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Rev. esc. enferm. USP vol.22 número2

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Academic year: 2018

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REAÇÕES EMOCIONAIS D A MULHER NO PUERPERIO

Isilia Aparecida Silva*

SILVA, L A . Reações emocionais da mulher no puerperio. Rev. Esc. Enf. USP, São Paulo, 22(2):237-246, ago. 1988.

A autora procurou obter, através de declarações de enfermeiras, informação sobre se estas conse-guem identificar manifestações de comportamento de puérperas que evidenciam reações emocionais e se as mesmas se julgam preparadas para atender adequadamente as puérperas, considerando tanto os aspec-tos físicos quanto os emocionais.

U N I T E R M O S . Enfermagem obstétrica. Puerperio.

I N T R O D U Ç Ã O

Gravidez, p a r t o e puerperio continuam sendo alvo de muitos estudos na tentati-va de elucidar pontos ainda não desvendados.

P a r a a sociedade, de m o d o geral, o nascimento de uma criança é motivo de grande alegria e comemorações. No e n t a n t o , para a mulher que se torna m ã e , este periodo pode ser m a r c a d o por ansiedades e preocupações, principalmente q u a n d o se irata do primogênito.

M A L D O N A D O8

afirma que a gravidez constitui u m a situação crítica, impli-cando em maior vulnerabilidade emocional da mulher e desorganização d o seu pa-d r ã o pa-de vipa-da, pa-devipa-das a inúmeras mopa-dificações fisiológicas e em estapa-dos emocionais peculiares, que justificam a presença de certo grau de ansiedade.

D E U T S C H5

considera que os temores e as preocupações gerados durante a gra-videz podem ser sanados com o p a r t o , ou podem continuar, sob forma de excessiva ansiedade que gira em t o r n o do filho; neste caso, as apreensões da gestante não ter-minam com o p a r t o . Após o p a r t o , inicia-se o puerperio, que é um novo período de adaptações psíquicas e fisiológicas, com reações conscientes e inconscientes.

Muito se sabe sobre as alterações fisiológicas e anatômicas, pelas quais passa a mulher no puerperio, havendo inúmeras definições sobre este período nos textos que tratam da assistência à mulher no ciclo grávido puerperal.

Lamentavelmente, a evolução científica na área da obstetrícia concentrou-se mais nos progressos técnicos que permitem detectar precocemente os desvios clínicos do processo reprodutivo da mulher. As mudanças emocionais que se produzem na gestante, bem c o m o o significado que pode ter o p a r t o , para a m e s m a , não tem sido suficientemente investigada ( C A N E L L A3

) . Segundo R U B I N1 3

, a puérpera, após o p a r t o , experimenta u m a fase de euforia e excitação d u r a n t e a qual pretende falar a todos a respeito de sua experiência e de seu

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bebê. A seguir, nos primeiros dias após o p a r t o , o c o m p o r t a m e n t o da puérpera ca-racteriza-se por passividade e dependência no qual exprime m u i t o mais as suas ne-cessidades que as de seu filho. Esta é a fase de instalação ou reabastecimento do puerperio e que d u r a cerca de 2 a 3 dias, na qual a puérpera deverá ter suas necessi-dades satisfeitas a fim de se tornar capaz de cuidar de seu filho.

Progressivamente, a puérpera passa de estado de dependência para um de inde-pendência e a u t o n o m i a — fase de participação d o puerperio, e que se desenvolve até o 10? dia p ó s - p a r t o . Esta fase transcorre em um clima de forte desejo da mãe em cui-dar de si mesma e de seu filho; no e n t a n t o , quase sempre está presente um forte ele-m e n t o de ansiedade, causado pela insegurança sobre a sua capacidade de cuidar da criança, pelo fato de ter de assumir essa responsabilidade e pelos sentimentos ambi-valentes em relação a o bebê, somados ainda a u m a série de o u t r o s fatores.

P o d e m o s observar que a fase de instalação d o puerperio se dá justamente no período em que a puérpera está internada na maternidade. É nesta fase que as mães se mostram dependentes, aceitando com gratidão t u d o o que lhes é oferecido. Em-b o r a as puérperas sejam Em-bastante receptivas para o a p r e n d i z a d o , I N G A L L S & SA-L E R N O6

comentam que o período de hospitalização n ã o é suficiente para que elas assimilem sua nova condição de mãe e, principalmente, tenham segurança e estabili-dade no novo papel.

A naturalidade com que os que assistem e rodeiam a mãe encaram a maternidade não p o d e , p o r é m , diminuir a importância dos cuidados que devem ser prestados a esta mulher que está se a d a p t a n d o física e emocionalmente a u m a experiência nova e a uma nova estrutura familiar.

O puerperio não pode ser visto c o m o um evento isolado na vida da mulher; esta deve ser compreendida c o m o uma pessoa sob o impacto de grande m u d a n ç a em sua existência ( S H E E H A N1 4

) .

P r e o c u p a m - n o s , pois, intensamente, as reações emocionais da puérpera, por-que estas indicam de algum m o d o , necessidades básicas não satisfeitas.

A enfermeira deve estar consciente de que é necessário haver melhor compreen-são das manifestações de reações emocionais da puérpera e que esta compreencompreen-são deve ser considerada tão importante q u a n t o os cuidados físicos. Os fatores emocio-nais precisam ser levados em consideração, pois, segundo BE1NSTE1N2

, a assistên-cia inadequada p o d e dar origem à depressão puerperal.

Sendo assim, a mãe deverá ser objeto de cuidados adequados à sua individuali-dade, que n ã o só lhe proporcionem bem-estar físico, mas t a m b é m , que tenha suas necessidades emocionais satisfeitas.

A enfermeira, ao utilizar continuamente suas habilidades de observação e co-municação, poderá identificar reações emocionais inerentes à puérpera. C a b e a ela, enfermeira, u m a visão e a t u a ç ã o mais amplas e criativas dos cuidados prestados à puérpera. A avaliação da situação e a correta intervenção da enfermeira serão de grande valor para a m ã e .

A enfermeira poderá ajudar a puérpera de maneira mais efetiva se souber reco-nhecer e interpretar o c o m p o r t a m e n t o m a t e r n o .

Diante dos fatos aqui considerados, foram objetivos deste estudo:

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— Verificar se as enfermeiras se julgam p r e p a r a d a s p a r a dar atendimento global às puérperas, considerando não só os aspectos físicos c o m o , t a m b é m , os emocio-nais;

— Verificar se as enfermeiras são capazes de enumerar as ações de enfermagem que são necessárias p a r a assistência a d e q u a d a às puérperas.

M E T O D O L O G I A

População e local

O estudo foi realizado com enfermeiras* que assistem puérperas em hospitais e maternidades do Município de São P a u l o .

Foram sorteados dez (10) hospitais e maternidades de um lista de 92 institui-ções, fornecida pelo Serviço de Registro e C a d a s t r o da C o o r d e n a d o r i a de Assistên-cia Hospitalar d o Estado de São P a u l o .

Nestes hospitais e maternidades foram selecionadas as enfermeiras que assis-tem às puérperas prestando às mesmas cuidado direto ou indireto.

Foram considerados, para este estudo, os conceitos de cuidado direto e indireto de K U R C G A N T :

" C u i d a d o direto: q u a n d o a enfermeira ou obstetriz executa atividades de enfer-magem com o paciente, para o paciente, sem o intermédio de outras pessoas e quan-do o efeito dessas atividades é sentiquan-do de forma direta e imediata pelo p a c i e n t e " .

" C u i d a d o indireto: q u a n d o a enfermeira ou obstetriz assite ao paciente por in-termédio de outros elementos da equipe de enfermagem, e o efeito das suas ações é sentido de forma indireta e mediata pelo p a c i e n t e " .

Instrumento de coleta de dados

Foi utilizado para coleta de dados o formulário de questões abertas, constante de duas partes. A primeira contém questões sobre dados gerais da enfermeira. A se-gunda consta dc perguntas às enfermeiras sobre:

• manifestações de c o m p o r t a m e n t o que evidenciam reações emocionais de puérpe-ras;

• preparo do profissional para atender às puérperas no que diz respeito às reações emocionais;

• c o m o assitir a d e q u a d a m e n t e a puérpera.

Coleta de dados

Para coleta de dados foi utilizada a técnica de entrevista, realizada no hospital, em local que permitiu manter a prtvatividade. O formulário foi preenchido durante a entrevista.

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R E S U L T A D O S E C O M E N T Á R I O S

Dados gerais das enfermeiras entrevistadas

Fizeram parte deste estudo 46 (100,0%) profissionais, sendo que 34 (73,9%) eram enfermeiras obstétricas*, 11 (23,9%) eram obstetrizes e 1 (2,2%) era enfermei-ra.

Nesta amostra constatamos que as 11 (23,9%) obstetrizes estão t r a b a l h a n d o em períodos de tempo que variam de 12 a 26 anos e as enfermeiras de 0 a 12 a n o s .

Q u a n t o a o tipo de cuidado que prestam às puérperas vemos pela Tabela 1 que 39 (84,8%) profissionais prestam cuidado direto.

As manifestações de c o m p o r t a m e n t o que evidenciam reações emocionais dc puérperas, relatadas pelas enfermeiras nos três períodos do puerperio, determinados para este estudo, foram agrupadas e são apresentadas nas Tabelas 2, 3 e 4.

TABELA 1

DISTRIBUIÇÃO D A S E N F E R M E I R A S Q U A N T O AO TIPO DE CUIDADO QUE PRESTAM À PUÉRPERA.

Enfermeiras

T i p o de Cuidado N ? %

Direto 3 9 8 4 , 8

Indireto 07 1 5 , 2

T O T A L 4 6 100,0%

T A B E L A 2

DISTRIBUIÇÃO D A S MANIFESTAÇÕES D E COMPORTAMENTO Q U E EVIDENCIAM R E A Ç Õ E S EMOCIONAIS DE P U É R P E R A S NO PERIODO D E ZERO A D U A S H O R A S D E PÓS-PARTO,

R E L A T A D A S POR E N F E R M E I R A S .

Manifestações N 9 %

Preocupação em relação à integridade física d o filho 34 38,1

Alegria 15 1 6 *

E m o ç ã o pelo nascimento d o filho 11 1 2 , 3

Alívio 0 9 10,3

Indiferença 06 6,8

Medo 05 5,6

Rejeiçáb 0 3 3,4

Ansiedade por separar-se d o filho 0 2 2,3

Aceitação d o filho 0 2 2,3

Preocupação com o sexo d o filho 01 1,1

Preocupação c o m os filhos que deixou e m casa 01 1,1

T O T A L 8 9 * * 1 0 0 , 0

** Este número se deve ao fato das enfermeiras terem dado mais de uma resposta.

* Enfermeiras que concluíram programas de Habilitação ou Especialização em Enfermagem Obstétrica.

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No período de zero a duas h. aparece, no relato das enfermeiras, c o m o caracte-rística p r e d o m i n a n t e , a preocupação da mãe com a inlegridade física d o recém-nas-cido. Esta foi m e n c i o n a d a 34 (38,1 % ) vezes. As enfermeiras referem q u e , em ge-ral, segue-se u m a d e m o n s t r a ç ã o de alegria e de e m o ç ã o pelo nascimento da criança. Na Tabela 2, estes foram citados 15 (16,9%) e 11 (12,3%) vezes respectivamente.

Neste período foi citado também o medo pelo seu próprio bem-estar físico 5 ( 5 , 6 % ) , havendo preocupação com hemorragia e manipulação d o c o r p o . C o m p a -r a n d o a p -r e o c u p a ç ã o da mãe pela inleg-ridade física d o -recém-nascido, podemos su-por que as mães nestas primeiras horas preocupam -se muito mais com o filho d o que com elas p r ó p r i a s .

P o d e m o s observar, ainda, na Tabela 2, que as mães podem demonstrar í n a n e -rença ou rejeição pelo filho, manifestações citadas 6 (6,8%) e 3 (3,4%) vezes respecti-vamente. E m b o r a este c o m p o n a m e n l o não tenha sido p r e d o m i n a n t e , pensamos ser muito importante a atenção a ser dirigida à mãe para estas manifestações e o p r o n t o atendimento pelo profissional, no sentido de identificar as causas de tais reações.

T A B E L A 3

DISTRIBUIÇÃO D A S M A N I F E S T A Ç Õ E S D E COMPORTAMENTO Q U E EVIDENCIAM R E A Ç Õ E S EMOCIONAIS DE P U É R P E R A S NO PERIODO D E 2 A 72 HORAS D E PÓS-PARTO, R E L A T A D A S

POR E N F E R M E I R A S .

Manifestações N ? %

Expressam preocupação c o m amamentação 3 0 21,1

Apresentam labilidade de humor 19 13,4

Demonstram interesse em cuidar do filho só após o l ? dia 16 11,2

Expressam desejo de descansar n o 19 dia 14 9,9

Demonstram preocupação c o m a integridade física d o filho 10 7,1

Querem ser o centro de atenção 8 5,7

Demonstram desejo de ficar c o m o filho, mas não em cuidar d o m e s m o 8 5,7

D e n o t a m desinteresse em cuidar d o filho 7 4 , 9

Manifestam-se dependentes da equipe de enfermagem 7 4 , 9

Demonstram preocupação c o m a estética 5 3,5

Referem m e d o de cuidar d o filho 3 2,1

Denotam diminuição da ansiedade c o m o passar dos dias 3 2,1 Expressam necessidade de verbalizar a experiência do parto 3 2,1

Demonstram interesse até o dia da alta 2 1,4

Expressam interesse imediato em amamentar 1 0,7

Apresentam-se alegres e comunicativas 1 0,7

Apresentam ansiedade em relação ao controle da natalidade 1 0,7 Referem ansiedade sobre o reinicio das atividades sexuais 1 0,7

Dão pouca importância à estética 1 0,7

Demonstram interesse em amamentar, mas não em cuidar d o filho 1 0,7

Expressam ambivalência em relação ao filho 1 0,7

TOTAL 1 4 2 * 1 0 0 , 0

* Este número se deve ao fato das enfermeiras terem dado mais de uma resposta.

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Este é um fator importante a ser considerado; c o m o afirma W I E D E M B A C H1 5

, o aleitamento está intimamente ligado a t o d o o processo r e p r o d u t i v o . A resposta às necessidades de alimentação do recém-nascido depende sobremaneira d o estado físi-co, mental e emocional da m ã e , tanto q u a n t o do desenvolvimento, condição e capa-cidade da m a m a de prover o leite.

Produzir o leite não é u m a função exclusiva da m a m a , mas é u m a função de to-d o o c o r p o to-da mulher, no qual a m a m a faz meramente a última parte to-d o trabalho ( N A I S H1 0

a p u d ) . P o d e m o s , assim, concluir que o sucesso da a m a m e n t a ç ã o ou o fa-to da mãe se sentir capaz de a m a m e n t a r depende muifa-to de fafa-tores externos de orien-tação, e n c o r a j a m e n t o , paciência e tranqüilidade.

H o u v e 7 (4,9%) citações de mães que não se interessam em a m a m e n t a r seu fi-lho. No e n t a n t o não foi relatado pelas respondentes o motivo pelo qual este desinte-resse ocorre.

Observamos ainda, na Tabela 3, 19 (13,4%) citações referentes à labilidade de h u m o r , assim d e n o m i n a d a pelas enfermeiras q u a n d o se referiam à instabilidade emocional das puérperas. Descrevem as mães c o m o emotivas, sensíveis, deprimidas e irritadas, chegando mesmo a apresentar agressividade. Este fato é c o r r o b o r a d o

pe-lo estudo de R U B I N1 2

, q u a n d o comenta que nos primeiros dias a puérpera apresen-ta rápidas e freqüentes m u d a n ç a s de h u m o r , até adquirir equilíbrio emocional, o que só acontece por volta de 10 a 15 dias de p ó s - p a r t o .

Os profissionais, ao comentarem a labilidade de h u m o r da puérpera, tentaram explicá-lo c o m o sendo decorrente d o desconforto gerado pelas dores da episiorrafia ou da cicatriz cirúrgica, no caso de cesárea, distensão a b d o m i n a l , m a m a s ingurgita-das ou mamilo dolorido.

E m b o r a n ã o tenhamos conhecimento de estudos que sirvam de base, nossa ex-periência atenta para o fato de que o período em que ã puérpera se encontra interna-da é de grande agitação pelo n ú m e r o de visitas de amigos e parentes, o que prejudi-ca, na maioria das vezes, o repouso da m ã e , o desenvolvimento da interação mãe-fi-lho-pai contribuindo para a irritação que a puérpera apresenta nesta fase.

C h a m a a atenção, ainda, no relato das enfermeiras ( T A B E L A 3) a demonstra-ção de interesse da mãe em cuidar do recém-nascido só após o primeiro dia d o p ó s - p a r t o , fato citado 16 (11,2%) vezes. Esta citação está diretamente ligada à ne-cessidade que a puérpera expressa de descansar no primeiro dia, mencionada 14 (9,9%) vezes.

A citação " q u e r e m ser o centro das a t e n ç õ e s " e "manifestam-se dependentes da equipe de e n f e r m a g e m " foram observadas 8 (5,7%) e 7 ( 4 , 9 % ) vezes respectiva-mente.

Estas citações podem ser explicadas petos estudos de B E C K E R1

e de R U B I N1 2

, nos quais dizem que, neste período, a puérpera revela-se " f a m i n t a " de s o n o , comi-d a , conforto e atenção por parte comi-de tocomi-dos q u e a rocomi-deiam, para certificar-se comi-de sua aceitação e da de seu filho pela família e grupo de amigos. É nesta fase u m a preocu-p a ç ã o impreocu-portante preocu-para a preocu-puérpreocu-pera a normalização das funções de seu o r g a n i s m o , dentre elas as eliminações e a l o c o m o ç ã o . É importante que ela se sinta capaz de cui-dar de si mesma e de atender às suas próprias necessidades, a fim de poder atender a d e q u a d a m e n t e as necessidades d o recém-nascido.

P a r a comentar as respostas da questão referente ao 3? período, algumas consi-derações merecem destaque.

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perma-necem por mais t e m p o . Assim, da população de profissionais do estudo, 41 (89,1%) enfermeiras não p u d e r a m responder a questão n? 3 do Anexo por alegarem não ter experiência alguma com puérperas no periodo que segue as 72 horas. As 5 (10,9%) enfermeiras que responderam à questão têm experiência neste período, por atende-rem puérperas fora d o ambiente hospitalar, no domicílio e em curso de orientação para gestantes e puérperas. Estas enfermeiras descrevem as manifestações de reações emocionais que estão distribuídas na Tabela 4.

T A B E L A 4

DISTRIBUIÇÃO D A S MANIFESTAÇÕES DE COMPORTAMENTO Q U E EVIDENCIAM R E A Ç Õ E S EMOCIONAIS DE PUÉRPERAS NO PERIODO APÓS 72 H O R A S , R E L A T A D A S PELAS 5

ENFER-MEIRAS DO ESTUDO.

Manifestações N 9 %

Ansiedade e insegurança em face das novas tarefas que tem

de desempenhar 5 2 2 , 8

Ansiedade por ter de cuidar d o filho 4 1 8 , 2

Depressão, sentimento de ambivalência afetiva e sentimento de culpa 4 1 8 , 2

Necessidade de apoio 3 13,6

Sensação de abandono por nao ter t e m p o para as próprias

necessidades 2 9,0

Crença de que só elas experimentam sensações desagradáveis

n o puerperio 2 9,0

Ansiedade em relação à aceitação do recém-nascido pelos

outros filhos 1 4,6

Preocupação com a estética 1 4,6

T O T A L 2 2 * 1 0 0 , 0

* Este número se deve ao fato das enfermeiras terem d a d o mais de uma resposta.

As enfermeiras foram unânimes a o descrever a puérpera com forte sentimento de ansiedade e insegurança, 5 (22,8%) das citação. S H E E H A N1 4

, em relação a este fato, comenta que a mãe m u d a o papel de dependência passiva que assume d u r a n t e a hospitalizaçào, pois, muito rapidamente deve preparar-se para assumir as responsa-bilidades do lar, por ocasião da alta.

Foi citado 4 (18,2%) vezes que as puérperas, neste período, apresentam senti-mento de ansiedade por ter de cuidar do recém-nascido c 4 (18,2%), que as pessoas expressam ambivalência afetiva e sentimentos de culpa em relação ao recém-nasci-d o .

A depressão da mãe no puerperio tem sido atribuída a mudanças psicológicas maciças após o p a r t o , q u a n d o o maior fator envolvido é o fato da mãe, aos poucos, tomar consciência da enorme responsabilidade que tem para com a criança. Contri-bui para este sentimento de depressão a atenção transferida dela para o recém-nasci-d o , q u a n recém-nasci-d o passa a ser questionarecém-nasci-da e responsabilizarecém-nasci-da pelo bem-estar recém-nasci-deste (BEC-K E R1

) .

(8)

A preocupação da puérpera com a estética foi citada u m a única vez (4,6%). RU-B I N " e M E R C E R9

comentam o fato de que a puérpera espera ansiosamente que seu corpo volte às medidas originais pré-gestacionais; c o m o este é um processo lento, torna-se um fator de ansiedade.

Q u a n t o a o p r e p a r o das enfermeiras para darem atendimento a d e q u a d o às puér-peras com as manifestações de c o m p o r t a m e n t o descritas, 41 (89,1%) enfermeiras responderam que se julgam preparadas e 5 (10,9%) responderam que n ã o .

C h a m a a a t e n ç ã o , e n t r e t a n t o , o fato de as enfermeiras que responderam negati-vamente não descreverem o que poderia ser feito nesse sentido para ajudá-las; elas apenas justificaram-se, alegando que o atendimento a d e q u a d o não é possível por falta de t e m p o , 5 ( 7 1 , 4 % ) , falta de pessoal, 1 (14,3%) e divergência de c o n d u t a mé-dica, 1 ( 1 4 , 3 % ) . A percentagem foi calculada sobre o total de citações obtidas, 7 (100,0%), uma vez que duas enfermeiras deram mais que u m a resposta.

Mesmo entre as que responderam afirmativamente, 1 ( 2 , 4 % ) enfermeira com-pletou a resposta dizendo: " . . . n ã o estou completamente apta a dar assistência à puérpera levando em consideração as suas necessidades emocionais e gostaria de contar com mais subsídios para poder interceder".

Q u a n t o à solicitação de enumerar as ações de enfermagem para a assistência adequada às puérperas, 4 (9,2%) enfermeiras não responderam sendo que as outras enfermeiras apenas relatam a diretriz para elaborar um plano e não o planejamento da assistência propriamente dita.

Para tanto os comentários sobre a questão n? 6 do Anexo serão feitas com base nas respostas das enfermeiras. C h a m a a atenção a resposta " o plano de enfermagem deve conter orientações p r é - d e t e r m i n a d a s " referida 12 (28,6%) vezes; esta posta não leva em consideração a individualidade da puérpera. Por sua vez, a res-posta " a puérpera deve ser orientada durante a gestação nos serviços de pré-natal e cursos para g e s t a n t e s " citada 7 (16,7%) vezes merece destaque, pois, e m b o r a P E -T R O W I S K I " afirme que o último trimestre da gravidez é o período ideal de p r e p a r o da gestante para as experiências que enfrentará no pós-parto, isto não dispensa a en-fermeira da responsabilidade da assistência global à mulher no p e r í o d o puerperal. Preocupa-nos o fato de que houve apenas u m a referência (2,4%) sobre a necessida-de da família ser incluída no plano necessida-de assitência; o pai, principalmente, necessida-deve ser pre-parado para as tarefas que envolvem o pós-parto, e esta orientação auxilia o casal a assumir o papel de pais (CARR & W A L T O N4

) .

C O N C L U S Õ E S

De acordo com os objetivos propostos no presente t r a b a l h o , foi possível chegar às seguintes conclusões.

As enfermeiras são capazes de identificar algumas das manifestações de c o m p o r t a m e n t o que evidenciam as reações emocionais das puérperas, e m b o r a , em

muitas ocasiões, não façam distinção entre estas e as necessidades físicas; isto reve-la, possivelmente, a dificuldade de identificação dos aspectos psicossociais envolvi-dos na assistência de enfermagem. Em r e s u m o , as enfermeiras deste estudo n ã o es-t ã o , provavelmenes-te, suficienes-temenes-te aleres-tadas para os aspeces-tos psicológicos d o com-p o r t a m e n t o das com-puércom-peras.

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-cia da compreensão das reações psicológicas das mesmas, nos cursos de graduação (curso geral e habilitação), na especialização em enfermagem obstétrica e nos pro-gramas de educação continuada para enfermeiras que estão a t u a n d o na área.

SILVA, L A . Emotional reactions of woman in the postpartum. Rev. Esc. Enf. USP, Sâo Paulo, Sâo Paulo, 22(2):237-246, A u g . 1988.

The author intended to obtain information through the nurses's statements, if they are able to indentif y behavior manifestations in the postpartum that could indicate emotional reactions and if they feel prepared to assist adequatily the postpartum women, considering physical and emotional aspects.

U N I T E R M S : Obstetrical Nursing. Puerperium.

R E F E R E N C I A S B I B L I O G R Á F I C A S

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15. W I E D E N B A C K , E. Safeguard the mother's breast. A m . J. Nurs., New York, 51(9):544-8 Sept. 1951.

Recebido para publicação em 2 6 / 0 3 / 8 7

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A N E X O F O R M U L A R I O

I. D E S C R I Ç Ã O DA P E R G U N T A

1. Dados gerais 2. Hospital 3. N o m e

4. Cargo que exerce

5. T e m p o (em anos) que presta assistência à puérpera 6. Qualificação profissional:

Obstetriz

Enfermeira Obstétrica

7. Tipo de cuidado que presta à puérpera: direto

indireto

II. Manifestações de c o m p o r t a m e n t o que evidenciam reações emocionais de puér-peras identificadas pelas enfermeiras.

Segundo alguns a u t o r e s , a puérpera apresenta fases distintas de reações emocionais que podem ser observadas pelos profissioemocionais da equipe obstétrica e que p o -dem servir de base na elaboração do plano de cuidados de enfermagem prestado às m e s m a s . Baseadas nessa teoria, gostaríamos de saber:

1. Liste as manifestações de c o m p o r t a m e n t o que evidenciam reações emocionais apresentadas pelas puérperas nas primeiras duas horas após o p a r t o .

2. Liste as manifestações de c o m p o r t a m e n t o que evidenciam reações emocionais apresentadas pelas puérperas no período de 2 a 72 horas após o p a r t o .

3. Liste as manifestações de c o m p o r t a m e n t o que evidenciam reações emocionais apresentadas pela puérperas após 72 horas.

4. A sra. julga-se p r e p a r a d a para dar atendimento a d e q u a d o às puérperas com as manifestações anteriormente descritas?

N Ã O (passe para a questão n? 6) SIM (passe p a r a a questão n? 5)

5. O que poderia ser feito para ajudar a enfermeira a se preparar para prestar u m a assistência de enfermagem às puérperas com as manifestações relatadas pela se-n h o r a ?

Referências

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