VANTAGENS E DESAFIOS PARA AS INDICAÇÕES GEOGRÁFICAS DO SETOR VITIVINÍCOLA NO BRASIL: UMA VISÃO POS CONCESSÃO REGISTRO PELO
INPI
Valdinho Pellin
Universidade Regional de Blumenau – FURB pellinorientador@gmail.com
Adriana Carvalho Pinto Vieira
Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC dricpvieira@gmail.com
Grupo de Pesquisa: Desenvolvimento Rural, Territorial e Regional.
Resumo
A noção de indicações geográficas (IG) foi surgindo de forma gradativa, quando produtores e consumidores passaram a perceber sabores ou qualidades peculiares em alguns produtos que provinham de determinados locais. A partir desta visão, em fortalecer o desenvolvimento territorial através das especificidades locais, uma das atividades que tem demonstrado certa vitalidade, especialmente na região sul do Brasil, é a vitivinicultura. O presente artigo tem por objetivo identificar as vantagens e principais desafios enfrentados pelos produtores (associações) e território após o reconhecimento de Indicações Geográficas vitivinícolas. A pesquisa tem caráter empírico de levantamento de dados através de um questionário semiestruturado composto por questões qualitativas a fim de observar o caráter descritivo e valor atribuído a diferentes aspectos do desenvolvimento. O questionário foi desenvolvido em escala de Likert, avaliando o grau de concordância, discordância ou neutralidade dos entrevistados em relação as afirmações propostas. Portanto, o reconhecimento de uma IG, em uma região, pode induzir a abertura e o fortalecimento de atividades e de serviços complementares, relacionados à valorização do patrimônio, à diversificação da oferta, às atividades turísticas (acolhida de turistas, rota turística, organização de eventos culturais e gastronômicos), ampliando o número de beneficiários. Ainda, pode ser concluído que as IGs constituem um bom instrumento de diferenciação e qualificação dos produtos, num mercado cada vez mais globalizado. Na percepção do consumidor, o valor dos produtos com registro de IG está relacionado à sua reputação como um produto oriundo de um território específico, à preocupação com safety food (qualidade do alimento), à defesa de um modo de vida e à ligação com um ato de compra que reflete um status sociocultural e preferências pessoais.
Palavras-chave: vitivinicultura, indicações geográficas, qualidade, desenvolvimento territorial, enoturismo.
Abstract
The notion of geographical indications (GIs) has emerged gradually, as producers and consumers now perceive flavors or peculiar qualities in some products that come from certain locations. From this vision, to strengthen territorial development through local specificities, one of the activities that has shown some vitality, especially in southern Brazil, it is the wine industry. This article aims to identify the advantages and main challenges faced by producers (associations) and territory after the recognition of wine Geographical Indications. Research has empirical data collection through a semi-structured questionnaire with qualitative issues in order to observe the descriptive character and the value assigned to different aspects of development. The questionnaire was developed in Likert scale, assessing the degree of agreement, disagreement or neutrality of respondents regarding the proposed statements.
Therefore, the recognition of a GI in a region, can induce the opening and strengthening activities and complementary services related to the valuation of assets, diversification of supply, the tourist activities (welcome tourists, tourist route, organization cultural and gastronomic events), increasing the number of beneficiaries. Still, it can be concluded that the GIs are a good tool for differentiation and qualification of products, in an increasingly globalized market. For consumers, the value of products with GI registration is related to its reputation as a product originating from a specific territory, concern for safety food (quality of food), the defense of a way of life and the link with a act of purchase that reflects a sociocultural status and personal preferences.
Key words: wine industry, geographical indications, quality, territorial development, wine tourism.
1. INTRODUÇÃO
A noção de indicações geográficas (IG) foi surgindo de forma gradativa, quando produtores e consumidores passaram a perceber sabores ou qualidades peculiares em alguns produtos que provinham de determinados locais. Essas características não eram encontradas em produtos equivalentes produzidos em outras regiões. Assim, novos nichos de mercados foram surgindo, adquirindo estratégias de valorização do produto (VIEIRA & BUAINAIN, 2011).
Neste contexto, as IGs estão inseridas em um movimento global de segmentação dos
mercados, valorizando os recursos territoriais. A exemplo, na União Europeia percebe-se sua
importância, principalmente na França, Itália e Espanha, que juntas têm mais de 5.000
registros de produtos (4.200 para vinhos e destilados e 812 para outros produtos). Destaca-se
neste cenário a França com 466 registros para vinhos e destilados e 127 para outros produtos,
representando um valor de 19 bilhões de euros em comércio (16 bilhões para vinhos e
destilados e 3 bilhões para outros produtos) apoiando 138 mil propriedades agrícolas
(CERDAN et al, 2010). Desta maneira, no setor vitivinícola pode ser observado que as IGs já
estão consolidadas e conhecidas mundialmente, tais como a Champagne, Bordeaux, Rioja,
Porto, entre outras do setor vitivinícola. No Brasil, atualmente são 8 IGs concedidas pelo
Instituto Nacional de Propriedade Industrial INPI) até o momento (7 Indicações de
Procedência e 1 Denominação de Origem) no setor da vitivinicultura. Para o presente artigo
não será considerada a IG do Vale do Submédio do São Francisco, pelo fato de produzir
apenas uvas de mesa.
Portanto, o reconhecimento de uma IG, em uma região, pode induzir a abertura e o fortalecimento de atividades e de serviços complementares, relacionados à valorização do patrimônio, à diversificação da oferta, às atividades turísticas (acolhida de turistas, rota turística, organização de eventos culturais e gastronômicos), ampliando o número de beneficiários. Assim, cria-se uma sinergia entre os agentes locais, entre o produto ou serviço da IG e outras atividades de produção ou serviço, conforme apontado por Vieira & Buainain (2011).
Neste sentido, a IG pode garantir alguns benefícios econômicos, tais como agregação de valor ao produto, aumento da renda do produtor, acesso a novos mercados internos e externos, inserção dos produtores ou regiões desfavorecidas, preservação da biodiversidade e recursos genéticos locais e a preservação do meio ambiente. Entretanto, ela por si só não garante um sucesso comercial determinado.
O presente artigo tem por objetivo identificar as vantagens e principais desafios enfrentados pelos produtores (associações) e território após o reconhecimento de Indicações Geográficas vitivinícolas. A pesquisa tem caráter empírico de levantamento de dados através de um questionário semiestruturado composto por questões qualitativas a fim de observar o caráter descritivo e valor atribuído a diferentes aspectos do desenvolvimento. O questionário foi desenvolvido em escala de Likert, avaliando o grau de concordância, discordância ou neutralidade dos entrevistados em relação as afirmações propostas (quais as principais vantagens observadas para os produtores; quais os principais desafios enfrentados pelos produtores após o reconhecimento da IG e sobre os custos de manutenção das IGs) baseadas em questões relacionadas às indicações geográficas do setor da vitivinicultura e enviados via google docs, para o levantamento dos dados. A amostra do estudo é composta por alguns dos principais stakholders envolvidos: presidentes das associações das IGs concedidas do setor da vitivinicultura (6), e agentes das seguintes instituições ligadas às IGs: INPI, Sebrae, MAPA, Ibravin, Embrapa Uva e Vinho, UCS, UFSC e UFRGS, totalizando 14 questionários enviados. Entretanto, houve o retorno de 08 questionários respondidos. Optou-se por estudar IGs vitivinícolas por considerar que é um setor com maior experiência no país, uma vez que o primeiro registro concedido pelo INPI foi o Vale dos Vinhedos, em 2002.
O artigo está estruturado em cinco seções. A primeira é esta introdução. A segunda procura discutir uma breve caracterização da relação entre desenvolvimento territorial e vitivinicultura. A terceira seção aborda um panorama das IGs como estratégia de desenvolvimento territorial. A quarta seção apresenta a parte empírica do estudo demonstrando a situação atual: perspectivas e desafios para as IGs vitivinícolas. E por fim, apresentam-se as considerações finais.
2. DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL E VITIVINICULTURA: uma breve caracterização
O território pode ser compreendido enquanto “espaço de ação em que transcorrem as
relações sociais, econômicas, políticas e institucionais. Espaço construído a partir da ação
entre os indivíduos e o ambiente ou contexto objetivo em que estão inseridos” (SCHNEIDER,
2004 p.99). “São esses atores que produzem o território, partindo da realidade inicial dada,
que é o espaço” (RAFFESTIN, 1993 p.07). O território é, portanto, dinâmico, em constante
transformação e mudança.
Esse dinamismo é configurado tanto pelos atores internos e suas inter-relações como pela relação com fatores externos. Resultado de uma construção social e coletiva, o território é considerado espaço apropriado por determinado grupo que compartilha valores culturais, e se torna foco ou expressão do desenvolvimento, não sendo apenas o espaço físico (MANTOVANELI JR & SAMPAIO, 2007).
A partir destes conceitos é possível afirmar que desenvolvimento territorial (DT) é todo processo de mobilização dos atores que leve à elaboração de uma estratégia de adaptação aos limites externos, na base de uma identificação coletiva com uma cultura e um território (PECQUEUR, 2005) e, em função disso, o desenvolvimento territorial possibilita que cada território possa construir seu próprio modelo de desenvolvimento obedecendo suas especificidades (JEAN, 2010) 1 .
É neste contexto que a busca por estratégias voltadas à identificação das vantagens competitivas territoriais torna-se importante para desenvolver o território ou mesmo fortalece- lo. O entendimento é que regiões e lugares, a partir de suas especificidades e potencialidades, podem encontrar formas de transformação de suas realidades, em busca de melhoria de qualidade de vida (CALDAS, 2003). Assim, os territórios podem oferecer recursos específicos, intransferíveis e incomparáveis no mercado 2 , de acordo com Benko & Pecqueur (2002).
Esta relação entre especificidades locais e desenvolvimento territorial também é defendida por Aydalot (1985 p. 109) quando afirma que “ é no cenário local, por meio da valorização dos recursos locais e com a participação da população, que o desenvolvimento poderá realmente responder às necessidades da população” 3 . Portanto, o desafio das estratégias de desenvolvimento nos territórios é essencialmente identificar e valorizar o potencial de um território. Trata-se de transformar os recursos em ativos, através de processos de mobilização e arranjos dos atores (PECQUEUR, 2005; PECQUEUR, 2001).
A partir desta visão, em fortalecer o desenvolvimento territorial através das especificidades locais, uma das atividades que tem demonstrado certa vitalidade, especialmente na região sul do Brasil, é a vitivinicultura. De acordo com dados do Instituto Brasileiro do Vinho (IBRAVIN), em 2015, o setor vitivinícola apresentou crescimento de 6,9% em volume de produtos derivados da uva e do vinho. Nos vinhos tranquilos, o resultado foi de crescimento de 2,6% nos finos e a estabilidade na comercialização dos vinhos de mesa.
O destaque positivo, mais uma vez, fica por conta dos espumantes, com crescimento de 11,9%, e dos sucos de uva prontos para consumo, índice 30,5% maior em relação a 2014.
Mesmo não tendo crescimento em volume, nos vinhos de mesa a comercialização de produtos engarrafados cresceu 6,2%, compensando a queda na comercialização deste produto a granel e em garrafões. Nas exportações, o resultado em valor foi de US$ 4 milhões ante os cerca de
1
Ou seja, modelos de desenvolvimento dificilmente podem ser replicados. O modelo que obteve êxito em um dado território e, num dado momento, pode fracassar em outro território (JEAN, 2010).
2
Como, por exemplo, os produtos típicos que podem ser considerados um importante ativo para o desenvolvimento, em particular nas zonas rurais. Este tema constitui o objeto de uma literatura emergente, que se concentra especialmente na interface entre o uso de marcas coletivas, as denominações de origem e o desenvolvimento de atividades relacionadas ao turismo (LORENZINI, CALZATI & GIUDICI, 2011).
3
Destas discussões também emerge o conceito de “competitividade territorial” utilizado e disseminado na União
Europeia pelo Programa Leader (RAYNAUT, 2014).
US$ 10,2 milhões registrados em 2014. E os vinhos do Rio Grande do Sul representam 90%
destes valores 4 .
Trata-se de uma atividade importante para a sustentação de pequenas propriedades no Brasil. Nos últimos anos, tem se tornado importante, também, na geração de empregos em grandes empreendimentos que produzem uvas de mesa e uvas para processamento (MELLO, 2013).
A vitivinicultura brasileira hoje pertence ao que se denomina de novo mundo vitivinícola, ao lado de países como Chile, Argentina, EUA, África do Sul, Austrália, entre outros, cuja produção está baseada principalmente em variedades importadas dos tradicionais países produtores de vinho da região mediterrânea. Nas últimas décadas, este setor tem apresentado um significativo crescimento, principalmente em decorrência da expansão de áreas cultivadas e da melhoria nas tecnologias de produção de uvas e vinhos, como por exemplo, em algumas regiões brasileiras (VIEIRA, WATANABE E & BRUCH, 2012). Já os Vales da Uva Goethe, valorizou a variedade hibrida (a Goethe), que é desprezada por muitos pesquisadores e enólogos pelo fato de não ser enquadrada como “vinífera” (advindas das uvas europeias). Apesar das dificuldades, em todo seu processo, desde o registro até os dias atuais, encontra espaço em um mercado que valoriza a identidade de um produto fortemente enraizado em seu território. E, a partir das primeiras safras com o selo da IPVUG, os vitivinicultores já percebem aumento na procura dos turistas pelos vinhos e espumantes da uva Goethe.
Assim, este novo cenário tem provocado algumas mudanças no mercado. O aumento no consumo dos chamados “vinhos do novo mundo” já preocupa produtores de regiões vinícolas tradicionais. Novakoski e Freitas (2003) lembram que, enquanto as exportações de vinhos europeus cresceram em torno de 20% nos últimos 20 anos, países não tradicionais nesse neste setor como Nova Zelândia, EUA, Chile, Austrália, Argentina e África do Sul, experimentaram um crescimento de mais de 50% no mesmo período.
No Brasil, a Serra Gaúcha, se consolidada como principal região vitivinícola com cerca de 12 mil pequenas propriedades rurais que cultivam aproximadamente 31 mil hectares de vinhedos. A região conta com cerca de 600 produtores de vinho, entre grandes empresas, cooperativas e cantinas familiares (NIEDERLE, 2009). Ainda, apropriando-se de referências identitárias (cultura italiana) e patrimoniais (arquitetura, paisagem, gastronomia colonial e italiana), produtores e técnicos formalizaram um processo de reconstrução da qualidade fundamentando-se no enraizamento territorial do produto e no desenvolvimento do enoturismo (NIERDELE, BRUCH & VIEIRA, no prelo).
Entretanto, o grande desafio da vitivinicultura no Brasil parece ser o de estar aberta ao novo, absorvendo novas tendências e se ajustando-se aos novos conceitos e padrões de vinhos estabelecidos pelo crescente mercado consumidor, sem contudo, perder sua origem perder sua autenticidade, seu caráter de regionalidade, expressão maior da evolução e das experiências acumuladas através da história, que permanecem ajustadas à geografia, aos valores e à cultura da região produtora (VIEIRA, WATANABE & BRUCH, 2012, p. 10).
4
Dados provenientes do Cadastro Vinícola, mantido por meio de parceria entre Ibravin, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e Secretaria de Agricultura, Pecuária e Irrigação do RS. Os dados são referentes às vinícolas do Rio Grande do Sul. Disponível em:
<https://falandoemvinhos.wordpress.com/2016/02/18/ibravin-divulga-dados-de-vendas-de-produtos-
vitivinicolas-em-2015/>. Acesso em: 22fev2016
A partir deste cenário, se fortalecem as Indicações Geográficas (IGs) e as discussões relacionas a suas possíveis contribuições e desafios para o desenvolvimento ou fortalecimento do território, principalmente em espaços rurais fragilizados economicamente. Entende-se que as IGs podem ser consideradas um instrumento para estimular a vitivinicultura e fortalecer sua relação com outras atividades, como por exemplo o turismo e/ou enoturismo.
Ainda, para pequenas regiões menos desenvolvidas, conseguir ter o reconhecimento do mercado de suas características singulares através do uso de um sinal como a Marca Coletiva ou a Indicação Geográfica pode ser uma interessante alternativa de inserção no mercado diante da impossibilidade dos pequenos produtores competirem com as grandes empresas, principalmente as do agrobusisness (BRUCH, VIEIRA & BARBOSA, 2014).
3- IGS COMO ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL
As IGs se desenvolveram de forma natural e gradativa no decorrer da história. Esse processo se iniciou com o vinho, no momento em que produtores, comerciantes e consumidores verificaram que determinados produtos poderiam apresentar qualidades e características que poderiam ser atribuídas a sua origem geográfica (KALKUTA, 2006).
Posteriormente, este mecanismo de identificação se ampliou para outros produtos, além do vinho. Foi na União Europeia que este instituto se desenvolveu com mais força.
Desde o século XVI já existia a preocupação em proteger vinhos produzidos na Galícia, especificamente na Comarca de Ribeiro. Conforme os produtos ganhavam notoriedade e fama, surgiu outra preocupação recorrente: a necessidade de proteger estes produtos contra falsificações e concorrência comercial desleal e a IG ganhou também essa função (INAO, 2005; LIMA,2013).
Segundo Vieira, Watanabe e Bruch (2012) o conceito indicações geográficas (IG) está relacionado a produtos com origem geográfica definida. Ao explicitar a origem e agregar este valor aos produtos de mesma procedência, se traduz o valor de qualidade e características próprias da identidade e da cultura de um espaço geográfico em ativo tangível. Os produtores e/ou agentes de uma região se organizam para valorizar estas características, mobilizando um direito de propriedade intelectual: a indicação Geográfica (IG). Portanto, o instituto jurídico possibilita preservar características do produto, bem como valorizá-los frente aos consumidores, tangibilizando os ativos intangíveis como a reputação, fatores ambientais específicos e competências humanas agregando a esses um determinado valor (VIEIRA, ZILLI & BRUCH, 2015).
Neste sentido, as IGs expressam uma relação entre pessoas, produtos e territórios (VANDECANDELAERE et al, 2010). Representam um instrumento de valorização de tradições, costumes, saberes, práticas e outros bens imateriais associados à identidade territorial. Utilizada pelos produtores como instrumento de agregação de valor e acesso a mercados e reputadas pelos consumidores como um mecanismo de garantia de qualidade.
Também podem ser consideradas como potenciais instrumentos de desenvolvimento territorial, posto que possibilitam a exploração de ativos intangíveis de difícil transposição para outros territórios, constituindo uma vantagem competitiva em mercados cada vez mais marcados pela homogeneização de processos produtivos (NIEDERLE, 2009).
Na dimensão econômica, a agregação de valor aos produtos com IG e o aumento da
competitividade destes produtos (CHEVER et al, 2012) aliada ao estimulo a geração de
empregos, principalmente em zonas rurais fragilizadas economicamente e que apresentam
elevados índices de êxodo rural, são as contribuições mais significativas. Em algumas destas regiões agrícolas, a mecanização de processos de produção pode ser difícil e onerosa e a utilização de métodos tradicionais de produção pode ser a única alternativa para manter a atividade e gerar emprego local (EUROPEAN COMMISSION, s. d).
Entretanto, em relação a dimensão econômica é preciso considerar que muitos destes benefícios que tendem a ser potencializados a partir do reconhecimento da IG podem ser neutralizados parcialmente ou totalmente por variáveis econômicas externas, como por exemplo, a diminuição da renda do consumidor em momentos de crise econômica 5 .
Além da dimensão econômica, as IGs podem estimular outras dimensões que se aproximam de alguns princípios do Desenvolvimento Territorial Sustentável (DTS), notadamente as dimensões sociais, ambientais e culturais. Elas podem estimular a dimensão social a medida que produtores precisam se associar para solicitar o reconhecimento do produto e/ou serviço. Com isso ocorre inevitavelmente um fortalecimento dos vínculos sociais entre os atores e, destes com atores externos públicos e privados (EUROPEAN COMMISSION, s.d). Neste caso há um estimulo ao fortalecimento do capital social da região, elemento importante na promoção do Desenvolvimento Territorial Sustentável.
Em função de estarem pautadas nos saberes, modo de ser e fazer local, o reconhecimento de produtos e/ou serviços com IG contribui para preservação do patrimônio material e imaterial. Trata-se do estimulo a manutenção de processos produtivos baseados na autenticidade ou peculiaridades ligadas a história, cultura e tradição do território (DULLIUS, 2009). Nesta dimensão também é possível lembrar de suas contribuições para preservação e valorização do patrimônio biológico a medida que algumas IGs podem estar baseadas em recursos genéticos locais (EUROPEAN COMMISSION, s.d).
Por fim, há também estimulo a dimensão ambiental quando produtos e/ou serviços carregam a imagem do território onde são produzidos (vinhos, por exemplo). Neste caso, é particularmente importante para o desenvolvimento da atividade turística (CERDAN et al, 2014).
Portanto, as IGs permitem que os territórios promovam seus produtos, beneficiando a comunidade local, se tornando estratégia para o desenvolvimento territorial, principalmente para produtos que possuem baixa produção de escala em função de seus métodos tradicionais de produção. Neste caso, se procura agregar valor a esta tipicidade, ao saber fazer, a cultura e a tradição de uma determinada região. Além disso, também podem ser consideradas importantes ferramentas para preservação da biodiversidade, conhecimento regional e recursos naturais (KAKUTA, 2006).
4- SITUAÇÃO ATUAL: PERSPECTIVAS E DESAFIOS PARA AS IGS VITIVINÍCOLAS
Para compreender o significado de IG, Krucken (2009, p.33) explica que elas se baseiam no conceito de terroir: “[...] são referências geográficas utilizadas para designar
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