagador deve se dispor, portanto, a arcar com os custos da integração em maior quantidade em relação aos outros membros.

É compreensível que haja um país que se disponha a arcar em maior proporção com os custos da integração, afinal conforme o intergovernamentalismo mostra, a integração 4Governments pursued integration as ‘a means to secure commercial advantages for producers groups, subject

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visa ser benéfica comercialmente e por consequência economicamente aos seus membros. Portanto, dependendo dos benefícios a serem alcançados, pode ser interessante para uma nação tomar a posição de líder em tal cenário. Mesmo que para isso seja necessário investir recursos financeiros.

Após a contextualização sobre a posição do país pagador no processo de integração regional de acordo com as teorias integracionistas relevantes a este trabalho, seguir-se-á atendendo os objetivos aqui propostos por meio do estudo da formação da união europeia, e posteriormente da Zona do Euro.

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3 A INTEGRAÇÃO EUROPEIA

Para poder compreender a Zona do euro deve-se conhecer primeiro um pouco sobre os níveis de integração regional. Sendo assim, abaixo encontram-se explicados os diferentes estágios de integração regional assim como os seus níveis de complexidade.

3.1 OS NÍVEIS DE INTEGRAÇÃO REGIONAL

Como se pôde observar no capítulo anterior a integração regional se dá por meio da união entre Estados. De modo que estes devem, em maior ou menor grau, cooperar entre si em diferentes estâncias, ao mesmo tempo que, de acordo com a complexidade de integração, devem abrir mão de sua soberania nacional em determinadas áreas a favor da criação e consolidação de entidades que garantam a existência de uma soberania compartilhada.

Segundo Baumann, Canuto e Gonçalves (2004) é possível definir seis níveis de integração regional, cujas diferenças residem no grau de aprofundamento entre as relações entre os Estados.

3.1.1 Área de preferência comercial

O primeiro nível de integração, no qual ocorre a menor relação de interdependência entre os países, é chamado de Área de Preferência Comercial. Neste estágio dois ou mais Estados concordam em reduzir ou se isentar do pagamento das tarifas de importação referentes à um grupo reduzido de produtos comercializados entre eles. (RAMOS; MARQUES; JESUS, 2009, p. 8). “Neste nível de integração os países participantes ainda mantêm alto grau de autonomia em suas relações internacionais com os demais Estados e incentivam o comércio com o(s) parceiro(s) estratégico(s)”. (RAMOS; MARQUES; JESUS, 2009 p. 8).

Os mesmos autores acima citados afirmam que neste primeiro grau de integração visa-se somente a assinatura de acordos a respeito de temas comerciais ou aspectos diretamente relacionados ao comércio. Já em estágios mais aprofundados, as negociações ultrapassam o âmbito econômico e adentram em outras esferas, mas que, de algum modo, influenciam o comércio, com por exemplo, negociações a respeito de: políticas ambientais; regulação de concorrência; segurança; etc.

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3.1.2 Área de livre comércio

O segundo estágio de integração denomina-se “Área de Livre Comércio”. Quando a integração se encontra nesta etapa os Estados membros, segundo Ramos Marques e Jesus (2009) “se comprometem a generalizar a redução ou a isenção de tarifas de importação no comércio entre eles”.

Desta maneira, toda, ou quase toda, a pauta comercial dos países envolvidos neste estágio se encontra com redução ou livre de impostos de importação. O objetivo maior desta etapa, como se pode perceber, é estimular fortemente o comércio entre os envolvidos. Neste estágio, porém, cada nação ainda estabelece as suas tarifas de importação para produtos oriundos de países não pertencentes ao bloco. “Assim, a autonomia dos Estados em definir as políticas em suas relações com o resto do mundo é preservada neste nível de integração” (RAMOS; MARQUES; JESUS, 2009, p.9).

3.1.3 União aduaneira

O nível seguinte do processo de integração, chamado União Aduaneira, garante os mesmos benefícios da área de livre comércio, porém exige a adoção de uma tarifa externa comum - TEC. Esta tarifa deve ser adotada igualmente por todos os membros do bloco e se aplica a produtos provenientes de Estados terceiros ao bloco.

Em termos simples, uma União Aduaneira equivale a uma área de Livre Comércio na qual os Estados membros beneficiam uns aos outros com a isenção ou redução tarifária das importações de produtos provenientes do bloco e cobram a mesma tarifa para os produtos provenientes de terceiros. (RAMOS; MARQUES; JESUS, 2009, p. 11)

Ao participar deste grau de integração, os membros se veem obrigados a ceder parte de sua autonomia a favor das políticas do bloco. De modo que estes já não podem mais decidir de maneira independente as suas políticas comerciais, além de terem que entrar em acordo a respeito da política cambial, monetária e fiscal (RAMOS; MARQUES; JESUS, 2009, p. 10).

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3.1.4 Mercado comum

Para dar um quarto passo rumo ao aprofundamento no processo de integração regional há de se criar um Mercado Comum. A criação deste acrescenta à etapa anterior a livre circulação de bens, serviços, pessoas e fluxos de investimento entre os seus membros.

Ramos, Marques e Jesus (2009) consideram que o grau de autonomia cedido pelos países membros neste estágio de integração é relativamente elevado. Afinal nesta etapa, além de terem que adotar as mesmas políticas comerciais, monetárias, fiscais e cambiais, Os Estados devem ainda contemplar as mesmas legislações em áreas como: trabalhista, previdenciária, de concorrência, entre outras. Neste cenário, Ramos Marques e Jesus (2009) defendem que a existência de instituições supranacionais é de imprescindível importância para que estas políticas internas e externas possam ser coordenadas e administradas.

3.1.5 União econômica e monetária

Chegando ao quinto nível de integração regional, chamado de União Econômica e Monetária, nota-se uma característica marcante presente a todos seus membros: a adoção de uma moeda comum. A União Econômica e Monetária consiste em um Mercado Comum em que todos os membros utilizam uma única moeda. Logicamente que esse fator implica na adoção de uma série de novos regulamentos em comum.

A implementação do uso de uma moeda comum se dá gradativamente, conforme os países membros do bloco deixam de emitir sua moeda nacional e passam a adotar uma única moeda emitida pela autoridade monetária competente ao bloco. Neste estágio é possível perceber que a autonomia cedida pelos Estados é enorme, uma vez que estes devem abrir mão da emissão da moeda, deixando assim de conduzir as suas políticas monetária e cambial, abrindo mão do controle sobre variáveis macroeconómicas importantes para o desempenho de suas economias nacionais. Desta maneira os Estados reduzem significantemente suas capacidades de gestão macroeconômica. (RAMOS; MARQUES; JESUS, 2009, p. 11).

3.1.6 União politica

O sexto e último estágio de integração regional é chamado União Política. Ao decidirem participar deste bloco, os Estados abrem mão completamente de sua soberania, conferindo toda a autonomia de fazer política à uma nova organização política. Para que esta

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nova organização possa ser estabelecida os Estados nacionais devem se fundir, passando assim a se extinguir. (RAMOS; MARQUES; JESUS, 2209, p. 11).

Baumann, Canuto e Gonçaves (2004) lembram que os diferentes níveis de integração exigem diferentes graus de proximidade geográfica: para que os níveis mais complexos obtenham sucesso, a proximidade geográfica parece ser mais necessária. Já nos níveis mais simples de integração, como no caso de Áreas de Preferências Comerciais e de Livre Comércio, os seus membros não precisam necessariamente se encontrar cerca uns dos outros.

A fim de trazer o estudo das etapas de integração para o continente europeu, faz-se necessário o entendimento do faz-seu aspecto geográfico, faz-sendo assim para dar continuidade ao desenvolvimento deste capitulo, a fim de posteriormente atingir o objetivo de compreender a crise da Zona do Euro, o tópico seguinte tratará sobre a história da formação da União Europeia.

3.2 A UNIÃO EUROPEIA E A SUA FORMAÇÃO

Dentro de um processo de integração que se encontra desde o início da década de 1950 em constante dinâmica, diversos acontecimentos influenciaram a formação da União Europeia. É importante frisar que o processo de integração europeu não se encontra acabado, uma vez que medidas e políticas que dinamizam a integração dos Estados são rotineiramente adotadas. Para se entender melhor a integração europeia, o capitulo começará explicando um pouco da história do continente em questão, e posteriormente explicará os principais tratados que influenciaram as tomadas de decisões para que o bloco chegasse no estágio de integração regional que se encontra hoje.

3.2.1 A origem da união europeia

O conhecimento histórico mostra que a Europa passou por diversas batalhas na primeira metade do século XX. É difícil imaginar que, em um cenário onde a disputa por territórios ocasionou duas guerras mundiais, os países desta região se engajariam através de políticas cooperativas. Ramos, Marques e Jesus (2009), relatam que a corrida pela busca de interesses isolados por cada nação desencadeou uma corrida imperialista, que acabou culminando na I guerra mundial (1914 – 1919). Na qual, apesar do envolvimento de outros países, os Estados europeus foram os principais atores.

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Ao término da guerra, o acordo firmado para estabelecer paz entre os países participantes não foi suficiente para conseguir manter uma ordem estável. Tornando, desta maneira, as relações das inimigas históricas, França e Alemanha, muito delicadas. De modo que a Alemanha se viu obrigada a pagar altíssimas indenizações de guerra e a devolver territórios anexados a França. Somado a estes fatores, logo ao final da guerra a Europa viu eclodir movimentos nacionalistas exacerbados, Como o fascismo e o nazismo (RAMOS; MARQUES; JESUS, 2009, P. 12)

A humilhação e o ressentimento em conjunto com o movimento nacionalista pós-guerra na Alemanha geraram anseio em busca de dominação e conquista, o que estimulou novamente o conflito armado, resultando na II Guerra Mundial. Uma guerra de proporções muito maiores que a primeira.

A II Guerra Mundial (1939 – 1945) realçou novamente a concentração dos acontecimentos mundiais no território europeu, colocando mais uma vez em questão a possibilidade de paz no continente.

Ao término do conflito armado, desta vez muito mais sangrento, o território europeu assim como o seu povo se encontravam devastados. Reerguer-se economicamente e estabelecer uma paz duradoura, a fim de evitar novos conflitos, constituíam necessidades primordiais no continente.

Os países europeus, inclusive França e Alemanha enxergaram que havia necessidade de paz, afinal sua população tinha sofrido o trauma de duas guerras mundiais e outros países passaram a se encontrar no centro da disputa do poder mundial. A Europa, além de se encontrar destruída, já não representava mais a região em que a as grandes potências se localizavam. Estados Unidos (EUA) e União Soviética (URRS) passaram a deter a concentração de poder mundial, e por consequência, a disputar por influência dos seus ideais em relação a outros países. Contextualizando, desta maneira, o período que ficou conhecido como Guerra Fria, onde estes dois principais atores buscavam zonas de influência para poderem expandir o seu poder.

A ideologia pregada pela URRS consistia na política socialista, enquanto a ideologia americana seguia os moldes das nações europeias ocidentais: o capitalismo. O cenário durante o período da Guerra Fria delimitava a Europa entre leste e oeste, sendo que no lado ocidental a influência se encontrava do lado da força americana, enquanto do outro lado a URRS exercia as suas influências.

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A divisão da Europa entre leste e oeste, após 1945, e a subsequente Guerra Fria entre as duas potências mundiais, EUA e URSS, alarmaram a Europa ocidental sobre a sua fragilidade e medo a respeito do avanço da URSS sobre o seu território. Tal receio, levou a um aprofundamento no envolvimento das relações europeias com os Estados Unidos no final da década de 1940. (BORRAGÁN; CINI 2010, p. 17, Tradução livre)5

Neste cenário, onde os Estados europeus se encontravam extremamente abalados pela pior guerra da história; eram coadjuvantes na disputa de poder mundial e ainda se encontravam ameaçados pelo avanço da URSS sobre o seu território, surgiu a necessidade da criação de mecanismos que visassem garantir a manutenção da paz e ajudassem, ao mesmo tempo, reerguer a Europa economicamente. Se criou então em 1950, idealizada pelo francês Jean Monnet, a primeira iniciativa de integração entre os Estados Europeus, que viria ter futuramente papel fundamental na formação da União Europeia: a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA).

Monnet tinha constantemente argumentado que a paz e a estabilidade na Europa só poderiam ser alcançadas através da reaproximação entre os rivais históricos, França e Alemanha; para Monnet, os dois Estados teriam que formar o núcleo de qualquer união de integração. (BORRAGÁN; CINI, 2010, p. 21, tradução livre)6

Sendo assim, a CECA compreendeu um modelo que tinha como objetivo reerguer economicamente os seus membros através da cooperação na área da siderurgia, além de manter a paz e conter conflitos e represálias entre a Alemanha e França (SILVA; COSTA, 2013). Oreiro (2012) ainda ressalta que a CECA objetivava a retomada do papel central da Europa dentro do cenário político mundial, e também barrar o avanço comunista soviético.

Borragán e Cini (2010) defendem que a formação da CECA foi um produto da combinação de impulsos e ideias integracionistas, interesses nacionais e circunstâncias internacionais. Ainda sobre a CECA, Ramos, Marques e Jesus (2009) afirmam que esta surgiu a partir de ideias funcionalistas e liberais. Ideias os quais defendiam que a cooperação deve iniciar em um setor técnico e pouco politizado, para posteriormente ser estendida a outros setores.

5This division of Europa between East and West after 1945, and the subsequent Cold War between the world’s

two superpowers, the USA and the USSR, fulled alarm in Western Europe about its own fragile defences in the light of what it feared were the territorial ambitions of the USSR. This led to a deep involvement of the USA in European affairs in the late 1940s.

6 Monnet had also consistently argued that peace and stability in Europe could only be achieved through a

rapprochement between the historical rivals, France and Germany; for Monnet the two states had to form the core of any integrative venture.

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Constituída pelos países do núcleo idealizado por Monnet: França e Alemanha, a CECA ainda integrava, a fim produzir insumos estratégicos para a Europa, os seguintes países: Bélgica, Italia, Países Baixos e Luxemburgo.

A proposta inicial da constituição da CECA contemplava a criação de uma organização supranacional para coordenar a produção de carvão e de aço da França e Alemanha, e de qualquer outro país europeu que quisesse participar dessa iniciativa. (RAMOS; MARQUES; JESUS, 2009, p. 13).

Além de eliminar a razão da disputa pelo território que gerava motivos de guerra entre França e Alemanha, a primeira comunidade de integração europeia elegeu como objeto de cooperação o setor siderúrgico em especial, pois este compreendia uma área fundamental para a economia e indústria europeia.

Assim, o Tratado assinado em Paris em 1951 – Tratado CECA, também designado Tratado de Paris -, congregava esses seis países (Alemanha, França, Itália, Países Baixos e Bélgica) numa comunidade que tinha como objetivo liberalizar a circulação do carvão e do aço, bem como introduzir livre acesso às fontes de produção. RAMOS; MARQUES; JESUS, 2009, p. 13).

Ao se retirar o controle individual dos Estados sobre estes insumos, criou-se uma situação em que o diálogo entre antigos rivais passou a ser necessário, afinal estes tinham que cooperar uns com os outros. (MARQUES; JESUS, 2009).

Como visto no capítulo anterior, a lógica da cooperação se dá através da sua efetividade, de modo que, quando bem-sucedida, esta tende a se expandir, de maneira a contribuir diminuindo a propensão de guerra entre os Estados. Uma vez que a dependência entre eles se intensifica cada vez mais.

O sucesso da CECA confirma então, os pressupostos funcionalistas e liberais de que a cooperação pela funcionalidade estabeleceria os alicerces para uma convivência pacífica entre os cooperados. (RAMOS; MARQUES; JESUS, 2009 p. 13).

Ao aceitarem as cláusulas propostas no tratado de Paris, as nações concordam em ceder em parte suas soberanias nacionais a favor da criação de um mecanismo supranacional, passando a depender uns dos outros para que seus interesses fossem alcançados, convergindo desta maneira rumo a integração.

Pode-se dizer que a CECA foi o início da integração europeia, pois, além de fazer os países cederem parte de sua soberania como citado anteriormente, segundo Ramos, Marques e Jesus (2009), esta compreendia uma área de preferência comercial, permitindo a livre circulação de carvão, minério de ferro, sucata e aço entre seus membros. Ao mesmo

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