DOR EM CUIDADOS
PALIATIVOS
Ricardo Fernandes, MD/MSc
Equipa Intrahospitalar de Suporte em Cuidados Paliativos (EIHSCP), Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia-Espinho
Esta apresentação destina-se única e exclusivamente a profissionais de saúde.
Qualquer afirmação adicional ao conteúdo desta
apresentação é da inteira responsabilidade dos palestrantes.
ÍNDICE
I.
O QUE NÃO SE PODE ESQUECER (MESMO)
II. ALGUMAS NOTAS SOBRE CUIDADOS
PALIATIVOS
I. O QUE NÃO SE
PODE ESQUECER
NA CASA DE PARTIDA O QUE É IMPORTANTE?
As pessoas-doente contam histórias e é preciso saber escutá-las!
NA CASA DE PARTIDA O QUE É IMPORTANTE?
Ainda que apetecível e aparentemente confortável, o mesmo
tamanho não dá para todos!
(doentes diferentes em “igualdade de circunstâncias “calçam” números diferentes e o mesmo doente em tempos diferentes também!)
NA CASA DE PARTIDA O QUE É IMPORTANTE?
Todos os doentes merecem “cuidados de conforto”
NA CASA DE PARTIDA O QUE É IMPORTANTE?
A ética dos livros e a ética da vida real…
II. ALGUMAS
NOTAS SOBRE OS
CUIDADOS
O QUE NÃO SÃO CUIDADOS PALIATIVOS?
WHAT IS NOT
PALLIATIVE CARE…
O QUE SÃO AFINAL CUIDADOS PALIATIVOS?
• São cuidados de saúde (pró)activos , destinados a todas as pessoas
independentemente da sua idade e que apresentem sofrimento intenso decorrente de toda a doença crónica (e por vezes também aguda) e grave (incurável e progressiva), particularmente aqueles que se apresentem no período mais avançado da doença e no final da vida (mas não só);
• Enquadram-se num tratamento impecável (em concomitância com outros
tipos de cuidados) e dirigem-se à abordagem dos sintomas e na intervenção nas várias esferas do sofrimento dos pacientes (isto é, abordando a dor total);
• Têm como objectivo melhorar a qualidade de vida das pessoas doentes ,
dos seus familiares e cuidadores e prolongam-se pelo período do luto (isto é, após o falecimento do doente);
O QUE SÃO AFINAL CUIDADOS PALIATIVOS?
IAHPC Global Project Consensus Definition, 2020
• Cuidados centrados na pessoa e na sua significância, respeitando as
suas particularidades e preferências;
• Promovem a dignidade e a qualidade de vida;
• Apostam na comunicação (e não só de más notícias); • Apostam no trabalho de equipa e na formação contínua;
• Controlo rigoroso de sintomas (reconhecendo de forma exímia os
fármacos utilizados, tentando ajustar às necessidades do doente) – são cuidados intensivos e urgentes;
O QUE SÃO AFINAL CUIDADOS PALIATIVOS?
IAHPC Global Project Consensus Definition, 2020
• Reforçar que existem tempos e que estes cuidados não
aceleram, nem atrasam…(Há uma diferença entre matar e deixar morrer);
• Reforçar o carácter universal, independentemente nas
coordenadas geográficas
• (80% dos Portugueses ainda não tem acesso a Cuidados
Paliativos);
• Não são cuidados de desistência, mas de adequação.
COMO IDENTIFICAR DOENTES PALIATIVOS?
IAHPC Global Project Consensus Definition, 2020
Ficaria surpreendido se o seu doente falecesse no prazo de 6 - 12
meses?
Se não…o seu doente pode ser um DOENTE PALIATIVO!
E agora? Que fazer?
CUIDADOS PALIATIVOS – POR QUEM E COMO?
Médicos Enfermeiros Assistentes Sociais Psicólogos Nutricionista(s) Assistente Espiritual AuxiliaresPessoa-Doente
+ Família
Equipas Intra-Hospitalares de Suporte em cuidados Paliativos/Serviços de Cuidados PaliativosEquipas Comunitárias de Suporte em Cuidados Paliativos
Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados – UCP e
ULDM
Internamentos convencionais, domiciliários (UHD), Unidades de Cuidados Intermédios e Intensivos
Comunidades e Cidades Compassivas
Cuidados de Saúde Primários
CUIDADOS PALIATIVOS – QUE DOMÍNIOS ?
CUIDADOS PALIATIVOS – QUAIS?
CUIDADOS PALIATIVOS – EM QUE TRAJECTÓRIAS?
MARTINEZ-SELLES M et al.; “End Stage Heart Disease in the Eldery”; Rev Esp Cardiol. 2009; 62 (4): 409-21
CUIDADOS PALIATIVOS – EM QUE TRAJECTÓRIAS?
CUIDADOS PALIATIVOS – QUAIS?
CUIDADOS PALIATIVOS E O PIIC?
• Reconciliação de múltiplos planos criados para responder às múltiplas necessidades, respondendo
diretamente às necessidades específicas (“right care in the right place in the right time”).
CUIDADOS PALIATIVOS E O DAV?
DÚVIDAS, DESABAFOS, SUGESTÕES…?
II. CASOS
CLÍNICOS
CASO CLÍNICO 1
TMCC, 21 anos, caucasiana, solteira, viveria com o pai e com os avós paternos. Seria previamente autónomo e independente.
Sem antecedentes médico-cirúrgicos de relevo, sem medicação habitual e sem alergias.
Cefaleias persistentes que motivaram vários contactos com o seu médico de família e duas admissões ao Serviço de Urgência do hospital da sua área de residência. Numa dessas visitas feito TC-CE que mostrou uma lesão intracerebral com características aparentemente benignas.
Nesse contexto feito pedido de consulta de Neurocirurgia onde foi iniciada a marcha diagnóstica percebendo que se trata de um meningioma de grandes dimensões. Proposto para cirurgia que terá decorrido sem intercorrências.
Transferido para um Centro de Reabilitação. Evolução favorável até PCR. Submetido a vários ciclos de SAV com reversão contudo com desenvolvimento de encefalopatia hipóxico-isquémica, limitando a capacidade de interagir com o meio envolvente.
Numa fase inicial numa enfermaria de Cuidados Intensivos onde esteve algumas semanas e posteriormente transferido para um Serviço de Cuidados Paliativos. Portador de traqueostomia, PEG. Miopatia franca.
CASO CLÍNICO 1
Sobre o caso anterior:
1- Como avaliar a dor se T. não consegue verbalizar e interagir?
2- Na presença de dispositivos médicos como PEG e/ou SNG que cuidados a ter na administração dos fármacos?
3- Que abordagem deve ser feita à família?
4- Que disfunções podem comprometer a gestão farmacológica?
CASO CLÍNICO 2
JMPDA, 78 anos, caucasiano, casado, tem 1 filha que reside com ele e com a esposa.
Seria autónomo e independente até há 2 meses atrás. Desde então com compromisso funcional – necessita de ajuda para a deambulação, por vezes com recurso a canadianas, o banho é no poliban com a ajuda da esposa, alguns períodos de desorientação principalmente nocturnos (já com alguns meses de evolução mas nas últimas duas semanas progressivamente mais frequentes – levanta-se muitas vezes durante a noite para urinar e pagar as contas…”).
Sem dispositivos médicos crónicos e sem registo de úlceras de pressão. Tem como antecedentes pessoais:
- Síndrome Metabólica; - Obstipação;
- Insuficiência Cardíaca Avançada, de etiologia multifactorial – isquémica e valvular, com compromisso moderado e severo da função;
- Doença Hepática Crónica de provável etiologia etanólica; - Doença Renal Crónica (estadio 3ª).
CASO CLÍNICO 2
Sobre o caso anterior:
1- Perante o gemido nocturno que o Sr. A apresenta faz sentido iniciar analgesia fixa? Se sim com que fármacos e em que formulação – libertação prolongada/libertação imediata?
2-Se se intensificar o delirium quais as causas que podem ser identificadas?
3 – Por se entender que precisava de analgesia contínua foi iniciado um fármaco com libertação nas 24 horas que o doente descontinuou porque viu partes dos comprimidos nas fezes…que fármaco é este?
4-Assumindo-se a possibilidade de uma insuficiência cardíaca avançada e se existir diminuição da diurese, com proceder?
5 -Em alguns casos a IC pode levar a ascite. Como organizar os cuidados para eventuais paracenteses?
6 – Se se identificar vários episódios de angina, com dor torácica que motiva admissão ao Serviço de Urgência, como proceder?
CASO CLÍNICO 3
MCAG, 45 anos, caucasiana, casada, natural do Porto e residente em Vila Nova de Gaia.
Casada, tem 4 filhos (3 filhas e 1 filho). Residia com 1 das filhas em residência própria, num apartamento com elevador.
Sem antecedentes de relevo excepto infecções urinárias de repetição e obstipação. Tabagismo
Sem medicação habitual
Há alguns meses perda não intencional de peso (perdeu cerca de 10 Kg – peso prévio de 65 Kg) para além de metrorragias que seriam esporádicas. Recentemente com intensificação das metrorragias, distensão abdominal com agravamento da obstipação.
Recorreu ao serviço de urgência por dor abdominal. Do estudo feito com aparecimento de derrame pleural de novo, ascite de moderado volume simples e ainda carcinomatose peritoneal para além de tumefacção volumosa no ovário esquerdo.
Submetida a cirurgia para histerectomia e anexectomia bilateral. Colocada colostomia. Manteve seguimento nas consultas de Oncologia e Cirurgia Geral.
CASO CLÍNICO 3
Sobre o caso anterior:
1-Quais os possíveis diagnósticos que podem justificar a situação clínica da doente?
2-Que fármacos escolheria? Faria sentido a utilização de dispositivos médicos?
3-Se desenvolvesse oligoanúria faria sentido intensificar a fluidoterapia porque a doente está desidratada?
4 –Numa dor súbita na grade costal esquerda faria sentido pensar em metastização ou considerar outra abordagem?