Prevalência da Colonização de Strep Grupo B numa população de Grávidas do distrito de Vila Real
Prevalence gf Group B Streptococcus Colonization in pregnant population of Vila Real district
Pinheiro S.1, Penelas N.2, Aguiar N. 1, Santos M.3, Carvalho M.3
O Streptococcus agalactiae, um microrganismo comensal do homem, está muitas vezes envolvido na infeção neonatal, por transmissão vertical mãe-feto, originando quadros graves de septicémia, pneumonia e meningite. O objetivo deste estudo foi determinar a prevalência da colonização do estreptococo do grupo B durante a gravidez e, comparar os dados com a incidência de colonização de SGB no distrito de Vila Real, mediante a faixa etária das parturientes.
Palavras-chave: Estreptococo do grupo B (SGB), colonização, septicémia neonatal,
idade materna
Streptococcus agalactiae, a comensal microrganism of man, is often involved in neonatal infection, by vertical mother-fetus transmission, resulting in severe cases of septicemia, pneumonia and meningitis. The aim of this study was to determine the prevalence of group B streptococcal colonization during pregnancy and to compare the data with the incidence of GBS colonization in the Vila Real district, by age group of mothers.
Keywords: Streptococcus group B (SGB), colonization, neonatal sepsis, maternal age RESUMO
ABSTRACT
¹ Técnico superior no laboratório Pioledo 2 Diretor Técnico no laboratório Pioledo
3 Mário Santos, diretor técnico BMAC; Manuel Carvalho, diretor técnico BMAC Autor para correspondência: Nelson Penelas; njtpenelas@hotmail.com
Submetido/Submitted: 19 junho 2016 | Aceite/Accepted: 26 junho 2016 ARTIGO ORIGINAL | ORIGINAL ARTICLE
INTRODUÇÃO
Streptococcus agalactiae (estreptococo grupo B de Lancefield), reconhecido em 1920 como o agente etiológico da mastite bovina, é um microrganismo comensal do homem, encontrando-se frequentemente como colonizante do trato gastrointestinal, respiratório e urogenital humano1. Nas últimas décadas tornou-se no agente casual mais frequente de septicémia bacteriana neonatal precoce, ultrapassando Escherichia coli e outros bacilos Gram negativos, que até aos anos 70 ocupavam o primeiro lugar2,3,4. Este microrganismo está muitas vezes envolvido na infeção neonatal, por transmissão vertical mãe-feto, originando quadros graves de septicémia, pneumonia e meningite. Esta infeção apresenta duas formas de manifestação clínica no período neonatal: de início precoce e de início tardio5. A infeção de início precoce, que ocorre em dois terços dos casos, manifesta-se desde as primeiras horas de vida até ao sétimo dia após o nascimento, com uma incidência que varia de 0.7 a 3.7 / 1000 nados-vivos6; com formas de manifestação mais comuns como a septicémia (25% - 40%), a pneumonia (35% - 55%) e a meningite (5% -15%)5,7. A doença de início tardio, que ocorre num terço dos casos, manifesta-se entre o sétimo dia e a décima segunda semana de vida, cuja principal manifestação clínica é a meningite, com incidência de 0.5 – 1.8 / 1000 nados vivos6. São considerados como fatores de risco a infeção neonatal precoce por SGB, trabalho de parto prematuro (< 37 semanas de idade gestacional), rutura de bolsa por tempo
materna próxima do parto, gestante muito jovem, negroide e baixo título de anticorpos anticapsulares8,9.
Também é responsável por infeções em mulheres grávidas e adultos com doenças subjacentes, especialmente em condições debilitantes1,8,10.
Sendo o SGB o principal agente etiológico de septicémia neonatal precoce, a qual tem uma frequência entre 1 a 4/1000 recém-nascidos, e uma mortalidade estimada entre 5 e 20%11, torna-se vital detetar a colonização deste microrganismo de forma a evitar as complicações ginecológicas e obstétricas associadas.
Para prevenir a infeção perinatal recomenda-se a pesquisa da bactéria na região vagino-perianal, durante o terceiro trimestre, indicando tratamento antibiótico durante o parto das gestantes colonizadas. A penicilina continua a ser o antibiótico de escolha para a profilaxia antimicrobiana intraparto, porque é eficaz na passagem transplacentária, é de baixo custo, tem um largo espectro de ação direcionado para os cocos Gram-positivos e uma probabilidade teoricamente baixa de emergirem microrganismos resistentes12, sendo que a maior desvantagem é a que cerca de 10% da população ser alérgica a este antimicrobiano12. Nestes casos é recomendado o uso de clindamicina, eritromicina e, no caso de resistência a ambos, vancomicina13.
Em Portugal, a prevalência de colonização por EBG é estimada entre 35% no Norte e 13% no Sul14, não havendo, contudo, muitos dados disponíveis para o nosso país.
O presente estudo visa determinar a prevalência de Streptoccocus agalactie
em gestantes saudáveis, no distrito de Vila Real e associar a colonização com a idade.
MATERIAL E MÉTODOS
Foi realizado um estudo retrospetivo, onde foram avaliados os dados obtidos no Laboratório de Patologia Clínica do Pioledo – Grupo BMAC, entre julho de 2014 e abril de 2016, no distrito de Vila Real. A amostra foi constituída por 124 grávidas que realizaram um rastreio específico de S.agalactiae, entre a 35ª e a 37ª semana de gestação. A colheita de material vaginal-anal foi feita através de uma zaragatoa estéril com posterior colocação da mesma em meio de transporte e armazenado em temperatura ambiente. Como técnica de cultura usou-se o caldo Todd-Hewit, com posterior subcultura em meio específico
chromID Strepto B; isolamento das colónias positivas para meio agar-sangue e identificação da morfologia e tipo de hemólise das colónias, teste da catalase, teste de CAMP e testes sorológicos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
De acordo com a literatura, aproximadamente 10 a 30% das grávidas estão colonizadas com SGB. Contudo, a grande variação das taxas de incidência de colonização deve-se a variados fatores, como a idade materna, o tempo de gestação no momento em que as colheitas são realizadas, o local da colheita, os métodos bacteriológicos utilizados e a origem e características da população estudada12.
Verificou-se que a incidência da colonização desse agente patogénico nas gestantes foi de 17% (Figura 1).
Figura 1. Percentagem de parturientes colonizadas por S. agalactiae no Lab. Pioledo, de julho de 2014 a abril de 2016.
A população em estudo apresentava idades compreendidas entre os 19 e os 47 anos, havendo uma maior incidência de colonização no grupo etário inferior a 20 e superior a 35 anos (33% em ambas as faixas etárias); no entanto, as parturientes com idade inferior a 20 anos constituem um grupo de amostragem tão reduzido que se torna difícil provar uma relação de significância com a colonização por SGB (Figura 2).
Estas percentagens podem ser traduzidas no número de recém-nascidos que poderiam nascer colonizados com esta bactéria, e mais tarde, desenvolver sequelas graves e irreversíveis.
Figura 2. Prevalência da colonização por S. agalactiae em 124 gestantes deste estudo, de acordo com a idade
CONCLUSÃO
Este estudo aponta para a necessidade de continuar a incorporar a pesquisa da colonização desta bactéria no exame pré-natal, dado o elevado número de parturientes com resultado positivo para a pesquisa de SBG, o baixo custo da sua determinação e as consequências favoráveis da sua implementação.
Também seria importante ter informação das grávidas com reação alérgica à penicilina, dada a, cada vez maior, resistência destes microrganismos aos macrólidos, que são a alternativa terapêutica nestes casos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Farley MM. Group B streptococcal disease in nonpragnant adults. Clin Infect Dis. 33:556-561; 2001.
2. Reid TM. Emmergence of group B Streptococci in obstretic and perinatal infections. Br M J; 2:533-535; 1975. 3. Hager WD, Schuchat A, Gibbs R, Sweet R. Prevention of perinatal group B streptococcal infection: current controversies. Obstet Gynecol. 96:141-145; 2000.
4. Tapia JL, Ventura-Juncá P. Infecciones bacterianas. Cap 25. Manual de Neonatologia. Editorial Mediterrâneo; 2000.
5. Baker CJ, Morven ES. Group B streprococcal infections. In: Remington JS, Klein JO, editors. Infectious Diseases of the fetus and the newborn infant. 5th ed. Philadelphia: Saunders. p. 1091-1156; 1998.
6. Baker CJ, Edwards MS. Group B streptococcal infections. In: Remington JS, editor. Infections Diseases of the fetus of newborn infant. 4th ed. Philadelphia: W. B. Saunders. p. 980-1045; 1995. 7. Nobre RA. Frequência de infecção por Streptococcus b-hemolíticos do grupo B e
outras bactérias em recém-nascidos com desconforto respiratórios (dissertação). Ribeirão Preto: Universidade de S. Paulo; 1997.
8. Yancey MK, Duff P, Clark P, Kurtzer T, Frentzen BH, Kubillis P. Peripartum infection associated with vaginal group B streptococcal colonization. Obstet & Gynecol. 84:816-819; 1994.
9. Schuchat A, Zywicki S, Dinsmoor M jet al. Risk factos and opportunities for prevention of early-onset neonetal sepsis: a multicentre case-control study. Pediatric. 10521-6; 2000.
10. Schuchat A. Epidemiology of group B streptococcal disease in the United States: Shifting paradigms. Clin Microbiol Rev. 11:497-513; 1998.
11. Diaz TM, Nieves BM. 2008. Rev Chil Infect.25(2):108-1134.
12. Areal, A. et al. 2010. Acta pediátrica portuguesa. 41(1):16-21.
13. Shrag, et al. 2002. Revised guidelines from CDC. MMWR Recomm Rep. 51:1-22.
14. Neto MT. Group B streptococcal disease in portuguese infants younger than 90 days. Arch Dis Child Fetal Neonatal ed. 93:F90-93; 2008.