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LIDERANÇA FEMININA NO QUILOMBO DO GRILO

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA CAMPUS I - CAMPINA GRANDE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS CURSO DE JORNALISMO

CARLA PATRÍCIA ALIXANDRE DOS SANTOS

DOCUMENTÁRIO PAQUINHA:

LIDERANÇA FEMININA NO QUILOMBO DO GRILO

CAMPINA GRANDE

2020

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA CAMPUS I - CAMPINA GRANDE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

CARLA PATRÍCIA ALIXANDRE DOS SANTOS

DOCUMENTÁRIO PAQUINHA: LIDERANÇA FEMININA NO QUILOMBO DO GRILO

Relatório técnico apresentado ao Curso de Jornalismo do Centro de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Estadual da Paraíba, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharela em Jornalismo.

Orientador: Prof. Dr. Rostand de Albuquerque Melo

CAMPINA GRANDE

2020

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(5)

Dedico este trabalho a Paquinha, Massilene, João, e todos os moradores do Quilombo do Grilo.

A todas as mulheres fortes e líderes

comunitárias que nos inspiram.

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AGRADECIMENTOS

Aos professores do Curso de Jornalismo da Universidade Estadual da Paraíba, em

especial, Ada Guedes, Ana Sousa, Antônio Simões e Rostand Melo que contribuíram na

graduação, por meio das disciplinas e debates, para o desenvolvimento deste trabalho. Ao

meu orientador Rostand de Albuquerque Melo, por ter me aceitado como orientanda e por

todo o direcionamento passado durante esse processo. A professora Alcione Ferreira da

Silva, pela colaboração para que eu tomasse conhecimento acerca da história de Paquinha e

o Quilombo do Grilo, sendo a ponte que me possibilitou chegar até eles. A Rafael Duarte,

por toda parceria nesse processo de gravação do documentário. A Guilherme Sales pela

colaboração com o equipamento que me possibilitou realizar a filmagem com segurança

dentro das normas de distanciamento. A minha família, por todo o apoio durante os anos

de graduação longe de casa.

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RESUMO

Relatório técnico do processo de produção do documentário Paquinha: liderança feminina no Quilombo do Grilo que apresenta como tema principal a história de Leonilda Coelho Tenório dos Santos, conhecida como Paquinha, líder comunitária do Quilombo do Grilo que está localizado no município de Riachão do Bacamarte, na Paraíba. O produto midiático tem por finalidade retratar como o quilombo foi constituído e analisa a importância do seu desenvolvimento através da luta, resistência e liderança feminina. Para a elaboração do produto audiovisual, foram entrevistados na comunidade, além da líder, alguns de seus familiares que descreveram suas histórias e a importância do quilombo. O gênero cinematográfico associado às técnicas jornalísticas de entrevista, por meio da apuração, captações de imagens, roteiro e edição resultaram na obtenção dos relatos que compõem a narrativa desse produto.

Palavras-Chave : Documentário. Paquinha. Quilombo. Mulheres. Líderes comunitárias.

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ABSTRACT

Technical report of the Paquinha: female leadership in Quilombo do Grilo documentary production process that presents the story of Leonilda Coelho Tenório dos Santos, known as Paquinha, the community leader of Quilombo do Grilo, which is located in the municipality of Riachão do Bacamarte, in Paraíba. The media product aims to report how the quilombo was built and analyzes the importance of its development through struggle, resistance and female leadership. For the elaboration of the audiovisual product, in addition to the leader, some of their family members were interviewed in the community who reported their stories and the importance of the quilombo. The cinematographic genre associated with the journalistic techniques of interviewing, through the investigation, capture of images, script and editing, resulted in obtaining the reports that make up the narrative of this product.

Keywords : Documentary. Paquinha. Quilombo. Women. Community leaders.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Leonilda Coelho Tenório (Paquinha), 59 anos, líder comunitária do Grilo ……. 24 Figura 2 - Entrevista com Paquinha produzida respeitando o distanciamento social ……… 25 Figura 3 - Massilene Tenório, 33 anos, trabalha como enfermeira na comunidade ………. 26 Figura 4 - João Aurélio, 24 anos, sobrinho de Paquinha ………... 27 Figura 5 - Bastidores da gravação com Paquinha ………..… 28 Figura 6 - Bastidores de gravação do documentário Paquinha: liderança feminina no Quilombo do Grilo……….. ………. 29 Figura 7 - Print Screen do projeto no programa de edição Sony Vegas Pro 16.0

………. 32

(10)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ………..…... 09

2 DOCUMENTÁRIO E COMUNIDADES QUILOMBOLAS: DISCUSSÃO TEÓRICA ……….. 11

2.1 Linguagem documental ………...……. 11

2.2 Liderança feminina quilombola na Paraíba ……….. 12

3 METODOLOGIA ……….. 15

3.1 Coleta de dados ………...………..….…... 15

3.2 Cronograma de atividades …….………..……….…...……. 17

4 DETALHAMENTO TÉCNICO ………..…. 18

5 PLANEJAMENTO E EXECUÇÃO ……… 22

5.1 Produção ………...……… 22

5.2 Filmagem ……….. 23

5.3 Edição ………... 30

CONSIDERAÇÕES FINAIS ………...… 34

REFERÊNCIAS ….………... 35

ANEXOS ……….... 37

TERMO DE AUTORIZAÇÃO DE USO DE IMAGEM ………...…… 37

ROTEIRO DE FILMAGEM ………....………...…… 38

ROTEIRO DE EDIÇÃO ………...………..… 40

IMAGENS DE BASTIDORES ……….. 42

(11)

1. INTRODUÇÃO

Os estudos sobre as comunidades quilombolas brasileiras demonstram historicamente, que a posição de liderança esteve associada à imagem masculina, enquanto esse espaço esteve, substancialmente, ocupado por mulheres. A estruturação da sociedade brasileira fundamenta-se através da marginalização do povo negro, sobretudo a mulher. Assim, “Pensar as mulheres negras campesinas no tocante a debates em torno de espaços de decisão e liderança é, comumente, pensar em lugares de ausência”. (SILVA, 2017, p. 83).

A vista disso, de acordo com o contexto atual que tem caminhado para a abrangência da discussão acerca da mulher, torna-se relevante utilizar o âmbito da produção acadêmica para evidenciar tais temáticas de contribuição social. Apesar de exercerem papéis essenciais nas comunidades, as mulheres quilombolas estiveram subjugadas a uma posição inferior e de exclusão. Deste modo, surge a intenção de colaborar com uma produção que possibilite ampliar a visibilidade desses contextos femininos, apresentando a história de protagonismo da líder comunitária que intitula este documentário, Paquinha.

Na perspectiva de contribuir com um produto que evidencia a posição de influência feminina, este trabalho tem por objetivo geral descrever as etapas do processo de produção do documentário Paquinha: liderança feminina no Quilombo do Grilo que relata a história de Leonilda Coelho Tenório dos Santos, a líder comunitária do Quilombo do Grilo, na Paraíba, retratando o contexto de liderança da mulher negra quilombola a partir dos relatos dela e moradores do quilombo. Leonilda, conhecida como Paquinha, 59 anos, nasceu no quilombo e teve toda sua criação e formação nesse local. Desde cedo começou a trabalhar no roçado durante o dia. Estudava no período da noite e atingiu os estudos até a 4° série do ensino fundamental. Ela cresceu ajudando seus pais e recebeu muitos ensinamentos das mulheres em sua família, que a encorajaram a viver com resistência.

Após vivenciar a representatividade de sua mãe Dôra, seguiu o mesmo caminho.

Diante de situações onde era necessário que alguém representasse os moradores do Grilo, ela se colocou à frente e através de sua luta conquistou grandes melhorias para o quilombo, o que a colocou na posição de atual líder comunitária.

Localizada no alto de um lajedo, a Comunidade Quilombola do Grilo, pertence ao

município de Riachão do Bacamarte, situado na mesorregião do agreste paraibano. O

significado de ‘Grilo’ vem do nome da fonte de abastecimento de água mais antiga da

comunidade, conhecida como “Cacimba do Grilo”. Em 2016, o Instituto Nacional de

Colonização e Reforma Agrária (INCRA), realizou o processo de regularização fundiária do

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seu território. O quilombo representa um espaço de manutenção e resistência da cultura negra e da ancestralidade africana, e sua sobrevivência está relacionada à liderança de mulheres negras.

No que se refere à organização do território, as mulheres quilombolas possuem forte papel na administração, exercendo funções de comando nos mais diversos segmentos comunitários. Também na esfera política as vozes das quilombolas são fundamentais para as conquistas de direitos e melhorias para a comunidade. Bem como buscam resgatar, por meio dessa identidade, suas práticas e manifestações culturais a partir das danças, da religiosidade, dos mitos de origem e de suas ancestralidades, como a ciranda, coco de roda e a cultura das benzedeiras. No Grilo, a luta das mulheres, além de ser contra o racismo, é também pela permanência em seus territórios de origem e pela reprodução de seus valores culturais.

O documentário Paquinha: liderança feminina no Quilombo do Grilo possui a duração de 19'05’’ minutos e foi produzido no mês de setembro de 2020. Em específico, o produto detêm a finalidade de contribuir com a preservação da história de resistência das mulheres que se mantém à frente da administração do Grilo. Busca compartilhar os relatos e experiências de Paquinha que retratam também a trajetória da geração de mulheres líderes em sua família. Ademais, tem o intuito de apresentar o desenvolvimento da roteirização, produção, filmagem e edição do documentário audiovisual.

A exposição do presente trabalho organiza-se em quatro capítulos. O primeiro intitulado “Documentário e comunidades quilombolas: discussão teórica”, refere-se a abordagem da revisão de aporte teórico que fundamentam as bases da temática apresentada no produto midiático, trazendo os autores que contribuem para a definição da linguagem documental e da discussão acerca da liderança feminina quilombola.

O segundo capítulo “Metodologia”, trata das ferramentas teóricas e práticas utilizadas para coleta de dados, como os métodos de apuração, técnicas jornalísticas de entrevista e registro documental através da história oral. No capítulo três “Detalhamento técnico”, é descrita a composição da estrutura do produto, apresentando os elementos técnicos da produção audiovisual que constituem a narrativa. O quarto capítulo “Planejamento e execução”, descreve as etapas da construção do documentário, produção, filmagem e edição.

Retrata todos os aspectos que correspondem a estruturação deste produto audiovisual.

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2. DOCUMENTÁRIO E COMUNIDADES QUILOMBOLAS: DISCUSSÃO TEÓRICA

2.1 Linguagem documental

O documentário compreende um gênero audiovisual utilizado para relatar fatos e evidenciar manifestações do âmbito coletivo. Segundo Nichols (2005) a conceituação de documentário é sempre relativa ou comparativa. Sua definição fundamenta-se não na ideia de reprodução da realidade, mas da representação do mundo que experienciamos. De acordo com o autor, “mais do que proclamar uma definição que estabeleça de uma vez por todas o que é e o que não é documentário, precisamos examinar os modelos e protótipos, os casos exemplares e as inovações, como sinais nessa imensa arena em que atua o documentário.” (NICHOLS, 2005, p.48).

A característica principal do produto documental refere-se a sua diferenciação da narrativa ficcional, mesmo que a ficção também possa ser considerada uma obra documental.

Segundo Nichols (2005) todo filme constitui um documentário, pois evidencia a cultura que estabelece a produção. Conduto, para o autor, existem dois tipos de documentários: os documentários de satisfação de desejos, denominados de ficção e os documentários de representação social, chamados de não ficcionais. Deste modo, o produto audiovisual apresenta uma forte relação com a memória dos sujeitos sociais, buscando interpretar e descrever o mundo da experiência coletiva.

A construção da narrativa do documentário parte de uma lógica argumentativa feita a partir do mundo histórico, da porção deste mundo que o diretor pretende retratar em seu filme. Por ter como matéria-prima o mundo em que vivemos, e não um mundo fictício, o documentário baseia sua narrativa muito mais em fatos situados no tempo e no espaço do que na continuidade da ação filmada. (ROCHA, 2012, p.85).

O documentário também é identificado pelo seu formato de produção. De acordo com

Nichols (2005) são seis tipos de modelos: poético, que corresponde a passagens descritivas

com música e ritmo, o expositivo, que enfatiza a argumentação, observativo, com participação

direta no cotidiano dos indivíduos, participativo, que apresenta interação entre cineasta e a

temática através de entrevista, o performático, que evidencia a expressão e engajamento do

próprio cineasta e modo reflexivo, que chama atenção para as hipóteses. Assim, os formatos

referem-se a períodos distintos do avanço da linguagem cinematográfica e documental.

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A vista disso, na produção da obra documental Paquinha: liderança feminina no Quilombo do Grilo identifica-se a predominância do modo participativo, considerando que o produto foi desenvolvido a partir de entrevistas com interação entre personagem e documentarista. Apesar do autor não ter exposição direta nas cenas, sua perspectiva de acordo com a narrativa é transmitida aos espectadores. Ademais, corresponde a uma produção que utiliza imagens de arquivo para ilustrar questões históricas.

Nessa perspectiva, na linguagem documental prepondera o exercício da subjetividade, que compreende um modo singular do autor apresentar uma história utilizando elementos que identificam suas ideias, opiniões e ideologias que defende. A partir da escolha do tema, forma de abordagem da temática e, sobretudo, o processo de edição, ao selecionar o que irá compor a narrativa. Dessa maneira, o documentário identifica-se como gênero autoral, marcado pelo olhar do criador. Segundo Penafria (1999) a identificação de uma visão é uma escolha estética e implica determinadas seleções cinematográficas no lugar de outras: como planos, enquadramentos, técnicas de montagem e edição. Cada opção adotada pelo documentarista representa um ponto de vista individual. Logo, é possível identificar que a subjetividade e ideologia estão fortemente presentes no documentário Paquinha: liderança feminina no Quilombo do Grilo . No intuito de retratar as questões de gênero, evidenciando a voz das mulheres, especialmente do contexto quilombola, que possuem papel de liderança em suas comunidades e revelam a necessidade da ocupação desses espaços sociais.

2.2 Liderança feminina quilombola na Paraíba

No estado da Paraíba existem 54 municípios com comunidades quilombolas, segundo dados de 2019 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), contidos na Base de Informações Geográficas e Estatísticas

1

sobre os indígenas e quilombolas para enfrentamento à Covid-19, publicada em 2020. Dentre elas, Caiana dos Crioulos, Pedra D'água, Matão, Grilo, Pitombeira, representam algumas das comunidades com certificado, ou seja, que obtiveram o processo de titulação fundiária dos seus territórios pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). Além do reconhecido Quilombo do Talhado, localizado no município de Santa Luzia - PB, cuja história da comunidade é retratada no curta-metragem Aruanda de Linduarte Noronha, filmado em 1960. Obra de grande

1

Documento disponível em:

https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/media/com_mediaibge/arquivos/9eab8499f5479b9751d5a6ef03b8c38f.pdf

Acesso em: 05 nov. 2020.

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importância no cenário da filmografia nacional que inicia discussões acerca do contexto de fuga da escravidão e estabelecimento dos grupos quilombolas.

São comunidades quilombolas constituídas prevalentemente por grupos rurais e camponeses que ocupam lugar no desenvolvimento da produção agrícola na Paraíba. Suas estruturas encontram-se intrinsecamente associadas ao contexto de fuga da escravidão. Assim, esses espaços tornaram-se locais de refúgio que abrigam a manutenção das ancestralidades do povo negro. Nessas comunidades a obtenção do direito territorial provém do processo de luta e de reivindicações dos movimentos negros brasileiros.

Segundo o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), as etapas de obtenção da titulação de território

2

incluem: primeiro apresentar ao INCRA a certidão de autorreconhecimento quilombola emitida pela Fundação Cultural Palmares, a qual as comunidades têm direito de solicitar a autodefinição. Em seguida, é elaborado o Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID) que reúne as informações fundiárias, antropológicas e socioeconômicas acerca da comunidade. A partir da organização desses dados, o documento é publicado junto a Superintendência do INCRA. Após esse processo ocorre a publicação do reconhecimento da identificação territorial no Diário Oficial da União e dos estados. Com essa publicação os grupos quilombolas recebem legalmente a titulação das terras. Essa conquista favoreceu o desenvolvimento e visibilidade de diversas comunidades que hoje podem ser mapeadas.

Tendo em vista que as comunidades quilombolas paraibanas constituem-se do processo de ocupação do território agrário, elas estão inseridas em um sistema social hierárquico do campo que relaciona terra, trabalho e família do ponto de vista masculino.

Portanto, a hierarquia social camponesa sustentada na autoridade paterna e na divisão sexual do trabalho dentro da família, atribui ao trabalho feminino designações e/ou nomeações e significados diferenciados e, regra geral, inferiorizados em relação ao trabalho desempenhado pelo homem.

(MONTEIRO, 2013, p. 100).

Deste modo, no âmbito do trabalho rural, às mulheres atribuem-se o trabalho doméstico e quando também participam da produção no roçado tem o seu desempenho considerado como auxílio ao homem. Sendo assim excluídas também das tomadas de decisões no que se refere às questões familiares e à respeito da comunidade. Essa posição de

2

Documento disponível em: < http://www.incra.gov.br/pt/passo_a_passo_quilombolas >. Acesso em: 20 nov.

2020.

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invisibilidade sucede da ausência de valorização da mulher diante de um contexto onde preponderantemente as posições que representam força são ocupadas pelos homens.

Contudo, ao analisar o contexto das mulheres quilombolas que participaram da composição deste produto midiático, verificamos que a realidade dessas mulheres são distintas e executam atividades que não correspondem apenas ao cenário doméstico. Elas encontram-se também muito presentes no roçado e nos trabalhos manuais, bem como conquistaram espaços de liderança nas lutas pelo reconhecimento de suas terras e na organização da comunidade.

Assim, identifica-se que o contexto de posição inferiorizada tem sido superado pelas mulheres em determinadas comunidades quilombolas. Esse aspecto as tem levado ao lugar de maior protagonismo e liderança. A posição de líder comunitária abrange responsabilidades que vão além da administração. Está associada também a luta por terra, educação, saúde e direitos que foram tomados no decorrer da história.

Além da resistência contra a discriminação racial. “Estão se politizando e compreendendo que não basta o Estado reconhecer uma dívida histórica com o povo negro que vive no campo, hoje, é preciso mais, é preciso garantir terra e condições de permanecer vivendo e trabalhando nela”. (MONTEIRO, 2013, p. 116). Protagonizando lutas diárias, as mulheres quilombolas possuem grande participação no tocante ao avanço das comunidades.

Superando o período de invisibilidade a que estiveram condicionadas. Essas mulheres têm se articulado na formação de grupos de produção de artesanato que contribuem para a manutenção das raízes culturais. Ademais, estão ocupando lugares que antes lhe eram negados.

É fundamental que a historiografia passe a abordar os sujeitos que sempre foram marginalizados pela história, fazendo com que estes se sintam a vontade pra falar e, principalmente, que se percebam enquanto sujeitos históricos, contrapondo-se a uma historiografia excludente. ( SANTOS, 2018, p. 22).

Dessa forma, diante de uma longa história de exclusão, as mulheres quilombolas

apresentam-se em evidência em diversos setores sociais, favorecendo a evolução do processo

de reconhecimento delas enquanto sujeitos históricos.

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3. METODOLOGIA

3.1 Coleta de dados

Para o desenvolvimento dessa produção documental foram aplicados determinados instrumentos metodológicos. O processo de apuração que precedeu o planejamento do documentário fundamentou-se através da pesquisa bibliográfica, com a leitura de artigos e dissertações acadêmicas que tratam sobre o Quilombo do Grilo e o protagonismo feminino quilombola, para coletar as informações temáticas necessárias à construção do roteiro de filmagem, haja vista que devido ao contexto de pandemia da Covid-19 não existiria a possibilidade de desenvolver uma pesquisa etnográfica a partir de um contato direto e prolongado com os moradores na comunidade, conforme estava previsto inicialmente.

A coleta de dados da história estruturou-se com a utilização dos métodos jornalísticos de técnicas de entrevista. Deste modo, nesse produto documental foi aplicada a técnica da entrevista semi estruturada em profundidade. Segundo Gil (2010) a técnica possibilita um espaço de liberdade de fala e expressão para o personagem, associada com a orientação do entrevistador que auxilia no direcionamento dos questionamentos. Nesse processo, o entrevistador utiliza o roteiro de perguntas abertas como instrumento de pesquisa, onde podem ser incluídas novas indagações conforme o andamento da entrevista.

A entrevista semi estruturada oferece maior amplitude na coleta dos dados, bem como uma maior organização: esta não estando mais irremediavelmente presa a um documento entregue a cada um dos interrogados. Por essa via, a flexibilidade possibilita um contato mais íntimo entre o entrevistador e o entrevistado, favorecendo assim a exploração em profundidade de seus saberes, bem como de suas representações, de suas crenças e valores.

(LAVILLE e DIONNE, 1999, p. 188).

Tendo em consideração que as produções documentais fundamentam-se, sobretudo, por meio de relatos verbais para construir narrativas de histórias, no que se refere a linguagem do presente documentário audiovisual aplica-se a técnica definida como história oral, método realizado através da gravação de entrevistas com atores sociais que vivenciaram aspectos de uma conjuntura e determinada história. A técnica contribui para o processo de compreensão acerca da interpretação de acontecimentos experienciados por indivíduos ou grupos sociais.

Isso torna o estudo da história mais sólido e possibilita que a percepção de um recorte social

do passado ou momento atual seja transmitido e entendido em qualquer período histórico.

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Assim, a história oral apresenta a potencialidade de fornecer o acesso a uma multiplicidade de memórias e versões de um âmbito. Conforme afirma Alberti (1989, p. 52),

Um método de pesquisa histórica, antropológica, sociológica, que privilegia a realização de entrevistas com pessoas que participaram de, ou testemunharam acontecimentos, conjunturas, visões de mundo, como forma de se aproximar do objeto de estudo. Trata-se de estudar acontecimentos históricos, instituições, grupos sociais, categorias profissionais, movimentos, etc.

Deste modo, a história oral concede não somente compreender como o passado configura-se a partir das lembranças, mas essencialmente como essas recordações se constituíram. Segundo Alberti (1990) as possibilidades oferecidas por esse método contribuem para a investigação da memória onde ela não é unicamente significado, mas também acontecimento e ação. Nas entrevistas de história oral, o enquadramento e a manutenção da recordação desenvolve-se tanto por meio do relato do entrevistado quanto pelo direcionamento do entrevistador que conduz o momento em que as falas são captadas para a construção da narrativa que se pretende retratar. Além disso, o método de relato verbal representa dentro de uma produção documental a importância da fala dos personagens que compõem uma história, demonstrando a relevância dos indivíduos sociais no tocante a transmissão de conhecimentos que promovem a preservação de perspectivas da coletividade.

Mas acreditamos que a principal característica do documento de história oral não consiste no ineditismo de alguma informação, nem tampouco no preenchimento de lacunas de que se ressentem os arquivos de documentos escritos ou iconográficos, por exemplo. Sua peculiaridade e a da história oral como um todo decorre de toda uma postura com relação à história e às configurações sócio-culturais, que privilegia a recuperação do vivido conforme concebido por quem viveu. (ALBERTI, 1990, p.5).

A vista disso, no documentário Paquinha: liderança feminina no Quilombo do Grilo

verifica-se que a história oral é a ferramenta central utilizada para o desenvolvimento da

produção que fundamenta-se na fala de Leonilda Coelho Tenório. Os relatos de suas vivências

e lembranças evidenciam fatos e aspectos históricos do contexto quilombola e o protagonismo

feminino. A narrativa é construída a partir também das contribuições de Massilene Tenório e

João Aurélio, que revelam a necessidade da manutenção dessa memória responsável por

carregar significados específicos de uma realidade que deve ser destacada e transmitida a

outras consciências.

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Através das ferramentas metodológicas mencionadas, a construção da produção documental foi desenvolvida em um período mais longo devido ao cenário de pandemia da Covid-19 que modificou o andamento das atividades.

3.2 Cronograma de Atividades

ETAPAS MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV Definição do tema X

Suspensão das atividades devido à pandemia

X X

Revisão bibliográfica X X X

Produção e gravação X X

Decupagem e edição X X

Elaboração do relatório X X

Revisão do relatório e do produto

X Entrega do produto e

Defesa do TCC X

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4. DETALHAMENTO TÉCNICO

A produção documental foi desenvolvida de acordo com o Protocolo de Segurança e Saúde no Trabalho do Audiovisual

3

, documento produzido com parceria entre o Sindicato da Indústria Audiovisual do Estado de São Paulo (SIAESP), Associação Brasileira da Produção de Obras Audiovisuais (APRO) e Sindicato dos Trabalhadores na Indústria Cinematográfica e do Audiovisual (SINDCINE), com o intuito de instruir a categoria para o momento em que foi permitida a retomada das produções de maneira segura e responsável. Contém procedimentos detalhados para garantir a segurança nos sets de filmagem. O protocolo seguiu os pilares de distanciamento social, higienização, desinfecção, comunicação e monitoramento e a proposta é que ele seja um documento único e de referência para todos os envolvidos na indústria do audiovisual.

Na gravação foram utilizadas duas câmeras, Canon M50, com lente 15-45mm, e Canon T6, com lente 18-55mm. Além do apoio de um tripé. Para captação de som a distância utilizamos um microfone externo direcional, modelo Shotgun Yoga HT-81, junto com um gravador de voz. O documentário Paquinha: liderança feminina no Quilombo do Grilo possui a duração de 19'05’’ minutos. Sua composição apresenta os depoimentos de Leonilda Coelho Tenório dos Santos (Paquinha), 59 anos, líder comunitária do Quilombo do Grilo, e de Massilene Tenório da Silva, 33 anos, filha da líder e que trabalha como enfermeira na comunidade, além de João Aurélio dos Santos Tenório, 24 anos, sobrinho de Paquinha.

As declarações dos entrevistados evidenciam a história da construção do Quilombo do Grilo e revelam a importância da resistência das mulheres nesse contexto. Através do desenvolvimento das falas foram exploradas as temáticas acerca do âmbito quilombola, liderança feminina, resistência negra, escravidão e discriminação racial. Assim, a narrativa foi estruturada a partir do conteúdo das entrevistas e a composição elaborada com as imagens de ambientação produzidas na comunidade.

Para a gravação do produto audiovisual foram utilizadas cenas em primeiro plano

4

, plano fechado

5

, plano americano

6

, plano detalhe

7

, contra-plongée

8

e plano médio

9

. O vídeo é

3

Documento disponível em:

http://spcine.com.br/wp-content/uploads/PROTOCOLO-DE-SEGURANC%CC%A7A-E-SAUDE-NO-TRABA LHO-DO-AUDIOVISUAL.pdf. Acesso em: 03 nov. 2020.

4

Primeiro plano: é enquadrada do busto para cima.

5

Plano fechado: concentra-se num rosto ou detalhe de uma cena.

6

Plano americano: enquadrada do joelho para cima.

7

Plano detalhe: enquadra uma parte do rosto, corpo ou objeto.

8

Contra-plongée: câmera está abaixo do nível dos olhos, voltada para cima.

9

Plano médio: mostra a pessoa da cintura para cima.

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introduzido com a imagem da entrada da estrada que leva a comunidade, seguida de um take

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em movimento que desce do céu e foca na imagem de Paquinha em plano fechado, com sonora de seu sobrinho, João Aurélio, ao falar sobre a representatividade da líder. Essa introdução apresenta a personagem da narrativa. Após a abertura inicia-se a fala de Leonilda, coberta com imagem em plano de nuca

11

que mostra a paisagem do quilombo, enquanto ela explica o significado do nome ‘Grilo’, somado a imagem de seus pés refletidos em água.

Na sequência, ela inicia a fala sobre sua história e de sua família no quilombo, coberta com imagem em plano médio dela caminhando pela comunidade. A narrativa tem sua continuidade com Paquinha em primeiro plano, enquadramento principal que foi filmado utilizando a câmera Canon M50, em imagem parada com apoio do tripé e o microfone direcional, que foram manuseados por Rafael Duarte. Na primeira parte da entrevista ela aborda a temática do contexto de escravidão dos primeiros habitantes que chegaram ao território do Grilo e discorre acerca da ancestralidade de sua família.

Para alterar o enquadramento da cena, em plano fechado, foi utilizada a segunda câmera, Canon T6, operada pela autora que utilizou o equipamento em mãos, transitando entre os espaços para explorar outros ângulos que contribuíram para gerar movimento e dinamismo visual. Durante toda a filmagem as duas câmeras foram utilizadas para captação de imagens diversas.

No próximo tema abordado, Paquinha, em primeiro plano, fala do contexto da vida de sua família na comunidade, na época em que seu pai trabalhava para o fazendeiro dono da terra. Nesse momento, o documentário apresenta imagens em plano aberto do território. E a cena, em plano americano, da sua irmã Lurdes, ao explicar que ela foi uma das primeiras a construir sua casa no quilombo. Em seguida, é apresentada a temática central do produto documental que retrata o contexto de liderança feminina no Quilombo do Grilo, uma luta que perpassa gerações na família de Leonilda.

Em primeiro plano, a líder conta a história de sua avó Arquelina e sua representatividade na comunidade, demonstrando a importância para a educação dos moradores e contribuição social. Sua fala é repleta de exemplos e vivências da relevância dessas mulheres na posição de liderança. Além disso, em primeiro plano e contra-plongée, ela discorre acerca das conquistas de sua mãe e os ensinamentos que recebia dela.

Na continuidade da temática principal, com transições entre primeiro plano, plano fechado e detalhe, Paquinha, conta sobre os ensinamentos adquiridos com as mulheres da sua

10

Take: toda imagem registrada pela câmera.

11

Plano de nuca: angulação onde a câmera está em linha reta com a nuca da pessoa filmada.

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família e grandes exemplos na comunidade, que representam a força e resistência da mulher quilombola. Seguindo nesse tema, em primeiro plano e plano detalhe, ela aborda a questão dos seus sonhos referentes às mulheres no Grilo, sobre o seu desejo de continuar passando os conhecimentos que carrega na família e desenvolver a manutenção das tradições culturais através das jovens. Enquanto ela expressa seus sentimentos, uma imagem dela direcionando-se a um grupo de mulheres na comunidade cobre sua fala.

Após a abordagem dessa temática, na continuidade da narrativa, em plano fechado, Paquinha discorre sobre o contexto de discriminação racial vivenciado desde a infância, apresentando as consequências sofridas a partir dos casos de racismo. A próxima mudança de tópico é apresentada com a imagem de Massilene Tenório, em enquadramento que a posiciona de costas para a câmera, caminhando na comunidade. Nesse momento, sua primeira fala se refere a força das mulheres no quilombo. Ela também explica, em plano conjunto com a mãe, como ocorreu sua decisão de estudar e trabalhar como enfermeira para contribuir com os moradores da comunidade.

Os cortes produzem interlocução entre os entrevistados, de modo que o espectador possa ter conhecimento acerca das vivências de cada personagem de acordo com seus contextos individuais, dentro do mesmo espaço e âmbito identitário. Além das cenas em conjunto que contribuem para a visualização do encontro dessas histórias que compõem uma só narrativa.

Na sequência da fala da filha, Paquinha, em primeiro plano, conta sobre o processo de luta que ela passou para conseguir a regularização das terras do Quilombo do Grilo. Sua narrativa continua, em plano fechado, ao abordar a viagem que realizou a Brasília, quando foi ao encontro da ex-presidente Dilma Rousseff, para receber o decreto de desapropriação de territórios de comunidades quilombolas. Sua fala é seguida do trecho de uma cobertura da cerimônia do programa do governo, Brasil Quilombola, realizada pela TV Brasil, em 5 de dezembro de 2013

12

. O discurso de Paquinha também é coberto com imagens em plano geral, que mostram os ambientes da comunidade.

A temática seguinte é apresentada em primeiro plano, ao explicar como ocorreu o processo em que a tornou líder comunitária. Com imagens de ambientação que mostram o colégio construído por ela, Paquinha fala das conquistas que obteve com o resultado de sua luta pelo quilombo. A exemplificação das melhorias que conquistou para seu povo tem sua continuidade com a líder em primeiro plano, contando sobre o processo de construção das

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Vídeo disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=HgNBy1sYcZc&ab_channel=TVBrasilGov.

Acesso em: 31 out. 2020.

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estradas que levam ao quilombo, trabalho desenvolvido por suas mãos durante 13 anos. Sua fala é coberta por imagens que mostram as grandes pedras que ela quebrou e os caminhos que construiu.

A fala impactante de Paquinha sobre sua força e luta para quebrar pedras é seguida do relato cheio de emoção de sua filha que, em plano conjunto, expressa a grandiosidade do que ela representa em sua vida e para o quilombo. O relato de Massilene também é destacado na fala seguinte do sobrinho de Leonilda, João Aurélio, que também comunica palavras repletas de sentimento sobre a relevância do trabalho dela e sua gratidão. Além de relatar tudo que a comunidade representa em sua vida e a dimensão do impacto de suas raízes culturais. Sua fala é coberta com imagens emotivas dos três em plano conjunto. O relato de João finaliza a participação dos entrevistados e proporciona uma conclusão para toda a temática retratada na produção documental.

Para concluir, o documentário ressalta a imagem de Paquinha como representação da

força da liderança feminina. Em plano fechado, ela deixa uma mensagem de encorajamento

para as mulheres, especialmente, as quilombolas. A fala é coberta por uma imagem em

contra-plongée, para dimensionar a sua grandeza. O take final evidencia o detalhe dos olhares

de Paquinha e Massilene. Por fim, as imagens de making off são alinhadas, em miniatura, à

esquerda na tela e seguem com a descrição dos créditos do trabalho.

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5. PLANEJAMENTO E EXECUÇÃO

5.1 Produção

Durante a graduação a área de produção audiovisual sempre foi o meu maior interesse.

Nos primeiros períodos através das disciplinas de “Linguagem Fotográfica” e “Laboratório de Fotojornalismo” obtive uma visão ampliada das possibilidades dos produtos imagéticos. No decorrer das aulas pude ter acesso aos equipamentos fotográficos, adquirindo os conhecimentos das teorias e técnicas. Tendo em vista que a fotografia compreende a base do audiovisual, as disciplinas foram imprescindíveis para o meu desenvolvimento nessa área.

Deste modo, em projetos de extensão e nas atividades acadêmicas, sempre priorizei participar dos trabalhos fotográficos ou de videorreportagens.

Nessa perspectiva, para o projeto do componente TCC I elaborei o trabalho com o intuito de desenvolver um documentário abordando a temática da construção do machismo na sociedade e segui com essa ideia. Contudo, devido a pandemia da Covid-19 que teve seu início durante as primeiras semanas do período letivo 2020.1, tudo foi afetado e modificado.

Foi quando conheci a história de Paquinha por meio de uma colega da universidade que visitou o Quilombo do Grilo em uma viagem com a sua turma do curso de Serviço Social. Seu relato me encantou grandemente e surgiu a vontade de registrar essa história em documentário.

A responsável por essa viagem foi a professora da UEPB, Alcione Ferreira da Silva, a qual entrei em contato para conhecer mais sobre Paquinha e saber como chegar até sua história. A princípio, iria juntamente com a professora na visita que ela faria ao quilombo no início do período, para conhecer as personagens, obter um primeiro contato para vivenciar aquele contexto, observar e apresentar a proposta da gravação do documentário. Sendo aceita, iria retornar em outro momento acertado para desenvolver a filmagem. Todavia, com a paralisação das atividades acadêmicas presenciais e necessidade de isolamento, todo o plano foi cancelado.

Através do auxílio de Alcione Ferreira obtive os contatos de moradores do Grilo,

tendo em vista que a líder não possui telefone. Dessa forma, através da filha Massilene

Tenório, entrei em contato com Paquinha e ao apresentar minha ideia ela prontamente aceitou

participar do documentário. Logo, a mudança de tema foi passada ao orientador. Deste modo,

continuei em comunicação com ela para agendar a filmagem quando houvesse condições de

segurança para realizar as gravações dentro dos protocolos de isolamento social, devido à

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pandemia. Nesse intervalo, no mês de maio iniciei as leituras dos autores de referencial teórico do âmbito de documentário audiovisual e realizei a produção do roteiro de filmagem.

Ademais, passei a assistir documentários com temática quilombola e estudar o assunto.

No mês de agosto retornei o contato com Massilene que depois levava o recado a Paquinha. Busquei saber como elas estavam e sobre a situação da pandemia na comunidade, para analisar quando poderia ser possível nosso encontro para gravação, mas em agosto ainda não achamos possível. Ela me informou também que a mãe esteve enferma e seria necessário aguardar mais tempo. Assim, no mês de setembro, conversamos novamente e Paquinha permitiu a minha ida, tendo em consideração que a região do quilombo encontrava-se em um melhor contexto de estabilidade. Ademais, pelo fato de que toda a produção seria elaborada de acordo com as normas de segurança, higienização e distanciamento social.

Dessa forma, de acordo com a disponibilidade delas, a gravação foi marcada para o dia 6 de setembro, às 13h. Devido a realidade de pandemia todo o processo de produção deste trabalho precisou ser adaptado e modificado. A ideia seria além da fala de Paquinha e Massilene, entrevistar mais pessoas da comunidade que seriam identificadas na viagem que deveria ter ocorrido com a professora Alcione.

No entanto, foi necessário entrevistar menos pessoas, pois teria apenas o turno da tarde desse dia para gravação. Isso devido ao fato de que não passei mais a morar em Campina Grande e precisei voltar a minha cidade de origem, Natal-RN. Também pelo grande deslocamento e necessidade de isolamento social não seria possível retornar a comunidade mais vezes. Assim, viajei ao quilombo para filmagem e retornei ao Rio Grande do Norte no mesmo dia.

5.2 Filmagem

Para a produção documental eu já possuía minha câmera Canon T6, porém, por não ter entrada para microfone externo precisei do auxílio de Guilherme Sales, estudante de administração da UFCG, que colaborou com sua câmera Canon M50 para que eu gravasse sem uso de lapela. O microfone direcional foi cedido por Rafael Duarte, estudante de Arte e Mídia da UFCG, que participou da produção e o gravador de áudio foi cedido pelo orientador do trabalho, Rostand Melo.

Após a organização dos equipamentos e com os termos de autorização de imagem em

mãos, nos dirigimos a região de Riachão do Bacamarte no dia 6 de setembro. Seguindo as

orientações de Massilene e pedindo informações pelo caminho conseguimos chegar ao

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Quilombo do Grilo. A estrada é íngreme, um caminho longo com grandes subidas. O clima estava muito quente. O horário marcado foi às 13h, de acordo com a disponibilidade das entrevistadas. Logo, foi necessário adaptar-se a alta temperatura para gravar em um local arejado e confortável para todos. Massilene nos dirigiu a varanda de uma casa com sombra, onde gravamos ao ar livre, cumprindo com as normas de distanciamento e usando máscaras.

Por esse motivo optei por realizar toda a entrevista nesse espaço que serviu muito bem.

Nesse sentido, a primeira dificuldade identificada foi em relação ao vento muito forte que passou a interferir em alguns momentos na gravação, devido ao microfone utilizado ter apenas um filtro contra ruídos leves. Ela explicou que pelos meses que já haviam passado da quarentena e a situação no local estabilizada eles não estavam mais utilizando máscaras.

Contudo, nós que chegamos de outro local, fizemos o uso da máscara durante todo o processo para garantir a segurança de todos. Organizamos os equipamentos e montamos o tripé para apoio da câmera principal que foi manuseada por Rafael Duarte, enquanto utilizei a segunda câmera. Estava com o roteiro de filmagem em mãos, junto com informações que reuni anteriormente e sugestões de perguntas. Dessa maneira, decidimos começar com a entrevista de Paquinha.

Figura 1: Leonilda Coelho Tenório (Paquinha), 59 anos, líder comunitária do Grilo

Fonte: Fotografia produzida pela autora

A conversa se desenvolveu de maneira fluida e fui conduzindo de acordo com as

perguntas pensadas no roteiro para me ater aos relatos essenciais. A entrevista teve duração de

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1h40min. Utilizando a câmera Canon M50 no tripé, optamos pelo enquadramento em primeiro plano para evidenciá-la. Ela demonstrou grande prazer em nos relatar sua história e falou que está sempre aberta para conversar porque gosta de receber pessoas na comunidade.

Uma dificuldade pessoal foi lidar com o nervosismo, pois ao ter conhecido anteriormente parte da sua história compreendi a grande responsabilidade e privilégio de poder registrá-la.

Isso me deixou ansiosa durante toda a gravação e preocupada para que tudo ocorresse bem, sobretudo, sem erros técnicos e problemas com equipamentos.

Desde modo, para que ela também estivesse confortável, antes de iniciar a filmagem conversamos, relembrei a proposta da temática para o documentário e demonstrei que gostaria de deixá-la livre para contar sua história da forma que achasse melhor e que quando necessário lhe faria algumas perguntas. Assim, iniciei com a pergunta sobre sua vida e de sua família na comunidade. Enquanto a câmera principal captava o ângulo fixo utilizei o segundo equipamento para registrar a fala com outros enquadramentos.

Figura 2: Entrevista com Paquinha produzida respeitando o distanciamento

Fonte: Fotografia produzida pela autora

Durante seu relato foi possível identificar as consequências sofridas com o trabalho

pesado que desenvolve no Grilo. Além do que ela relatou de perda de peso e problemas na

visão, ela estava enfrentando dificuldades com relação a memória. Por esse motivo sua

entrevista foi repleta de períodos em que retornava a fala após um erro e quando estava

abordando um outro assunto em alguns momentos voltou para contar algo do tema anterior

que havia lembrado posteriormente. O que tornou o processo de edição mais trabalhoso.

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No primeiro momento da entrevista, Paquinha falou sobre suas memórias na comunidade e a vida de seus pais, evidenciando as dificuldades que enfrentavam. Após seu relato questionei sobre o que ela poderia falar acerca dos primeiros habitantes do território e ela contou sobre tudo que sua mãe, Dôra, havia lhe passado. Na sequência ela entrou no assunto de sua avó Arquelina que teve grande influência na vida de todos os moradores.

Depois dessa fala pedi que ela contasse sobre como identificava a liderança das mulheres em sua família e os ensinamentos que obteve com a mãe e avó. Ao concluir essa temática ela mencionou sobre a questão da interferência das religiões cristãs na cultura quilombola e destacou sua preocupação diante de tradições que têm sido demonizadas, como a reza, produção de artesanatos, danças e brincadeiras ensinadas por seus ancestrais.

O relato sobre religião se estendeu por muito tempo e depois dela concluir retornei a temática central questionando sobre o seu processo de líder comunitária e as conquistas que obteve com sua luta. Nessa fala ela introduziu como ocorreu a regularização das terras do quilombo e sobre seu encontro com a ex-presidente Dilma Rousseff. Dessa forma, a conversa foi avançando para abordagem da temática das mulheres e Paquinha deixou uma mensagem sobre seus sonhos e desejos de que as jovens continuem seu trabalho. Para finalizar, pedi que ela explicasse o significado do nome ‘Grilo’, e finalizamos sua entrevista com essa explicação.

Figura 3: Massilene Tenório, 33 anos, trabalha como enfermeira na comunidade

Fonte: Fotografia produzida pela autora

Em seguida, Massilene que acompanhava a entrevista da mãe, juntou-se a ela. Assim,

ajustamos a imagem para o enquadramento de plano conjunto. A entrevista com ela foi mais

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rápida, em torno de 20 minutos. Retornei ao roteiro para relembrar as perguntas que havia planejado. Diferente de Paquinha, durante a conversa foi necessário ir conduzindo e inserindo mais perguntas, pois ela era mais tímida para se expressar. Com o seu relato abordamos em sequência sobre a importância da comunidade para ela e as memórias de sua infância.

Também fiz perguntas sobre sua decisão de trabalhar como enfermeira no quilombo. E ao questionar em seguida sobre as dificuldades nesse processo ela abordou sobre discriminação racial e todos os casos que sofreu, mas de cabeça erguida ainda passou uma mensagem de encorajamento para os que também enrentam o racismo.

Nesse momento pedi que falasse sobre o futuro do quilombo e seus sonhos para aquele lugar. Ela relatou sobre a importância do estudo que deseja enxergar os jovens buscando o caminho da educação. Além de demonstrar sua vontade em dar continuidade ao legado de sua mãe e manter as raízes culturais. Nesse ponto da entrevista fiz a pergunta que planejei utilizar no início do documentário para apresentar a representatividade de Paquinha com uma voz feminina. Questionei sobre a importância dela como líder e mãe e muito emocionada ela diz que é difícil falar dela sem se emocionar. Contudo, nesse momento, com a aproximação de uma criança que provocou barulhos a qualidade do áudio foi afetada, não sendo possível utilizar parte do relato. Por estar muito emocionada, depois de sua fala Massilene se retirou e retornou posteriormente.

Figura 4: João Aurélio, 24 anos, sobrinho de Paquinha

Fonte: Fotografia produzida pela autora

João Aurélio, sobrinho de Paquinha, enquanto gravamos se aproximou para

acompanhar a entrevista. E após o relato de Massilene perguntei se ele também gostaria de

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participar da entrevista. Ele aceitou e demonstrou vontade em poder contribuir. Sua participação também foi breve e serviu para inserir um outro olhar da visão masculina em relação ao contexto de liderança feminina. Deste modo, questionei João sobre a representatividade da comunidade em sua vida e como ele identificava a importância da posição de Paquinha como líder.

Nesse momento Massilene também retornou a cena e mantivemos o plano em conjunto para evidenciar todos juntos. Seu relato foi objetivo e também cheio de emoção. A fala que ele expressou acerca da representação de Paquinha foi utilizada para substituir o trecho de abertura, tendo vista que não seria possível utilizar a de Massilene, conforme previsto inicialmente no roteiro.

Figura 5: Bastidores da gravação com Paquinha

Fonte: Fotografia produzida por Rafael Duarte

Após a etapa de entrevistas concluída expliquei sobre a necessidade das assinaturas do termo de autorização de imagem e eles prontamente assinaram. Em seguida, me direcionei mais uma vez ao roteiro para identificar as imagens de ambientação que deveriam ser produzidas. Dessa forma, nos dirigimos aos espaços da comunidade para registrar as imagens que iriam compor o documentário. Realizei as cenas que havia planejado para Paquinha, em contra-plongée, caminhando pelas ruas do quilombo e outras imagens que foram elaboradas no momento.

O processo de gravação das entrevistas teve duração de 2h10min e a produção foi

finalizada próximo das 16h da tarde. Devido ao horário que estava avançado não foi possível

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visitar todos os ambientes da comunidade. Logo, optei por produzir as imagens que seriam essenciais de acordo com o roteiro. Registrei o caminho que Paquinha nos levou para conhecer o colégio e as paisagens encantadoras.

Em seguida, continuamos conhecendo outros espaços e ao passar pelo caminho antes de pedras que foram quebradas por Paquinha, pensei em registrar uma cena dela explicando ao lado da pedra um resumo do trabalho realizado, entretanto, o vento muito forte impediu o áudio, sendo apenas a imagem captada. Assim, também repassei para Rafael que estava com a outra câmera as imagens que precisaríamos registrar e com o trabalho em dupla mais rápido conseguimos concluir o que foi planejado.

Figura 6: Bastidores de gravação do documentário Paquinha: liderança feminina no Quilombo do Grilo

Fonte: Fotografia produzida pela autora

Nesse caminho encontramos a irmã de Paquinha, Maria de Lourdes Tenório, que

também representa uma personagem importante entre as mulheres do Grilo, mas não foi

possível entrevistá-la porque estava ocupada indo trabalhar na roça e pela falta de tempo não

teria como aguardar. Devido a véspera do feriado de 7 de setembro, encontravam-se poucos

moradores na comunidade, por esse motivo não conseguimos registrar outros relatos e

imagens que poderiam atribuir mais significados. Todavia, consideramos que o material

produzido foi satisfatório para a construção do documentário.

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