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Análise descritiva do sinal eletromiográfico dos músculos longuíssimo dorsal, reto abdominal e glúteo médio de equinos durante a realização de manobras utilizadas para ativação do coreDescriptive electromyography’s signals analysis of equine longissimus d

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RODRIGO RIBEIRO BARSANTI

ANÁLISE DESCRITIVA DO SINAL ELETROMIOGRÁFICO DOS MÚSCULOS LONGUÍSSIMO DORSAL, RETO ABDOMINAL E GLÚTEO MÉDIO DE EQUINOS DURANTE A REALIZAÇÃO DE MANOBRAS UTILIZADAS PARA

ATIVAÇÃO DO CORE

VIÇOSA

MINAS GERAIS – BRASIL 2019

Dissertação apresentada à Universidade Federal de Viçosa, como parte das exigências do Programa de Pós- Graduação em Medicina Veterinária, para obtenção do título de Magister Scientiae.

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Ficha catalográfica preparada pela Biblioteca Central da Universidade Federal de Viçosa - Câmpus Viçosa

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Barsanti, Rodrigo Ribeiro, 1986-B282a

2019

Análise descritiva do sinal eletromiográfico dos músculos longuíssimo dorsal, reto abdominal e glúteo médio de equinos durante a realização de manobras utilizadas para ativação do core / Rodrigo Ribeiro Barsanti. – Viçosa, MG, 2019.

vi, 60 f. : il. (algumas color.) ; 29 cm.

Orientador: Brunna Patrícia Almeida da Fonseca.

Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Viçosa. Inclui bibliografia.

1. Equinos - Exercícios físicos. 2. Eletromiografia. 3. Estabilidade. 4. Articulações - Amplitude do movimento. 5. Exercícios de aquecimento. I. Universidade Federal de Viçosa. Departamento de Veterinária. Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária. II. Título.

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ii SUMÁRIO RESUMO iii ABSTRACT v 1. INTRODUÇÃO 1 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2 2.1 Core Equino 2

2.1.1 Anatomia Funcional do Core Equino 2

2.1.2 Músculos do Core Equino 9

2.2 Dor e Disfunção Toracolombar 13

2.3 Manobras para ativação do core equino 16

2.3.1 Estímulos Reflexivos 20 2.3.2 Manobras de equilíbrio 21 2.4 Eletromiografia 23 3. REFERÊNCIAS 26 CAPÍTULO 1 31 RESUMO 31 ABSTRACT 32 INTRODUÇÃO 33 MATERIAL E MÉTODOS 34 Experimentação animal 34 Animais 35 Método de avaliação 35 Variáveis experimentais 38 Manobras 39 RESULTADOS E DISCUSSÃO 41 CONCLUSÃO 58 REFERÊNCIAS 59

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RESUMO

BARSANTI, Rodrigo Ribeiro, M.Sc., Universidade Federal de Viçosa, maio de 2019. Análise descritiva do sinal eletromiográfico dos músculos

longuíssimo dorsal, reto abdominal e glúteo médio de equinos durante a realização de manobras utilizadas para ativação do core. Orientadora: Brunna

Patrícia Almeida da Fonseca.

Protocolos de treinamento bem elaborados são de suma importância para a saúde física e psíquica dos equinos, pois a partir de um condicionamento físico adequado é possível prevenir lesões e evitar recidivas. No entanto, grande parte dos animais é treinada empiricamente. Por isso, este trabalho tem como um de seus objetivos difundir a importância do core equino, desde a anatomia, funcionalidade e biomecânica, até a descrição de manobras destinadas para ativação da musculatura do core equino recomendadas para prevenção de lesões e disfunções do esqueleto axial do animal. Além disso, também aborda a técnica de eletromiografia, pois, essa permite a análise da ativação muscular durante diferentes atividades, sendo amplamente utilizada em pesquisas para estudar determinada atividade física ou movimento na busca do melhor entendimento da biomecânica de diversas espécies animais. Nessa linha de pesquisa, o artigo científico fruto deste trabalho de mestrado buscou por meio da eletromiografia de superfície descrever as ocorrências, durações e sequências temporais da atividade muscular do longuíssimo dorsal, reto abdominal e glúteo médio durante a realização das manobras reflexivas de flexão toracolombar, flexão lombar e lombossacra, flexão global (toracolombar e lombossacra) e tração de cauda. As manobras para ativação do core equino podem ser praticadas com cavalos de diferentes raças e faixas etárias, porém deve-se respeitar sempre o limite de cada indivíduo. As manobras de flexão toracolombar, flexão lombar e lombossacra, flexão global e tração de cauda são descritas detalhadamente no intuído de difundir essas técnicas e proporcionar bem-estar ao conjunto praticante. Serão revisadas informações como abordagem para realização das manobras, número de repetições, tempo de manutenção e evolução de cada atividade. Com relação à musculatura, o foco é no longuíssimo dorsal, reto abdominal e glúteo médio. Já que as manobras descritas nesta revisão provocam principalmente flexão do

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dorso e da articulação lombossacra dos equinos, movimentos influenciados pela ativação muscular bilateral dos mesmos. No intuito de confirmar ou refutar essa premissa, o capítulo 1 é reservado ao experimento base, no qual sete equinos adultos e hígidos de três raças, realizaram cinco repetições destes movimentos clássicos para ativar o core equino com permanência na posição final por cinco segundos. Para análise descritiva, a atividade muscular foi capturada com a utilização de sensores eletromiográficos superficiais fixados de maneira não invasiva em regiões cutâneas de cada músculo de interesse. Cada animal realizou a sequencia completa de manobras enquanto que a ativação muscular foi coletada com a utilização da técnica de eletromiografia de superfície, possibilitando uma análise descritiva. Após a coleta, as melhores repetições de cada animal foram selecionadas e submetidas a tratamento matemático no software MatLab para confecção leitura e interpretação dos resultados. Depois de tabuladas, as variáveis eletromiográficas foram descritas quanto à ocorrência ou ausência de ativação muscular, duração média das atividades eletromiográficas maiores que a raiz quadrada do valor quadrático médio (RMS: root mean square) e distribuição ao longo do tempo da excitação muscular observada ao decorrer de cada manobra. Após análise dos resultados, foi constatado que estas manobras ativaram de maneira pontual e transitória os músculos longuíssimo dorsal, reto abdominal e glúteo médio, ratificando a capacidade dessas manobras em excitar a musculatura do core equino. Porém, a falta de padronização das respostas musculares, ou seja, houve variações na ocorrência de ativação, duração média e sequência temporal, sugere que para melhores benefícios da prática desta atividade seja recomendado realizar maior número de repetições com permanência na posição final por mais tempo do que cinco segundos para ativar mais músculos do core equino.

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ABSTRACT

BARSANTI, Rodrigo Ribeiro, M.Sc., Universidade Federal de Viçosa, May, 2019.Descriptive electromyography’s signals analysis of equine longissimus

dorsi, rectus abdominus and gluteus medius muscles during maneuvers used to activate the core. Adviser: Brunna Patrícia Almeida da Fonseca.

Well-designed training protocols are important for the physical and psychic health of equines, because with an adequate physical conditioning it is possible to avoid injuries and recurrences. However, most animals are trained empirically. Thus, this study aims to diffuse the importance of the equine core, since anatomy, functionality and biomechanics, until the description of maneuvers designed to activate equine's core muscles, recommended for the prevention of injuries and dysfunctions of the animal axial skeleton. In addition, it approaches the electromyography technique, since it allows the analysis of muscle activation during different activities, being widely used in research to study a particular physical activity or movement and contribute to a better understanding of the biomechanics of several animal species. In this research line , the scientific article resulting from this masters sought surface electromyography to describe the occurrences, durations and temporal sequences of longissimus dorsi, rectus abdominus and gluteus muscle activity during reflective maneuvers of thoracolumbar flexion, lumbar and lumbosacral flexion, global flexion (thoracolumbar and lumbosacral) and tail traction. Maneuvers to activate the equine’s core can be practiced with horses of different breeds and age groups, but always respecting the limit of each individual. The maneuvers of thoracolumbar flexion, lumbar and lumbosacral flexion, global flexion (thoracolumbar and lumbosacral) and tail traction will be described in detail in the intuition of spreading these techniques and providing well-being of the practitioners. Will be describes information about how to approach and perform the maneuvers, number of repetitions, maintenance time and evolution of each activity. The focus musculature will be about longissimus dorsi, rectus abdominus and gluteus medius. Because, the maneuvers described in this review mainly provoke flexion of the back and lumbosacral articulation from horses, and these movements are

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influenced by bilateral muscular activation of those. To confirm or refute this premise, Chapter 1 is reserved for the base experiment in which seven healthy three-breed adult horses performed five repetitions of these classic movements to activate the equine core permanently in the final position for five seconds. For descriptive analysis, muscle activity was captured using non-invasive fixed superficial electromyographic sensors in skin regions of each muscle of interest. Each animal performed the complete sequence of maneuvers while muscle activation was collected using the surface electromyography technique, enabling a descriptive analysis. After collection, the best repetitions of each animal were selected and submitted to mathematical treatment in MatLab software for reading and interpretation of results. After tabulation, the electromyographic variables were described about the occurrence or absence of muscle activation, mean duration of electromyographic activities greater than the square root mean square (RMS) value and distribution over time of muscle excitation observed at each maneuver. From the analysis of the results, it was found that these maneuvers punctually and transiently activated the longissimus dorsi, rectus abdominus and gluteus medius muscles, confirming the ability of these maneuvers to excite the equine core muscles. However, the lack of standardization of muscle responses, i.e., there were variations in the occurrence of activation, mean duration and temporal sequence, suggests that for better benefits of the practice of this activity it is recommended to perform more repetitions with permanence in the final position longer than five seconds to activate more equine core muscles.

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1. INTRODUÇÃO

Existe uma tendência de que quando ocorre difusão de algum esporte ou raça equestre aumente a necessidade de aprimorar métodos de aquecimento, ativação, fortalecimento e alongamento muscular para melhorar o desempenho atlético do conjunto em provas, prevenir lesões e auxiliar na recuperação de equinos em reabilitação.

O condicionamento físico adequado aumenta a estabilidade e força da coluna, auxiliando na manutenção do equilíbrio e da postura, sendo consequentemente benéfico para o desempenho atlético e bem-estar animal. Além disso, a manutenção do equilíbrio e flexibilidade da musculatura é importante para minimizar riscos de lesões em tecidos moles (HIGGINS, 2012).

A realização de manobras específicas tem o intuito de ativar músculos superficiais e profundos do tórax, abdômen, pelve e da coluna, ou seja, do esqueleto axial. Na prática desse tipo de atividade busca-se minimizar a sobrecarga gerada pelo peso do cavaleiro e diminuir o risco de lesões. Além disso, estas manobras podem ser prescritas para casos de recuperação, já que devido a sua especificidade podem ser capazes de ativar grupos musculares fracos ou lesionados (HIGGINS, 2011).

Existem casos, que a causa da claudicação não está localizada nos membros, mas sim associado às dores toracolombares. Por isso, manobras para aquecimento dessa região vertebral tem o objetivo de promover ativação de grupos musculares fundamentais para a locomoção equilibrada do equino, diminuindo o risco de lesões. Haja vista, que conferem estabilidade e flexibilidade à coluna, além de participar na condução da energia gerada pelos membros pélvicos (WILLIAMS; MCKENNA, 2016).

Para melhor proveito e possíveis aprimoramentos dessas manobras para ativação do core equino, a eletromiografia de superfície (EMGs) é uma opção para análise do sistema neuromuscular durante a realização destes movimentos, já que é uma técnica utilizada para pesquisas esportivas e de reabilitação em humanos (VALENTIN; ZSOLDOS, 2016; VIGOTSKY et al., 2018).

Apesar de Stubbs e colaboradores em 2011 terem realizado estudos sobre a hipertrofia do músculo multífidus após protocolos de fortalecimento, a atividade

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eletromiográfica ainda não foi analisada durante manobras para ativar músculos do core equino (VALENTIN; ZSOLDOS, 2016).

Visto que por ser uma técnica não invasiva e sem fio, a eletromiografia de superfície via wireless permiti mensurar a ativação de músculos durante a movimentação dos animais, ou seja, é possível descrever a atividade muscular durante a realização de manobras para ativação do core equino possibilitando a comprovação científica dos benefícios da prática a partir da descrição e análise dos dados eletromiográficos.

Nesse sentido, esta revisão tem como objetivo difundir o conhecimento sobre a importância do core equino, desde a anatomia, compreendendo sua funcionalidade e biomecânica, alterações proveniente de dores e disfunções até a descrição de manobras destinadas para ativação de importantes músculos do core equino.

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Core Equino

O core equino é a interação do esqueleto axial com tecidos moles de origem e inserção próximos a esse núcleo de estabilidade do animal, que inclui ligamentos espinhais, musculatura proximal dos membros, e principalmente a epaxial e hipaxial, que influenciam a postura do equino em estação e movimento (CLAYTON, 2016).

2.1.1 Anatomia Funcional do Core Equino

A anatomia funcional compreende justamente o estudo do movimento e da atividade física, que auxilia no entendimento de como a biomecânica dos equinos acontece e traz à tona as inúmeras interações funcionais entre diversas estruturas. Com esse tipo de conhecimento, é possível prevenir lesões e prescrever os melhores tratamentos se estas ocorrerem, proporcionando uma vida ativa e saudável aos equinos, sejam esses de alto desempenho ou de companhia e lazer (WILLIAMS; MCKENNA, 2016).

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O esqueleto axial equino é composto pelo crânio, vértebras, costelas e o esterno (Figura 1). As principais funções do esqueleto axial são de proteger órgãos internos, sistema nervoso central, raízes nervosas dorsais e ventrais. Além de fornecer sustentação para funcionalidade do core, ou seja, permitir a interação de ligamentos e músculos com as costelas, corpos e processos vertebrais. Essa relação de tecidos moles e ósseos é imprescindível para movimentação do animal, pois reflete diretamente nas capacidades de flexibilidade e estabilidade do core (SISSON; GROSSMAN, 1986; HAUSSLER, 1999a, 1999b; DYCE; SACK; WENSING, 2010; HIGGINS, 2011).

Figura 1: Esqueleto axial equino composto pelo crânio, costelas, esterno e segmentos vertebrais, com destaque para as seguintes transições: atlanto-occipital (A-O), cérvico-torácica (C-T), toracolombar (T-L) e lombossacra (L-S). Figura adaptada de Williams e Mckenna (2016).

A atuação do esqueleto axial faz-se primordial para manutenção funcional e equilibrada do core equino permitindo alcançar o desempenho atlético máximo do conjunto. Durante as inter-relações entre estruturas passivas, ativas e neurais, desequilíbrios podem comprometer o desempenho e predispor a lesões. Por isso, é importante o condicionamento físico adequado desde o início do treinamento, respeitando cada faixa etária e nível competitivo (WILLIAMS; MCKENNA, 2016).

A soma do peso da região do crânio e segmento cervical dos equinos pode chegar até 10% do peso total do animal, possibilitando a ação de pêndulo e mudanças no centro de gravidade do animal e consequentemente causando importantes implicações no equilíbrio e movimentação do cavalo (HIGGINS, 2011).

Nos equinos o segmento cervical possui características morfofisiológicas e adaptações que auxiliam na estabilização do dorso permitindo a capacidade do

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equino se locomover de modo rápido e eficiente. Para isso, é necessária a interação de estruturas passivas, como as vértebras e o crânio, de tecido conjuntivo, como o ligamento nucal, e da atividade de músculos cervicais (GELLMAN; BERTRAM; HERMANSON, 2002).

O crânio e pescoço atuam nos principais mecanismos de compensação durante o movimento (VAN WEEREN; MCGOWAN; HAUSSLER, 2010), já que, o pescoço realiza importantes movimentos de flexões longitudinais e laterais, assim como de rotação, interferindo no movimento de elevação do dorso pela ventroflexão (MOORE, 2010).

A coluna vertebral do equino é composta normalmente por sete vértebras cervicais, dezoito torácicas, seis lombares, cinco sacrais e de 15 a 21 coccígeas (HAUSSLER, 1999b).

A estabilidade da coluna vertebral sofre influência de três subsistemas divididos de acordo com a função desempenhada por suas estruturas, que podem ser de ação ativa, passiva ou neural. Músculos e tendões atuam de forma ativa, enquanto que vértebras, ligamentos espinhais e discos intervertebrais exercem funções de forma passiva. Já a função neural é exercida pelo sistema nervoso central e receptores ligados à locomoção, localizados nos ligamentos, tendões, músculo e centros de controle neural (PANJABI, 1992).

O subsistema neural determina o que é necessário para a estabilidade da coluna, sendo que, a partir do monitoramento de seus receptores ocorrem os direcionamentos de estímulos para o subsistema ativo, onde músculos e tendões serão estimulados para proporcionar a estabilidade necessária. Essa complexa relação neuromotora somado à contribuição do subsistema passivo promove a estabilidade pélvica e lombar (PANJABI, 1992).

As particularidades anatômicas das vértebras em ação conjunta com ligamentos, músculos e tendões promovem estabilidade e permitem movimentações restritas entre as articulações intervertebrais dos equinos. A maior parte dessa movimentação ocorre na porção cervical, torácica central e articulação lombossacra, porém cada segmento tem singularidades em cada tipo de movimento (Figuras 2, 3 e 4) (HAUSSLER, 1999b; DYCE; SACK; WENSING, 2010; WILLIAMS; MCKENNA, 2016).

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Figura 2: Representação das amplitudes de movimentos intervertebrais do esqueleto axial equino durante flexão e extensão, onde as barras do gráfico representam as capacidades normais em cada articulação intervertebral correspondente. Destaca-se a maior flexibilidade das vértebras cervicais e articulação lombossacra. Figura adaptada de Williams, Mckenna e Clayton (2016).

Figura 3: Representação das amplitudes dos movimentos intervertebrais equino durante flexão lateral do esqueleto axial, onde as barras do gráfico representam as capacidades normais em cada articulação intervertebral correspondente. Destaca-se a maior flexibilidade do segmento cervical e das articulações intervertebrais entre a 9ª e 14ª vértebras torácicas. Figura adaptada de Williams, Mckenna e Clayton (2016).

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Figura 4: Representação das amplitudes dos movimentos intervertebrais equino durante rotação do esqueleto axial, onde as barras do gráfico representam as capacidades normais em cada articulação intervertebral correspondente. Destaca-se a maior flexibilidade das articulações atlanto-occipital e atlanto-axial. Figura adaptada de Williams, Mckenna e Clayton (2016).

A região toracolombar equina compreende o esqueleto axial desde a primeira vértebra torácica até a sexta e última lombar, ou seja, é o dorso do equino, composto por vértebras, articulações, músculos e ligamentos (HIGGINS, 2011; JANECZEK et al., 2014). A região toracolombar do core equino desempenha um papel estrutural e funcional importante no aparato locomotor (VAN WEEREN; MCGOWAN; HAUSSLER, 2010). Sendo que a postura dos equinos em estação e movimento revela muito sobre o seu potencial de funcionalidade e desempenho (WILLIAMS; MCKENNA, 2016).

A postura dos equinos depende da estabilidade mecânica e funcional da região toracolombar proporcionada pela justaposição das vértebras, a qual é reflexa da interação dos processos articulares e discos intervertebrais, somado a atuação passiva e ativa dos tecidos moles, principalmente da musculatura do core, que a partir do controle neural coordenam as resposta de acordo com forças gravitacionais, inerciais e musculares atuantes no corpo do animal (STUBBS et al., 2011).

Pesquisas revelam que o segmento toracolombar do core atua na transferência de forças biomecânicas entre os membros torácicos e pélvicos,

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tanto em animais sadios, quanto em claudicantes ou com lesões de dorso, revelando o papel fundamental dessa região vertebral no desempenho atlético de equinos atletas (VAN WEEREN; MCGOWAN; HAUSSLER, 2010; CLAYTON, 2016).

A anatomia funcional não se restringe apenas a compreensão de como o equino se movimenta, mas envolve também o conhecimento das pressões anatômicas que existem durante a equitação, esportes equestres, englobando desde o treinamento até a competição em si, como casos de treinamento exagerado, lesões, patologias, reabilitação e fisioterapia. O entendimento desse assunto gera impacto no bem-estar de equinos de lazer e companhia, mas principalmente em animais que participam de esportes equestres (WILLIAMS; MCKENNA, 2016).

O conceito biomecânico da região dorsal dos quadrúpedes sofreu atualizações ao longo do tempo. Provavelmente, a primeira descrição biomecânica da coluna toracolombar de quadrúpedes foi do médico romano Galeno (129-200 d.C.), que segundo Slijper (1946 apud VAN WEEREN; MCGOWAN; HAUSSLER, 2010), comparou a estrutura dorsal dos animais a um teto abaulado para representar a coluna, sendo sustentado por quatro pilares que seriam os membros. Já em meados do século XIX, Bergmann (1848 apud VAN WEEREN; MCGOWAN; HAUSSLER, 2010) cita o conceito da coluna vertebral como ponte sustentada pelos pilares representados pelos membros, que dominou a literatura por algum tempo e introduziu o conceito das estruturas permitirem pequenas movimentações da coluna.

Atualmente, o modelo mais aceito é o de arco e corda, onde o “arco” representa o dorso do animal e a “corda” compreende os tecidos moles hipaxiais, sendo representado, principalmente, pela linha alba, músculo reto abdominal e esterno (Figura 5). Já as costelas, musculatura abdominal lateral, processos espinhosos e conexões ligamentares atuam de maneira indireta e adicional. Esse modelo foi proposto pela primeira vez por Barthez (1798), mas só foi mais aceito quando redescoberto por Slijper (1946) (JEFFCOTT, 1979; DE COCQ; VAN WEEREN; BACK, 2004; GÓMEZ ALVAREZ, 2007; VAN WEEREN; MCGOWAN; HAUSSLER, 2010; CLAYTON, 2016).

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Figura 5: Modelo de "arco e corda" para representar o dorso equino e as forças atuantes (setas) sobre o mesmo segundo Slijper (1946). Sendo o dorso ilustrado representando o “arco”, e a interação do osso esterno, linha alba e musculatura ventral caracterizando a “corda”. Adaptado de Gómez Alvarez (2007).

Além disso, existem interações entre os membros e o dorso do animal que podem influenciar a tensão no “arco”, ou seja, no dorso equino. Isso ocorre devido principalmente à intimidade entre o músculo longuíssimo dorsal e o glúteo médio (Figura 6). Onde a protração dos membros torácicos e retração dos pélvicos promovem dorsoflexão, enquanto que o oposto promove ventroflexão e elevação do dorso, aumentando a tensão no “arco” (JEFFCOTT, 1979; GÓMEZ ALVAREZ et al., 2007).

Figura 6: Ilustração das interações entre as estruturas do esqueleto axial e apendicular (membros), influenciando o dorso do animal. Onde as setas escuras representam a ação de músculos e tendões, enquanto às claras indicam possíveis movimentações do crânio e membros interferindo na dinâmica do dorso equino (“arco”). Onde a protração dos membros torácicos e retração dos pélvicos promovem dorsoflexão, enquanto que o oposto promove ventroflexão e elevação do dorso, aumentando a tensão no “arco” Adaptado de Gómez Alvarez (2007).

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Deve-se também levar em consideração a influência de outras estruturas que interagem com o a região toracolombar do equino, principalmente durante a flexão e extensão da articulação lombossacra e rotação pélvica sobre a articulação coxofemoral, pois essa interação desloca caudalmente o centro de massa dos equinos durante o movimento (VAN WEEREN; MCGOWAN; HAUSSLER, 2010).

Também existem casos, que desafios adicionais, por causa de posturas complexas, peso, carga ou pressões extras, podem ser contornados pelo controle neural por meio da mudança de recrutamento muscular, estabilizando a coluna temporariamente (PANJABI, 1992).

Em estação, esse tipo de compensação já foi relatado por De Cocq (2004), onde sela com carga extra de 75 Kg causou dorsoflexão maior do que sem o peso extra, sendo que para neutralizar essa lordose momentânea, os equinos aumentam a retração dos membros torácicos a fim de causar ventroflexão e elevação do dorso compensatória e temporária. Por outro lado, têm situações que a má postura é um indício da existência de uma ou mais lesões primárias e, consequentemente, disfunção secundária de uma ou mais estruturas, comprometendo a movimentação natural do equino (WILLIAMS; MCKENNA, 2016).

Em movimento, sabe-se que as lateroflexões e elevação do dorso são afetadas principalmente pelos movimentos do crânio, segmento cervical e membros pélvicos. Além disso, em animais sadios as ações dos músculos responsáveis pela movimentação das articulações escápulo-umeral e coxofemoral são sincronizados com os movimentos do esqueleto axial (CANO et al., 2000).

2.1.2 Músculos do Core Equino

O subsistema ativo do core equino é composto por numerosos músculos epaxiais e hipaxiais, mas a interação exata entre esses músculos para estabilização da coluna do equino é complexa. Sabe-se que, os músculos epaxiais localizam-se dorsalmente aos processos transversos das vértebras e realizam dorsoflexão, quando contraídos bilateralmente. Enquanto que, os músculos hipaxiais estão localizados ventralmente aos processos transversos e quando ativados de forma bilateral promovem ventroflexão (MCGOWAN;

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STUBBS; JULL, 2007). Ambos, epaxiais e hipaxiais contribuem para lateroflexão e rotação da coluna, quando ativados unilateralmente (HAUSSLER, 1999b). Os músculos epaxiais possuem inervação proveniente de ramos dorsais dos nervos espinhais, enquanto as origens nervosas dos músculos hipaxiais são dos ramos ventrais (SISSON; GROSSMAN, 1986).

Dentro do grupo de músculos epaxiais estão presentes os músculos espinhoso, longuíssimo dorsal, iliocostal, multífidus e intertransversos lombares (SISSON; GROSSMAN, 1986; MCGOWAN; STUBBS; JULL, 2007). Os músculos multífidus, sacrocaudal, longuíssimo dorsal e iliocostal são os mais relevantes na biomecânica da região dorsal e se encontram bilateralmente ao longo da coluna vertebral (LEE; COPPIETERS; HODGES, 2005).

Os músculos superficiais do esqueleto axial, com destaque para o longuíssimo dorsal, são multiarticulares e controlam a flexibilidade do dorso, permitindo movimentos globais. Além disso, participam da condução de forças geradas pelos membros pélvicos, pois também contribuem para estabilidade da coluna (CLAYTON, 2016).

Já os músculos profundos agem com torques menores do que os superficiais longos, pois os epaxiais e hipaxiais profundos estão mais próximos das vértebras e agem em uma ou poucas articulações intervertebrais, promovendo a estabilidade do dorso em repouso e movimento, além da flexibilidade de segmentos específicos da coluna (STUBBS et al., 2006).

Assim como na biomecânica humana, os músculos epaxiais profundos, com destaque para o multífidus, estabilizam ativamente o esqueleto axial dos equinos durante a movimentação, principalmente nos movimentos dorsoventrais (STUBBS et al., 2006). O músculo multífidus possui origem nos processos articulares e mamilares das vértebras desde C2 até o sacro. Já sua inserção é nos processos espinhosos das vértebras craniais a cada respectiva origem (WILLIAMS; MCKENNA, 2016).

Os músculos longuíssimo dorsal, espinhal e iliocostal compõem o grupo muscular que origina o eretor espinhal, o qual se origina desde a asa do ílio e se insere até o processo mastoideo do osso temporal (HAUSSLER, 1999b; WILLIAMS; MCKENNA, 2016).

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Desses músculos se origina o eretor espinhal, e dentre esses três músculos, o longuíssimo dorsal é o mais longo e potente. Sendo um músculo multiarticular com origem em feixes dos processos espinhosos das vértebras sacrais, lombares e torácicas, da asa do ílio, e dos processos transversos das vértebras cervicais. Sua inserção é nos processos transversos das vértebras lombares e torácicas, margem dorsal das costelas, asa do atlas e processo mastoideo do osso temporal (Figura 7). Tem função de estabilizar o esqueleto axial, estender ou flexionar o segmento cervical e realizar a dorsoflexão e lateroflexão quando ativado de forma bilateral e unilateral, respectivamente. Também auxilia no suporte ao peso da sela e do cavaleiro (DENOIX; DYSON, 2003; WILLIAMS; MCKENNA, 2016).

Figura 7: Ilustração do músculo longuíssimo dorsal em equinos. Adaptada de Williams e Mckenna (2016).

Sabendo que os músculos hipaxiais são os localizados ventralmente ao eixo vertebral, ou seja, abaixo dos processos transversos, podemos dividi-los em três grupos (MCGOWAN; STUBBS; JULL, 2007).

O primeiro seria o dos músculos subvertebrais, que estão ventralmente aos processos transversos, contribuindo para realização da ventroflexão e elevação do dorso quando acionados bilateralmente e lateroflexão e rotação quando ativados unilateralmente (SCHEVEN, 2010).

O segundo grupo está localizado ventralmente em relação ao esqueleto axial. O músculo reto abdominal é o único representante desse grupo. Esse músculo apresenta suas fibras dispostas em orientação longitudinal de modo craniocaudal na parede ventral do abdômen, com origem segmentada nas superfícies ventrolaterais das cartilagens costais e do esterno, e inserção no

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tendão pré-púbico (Figura 8). O músculo reto abdominal contribui para suportar o peso das vísceras presentes na cavidade abdominal e promover estabilidade e flexibilidade do esqueleto axial durante a locomoção do equino principalmente durante a ventroflexão (DYCE; SACK; WENSING, 2010; SCHEVEN, 2010; ZSOLDOS et al., 2010; WILLIAMS; MCKENNA, 2016).

Figura 8: Ilustração do músculo reto abdominal em equinos. Figura adaptada de Williams e Mckenna (2016).

Por fim, os músculos das regiões laterais do corpo representam o terceiro grupo, o qual é composto pelo músculo oblíquo abdominal externo, oblíquo abdominal interno, transverso abdominal e os intercostais. Todos esses, bem como o reto abdominal contribuem, de forma passiva e ativa, para o mecanismo da ventilação pulmonar, movimento de ventroflexão, flexão da articulação lombossacra e consequente protração dos membros pélvicos (SCHEVEN, 2010; WILLIAMS; MCKENNA, 2016; ZSOLDOS et al., 2018).

O equilíbrio entre a musculatura extensora do core, que são os músculos epaxiais do esqueleto axial, e musculatura flexora, ou seja, os músculos hipaxiais, interfere diretamente na estabilidade do core equino. Consequentemente, a locomoção harmônica e natural do animal depende das inter-relações funcionais desses importantes grupos musculares (CANO et al., 2000).

Dentre os músculos do membro pélvico, o glúteo médio é o mais relevante na geração e condução da energia cinética, devido ao seu tamanho e força excepcionais. Além de sua inter-relação com o longuíssimo dorsal, sendo esta fundamental para a locomoção do animal (DE COCQ; VAN WEEREN; BACK, 2004; DYCE; SACK; WENSING, 2010; WILLIAMS; MCKENNA, 2016).

O glúteo médio quando contraído promove nutação da pelve e abdução dos membros pélvicos (WILLIAMS; MCKENNA, 2016). O glúteo médio tem origem

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ampla desde a parte lombar do longuíssimo dorsal sobre a tuberosidade coxal e asa do ílio até o sacro e parte adjacente do ligamento sacroilíaco e sacroisquiático, sua inserção é na face caudal do trocânter maior do fêmur e sua inervação provém do nervo gluteal cranial (Figura 9).

Figura 9: Ilustração do músculo glúteo médio em equinos. Figura adaptada de Williams e Mckenna (2016).

2.2 Dor e Disfunção Toracolombar

Esse breve conhecimento anatômico-funcional das estruturas que compõem o core equino permite entender melhor a influência dos distúrbios toracolombares sobre a estabilidade do esqueleto axial. Estas disfunções geralmente são classificadas como de tecidos moles, ósseos ou neurológicos (HAUSSLER, 1999b).

Retomando o conceito de Panjabi (1992), disfunções nos subsistemas passivo, ativo ou neural, que agem diretamente na estabilidade do core, podem culminar em três possibilidades: Na compensação imediata, transitória e pontual de outros subsistemas, resultando na funcionalidade normal do conjunto sem maiores consequências; Adaptação em longo prazo também de um ou mais subsistemas, que resultaria na funcionalidade normal apesar de alterar as interações dos subsistemas dentro do sistema estabilizador da coluna; Ou em lesão de estruturas que compõem algum dos subsistemas, levando a disfunção, desestabilidade e algia de alguma região do core (PANJABI, 1992).

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Frequentemente a dor na região toracolombar associada à disfunção neuromuscular epaxial ou hipaxial nos equinos pode se manifestar na sensibilidade à palpação e até como claudicação com mudanças de andamento e comportamento, refletindo na redução do desempenho atlético do conjunto (JEFFCOTT, 1979, 1980; HAUSSLER, 1996, 1999a; DENOIX; DYSON, 2003; WILLIAMS; MCKENNA, 2016). Além disso, essa região anatômica normalmente dificulta o diagnóstico e tratamento (HAUSSLER, 1996; STUBBS et al., 2006), que podem ser influenciados pelo porte e temperamento do equino (ALVES et al., 2004).

Dores ao longo do esqueleto axial foram relatadas por proprietários como presentes em 25% dos equinos de diferentes níveis competitivos na modalidade de adestramento no Reino Unido, porém apenas 20% foram diagnosticadas por um veterinário, ou seja, 5% de prevalência respaldada. Apesar da localização anatômica da dor não ter sido encontrada na maioria dos casos, o segmento toracolombar foi o mais diagnosticado com 28% (MURRAY et al., 2010). Já em Sydney, dorsalgia está entre as causas mais comuns que afastam os equinos do treinamento para corrida segundo treinadores na Austrália (BAILEY et al., 1997). No Brasil, um estudo retrospectivo de animais atendidos com enfermidades locomotoras, revela a proporção de 11,7% das queixas serem referentes à dor toracolombar (ALVES et al., 2004).

Dor e disfunção toracolombar tem correlação com claudicação e vice-versa (LANDMAN et al., 2004; WILLIAMS; MCKENNA, 2016), na qual a claudicação é capaz de alterar a cinemática toracolombar dos equinos (GÓMEZ ALVAREZ et al., 2007). Na literatura científica é relatada uma correlação entre 4,35% (ALVES et al., 2004) até 32% (LANDMAN et al., 2004) de a lombalgia ser a causa da claudicação nos equinos. Essa variação pode ocorrer, como relatada por Haussler em 1996, devido à dificuldade de diagnóstico e tratamento das alterações no dorso equino. Alves et al. (2004) consideram ser uma proporção relevante frente às diversas possíveis afecções do sistema locomotor equino.

Essa alta correlação pode estar associada a constantes recidivas pela dificuldade de diagnóstico e, consequentemente, tratamento paliativo sem resolver a causa primária das lesões (ALVES et al., 2004). Por isso, a biomecânica, ciência que estuda a influência das forças e leis mecânicas nos

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organismos vivos, pode auxiliar em casos que os animais apresentam dor e disfunção, mas não existe trauma claramente relacionado, onde possivelmente a origem seja de compensações biomecânicas, causando queda no desempenho competitivo sem motivo aparente (ROBERTSON et al., 2014). Pois, pode provavelmente estar relacionado com instabilidade intervertebral resultante de alterações do controle neuromotor devido às dores toracolombares (STUBBS et al., 2010).

É relatado que 70% dos equinos atletas sofrem de claudicação pelo menos uma vez a cada ano no esporte. Apesar de alguns desses casos serem por trauma direto, muitos são consequência de movimentos compensatórios do esqueleto axial que passam despercebidos pelo cavaleiro, treinador ou proprietário (WILLIAMS; MCKENNA, 2016). Sendo que a prevalência de dor toracolombar pode variar desde 0,9% dos atendimentos veterinários autônomos, a 46% (JEFFCOTT, 1980) em departamentos de pesquisa especializados em coluna equina, até 94% (HAUSSLER, 1999a) em centros quiropráticos especializados em equinos (STUBBS et al., 2011).

A percepção clínica da dor pode acontecer depois de um longo período de alterações posturais compensatórias, que são capazes de alterar uma série de pressões anatômicas de maneira subclínica. A partir do momento que ignoramos essas mudanças biomecânicas, o tratamento se torna paliativo, pois como também dito anteriormente, a origem da dor pode estar longe de estruturas que manifestam a claudicação ou disfunção (WILLIAMS; MCKENNA, 2016).

Visto isso, como relatado por Fonseca et al. em 2006 a alta incidência, somado a dificuldade diagnóstica e grande importância da região toracolombar na biomecânica dos equinos, justificam pesquisas na área para aprimorar técnicas de diagnóstico e, consequentemente, protocolos de tratamento, inclusive para prevenir lesões e recidivas, pois mudanças posturais compensatórias por algum tipo de dor ou disfunção podem afetar o corpo do animal como um todo, alterando a atuação das forças em tecidos musculoesqueléticos e consequentemente causar alterações em outras estruturas do animal (WILLIAMS; MCKENNA, 2016). Por exemplo, se houver variações anatômicas somadas à atuação alterada do músculo multífidos na estabilidade da articulação lombossacra, provavelmente

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será observado queda de rendimento e aumento do risco de lesões toracolombares (VAN WEEREN; MCGOWAN; HAUSSLER, 2010).

2.3 Manobras para ativação do core equino

As manobras para ativação do core equino buscam aumentar tanto a estabilidade quanto a flexibilidade do esqueleto axial do animal. Além de contribuir para propriocepção, corrigir os desequilíbrios e reajustar o corpo do equino como um todo. Visa também melhorar a postura e reequilibrar a dinâmica entre força e flexibilidade, aliviando tensões deletérias e consequentemente evitando lesões ou recidivas (HIGGINS, 2011).

A prática regular destas manobras para contração e alongamento dos músculos dos equinos é válida para preparar fisicamente os animais a lidarem de forma mais harmônica com a mudança do centro de gravidade do animal provocado pelo peso extra da sela e do cavaleiro (HIGGINS, 2011). Essa atividade busca ativar músculos mobilizadores e estabilizadores do esqueleto axial equino para flexionar naturalmente o segmento cervical e elevar levemente a região toracolombar do equino (CLAYTON, 2016), ou seja, buscando a “posição neutra”, onde o corpo está alinhado em sua plenitude. Nos equinos, esse posicionamento alinhado e levemente curvado do esqueleto axial alivia pressões toracolombares e permite a movimentação fluida do animal (HIGGINS, 2011).

Com esse objetivo, Higgins (2009), Clayton (2016) e Williams e Mckenna (2016) descrevem manobras e alongamentos para ativar músculos epaxiais e hipaxiais, desde os cervicais, peitorais, abdominais e toracolombares até torácicos e pélvicos proximais, pois esses são de grande relevância para melhorar o desempenho atlético, evitar lesões e melhorar o bem-estar dos animais.

A prática, destas manobras de alongamento e ativação muscular, é simples e não requer grandes gastos. Em paralelo com atletas humanos, que regularmente se aquecem antes e alongam depois do treinamento ou competição, despendendo um tempo relativamente curto comparado com os investimentos e expectativas da prática do esporte em si (WILLIAMS; MCKENNA, 2016). Todavia, necessita de conhecimento anatômico e biomecânico para prescrever e induzir os animais a realizarem movimentos que ativem grupos musculares relativamente

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pouco recrutados durante atividades convencionais de cada esporte equestre, buscando assim harmonia, bem-estar e máximo desempenho do animal.

A ativação muscular sem peso é uma das técnicas de cinesioterapia, que abrange também técnicas de alongamento, ativação muscular com peso, exercícios para melhorar amplitude articular e propriocepção, técnicas cardiorrespiratórias e treino funcional (SOUZA; SILVA; FONSECA, 2013).

As manobras podem ser do tipo ativo ou passivo. Existem exercícios ativo-livre, onde o movimento é realizado pelo próprio animal, ativo-assistida, no qual o profissional auxilia na realização do movimento, ou ativo-resistida, em que o profissional exerce uma resistência durante um movimento voluntário (SOUZA; SILVA; FONSECA, 2013). Já os alongamentos passivos, os movimentos são realizados pelo profissional ou por equipamentos (ALTERS, 2001).

O alongamento passivo e estático consiste em atingir certa tensão muscular e manter por alguns segundos e é recomendado para prevenção de lesões e aumento do desempenho atlético. Por outro lado, o alongamento dinâmico, ou seja, ativo-assistido atua em diferentes grupos musculares simultaneamente buscando aumentar o alcance, velocidade e precisão dos movimentos durante a realização da manobra e em outras atividades posteriores (WILLIAMS; MCKENNA, 2016).

O alongamento seja passivo ou ativo proporciona efeitos de alongar as fibras musculares e aumentar o aporte sanguíneo ao tecido. Porém, existem controvérsias na literatura esportiva científica de qual é mais benéfico em cada tipo de modalidade. Pesquisas em seres humanos desportistas demonstram que o alongamento passivo não é recomendado para praticantes de atividades que envolvem mudanças rápidas de direção. Se na literatura humana existe esse conflito de informações, na equina são poucas evidências científicas sobre os benefícios dessas técnicas de alongamento e ativação muscular (WILLIAMS; MCKENNA, 2016).

Voltando à anatomia funcional, as musculaturas epaxial e hipaxial são semelhantes entre diferentes espécies (STUBBS et al., 2006) e proporcionam estabilidade e flexibilidade ao dorso equino, que são fundamentais para condução das forças de locomoção geradas pelos membros pélvicos (STUBBS et al., 2011; CLAYTON, 2016).

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O modelo de “arco e corda” (SLIJPER, 1946) ilustra como o segmento toracolombar (“arco”) deve trabalhar em conformação levemente arqueada para manter a separação dos processos espinhosos e protrair (engajar) os membros pélvicos. Por isso, manobras para ativação da musculatura de estabilidade e flexibilidade do core buscam justamente ativar músculos epaxiais (“arco”) e hipaxiais (“corda”). Como os músculos abdominais, por exemplo, que quando contraídos de forma concêntrica e bilateral promovem a tensão necessária na “corda” contribuindo para elevação almejada do dorso (JEFFCOTT, 1979; DE COCQ; VAN WEEREN; BACK, 2004; VAN WEEREN; MCGOWAN; HAUSSLER, 2010; CLAYTON, 2016).

Em casos de equinos que demonstram má postura em repouso ou movimento pode ser um indício de desequilíbrio entre as musculaturas epaxiais e hipaxiais do esqueleto axial, ou seja, de instabilidade do core. Para contornar essa desestabilidade, protocolos de fortalecimento possuem o objetivo de ativar esses importantes grupos musculares que compõem o “arco e a corda” restabelecendo a tensão desejável e impedindo que o peso das vísceras somado ao da sela e do cavaleiro provoquem dorsoflexão excessiva e altere a biomecânica natural e harmônica do animal (HIGGINS, 2011; CLAYTON, 2016; WILLIAMS; MCKENNA, 2016).

Além da indicação fisioterápica e de manutenção, que é indicada para praticamente todos os equinos, independente da raça, função, modalidade esportiva, nível de treinamento ou capacidade atlética (WILLIAMS; MCKENNA, 2016), estas manobras para ativação muscular também são recomendadas de forma preventiva em animais com restrição de movimentos abruptos e intenso como em casos de debilidade clínica ou pós-cirúrgica para manutenção sadia da musculatura do esqueleto axial (CLAYTON, 2016). Contudo, se existir suspeita de alterações ósseas, articulares ou musculares, o veterinário deve ser cauteloso antes de iniciar a prática de qualquer protocolo com manobras ou alongamentos para o core do animal (HIGGINS, 2011).

Na prática das mobilizações dinâmicas, o equino é induzido com a utilização de reforço positivo, ou seja, com a utilização de uma recompensa que pode ser pedaço de cenoura ou maçã, como também feno ou ração, para encorajar o animal em realizar movimentos específicos de maneira ativo-assistida.

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Inicialmente, o animal deve aprender as posições de maneira gradual em piso firme, mantendo uma postura equilibrada. Por isso, o animal deve ser induzido com a recompensa em manter a posição desejada por cinco até quinze segundos até ser recompensado. Além disso, é recomendado um intervalo de mesma duração entre as repetições (CLAYTON, 2016) e para melhor eficácia inicial das manobras, as mesmas devem ser praticadas regularmente, ou seja, de quatro a cinco vezes por semana por um período de pelo menos três meses, e para manutenção da estabilidade a prática recomendada é de três vezes semanais (HIGGINS, 2011; STUBBS et al., 2011).

A partir do momento que as habilidades do equino para executar as posições são aprimoradas, maior serão os benefícios promovidos por essa prática (HIGGINS, 2011). Também é interessante desafiá-los quando estiverem aptos, mental e fisicamente, variando as posições de apoio quadrupedal ou adicionando superfícies não estáveis abaixo de um ou mais cascos, como discos infláveis de propriocepção ou pranchas infláveis de equilíbrio (CLAYTON, 2016).

Essas variabilidades são interessantes também para manter o animal interessado e atento aos movimentos, sendo indicada a realização destas manobras imediatamente antes da atividade física diária do animal para ativar e aquecer previamente a musculatura de controle postural (CLAYTON, 2016; WILLIAMS; MCKENNA, 2016). Williams (2016) acrescenta que é interessante realizar as mobilizações passivas ao final dos treinamentos diários do animal.

Para realizar os alongamentos passivos, Williams e Mckenna (2016) listaram algumas regras: certificar que o ambiente é seguro e espaçoso suficientemente para as pessoas e o equino, com piso não escorregadio evitando superfícies muito duras; realizar a atividade com o animal contido no cabresto por uma pessoa e não amarrado; habituar o equino gradativamente aos alongamentos; cuidar da postura correta do instrutor que induzirá os movimentos no animal; para equinos jovens, iniciantes ou em reabilitação iniciar com alongamentos de 15 até 20 segundos e aumentar gradualmente até 30 ou 40 segundos; respeitar o limite de cada animal, ou seja, alongar até onde o equino começa a apresentar resistência ao movimento; e não hesitar em consultar um veterinário mais experiente na área de fisioterapia equina.

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2.3.1 Estímulos Reflexivos

Esses estímulos são baseados na aplicação de pressão e atrito em pontos anatômicos específicos no corpo do equino, os quais são capazes de movimentar o dorso quando estimulados digitalmente ou com a utilização de utensílios não cortantes. Esse tipo de movimentação reflexa provoca flexão ou extensão das articulações intervertebrais com objetivo de melhorar elasticidade e flexibilidade do dorso, ativando músculos do core equino que são fundamentais para manter a postura correta, movimentação equilibrada e saúde do animal (HIGGINS, 2011; CLAYTON, 2016).

Esses estímulos reflexivos são importantes para equinos que demonstram região abdominal ou dorsal fraca, sendo recomendada a prática de três a cinco repetições diárias imediatamente antes da atividade rotineira do equino com intervalo de alguns segundos entre as mesmas, para pré-aquecer a musculatura do esqueleto axial (CLAYTON, 2016).

No entanto, recomenda-se cuidado redobrado com cavalos reativos ou com dor em alguma região, podendo utilizar barreiras físicas para garantir a segurança e correta execução da manobra. Além de observar se o animal está confortável, ficar atento a qualquer reação adversa (HIGGINS, 2011; WILLIAMS; MCKENNA, 2016).

A flexão toracolombar é realizada com o estímulo na linha média da cartilagem xifoide do osso esterno, promovendo ventroflexão principalmente no terço final do segmento cervical até a 13ª vértebra torácica. Para realizar esse estímulo, devemos ficar lateralmente aos animais na direção da nona vértebra torácica. Deve-se manter o estímulo por pelo menos cinco segundos e podemos utilizar a técnica digital ou com utensílio não cortante provocando atrito com pressão constante desde a porção mais cranial do osso esterno até sua porção caudal (HIGGINS, 2011; WILLIAMS; MCKENNA, 2016).

Na flexão lombar e lombossacra busca-se a extensão da articulação lombossacra e elevação dorsal lombar bilateral pelo alongamento do longuíssimo dorsal, espinhal e iliocostal e contração dos músculos abdominais, sublombares e glúteo médios. Pode também ocorrer flexão do segmento cervical com direcionamento do crânio ao solo (HAUSSLER, 1999b; HIGGINS, 2011; CLAYTON, 2016; WILLIAMS; MCKENNA, 2016).

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Para isso, pode-se realizar o estímulo digital na base da cauda, no qual devemos pressionar com a movimentação dos dedos indicadores e polegares nas interseções intermusculares entre os músculos bíceps femorais e semitendinosos de cada lado na altura das tuberosidades isquiáticas (CLAYTON, 2016).

Outra forma de realizar essa manobra é estimulando com os indicadores e polegares bilateralmente às tuberosidades sacrais e lentamente mover esses dedos no sentido caudoventral mantendo a pressão e fricção até as proximidades da tuberosidade isquiática (WILLIAMS; MCKENNA, 2016).

Para essas manobras podemos nos posicionar lateralmente aos membros pélvicos do equino ou caudalmente à pelve do animal (HIGGINS, 2011). Vale frisar que é importante buscar um movimento lento, conciso, constante e amplo por parte do animal para isso podemos manter a pressão para realizar a posição por alguns segundos e não devemos aplicar pressão demasiada ou realizar o movimento das mãos abruptamente para evitar reflexos rápidos ou indesejáveis, prevenindo possíveis acidentes (CLAYTON, 2016).

A flexão global consiste em combinar técnicas dos estímulos no osso esterno e na base da cauda, promovendo ventroflexão de maior parte do segmento toracolombar somado a flexão da articulação lombossacra. Para isso, deve-se aplicar primeiro, uma das técnicas do estímulo caudal e depois a pressão na linha média ventral da cartilagem xifoide do osso esterno. Geralmente é necessária a presença de pelo menos duas pessoas para realizar essa associação de estímulos (CLAYTON, 2016).

2.3.2 Manobras de equilíbrio

Equilíbrio é a capacidade de manter o centro de massa corporal dentro dos limites da base de apoio, seja esse bipedal ou quadrupedal (RØGIND et al., 2003; CLAYTON, 2016). Para isso, o sistema de controle postural compensa as perturbações ativando músculos necessários para reequilibrar as forças que atuam no corpo do animal e evitar a perda do equilíbrio postural (PAVOL, 2005; CLAYTON, 2016).

Diferentemente de quando o equino encontra-se em estação, quando em movimento não é necessário que o centro de massa corporal se mantenha dentro do limite das bases de contato dos membros com o solo. Pois no equilíbrio

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dinâmico, existe a resultante das forças que mantém o corpo do animal em movimento horizontal. No entanto, simultaneamente a essa resultante no sentido do movimento, a força da gravidade atrai o corpo do equino em direção ao solo até que o próximo membro de apoio entre em contato com o mesmo e propulsione e redirecione o centro de massa do animal (CLAYTON, 2016).

Visto que quando ocorrem perturbações no equilíbrio corporal do equino em estação o sistema de controle postural excita músculos dos membros e do esqueleto axial para manter o centro de massa dentro dos limites da base de apoio, ou seja, ao realizar algumas repetições de manobras dessa natureza, podemos promover aumento do equilíbrio, coordenação e estabilidade do animal (CLAYTON, 2016).

Porém, os efeitos destas atividades que provocam essas perturbações no equilíbrio e consequentemente ativação da musculatura de movimentação e sustentação do equino ainda não foram estudados experimentalmente, apesar de existirem relatos de melhora da movimentação, coordenação e equilíbrio de equinos praticantes desses movimentos (CLAYTON, 2016).

A tração da cauda é uma manobra que desloca o centro de massa do equino caudalmente, refletindo em músculos do esqueleto axial, ou seja, alongando os dorsais (cervicais e toracolombares) e ativando principalmente os músculos abdominais. É indicada para alongar a passada e evitar desequilíbrios caudais durante o movimento. Para realização, deve certificar-se de que o animal está confortável com a manipulação de sua cauda, para depois tracionar gentil e gradualmente no sentido caudoventral a mesma com o próprio peso do instrutor, mantendo a posição por até 30 segundos (HIGGINS, 2009).

Durante esta manobra de tração de cauda para aumentar a ativação na região cranial, principalmente dos músculos cervicais e peitorais é possível com a ajuda de outra pessoa, induzir que o animal realize extensão cervical para alcançar uma recompensa, movimentando a cabeça do animal em sentido cranioventral pelo menos até a linha horizontal imaginária na altura do osso esterno. Se esse auxiliar não estiver disponível, podemos colocar a recompensa no chão, de preferência uma que o equino leve pelo menos o tempo necessário para realização do movimento e manutenção na posição final correta (HIGGINS, 2009).

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Outra variação dessa manobra é se posicionar em um dos lados da pelve do animal e tracionar gentilmente a cauda do equino lateralmente para estimular a resposta rápida e a resistência dos músculos estabilizadores pélvicos, sendo recrutado principalmente o bíceps femoral para reequilibrar o animal. Esses músculos pélvicos são fundamentais para manter o tônus da região, impedindo a movimentação irregular e excessiva durante a propagação das forças de propulsão dos membros pélvicos na direção do dorso (CLAYTON, 2016).

Também para intensificar os efeitos da tração de cauda lateral, é possível realizar trações gradualmente progressivas, e durante a movimentação a passo ou então associá-la a flexão lombar e lombossacra apresentada anteriormente. Além disso, é importante lembrar de que em manobras laterais, executá-las para ambos os lados (CLAYTON, 2016).

2.4 Eletromiografia

A técnica eletromiográfica tem o objetivo de captar diferenças elétricas desencadeadas pela ativação das unidades motoras, ou seja, quantificando os potenciais de ação dos sarcolemas daquela região muscular. A partir desses dados podemos monitorar a excitação muscular através da oscilação da voltagem em função do tempo (ENOKA, 2000). Esta pode ser invasiva, onde são utilizadas agulhas específicas para captar sinais de músculos mais profundos. Ou então, de superfície, onde sensores cutâneos não invasivos são fixados na pele e regulados para captar sinais eletromiográficos de músculos superficiais.

A eletromiografia de superfície consiste basicamente em voltímetros sensíveis o bastante para identificarem despolarizações (aumento) e hiperpolarizações (queda) da voltagem dos sarcolemas de músculos onde os sensores estão posicionados. Essas diferenças de potenciais elétricos são eventos que precedem a contração muscular propriamente dita (Figura 10). Por isso, a eletromiografia de superfície é indicada para fornecer dados de como o sistema neuromuscular é acionado em determinados movimentos, exercícios ou atividades, sendo utilizada na pesquisa esportiva e de reabilitação (VIGOTSKY et al., 2018).

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Figura 10: Produção de força muscular a partir do estímulo neural. A excitação muscular é provocada pela despolarização dos sarcolemas pelo sistema nervoso central. Esse sinal elétrico desencadeia o potencial de ação da fibra muscular, que leva a ativação muscular. Por fim, a força muscular é produzida após a formação do complexo actina-miosina e transmitida através do músculo. Adaptado de Vigotsky e colaboradores (2018).

Como o próprio nome descreve, a eletromiografia de superfície é uma técnica para mensurar os padrões da estimulação de músculos superficiais, já que o sensor capta sinais provenientes logo abaixo da pele. Contudo, dependendo do músculo alvo e posicionamento do sensor, devemos ter cautela no momento de realizar a leitura dos dados eletromiográficos, pois esses podem sofrer interferência de músculos mais profundos, ou seja, a especificidade dos dados eletromiográfico não é absoluta (ZSOLDOS; KRÜGER; LICKA, 2014).

Apesar disso, a eletromiografia de superfície no ser humano demonstrou resultados compatíveis com os esperados em humanos praticando ciclismo (HUG et al., 2010), sendo amplamente utilizada para avaliar o sistema neuromuscular.

Em humanos, a eletromiografia de superfície é utilizada em pesquisas sobre atividade muscular de populações sadias para analisar a função e interação de músculos e grupos musculares específicos durante a realização de tarefas diárias, atividades esportivas e exercícios físicos. Já em humanos enfermos a eletromiografia de superfície é utilizada para pesquisar e melhor entender disfunções, lesões, dores e doenças musculares (VALENTIN; ZSOLDOS, 2016).

Diferentemente de pesquisas em humanos, onde já existem padrões para relatórios de atividades musculares, diretrizes para o posicionamento dos sensores e processamento dos sinais eletromiográficos, nos animais a utilização da eletromiografia de superfícies se depara com alguns desafios a serem superados, apesar do interesse na biomecânica animal ser crescente nos últimos anos (VAN WEEREN, 2012). Dentre os desafios da técnica em animais destacam-se o modo de preparar a pele para adesão dos sensores eletromiográficos, a maneira para evitar a impedância da pele e como encorajar o animal para realizar o movimento adequado com a mínima interferência externa. Além disso, a normalização eletromiográfica, utilizada em humanos, com a

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mensuração da contração isométrica voluntária máxima se torna inviável em animais (VALENTIN; ZSOLDOS, 2016).

Apesar das dificuldades, as pesquisas em animais aumentaram no decorrer do tempo. O desenvolvimento da transmissão do sinal eletromiográfico por sistema sem fio (wireless) viabilizou o desenvolvimento na área, na qual a maioria dos estudos foi realizada em equinos (ZSOLDOS; KRÜGER; LICKA, 2014; VALENTIN; ZSOLDOS, 2016).

Nessa linha de pesquisa, Valentin e Zsoldos (2016) realizaram uma revisão sistemática onde foram selecionados 38 estudos científicos sobre eletromiografia de superfície em animais durante a realização de movimentos voluntários ou exercícios, que contribuem para o estudo da biomecânica animal, desempenho atlético e reabilitação. Dentre esses, a maioria foi desenvolvida com equinos, totalizando 28 artigos, ou seja, aproximadamente 74%.

Peham et al. (2001) realizaram estudo eletromiográfico com 15 equinos sem sinais clínicos de dor torácica ou lombar. Nessa pesquisa, a atividade do músculo longuíssimo dorsal foi analisada bilateralmente na altura da 12ª e 16ª vértebras torácicas e 3ª vértebra lombar durante dorsoflexão e lateroflexões para ambos os lados. Após análise dos dados foram observados maiores ativações tanto na dorsoflexão quanto nas flexões laterais nos sensores localizados na altura da 12ª vértebra torácica de ambos os lados, demonstrando a influência desse músculo superficial multiarticular do esqueleto axial na flexibilidade do dorso equino.

Portanto, a eficácia de uma manobra para ativação do core equino pode ser comprovada cientificamente. Por ser uma técnica não invasiva e sem fio, a eletromiografia de superfície via wireless permiti mensurar a atividade muscular durante a movimentação dos animais. Esse tipo investigação pode ser relevante para avaliar a atividade de grupos musculares específicos, bem como interações sinérgicas e antagônicas dos mesmos. Já que a eletromiografia de superfície pode fornecer variáveis necessárias para análise do tipo de movimento, permitindo classificar a excitação como simultânea ou independente de regiões musculares específicas (ZSOLDOS; KRÜGER; LICKA, 2014).

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3. REFERÊNCIAS

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<https://www.revistas.usp.br/bjvras/article/view/63891>. Acesso em: 12 nov. 2017. BAILEY, C. J. et al. Wastage in the Australian Thoroughbred racing industry: A survey of Sydney trainers. Australian Veterinary Journal, v. 75, n. 1, p. 64–66, 1997.

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CLAYTON, H. M. Core Training and Rehabilitation in Horses. Veterinary Clinics

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DE COCQ, P.; VAN WEEREN, P. R.; BACK, W. Effects of girth, saddle and weight on movements of the horse. Equine veterinary journal, v. 36, n. 8, p. 758–63, 2004. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15656511>.

DENOIX, J. M.; DYSON, S. J. Thoracolumbar Spine. In: Diagnosis and

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Referências

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