XI Salão de Iniciação Científica
PUCRS
As origens da opção profissional pela licenciatura em Física
Matheus Brasil Coutinho, Daysi Ragiuk, Prof. Dr. João Bernardes da Rocha Filho (orientador) Faculdade de Física, PUCRS
Resumo
A pesquisa do GPEF/EDUCEM – PUCRS tem investigado quais fatores são determinantes para a escolha da opção profissional pela carreira de licenciatura em Física. Sua relevância está associada à recente publicação do relatório da Câmara de Educação Básica (Hingel et al, 2007) que aponta uma carência significativa de professores de Física aptos a ocuparem cargos docentes nas escolas
ensino médio do País. Assim, essa pesquisa busca informações destinadas a ajudar no esclarecimento dos motivos desta deficiência, fornecendo subsídios para que os governos e as instituições de ensino superior possam incentivar ações que sejam capazes de reverter este quadro precário.
Introdução
Este projeto se insere na linha de pesquisa Currículo e Formação de Professores, do Grupo de Pesquisa em Ensino de Física – GPEF, do Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências Matemáticas – EDUCEM, da Faculdade de Física – FAFIS, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS. O projeto pretende investigar quais fatores são determinados em relação à opção profissional pela carreira do magistério em Física. Sua relevância está associada à carência de professores de Física anunciada por um relatório de autoria de Murílio Hingel e outros, publicada pela Câmara de Educação, em maio de 2007. Este documento demonstra, por meio de dados
disciplinas, inclusive afins, como mostra os números do relatório supracitado, exigindo pesquisa e reflexão.
Um levantamento como o proposto pode ajudar no esclarecimento da questão, fornecendo subsídios para que os governos e as instituições de ensino superior possam incentivar ações que sejam capazes de reverter este quadro negativo. A pesquisa proposta é de natureza qualitativa, exploratória, de levantamento, e pretende acessar a totalidade dos alunos de Licenciatura em Física das principais universidades do Sul do Brasil, publicando os resultados e sugestões de solução do problema, na forma de um artigo, participações em eventos científicos e um capítulo de livro, cuja verba para publicação em 2010 já foi obtida junto a CNPq.
Metodologia
A pesquisa proposta é de natureza qualitativa, exploratória, de levantamento, o questionário foi elaborado de forma a incentivar a participação, permitindo máxima liberdade de expressão e garantindo sigilo aos respondentes, que não foram identificados em qualquer etapa do processo. A análise dos dados finais será feita por intermédio da metodologia denominada Análise Textual Discursiva
(MORAES, GALIAZZI, 2007). Dos resultados da pesquisa, os percentuais foram calculados sobre as questões respondidas e não sobre o número de alunos entrevistados.
Resultados (ou Resultados e Discussão)
A partir das respostas dos questionários podem-se averiguar os principais motivos que levaram aos alunos cursar licenciatura em Física. Cerca de 70% dos alunos que responderam os questionários são alunos que completaram seu ensino básico em escola pública, outros 27% em escolas privadas.
A partir da pesquisa obtiveram-se três gráficos (respectivos Figura 1.1, 1.2, 1.3), que apresentam os principais motivos que levaram os atuais licenciandos a cursar física.
1. Alguns dos fatores determinantes que podem influenciar na escolha dos alunos.
Quantidade de alunos 1. Motivos que levaram a cursar Física Licenciatura: Pública Privada
Experiência de estágio na área de Física - Contato com Física
extraclasse 1 0,3
Bom desempenho no vestibular 0 0,0
Experiência com a realidade 3 1,0
Experiência "amadora" com ensino da ciência 1 0,3
Bolsa de estudos 3 1,0
Por ser a mãe de todas as ciências 1 0,3
Boas experiências durante o ensino fundamental 3 1,0
Falta de opção 3 1,0
Familiares 13 4,2
Desejo de mudança da atual situação do professor no mercado 4 1,3
Eventos científicos no meio escolar 3 1,0
Contato com áreas similares a Física 18 5,8
Mercado de trabalho com escassez de profissionais 11 3,5
Gostar de Ensinar 19 6,1
Acesso a material científico durante o colegiado 9 2,9
Motivação do professor 4 1,3
Professores do Curso Pré-Vestibular 11 3,5
Bom desempenho escolar 23 7,3
Mistérios da ciência, curiosidade, querer compreender... 29 9,3
Gostar da Ciência 74 23,6
Tabela 1.1: Motivos que levaram os alunos a cursar Licenciatura em Física.
Como mostra Figura 1.1. Cerca de 51% (52% escola pública e 48% escola privada) dos alunos que responderam o questionário acreditam que o principal motivo que os fez cursar física foi o gosto pelas ciências e o sentimento de uma certa afinidade com o estudo, bem como por sentirem-se atraídos pelos mistérios que envolvem esta ciência e a vontade de desvendar seus segredos. Os outros 48,6% das perguntas
respondidas obtiveram respostas diversas, com outros motivos listados acima. Cerca de 28% estão atualmente cursando pelo bom desempenho (escolas pública 19,2% e 9,2% escola privada).
28,4 4,5 51,4 2,9 6,4 6,4 0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 Bom desempenho escolar, motivação do professor, acesso a material cientifico, eventos cientificos na escola, contato com áreas
similares, ensino fundamental.
Cursinho Pré-vestibular Gostar de ciências,
curiosidades, ensinoestágio, experiências comExperiência com ensino, a física no cotidiano.
Escassez de profissionais e mudança da atual situação e motivação do
prof.
Bolsa de estudos, falta de opção e familiares
Figura 1.1. Principais motivos que levam estudantes a escolher Física como
opção profissional. 8,2 6,4 2,1 52,8 4,7 25,8 0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 Bolsa de estudos, falta de opção e familiares Escassez de profissionais e mudança da atual situação e motivação do prof. Experiência com ensino, estágio, experiências com a física no cotidiano. Gostar de ciências,
curiosidades, ensino Cursinho Pré-vestibular escolar, motivaçãoBom desempenho do professor, acesso a material cientifico, eventos cientificos na escola, contato com
áreas similares, ensino fundamental.
Figura 1.2. Principais motivos que levam estudantes originados das escolas
1,3 6,3 3,8 48,1 3,8 36,7 0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 35,0 40,0 45,0 50,0
Bolsa de estudos, falta de
opção e familiares mudança da atual situação eEscassez de profissionais e motivação do prof.
Experiência com ensino, estágio, experiências com a
física no cotidiano.
Gostar de ciências,
curiosidades, ensino Cursinho Pré-vestibular Bom desempenho escolar,motivação do professor, acesso a material cientifico, eventos cientificos na escola, contato com áreas similares, ensino fundamental.
Figura 1.3. Principais motivos que levam estudantes originados das escolas
PRIVADAS a escolher Física como opção profissional.
2. Expectativas dos alunos quanto à formação acadêmica e a atual situação da educação básica.
Quantidade de alunos
3. Expectativas quanto ao curso e a carreira de Física: Pública Privada
Boas, devido ao mercado de trabalho e a escassez de profissionais na
área 14 5,0
Não muito boas, o professor não é respeitado. 10 3,5
Que o curso prepare muito bem para o ambiente escolar 11 3,9
Ainda incertas, mas esperançosas 6 2,1
Que consigo ensinar alcançando objetivos 16 5,7
Ter uma boa formação e qualificação profissional exigida pelo
Não encontrar alunos "chatos" depois da faculdade 0 0,0
Dar boas aulas a fim de conquistar os alunos 21 7,4
Conseguir uma boa compreensão dos fenômenos 15 5,3
Responder aos questionamentos 13 4,6
Ainda não sabe se quer ser professor(a) 7 2,5
Ser respeitado e reconhecido 2 0,7
Dê condições para acompanhar o avanço da ciência 3 1,1
Não muito boas, o curso é muito abrangente e para ter um bom
proveito deverá haver maior dedicação 2 0,7
Ter o trabalho valorizado 10 3,5
Dar sentido a física para os alunos 10 3,5
Tornar uma pessoa melhor 1 0,4
Difícil devido a concorrência na rede privada e os baixos salários na
rede pública 5 1,8
Não muito boas, por isso o interesse em dedicar-me ao bacharelado 1 0,4
Não muito boas, o curso é difícil e exige muito dos estudantes porém
não é recompensado 2 0,7
Que haja uma campanha de valorização nacional do professor 2 0,7
Tabela 1.2: Expectativas quanto ao curso e a carreira de Física.
Já na tabela apresentada acima, grande parte dos estudantes que responderam ao questionário, afirmam pretender com o curso de física uma qualificação profissional para o mercado de trabalho e também uma preparação para o ambiente escolar a fim de conquistar os alunos. Diferentemente do que vem acontecendo nas escolas tanto publicas como privadas, no qual esses mesmo alunos afirmam que impera um desinteresse por parte dos professores, alunos e da própria escola.
Porém ainda é pequena a percentagem, mas significativa, de alunos que não acreditam na melhora do sistema escolar, nem têm esperanças de fazerem diferença, caso apontado na tabela que demonstra a forte crença de que o ensino,
independentemente de ser público ou privado, não melhorará.
Conforme apresentado nos resultados da primeira parte da pesquisa, podemos concluir que a principal fonte de influência na decisão em seguir a carreira do magistério em Física advém do gosto pessoal do estudante. Este, porém, é um fator endógeno que pode ter sido afetado por fatores exógenos, como a influência do professor, que aparece em segundo lugar no resultado da pesquisa.
Entretanto, pode-se verificar que não é somente a influência do professor o principal fator responsável pela origem desta escolha. A escola e as atividades desenvolvidas são de fundamental importância durante a educação básica. Como mostra os resultados, muitos alunos aprenderam a gostar de Física através de acesso a materiais científicos na escola, eventos científicos e até mesmo com o contato direto com essas áreas de trabalho.
Outra situação interessante é que uma parte dos estudantes entrevistados afirmou que aprenderam a gostar de Física depois do Ensino Médio, nos cursos preparatórios chamados pré-vestibulares. Sabe-se que estes cursos investem em professores cada vez mais
qualificados e preparados a “chamar atenção” dos alunos através de aulas teatrais, práticas e divertidas, para que estes se vejam estimulados a estudar e a atingir bons resultados nas provas de seleção.
Obviamente, o déficit da Educação Básica não se deve somente ao professor, visto que este se vê sustentado pela escola, e a escola pelos alunos, de forma indireta. O problema pode estar no método, na teoria educacional aplicada para o ensino destes jovens, na família, na insatisfação e na falta de reconhecimento do próprio profissional da educação que pode resultar num ensino precário e até mesmo deficitário.
Outros fatores com menor percentual, mas não menos importantes advém da
influência familiar, resultados satisfatórios no vestibular, bolsas de estudos e até mesmo com o contato a áreas similares a Física (Engenharias, Ciências da Computação, Matemática, Química, Arquitetura, entre outras) que têm contato com disciplinas de Física durante o curso, influenciando muitas vezes na reopção (troca de curso) do aluno. O estudante na universidade muitas vezes se vê encantado com a disciplina de física, devido a aulas práticas, a professores motivados e bem preparados para prender a atenção dos alunos e despertar curiosidade desses. E a questão de estarem na universidade e a responsabilidade do próprio amadurecimento levam-no a ver os estudos com outros olhos, voltados a um futuro que antes, no Ensino
O interessante é que o problema da educação e a falta de incentivo para a carreira do professor não está diretamente ligada somente ao setor da educação pública, visto que muitos alunos provenientes de instituições privadas, que responderam a pesquisa, não receberam incentivos de seus professores, do que decorre uma percepção da insatisfação destes professores dentro de sala de aula, o que não é resultado de um baixo salário, visto que a remuneração da rede privada pode até mesmo triplicar o salário pago pela rede pública.
Então, qual será o verdadeiro problema? Por que há tão poucos alunos interessados em Física? Continuamos assim com esse estudo no objetivo de esclarecer essa questão.
Referências