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Ensaios e Ciência: Ciências Biológicas, Agrárias e da Saúde ISSN: Universidade Anhanguera Brasil

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Agrárias e da Saúde ISSN: 1415-6938 editora@uniderp.br Universidade Anhanguera Brasil

Peixoto Gervásio, Maria Silvia

USO E CONSERVAÇÃO DE RECURSOS NATURAIS RELACIONADOS COM A PESCA DESPORTIVA E A EXPLOTAÇÃO DE ISCAS VIVAS NO PANTANAL MATO-GROSSENSE, BRASIL Ensaios e Ciência: Ciências Biológicas, Agrárias e da Saúde, vol. 10, núm. 1, abril, 2006, pp. 181-194

Universidade Anhanguera Campo Grande, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=26012756016

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USO E CONSERVAÇÃO DE RECURSOS NATURAIS RELACIONADOS COM A PESCA DESPORTIVA E A EXPLOTAÇÃO DE ISCAS VIVAS NO PANTANAL MATO-

GROSSENSE, BRASIL

Maria Silvia Peixoto Gervásio

1

1

Professora dos Cursos de Ciências Biológicas e Turismo da Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal (UNIDERP). Endereço eletrônico: silviagp@terra.com.br

RESUMO

O turismo de pesca desportiva no Pantanal fez surgir uma atividade socioeconômica paralela que é a explotação de crustáceos, moluscos e peixes de pequeno porte para serem consumidos como iscas vivas por esse mercado. Este estudo procurou conhecer algumas implicações ecológicas resultantes desse modelo de uso dos recursos naturais por meio do acompanhamento de dois grupos de catadores de iscas vivas na região do Passo do Lontra, Corumbá, Mato Grosso do Sul. A produtividade da temporada quando da realização da pesquisa foi considerada baixa pelos catadores, fato que pode estar relacionado com as condições climáticas das quais depende, em parte, o tamanho das populações. Mais da metade dos indivíduos de Gymnotus spp. analisados eram fêmeas maduras ou em maturação, independente do mês de captura, indicando que o hábito reprodutivo dessas espécies de peixes não inclui piracema. A proporção de fêmeas:

macho foi de 5:1. A legislação determina apenas o tamanho mínimo de captura e em nenhum momento se refere ao parâmetro quantidade máxima ou peso máximo capturados, além de considerar os indivíduos do gênero Gymnotus como uma única espécie. Os impactos resultantes das diversas atividades humanas direta ou indiretamente atuantes sobre a planície do Pantanal podem alterar a disponibilidade de recursos naturais, desafiando a sustentabilidade do turismo consumptivo.

Palavras-chave: Conservação. Explotação. Impactos. Isca viva. Pantanal. Peixes. Pesca. Recursos naturais. Turismo.

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1 INTRODUÇÃO

O Pantanal Mato-Grossense, planície de sedimentação periodicamente inundada, abriga uma riqueza de pelo menos 263 espécies de peixes, já identificadas (BRITSKI; SILIMON;

LOPES 1999). Muitas delas, principalmente aquelas mais visadas pela pesca desportiva e profissional, são reofílicas e migradoras, isto é, realizam deslocamentos periódicos relacionados com a reprodução, fenômeno conhecido como

“piracema”. O amadurecimento das gônadas se dá durante a migração para montante (PAIVA, 1983) e o início das chuvas. Fatores como o aumento do volume de água nos rios e o aumento da temperatura são estímulos para a reprodução, cuja desova acontece à superfície da água em todas as áreas alagadas da planície (MARINS; CONCEIÇÃO; LIMA, 1981). Os planos de inundação sazonalmente formados pelas áreas de acumulação inundáveis e seus diversos componentes são fundamentais para essas populações de peixes, onde, em sua primeira fase de desenvolvimento, se alimentam e encontram abrigo (LIMA, 1986/87). São importantes também para os peixes que não executam a piracema, tais como Gymnotus spp., pois a dinâmica hidrológica sazonal na planície é que determinará a disponibilidade de habitat e alimentação, propiciando ou não condições adequadas para a reprodução desses organismos.

A abundância natural dos recursos pesqueiros na planície de inundação do Pantanal fez com que se desenvolvesse, a partir de meados da década de 1970, uma economia voltada à pesca, inicialmente nas modalidades profissional e clandestina, incorporando depois o setor de turismo de pesca desportiva. A estruturação do setor turístico

voltado à pesca desportiva, que está relacionada com a explotação de iscas vivas, na região sul da planície do Pantanal, teve seu primeiro impulso de crescimento em decorrência da grande cheia de 1974, que impôs ao setor produtivo a busca por novas alternativas socioeconômicas, principalmente na região de Corumbá (GARMS, 1997). Em meados dos anos de 1980, com a chegada da rodovia BR- 262 ao Buraco da Piranha, ampliou-se o acesso, embora precário, a locais cada vez menos isolados na planície de inundação, enquanto um número crescente de pescadores desportivos aumentava a demanda por iscas vivas. A localidade do Passo do Lontra, situada em plena planície de inundação, às margens do rio Miranda e da Estrada-Parque do Pantanal, na área de estudo, possui hotéis, camping e ranchos particulares voltados aos pescadores.

A utilização de iscas vivas para a captura de peixes constitui uma prática antiga da pesca praticada por pantaneiros (SILVA;

SILVA, 1995), mas que, atualmente, assume contornos de volumosa explotação. As iscas vivas, e especialmente as “tuviras” pertencentes ao gênero Gymnotus (Teleostei, Gymnotidae), são apanhadas pelos catadores em diversos tipos de ambientes úmidos da planície, tais como baías, vazantes, meandros abandonados, corixos e caixas de empréstimo, para serem consumidas pela pesca desportiva.

A explotação e a comercialização de

iscas vivas são atividades carentes de informações

sobre o volume comercializado, as espécies mais

visadas, a quantidade de catadores, os locais

de captura e o destino da produção. Os órgãos

de fiscalização limitam-se a verificar o porte da

licença de pescador profissional dos catadores e

impedir acampamentos em áreas de preservação

permanente ao longo dos rios. A pesca profissional

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USOE CONSERVAÇÃODE RECURSOS NATURAISRELACIONADOSCOMA PESCA DESPORTIVAECOMA EXPLOTAÇÃODE ISCAS VIVASNO PANTANAL MATO-GROSSENSE, BRASIL

também utiliza iscas vivas e essa atividade também não é fiscalizada.

Este trabalho tem por objetivo investigar aspectos ecológicos da atividade de explotação de iscas vivas, em especial, de Gymnotus spp. e analisar os impactos sobre a população dessa espécie, estabelecidos a partir do turismo de pesca desportiva, por meio do acompanhamento das atividades de grupos de catadores de iscas vivas durante a temporada de pesca (fevereiro a outubro) no baixo curso da bacia hidrográfica do rio Miranda. Além dos dados obtidos no trabalho de campo e em entrevistas com agentes de vários setores ligados ao turismo de pesca desportiva, foram levantadas outras informações sobre hidrologia, clima, pescado capturado e legislação, com o objetivo de compreender sob quais circunstâncias estão se desenvolvendo essas atividades socioeconômicas e suas implicações na conservação dos recursos naturais da planície de inundação do Pantanal.

2 METODOLOGIA

Foram monitorados dois grupos de catadores de iscas vivas associados ao rio Miranda, em torno da localidade do Passo da Lontra; um acampado na rodovia BR-262, próximo ao Morro do Azeite, e outro que se deslocava de barco, principalmente nos rios Miranda e Aquidauana.

O acompanhamento em campo das atividades de dois grupos de catadores de iscas vivas ocorreu entre os meses de março e outubro com viagens mensais à região com duração de uma semana cada. A escolha dos grupos deu- se em função de características particulares que resultariam na adoção, por parte deles, de diferentes estratégias de captura, tais como: grau

de mobilidade e deslocamento, locais de captura, área total acessível para a captura e aspectos relativos à organização funcional dos grupos.

Os grupos receberam um caderno onde deveriam anotar os seguintes dados, sempre que houvesse captura de Gymnotus spp.: data, número de indivíduos capturados, nome e/ou referência dos locais de captura, os horários de início e término do trabalho e número de catadores que atuaram naquela noite.

Mensalmente, os grupos foram visitados em seus acampamentos, quando então se procedia à verificação e transcrição das anotações realizadas no período imediatamente anterior, além de visita aos locais de captura, utilizados no referido período, e acompanhamento, in loco, da atividade de captura naquele período. Nessas visitas procurou-se conhecer também outros aspectos da atividade, como comercialização, captura de outras espécies e o contexto em que a atividade se desenvolvia, obtendo-se informações também sob a forma de entrevistas.

Adotou-se neste trabalho a premissa exposta por Britski, Silimon e Lopes (1999, p.87), de que o número de espécies dentro do gênero Gymnotus é maior do que o até agora descrito para o Pantanal e, desta forma, “[...]até que uma revisão do gênero resolva a questão, é melhor identificá-la até o nível de gênero”.

Os locais de captura tiveram suas

coordenadas determinadas pelo Sistema de

Posicionamento Global (GPS) e plotadas em

imagens geradas por satélite Landsat 5; o

ambiente foi caracterizado quanto ao tipo: baía,

vazante, corixo, caixa de empréstimo; quanto

à porcentagem de recobrimento por macrófitas

aquáticas e quanto à profundidade do ponto de

captura, denominado “cama”.

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Nas viagens à área de estudo tinha-se como objetivo também a coleta de exemplares de Gymnotus spp. explotados pelos grupos para proceder as medidas de peso e comprimento e determinar o sexo e estádio de desenvolvimento gonadal dos indivíduos. Foi determinado que cada amostra, por grupo de catador, teria no mínimo 20 e no máximo 60 indivíduos que seriam separados da própria produção do grupo a cada quinze dias pelos próprios catadores, que foram treinados e possuíam o material necessário à preservação dos exemplares, em vidros com solução de formalina a 10%.

Para verificar a relação entre peso e comprimento dos indivíduos amostrados foi feito um teste de regressão e para verificar a estrutura populacional relacionada com o sexo e estádio de desenvolvimento gonadal, entre amostras mensais e por intervalo de comprimento, foi aplicado o teste estatístico do quiquadrado.

A explotação de tuviras (Gymnotus spp.), por catadores, foi feita à noite, com o auxílio de um petrecho de pesca denominado tela, que corresponde geralmente a um retângulo de ferro de 1,20 m x 0,80 m, também encontrado em outros tamanhos, cuja moldura é preenchida com tela de malha de náilon de 2 mm. Os catadores utilizam ainda térmitas arborícolas extraídas das matas locais para servir de isca para a captura das tuviras. No local de captura é preparada a “cama” – assim denominada pelos catadores – com a retirada da vegetação aquática correspondente apenas ao tamanho da tela, ou seja, inferior a um metro quadrado (0,96 m

2

). Ao centro de uma das laterais menores dessa cama posiciona-se o catador e, no lado oposto, é fincado um pau para sustentar o petrecho, com um tirante de borracha, simulando o auxílio de uma segunda pessoa.

Na etapa seguinte, a captura prossegue espalhando-se os cupins na superfície da

lagoa exposta pela retirada das macrófitas e recobrindo-se imediatamente o local com uma lona preta. Os catadores estalam seus dedos na água, “chamando” suas presas para a armadilha.

Após alguns minutos, a tela é deslocada por baixo da área cevada e rapidamente erguida.

Retira-se a lona preta, selecionam-se os indivíduos adequados para comercialização, acondicionando-os em cubas próprias para o transporte, e todo o material não aproveitável é devolvido ao ambiente. Essa operação de captura é repetida inúmeras vezes por noite.

Posteriormente, então, em laboratório, os indivíduos amostrados foram pesados com balança digital de precisão decimal e o comprimento total (focinho-término da nadadeira anal) foi medido com ictiômetro de escala decimal. Em seguida, foi realizada a dissecação dos espécimes com o objetivo de determinar o sexo e o estádio de desenvolvimento gonadal, resultando nas seguintes categorias: fêmea em maturação (Fm), fêmea madura (FM), fêmea em repouso (FR) e macho (M).

Os dados hidrométricos do rio Miranda foram fornecidos pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) em sua Base de Estudos do Pantanal, na localidade do Passo do Lontra.

Os dados de precipitação foram obtidos no

Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), que

mantém uma estação meteorológica próxima à Base

de Estudos do Pantanal da UFMS, no Passo da Lontra,

na área de estudo. Os dados sobre queimadas foram

obtidos a partir das informações do programa de

Monitoramento Orbital de Queimadas da Empresa

Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa),

informações essas produzidas pelos satélites NOAA

12 e 14 (BRASIL, 2001).

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Em todas as viagens realizadas procurou- se, ainda, estabelecer contato com outros agentes relacionados com as atividades de pesca amadora na região, tais como turistas, empresários e funcionários de turismo, comerciantes de iscas vivas, autoridades e comunidade em geral, a fim de se obter um diagnóstico atual sobre o desenrolar dessas atividades, ao longo da temporada.

3 RESULTADOS

3.1 EXPLOTAÇÃO DE ISCAS VIVAS – GYMNOTUS SPP

O Grupo BR montou acampamento no início do mês de maio sob uma das pontes da rodovia BR-262, onde permaneceu até meados de outubro. Por causa das características de locomoção desse grupo, ou seja, a pé e/ou de bicicleta, os locais de explotação de Gymnotus spp. corresponderam a pontos mais ou menos próximos de uma grande área úmida pertencente a um sistema de drenagem composto de lagoas e vazantes, associado ao rio Miranda, considerados, por sua proximidade, como um único local de captura ao longo do período. Os locais de captura apresentavam extensa cobertura de macrófitas, principalmente Eicchornia azurea, com mais de 75% de sua superfície recoberta. A profundidade média nos locais de captura foi de 0,72 m ± 0,11 (0,65m – 1,10m).

A Tabela 1 apresenta os dados relativos ao Grupo BR.

TABELA 1 - Índices mensais de explotação de Gymnotus spp., pelo Grupo BR

Índices Maio Junho Julho

Indivíduos de Gymnotus spp. capturados 1.257 597 72

Noites trabalhadas 11 13 3

Esforço de captura (horas-tela) 99 90 18

Número de catadores (média) 3 2,1 3

Captura média do grupo/noite 114,2 45,9 24 Captura média por catador/noite 38,0 21,8 8

Captura média do grupo/hora 12,7 6,6 4

Captura média por catador/hora 4,2 3,1 1,3 Esforço de captura do grupo/noite (horas-tela) 9 6,9 6 Esforço de captura do catador/ noite (horas-

tela) 3 3,2 2

O Grupo RIO iniciou as atividades de explotação de Gymnotus spp. apenas no mês de julho em ambientes às margens dos rios Aquidauana e Miranda, deslocando-se de barco.

Ao longo da temporada, o grupo explotou em 14 locais diferentes: 12 baías, um corixo e um meandro abandonado de rio. Em 85% dos locais, o ambiente era recoberto por mais de 75% de sua área por macrófitas, especialmente, Eicchornia azurea. A profundidade média dos locais de captura foi de 0,78 m ± 0,09 (0,54m – 0,96m).

A Tabela 2 apresenta os dados relativos ao Grupo RIO.

TABELA 2 - Índices mensais de explotação de Gymnotus spp. pelo Grupo RIO.

Índices Julho Agosto Setembro Outubro

Indivíduos de Gymnotus spp.

capturados 16.538 9.485 11.095 7.937

Noites trabalhadas 22 27 28 27

Esforço de captura (horas-tela) 328 288 359 280

Número de catadores (média) 3,6 2,7 3 2,9

Captura média do grupo/noite 751,7 351,3 396,2 293,9 Captura média do catador/noite 208,8 130,1 132 101,3 Captura média do grupo/hora 50,4 32,9 30,9 28,3 Captura média do catador/

hora 14 12,1 10,3 9,7

Esforço de captura do grupo

por noite (horas-tela) 14,9 10,6 12,8 10,3 Esforço de captura do catador

por noite (horas-tela) 4,1 3,9 4,2 3,5

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3.2 BIOMETRIA E SEXAGEM DE G YMNOTUS SPP .

Foram realizadas medidas de peso e comprimento e determinados o sexo e estádio de desenvolvimento gonadal de 325 indivíduos de Gymnotus spp. provenientes da atividade de explotação do Grupo RIO (Tabela 3).

O peso médio foi 101,6g ± 56,2 (22,3–

251,2g) e o comprimento médio foi 28,6cm ± 5,4 (18,3 – 39,5cm). O peso vivo total foi 33.023,2g.

As fêmeas consideradas sexualmente maduras e em fase de maturação corresponderam a 54% do total amostrado e, entre a população total de fêmeas, apenas 35% não se encontravam em fase reprodutiva, sendo consideradas, para efeito deste estudo, igualmente imaturas ou juvenis. Apenas 17% eram machos.

A estrutura populacional em relação ao sexo e estádio de desenvolvimento gonadal é similar entre as amostras mensais (p= 0,354) e é altamente significativa a razão sexual de 5:

1 encontrada entre fêmeas e machos (p= 0,00).

O Gráfico 1 representa a distribuição por sexo e estádio de desenvolvimento gonadal da amostra.

0 5 10 15 20 25 30 35 40

abr jul ago set out

NºdeIndivíduos

Fêmea em maturação (Fm) Fêmea madura (FM) Fêmea em repouso (FR) Macho (M)

Gráfico 1 - Distribuição das categorias de sexo e estádio de desenvolvimento gonadal das amostras de Gymnotus spp.

Os dados de distribuição dos indivíduos por freqüências de comprimento (foram adotadas cinco categorias de freqüência de comprimento, com intervalos de 5 cm, a partir de 15 cm, que por lei representa o tamanho mínimo de captura, até 39,9 cm, já que o maior exemplar mediu 39,5 cm), em todas as categorias de sexo e estádio de desenvolvimento gonadal, resultam em curvas similares e bimodais. É possível observar no Gráfico 2, que há uma maior ocorrência de indivíduos na classe entre 20 cm e 24,9 cm e também, na classe entre 30 cm e 34,9 cm. A proporção de machos em cada classe de comprimento é sempre a mesma e não existem diferenças entre machos e fêmeas em relação à classe de comprimento (p= 0,59).

TABELA 3 - Peso e comprimento médios, sexo e estádio de desenvolvimento gonadal das oito amostras de Gymnotus spp. (n=325).

A Mês n Fm FM FR M Peso médio (g) Comprimento

médio (cm)

1 Abr. 24 4 6 10 4 88,7 ± 61,2 (22,3

a

– 183,5) 27,4 ± 6,5 (19 – 36,5) 2 Jul. 42 10 14 9 9 77,7 ± 45,7 (25,2 – 171,3) 26,8 ± 4,6 (20,3 – 36,1) 3 Ago. 60 14 21 19 6 117,3 ± 49,0 (29,1 – 210,3) 30,0 ± 4,4 (21,5 – 36,5) 4 Ago. 60 20 16 13 11 89,7 ± 59,8 (32,6 – 251,2

b

) 27,4 ± 5,4 (20,7 – 39,1) 5 Set. 60 6 22 22 10 147,2 ± 42,2 (29,1 – 241,3) 32,7± 3,9 (21,3 – 39,5

d

) 6 Out. 12 5 2 5 0 39,6 ± 6,5 (28,9 – 49,1) 22,6 ± 3,7 (18,3

c

– 33,1) 7 Out. 50 4 23 13 10 91,9 ± 51,1 (23,7 – 198,3) 28,1 ± 5,5 (19,5 – 37,5) 8 Out. 17 5 3 4 5 76,8 ± 40,0 (30,5 – 136,3) 26,2 ± 4,6 (19,5 – 34,3)

LEGENDA: a: peso mínimo (FM com 20cm); b: peso máximo (FR com 39,1cm); c: comprimento mínimo (Fm com 33,1g); d: comprimento máximo (FR 197,4g).

OBS: Fm= fêmea em maturação; FM= fêmea madura; FR= fêmea em repouso e M= macho.

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0 10 20 30 40 50 60

15 - 19,9 cm 20 - 24,9 cm 25 - 29,9 cm 30 - 34,9 cm 35 - 39,9 cm Intervalos tamanho (cm)

NºIndivíduos

FR FM Fm M

Gráfico 2 - Distribuição por intervalo de comprimento e sexo da amostra de 325 indivíduos de Gymnotus spp., onde FR são fêmeas em repouso; FM são fêmeas maduras; Fm são fêmeas em maturação e M são machos.

4 CONDIÇÕES AMBIENTAIS NA ÁREA DE ESTUDO

A captura de Gymnotus spp. pelos dois grupos se deu em ambientes do mesmo sistema fluvial, formado pelos rios Miranda, Aquidauana e Negro que, segundo Adámoli (1986), constituem um complexo sistema de drenagem que na época da enchente apresenta uma dinâmica toda própria.

O comportamento hidrológico do baixo curso da bacia do rio Miranda e as condições climáticas do período de estudos, e no período imediatamente anterior, assumem relevância na discussão e conclusão dos resultados do trabalho. Desta forma, no ano anterior à realização da pesquisa, a precipitação havia sido 50% menor que a média histórica para a região, prolongando os efeitos da estiagem e registrando 573 focos de queimadas que arrasaram a área de estudo.

No ano de realização da pesquisa, a cheia ocorreu tardiamente em maio, historicamente diverso de anos anteriores quando se dava em janeiro. Essas condições resultaram no curto período de permanência das águas em todo o sistema fluvial, que apresentava sinais de seca já a partir de junho.

5 ASPECTOS E ATIVIDADES SOCIOECONÔMICAS

5.1 ENTREPOSTOS COMERCIAIS DE ISCAS VIVAS

Buscou-se também obter dados sobre a comercialização de Gymnotus spp. em casas comerciais de iscas vivas. Segundo relatos de pescadores profissionais, os ambientes naturais próximos à cidade de Miranda encontram-se já há algum tempo esgotados, forçando a explotação de iscas vivas em locais mais distantes ou mesmo importando-as de outras regiões, notadamente do município de Corumbá com significativo comércio desses recursos.

Foi inquestionável a constatação de que a tuvira, Gymnotus spp., é o principal gênero comercializado nos entrepostos de iscas vivas, respondendo por aproximadamente 70% do total comercializado, seguido do caranguejo Dilocarcinus pagei pagei.

Quanto ao total de espécimes consumidas não foi possível obter dados confiáveis por causa das constantes evasivas dos proprietários ao serem argüidos sobre o assunto, mas se soube que, para grupos de turistas pescadores formados por oito a dez membros, são consumidas de 1.200 a 1.500 iscas vivas em até cinco dias de pescaria.

5.2 PESCA PROFISSIONAL E DESPORTIVA

O pescado capturado na planície

de inundação do Pantanal em Mato Grosso do

Sul, pela pesca profissional e desportiva, tem

nos rios Paraguai, Miranda e Aquidauana, todos

relacionados com a área de estudo, os principais

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locais de explotação, correspondendo a 69,3% da produção da pesca profissional e 85,4% dos locais de preferência da pesca amadora ou desportiva (CATELLA e ALBUQUERQUE, 2000 a).

O número de pescadores desportivos vem aumentando segundo o Boletim do Sistema de Controle da Pesca de MS (SCPESCA) (CATELLA;

ALBUQUERQUE, 2000 a). Desta forma, percebe- se um aumento da ordem de 30% entre o número de pescadores amadores que passaram de 44 para 57 mil pessoas por ano.

Estudos realizados por Catella e Albuquerque (2000 b), analisando dados da pesca desportiva proveniente da região onde se insere a localidade do Passo do Lontra, de 1994 a 1999, mostram que a atividade é sazonal, com uma baixa temporada de fevereiro a junho (média mensal de 343 pescadores) e a alta temporada de julho a outubro, com média mensal de 572 pescadores desportivos.

5.3 LEGISLAÇÃO

A captura e comercialização de iscas vivas, para a pesca profissional e amadora, no Estado de Mato Grosso do Sul, são disciplinadas pela Lei Nº 1.910, de 1º de dezembro de 1998. Os artigos 2º e o 7º, respectivamente, determinam quais são as espécies aquáticas e terrestres autorizadas para uso na pesca esportiva e profissional e define as medidas mínimas de comprimento ou diâmetro para captura para cada uma. O tamanho mínimo de captura de Gymnotus carapo de acordo com a legislação supramencionada é de 15 cm.

É tolerada a margem de 15% de indivíduos abaixo da medida, quando fiscalizados. A Lei 1.910 determina ainda que o período de defeso da reprodução das espécies utilizadas como iscas vivas será igual ao das outras espécies consumidas pela pesca.

6 DISCUSSÃO

O crescimento do setor de turismo voltado à pesca desportiva ao sul da planície de inundação do Pantanal trouxe consigo a ampliação da explotação de iscas vivas para o abastecimento desse mercado.

A explotação de iscas vivas na região do baixo curso do rio Miranda e em sua bacia de drenagem vem sendo feita por diversos grupos de catadores que, utilizando corredores naturais, como os rios, ou artificiais, como as rodovias, têm acesso a diversas áreas úmidas onde se dá a captura. Observa-se que a infra-estrutura de apoio que sustenta a atividade de explotação dos grupos de catadores de iscas vivas é importante para determinar o grau de produtividade e a eficiência atingida pelo grupo, embora ele não seja o único fator. Para aqueles que possuem barco, a vantagem consiste em percorrer um número maior de locais em diferentes corpos d’água e, presumivelmente, obter maior produtividade e eficiência.

Os catadores de iscas vivas portam carteira de pescador profissional e estão associados às Colônias de Pesca em Mato Grosso do Sul. Como nesse registro não há distinção entre pescador profissional e catador de iscas, e o controle dessa última atividade pelos agentes de fiscalização é praticamente nulo, é difícil estabelecer o contingente que se dedica exclusivamente à coleta de iscas vivas para abastecer o segmento turístico da pesca desportiva e também profissional.

As atividades socioeconômicas extrativistas

ou, no caso deste estudo, a explotação de recursos

naturais renováveis estão sujeitas às condicionantes

ambientais e à dinâmica das populações naturais

envolvidas, que, por sua vez, são também

determinadas em função de diversas variáveis

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ecológicas nos meios físico e biótico. Existe uma forte relação entre o comportamento das variáveis ambientais relacionadas com a sazonalidade existente na planície, que alterna períodos de cheia e seca, e a abundância e distribuição das espécies, principalmente em ambientes aquáticos (ALHO;

LACHER; GONÇALVES, 1988). A disponibilidade de iscas vivas, e especialmente de Gymnotus spp., é, portanto, diretamente dependente das configurações desencadeadas por fatores bióticos e abióticos imediatamente passados, que influenciam a dinâmica populacional e definem as estratégias das populações perante as condições impostas.

Os dois grupos de catadores de iscas vivas monitorados, BR e RIO, demoraram a iniciar suas atividades naquele ano, pois tiveram que aguardar o momento certo para iniciar o trabalho, a fim de acessarem os locais de captura quando o nível da água fosse compatível com o método por eles utilizado, o que só ocorreu em maio, restringindo a atividade em quatro meses.

A captura de Gymnotus spp. pelos dois grupos foi feita sempre à noite, em ambientes que, de modo geral, podem ser definidos como úmidos, perenes ou intermitentes, conectados ao rio na época da enchente e recobertos por vegetação aquática em pelo menos metade de sua superfície, mas que, preferencialmente, possuíssem mais de três quartos de sua área coberta por macrófitas. Essa preferência se explica porque, dentre os diversos e variados sistemas hídricos e de drenagem que ocorrem na planície, os indivíduos de Gymnotus spp., de hábitos noturnos, preferem os ambientes lênticos associados à vegetação flutuante, principalmente dos gêneros Eicchornia, Pistia e Salvinia, onde se escondem (BARBIERI;

BARBIERI, 1984) e se alimentam de insetos

aquáticos e terrestres, em grande parte larvas de dípteros, coleópteros, efemerópteros e odonatas e microcrustáceos (ostrácodos e cladóceros).

Podem variar a dieta conforme o estádio de desenvolvimento dos indivíduos e as condições ambientais, tendo sido encontrados outros itens em análises estomacais, como pequenos peixes, gastrópodos, aracnídeos e restos vegetais (MACHADO-ALLISON apud GAERTNER, 1995; PEREIRA; RESENDE, 2000; RESENDE;

PEREIRA, 2000). Os catadores de Gymnotus spp. retiravam térmitas arborícolas nas matas próximas aos locais de captura para utilizá- los como iscas, arremessando-os à superfície da “cama” e estalando os dedos na água. A prática de explotação de iscas vivas pode ser considerada insalubre para os catadores que, freqüentemente, apresentam dermatites, problemas circulatórios e pulmonares, além de correr riscos com animais silvestres.

Quanto aos números da explotação de Gymnotus spp., a produtividade alcançada foi considerada fraca pelos dois grupos. Segundo relatos dos catadores e dados obtidos anteriormente (GERVÁSIO, 1999), membros do Grupo RIO alcançaram produtividade de 318,1 indivíduos por hora-tela na mesma região. Do mesmo modo, o Grupo BR relatou que, para sua área de atuação, a mesma dos anos anteriores, a explotação chegava a 40 mil indivíduos por mês durante pelo menos quatro meses (julho a outubro).

No ano de estudos, o Grupo BR alcançou uma produtividade de 9,3 indivíduos capturados por hora-tela por causa, possivelmente, da curta duração do período de cheias no rio Miranda.

O Grupo RIO, que se interessava

unicamente pela captura de Gymnotus spp.,

obteve uma produtividade de 35,9 indivíduos

(11)

190

por hora-tela. Ao longo da temporada, o número de indivíduos capturados por hora-tela caiu cerca de 44%. Isto significa que, mesmo aumentando o esforço total de horas de captura, a tendência que se consumou foi de escassez de recursos disponíveis.

A disponibilidade de habitats propícios à existência de Gymnotus spp., que são os locais de captura utilizados pelos catadores, está sujeita à dinâmica das enchentes sazonais na planície.

Dependendo do nível da água e da complexa rede de drenagem existente, a vegetação de determinadas lagoas pode se manter viva e cobrir toda a superfície ou morrer, apodrecendo na água; pode haver ainda comunicação entre lagoas ou entre estas e rios ou antigos meandros abandonados, por meio de canais de escoamento perenes ou temporários, que podem causar o aporte e a dispersão de organismos aquáticos da fauna e da flora (CARVALHO, 1988;

RESENDE; PEREIRA, 2000). Embora os locais de captura disponíveis ao longo do curso inferior dos rios Miranda e Aquidauana sejam bem conhecidos dos catadores, o sucesso da explotação desses recursos naturais dependerá da resultante de interação entre diversos fatores bióticos e abióticos, complexos e imprevisíveis ano a ano.

A baixa produtividade na explotação de Gymnotus spp. atingida pelos dois grupos pode ser explicada, em parte, pelas condições hídricas e climáticas do período de estudos e do período imediatamente anterior com a ocorrência de poucas chuvas, estiagem e queimadas. Esses fenômenos podem contribuir para a disponibilidade ou não de habitat propício ao abrigo, alimentação e desenvolvimento de organismos aquáticos, bem como interferir na estrutura das populações e comunidades pelas rápidas transformações que causam ao ambiente natural, podendo levar à morte

milhares de indivíduos em curto tempo.

Os fenômenos climáticos e físico-químicos, que conferem à planície de inundação um caráter sazonal e imprevisível, modelam ano a ano as condições sob as quais estarão sujeitas às dinâmicas das populações naturais (CARVALHO,1988). Essa dinâmica natural, sazonal e imprevisível da planície de inundação, que assegura a biodiversidade e a produtividade do ecossistema, incorporou também, há pouco mais de duas décadas, atividades antrópicas na qual o ser humano funciona como grande consumidor de recursos e modificador das paisagens naturais por meio do desenvolvimento do turismo de pesca desportiva e, conseqüentemente, da explotação de iscas vivas (GARMS, 1997;

BANDUCCI JR, 1999).

Embora a legislação ambiental procure proteger os recursos naturais da deterioração ou da exploração excessiva, o fato é que a pesca desportiva caracteriza o turismo consumptivo, isto é, aquele cujos recursos não se podem usar sem que se esgotem ou sejam destruídos (MERCER, 1990; MITRAUD, 2003), assim como a caça. O desenvolvimento do turismo voltado à pesca, na região de estudo, procurou cercar os pescadores amadores de todo o conforto e infra-estrutura por meio da melhoria nas instalações, equipamentos e serviços, entre eles o fornecimento de iscas vivas.

Moraes e Seidl (2000) encontram a média de 12 peixes capturados por pescador amador por temporada, o que permitiu calcular que para um público visitante de cerca de 60 mil pescadores amadores, são capturados anualmente 720 mil indivíduos entre dez espécies de peixes mais visadas. Quanto às espécies que servem de iscas, os números encontrados também surpreendem:

de acordo com relatos obtidos com empresários

do setor, são embarcados de 1.200 a 1.500

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USOE CONSERVAÇÃODE RECURSOS NATURAISRELACIONADOSCOMA PESCA DESPORTIVAECOMA EXPLOTAÇÃODE ISCAS VIVASNO PANTANAL MATO-GROSSENSE, BRASIL

indivíduos de várias espécies para grupos de até dez pessoas que permanecem cinco dias em média pescando nos rios da planície, o que resultaria na comercialização de mais de sete milhões de iscas vivas por ano, apenas na região de Corumbá. Inferire-se, que por ser Gymnotus spp.

responsável por cerca de 70% do volume de iscas vivas comercializadas, a biomassa consumida é de, aproximadamente, 500 toneladas por ano. Sob esse aspecto, a pesca desportiva e a explotação de iscas vivas podem ser comparadas ao papel de grandes consumidores, cujas presas, peixes e iscas, vêm sendo incessante e seletivamente apanhados há alguns anos na planície de inundação do Pantanal.

Ao contrário da captura de pescado, não há dados oficiais sobre os diversos aspectos que envolvem a explotação de iscas vivas. Portanto, é prematuro afirmar que a pressão de captura exercida por essa atividade sobre os estoques possam estar comprometendo as populações explotadas, principalmente Gymnotus spp., como aconteceu com algumas espécies de peixes.

É preciso prolongar os estudos e monitorar a atividade e, desde já, adequar alguns aspectos legislativos que a regulamentam, pois a Lei Nº 1.910|1998, que disciplina a captura e comercialização de iscas vivas para a pesca profissional e desportiva, enão se refere ao parâmetro “quantidade máxima ou peso máximo de indivíduos explotados”, diferentemente do que ocorre com a regulamentação da pesca no Estado. Soube-se que parte dessa produção está sendo exportada para outros locais, como o Estado de Mato Grosso que, por meio de Lei estadual Nº 7.155, de 21 de julho de 1999, proíbe a captura de iscas vivas em seu território.

Outros aspectos que devem ser revistos na Lei Nº 1.910|1998, em Mato Grosso do Sul, dizem

respeito ao tamanho mínimo de captura para as espécies explotadas como iscas vivas, cujo texto determina que indivíduos de Gymnotus carapo podem ser apanhados a partir de 15 cm. Porém, há controvérsias sobre o número de espécies que compõem o gênero Gymnotus no Pantanal (BRITSKI; SILIMON; LOPES, 1999).

Observou-se ao longo deste estudo que os catadores fazem uma diferenciação informal entre os indivíduos de Gymnotus spp.

explotados, ao que parece apenas em relação ao tamanho, denominando os dois conjuntos de “tuvirinha” e “tuvirão”. Posteriormente, ao se desenhar graficamente a relação entre peso e comprimento dos indivíduos amostrados e mesmo a distribuição dessa população por intervalos de comprimento foi possível observar um número maior de indivíduos em dois intervalos de comprimento, entre 20 cm e 24,9 cm e entre 30 cm e 34,9 cm, podendo indicar a participação de duas espécies diferentes.

A freqüência entre sexos e estádios

de desenvolvimento gonadal mantiveram-se

proporcionais no decorrer dos meses. Isto indica

a existência de indivíduos em período reprodutivo

em todas as categorias de comprimento e em todos

os meses amostrados, a partir do menor indivíduo

capturado, que correspondeu a uma fêmea em

maturação com 18,3 cm de comprimento, até uma

fêmea madura, com 36,5 cm. Do total da população

amostrada, 54% eram fêmeas maduras ou em

maturação. A análise dos dados permite inferir que

fêmeas de Gymnotus spp. reproduziram-se nos

meses de abril e também entre os meses de julho a

outubro, correspondendo aos meses de alta estação

da pesca desportiva, quando há um aumento do

número de pescadores e conseqüentemente na

demanda por recursos.

(13)

192

Na amostra de Gymnotus spp., a razão sexual encontrada entre fêmeas e machos foi de 5:1, podendo representar a própria estrutura populacional da(s) espécie(s) ou indicar a existência e interferência de algum fator ou fatores externos à população. Mais da metade (54%) dos exemplares examinados estavam em período reprodutivo, eram fêmeas maduras ou em maturação. As fêmeas em repouso (29%) poderiam ser ainda imaturas ou se encontrar em período pós-reprodutivo.

De modo geral, as fêmeas durante toda a fase reprodutiva necessitam de um maior aporte de energia, que poderia estar sendo encontrado na ceva de cupins que os catadores usam para atrair Gymnotus spp., talvez explicando, em parte, a razão sexual encontrada nas amostras. De qualquer maneira, isso significa que, anualmente, estão sendo retiradas centenas de toneladas de fêmeas de Gymnotus spp. em período reprodutivo entre os meses de julho e outubro na área de estudo e, possivelmente, em outras regiões da planície de inundação do Pantanal.

Seria plausível, portanto, que o turismo em uma das maiores planícies periodicamente inundáveis do planeta se desenvolvesse de modo sustentável, e não como turismo consumptivo que, além de consumir recursos com finalidade questionável, deixa muitos resíduos indesejáveis, como poluentes e perturbações. A chave para o turismo sustentável na região encontra-se na manutenção dos processos ecológicos da planície, a fim de garantir um meio ambiente satisfatório para plantas e animais, valorizando modelos não consumptivos de lazer e contato com a natureza.

7 CONCLUSÕES

a) O turismo sustentável se aproveita de ambientes naturais conservados, já o turismo consumptivo, como a pesca e a caça, interfere nas populações.

b) Aos efeitos do turismo consumptivo sobre as populações das espécies mais visadas – retirada sistemática e seletiva de indivíduos – outros se somam, como o desbarrancamento das margens resultante do embate de ondas geradas pela movimentação de numerosos barcos, os impactos na vegetação aquática e a poluição da água por combustível, lubrificantes e esgotamento sanitário.

c) A legislação para a captura de iscas vivas, em vigor, não regulamenta sobre quantidade de recurso natural explotado por área ou por período. Não há fiscalização dos órgãos competentes. Desta forma, a atividade, embora regulamentada, não dispõe de manejo.

d) A legislação estadual sobre iscas vivas

(Lei Nº 1.910|1998) que determina

em 15cm o tamanho mínimo de

captura para Gymnotus carapo,

o período de defeso é o mesmo

dos peixes de piracema, ou seja,

de novembro a fevereiro, e não

se refere à quantidade permitida

de recursos naturais extraídos,

pode estar equivocada em pelo

menos dois aspectos. Mais de uma

espécie do gênero Gymnotus pode

estar envolvida e, ao que parece,

(14)

USOE CONSERVAÇÃODE RECURSOS NATURAISRELACIONADOSCOMA PESCA DESPORTIVAECOMA EXPLOTAÇÃODE ISCAS VIVASNO PANTANAL MATO-GROSSENSE, BRASIL

esses indivíduos encontram-se em período reprodutivo durante parte da temporada de pesca.

e) A falta de fiscalização e a não regulamentação da comercialização de iscas vivas agravam-se com a exportação desses recursos naturais para outros Estados

ABSTRACT

The development of sport fishing in Pantanal was responsible for another parallel social-economic activity – that of the exploitation of crustaceans, shellfish and several small fish to be consumed as live baits by that market. This work has tried to find out what ecological implications the use of these natural resources might provoke. For this reason, two groups of live bait catchers were accompanied in their work in the surroundings of Passo do Lontra, Corumbá, Mato Grosso do Sul. Both groups considered the exploitation period a weak one, a fact that can be related to the adverse weather conditions, since the size of the populations may, in part, depend on the climate. More than a half of the analysed Gymnotus spp. specimens were mature females or females in a maturation process, independently of the month of capture, what indicates that the reproductive habit does not include the “piracema”. The proportion of females to males was about 5 to 1. In accordance with the law, only the minimum size is taken into consideration. In no occasion the law refers to the exploited maximum quantity or maximum weight parameters, besides the fact that it considers all Gymnotus spp. specimens as a unique species. Impacts resulting from the several human activities acting directly or indirectly in the Pantanal can modify the availability of natural resources, thus endangering the sustainability of the consumptive tourism model.

Keywords: Conservation. Exploitation. Impacts. Live bait.

Pantanal. Fish. Fisheries. Natural resources. Tourism.

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