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Palavras-chave: Colaboração Premiada. Organização Criminosa. Prêmios Legais. Investigação.

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1 COLABORAÇÃO PREMIADA

AWARD-WINNING COLLABORATION

Cécil Franco Sousa de Oliveira

Aluno do curso de Direito da faculdade ICESP/PROMOVE de Brasília

Resumo: O respectivo artigo visa demonstrar como funcionam os mecanismos da Colaboração Premiada, importante técnica de investigação que visa a colheita de provas para auxiliar os órgãos estatais de investigação no combate às infrações penais, ligadas em especial às organizações criminosas. Com o advento da nova Lei de Organizações Criminosas (Lei 12.850/13) que a colaboração premiada passou a tratar de maneira especifica, pois anteriormente à colaboração era mencionado em algumas leis como possibilidade de concessão de beneficio, porem tinha caráter genérico. Portanto, por ser uma lei relativamente nova, existem muitas dúvidas e curiosidades que cercam a sua aplicação, pois é assunto que gera polêmicas e controvérsias na forma como é aplicado. Ademais a colaboração premiada passou a ter vasta divulgação na mídia por conta dos recentes episódios envolvendo políticos e grandes empresas. Sendo assim, importante demonstrar os aspectos positivos, negativos da lei e reflexos decorrentes da sua aplicação.

Palavras-chave: Colaboração Premiada. Organização Criminosa. Prêmios Legais.

Investigação.

Abstract: Its article aims to demonstrate how the mechanisms Collaboration Award-winning, important research technique that aims to harvest evidence to assist state agencies research to combat criminal offenses relating in particular to criminal organizations. With the advent of the new Law of Criminal Organizations (Law 12.850/13) that the award-winning collaboration came to discuss specific way since before the collaboration was mentioned in some laws as a possibility of benefit concession, however had generic character. Therefore, being a relatively new law, there are many questions and curiosities surrounding the application, it is subject that generates controversy and controversy in the way it is implemented. In addition to award-winning collaboration now has extensive media coverage due to the recent events involving politicians and big companies. So important to show the positive aspects, negative consequences of the law and by its implementation.

Keywords: Award-winning collaboration. Criminal organization. Legal Awards.

Investigation.

Sumário: Introdução. 1. Evolução histórica da colaboração premiada. 2. Definição da colaboração premiada. 3. Diferença entre colaboração e delação premiada. 4. Fontes normativas da colaboração premiada. 5. Lei das organizações criminosas. 5.1. Hipóteses para

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2 que o colaborador tenha direito ao prêmio. 5.2. Direito de permanecer em silêncio. 5.3.

Colaboração Premiada como valor absoluto de prova. 6. Lei das Organizações Criminosas (Lei 12.850/13). 6.1. Hipóteses para que o colaborador tenha direito ao prêmio. 6.2. Dos prêmios pela colaboração. 6.3. Procedimentos da Colaboração Premiada. 7. Acordo de Leniência. 8. Controvérsias inerentes à colaboração. 9. Considerações Finais.

Introdução

O respectivo artigo trata do tema da Colaboração Premiada, tema em grande evidência nos últimos tempos, com enorme repercussão nacional em decorrência de grandes investigações através das autoridades policiais em conjunto com o auxílio do Ministério Publico.

A Colaboração Premiada é utilizada como instrumento de investigação de crimes que derivam de Organizações Criminosas, para alcançar agentes delituosos que ficariam impunes se não fosse à utilização da Colaboração Premiada como técnica de investigação para desmantelar grupos associados na execução de condutas ilícitas.

Com o advento da nova Lei de Organizações Criminosas (Lei 12.850/13), a colaboração premiada passou a ser regulamentada de forma específica, trazendo as formas e procedimentos, bem como a legitimidade e os requisitos necessários para a celebração do acordo de colaboração premiada com a consequente homologação judicial.

Convém ressaltar, que o presente instrumento jurídico já fora concedido de maneira genérica em leis anteriores a nova Lei de Organizações Criminosas, vide Lei dos Crimes Hediondos (Lei 8.072/90), Lei 9.080/95 que inseriu alterações na Lei de Crimes contra o Sistema Financeiro (Lei 7.492/86), Lei de Drogas (Lei 11.343/2006),dentre outras.

Importante destacar que a Colaboração Premiada, traz questões complexas quanto ao fato de que a lei assevera que a decisão judicial não pode ser proferida apenas nas declarações do agente colaborador, devendo o magistrado fundamentar a decisão condenatória de maneira mais ampla se valendo de outros argumentos probatórios colhidos na instrução para embasar decisão final.

Para determinada parte daqueles que apoiam a colaboração premiada é instrumento de investigação que visa auxiliar os órgãos de investigação, ajudando a desmantelar organizações

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3 criminosas, elucidar crimes, para aqueles que são contrários a colaboração como ato condenável, pois estaria violando a ética e a moral.

Este artigo se valeu de instrumentos de pesquisa extraídos de bibliografia, legislação, jurisprudência, para demonstrar as peculiaridades da colaboração premiada e seus aspectos positivos e negativos.

1 Evolução histórica da Colaboração Premiada

É possível afirmar que ao longo dos tempos a traição sempre ocorreu em grande escala entre os homens: Joaquim Silvério dos Reis denunciou o nosso herói Tiradentes, levando-o à forca; Judas Iscariotes vendeu Jesus pelas célebres 30 moedas de prata.1

Com o decorrer dos tempos, o ordenamento jurídico foi abrindo espaço para recompensar aquele que denuncia ou acusa. Desta forma, se introduziu a da colaboração premiada ao meio jurídico com o intuito de ser utilizada como forte instrumento de investigação.

Nos Estados Unidos e na Itália utilizou-se da colaboração premiada com grande eficácia, segundo afirma RENATO BRASILEIRO DE LIMA:

Foi amplamente utilizada nos Estados Unidos (plea bargain) durante o período que marcou o acirramento do combate ao crime organizado, e adotada com grande êxito na Itália (pattegiamento) em prol do desmantelamento da máfia –basta lembrar as declarações prestadas por Tomamaso Buscetta ao Promotor italiano Giovanni Falcone -, que golpearam duramente o crime organizado na península itálica. (RENATO BRASILEIRO DE LIMA.2014. P. 728).

Salienta-se, que foi no direito norte-americano que a colaboração premiada foi bastante valorizada, principalmente na luta contra a máfia. O acordo era feito entre Procuradores Federais e suspeitos, no qual havia a promessa de ficarem livres se prestassem informações e esclarecimentos que pudessem levar ao desmantelamento de organizações criminosas.2

1 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 2ª.ed.São Paulo: JusPODIVM, 2014. P. 728.

2 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 2ª.ed.São Paulo: JusPODIVM,2014. P. 728.

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4 Na Espanha e Itália, a colaboração premiada surgiu por causa do relevante interesse em combater o crime organizado e o terrorismo. Quanto ao Brasil ficou latente que os meios tradicionais de investigação estavam sendo ineficazes.

Sendo assim, no início dos anos 90, com o aumento da violência nos grandes centros urbanos o Brasil passou a visualizar a colaboração premiada como método de investigação passando a dispor em varias leis a aplicação a colaboração e seus benefícios.

2 Definição de Colaboração Premiada

A colaboração premiada é instrumento de investigação, em que o Estado se vale da colaboração do coautor ou participe de delito, para buscar a elucidação de infrações penais, em seguida ficando demonstrada ser eficaz a colaboração o participe ou coautor recebe determinada vantagem.

Quanto à definição jurídica de colaboração premiada, RENATO BRASILEIRO DE LIMA Técnica especial de investigação por meio da qual o coautor e/ou partícipe da infração penal, além de confessar seu envolvimento no fato delituoso, fornece aos órgãos responsáveis pela persecução penal informações objetivamente eficazes para a consecução de um dos objetivos da lei, recebendo em contrapartida, determinado prêmio legal. (RENATO BRASILEIRO DE LIMA. 2014. P. 728 e 729).

Importante definição traz NUCCI, asseverando seu entendimento sobre o conceito de colaboração premiada:

Colaborar significa prestar auxílio, cooperar, contribuir; associando-se ao termo premiada, que representa vantagem ou recompensa, extrai-se o significado processual penal para o investigado ou acusado que dela se vale:

admitindo a prática criminosa, como autor ou partícipe, revela a concorrência de outro(s), permitindo ao Estado ampliar o conhecimento acerca da infração penal, no tocante a materialidade ou á autoria.

(GUILHERME DE SOUZA NUCCI. 2014. VOL. II. P.690).

Destarte, fica demonstrada por meio de sua definição técnica, a relevância da colaboração premiada como instrumento de investigações criminais.

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3 Diferenças entre colaboração e delação premiada

O termo delação premiada é a maneira que vulgarmente as pessoas conhecem e a mídia divulga a colaboração, que também tem essa nomenclatura usada por boa parte da doutrina e da jurisprudência.

No entanto é salutar fazer a devida distinção entre as expressões delação premiada e colaboração premiada, GOMES tem o seguinte entendimento, “delação e colaboração premiada não são expressões sinônimas, sendo esta última dotada de mais larga abrangência”.

(LUIS FLAVIO GOMES.2005. p. 18).

Segundo o STJ “a colaboração premiada funciona, portanto, como gênero, do qual a delação premiada seria a espécie”. (STJ, 6ª Turma, HC 107.916/RJ, Rel. Min. Og Fernandes, j. 07/10/2008, DJe 20/10/2008)

Faz-se mister trazer o entendimento de RENATO BRASILEIRO DE LIMA sobre o tema:

É bem verdade que a referência à expressão delação premiada é muito mais comum na doutrina e na jurisprudência. No entanto preferimos fazer uso da denominação colaboração premiada, que traz ínsita a ideia de traição, quer pela incapacidade de descrever toda traição, quer pela incapacidade de descrever toda a extensão do instituto que nem sempre se limita ao mero chamamento de corréu. (RENATO BRASILEIRO DE LIMA. 2014. P. 730).

Para o doutrinador Vladimir Aras existem quatros espécies do gênero colaboração premiada:

i) delação premiada (chamamento de corréu): o colaborador expõe as outras pessoas implicadas na infração penal, razão pela qual é denominado de agente revelador;

ii) colaboração para libertação: o colaborador indica o lugar onde esta

mantida a vitima sequestrada facilitando sua libertação;

iii) colaboração para localização e recuperação de ativos: o colaborador fornece dados para a localização do produto ou proveito de delitos e de bens eventualmente submetidos a esquema de lavagem de dinheiro;

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6 iv) colaboração preventiva: o colaborador presta informações relevantes aos órgãos estatais responsáveis pela persecução penal de modo a evitar um crime, ou impedir a continuidade ou permanência de uma ilícita.

(VLADIMIR ARAS. 2011. P. 428)

Importante ressaltar que a Lei 12.850/13 (Lei das organizações criminosas) fez a escolha pela expressão “colaboração premiada”. O legislador faz menção à expressão colaboração premiada, no art. 3º, I, na seção I do capítulo II, que abrange os arts. 4º, 5º, 6º e 7º.

4 Fontes normativas da colaboração premiada

Segundo entende a doutrina, a colaboração premiada já esteve prevista mesmo antes da nova Lei de Organizações Criminosas (Lei 12.850/13). O Código Penal Brasileiro acentua que atenuante da confissão espontânea (CP, art. 65,III, “d”), atenuante genérica do art. 65, III,

“b”, no qual é concedido o benefício do prêmio ao infrator que tenha buscado, logo depois do crime, evitar ou minorar as consequências, antes do julgamento reparar o dano.

Importante destacar que a primeira lei entre várias a tratar expressamente da colaboração premiada foi a Lei dos Crimes Hediondos (Lei 8.072/90), na qual dispõe que “o participante e o associado que denunciar à autoridade o bando ou a quadrilha, possibilitando o desmantelamento, terá pena reduzida de um a dois terços”.3

Cabe destacar, que a Convenção das Nações Unidas contra o crime organizado- Convenção de Palermo, promulgada pelo Decreto nº 5.015/2004- trata da colaboração premiada, conforme o disposto no art. 26, ao asseverar que cada Estado Parte tomará medidas para fomentar que as pessoas que fazem parte ou fizeram parte de grupos criminosos a) forneçam informações uteis ás autoridades competentes para efeitos de investigações e produção de provas: i) identidade, natureza, composição, estrutura, localização ou atividades dos grupos criminosos organizados; ii) as conexões, inclusive conexões internacionais, com outros grupos criminosos organizados; iii) as infrações que os grupos criminosos organizados praticaram ou poderão vir a praticar; b) a prestarem ajuda efetiva e concreta ás autoridades

3 Art. 8º § Ún. Lei 8.072/90 (Lei dos crimes hediondos)

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7 competentes, susceptível de contribuir para privar os grupos criminosos organizados dos seus recursos ou do produto do crime.4

A nova Lei de Drogas (Lei 11.343/2006, art. 41, caput) dispõe que “o indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação policial e o processo criminal na identificação dos demais coautores ou partícipes do crime e na recuperação total ou parcial do produto crime, no caso de condenação, terá pena reduzida de um terço a dois terços”.

A Lei que normatiza o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência (Lei nº 12.529/11), também traz a previsão da colaboração premiada. Cabendo ressaltar que lei dispõe em seus artigos 86 e 87 a possibilidade de vir a ser celebrado acordo de leniência com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) com pessoas físicas e jurídicas autoras de infrações relacionadas á ordem econômica desde que colaborem efetivamente com as investigações e o processo administrativo e que dessa colaboração resulte: I- a identificação dos demais envolvidos na infração; II- a obtenção de informações e documentos que comprovem a infração noticiada ou sob investigação.

Outro importante dispositivo legal de grande relevância é a Lei de proteção às testemunhas (Lei 9.807/99), que dispõe no seu art. 13 que o juiz poderá de oficio ou a requerimento das partes, tendo em conta a personalidade do beneficiado e a natureza, circunstâncias, gravidade e repercussão social do fato criminoso, conceder o perdão judicial e a consequente extinção da punibilidade ao acusado pela pratica de qualquer crime que, sendo primário tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e o processo criminal, desde que dessa colaboração tenha resultado: I- a identificação dos demais coautores ou partícipes da ação criminosa; II- a localização da vítima com a sua integridade física preservada; III- a recuperação total ou parcial do produto do crime.

5 Características importantes da colaboração premiada

A colaboração premiada, técnica especial de investigação visando à busca de informações que contribuam para o desmantelamento de organizações criminosas, é instrumento útil quando a colaboração é efetiva e voluntária. 5

4 Art. 26, da Convenção de Palermo, Decreto nº 5.015/2004.

5 NUCCI, Guilherme de S. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas. 8. ed. rev., atual. e ampl. Vol. 2.

Rio de Janeiro: Forense, 2014. P. 692

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8 Por possuir característica complexas (ex: demonstração da veracidade das informações, devida eficiência da cooperação), é necessário analisar de forma peculiar questões determinantes para o entendimento da colaboração premiada e como consequência a sua correta aplicação.

5.1 Valores inerentes à Colaboração

A colaboração premiada não deve estar revestida de vícios relacionados ao caráter motivacional e voluntário por parte do colaborador investigado.

É de grande importância que a conduta do colaborador investigado seja ato voluntário, pois tal ato deve ser feito de livre e espontânea vontade.

Convém destacar, que a colaboração não deve estar pautada por argumentos falsos, sob pena de tal conduta ser tipificada conforme o disposto no art. 19 da Lei 12.850 (Lei das Organizações Criminosas).

No entendimento de NUCCI, se o agente imputa falsamente a alguém determinado crime, comete o crime de calúnia, se transmite a autoridade o conhecimento de um crime e do seu autor, ocorrerá a junção de duas situações (calúnia + comunicação à autoridade) que faz nascer o crime de denunciação caluniosa, na qual o art. 19 da Lei 12.850/0213 (Lei das Organizações Criminosas) cria uma espécie de denunciação caluniosa.6

Bem preceitua NUCCI, quanto à colaboração efetiva e voluntária, nos seguintes termos:

A medida da eficiência da cooperação será verificada pelo preenchimento dos demais requisitos. Quanto à voluntariedade, significa agir livre de qualquer coação física ou moral, embora não se demande a espontaneidade (sinceridade ou arrependimento). (GUILHERME DE SOUZA NUCCI.

2014. VOL. II. P.692).

Para a obtenção da real eficácia da colaboração, deverá ocorrer como consequência resultado prático e eficaz das informações prestadas pelo colaborador investigado. Ademais,

6 NUCCI, Guilherme de S. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas. 8. ed. rev., atual. e ampl. Vol. 2.

Rio de Janeiro: Forense, 2014. P. 692

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9 meras informações vazias e sem nenhum conteúdo que possa elucidar e esclarecer pontos obscuros, não terão nenhum efeito prático, sendo totalmente descartáveis.

A jurisprudência tem entendimento esclarecedor quanto ao tema, conforme o disposto a seguir:

Não basta a mera confissão acerca da conduta delituosa. Em um crime de associação criminosa, por exemplo, a confissão do acusado deve vir acompanhada do fornecimento de informações que sejam objetivamente eficazes, capazes de contribuir para a identificação dos comparsas ou da trama delituosa7.

Após comprovada as devidas informações prestadas pelo agente, acompanhadas da devida eficácia o colaborador investigado fará jus à aplicação dos benefícios referentes a respectiva colaboração premiada.

5.2 Direito de permanecer em silêncio

Conforme disposto no artigo 4º, §14, da lei 12.850/13:

Nos depoimentos que prestar, o colaborador renunciará, na presença do seu defensor, ao direito ao silêncio e estará sujeito ao compromisso legal de dizer a verdade. 8

Ora, o parágrafo analisado em questão parece ser contraditório, quanto ao direito previsto na Constituição Federal (artigo 5º, LXIII) 9 de permanecer calado.

No entendimento do doutrinador RENATO BRASILEIRO DE LIMA, este parágrafo tem o seguinte entendimento:

Na verdade, não há falar em renúncia ao direito ao silêncio, mas sim em opção pelo seu não exercício, opção esta exercida voluntariamente pelo investigado/acusado, que, para tanto, deverá contar com a assistência técnica de seu defensor e ser previamente informado de que não é obrigado a

7 STJ, 6º Turma, HC 92.922/SP, Rel. Min. Jane Silva, j. 25/02/2008. Negando a concessão do perdão judicial previsto no art. 13 da Lei nº 9.807/99 em caso concreto em que as informações pelo colaborador não resultaram na identificação dos demais coautores e partícipes de tráfico de drogas: STF, 1º Turma, AI 820.480 AgR/RJ, Rel. Min. Luiz Fux, j.03/04/2012, Dje 78 20/04/2012.

8Art. 4º da Lei 12.850/2013

9 Art. 5º, LXIII da CF/1988.

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“colaborar para sua própria destruição” (nemo tenetur se detegere).

(RENATO BRASILEIRO DE LIMA. 2014. P. 732).

Destarte, nota-se equívoco legislativo no uso da expressão renunciar. Ora, nada mais óbvio que aquele que irá colaborar, deverá abrir mão de ficar em silêncio.

5.3 Colaboração Premiada como valor absoluto de prova

Para que ocorra a instauração de inquérito policial ou oferecimento da ação penal é totalmente cabível as informações obtidas na colaboração premiada, pois neste momento não há necessidade de haver certeza acerca da infração penal, no entanto, quanto à sentença condenatória não é cabível o mesmo entendimento.

Pois, conforme dispõe a jurisprudência não é possível pela técnica especial de investigação, que é a colaboração premiada haver condenação, pois deve haver outros elementos probatórios10.

Destarte, neste sentido a Lei de Organizações Criminosas dispõe no artigo 4º, § 16, que

“Nenhuma sentença condenatória será proferida com fundamento apenas nas declarações de agente colaborador”.

6 Lei das Organizações Criminosas (Lei 12.850/13)

Não obstante a colaboração premiada possuir previsão legal há algum tempo, como descrito anteriormente, foi com o advento da nova Lei das organizações criminosas (Lei 12.850/13) que houve trato específico sobre o tema, trazendo regras de maneira detalhada para se obter eficácia desta especial técnica de investigação.11

10STF, 2º Turma, HC 75.226/MS, Rel. Min. Marco Aurélio, j.12/08/1997, DJ 19/09/1997. E ainda: STF, RE 213.937/PA, 1ºTurma, j. 26/03/1999, Rel. Min. Ilmar Galvão, DJ 25/06/1999; STF, 1º Turma RHC 81.740/ RS, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, j. 29/03/2005, DJ 22/04/2005; STF, 1º Turma, HC 84.517/SP, Rel. Min.

Sepúlveda Pertence, j. 19/10/2004, DJ 19/11/2004; STF, 1º, HC 94.034/SP, Rel. Min. Carmén Lúcia, j.

10/06/2008, DJe 04/09/2008; STF, 1º Turma, RHC 84.845/RJ, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, j. 12/04/2005, DJ 06/05/2005.

11 Art. 4º, 5º, 6º e 7º da Lei 12.850/2013.

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11 Portanto, a nova Lei das Organizações Criminosas (Lei 12.850/13) trata da proteção dos direitos e garantias da ampla defesa do colaborador12; a forma como deverá ser feito o acordo de colaboração; bem como a homologação judicial do acordo, entre outros.13

Destarte, importante analisar detalhadamente os principais pontos referentes a colaboração premiada, invocando o entendimento da doutrina e jurisprudência para se obter os resultados satisfatórios sobre o tema.

6.1 Hipóteses para que o colaborador tenha direito ao prêmio

A nova Lei das Organizações Criminosas traz a expressa previsão da colaboração premiada como meio de investigação e obtenção da prova no art. 3º, I, na seção I do capítulo II, que abrange os arts. 4º, 5º, 6º e 7º.

Fazendo uma análise do art. 4º da Lei 12.850/2013, é possível extrair varias informações relevantes do respectivo dispositivo.

O disposto no art. 4º da Lei 12.850/2013, afirma que:

O juiz poderá, a requerimento das partes, conceder o perdão judicial, reduzir em até 2/3 (dois terços) a pena privativa de liberdade ou substituí-la por restritiva de direitos daquele que tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e com o processo criminal advenha um ou mais dos seguintes resultados:14

Conforme o entendimento de NUCCI para a colaboração alcançar seu objetivo deve haver:

Colaboração efetiva e voluntária, cumulada com a avaliação da personalidade do colaborador, a natureza, as circunstâncias, a gravidade e a repercussão do fato criminoso, associados a um ou mais requisitos previstos nos incisos I a V do art. 4º (GUILHERME DE SOUZA NUCCI. 2014. VOL.

II. P.692).

Importante destacar que havendo colaboração efetiva e voluntária, o magistrado poderá tomar três medidas conforme descrito no caput do art. 4º: i) a concessão do perdão judicial e

12 Art. 4º, § 15 e art. 7º § 2º da Lei 12.850/2013.

13 Art. 4º, § 8º e art. 6º da Lei 12.850/2013.

14 Art. 4º,da Lei 12.850/2013.

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12 como consequência julgando extinta a punibilidade; ii) condenar o colaborador e reduzir a pena em até dois terços a pena privativa de liberdade; iii) substituição de pena privativa de liberdade por restritiva de direitos.

Convém ressaltar, o caráter gradual que caracteriza os prêmios, aquele que acrescenta informações mais relevantes à investigação recebe o perdão judicial, neste o réu colaborador se quer vai preso ou terá antecedente criminal em seu histórico. Quanto aos outros prêmios, a substituição da pena privativa vem em escala intermediária e por último a redução de pena privativa de liberdade.15

Seguindo a ordem que é estabelecida na lei, após as informações contidas no art. 4º, vem o disposto nos incisos I a V, as hipóteses em que haverá cooperação do colaborador:

I- a identificação dos demais coautores e partícipes da organização criminosa e das infrações penais por ele praticadas;

Neste inciso impõe-se a essência do termo delatar, acusar ou denunciar alguém, pois ocorrerá, como bem explica a lei, a identificação dos coautores ou participes das infrações penais.16

Para RENATO BRASILEIRO DE LIMA o inciso informa que:

Para fins de concessão dos prêmios legais, as informações devem se referir ao crime investigado (ou processado) para o qual o colaborador também tenha concorrido em concurso de agentes. A título de ilustração, se o agente estiver sendo investigado pelo fato de ser integrante de organização criminosa especializada na prática de crimes de roubo de cargas, suas informações devem ser eficazes para identificação dos demais coautores e partícipes envolvidos nesta prática delituosa. (RENATO BRASILEIRO DE LIMA. 2014. P. 738).

O inciso II afirma que:

II- a revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da organização criminosa;

Quanto a este inciso a participação do colaborador será demonstrada com a revelação dos mecanismos da divisão e estrutura da organização.

15 NUCCI, Guilherme de S. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas. 8. ed. rev., atual. e ampl. Vol. 2.

Rio de Janeiro: Forense, 2014. P. 692.

16 Art. 4º, I, da Lei 12.850/2013.

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13 Para NUCCI tal conduta do colaborador revela certo grau de complexidade, ao afirmar que:

Denunciar a composição e o escalonamento da organização pode ser útil ao Estado para apurar e descobrir a materialidade de infrações penais e a autoria, verdadeiro objeto de investigação. Entretanto, torna-se raro e difícil desvelar a estrutura de um organismo e as tarefas desempenhadas pelos seus integrantes sem que se revele a identificação dos coautores e partícipes ou as infrações penais. Este requisito não será de fácil e frequente aplicação.

(GUILHERME DE SOUZA NUCCI. 2014. VOL. II. P.693).

Seguindo a ordem estabelecida no artigo 4º e seus respectivos incisos, o inciso III dispõe:

III- a prevenção de infrações penais decorrentes das atividades da organização criminosa;

O caráter preventivo descrito no inciso ocorrerá quando o colaborador conceder informações que possam ajudar na prevenção de determinadas infrações penais.17

O doutrinador RENATO BRASILEIRO DE LIMA assevera que “nem sempre será fácil aferir a eficácia objetiva das informações prestadas pelo colaborador para fins de prevenir infrações penais decorrentes das atividades da organização criminosa” (RENATO BRASILEIRO DE LIMA. 2014. P. 738).

O inciso IV do art. 4º é um dos mais relevantes pelas características que o envolve, ao dispor que:

IV- a recuperação total ou parcial do ou do produto proveito das infrações penais praticadas pelas organizações criminosas;

O disposto neste inciso revela o caráter do ressarcimento, dos bens ou vantagem obtida pela organização criminosa. Como exemplo pode ser citado o objeto roubado, dinheiro obtido com a venda de drogas e etc.

Fazendo análise do inciso V do art. 4º o legislador dispôs que:

V- a localização de eventual vítima com a sua integridade física preservada;

Para a concessão dos prêmios legais, o colaborador deve fornecer informações precisas, objetivas e eficazes para obtenção dos resultados pretendidos com a colaboração. Sendo

17 NUCCI, Guilherme de S. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas. 8. ed. rev., atual. e ampl. Vol. 2.

Rio de Janeiro: Forense, 2014. P. 693.

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14 assim, deve haver a indicação correta da localização da vitima e como consequência a integridade física preservada para que o colaborador possa fazer jus ao premio legal.18

Portanto, fazendo uma análise detalhada do artigo 4º e seus incisos de I a V, verifica-se que o colaborador deve se enquadrar nestas possibilidades descritas, para que possa ter direito aos prêmios legais insertos na Lei de organizações criminosas.

6.2 Dos prêmios pela colaboração

A Lei de Organizações Criminosas dispõe ao colaborador prêmios legais pelas informações prestadas que seja comprovadamente efetiva e voluntária para investigação de infrações penais.19

No caput do artigo 4º estão descritos os prêmios legais concedidos ao colaborador.

Portanto, faz-se relevante a análise pormenorizada de cada um dos benefícios que terá direito o colaborador conforme o grau de relevância das informações prestadas:

i) redução da pena: a pena poderá ser reduzida em até 2/3, a critério do juiz, que também terá a possibilidade de diminuir a pena após a sentença, conforme dispõe o art. 4º § 5º, sendo que nesta situação a redução será até a metade.

ii) substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos: deve ser ressaltado que este premio será aplicado independentemente do montante da pena.

iii) perdão judicial e extinção da punibilidade: nos termos do artigo 4º, parágrafo2º da Lei 12.850/13, é possível extrair que após avaliar as informações prestadas na colaboração, o delegado de polícia e o Ministério Público poderão em qualquer momento, nos autos do inquérito policial requerer ao juiz a concessão de perdão judicial ao réu colaborador.

iv) a possibilidade da suspensão para o oferecimento da denúncia ou do processo: o artigo 4º, §3º, da Lei 12.850/13, afirma que o prazo relativo para o oferecimento da denúncia ou do processo contra o colaborador poderá ser suspenso por até seis meses, e prorrogável pelo mesmo período para o devido cumprimento das informações concedidas pelo colaborador. Convém ressaltar, que também é possível suspensão da prescrição.

18 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 2ª. ed. São Paulo: JusPODIVM, 2014. P. 738.

19 NUCCI, Guilherme de S. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas. 8. ed. rev., atual. e ampl. Vol. 2.

Rio de Janeiro: Forense, 2014. P. 692.

(15)

15 v) possibilidade do não oferecimento da denúncia: o artigo 4º,§4º da Lei em análise, autoriza o Ministério Público quando houver colaboração efetiva e voluntária pelo colaborador, o não oferecimento da denúncia, caso o colaborador não seja líder da organização criminosa, venha a ser o primeiro a colaborar.

vi) colaboração durante a pena e sua consequente redução: já houve ocasiões em que condenados durante o cumprimento buscaram colaborar, mas não obtiveram nenhuma vantagem em ter essa conduta. No entanto, com o advento da Lei de Organizações Criminosas, o artigo 4º,§5º passou a permitir que o condenado que viesse a colaborar tenha redução da pena até a metade ou progressão do regime.

6.3 Procedimentos da Colaboração Premiada

Após, analisar alguns pontos da Colaboração Premiada concernente as hipóteses em que o colaborador poderá auxiliar os órgãos de persecução penal, e como consequência os prêmios legais que serão concedidos ao colaborador, não deixando de ressaltar que deve haver a colaboração efetiva e eficaz para a devida concessão do prêmio, se faz importante esmiuçar os detalhes procedimentais para que ocorra a colaboração.

Importante ressaltar de início, que conforme disposto no artigo 4º, § 6º da Lei 12. 850/13, o juiz não fará parte das negociações entre o Estado e o colaborador, pois se revela neste momento o caráter da imparcialidade do juiz, não podendo este participar das negociações, pois logo após este momento estará incumbido de homologar o acordo de colaboração e verificar a sua legalidade.20

Haverá a possibilidade de o magistrado não aceitar o acordo por motivos ligados a não concessão de algum prêmio legal, conforme dispõe o artigo 4º, §8º da Lei de Organizações Criminosas, devendo assim as partes chegarem a um novo acordo quanto ao benefício.21

Outro ponto importante a destacar, quanto à atuação do juiz, diz respeito à necessidade de homologação judicial do acordo. Pois, o artigo 4º, §7º assevera que o termo de colaboração deverá está acompanhado das informações prestadas pelo colaborador e cópia da

20 Art. 4º,§ 6º da Lei 12.850/2013.

21 Art. 4º,§ 8º da Lei 12.850/2013.

(16)

16 investigação, na qual será remetido ao juiz para a devida homologação, que a posteriori deverá analisar se houve legalidade e voluntariedade do colaborador no respectivo acordo.22

Em ocasiões anteriores à Lei de Organizações Criminosas, o acordo de colaboração premiada era executado de forma verbal e informal com aquele que prestavam as informações. Com o advento da nova lei os acordos de colaboração premiada passaram a ter uma formalidade maior, sendo sempre imprescindível a presença do defensor em respeito ao princípio da ampla defesa assegurado pela Constituição Federal.

Na esteira do entendimento de RENATO BRASILEIRO DE LIMA, “a lavratura desse pacto entre acusação e defesa confere mais segurança e garantias ao acusado, que não ficará apenas com uma expectativa de direito que, ausente o acordo, poderia ou não ser reconhecida pelo magistrado”. (RENATO BRASILEIRO DE LIMA, 2014, P. 750).

Os legitimados para o pacto do acordo de colaboração premiada conforme dispõe o art. 4º,

§ 2º é do Ministério Público que poderá se manifestar a qualquer tempo, do delegado de polícia, nos autos do inquérito policial, com a manifestação do Ministério Público, sendo que a formalização do acordo ocorrerá entre o Delegado de Policia, o investigado e o defensor com a devida manifestação do Ministério Público ou entre o Investigado, o defensor e o Ministério Público conforme o caso concreto.23

Quanto ao momento em que deve ocorrer o acordo de colaboração premiada, pode se dar tanto na fase de investigação, bem como durante a ação penal após a aceitação da denúncia24, devendo ser ressaltado que pode ocorrer a colaboração como dita anteriormente durante a execução da pena.25

Conforme bem disposto no art. 6º da Lei de Organização Criminosa (Lei 12.850/2013), o termo do pacto de colaboração premiada deverá ser escrito e conter:

I- o relato da colaboração e seus possíveis resultados;

II- as condições da proposta do Ministério Público ou do delegado de polícia;

III- a declaração de aceitação do colaborador e de seu defensor;

IV- as assinaturas do representante do Ministério Público ou do delegado de polícia, do colaborador e de seu defensor;

22 Art. 4º,§ 7º da Lei 12.850/2013.

23 Art. 4º,§ 2 º da Lei 12.850/2013.

24 Art. 4º,§ 2º da Lei 12.850/2013.

25 Art. 4º,§ 5º da Lei 12.850/2013.

(17)

17 V- a especificação das medidas de proteção ao colaborador e á sua família, quando necessário;

Com precisão ímpar NUCCI afirma que:

Considerando-se a gravidade concreta da delação, ato pelo qual o agente de um crime se autoacusa e entrega comparsas, recebendo um prêmio por isso, é fundamental a lavratura de um termo forma e completo, contendo o acordo com o Estado e todos os detalhes necessários. (GUILHERME DE SOUZA NUCCI. 2014. VOL. II. P. 705).

Ora, no termo de colaboração é necessário que conste o que o colaborador vai prestar de informações, o que ele sabe e o que pretende narrar. É pautado sobre estas informações que o Estado irá estipular quais benefícios deverá receber o colaborador.26

Consoante o descrito na Lei, o Ministério Público e o Delegado de Polícia são os representantes do Estado para negociar o acordo de colaboração. Dessa forma, é por intermédio da formalização do termo de colaboração, que o colaborador terá a garantia de que vai receber os prêmios legais.27

Quanto à declaração de aceitação do colaborador juntamente com o aval de seu defensor, é condição importante aferir a devida voluntariedade do colaborador nas informações prestadas aos órgãos da persecução penal.28

É sabido, que o ato de prestar colaboração ao Estado na busca do desmantelamento de organização criminosa ou em outras situações que decorrem tal medida, o colaborador ao entregar, denunciar ou delatar seus comparsas coloca em risco tanto a sua integridade física, bem como a de seus familiares. Destarte, deverá constar no acordo medidas de proteção a serem adotadas, com o intuito de dar maior tranquilidade ao colaborador.29

Cabe destacar, que conforme dispõe o art. 4º, § 6º da Lei nº 12.850/13 (Lei de Organização Criminosa), é cabível a possibilidade retratação do acordo, ou seja, o colaborador voltar atrás na intenção de fazer a proposta de colaboração.30

26 NUCCI, Guilherme de S. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas. 8. ed. rev., atual. e ampl. Vol. 2.

Rio de Janeiro: Forense, 2014. P. 705.

27 NUCCI, Guilherme de S. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas. 8. ed. rev., atual. e ampl. Vol. 2.

Rio de Janeiro: Forense, 2014. P. 705.

28 NUCCI, Guilherme de S. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas. 8. ed. rev., atual. e ampl. Vol. 2.

Rio de Janeiro: Forense, 2014. P. 705.

29 NUCCI, Guilherme de S. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas. 8. ed. rev., atual. e ampl. Vol. 2.

Rio de Janeiro: Forense, 2014. P. 706.

30 Art. 4º,§ 6º da Lei 12.850/2013.

(18)

18 A publicidade do acordo de colaboração premiada tem respaldado nos termos do art. 7º, § 3º, ao afirmar que após o início da persecução penal, se dará a publicidade ao acordo de colaboração premiada.31

7 Acordo de Leniência

Nos últimos tempos, a mídia têm apresentado recorrentes casos de corrupção envolvendo empresas de grande porte. O legislador criou lei que regula a estrutura do sistema brasileiro de defesa da concorrência (Lei nº 12.529/2011), que entrou em vigência no dia 29/05/2012 e, fez menção ao Acordo de Leniência que será feito entre o Conselho Administrativo de Direito Econômico (CADE), com pessoas físicas e jurídicas que tenham cometido infração de ordem econômica, que venham colaborar com as devidas investigações e processo administrativo.

A Lei nº 12.529/2011 dispõe em seu artigo 86, os seguintes termos do possível acordo de leniência:

Art. 86. O CADE, por intermédio da Superintendência-Geral, poderá celebrar acordo de leniência, com a extinção da ação punitiva da administração pública ou a redução de 1 (um) a 2/3 (dois terços) da penalidade aplicável, nos termos deste artigo, com pessoas físicas e jurídicas que forem autoras de infração à ordem econômica, desde que colaborem efetivamente com as investigações e o processo administrativo e que dessa colaboração resulte:

I - a identificação dos demais envolvidos na infração; e

II - a obtenção de informações e documentos que comprovem a infração noticiada ou sob investigação.32

Quanto ao artigo 87 da Lei 12.529/11, dispõe que:

Art. 87. Nos crimes contra a ordem econômica, tipificados na Lei nº 8.137, de 27 de dezembro de 1990, e nos demais crimes diretamente relacionados à prática de cartel, tais como os tipificados na Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, e os tipificados no art. 288 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940-Código Penal, a celebração de acordo de leniência, nos termos desta

31 Art. 7º,§ 3º da Lei 12.850/2013.

32Art. 86, I e II da Lei nº 12.529/2011 ( Lei que estrutura o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência)

(19)

19 Lei, determina a suspensão do curso do prazo prescricional e impede o oferecimento da denúncia com relação ao agente beneficiário da leniência.

Parágrafo único. Cumprido o acordo de leniência pelo agente, extingue-se automaticamente a punibilidade dos crimes a que se refere o caput deste artigo.33

Deve-se destacar que, para a doutrina o acordo de leniência é conhecido como “acordo de brandura ou doçura”.34

8 Controvérsias inerentes à colaboração

A colaboração premiada é uma técnica especial de investigação na busca de obtenção de provas no combate de infrações penais, porém, tal técnica de investigação desperta certos embates doutrinários, acerca do seu caráter ético e moral a sua devida aplicação entre outros.

Quanto aspecto ético e moral da colaboração PACCELI tem o seguinte entendimento:

Ora, a partir de que ponto dos estudos acerca da ética pode-se chegar à conclusão de que a violação ao segredo da organização criminosa, isto é, ao segredo relativo aos crimes praticados, pode revelar-se eticamente reprovável? Existiria uma ética afastada de quaisquer considerações morais, já que a revelação da existência do crime é a revelação da existência de uma conduta evidentemente contrária à ética e ao Direito? Existiria, enfim' uma ética criminosa? (EUGENIO PACELLI DE OLIVEIRA. 2011. 15ª ED. P.

784).

Destarte, importante que ocorra debates sobre aspectos complexos da colaboração premiada. O doutrinador NUCCI, faz uma divisão entre pontos positivos e negativos:

São pontos considerados negativos da colaboração premiada: a) oficializa-se, por lei a traição, forma antiética de comportamento social; b) pode ferir a

33 Art. 87, da Lei nº 12.529/2011 (Lei que estrutura o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência)

34É nesse sentido a lição de Damásio Evangelista de Jesus: Phoenix: órgão informativo do Complexo Jurídico Damásio de Jesus. São Paulo, nº1, fev.2001. com vigência em 29/01/2014, a lei nº 12.846/13, que dispõe sobre a responsabilização administrativa e civil de pessoas jurídicas pela prática de atos contra a administração pública, nacional ou estrangeira, também prevê, em seu artigo 16, a possibilidade de celebração de acordo de leniência, porém com reflexos exclusivamente administrativo. Na mesma linha, o art.17 da referida Lei também prevê a possibilidade de a Administração pública celebrar acordo de leniência com a pessoa jurídica responsável pela pratica de ilícitos previstos na Lei de Licitações e Contratos (Lei nº8. 666/93), com vistas à isenção ou atenuação das sanções administrativas estabelecidas em seus artigos 86 a 88.

(20)

20 proporcionalidade na aplicação da pena, pois o delator recebe pena menor que os delatados, autores de condutas tão graves quanto as dele; c) a traição, como regra serve para agravar ou qualificar a prática de crimes, motivo pelo qual não deveria ser útil para reduzir a pena; d) não se pode trabalhar com a ideia de que os fins justificam os meios, na medida em que estes podem ser imorais ou antiéticos; e) a existente delação premiada não serviu até o momento para incentivar a criminalidade organizada para quebrar a lei do silêncio, regra a falar mais alto no universo do delito; f) o Estado não pode aquiescer e barganhar com a criminalidade; g) há um estímulo à delações falsa e um incremento a vinganças pessoais. (GUILHERME DE SOUZA NUCCI. 2014. VOL. II. P. 690).

Segue explicando o doutrinador, agora sobre os pontos positivos:

São pontos considerados positivos da delação premiada: a) no universo criminoso não se pode falar em ética ou em valores moralmente elevados, dada a própria natureza da prática de condutas que rompem as normas vigentes, ferindo bens s jurídicos protegidos pelo Estado; b) não há lesão à proporcionalidade na aplicação da pena, pois esta é regida, basicamente pela culpabilidade (juízo de reprovação social), que é flexível; c) o crime praticado por traição é grave, justamente porque o objetivo almejado é a lesão ao bem jurídico protegido; d) os fins podem ser justificados pelos meios, quando estes forem legalizados e inseridos, portanto, no universo jurídico; e) a ineficiência atual da delação premiada condiz com o elevado índice de impunidade reinante no mundo do crime, bem como ocorre em face da falta de agilidade do Estado em dar efetiva proteção ao réu colaborador; f) o Estado já está barganhando com o autor da infração penal, como se pode constatar pela transação, prevista na Lei 9.099/95; g) o benefício instituído por lei para que um criminoso delate o esquema no qual está inserido, bem como os cumplices, pode servir de incentivo ao arrependimento sincero, com forte tendência à regeneração interior, um dos fundamentos da própria aplicação da pena; h) a falsa delação, embora possa existir deve ser severamente punida; i) a ética e juízo de valor variável, conforme à época e os bens em conflito, razão pela qual não pode ser empecilho para a delação premiada, cujo fim é combater em primeiro plano, a criminalidade organizada. (GUILHERME DE SOUZA NUCCI. 2014.

VOL. II. P. 690 e 691).

(21)

21 Aspecto novo surgiu a respeito da aplicação da colaboração premiada a infratores submetidos à prisão cautelar (prisão preventiva). Ora, quando o agente infrator é submetido ao cárcere existe a proposta para colaborar e consequentemente receber os prêmios legais concedidos pela lei.

A colaboração premiada aplicada ou utilizada nestas ocasiões, em que o investigado colaborador encontra-se em momento de vulnerabilidade, estaria violando os próprios requisitos da colaboração, entre eles o da voluntariedade e espontaneidade.35

Sendo assim, ficam demonstrados os vários pontos controversos e polêmicos desta importante técnica especial de investigação para obter resultados satisfatórios quando preenchido seus requisitos (colaboração efetiva e voluntária), quanto ao desmantelamento de organizações criminosas e outros crimes que envolvem estruturas semelhantes.

9 Considerações Finais

A Lei de Organizações Criminosas (Lei nº 12.850/13), ao fazer menção a este importante tema de caráter processual penal, que é a colaboração premiada, busca auxilia os órgãos estatais de persecução penal na investigação e colheita de provas que possam combater ao crime organizado.

Demonstrado está que a colaboração premiada, apesar das polêmicas e controvérsias que a cercam quando devidamente aplicado gera resultados positivos na luta contra os agentes de infrações penais.

Portanto, pela sua maneira peculiar, apesar de o Estado reconhecer sua incapacidade para resolver infrações praticadas, a adoção dos mecanismos utilizados na colaboração premiada, como a incapacidade para conseguir obter provas em virtude do silêncio que existe no meio das organizações criminosas e a possibilidade de causar certa desarmonia dentro dessas organizações visando garantir a busca ao combate as infrações penais com estruturas em organizações criminosas.

Desta forma, importante a análise detalhada do instrumento da colaboração premiada, no que tange ao conhecimento do instituto da Colaboração Premiada, seus pontos controversos

35 NICOLITT, André. Manual de Processo Penal, São Paulo: Revista dos Tribunais, 6ª edição, 2016.

(22)

22 que são vários, demonstrando que essa especial técnica de investigação contém aspectos positivos na sua aplicação, bem como contém aspectos negativos.

(23)

23

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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BRASIL. Lei 12.850/2013. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-

(24)

24 2014/2013/lei/l12850.htm>. Acesso em: 12 de mai.2016.

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