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Vista do Instituto Ambiental Daterra, uma semente que brota no asfalto

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Instituto Ambiental Daterra, uma semente que brota no

asfalto

Charmeni Vargas Valandro Possui graduação em Comunicação Social - Publicidade e Propaganda - Faculdades Integradas de Taquara (2016). Realiza especialização em Poéticas Visuais - Universidade Feevale (2017) e Curso Comunicação Estratégica com Incidência em Políticas Públicas pela Abong (Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais. É Vice-Coordenadora do Instituto Ambiental Daterra de Permacultura e Sustentabilidade e integrante da Comissão de Ética do Organismo de Controle Social Orgânicos Encosta da Serra Sul Ferrabraz.

Resumo

A presente pesquisa busca observar o campo analítico, crítico e semiológico acerca das mensagens explicativas linguística e translinguística sobre o segmento Permacultura trabalhado pelo Instituto Ambiental Daterra, veiculadas por meio do seu Portal. Para isso, trazer-se-á categoria Comunicação (MORIN, 2002a) e sua subcategoria Cor (FARINA, 1990), acompanhadas de Sustentabilidade (LEFF, 2007), Cultura (BARTHES, 1975), Ciberespaço (LEVY, 1999) e Identidade (MORIN, 2002), no nicho planetário. Buscando refletir se tais mensagens podem ou não contribuir para a construção cultural (BARTHES, 1975) sustentável (LEFF, 2007), quando veiculadas no Portal Ambiental Daterra, contemplando assim, o Ciberespaço (LEVY, 1999), podendo, portanto, reverter-se ou não em Identidade Planetária (MORIN, 2002b). Como metodologia, adotou-se a Semiologia (BARTHES, 1999), bem como o tipo de pesquisa Qualitativa (BAUER E GASKELL, 2004) que, em consonância com a fundamentação teórica, oportunizou a análise analítica e crítica das mensagens descritas acima.

Palavras-chave

Instituto Ambiental Daterra, Comunicação, Cultura, Sustentabilidade, Identidade Planetária.

Abstract

The present research seeks to observe the analytical, critical and semiological field about the linguistic and translinguistic explanatory messages on the Permaculture segment worked by the Environmental Institute Daterra, transmitted through its Portal. For this, the category Communication (MORIN, 2002a) and its subcategory Cor (FARINA, 1990), accompanied by Sustainability (LEFF, 2007), Culture (Barthes, 1975), Cyberspace (LEVY, 1999) and Identity MORIN, 2002), in the planetary niche. In order to reflect whether such messages may or may not contribute to the sustainable cultural construction (BARTHES, 1975) (LEFF, 2007), when they are published in the Daterra Environmental Portal, thus contemplating Cyberspace (LEVY, 1999), and can therefore be reversed or not in Planetary Identity (MORIN, 2002b). As a methodology, Semiologia (Barthes, 1999) was adopted, as well as the type of Qualitative research (BAUER and GASKELL, 2004), which, in accordance with the theoretical basis, provided an analytical and critical analysis of the messages described above.

Key words

Instituto Ambiental Daterra, Communication, Culture, Sustainability, Planetary Identity.

1 Introdução

O termo Sustentabilidade (LEFF, 2007), muitas vezes hasteado como bandeira de marcas, temas de programas televisivos, pautas bibliográficas, subsídio para objetos de estudos e foco de discussão no espaço virtual, apresenta, no entanto, uma realidade muito mais próxima do cotidiano das pessoas e da vivência na Terra. De acordo com Leff (2007, p.15), considera “uma condição para a sobrevivência humana e um suporte para chegar a um

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desenvolvimento duradouro, questionando as próprias bases da produção”.

Graças à revolução industrial e ao crescimento exponencial da população possivelmente induzida ao consumo, temos, no século XXI, um planeta em total desequilíbrio ecossistêmico. Embora a degradação ambiental pareça ter começado mais veementemente com a mudança dos métodos de produção e a fabricação em grande escala, com a facilidade de transporte e o surgimento do sistema capitalista, ainda no século XIX, foi apenas nos anos 60 que esta destruição começou a ser abordada por pessoas isoladas e em pequenos grupos, entre elas Rachel Carson, com o livro Primavera Silenciosa (CARNEIRO, 2003).

Depois disso, diversos foram os debates e as discussões institucionais e governamentais acerca do tema, que hoje aponta a urgência de um desenvolvimento sustentável planetário baseado em uma redução da desigualdade social, no equilíbrio entre as questões sociais e econômicas e na reciclagem de pensamentos e de amostragens culturais (BARTHES,1975) instituídas.

Diante desse contexto, encontramos as organizações não governamentais, entidades privadas sem fins lucrativos que têm seus trabalhos desenvolvidos em prol da Sustentabilidade (LEFF, 2007). Como o Instituto Ambiental Daterra de Sustentabilidade e Permacultura, fundado em 2010 por um grupo de pessoas engajadas nas questões ambientais e sustentáveis. Localizado em Estância Velha, região metropolitana de Porto Alegre, num espaço de cerca de três hectares1, onde acontecem as práticas das questões abordadas na teoria pela ONG.

Por meio do desenvolvimento de diversas técnicas sustentáveis, como agroreflorestamento e a implementação dos designs da Permacultura, observados e vivenciados na sede da ONG, busca-se o objetivo de atuar pela melhoria da qualidade de vida, saúde e formação da população, proteção e conservação dos recursos naturais e culturais (BARTHES, 1975), pelo desenvolvimento socioambiental, tecnológico e sustentável. (DATERRA CENTRO AMBIENTAL, [201-?])

Frente à explanação, acima pontuada, migramos ao Ciberespaço (LEVY, 1999), buscando identificar como as mensagens linguística e translinguística veiculadas pelo Daterra e vinculadas aos princípios da Permacultura podem auxiliar ou não na construção da Cultura (BARTHES, 1975), capaz de integrar a Cibercultura (LEVY, 1999) no plano da Sustentabilidade (LEFF, 2007), sendo passível ou não de reversão em favor de uma Inteligência Coletiva (LEVY, 1999), em prol ou não de uma Identidade Planetária (MORIN, 2002b).

Identificamos o Portal Daterra como o veículo comunicacional pelo qual as pessoas podem buscar informações sobre a ONG, junto ao plano do Ciberespaço (LEVY, 1999). E o corpus do trabalho será determinado pela postagem relativa ao período pós-banca, 4 de agosto de 20162, que refere-se à imagem ilustrativa e ao linguístico atrelados à Permacultura, cujo acesso é passível mediante navegação pelo Portal Daterra. (DATERRA CENTRO AMBIENTAL, [201-?]).

Dessa forma, através de uma análise crítica e semiológica (BARTHES, 1975), buscamos identificar se a Comunicação (MORIN, 2002a) e a sua subcategoria Cor (FARINA, 1990), configuradas em mensagens linguística e translinguística ligadas à Permacultura, veiculadas por meio do Portal Ambiental Daterra, serão capazes ou não de auxiliar na construção cultural (BARTHES, 1975) sustentável (LEFF, 2007) no âmbito do Ciberespaço

1 Algumas informações sobre o Instituto Daterra são, aqui, compartilhadas e geradas a partir da vivência

atuacional da autora da pesquisa junto à ONG.

2 O período selecionado para a análise leva em consideração a reformulação do corpus tão logo houve a

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(LEVY, 1999), em prol da sedimentação ou não de uma Identidade direcionada ao viés planetário (MORIN, 2002b).

Para tanto, a fim de direcionar este estudo, explicitamos nosso objetivo geral que busca refletir sobre a maneira como as mensagens linguísticas e translinguísticas, veiculadas via Portal Daterra Centro Ambiental, são capazes de contribuir ou não para a concepção cultural (BARTHES, 1975) sustentável (LEFF, 2007) quando parte integrante do Ciberespaço (LEVY, 1999), podendo reverter-se ou não na consolidação de uma Identidade Planetária (MORIN, 2002b).

Na especificidade, objetivamos 1) compreender como a Comunicação (MORIN, 2002a), baseada nas mensagens linguística e translinguistica, disseminadas pelo Portal Daterra, são passíveis ou não de traduzir os princípios sustentáveis, bem como pontuar se a Cor (FARINA, 1990) é passível ou não de reforçar o viés translinguístico frente ao linguístico a partir da decodificação da imagem ilustrativa acerca da Permacultura; 2) observar se a amostragem imagética e textual, identificada junto ao Portal Daterra, referentes à Permacultura, está apta ou não para contribuir no processo da construção cultural (BARTHES, 1975) de cunho sustentável (LEFF, 2007); 3) sinalizar se o Portal Daterra, parte comunicacional integrante do Ciberespaço (LEVY, 1999), consegue ou não promover interação junto ao ponto de Permacultura, em prol de fomentar uma Cibercultura (LEVY, 1999), capaz ou não de ser revertida em Inteligência Coletiva (LEVY, 1999) no recorte da Sustentabilidade (LEFF, 2007); 4) perceber se o veículo Portal do Instituto Ambiental Daterra (LEVY, 1999) veicula mensagens linguísticas e translinguísticos sobre Permacultura, em favor ou não de uma legitimação cultural (BARTHES, 1975) sustentável (LEFF, 2007), em favor ou não do reforço no quesito postural ligado à Identidade Planetária (MORIN, 2002b).

Como embasamento teórico para o desenvolvimento da pesquisa, procuramos recorrer à categoria Comunicação (MORIN, 2002a), e sua subcategoria Cor (FARINA, 1990), assim como pelas categorias Cultura (BARTHES, 1975), Sustentabilidade (LEFF, 2007), Ciberespaço (LEVY, 1999) e Identidade (MORIN, 2002b), no recorte planetário, sendo que as duas últimas descritas afloraram no decorrer analítico.

2 Fundamentação teórica

2.1 Comunicação

A fim de desdobrarmos como problemática uma reflexão sobre como a Comunicação (MORIN, 2002a) e a subcategoria Cor (FARINA, 1990), fazendo uso da imagem ilustrativa referente à Permacultura disposta no Portal Daterra Centro Ambiental, configurado no âmbito do Ciberespaço (LEVY, 1999) fornece subsídios linguísticos e translinguísticos para a sedimentação da Cultura (BARTHES, 1975) e Cibercultura (LEVY, 1999) em prol da Sustentabilidade (LEFF, 2007), com vistas para a Identidade Planetária (MORIN, 2002b), buscamos compreender como a Comunicação (MORIN, 2002a) contribui para o todo desta pesquisa a partir de suas conceituações.

A expressão Comunicação (MORIN, 2002a) deriva do latim communicatio 3cuja raiz munis significa “estar carregado de”4; o prefixo “co”5, que configura reunião, simultaneidade,

e a terminação “tio”6, que reforça a ideia de atividade. Assim, temos a visão de uma atividade

3 Usamos o itálico por estarmos tratando de uma expressão latina. 4 Aspas selecionadas pela autora do trabalho

5 Aspas pontuadas pela pesquisadora 6 Aspas determinadas pela pesquisadora

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realizada conjuntamente (HOHLFELDT; MARTINO; FRANÇA, 2011).

Utilizada, primeiramente, no vocabulário religioso, a referida expressão determinava o ato de fazer a refeição da noite em conjunto e, mais do que uma prática social natural, tinha como plano de fundo o rompimento do isolamento eclesiástico (HOHLFELDT; MARTINO; FRANÇA, 2011).

Nesse sentido original da palavra, temos alguns apontamentos importantes:

1) o termo comunicação não designa todo e qualquer tipo de relação, mas aquela onde haja elementos que se destacam de um fundo de isolamento; 2) o intenção de romper o isolamento;

3) a ideia de uma realização em comum (HOHLFELDT; MARTINO; FRANÇA, 2011, p. 13)

A Comunicação (MORIN, 2002a), então, exprime a relação entre consciências com objetos comuns. Conforme Hohlfeldt; Martino; França (2011, p. 14), “(...) não designa nem o ser, nem a ação sobre a matéria, tampouco a práxis social, mas um tipo de relação intencional exercida sobre outrem”.

De forma bastante usual costumamos pontuar que a Comunicação é considerada a passagem de informação de uma pessoa/grupo para pessoas/grupos (MORIN, 2002a). Portanto, além de transmitir informações, incluímos no comunicar a negociação, a filtragem e a dubiedade entre emissor e receptor já que ambos exercem a dupla função nos processos comunicacionais contemporâneos.

Para fortalecer o posicionamento comunicacional, retomamos Wolton (2010), apontando que a informação é a mensagem, e a comunicação é um processo de transmissão de mensagens que envolve vários fatores exógenos como ruído7, redundância8 e entropia9, fundamentalmente.

Para Hohlfeldt; Martino; França (2011, p. 23), “Comunicar é simular a consciência de outrem, tornar comum (participar) um mesmo objeto mental (sensação, pensamento, desejo, afeto)”, meio pelo qual os seres humanos constroem a subjetiva interface consigo e com o mundo.

A partir da noção conceitual explorada por Morin (2002a), observamos o seu diálogo e suas diferenciações frente à compreensão.

Mas não devemos confundir comunicação e compreensão, porque a comunicação é a comunicação de informação às pessoas ou grupos que podem entender o que significa a informação. Mas a compreensão é um fenômeno que mobiliza os poderes subjetivos de simpatia para entender uma pessoa como uma pessoa que é também sujeito. (MORIN, 2002a, p.42-43)

Frente ao objeto deste artigo, as manifestações da cidadania planetária que surgem ao redor do mundo conseguem fazer da Comunicação (MORIN, 2002a) um viés de extrema importância para a compreensão sustentável (LEFF, 2007).

Isso torna possível vislumbrar a comunidade humana integral, intencionando respeitar

7 O ruído é interferência que atrapalha a transmissão e a compreensão da mensagem (HOHLFELDT;

MARTINO; FRANÇA, 2011).

8 A redundância é a repetição para a melhor compreensão da mensagem (HOHLFELDT, MARTINO; FRANÇA,

2011).

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a diversidade e reconhecendo as mais diversas problemáticas nos âmbitos globais e locais (MORIN, 2002b).

A partir daí, começamos a observar a mercantilização da vida, criticando-a através de atitudes e posicionamentos. Eis, aí, a possibilidade de surgimento de um modo existencial que fuja dos padrões tradicionais, exigindo mais consciência, mais engajamento e mais complexidade comunicacional e compreensiva. Os tempos são outros e a contemporaneidade é fluida.

Seguimos para a subcategoria Cor (FARINA, 1990), que nos aponta um embasamento necessário para a análise da utilização cromática nas imagens ilustrativas encontradas no Portal Daterra Centro Ambiental.

2.1.1 Cor

Segundo Farina (1990, p. 21) “(...) é uma onda luminosa, um raio de luz branca que atravessa nossos olhos”. Ela exerce uma ação tríplice no indivíduo atingido pelo diálogo visual, objetivando impressionar, expressar e construir. Quando uma Cor é captada, impressiona a retina, provoca uma emoção e cria um significado próprio, trazendo uma ideia. (FARINA, 1990).

Então, aqui apontada como subcategoria do conceito de Comunicação (MORIN, 2002a), a Cor (FARINA, 1990) é capaz de ser considerada uma importante ferramenta mercadológica que necessita ser analisada e ser usada estrategicamente como um instrumento persuasivo.

Dos vários elementos que compõem uma peça de Comunicação (MORIN, 2002a), a Cor (FARINA, 1990) é uma espécie de código fácil de entender e assimilar. Ela busca representar o conceito e conteúdo da mensagem, graças aos ajustes junto aos requerimentos psicológicos e vivenciais cotidianos do público para a qual se destina.

No decorrer, abordaremos a categoria Sustentabilidade que, de acordo com Leff (2007), tem a função de suporte da natureza, na condição e no potencial do processo de produção.

2.2 Sustentabilidade

A expressão Sustentabilidade (LEFF, 2007), que ecoa em muitas vozes, teve nos anos 60, uma das suas primeiras disseminações, por meio do livro Primavera Silenciosa, de Rachel Carson. Desde então, várias têm sido as adaptações e estratégias utilizadas pelos chefes de Estados a fim de promover reflexões sobre a irracionalidade ecológica e sobre os padrões dominantes de produção e consumo. (Leff, 2007)

Tal racionalidade ambiental coloca em questão os fundamentos da racionalidade econômica, gera uma reorganização da produção sustentável aberta à diversidade cultural e à variação das formas de desenvolvimento, construindo uma globalidade alternativa a partir da multiplicidade cultural e da autonomia das populações locais (LEFF, 2007).

Os movimentos ambientais entram em jogo aqui como lutas de resistência e protestos pela erradicação da pobreza, controle de recursos naturais, autogestão de seus processos produtivos e autodeterminação de suas condições de vida.

A gestão ambiental participativa, então, propõe a integração da população marginalizada num processo de produção para a satisfação das suas necessidades fundamentais, respeitando as identidades coletivas e aproveitando o potencial ecológico dos

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recursos ambientais (LEFF, 2007).

Assim, criam-se novas formas de vida social, diversidade de projetos culturais em múltiplas opções produtivas, melhorando as práticas tradicionais de uso de recursos, considerando os saberes e valores intrínsecos dos povos e os avanços da tecnologia moderna. (LEFF, 2007)

“A consciência ambiental se coloca como consciência de todo o gênero humano, convocando todo o indivíduo como sujeito moral para construir uma nova racionalidade social” (LEFF, 2007, p. 92) que se manifesta em um conjunto de práticas sociais que dão sentido à existência humana, via comportamentos em harmonia com a natureza e através de valores culturais e princípios democráticos, cujo objetivo é preservar os recursos naturais, envolvendo as comunidades na gestão do seu ambiente.

Neste processo de recomposição social surgem novas organizações profissionais, órgãos não-governamentais, grupos privados e associações civis que buscam oportunidades de participação nos espaços econômicos e políticos abertos pela problemática ambiental (LEFF, 2007, p. 103).

A cidadania, então, reclama seu direito de participar nos processos de produção e na tomada de decisões que afetam suas condições e sua qualidade de vida, frente à ordenação do Estado e do mercado. É um ponto de inflexão na História, marcado pela crise ambiental que dissipa “os suportes ideológicos e as certezas subjetivas que geraram os paradigmas de conhecimento10 e os dogmas do saber no ambivalente progresso da modernidade11” (LEFF,

2007, p. 119).

A racionalidade ambiental aponta para o renascimento das identidades que parecem ter sido contidas por um caminho de homogeneização e dominação advindas da globalização, da qual a natureza e a cultura podem ter sido ignoradas (LEFF, 2007). “A partir da perspectiva de uma política do espaço, do lugar e do tempo, reivindica-se o direito à autonomia do ser, dos povos, das pessoas em geral.” (LEFF, 2007, p. 339).

A nova racionalidade ambiental, base da Sustentabilidade (LEFF, 2007), descortina uma crise de civilização, uma transformação histórica da humanidade, pois questiona a realidade cunhada pela lógica e pela gramática com as quais construímos nosso mundo. Essa transição implica novos sentidos existenciais e novas relações organizacionais, que forjam novos projetos históricos e culturais. Nesse sentido e propósito, Leff (2007, p. 409) sugere: “Cantemos a sustentabilidade em clave de sol. Articulemos os tempos cósmicos e planetários com os processos globais a partir da diversidade de racionalidades ambientais e culturais locais”.

Após as colocações aqui apontadas sobre Sustentabilidade, conforme propõe Leff (2007), observamos o diálogo com o todo e as partes do nosso trabalho, especialmente, quando resgata a força comunitária na disseminação de uma ideia alterando, gradativamente, a mentalidade de grupos que, por sua vez, dão sequência, replicando em outras esferas de relacionamento.

O todo do Instituto Daterra, que transpira ambientalismo em todas as suas manifestações, é reverenciado, aqui, por meio das atividades de Permacultura desenvolvidas e

10 O conhecimento, de acordo com Morin (1999), pode ser vislumbrado como uma construção processual,

ganhando ênfase a partir do Princípio da Reintrodução, parte do todo do Paradigma da Complexidade. Essa noção não será trabalhada a priori no presente estudo.

11 O conceito de modernidade não será abordado nesta pesquisa. Apenas surge em função da citação de Leff

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catalogadas no Portal Daterra Centro Ambiental, que paira sob o tema da Sustentabilidade (LEFF, 2007) e a imagem ilustrativa, apontada como objeto de estudo, que serve como divulgação do trabalho desenvolvido em prol desta temática.

No decorrer conceitual, chegamos à Cultura (BARTHES, 1975), que é o meio pelo qual a abordagem Sustentável (LEFF, 2007) ganha corpo, na disseminação dos conceitos abordados na imagem ilustrativa veiculada no Portal, no campo do Ciberespaço (LEVY, 1999).

2.3 Cultura

De acordo com Barthes (1975) Cultura pode consistir no conjunto infinito das leituras e das conversas que compõem o Intertexto12, derivado do sistema geral de símbolos incluindo, especialmente, o âmbito linguístico, bem como calcando-se na diversidade das disciplinas.

Para o autor

Tudo é Cultura, do vestuário ao livro, da alimentação à imagem, e a Cultura está por toda a parte, de uma ponta à outra das escalas sociais. Essa Cultura, decididamente, é um objeto bem paradoxal: sem contornos, sem termo oposicional, sem resto. (BARTHES, 2012, p. 109)

Entre suas características, a Cultura (BARTHES, 1975), busca exibir sua onipresença na História da humanidade. Logo “(...) é, também, e principalmente, o que fica, como um cadáver imperecível: é um brinquedo estranho que a História não quebra jamais.” (BARTHES, 2012, p.110)

Diante da observação da Cultura de massa, aquela que temos em comum e que paira no âmbito do nivelamento e da homogeneização nos receptores, a divisão comportamental entre os homens fica evidente, pois segundo Barthes (2012, p. 91), “(...) a unidade da Cultura de massa responde, na nossa sociedade, uma divisão não apenas das linguagens, mas da própria linguagem”.

Diante da complexidade interpretativa decorrente da leitura de cada grupo, o autor busca, na relatividade, integralizar as linguagens:

[...] como é que hoje em dia, na nossa sociedade ocidental, dividida nas suas linguagens e unificada em sua Cultura, como é que as classes sociais, aquelas que o marxismo e a sociologia nos ensinaram a reconhecer, como é que elas olham para a linguagem do Outro? Qual é o jogo de interlocução (infelizmente tão decepcionante) a que, historicamente, elas estão presas? (BARTHES, 2012, p. 112).

Num mundo em que a persuasão da Cultura massiva e sua influência em hábitos e comportamentos é perceptível através da introdução de linguísticas empobrecidas quanto ao questionamento e ricas em submissão,

Um jogo de passa-anel parece pautar assim a guerra cultural: as linguagens estão bem separadas, como os participantes do jogo, sentados uns ao lado dos outros; mas o que passa, o que foge, é sempre o mesmo anel, a mesma

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76 Cultura: imobilidade trágica da cultura, separação dramática das linguagens, tal é a dupla alienação da nossa sociedade. (BARTHES, 2012, p. 114).

Num diálogo com o conceito cultural barthesiano (1975), partimos para a ótica de Morin (2002b) o qual afirma que a Cultura é constituída por tudo que se transmite de geração em geração, desde os saberes, os fazeres, as regras, as normas, as proibições, as crenças e os valores, reverenciando a singularidade da Cultura (MORIN, 2002b) inerente a cada indivíduo primando, assim, pela complexidade social e psicológica. Logo, para o autor, “As interações entre os indivíduos produzem a sociedade, que testemunha o surgimento da Cultura, e que retroage sobre o indivíduo pela Cultura”. (MORIN, 2002b, p. 54)

Ainda sob o conceito de Morin, “O paradigma instaura relações primordiais que constituem axiomas, determina conceitos, comanda discursos e ou teorias” (2002b, p. 26), percepção assinalada como Imprinting Cultural, ou seja, tudo que vamos absorvendo desde o nascimento como verdades e caminhos.

O Imprinting Cultural limita o nosso poder de contestação, uma vez que a base da construção do indivíduo é a observação e imitação. Assim, “O imprinting cultural marca os humanos desde o nascimento, primeiro com o selo da cultura familiar, da escola em seguida, depois prossegue na universidade ou na vida profissional” (MORIN, 2002b, p. 28).

Porém, este fato não pode ser considerado fechado em si, pois os indivíduos têm o poder de refletir sobre ele e, assim, buscar alternativas. Morin (2002b) considera que todas as amostragens culturais têm virtudes e ignorâncias fazendo com que os indivíduos recorram ao referencial passado para compreender as manifestações presentes, prospectando o futuro. É um verdadeiro passeio mental coletando e tecendo conjuntamente a base particular/coletiva da humanidade.

As bases do passado projetadas na construção de um presente e de um futuro parecem revelar a interface com o canal comunicacional em voga nesta pesquisa. O Portal Daterra Centro Ambiental brota das sementes do ontem, regadas e transformadas em vistosa vegetação, rastreada em tempo real e com extensão ímpar.

Sob uma outra perspectiva, trazemos a visão de Cultura via McLuhan (2003), que confirma estarmos numa situação nunca antes imaginada, pois graças ao acesso à informação, proporcionada pela tecnologia e os meios de comunicação, podemos vislumbrar relações casuais, padrões de mudança e desenvolvimento. “O mundo todo, passado e presente, agora se desvenda aos nossos olhos como uma planta a crescer num filme extraordinariamente acelerado”. (MCLUHAN, 2003, p. 395) Para o autor, a automação e a eletricidade criaram uma necessidade de pensar a integração mundial, ver o mundo como uma aldeia global, da qual “os estoques não são tanto feitos de bens armazenados quanto de materiais em contínuo processo de transformação em lugares especialmente afastados” (MCLUHAN, 2003, p. 389). Legitima-se, portanto, uma interdependência orgânica, “porque os meios elétricos criam, instantânea e constantemente, um campo total de eventos interagentes do qual todos os homens participam”. (MCLUHAN, 2003, p. 278).

Essa visão de McLuhan corrobora com a perspectiva barthesiana sobre Cultura (1975), dando vazão à amplitude conceitual e prática de tal concepção teórica, bem como com o Imprinting Cultural (MORIN, 2002b), promovendo um enfrentamento entre o ontem, o hoje e o amanhã, revisitados independentes do tempo e do espaço como veremos, a seguir, na categoria Ciberespaço e Cibercultura (LEVY, 1999).

Apenas como retomada, trouxemos outros olhares em decorrência da amplitude conceitual de Cultura. No entanto, a nossa ótica e aplicabilidade junto à análise é feita conforme a noção de Barthes (1975) que, no ponto de vista da autora do presente artigo, possui uma abrangência satisfatória, em especial, quando consonante à metodologia.

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2.4 Ciberespaço e Cibercultura

Para o desenvolvimento desta categoria procuramos fazer uma introdução com base nos pensamentos de McLuhan (2003) sobre os meios de comunicação e buscamos entender como o Ciberespaço (LEVY, 1999) e a Cibercultura (LEVY, 1999) podem influenciar na disseminação da mensagem de cunho Sustentável (LEFF, 2007) pretendida pelas imagens ilustrativas do Portal Daterra Centro Ambiental.

Para McLuhan (2003), o estudo dos meios de comunicação possibilita-nos abrir as portas da percepção por assinalar os meios como extensões humanas, afetando o complexo psíquico e social. Portanto, torna-se improvável negligenciá-los ou desprezá-los.

Na era da informação e da comunicação, percebemos, nitidamente, que a evolução e o desenvolvimento dos meios, logo novas extensões do homem, surgem acompanhadas de mensagens relacionadas diretamente aos meios que utilizam, chegando-se, assim, à célebre distinção de que o meio é a mensagem, pois é o meio que configura e controla a proporção e a forma das interrelações humanas. “O interesse antes pelo efeito que pelo significado é uma mudança básica de nosso tempo, pois o efeito envolve a situação total e não apenas um plano do movimento da informação”. (MCLUHAN, 2003, p, 42 e 43)

A universalidade é a marca dessa visão, incluindo sem homogeneizar. “O ciberespaço encoraja uma troca recíproca e comunitária, enquanto as mídias clássicas praticam uma comunicação unidirecional na qual os receptores estão isolados uns dos outros” (LEVY, 1999, p. 203).

Desta forma, o Ciberespaço (LEVY, 1999) é, acima de tudo, espaço de comunicação, sociabilidade, trocas, transações, comércio, produção industrial, mas também um mercado de interações capaz de contribuir para a construção processual do conhecimento13 (MCLUHAN,

2003). De onde brotam as comunidades virtuais, que têm por base as afinidades de interesses, de conhecimentos, de trocas de experiências, independentes da proximidade geográfica, configurando, portanto, a Cibercultura (LEVY, 1999).

Com a interconexão mundial, um novo laço social pode ser vislumbrado, não mais fundado em relações de dominação física, territorial ou institucional, mas em centros de interesses comuns, encorajando a multiplicidade e a universalização.

Braço do Ciberespaço (LEVY, 1999), a Cibercultura (LEVY, 1999) ancora a era da internet, da sua imensidão, do canal de fácil acesso que torna o desconhecido em protagonista, que reafirma a interconexão, que promove os encontros em comunidades virtuais e que dá voz à inteligência coletiva, fato este que pode ser considerado a aspiração mais intrínseca da Cibercultura (LEVY, 1999), pois através dele buscamos aproximação com a liberdade comunicacional, com a expressão das singularidades, com as relações recíprocas de experiências. Para Levy (1999, p.153), “Cabe aos atores sociais, aos ativistas culturais aproveitá-la, a fim de não reproduzir no ciberespaço a mortal dissimetria do sistema das mídias de massa”.

Portanto, a Cibercultura

[...] traz como cartão de visitas a participação, a integração, as múltiplas possibilidades, a conexão e o desafio frente ao desconhecido, a universalização, porém distante da totalização e a soma mediante a mutável elaboração do hiperdocumento universal (LEVY, 1999, p.153).

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Como mencionado anteriormente, a categoria Ciberespaço, juntamente com Cibercultura (LEVY, 1999), integram o referencial teórico desta pesquisa com o propósito de contemplar o canal comunicacional virtual no recorte do Portal do Instituto Daterra, através do qual poderemos identificar o segmento Permacultura trabalhado pela ONG.

2.5 Identidade

A sequência conceitual leva-nos para a Identidade (MORIN, 2002b), percebendo que mesmo a coletiva e a universalização sem totalização, como aponta a Cibercultura (LEVY, 1999), parece não se eximir do olhar individual, parte favorável e considerável na concepção do todo e da inteligência coletiva. Para tal, Morin (2002b, p. 55) acredita que “todo desenvolvimento verdadeiramente humano significa o desenvolvimento conjunto das autonomias individuais, das participações comunitárias e do sentimento de pertencer à espécie humana”.

Essa visão acaba por recair sobre os processos globalizadores14 seculares que parecem

imprimir na humanidade uma Identidade homogênea. “A mundialização é ao mesmo tempo evidente, subconsciente e onipresente” (MORIN, 2002b, p.68), capazes de serem percebidas nas manifestações tanto particularizadas quanto coletivas.

Em contraponto aos movimentos unificadores generalistas, buscamos resgatar a Identidade (MORIN, 2002b) ancorada no Imprinting Cultural (MORIN, 2002b) ancestral, procurando retomar a visão de um desenvolvimento sustentável (LEFF, 2007) que ultrapasse o material, permeando o intelecto, o afetivo e o moral, a fim de que venhamos evitar a degradação ecológica sem retorno, desembocando na escassez das espécies vivas.

Diante disso, o autor aponta que, além de podermos interagir em escala mundial, devemos nos situar na cidadania terrestre. “Compreender o humano é compreender sua unidade na diversidade, sua diversidade na unidade. É preciso conceber a unidade do múltiplo, a multiplicidade do uno” (MORIN, 2002b, p. 55).

Morin (2002b) defende que as tomadas de consciência tornaram-se urgentes e primordiais na contemporaneidade para restaurar o princípio da esperança, não mais cientificamente como na modernidade, mas com a possibilidade de entendimento e pertencimento. Para o autor, “A consciência de nossa humanidade nesta era planetária deveria conduzir-nos à solidariedade e à comiseração recíproca, de indivíduo para indivíduo, de todos para todos”. (MORIN, 2002b, p. 78).

Logo, a ativação mental e cerebral é capaz de protagonizar um terceiro milênio pontuando a importância de uma cidadania planetária, valorizando o passado e abrindo os horizontes para o agora e para o que está por vir. Parece ser nessa esfera que se consolida gradativamente a Identidade contemporânea (MORIN, 2002b), sensibilizada pela contracorrente ecológica.

Para tanto, é necessário conscientização antropológica, ecológica, cívica terrena e espiritual. Precisamos aprender a estar aqui no planeta, reconhecer a unidade na diversidade, responsabilizarmo-nos pela morada, compartilhada com todos os seres vivos, que é a biosfera, nos solidarizar com os filhos da Terra e permitir, através do pensamento complexo, criticar a nós e aos demais.

Este princípio parece reforçar o resgate das raízes, muitas delas fragmentadas, em

14 “(...) o mundo se encontra cada vez mais uno e cada vez mais particularizado [...] Uno no sentido de que cada

parte do mundo faz parte cada vez mais do mundo em sua globalidade. E que o mundo em sua globalidade encontra-se dentro de cada parte” (MORIN, 2002a, p. 46).

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favor da retomada de uma Identidade humana com a assinatura dos cidadãos de uma Terra-Pátria contemporânea, conectada e no limite da aceitação de seus equívocos ambientais seculares (MORIN, 2002b). Assim, somos capazes de situar cada um de nós num contexto planetário do qual somos produtos e produtores, compartilhando problemas e soluções.

Somente humanizando, conscientizando e estabelecendo uma conexão profunda com a natureza, os seres humanos nas suas individualidades podem dar as mãos na concepção da múltipla e rica identidade planetária, promovendo um desenvolvimento sustentável (LEFF, 2007) calcado numa Cultura (BARTHES, 1975) ecologicamente correta e palpável, disseminada por canais e por mensagens comunicacionais que transformem os distanciamentos em proximidades com o objetivo da própria preservação e da retribuição à Gaia.

Logo, ao adotarmos Identidade como categoria, direcionamo-nos ao viés do indivíduo mediante o viés planetário trabalhado incessantemente pelo Instituto Daterra, em sua amplitude atuacional, conforme veremos na análise.

3 Metodologia

Com intuito de resolver a problemática deste artigo, utilizamos como metodologia a Semiologia barthesiana (1999).

Porém, antes de a conceituarmos de acordo com Barthes (1999), além das demais áreas que já a utilizam na prática, recorreremos à História e pontuamos a primeira vez que o termo foi publicado, por Saussure, em 1916, no Curso de Linguística Geral, onde se admitia uma ciência geral dos signos e da qual a linguística fazia parte. Sendo assim, “a Semiologia tem por objeto, então qualquer sistema de signos, seja qual for sua substância, sejam quais forem seus limites” (BARTHES, 1999, p.11).

Nos primórdios da Semiologia, sua tarefa dupla consistia: (...) “de um lado, esboçar uma teoria geral da pesquisa semiológica, de outro elaborar semióticas particulares, aplicadas a objetos, a domínios circunscritos (o vestuário, a alimentação, a cidade, a narrativa, etc.)” (BARTHES, 1999, p. 7).

Porém, Barthes (1999) defende que a semiologia “não é puramente científica, mas relaciona-se com o conjunto do saber e da escritura” (1999, p. 7). Para ele ainda, “(...) qualquer que seja a exigência científica de que se deva investir a pesquisa semiológica, essa pesquisa tem imediatamente, no mundo tal como é, uma responsabilidade humana, histórica, filosófica, política.” (BARTHES, 1999, p. 8).

Diante disso, o autor (1999) vê a Semiologia como contextualizadora, buscando extrapolar a visão-linguagem, chegando ao âmbito translinguístico.

Conforme Barthes (1999, p. 13), “A Semiologia é talvez, então, chamada a absorver-se numa transliguística [...]” sendo parte de uma linguagem que questiona a própria linguagem, ela teoriza um novo saber, liquidando passadas visões e conceituações.

Em sua essência, a Pesquisa Semiológica prima pelo objeto de estudo sendo que, para a sua delimitação, Barthes (1999) recorre à Linguística, encontrando o Princípio da Pertinência, que consiste em, por conta do pesquisador

(...) descrever os fatos reunidos a partir de um só ponto de vista e, por conseguinte, o reter, na massa heterogênea desses fatos, só os traços que interessam a esse ponto de vista, com a exclusão de todos os outros (BARTHES, 1999, p. 103).

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Logo, sem negar outras óticas, a aliança da Pesquisa Semiológica com o Princípio da Pertinência procura focar na representatividade relativista de sentidos dos quais determinados objetos delimitados pelo pesquisador são dotados (BARTHES, 1999).

Então, podemos considerar que o sistema analítico parte do interior do pesquisador e das suas referências, atribuindo significantes e significados balizados pelo seu contexto (BARTHES, 1999).

Para chegar nesse patamar, porém o analista busca identificar e definir o corpus da pesquisa, que é “uma coleção finita de materiais, determinada de antemão pelo analista conforme certa arbitrariedade (inevitável) em torno da qual vai trabalhar.” (BARTHES, 1999, p. 104). Isso faz com que o pesquisador busque a visão multifacetada do objeto e suas ofertas analíticas.

Barthes (1999, p. 105) indica duas recomendações a respeito da escolha do corpus: “(...) deve ser bastante amplo para que se possa razoavelmente esperar que seus elementos saturem um sistema completo de semelhanças e diferenças [...], deve ser o mais homogêneo possível”.

Em sua aplicabilidade, no presente artigo, a Pesquisa Semiológica mostra total sintonia, sendo que usamos como corpus a imagem ilustrativa referente à Permacultura, veiculada no Portal Daterra Centro Ambiental, ratificado pelo Princípio de Pertinência, pela relativização, pelo linguístico e pelo translínguístico em comunhão com a Fundamentação Teórica.

Para conjugar com a Pesquisa Semiológica, resgatamos o tipo de pesquisa no plano Qualitativo (BAUER, GASKELL, 2004), a fim de que possamos discernir pontualmente ao invés de quantificar, conforme afirmam os autores:

(...) No nosso ponto de vista, a grande conquista da discussão sobre métodos qualitativos é que ela, no que se refere à pesquisa e ao treinamento, deslocou a atenção da análise em direção à questões referentes à qualidade e à coleta de dados” (BAUER, GASKELL, 2004, p.24).

Se numa primeira instância a Pesquisa Qualitativa pairava pelo estágio exploratório, em seguida ganha relevância na decupação informacional garantindo fundamentação e interpretação detalhada.

Numa retomada, vislumbramos que há consonância entre o nosso corpus ancorado na Pesquisa Semiológica e no Princípio de Pertinência, num elo com a Pesquisa Qualitativa e com o recorte teórico, permitindo a tessitura entre as partes do todo deste estudo.

4 Decodificando as mensagens veiculadas pelo Portal Daterra

O presente artigo traz um olhar crítico acerca do conteúdo imagético e textual disponível no Portal do Instituto Daterra, veiculado em 4 de agosto de 2016, referente à Permacultura, segmento abordado na prática e divulgado pelo canal virtual da ONG.

Logo, com base nos objetivos, na fundamentação teórica e na metodologia, partimos para a aplicabilidade junto à delimitação do objeto.

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4.1 Permacultura – Lançar o grão

1. Figura ilustrativa referente à Permacultura. Fonte: www.ambientaldaterra.com.br

O termo Permacultura foi criado em meados de 1970 por Bill Mollison e David Holmgren, para descrever um sistema integrado e em evolução de espécies vegetais e animais que, ao contrário da agricultura convencional, considerava uma concepção de agricultura permanente, que com a evolução das práticas e pesquisas, passou a abranger fatores sociais, econômicos e sanitários, tornando-se a visão de uma cultura permanente (sustentável) e um método holístico de organização de sistemas. (HOLMGREN, 2013).

Conjuntamente, Permacultura pode ser considerado o uso do pensamento sistêmico e de princípios de design que auxiliam, promovem, criam e aprimoram os métodos utilizados por pessoas, famílias e comunidades que almejam um futuro sustentável. Então mais do que o desenvolvimento de uma técnica específica, ou de um princípio, temos a capacidade de reinvenção de habilidades, modos de vida e manejo capazes de suprir as necessidades, gerando autonomia. (HOLMGREN, 2013)

A flor, símbolo da Permacultura, traz em suas sete pétalas os princípios éticos e de design que servem de guia para a criação de uma cultura sustentável. São sete campos que se complementam e se fundem formando a base necessária de transformação e integração, derivada do estudo do mundo natural e das comunidades sustentáveis com base na tradição das culturas antigas e indígenas, aliadas à tecnologia. (HOLMGREN, 2013)

Para Holmgren (2013) o símbolo da Permacultura indica:

O caminho evolucionário em espiral, começando com a ética e com os princípios, sugere uma costura comum a todos esses domínios, inicialmente em um nível pessoal e local, prosseguindo para o nível coletivo e global. O aspecto “teia de aranha” dessa espiral sugere a natureza incerta e variável desse processo de integração. (HOLMGREN, 2013, p. 34)

Dessa forma, a Permacultura surge como uma ética da Sustentabilidade (LEFF, 2007) que exige repensar os hábitos de consumo e valores em geral por meio da reintegração e comprometimento com os ciclos de produção e consumo e de práticas empoderadoras (HOLMGREN, 2013), salientando-se como uma ferramenta mais poderosa que os discursos de consumo verde, uma vez que populariza as práticas sustentáveis em diversos contextos, além de situar o ser humano na identificação planetária (MORIN, 2002b).

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A forma sistêmica de pensar Permacultura, por meio da observação, do planejamento e da organização do uso coletivo dos recursos, promovendo uma nova maneira de produção e consumo, do tipo comunitário, autossuficiente, sustentável e descentralizado pode ser considerada a grande revolução do futuro, capaz de questionar o sistema econômico vigente.

O Instituto Daterra busca fomentar o empoderamento em Permacultura, visando à contemplação das necessidades humanas, sociais e ambientais. Apresenta, na sua sede, um Jardim Didático de Permacultura que integra sistemas de saneamento ecológico, captação e reuso de águas, agroecologia e agroflorestas, energias limpas e renováveis, bioconstruções que se integram em um projeto de design por zonas e setores planejados para o máximo aproveitamento das influências ambientais e climáticas e para criação de um sistema prático, onde os elementos do design se apoiam e sustentam mutuamente. (DATERRA CENTRO AMBIENTAL, [201-?]).

Após a abordagem linguística, trazendo o universo da Permacultura, buscamos revelar o que transmite o translinguístico vinculado à imagem ilustrativa, visível tão logo clicamos sobre o ícone nominal desse segmento. (DATERRA CENTRO AMBIENTAL, [201-?]).

Ao revelar a Comunicação (MORIN, 2002a) como a passagem de informação de pessoa/grupo para pessoas/grupos, associada à manifestação da subcetegoria Cor (FARINA, 1990), percebemos que a imagem ilustrativa assume formato retangular pigmentado de verde, sendo que há um quarto de elipse irregular marrom disposta paralela a um quarto de elipse irregular amarela, conectando os lados superiores direito com o esquerdo numa curva convexa. (DATERRA CENTRO AMBIENTAL, [201-?]).

No interior da elipse, encontramos o branco, sendo que a metade direita configura, graficamente, as raízes de uma árvore indicadas em marca d’água marrom, acompanhada da menção descritiva em verde ao DATERRA. (DATERRA CENTRO AMBIENTAL, [201-?]).

Na sequência, o marrom busca manifestações no centro da imagem em que há um desenho gráfico sobreposto às raízes indicando o elemento terra, complementado com uma flor de sete pétalas e espiral no miolo, símbolo da Permacultura. Já na parte externa da elipse e a ela alinhada, lê-se, também em marrom, a descrição Permacultura. (DATERRA CENTRO AMBIENTAL, [201-?]).

Podemos observar que o fundo da imagem, assim como a parte aparente do logotipo Daterra são da cor verde e, segundo as noções cromáticas de Farina (1990), em sua gama de representações conotativas, ela pode simbolizar natureza, ecologia, saúde, abundância, bem-estar e esperança.

O verde utilizado na imagem ilustrativa referente à Permacultura procura legitimar os objetivos e práticas do Instituto Daterra, pois busca, por meio da Comunicação (MORIN, 2002a), realizada via Portal do Instituto, configurado no plano do Ciberespaço (LEVY, 1999), auxiliar na formação cultural (BARTHES, 1975) em favor da Identidade planetária (MORIN, 2002b), alicerçado nos princípios da Sustentabilidade (LEFF, 2007) que são aplicados em todas as ações do Daterra, em especial, aqui, no que tange à Permacultura.

O olhar esperançoso da ONG, voltado para a natureza e à ecologia, extrapola a teoria no momento em que as interações práticas acontecem. A Permacultura proporciona o estudo da natureza, mas também a modificação dela por meio da abundância, do pensamento sistêmico e do uso das ferramentas apropriadas para cada contexto, incorporando a saúde integral vinculada ao desenvolvimento sustentável (LEFF, 2007).

Sendo assim, o processo de construção cultural (BARTHES, 1975) da Identidade Planetária (MORIN, 2002b), fundamentada na Sustentabilidade (LEFF, 2007), parece atingir seu objetivo, quando analisada a mensagem linguística acerca do segmento Permacultura.

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dissonância mediante exposição no Ciberespaço (LEVY, 1999), sendo capazes, assim, de comprometer a efetivação comunicacional (MORIN, 2002a), repercutindo na construção cultural (BARTHES, 1975) e cibercultural (LEVY, 1999) no plano sustentável (LEFF, 2007), deixando de remeter à solidificação de uma Identidade Planetária (MORIN, 2002b) passível de viabilizar a Permacultura num espectro amplo e palpável.

Ao seguirmos na trilha cromática, procuramos resgatar o marrom presente na elipse, nas raízes da árvore, na linha divisória das raízes, no elemento terra, na flor da Permacultura e na fonte. Nesse contexto, tal manifestação cromática pode fazer referência à terra (FARINA, 1990), revelando consonância com o símbolo do elemento em representação gráfica.

Também, segundo Chevalier e Gheerbrant, a terra possui um caráter materno podendo indicar a fecundidade e a regeneração. “Se o juramento é o elo vital do grupo, a terra é a mãe e sustento de toda sociedade”. (2007, p. 880) Nesse nicho, o elemento acima mencionado, trazido por meio da manifestação cromática, busca traduzir seu elo com a Permacultura, que tem como um dos princípios o cuidado com a terra, procurando trabalhar tanto o sentido de solo, passível de fornecer alimentos, fazendo alusão à fecundidade e à riqueza no âmbito do manejo, quanto representando a morada e o planeta cuja manutenção compete ao propósito essencial do Instituto Daterra, voltado para a Sustentabilidade (LEFF, 2007), em prol de uma Cultura (BARTHES, 1975) que estabeleça as bases de uma Identidade Planetária (MORIN, 2002b).

Logo, tais indicações parecem refletir o intuito da ONG e, sendo assim, estar em consonância com a representação cromática (FARINA, 1990). No entanto, mediante análise criteriosa, somos capazes de perceber que, no âmbito do Ciberespaço (LEVY, 1999), pode haver dissonâncias comunicacionais, não só entre o linguístico e o translinguístico, como face à impossibilidade de interação, comprometendo o objetivo de participação na formação cultural (BARTHES, 1975) e cibercultural (LEVY, 1999) em favor de uma Identidade Planetária (MORIN, 2002b).

Ainda em relação à cor, o marrom segue nos dando subsídios ao se fazer presente na flor de sete pétalas que abriga uma espiral. Pode simbolizar o receptáculo da atividade celeste que se desenvolve a partir da terra e da água, pois uma das manifestações da flor parece casar com o simbolismo da Permacultura, que aponta em cada pétala um domínio-chave passível de transformação objetivando a criação de uma Cultura (BARTHES, 1975) sustentável (LEFF, 2007).

Relacionando com a descrição recém pontuada, buscamos resgatar, em especial, aqui, um dos domínios da Perrmacultura, que consiste no manejo da terra e da natureza através de orientações para que haja adequação no trato da matéria orgânica convertendo-a em húmus, conservando suas propriedades e conjugada ao respeito aos ecossistemas naturais e seus ciclos. Dessa forma, percebemos que a representação da flor e espiral indica soar em harmonia com as práticas realizadas pelo Daterra e com o propósito do segmento Permacultura, representado no Portal Daterra Centro Ambiental. No entanto, a consolidação de uma Cultura (BARTHES, 1975) Sustentável (LEFF, 2007) propulsora de uma Identidade planetária (MORIN, 2002b), representada pelos elementos linguísticos e translinguísticos indicados no Ciberespaço (LEVY, 1999) parecem não espelhar o potencial do segmento, em virtude das deficiências do veículo de comunicação, podendo, ainda, deixar resquícios deficitários no âmbito comunicacional (MORIN, 2002a) em sua totalidade.

Ainda, trabalhando no plano cromático, temos o amarelo, visível na parte irregular da elipse, podendo representar a luz solar e a esperança (FARINA, 1990).

A esperança está presente em todas as atividades do Instituto Daterra, que almeja uma conscientização sustentável (LEFF, 2007) por meio das práticas permaculturais. Já a luz solar é primordial para a manutenção da vida e, no caso do Instituto, que trabalha com forte

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enfoque na conscientização do quanto as práticas humanas podem interferir neste processo, o sol apresenta-se como elemento de ligação entre o palpável e o subjetivo, pois por meio da observação dele e da sua radiação crescente, consequente do buraco na camada de ozônio, são realizadas várias estratégias de minimização dos impactos negativos, abordados no segmento da Permacultura.

Sendo assim, o segmento parece bem representado pelo amarelo, pois traz, em sua essência, a importância da luz solar e a esperança frente à diminuição dos efeitos nocivos provocados pelo atual sistema gerencial, buscando implementar uma forma de atuação, tanto individual quanto coletiva, baseada na utilização consciente das energias e dos recursos naturais.

Porém, numa análise crítica quanto ao veículo comunicacional utilizado pelo Instituto e as dissonâncias entre a comunicação (MORIN, 2002a) linguística e translinguística, podemos perceber que a deficiência de interação vinculada ao Portal parece comprometer a consolidação de uma inteligência coletiva sustentável (LEFF, 2007), repercutindo, consequentemente, na dificuldade de formação da Cultura (BARTHES, 1975) baseada na Sustentabilidade (LEFF, 2007), capaz de gerar Identidade Planetária (MORIN, 2002b).

Seguindo na análise da imagem, contamos com um quarto de elipse ligando o canto superior direito ao canto inferior esquerdo numa curva convexa. Segundo Frutiger (1999), a elipse pode indicar eternidade, o que condiz com o segmento Permacultura, pois o termo foi criado para indicar agricultura permanente, transformando-se, na atualidade, em cultura permanente, considerando os ciclos naturais do desenvolvimento no planeta, as interações entre as espécies, o equilíbrio fundamental e as adaptações necessárias para a manutenção da vida. Dessa forma o pensamento sistêmico da Permacultura aparenta incorporar a representação da eternidade num viés planetário, em consonância com a Cultura (BARTHES, 1975) em favor de uma Identidade (MORIN, 2002b) fundamentada no desenvolvimento sustentável (LEFF, 2007).

Porém, como já identificamos no decorrer analítico, a Comunicação (MORIN, 2002a) promovida pelo Instituto no plano do Ciberespaço (LEVY, 1999) parece dissonante ao repassar tais princípios, já que os planos linguístico e translinguístico deixam a desejar quanto ao diálogo das partes em favor do todo.

Encerrando a decodificação da imagem ilustrativa, encontramos o fundo da elipse na cor branca, que pode remeter a ideia de harmonia (FARINA, 1990) que, no contexto, pode refletir a busca pelo equilíbrio entre o ser humano e a natureza, comungando, assim, com o objetivo principal da Permacultura em busca do encontro de soluções para o pleno desenvolvimento sustentável (LEFF, 2007), adaptando as ferramentas e os ambientes para melhor aproveitamento dos recursos e da captação de energias, bem como o manejo da terra e o cuidado com a comunidade.

Frente ao explicitado, podemos identificar que o Instituto Daterra parece reforçar a Sustentabilidade (LEFF, 2007) referente à Permacultura, porém a Comunicação (MORIN, 2002a) e suas mensagens imagéticas e verbais aparentam deixar aquém tais princípios via âmbito do Ciberespaço (LEVY, 1999) pelo Portal Daterra Centro Ambiental, que dificulta a oferta de subsídios conectores capazes de incentivar a Cultura (BARTHES, 1975) e Cibercultura (LEVY, 1999) voltadas para a Identidade Planetária (MORIN, 2002b).

Considerações finais

No presente artigo, abordamos o tema da Sustentabilidade (LEFF, 2007) que vem ganhando espaço em debates e olhares globais desde meados dos anos 60 e que,

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gradativamente, parece balizar múltiplas ações compartilhadas por meio de discursos organizacionais que, por vezes, distanciam-se da prática, por falta de interesse ou desconhecimento acerca da riqueza conceitual que paira na órbita dessa terminologia (CARNEIRO, 2003).

Diante da relevância temática, procuramos delimitar nosso estudo intencionando revelar de que forma a Comunicação (MORIN, 2002a) e sua subcategoria Cor (FARINA, 1990), configuradas em mensagens explicativas linguística e translinguística acerca de Permacultura, podem ou não auxiliar na formação cultural (BARTHES, 1975) calcada na Sustentabilidade (LEFF, 2007), quando veiculadas por meio do Portal Daterra, que paira no espectro do Ciberespaço (LEVY, 1999), sendo possível ou não de ser revertida na consolidação de uma Identidade (MORIN, 2002b) de cunho planetário.

Para tal, buscamos trazer a categoria Comunicação (MORIN, 2002a) e a sua subcategoria Cor (FARINA, 1990), bem como as categorias Sustentabilidade (LEFF, 2007), Cultura (BARTHES, 1975), Ciberespaço e Cibercultura (LEVY, 1999) e Identidade (MORIN, 2002b), com foco no âmbito planetário.

Para o desenvolvimento do artigo buscamos refletir se as mensagens explicativas linguística e translinguística sobre Permacultura, podem ou não contribuir para a construção cultural (BARTHES, 1975) sustentável (LEFF, 2007), quando veiculadas através do Portal Daterra Centro Ambiental, contemplando, assim, o Ciberespaço (LEVY, 1999), podendo, portanto, reverter-se ou não em Identidade Planetária (MORIN, 2002b).

Frente ao corpus, à fundamentação teórica e à metodologia, identificamos que a Comunicação (MORIN, 2002a) e as mensagens imagéticas e verbais sobre a Permacultura, veiculadas no Portal Daterra Centro Ambiental, parece não ser capaz de traduzir os princípios sustentáveis (LEFF, 2007), pois identificamos dissonância entre o linguístico e o translinguístico, além de não oportunizar a passagem de informação entre pessoas/grupos por meio do veículo escolhido, podendo, portanto, comprometer a compreensão, o compartilhamento e a negociação impressos nos princípios comunicacionais (WOLTON, 2010).

Já a Cor (FARINA, 1990), quando analisada em sua particularidade, pode contribuir com a análise translinguística acerca do segmento Permacultura, porém, ao ser pontuada frente ao linguístico, a imagem parece deixar a desejar quanto à representatividade, aparentando estar aquém da parte atuacional referente ao segmento indicado. Assim, o recorte em análise pode ser considerado passível de pregnância negativa no âmbito comunicacional (MORIN, 2002a).

No decorrer, observamos que a Sustentabilidade (LEFF, 2007) parece demostrar disparidades tanto no plano linguístico como no translinguístico, podendo explicitar um ruído15 atrelado a mensagem imagética e verbal ligada à Permacultura.

Em decorrência dessas representações, o fomento cultural (BARTHES, 1975) de cunho sustentável (LEFF, 2007) também é capaz de revelar comprometimento quando analisamos a amostragem imagética e textual sobre Permacultura, postada junto ao Portal Daterra Centro Ambiental.

Ao considerarmos a categoria Ciberespaço (LEVY, 1999), identificamos um dos pontos principais acerca do olhar crítico regente desse artigo, pois o Portal Daterra parece não oferecer requisitos básicos e fundamentais para a consolidação do espaço comunicacional que deveria oportunizar a sociabilidade, a troca de informações, a interação e, numa instância subsequente, o compartilhamento e a compreensão capazes de ganharem associação na esfera

15 Ruído é destaca-se como uma das falhas comunicacionais em que as mensagens são decodificadas de maneira,

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da Inteligência Coletiva (LEVY, 1999), que pode ganhar vazão por meio de uma Cibercultura (LEVY, 1999), parte do todo do Ciberespaço (LEVY, 1999).

Logo, sinalizamos que a disparidade entre as mensagens linguística e translinguística apresentadas nas especificações sobre Permacultura, podem prejudicar a formação cultural (BARTHES, 1975) no plano da Sustentabilidade (LEFF, 2007). Encontramos, também, falhas no veículo Portal Daterra que, passíveis de ser identificadas na esfera Ciberespaço (LEVY, 1999), podem refletir um déficit no fomento à concepção de uma Cibercultura (LEVY, 1999), capaz de ser revertida em Inteligência Coletiva (LEVY, 1999). Esse posicionamento busca mostrar que a dificuldade e, até a impossibilidade de compartilhamento e de negociação comunicacional parece afetar a evolução cultural (BARTHES, 1975) sustentável (LEFF, 2007).

Diante disso, somos capazes de sinalizar que a Identidade (MORIN, 2002b) tomada sob o âmbito planetário acaba refletindo as interrupções vinculadas as mensagens e ao veículo comunicacional. Portanto, com a falta de interação no Portal Daterra e as mensagens explicativas que apresentam dissonância entre o linguístico e o translíngustico frente à Permacultura, podem comprometer, ao invés de colaborar, com a formação cultural (BARTHES, 1975) sustentável (LEFF, 2007), no espectro do ciberespaço (LEVY, 1999), sendo capaz de comprometer a legitimação de uma Identidade Planetária (MORIN, 2002b) e ambientalmente consciente.

A fim de que possamos reconfigurar tal quadro, procuramos repensar o veículo comunicacional do Instituto Ambiental Daterra, tanto no âmbito das mensagens explicativas sobre os principais tópicos atuacionais da ONG, bem como rever as possibilidades de interação e conexão do Portal com suas mídias sociais em prol de uma convergência, buscando, assim, reforçar e promover visibilidade ao presencial desenvolvido na sede do Instituto. Também é importante permitir a efetivação comunicacional por meio do compartilhamento, da compreensão e da negociação, intencionando descortinar uma sólida construção cultural (BARTHES, 1975) sustentável (LEFF, 2007) no que tangencia o Ciberespaço (LEVY, 1999), em favor de uma legítima Identidade Planetária (LEVY, 1999), em que vislumbremos o espelhamento entre o Eu e Outro em favor de um Nós consciente e ativo, capaz de reciclar seus comportamentos em favor do todo de Gaia.

Referências

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