Universidade Nova de Lisboa
NOVA Medical School
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Faculdade de Ciências Médicas
Relatório Final de Estágio
Mestrado Integrado em Medicina
Sérgio Filipe Alves Macedo
N.º 2009310 | Turma 5
Ano lectivo 2014-2015
Introdução
O 6º ano do Mestrado Integrado de Medicina (MIM) da Faculdade de Ciências Médicas
(FCM) da Universidade Nova de Lisboa (UNL) assume a forma de um ano profissionalizante,
em linha com o Tuning Project1 e enquadrando-se na Unidade Curricular – “Estágio
Profissionalizante”, culminando numa descrição das atividades realizadas nos meus diferentes estágios parcelares e balanço global do trabalho efetuado, que é sujeito a
discussão e avaliação perante um júri.
Graças à excelente organização do Gabinete de Relações Internacionais da FCM, tive a
oportunidade de realizar todos os meus estágios (à exceção de Medicina Geral e Familiar)
em Berlim, em parceria com a Charité Universitätsmedizin.
Muitos foram os objetivos que me comprometi a alcançar, desde os mais gerais aos mais
específicos de cada estágio, entre os quais: integração de conhecimentos e
competências/técnicas médicas; aperfeiçoamento do contato biopsicossocial com o doente;
publicação de artigos relevantes em revistas da comunidade científica; prática de Medicina
baseada na Evidência; providenciar cuidados de emergência e manobras de ressuscitação
cardiopulmonar e muitos outros de Nível 1 e 2.1
Gostaria ainda de realçar um objetivo de particular importância para a minha
aprendizagem ao longo do curso: ○ “Desenvolver competências indispensáveis ao exercício
profissional da Medicina tais como: colheita de dados nas várias situações clínicas;
elaboração do raciocínio clínico de forma a proceder à formulação de diagnósticos
provisórios e definitivos; tomada de decisões clínicas”.2
Este relatório está organizado em 2 partes e visa expôr: as atividades desenvolvidas (I) em
cada estágio parcelar, os quais irei apresentar de forma cronológica; e por fim, oferecer uma
I
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Atividades desenvolvidas
1
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Cirurgia Geral
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Este estágio decorreu no Serviço de Cirurgia Geral do Hospital deFrankfurt (Oder) durante 8 semanas (15.09.2014-09.11.2014), tendo sido tutorado pelos Drs.
Bergenthal e Maciek e onde observei o doente cirúrgico em situação de internamento,
Serviço de Urgência (SU), Bloco Operatório (BO) e Consulta Externa (CE). Na Enfermaria
assisti diariamente (das 7-15h) à Visita médica e à Reunião de Serviço (RS), onde eram
apresentadas as entradas da noite anterior, planeadas as operações do dia seguinte e
discutidos os doentes dos Cuidados Intermédios (CI). Fui responsável pela entrada de
doentes, realizando a sua história clínica (Hx), exame objetivo (EO), recolha de sangue para
análise, ECG e raio-X, se caso disso. Posteriormente apresentava os doentes ao médico
que ficaria responsável pela explicação ao doente do procedimento a realizar e respetivo
consentimento. Acompanhei os doentes internados, elaborando o seu diário clínico, notas de
entrada e alta. Cumpri 200h de SU, estando presente no Balcão, no Serviço de Observação
e no BO, onde tratei doentes em contexto agudo, tendo participado e assistido a cirurgias de
urgência, suturado, desinfetado e realizado pensos de feridas. Assisti diariamente a cirurgias
no BO, tendo participado em diversas como 3º ou 2º operador (ver Anexos),
familiarizando-me com diferentes técnicas, material utilizado, cuidados de assépsia e pré-familiarizando-medicação.
Frequentei as CE, onde fui autónomo na avaliação dos doentes (anamnese e EO) e onde
pude conduzir mesmo algumas, sendo depois questionado pelo tutor. Frequentei ainda as
aulas Teórico-Práticas para os alunos do 6º ano e assisti semanalmente à Reunião
Multidisciplinar de Patologia. De 19 a 22 de outubro participei no World Health Summit 2014.
2
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Ginecologia
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Com a Dra. Vasiljeva como tutora, estive integrado no Serviço dede exercício médico pelo BO, SU, CE e internamento. Um dia típico tinha início às 7h30 com
a RS, onde eram apresentados os doentes que haviam dado entrada durante a noite e onde
era apresentada uma sessão clínica bissemanalmente, juntamente com os outros campuses
por videoconferência. Seguia-se a Visita Médica e posteriormente tinha a oportunidade de: ir
para o BO, onde participei e assisti a diversas cirurgias (ver Anexos); permanecer no
serviço, onde dei entrada e acompanhei doentes (Hx+EO+notas de entrada e alta), realizei
ecografias por via endovaginal e suprapúbica, ecografias renais, punções venosas,
colocação de cateteres venosos periféricos e remoção de pontos; ou assistir a diversas CE,
onde reparti a minha presença pelas: Consultas de Displasia, tendo realizado
colpocitologias; Consultas de Oncologia Ginecológica, onde aconselhei doentes sobre o
melhor curso de tratamento/vigilância de Carcinoma da mama e ovário; e Consultas de
Endometriose. Acompanhado pelo colega de curso Santiago Manica participei no Congresso
“Operation Karriere” no dia 14 de novembro.
3
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Medicina Geral e Familiar
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O estágio de MGF teve lugar na Unidade de Saúde
Familiar Fernão Ferro mais (USF FF+), de 08.12.2014 a 23.01.2015, sob a regência da
Prof.ª Doutora Isabel Santos e tutorado pela Dra. Sénia Guerreiro. Durante este período que
compreendeu 110 horas, tive a oportunidade fantástica de contactar com uma miríade de
doentes de diferentes faixas etárias, estando cada dia destinado a um tipo de consulta em
específico, com Consultas de Situação Aguda intercaladas no plano diário. As consultas
estavam divididas da seguinte forma: Saúde do Adulto, Diabetes, Hipertensão, Planeamento
Familiar, Saúde Materna e Saúde Infantil e ainda consultas domiciliárias às quintas-feiras à
tarde, onde pude notar a importância a acesso a cuidados médicos básicos a pessoas de
mobilidade precária. Pude conduzir algumas consultas e assistir a cerca de 150, tendo
realizado todos os procedimentos caraterísticos de cada consulta, como sejam a colocação
um doente com enfarte agudo do miocárdio para o Hospital Garcia da Orta, etc.. No geral,
creio ter cumprido todos os objetivos deste estágio, cuja descrição detalhada foi abordada
no Diário do Exercício Orientado e sujeita a avaliação oral.
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Cardiologia
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O estágio de Medicina Interna estendeu-se por 480 horas no Serviço
de Cardiologia da Charité – Campus Mitte de 26.01.2015 a 20.03.2015 e foi tutorado pelos
Drs. Branco e Wismann. Neste estágio fiz parte integrante da equipa, tendo-me sido
concedida larga independência. Os dias tinham início às 7h30, com punções venosas e
colocação de cateteres venosos periféricos até à RS, onde eram apresentadas: as
ocorrências do turno da noite; e seguidamente, exames de imagem, por um radiologista, que
respondia a dúvidas que surgissem. Às 14 horas eram apresentados, à equipa responsável
pelos cateterismos, os doentes para o dia seguinte e executado o planeamento horário. Na
enfermaria assisti à Visita médica diária (assistida por computador) e comecei por estar
encarregue de realizar a entrada de doentes (Hx+EO+notas de entrada e alta), realizar e
monitorar ECGs, realizar ecocardiografias e outras técnicas como paracenteses, punções
pleurais, eletrocardioversões, etc.. Durante este período tive também a oportunidade de
assistir a diversos cateterismos e procedimentos cirúrgicos (ver Anexos) e de participar na
reanimação cardiopulmonar bem-sucedida de um doente na unidade. Sugeri a elaboração
de um Case Report (intitulado “Chronic hemolytic icterus due to an iatrogenic shunt (left
ventricle to right atrium) following tricuspid annuloplasty: a case report”) sobre uma doente
que acompanhei, tendo o mesmo sido escrito (com os Drs. Branco e Knebel) e aguarda
ainda revisão, pelo que não o incluo nos Anexos. Nas últimas semanas fiquei encarregue na
totalidade por 3 a 6 doentes diariamente. Não estive presente nas CE, por me ser difícil
trocar a vida no serviço por outro contexto em que, provavelmente, não teria uma
oportunidade tão distinta de evoluir. Foi-me concedida a possibilidade de estar 160 horas de
compreendiam os serviços de Cardiologia e Cirurgia Cardio-Torácica e o SU, tendo, acima
de tudo, aprendido a priorizar e organizar tarefas, a estabelecer objetivos e onde adquiri um
sentido de responsabilidade e necessidade de confirmar o que muitas vezes nos é
transmitido. Frequentei ainda as aulas Teórico-Práticas para os alunos do 6º ano.
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Pedopsiquiatria
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Este estágio compreendeu 120h úteis na Charité CampusVirchow (CVK), tendo decorrido de 23.03.2015 a 17.04.2015, com a Dra. Haberlandner. O
estágio tinha início às 8 horas com a realização de punções venosas e com a RS
multidisciplinar (que incluía médicos, psicólogos, assistentes sociais, professores,
educadores, enfermeiros e terapeutas de diversas áreas), onde eram abordados os casos
mais prementes. O serviço englobava 10 crianças, sofrendo a maioria de Anorexia Nervosa.
Este estágio só ofereceu a componente de internamento, onde cada dia tinha o seu plano
pré-definido, tendo eu então assistido a: conversas particulares e individuais entre médicos
ou psicólogos só com a criança, ou só com os pais ou com ambos; diversas sessões de
terapia (como sejam: aromaterapia, musicoterapia, relaxoterapia, etc.); reuniões só entre o
pessoal médico ou do pessoal médico com as diferentes outras equipas; momentos de
refeição; à escola; e alguns episódios mais críticos durante o tratamento de uma doente com
IMC=13. Ajudei ainda na revisão de um artigo científico, escrito pela equipa do serviço.
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Pediatria
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Este estágio teve lugar no Serviço de Pediatria da CVK de 20.04.2015 a15.05.2015 (120h). Fui tutorado pelo Dr. Bernuth, tendo tido contacto com o doente
internado. Fiquei responsável pelo acompanhamento de crianças com patologias do foro
pulmonar e doenças raras, como o Síndrome de WHIM. Não me tendo sido concedida muita
independência, tentei aprender sobretudo ao assistir à Visita médica e à RS de Pediatria
geral às 13h e muito importante, como conjugar e fomentar uma relação de confiança com
II
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Reflexão crítica final
Este ano foi vivido a grande velocidade e com muitos momentos intensos, onde senti
constantemente uma enorme responsabilidade na prática de Medicina, tentando aproveitar
cada momento que me ia sendo oferecido para aprender e melhorar muitos aspetos do meu
trabalho. Como objetivos fundamentais, comprometi-me a: “comunicar e interagir
eficazmente com os doentes, famílias, pessoal médico (…)”3, pois um clima laboral nefasto
ou más estruturas de comunicação na relação com o doente invalida um cuidado de
excelência; assumir uma perspetiva biopsicossocial e baseada na evidência; e a contribuir
para o avanço do meu conhecimento e o da comunidade científica, se possível.
Os melhores estágios foram os de Cirurgia Geral e Cardiologia, o que era expetável, já que
a oportunidade de exercer uma especialidade durante um maior período de tempo acarreta
uma maior curva de aprendizagem e autonomia. O meu principal objetivo específico nestes
era simples: ser médico (sempre de pessoas, não de doenças). Isto é, conseguir terminar as
últimas semanas, como se fosse interno da especialidade, o que envolveu muito cansaço e
estudo de última hora, aliados à redescoberta de um amor por Medicina. É com orgulho que
considero ter sido bem-sucedido, tendo cuidado de doentes autonomamente e realizado 2
operações “quase” como 1º cirurgião. As maiores dificuldades que senti em ambos foram
comuns, tratando-se da integração dos conhecimentos teóricos com a prática clínica, assim
como aprender a lidar com um sentimento de insegurança (ou impotência em ajudar nalguns
casos) em relação ao curso de tratamento, o que por vezes me manteve acordado à noite.
O estágio de Ginecologia esteve também muito bem organizado e tinha como principal
objetivo compreender a mulher em todas as suas dimensões, sendo forte a componente de
preocupações em relação a determinados aspetos hereditários da doença ou desejo de
manter a fertilidade, havendo instâncias que puseram os meus princípios éticos em teste.
Não sendo uma especialidade com a qual me identifico, creio ainda assim ter realizado um
bom trabalho, adquirindo conhecimentos teóricos, aperfeiçoando técnicas, especialmente
ecográficas, mas principalmente, ter desenvolvido uma identidade e consciência forte, de
que ao lidar com doentes do sexo feminino, há sempre que ter em conta todo um espectro
social mais complexo e que, não sendo colocadas as questões corretas, muito é ignorado.
MGF permitiu-me exercer num contexto peri-urbano e acima de tudo desenvolver alguns
objetivos, tais como: saber adaptar-me e tratar de doentes de diferentes idades, com
diferentes problemas/preocupações, com diferentes expetativas e parte de uma Família;
identificar rapidamente situações urgentes e tratar ou encaminhar; e praticar medicina sem
acesso imediato à panóplia de meios complementares de diagnóstico que se encontram à
disposição num hospital. Foi um estágio que me surpreendeu pela positiva e onde me
enquadrei perfeitamente no estilo de trabalho e na superequipa que compõe a USF FF mais.
Pedopsiquiatria e Pediatria contribuíram para a minha formação de 2 formas acutilantes:
por um lado, a visível e horrenda repercussão de doença em crianças tão jovens e como,
por vezes, uma certa situação na vida de uma criança influencia e tem um peso tão
significativo no seu futuro; por outro, os resultados que podem ser atingidos através de um
cuidado tão exaustivo e compreensivo, onde Medicina não pode ser a única resposta a um
problema e de onde sinto ter adquirido um grande sentido de trabalho em equipa e
humildade, mas também confiança, por me aperceber que, em conjunto, cada ação mínima
e perfeitamente exequível pode produzir um excelente resultado e que isso se deve a um
todo que excede as minhas simples capacidades e isso é um pensamento agradável, mas
aterrador, se se pensa vir a ser médico isoladamente. Creio ainda ter desenvolvido o meu
Faço uma breve alusão ao meu estágio opcional em Oftalmologia, que ainda decorre e no
qual me sinto como um médico que gostaria que tratasse a minha própria família. O
investimento foi grande, mas a recompensa diária é maior e assim decido dedicar os
próximos 77 anos a esta especialidade, onde o impacto na vida dos doentes é significativo e
rapidamente quantificável, sendo uma honra tomar esta função na sociedade.
O conjunto de objetivos em que sinto poder ter feito melhor diz respeito à componente de
investigação e publicação de um artigo original. O que sinto também poder melhorar é a
participação em congressos médicos, tendo 2 fatores sido extremamente impeditivos,
nomeadamente, o facto de a maioria dos congressos mais importantes em Oftalmologia
como o DOG, serem reservados a internos ou superior (e não abrem exceções) e a carga
horária que os cursos de língua alemã necessários para me inscrever na Ordem dos
Médicos alemã acarretaram. Não obstante, sinto-me orgulhoso de estar atualmente a
conduzir um estudo sobre a utilização de nootrópicos na população universitária portuguesa,
ter escrito um Case Report, encontrar-me à procura de um programa de investigação onde
me inserir e ter estado presente no World Health Summit, onde conheci inúmeras
personalidades de renome internacional e de diferentes backgrounds e onde pude aferir que
também gostaria de fazer a diferença em Medicina e no Mundo numa área mais política.
Finalmente, sinto-me satisfeito com o desenrolar deste ano, tendo alcançado os objetivos
fundamentais, o que não só me enriqueceu a nível pessoal, mas também que, por simbiose,
talvez através da minha felicidade e gosto pelo trabalho que daí resultaram, contribuiu para
uma prática agradável e conscienciosa de Medicina, levando-me inevitavelmente a querer
deixar, neste espaço precioso, umas palavras de agradecimento a alguns tutores e pessoal
médico, com os quais conto agora no meu círculo de amigos e ainda a alguns doentes, por
terem personalidades que ficarão na minha memória para sempre, constituindo de ora
Bibliografia
1 – The Tunning Project - Learning Outcomes/Competences for Undergraduate Medical
Education in Europe - http://tuning.unideusto.org/tuningeu
2 – Diário da República N.º 244/2014, Série II de 2014-12-18 (Artigo 2º do Regulamento do
MIM da FCM da UNL)
Anexos
ANEXO 1
Operações em que participei durante o estágio de Cirurgia Geral
Shouldice/Lichtenstein/TAPP Hérnia inguinal
IPOM Convencional Hérnia umbilical/parede abdómen Resseção de Lipoma e Lavagem-Jet Lipoma na coxa esquerda em S. Metabólico Resseção segmentos 7 e 8 de fígado Carcinoma Hepato-Celular
Onfaletomia Fístula pós-ascítica Laparotomia explorativa Carcinoma das vias biliares Resseção laparoscópica de lobo esquerdo do
fígado Hemagioma
Biópsia de nódulos linfáticos Carcinoma da mama Gastroenterostomia Carcinoma do antro gástrico
Tiroidetomia Bócio em hipertiroidismo Traqueostomia Síndrome de CUP Colecistetomia convencional/laparoscópica Colecistite Aguda e Litíase
Excisão de abcesso Abcesso na axila direita Implantação de Port Carcinoma bronquial Explantação de Port Infeção de Port
Resseção laparoscópica de cólon sigmoideu Pólipo maligno no cólon sigmoideu Apendicetomia convencional/laparoscópica Apendicite
Gastretomia Perfuração do estômago em Carcinoma do Cárdia Excisão de abcesso perianal Abcesso perianal
ANEXO 2
Operações em que participei durante o estágio de Ginecologia
Ooforetomia Salpingo-ooforetomia
Histeretomia total Operação de Wertheim-Meigs
Biópsia endometrial Miometomia Conização (LEEP)
Traqueletomia Vaginetomia
ANEXO 3
Procedimentos a que assisti durante o estágio de Cardiologia
Teste de esforço TAVI
PCI
Crio-ablação de foco ectópico Eletrocardioversão
Implantação/Explantação de pacemaker Implantação de CDI
Implantação de CRT TTE
TEE