Próxima aula: Filosofia política I (introdução). Leitura: Nagel, Cap. 8.
Perguntas:
1. A desigualdade social é sempre injusta? 2. Quando é que o governo deve retificá-la?
Filosofia política I: introdução
Ética (filosofia moral): estuda como nós devemos agir.
Filosofia política I
Filosofia política: estuda como o governo deve deliberar e agir.
Filosofia política I
Governo = instituições públicas através das quais a autoridade política é exercida
(executivo, legislativo, judiciário, polícia, exército etc.)
Filosofia política I
Dois tipos de crenças suscitadas em debates políticos:
1. Crenças sobre os efeitos reais de certas políticas 2. Crenças sobre a correção de certas políticas
Filosofia política I
A filosofia política se envolve principalmente com assuntos do segundo tipo.
Filosofia política I
A filosofia política trata de como o governo deve deliberar e agir.
Ex:
Deve o governo aumentar o imposto de renda? Deve o governo submeter essa questão à votação no Congresso Nacional?
Filosofia política I
Uma opinião comum é que o governo deve
deliberar de forma democrática e agir de forma justa .
Filosofia política I
Deliberar de forma democrática é usar um
procedimento decisório que “dê voz” a todas as pessoas interessadas.
Filosofia política I
Os dois ideais podem entrar em conflito: Ex:
Como lidar com uma decisão injusta tomada democraticamente?
Filosofia política I
Interessa-nos, aqui, o ideal da justiça.
Em particular: Como deve o governo lidar com a desigualdade social?
Filosofia política I
A desigualdade social tem causas diversas: (a) Discriminação deliberada
(b) Diferenças sociais fortuitas
(c) Diferenças quanto ao talento dos indivíduos (d) Diferenças quanto ao esforço dos indivíduos
Filosofia política I
Obs: “direita” e “esquerda”. Política econômica?
Costumes sociais, religiosidade, sexualidade, drogas?
Revisão – Aula 8
- Filosofia política: estuda como governo deve deliberar e agir.
- Teoria da democracia: estuda como o governo deve deliberar.
- Teoria da justiça: estuda como o governo deve agir. - Desigualdade social
Próxima aula: Filosofia política II - John Rawls
Leitura obrigatória: Gargarella, pp. 1-15 e 19- 31. Perguntas:
1. Quais são e como se relacionam os dois princípios de justiça de Rawls?
2. Rawls é consequencialista? 3. Rawls é socialista?
Filosofia política II: Rawls
Utilitarismo na filosofia política:
Bentham: “Por princípio da utilidade entende-se o princípio que aprova ou reprova qualquer ação de
acordo com sua aparente tendência para aumentar ou diminuir a felicidade das pessoas cujo interesse está em jogo...
... Eu falo de qualquer ação; e, portanto, não só das
Filosofia política II
Um importante rival do utilitarismo: Contratualismo.
Filosofia política II
Contratualismo é o tipo de teoria que tenta resolver questões políticas perguntando:
“Com que solução concordaram (ou concordariam) os cidadãos em geral?”
Filosofia política II
O Estado está justificado se resulta de um acordo capaz de evitar os males da sociedade pré-política. “Constante temor e risco de morte violenta, e a vida do homem é solitária, pobre, sórdida, brutal e
curta.”
Filosofia política II
Crítica célebre: o acordo nunca existiu. Estados surgem sem contrato formal.
E mesmo que haja um contrato original, ele não é renovado regularmente...
Filosofia política II
Respostas possíveis:
(a) Acordos reais podem ser feitos ou mantidos tacitamente.
(b) O acordo é hipotético.
(Os cidadãos não aceitariam o Estado, para evitar a anarquia?)
Filosofia política II
O acordo hipotético pode ser mais ou menos idealizado.
Contrastem :
- O que os cidadãos atuais aceitariam, caso consultados?
- O que os cidadãos aceitariam caso consultados em condições ideais de deliberação?
Filosofia política II
John Rawls (1921-2002)
Filosofia política II
Contrato hipotético de Rawls:
Com que concordariam as pessoas se elas
deliberassem em condições de plena igualdade? (sem posições privilegiadas na barganha)
Filosofia política II
A “posição original”.
O contrato seria firmado entre indivíduos racionais e ambiciosos (como nós).
(almejam direitos e liberdades básicas, riqueza, ocupações respeitáveis etc.)
Filosofia política II
Para garantir igualdade, os indivíduos delibe-ram sob o “véu da ignorância”.
Desconhecem seu status social, seus talen-tos, sua raça, seu gênero, suas opiniões políticas e religiosas.
Filosofia política II
É de se esperar que os contratantes pensem de acordo com a regra maximin.
(1) 10: 8: 1 (2) 7: 6: 2 (3) 5: 4: 4
Filosofia política II
Dois princípios:
1) P. da liberdade: todos têm igual direito a um conjunto de liberdades básicas invioláveis
(direito ao voto, liberdade de expressão e associação, direito de ir e vir etc.)
Filosofia política II
2) P. da diferença: diferenças sociais e econômicas existirão, mas deverão:
- Ser razoavelmente vantajosas para todos
- Vincular-se a empregos e cargos acessíveis a todos.
Filosofia política II
Esclarecimentos:
PL tem prioridade em relação a PD.
PD não trata apenas de acessibilidade formal. (todos devem ter as mesmas oportunidades culturais e educacionais)
Filosofia política II
5 tipos de regime:
- Capitalismo laissez-faire: viola PD (e pode até violar PL).
- Capitalismo de bem-estar social: não institui políticas eficazes para satisfazer PD
(permite a sobrevivência de classes margi-nalizadas e dependentes de assistência).
Filosofia política II
- Socialismo de estado: não satisfaz PL.
- Socialismo democrático: satisfaz PL e PD.
- “Democracia possuidora de propriedade”: satisfaz PL e PD.
Revisão – Aula 9 Contratualismo
Contrato hipotético, + ou – idealizado
Rawls: posição original, véu da ignorância maximin
Próxima aula: Filosofia do Direito I (introdução) Leitura obrigatória: Nino, pp. 17-44.
Perguntas:
1. Como diferem os argumentos de Semprônio, Caio e Ticio?
2. Qual é a diferença entre positivismo ideológico e positivismo conceitual?
Filosofia do direito I
Direito positivo:
Normas criadas pelo homem
(por meio da legislação, jurisprudência, costumes, doutrina etc.)
Direito natural:
Normas válidas independentemente da vontade do homem.
Filosofia do direito I
Juspositivistas: enfatizam o direito positivo (DP). Jusnaturalistas: enfatizam o direito natural (DN).
Filosofia do direito I
Julgamento de oficiais nazistas depois da 2ªGM. Argumento da defesa:
- Os oficiais eram funcionários públicos e cumpriam as leis.
- É proibido impor pena por atos permitidos pela lei da época.
Filosofia do direito I
Semprônio: “Acima das normas determinadas pelos homens, há um conjunto de princípios morais
universalmente válidos e imutáveis que estabelecem critérios de justiça e direitos fundamentais. Nele se incluem o direito à vida e à integridade física, o
direito de não ser discriminado por razões de raça e de não ser coagido sem o devido processo legal.”
Filosofia do direito I
“Esse conjunto de princípios configura o que se convencionou chamar ‘direito natural’. As normas positivas determinadas pelos homens são direito somente na medida em que se ajustam ao direito natural.”
Filosofia do direito I
Caio: “O que um povo em certa época considera abominável, outro povo, em épocas ou lugares
diferentes, julga perfeitamente legítimo. Não há um procedimento objetivo para demonstrar a validade de certos juízos morais e a invalidade de outros. Para alguns, o direito natural consagra a monarquia
Filosofia do direito I
“Uma das conquistas mais honrosas da humanidade foi a adoção da ideia de que os conflitos sociais
devem ser resolvidos, não de acordo com as opiniões morais dos que estão encarregados de julgá-los, mas com base nas normas jurídicas estabelecidas. ”
“Nós somos juízes, não somos políticos ou
moralistas, e como tais devemos julgar de acordo com normas jurídicas.”
Filosofia do direito I
Tício: “A palavra [direito] se aplica a um conjunto de normas reconhecidas e praticadas pelos que
controlam o monopólio da coação em um certo
território. Isso me leva a concluir que não podemos nos negar a classificar como ‘jurídico’ o sistema
nazista.”
“Para condenar alguém, o princípio nullum crimen exige a existência de uma lei positiva que proíba o ato.”
Filosofia do direito I
“O princípio moral de que as normas jurídicas
vigentes devem ser obedecidas é plausível, visto que está vinculado a valores como segurança, ordem etc. Mas é absurdo pretender que seja o único princípio moral válido. Há outros, como os que consagram a vida, a liberdade etc.”
Filosofia do direito I
Jusnaturalismo.
(1) Há normas morais universalmente válidas (e acessíveis à razão humana)
+
(2) Uma norma humana não é válida se não estiver em harmonia com as normas referidas em (1)
Filosofia do direito I
Positivismo jurídico. Expressão ambígua...
1º sentido: positivismo como ceticismo ético. Negação de (1).
Filosofia do direito I
2º sentido: positivismo ideológico.
DP deve ser obedecido pelos cidadãos e aplicado pelas autoridades, qualquer que seja sua relação com DN.
Obs: Caio.
Obs2: É preciso ser cético para defender o
Filosofia do direito I
3º sentido: positivismo como formalismo jurídico. Formalismo jurídico: o DP é claro e completo.
Obs: Positivistas ideológicos muitas vezes são formalistas.
Filosofia do direito I
4º sentido: positivismo conceitual. Nega (2).
Afirma que o conteúdo do direito independe dos seus méritos morais.
Obs: Tício.
Filosofia do direito I
Nino: “Segundo essa postura, é perfeitamente coerente dizer que certo sistema é uma ordem jurídica ou que certa regra é uma norma jurídica, mas que ambas são demasia-damente injustas para serem obedecidas ou aplicadas.”
Revisão – Aula 10 Jusnaturalismo vs. Juspositivismo 4 sentidos de “juspositivismo”: juspositivismo conceitual juspositivismo ideológico juspositivismo formalista
Próxima aula: Filosofia do direito II e III – realismo jurídico & obediência à lei.
Leitura obrigatória: Nino, pp. 50-57; Platão, “Críton”.
Perguntas:
1.Contraste o realismo jurídico com o formalismo jurídico.
2. Quais são os argumentos que Sócrates usa para justificar sua obediência às leis da República?
Filosofia do direito II:
realismo jurídico
Formalismo jurídico: o DP é claro e completo. Isto é, fornece solução unívoca para todas as questões legais que possam aparecer.
Os realistas (americanos e escandinavos) tentaram mostrar que o formalismo era falso.
Filosofia do direito II
Duas razões (entre outras): 1. A linguagem legal é vaga.
(Isso Hart também reconhecia.)
2. Os textos jurídicos estão sujeitos a interpreta-ções distintas, de acordo com o método preferi-do pelo intérprete.
Filosofia do direito II
“Quem dorme na estação de trem deve ser expulso”
Quem dorme na estação deve ser expulso
João dorme na estação enquanto espera o trem Logo,
João deve ser expulso
Quem usa a estação como abrigo deve ser expulso
João dorme na estação enquanto espera o trem Logo,
Filosofia do direito II
Para o realista, o DP não elimina a liberdade de escolha do juiz.
Ele toma decisões com base nas suas convicções pessoais (morais, políticas, religiosas etc.).
Filosofia do direito II
Marco Aurélio Mello:
"Primeiro idealizo a solução
mais justa, só depois vou
buscar apoio na lei."
Filosofia do direito II
Críticas ao realismo:
1. O realismo retrata os juízes como sendo insinceros sobre a sua própria profissão.
2. Se o direito é tão indeterminado, como sabemos quem são os juízes?
Filosofia do direito II
Recuo realista: o direito não é radicalmente indeterminado.
Há muitos casos difíceis, mas eles se concen-tram nos tribunais superiores.
Filosofia do direito III:
obediência à lei
Os argumentos de Críton:
(i) Críton e os demais conspiradores não serão prejudicados;
(ii) Sócrates será bem acolhido no exílio;
(iii) as pessoas pensariam mal de Críton se ele não ajudasse Sócrates;
(iv) os filhos de Sócrates ficarão desamparados se ele morrer.
Filosofia do direito III
Resposta de Sócrates:
(i) A desobediência prejudicaria seriamente (“aniquilaria”) a República.
(ii) Sócrates tem uma dívida de gratidão com as leis sob as quais foi criado, educado etc.
(iii) Sócrates firmou um acordo com a República, já que não partiu de Atenas ao atingir a maturidade.
Filosofia do direito III
Quando é permitida a violação das leis? Alguns tipos de violação:
- Crimes comuns
- Atos revolucionários
Filosofia do direito III
John Rawls - DC:
Violação da lei cometida
(a) com o objetivo de provocar uma mudança jurídica dentro do sistema,
(b) sem violência,
(c) de modo público e
Filosofia do direito III
(a) com o objetivo de provocar uma mudança jurídica dentro do sistema
Filosofia do direito III
(b) sem violência
Filosofia do direito III
(c) de modo público
Há atos de desobediência que não são secretos, mas também não são amplamente divulgados
H. D. Thoreau 1817-1862
Filosofia do direito III
(d) com aceitação de eventual punição E a Festa do Chá de Boston?
Filosofia do direito III
A definição de Rawls pode ajudar a mostrar que tipo de DC está mais justificada:
DC pública, pacífica, não revolucionária...
... usada quando todos os recursos legais já foram esgotados.
Filosofia do direito III
Rawls vs. Sócrates
Para Rawls, é permitida a desobediência mesmo quando
(a) o sistema de modo geral é bom, e
(b) o desobediente não é prejudicado pela lei injusta