Resenha
Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2011;16(2):242
(1) Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
Endereço para correspondência: Daniela Regina Molini-Avejonas. R. Cipotânea, 51, Cidade Universitária, São Paulo (SP), Brasil, CEP: 05360-000. E-mail: danielamolini@usp.br
Fatores de risco e de proteção associados à alteração de fala e
linguagem em uma amostra nacionalmente representativa de
crianças de 4 a 5 anos de idade
Comentado por: Daniela Regina Molini-Avejonas1
Harrison LJ, McLeod S. Risk and protective factors associated with speech and language impairment in a nationally representative sample of 4- to 5-year-old children. J Speech Lang Hear Res. 2010;53(2):508-29.
As autoras iniciam o artigo mencionando a proporção signiicativa de crianças com alteração de linguagem e fala no período pré-escolar e apontam a necessidade da identii-cação destas crianças, assim como o tratamento das mesmas, neste período que é crucial para o desenvolvimento infantil, podendo reduzir a severidade e a longevidade das alterações de fala e linguagem.
Para tanto, os proissionais da atenção primária devem ser capazes de identiicar as crianças que podem ser grupo de risco para alteração de fala e linguagem. Entretanto, os métodos utilizados por esses proissionais para diagnosticar a alteração tendem a ser: comparação com crianças da
mes-ma idade, queixas dos pais, e checklist dos principais marcos
do desenvolvimento de linguagem. A proposta das autoras é que outro método também seja utilizado: o reconhecimento e identiicação dos fatores de risco e de proteção para o desen-volvimento de fala e linguagem.
Ainda não foi desenvolvida, testada ou validada uma lista de fatores de risco para ser utilizada pelos proissionais da atenção primária. Esta diiculdade surge pela necessidade de se levar em consideração a complexa inter-relação existente entre os fatores biológicos, sociais, psicológicos e individuais de cada criança no desenvolvimento de linguagem, ou seja, a lista deve contemplar uma ampla gama de variáveis, como
histórico familiar, status sócio-econômico, informações
peri-natais, condições de saúde, ordem de nascimento, gemela-ridade, nível educacional dos pais, número de irmãos, sexo, temperamento, hábitos orais, língua materna, saúde mental dos pais, idade materna ao nascimento, vulnerabilidade do bairro, tempo que os pais gastam com seus ilhos e outros.
As autoras revisaram 16 estudos e a maioria deles analisou apenas um ou dois dos fatores citados acima. Os fatores de risco mais consistentemente citados nestes estudos foram: história familiar de alteração de fala e/ou linguagem, sexo masculino e intercorrências perinatais. Os demais fatores apresentam achados muito contraditórios, provavelmente pela diferença dos estudos quanto ao tamanho e natureza da
amostra, métodos utilizados para avaliar a alteração de fala e linguagem, e número de fatores de risco analisados.
O presente estudo coletou dados sobre a linguagem de 4.983 crianças australianas, entre quatro e cinco anos de idade, de quatro diferentes maneiras: queixas dos pais sobre a linguagem expressiva das crianças, queixas dos pais sobre a linguagem receptiva das crianças, uso de serviço fonoaudioló-gico nos últimos 12 meses e escores obtidos em compreensão
de vocabulário do Adapted Peabody Picture Vocabulary Test
–III. Cada um deles identiicou um grupo de crianças com alteração e outro grupo sem alteração.
Trinta e um fatores de risco para o desenvolvimento de linguagem foram relacionados com os dois grupos resultantes (com alteração e sem alteração) de cada um dos quatro métodos de detecção de alteração de linguagem. Foi utilizada estatística descritiva, análise de regressão logística bivariada e multi-variada. Na análise bivariada foram conirmados 29 fatores. Contudo, quando testados na análise multivariada, apenas 19 apresentaram signiicância e nove foram mais consistentes, sendo os de risco: sexo masculino, problemas de audição, e temperamento reativo; e os de proteção do desenvolvimento de linguagem: temperamento persistente e sociável e boa saúde mental materna. Ter um irmão mais velho, ter pais que não possuem o inglês como língua materna e ter pais que passam tempo com seus ilhos em atividades educativas, foram fatores que apresentaram signiicância estatística, mas dependendo do método utilizado para detecção da alteração de linguagem, foram considerados de risco ou de proteção.
Os achados deste estudo conirmam que a alteração de fala e linguagem na infância é inluenciada por múltiplos fatores e os mesmos são discutidos um a um pelas autoras, que concluem
que os fatores de risco e de proteção, juntamente com obser-, juntamente com