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VANTAGENS E DESAFIOS PARA AS INDICAÇÕES GEOGRÁFICAS DO SETOR VITIVINÍCOLA NO BRASIL: UMA VISÃO POS CONCESSÃO REGISTRO PELO INPI

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VANTAGENS E DESAFIOS PARA AS INDICAÇÕES GEOGRÁFICAS DO SETOR VITIVINÍCOLA NO BRASIL: UMA VISÃO POS CONCESSÃO REGISTRO PELO

INPI

Valdinho Pellin

Universidade Regional de Blumenau – FURB pellinorientador@gmail.com

Adriana Carvalho Pinto Vieira

Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC dricpvieira@gmail.com

Grupo de Pesquisa: Desenvolvimento Rural, Territorial e Regional.

Resumo

A noção de indicações geográficas (IG) foi surgindo de forma gradativa, quando produtores e consumidores passaram a perceber sabores ou qualidades peculiares em alguns produtos que provinham de determinados locais. A partir desta visão, em fortalecer o desenvolvimento territorial através das especificidades locais, uma das atividades que tem demonstrado certa vitalidade, especialmente na região sul do Brasil, é a vitivinicultura. O presente artigo tem por objetivo identificar as vantagens e principais desafios enfrentados pelos produtores (associações) e território após o reconhecimento de Indicações Geográficas vitivinícolas. A pesquisa tem caráter empírico de levantamento de dados através de um questionário semiestruturado composto por questões qualitativas a fim de observar o caráter descritivo e valor atribuído a diferentes aspectos do desenvolvimento. O questionário foi desenvolvido em escala de Likert, avaliando o grau de concordância, discordância ou neutralidade dos entrevistados em relação as afirmações propostas. Portanto, o reconhecimento de uma IG, em uma região, pode induzir a abertura e o fortalecimento de atividades e de serviços complementares, relacionados à valorização do patrimônio, à diversificação da oferta, às atividades turísticas (acolhida de turistas, rota turística, organização de eventos culturais e gastronômicos), ampliando o número de beneficiários. Ainda, pode ser concluído que as IGs constituem um bom instrumento de diferenciação e qualificação dos produtos, num mercado cada vez mais globalizado. Na percepção do consumidor, o valor dos produtos com registro de IG está relacionado à sua reputação como um produto oriundo de um território específico, à preocupação com safety food (qualidade do alimento), à defesa de um modo de vida e à ligação com um ato de compra que reflete um status sociocultural e preferências pessoais.

Palavras-chave: vitivinicultura, indicações geográficas, qualidade, desenvolvimento territorial, enoturismo.

Abstract

(2)

The notion of geographical indications (GIs) has emerged gradually, as producers and consumers now perceive flavors or peculiar qualities in some products that come from certain locations. From this vision, to strengthen territorial development through local specificities, one of the activities that has shown some vitality, especially in southern Brazil, it is the wine industry. This article aims to identify the advantages and main challenges faced by producers (associations) and territory after the recognition of wine Geographical Indications. Research has empirical data collection through a semi-structured questionnaire with qualitative issues in order to observe the descriptive character and the value assigned to different aspects of development. The questionnaire was developed in Likert scale, assessing the degree of agreement, disagreement or neutrality of respondents regarding the proposed statements.

Therefore, the recognition of a GI in a region, can induce the opening and strengthening activities and complementary services related to the valuation of assets, diversification of supply, the tourist activities (welcome tourists, tourist route, organization cultural and gastronomic events), increasing the number of beneficiaries. Still, it can be concluded that the GIs are a good tool for differentiation and qualification of products, in an increasingly globalized market. For consumers, the value of products with GI registration is related to its reputation as a product originating from a specific territory, concern for safety food (quality of food), the defense of a way of life and the link with a act of purchase that reflects a sociocultural status and personal preferences.

Key words: wine industry, geographical indications, quality, territorial development, wine tourism.

1. INTRODUÇÃO

A noção de indicações geográficas (IG) foi surgindo de forma gradativa, quando produtores e consumidores passaram a perceber sabores ou qualidades peculiares em alguns produtos que provinham de determinados locais. Essas características não eram encontradas em produtos equivalentes produzidos em outras regiões. Assim, novos nichos de mercados foram surgindo, adquirindo estratégias de valorização do produto (VIEIRA & BUAINAIN, 2011).

Neste contexto, as IGs estão inseridas em um movimento global de segmentação dos

mercados, valorizando os recursos territoriais. A exemplo, na União Europeia percebe-se sua

importância, principalmente na França, Itália e Espanha, que juntas têm mais de 5.000

registros de produtos (4.200 para vinhos e destilados e 812 para outros produtos). Destaca-se

neste cenário a França com 466 registros para vinhos e destilados e 127 para outros produtos,

representando um valor de 19 bilhões de euros em comércio (16 bilhões para vinhos e

destilados e 3 bilhões para outros produtos) apoiando 138 mil propriedades agrícolas

(CERDAN et al, 2010). Desta maneira, no setor vitivinícola pode ser observado que as IGs já

estão consolidadas e conhecidas mundialmente, tais como a Champagne, Bordeaux, Rioja,

Porto, entre outras do setor vitivinícola. No Brasil, atualmente são 8 IGs concedidas pelo

Instituto Nacional de Propriedade Industrial INPI) até o momento (7 Indicações de

Procedência e 1 Denominação de Origem) no setor da vitivinicultura. Para o presente artigo

não será considerada a IG do Vale do Submédio do São Francisco, pelo fato de produzir

apenas uvas de mesa.

(3)

Portanto, o reconhecimento de uma IG, em uma região, pode induzir a abertura e o fortalecimento de atividades e de serviços complementares, relacionados à valorização do patrimônio, à diversificação da oferta, às atividades turísticas (acolhida de turistas, rota turística, organização de eventos culturais e gastronômicos), ampliando o número de beneficiários. Assim, cria-se uma sinergia entre os agentes locais, entre o produto ou serviço da IG e outras atividades de produção ou serviço, conforme apontado por Vieira & Buainain (2011).

Neste sentido, a IG pode garantir alguns benefícios econômicos, tais como agregação de valor ao produto, aumento da renda do produtor, acesso a novos mercados internos e externos, inserção dos produtores ou regiões desfavorecidas, preservação da biodiversidade e recursos genéticos locais e a preservação do meio ambiente. Entretanto, ela por si só não garante um sucesso comercial determinado.

O presente artigo tem por objetivo identificar as vantagens e principais desafios enfrentados pelos produtores (associações) e território após o reconhecimento de Indicações Geográficas vitivinícolas. A pesquisa tem caráter empírico de levantamento de dados através de um questionário semiestruturado composto por questões qualitativas a fim de observar o caráter descritivo e valor atribuído a diferentes aspectos do desenvolvimento. O questionário foi desenvolvido em escala de Likert, avaliando o grau de concordância, discordância ou neutralidade dos entrevistados em relação as afirmações propostas (quais as principais vantagens observadas para os produtores; quais os principais desafios enfrentados pelos produtores após o reconhecimento da IG e sobre os custos de manutenção das IGs) baseadas em questões relacionadas às indicações geográficas do setor da vitivinicultura e enviados via google docs, para o levantamento dos dados. A amostra do estudo é composta por alguns dos principais stakholders envolvidos: presidentes das associações das IGs concedidas do setor da vitivinicultura (6), e agentes das seguintes instituições ligadas às IGs: INPI, Sebrae, MAPA, Ibravin, Embrapa Uva e Vinho, UCS, UFSC e UFRGS, totalizando 14 questionários enviados. Entretanto, houve o retorno de 08 questionários respondidos. Optou-se por estudar IGs vitivinícolas por considerar que é um setor com maior experiência no país, uma vez que o primeiro registro concedido pelo INPI foi o Vale dos Vinhedos, em 2002.

O artigo está estruturado em cinco seções. A primeira é esta introdução. A segunda procura discutir uma breve caracterização da relação entre desenvolvimento territorial e vitivinicultura. A terceira seção aborda um panorama das IGs como estratégia de desenvolvimento territorial. A quarta seção apresenta a parte empírica do estudo demonstrando a situação atual: perspectivas e desafios para as IGs vitivinícolas. E por fim, apresentam-se as considerações finais.

2. DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL E VITIVINICULTURA: uma breve caracterização

O território pode ser compreendido enquanto “espaço de ação em que transcorrem as

relações sociais, econômicas, políticas e institucionais. Espaço construído a partir da ação

entre os indivíduos e o ambiente ou contexto objetivo em que estão inseridos” (SCHNEIDER,

2004 p.99). “São esses atores que produzem o território, partindo da realidade inicial dada,

que é o espaço” (RAFFESTIN, 1993 p.07). O território é, portanto, dinâmico, em constante

transformação e mudança.

(4)

Esse dinamismo é configurado tanto pelos atores internos e suas inter-relações como pela relação com fatores externos. Resultado de uma construção social e coletiva, o território é considerado espaço apropriado por determinado grupo que compartilha valores culturais, e se torna foco ou expressão do desenvolvimento, não sendo apenas o espaço físico (MANTOVANELI JR & SAMPAIO, 2007).

A partir destes conceitos é possível afirmar que desenvolvimento territorial (DT) é todo processo de mobilização dos atores que leve à elaboração de uma estratégia de adaptação aos limites externos, na base de uma identificação coletiva com uma cultura e um território (PECQUEUR, 2005) e, em função disso, o desenvolvimento territorial possibilita que cada território possa construir seu próprio modelo de desenvolvimento obedecendo suas especificidades (JEAN, 2010) 1 .

É neste contexto que a busca por estratégias voltadas à identificação das vantagens competitivas territoriais torna-se importante para desenvolver o território ou mesmo fortalece- lo. O entendimento é que regiões e lugares, a partir de suas especificidades e potencialidades, podem encontrar formas de transformação de suas realidades, em busca de melhoria de qualidade de vida (CALDAS, 2003). Assim, os territórios podem oferecer recursos específicos, intransferíveis e incomparáveis no mercado 2 , de acordo com Benko & Pecqueur (2002).

Esta relação entre especificidades locais e desenvolvimento territorial também é defendida por Aydalot (1985 p. 109) quando afirma que “ é no cenário local, por meio da valorização dos recursos locais e com a participação da população, que o desenvolvimento poderá realmente responder às necessidades da população” 3 . Portanto, o desafio das estratégias de desenvolvimento nos territórios é essencialmente identificar e valorizar o potencial de um território. Trata-se de transformar os recursos em ativos, através de processos de mobilização e arranjos dos atores (PECQUEUR, 2005; PECQUEUR, 2001).

A partir desta visão, em fortalecer o desenvolvimento territorial através das especificidades locais, uma das atividades que tem demonstrado certa vitalidade, especialmente na região sul do Brasil, é a vitivinicultura. De acordo com dados do Instituto Brasileiro do Vinho (IBRAVIN), em 2015, o setor vitivinícola apresentou crescimento de 6,9% em volume de produtos derivados da uva e do vinho. Nos vinhos tranquilos, o resultado foi de crescimento de 2,6% nos finos e a estabilidade na comercialização dos vinhos de mesa.

O destaque positivo, mais uma vez, fica por conta dos espumantes, com crescimento de 11,9%, e dos sucos de uva prontos para consumo, índice 30,5% maior em relação a 2014.

Mesmo não tendo crescimento em volume, nos vinhos de mesa a comercialização de produtos engarrafados cresceu 6,2%, compensando a queda na comercialização deste produto a granel e em garrafões. Nas exportações, o resultado em valor foi de US$ 4 milhões ante os cerca de

1

Ou seja, modelos de desenvolvimento dificilmente podem ser replicados. O modelo que obteve êxito em um dado território e, num dado momento, pode fracassar em outro território (JEAN, 2010).

2

Como, por exemplo, os produtos típicos que podem ser considerados um importante ativo para o desenvolvimento, em particular nas zonas rurais. Este tema constitui o objeto de uma literatura emergente, que se concentra especialmente na interface entre o uso de marcas coletivas, as denominações de origem e o desenvolvimento de atividades relacionadas ao turismo (LORENZINI, CALZATI & GIUDICI, 2011).

3

Destas discussões também emerge o conceito de “competitividade territorial” utilizado e disseminado na União

Europeia pelo Programa Leader (RAYNAUT, 2014).

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US$ 10,2 milhões registrados em 2014. E os vinhos do Rio Grande do Sul representam 90%

destes valores 4 .

Trata-se de uma atividade importante para a sustentação de pequenas propriedades no Brasil. Nos últimos anos, tem se tornado importante, também, na geração de empregos em grandes empreendimentos que produzem uvas de mesa e uvas para processamento (MELLO, 2013).

A vitivinicultura brasileira hoje pertence ao que se denomina de novo mundo vitivinícola, ao lado de países como Chile, Argentina, EUA, África do Sul, Austrália, entre outros, cuja produção está baseada principalmente em variedades importadas dos tradicionais países produtores de vinho da região mediterrânea. Nas últimas décadas, este setor tem apresentado um significativo crescimento, principalmente em decorrência da expansão de áreas cultivadas e da melhoria nas tecnologias de produção de uvas e vinhos, como por exemplo, em algumas regiões brasileiras (VIEIRA, WATANABE E & BRUCH, 2012). Já os Vales da Uva Goethe, valorizou a variedade hibrida (a Goethe), que é desprezada por muitos pesquisadores e enólogos pelo fato de não ser enquadrada como “vinífera” (advindas das uvas europeias). Apesar das dificuldades, em todo seu processo, desde o registro até os dias atuais, encontra espaço em um mercado que valoriza a identidade de um produto fortemente enraizado em seu território. E, a partir das primeiras safras com o selo da IPVUG, os vitivinicultores já percebem aumento na procura dos turistas pelos vinhos e espumantes da uva Goethe.

Assim, este novo cenário tem provocado algumas mudanças no mercado. O aumento no consumo dos chamados “vinhos do novo mundo” já preocupa produtores de regiões vinícolas tradicionais. Novakoski e Freitas (2003) lembram que, enquanto as exportações de vinhos europeus cresceram em torno de 20% nos últimos 20 anos, países não tradicionais nesse neste setor como Nova Zelândia, EUA, Chile, Austrália, Argentina e África do Sul, experimentaram um crescimento de mais de 50% no mesmo período.

No Brasil, a Serra Gaúcha, se consolidada como principal região vitivinícola com cerca de 12 mil pequenas propriedades rurais que cultivam aproximadamente 31 mil hectares de vinhedos. A região conta com cerca de 600 produtores de vinho, entre grandes empresas, cooperativas e cantinas familiares (NIEDERLE, 2009). Ainda, apropriando-se de referências identitárias (cultura italiana) e patrimoniais (arquitetura, paisagem, gastronomia colonial e italiana), produtores e técnicos formalizaram um processo de reconstrução da qualidade fundamentando-se no enraizamento territorial do produto e no desenvolvimento do enoturismo (NIERDELE, BRUCH & VIEIRA, no prelo).

Entretanto, o grande desafio da vitivinicultura no Brasil parece ser o de estar aberta ao novo, absorvendo novas tendências e se ajustando-se aos novos conceitos e padrões de vinhos estabelecidos pelo crescente mercado consumidor, sem contudo, perder sua origem perder sua autenticidade, seu caráter de regionalidade, expressão maior da evolução e das experiências acumuladas através da história, que permanecem ajustadas à geografia, aos valores e à cultura da região produtora (VIEIRA, WATANABE & BRUCH, 2012, p. 10).

4

Dados provenientes do Cadastro Vinícola, mantido por meio de parceria entre Ibravin, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e Secretaria de Agricultura, Pecuária e Irrigação do RS. Os dados são referentes às vinícolas do Rio Grande do Sul. Disponível em:

<https://falandoemvinhos.wordpress.com/2016/02/18/ibravin-divulga-dados-de-vendas-de-produtos-

vitivinicolas-em-2015/>. Acesso em: 22fev2016

(6)

A partir deste cenário, se fortalecem as Indicações Geográficas (IGs) e as discussões relacionas a suas possíveis contribuições e desafios para o desenvolvimento ou fortalecimento do território, principalmente em espaços rurais fragilizados economicamente. Entende-se que as IGs podem ser consideradas um instrumento para estimular a vitivinicultura e fortalecer sua relação com outras atividades, como por exemplo o turismo e/ou enoturismo.

Ainda, para pequenas regiões menos desenvolvidas, conseguir ter o reconhecimento do mercado de suas características singulares através do uso de um sinal como a Marca Coletiva ou a Indicação Geográfica pode ser uma interessante alternativa de inserção no mercado diante da impossibilidade dos pequenos produtores competirem com as grandes empresas, principalmente as do agrobusisness (BRUCH, VIEIRA & BARBOSA, 2014).

3- IGS COMO ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL

As IGs se desenvolveram de forma natural e gradativa no decorrer da história. Esse processo se iniciou com o vinho, no momento em que produtores, comerciantes e consumidores verificaram que determinados produtos poderiam apresentar qualidades e características que poderiam ser atribuídas a sua origem geográfica (KALKUTA, 2006).

Posteriormente, este mecanismo de identificação se ampliou para outros produtos, além do vinho. Foi na União Europeia que este instituto se desenvolveu com mais força.

Desde o século XVI já existia a preocupação em proteger vinhos produzidos na Galícia, especificamente na Comarca de Ribeiro. Conforme os produtos ganhavam notoriedade e fama, surgiu outra preocupação recorrente: a necessidade de proteger estes produtos contra falsificações e concorrência comercial desleal e a IG ganhou também essa função (INAO, 2005; LIMA,2013).

Segundo Vieira, Watanabe e Bruch (2012) o conceito indicações geográficas (IG) está relacionado a produtos com origem geográfica definida. Ao explicitar a origem e agregar este valor aos produtos de mesma procedência, se traduz o valor de qualidade e características próprias da identidade e da cultura de um espaço geográfico em ativo tangível. Os produtores e/ou agentes de uma região se organizam para valorizar estas características, mobilizando um direito de propriedade intelectual: a indicação Geográfica (IG). Portanto, o instituto jurídico possibilita preservar características do produto, bem como valorizá-los frente aos consumidores, tangibilizando os ativos intangíveis como a reputação, fatores ambientais específicos e competências humanas agregando a esses um determinado valor (VIEIRA, ZILLI & BRUCH, 2015).

Neste sentido, as IGs expressam uma relação entre pessoas, produtos e territórios (VANDECANDELAERE et al, 2010). Representam um instrumento de valorização de tradições, costumes, saberes, práticas e outros bens imateriais associados à identidade territorial. Utilizada pelos produtores como instrumento de agregação de valor e acesso a mercados e reputadas pelos consumidores como um mecanismo de garantia de qualidade.

Também podem ser consideradas como potenciais instrumentos de desenvolvimento territorial, posto que possibilitam a exploração de ativos intangíveis de difícil transposição para outros territórios, constituindo uma vantagem competitiva em mercados cada vez mais marcados pela homogeneização de processos produtivos (NIEDERLE, 2009).

Na dimensão econômica, a agregação de valor aos produtos com IG e o aumento da

competitividade destes produtos (CHEVER et al, 2012) aliada ao estimulo a geração de

empregos, principalmente em zonas rurais fragilizadas economicamente e que apresentam

(7)

elevados índices de êxodo rural, são as contribuições mais significativas. Em algumas destas regiões agrícolas, a mecanização de processos de produção pode ser difícil e onerosa e a utilização de métodos tradicionais de produção pode ser a única alternativa para manter a atividade e gerar emprego local (EUROPEAN COMMISSION, s. d).

Entretanto, em relação a dimensão econômica é preciso considerar que muitos destes benefícios que tendem a ser potencializados a partir do reconhecimento da IG podem ser neutralizados parcialmente ou totalmente por variáveis econômicas externas, como por exemplo, a diminuição da renda do consumidor em momentos de crise econômica 5 .

Além da dimensão econômica, as IGs podem estimular outras dimensões que se aproximam de alguns princípios do Desenvolvimento Territorial Sustentável (DTS), notadamente as dimensões sociais, ambientais e culturais. Elas podem estimular a dimensão social a medida que produtores precisam se associar para solicitar o reconhecimento do produto e/ou serviço. Com isso ocorre inevitavelmente um fortalecimento dos vínculos sociais entre os atores e, destes com atores externos públicos e privados (EUROPEAN COMMISSION, s.d). Neste caso há um estimulo ao fortalecimento do capital social da região, elemento importante na promoção do Desenvolvimento Territorial Sustentável.

Em função de estarem pautadas nos saberes, modo de ser e fazer local, o reconhecimento de produtos e/ou serviços com IG contribui para preservação do patrimônio material e imaterial. Trata-se do estimulo a manutenção de processos produtivos baseados na autenticidade ou peculiaridades ligadas a história, cultura e tradição do território (DULLIUS, 2009). Nesta dimensão também é possível lembrar de suas contribuições para preservação e valorização do patrimônio biológico a medida que algumas IGs podem estar baseadas em recursos genéticos locais (EUROPEAN COMMISSION, s.d).

Por fim, há também estimulo a dimensão ambiental quando produtos e/ou serviços carregam a imagem do território onde são produzidos (vinhos, por exemplo). Neste caso, é particularmente importante para o desenvolvimento da atividade turística (CERDAN et al, 2014).

Portanto, as IGs permitem que os territórios promovam seus produtos, beneficiando a comunidade local, se tornando estratégia para o desenvolvimento territorial, principalmente para produtos que possuem baixa produção de escala em função de seus métodos tradicionais de produção. Neste caso, se procura agregar valor a esta tipicidade, ao saber fazer, a cultura e a tradição de uma determinada região. Além disso, também podem ser consideradas importantes ferramentas para preservação da biodiversidade, conhecimento regional e recursos naturais (KAKUTA, 2006).

4- SITUAÇÃO ATUAL: PERSPECTIVAS E DESAFIOS PARA AS IGS VITIVINÍCOLAS

Para compreender o significado de IG, Krucken (2009, p.33) explica que elas se baseiam no conceito de terroir: “[...] são referências geográficas utilizadas para designar

5

Um exemplo clássico é o que ocorre, desde 2014, com o queijo parmegiano reggiano da região de Bologna,

Itália. Em função da forte crise econômica que atravessa a União Europeia, o consumo regional do produto

diminuiu, os produtores reduziram o preço de venda e consequentemente seus lucros (CORRIERE DI

BOLOGNA, 2015).

(8)

produtos agrícolas e alimentícios que apresentam uma ou mais qualidades relacionadas com a zona de produção”. Ressalta-se que existem outras formas de se definir e retratar terroir, e que esta definição também é variável dependente do produto em análise e da maior ou menor influência que os fatores naturais e humanos podem ter sobre sua elaboração.

Portanto, pode ser considerado que as IGs da vitivinicultura brasileira, são bons exemplos da ligação com o território que favorece o seu registro e, de acordo com Flores, Falcade e Medeiros (2010), a vitivinicultura e o terroir podem caracterizar e diferenciar cada produto lhe conferindo uma identidade própria. Essa identidade pode ser materializada através das IGs que podem fomentar e desenvolver regiões, de acordo com a Figura 01.

Figura 01- Influência de fatores do meio geográfico na qualidade final do produto.

Fonte: Velloso et al (2014, p.104).

No setor vitivinícola brasileiro, até fevereiro de 2016 foram concedidos pelo INPI oito registros de IGs apresentadas pelo Quadro 01 a seguir:

Quadro 01 – IGs vitivinícolas reconhecidas pelo INPI até 2015.

Data de Concessão

Descrição Associação/Requ

erente detentora da IG

19/11/2002

IG200002

Vinhos: tinto, branco e espumante.

Indicação de Procedência (IP)

A região do VALE DOS VINHEDOS possui, uma área total de 81,23Km2, distribuída na sua maior parte no Município de Bento Gonçalves, mas também nos Municípios de Garibaldi e Monte Belo do Sul.

Vale dos Vinhedos A. P. de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos - APROVALE

25/09/2012

IG201008

Vinhos: tinto, branco e espumante.

Denominação de Origem (DO)

A área geográfica delimitada da região de Denominação de Origem

Vale dos

Vinhedos

A. P. de Vinhos

Finos do Vale dos

(9)

Vale dos Vinhedos possui 72,45 km2 e está localizada 61,07% no município de Bento Gonçalves, 33,49 % no município de Garibaldi e 5,44 % no município de Monte Belo do Sul.

Vinhedos - APROVALE

13/07/2010

IG200803

Vinhos: tinto, brancos e espumantes Indicação de Procedência (IP)

A área geográfica delimitada se situa na Região Nordeste do Estado do Rio Grande do Sul, entre a Serra Geral e o Planalto

dos Campos Gerais, compreendendo parte dos municípios de Bento Gonçalves e Farroupilha.

Pinto Bandeira Associação dos Produtores de Vinhos de Pinto Bandeira

14/02/2012

IG201009

Vinho de Uva Goethe

Indicação de Procedência (IP)

Microrregião localizada entre as encostas da Serra Geral e o litoral sul catarinense nas bacias do rio Urussanga e rio Tubarão, compreendendo os municípios de Urussanga, Pedras Grandes, Cocal do Sul, Morro da Fumaça, Treze de Maio, Orleans, Nova

Veneza e Içara.

Vales da Uva Goethe

PROGOETHE - Associação dos Produtores de Uva e do Vinho Goethe

11/12/2012

BR402012000002-0 Vinhos e espumantes

Indicação de Procedência (IP)

A indicação de procedência Altos Montes é a área contínua localizada nos municípios de Flores da Cunha e Nova Pádua, totalizando 173,84km2.

Altos Montes Associação de Produtores dos Vinhos dos Altos Montes

01/10/2013

BR402012000006-3 Vinhos

Indicação de Procedência (IP)

A região delimitada de “Monte Belo” é uma área continua localizada nos municípios de Monte Belo, Bento Gonçalves e Santa Tereza, totalizando 56,09 km2.

Monte Belo Associação dos Vitivinicultores de Monte Belo do Sul

14/07/2015

BR402014000006-9

Vinho Fino Branco Moscatel, Vinho Moscatel Espumante; Vinho Frisante Moscatel; Vinho Licoroso

Moscatel; Mistela Simples Moscatel; Brandy de Vinho Moscatel.

Indicação de Procedência (IP)

A área geográfica contínua de 379,20 km2 inclui integralmente o município de Farroupilha.

Farroupilha Associação Farroupilhense de Produtores de Vinhos Espumantes, Sucos e Derivados – AFAVIN Fonte: Adaptado de INPI (2016).

O que se percebe é que a maior parte dos registros concedidos se encontram na região sul, visto que decorrente da colonização italiana, tem a tradição, a cultura e o saber fazer no setor vitivinícola. Este fato já é um fator positivo para que as mesmas tenham uma maior sustentabilidade.

Portanto, de acordo com Vieira, Buainain e Bruch (2015), a proteção proporcionada

pelo selo de IG permite aos territórios abrangidos um melhor aproveitamento de seu potencial

produtivo, com desenvolvimento de produtos com identidade própria e para ocupar espaços

em mercados cada vez mais exigentes em termos de oferta de produtos de qualidade e

singularidade. No entanto, para que esta região seja reconhecida pelo seu produto

diferenciado é preciso ir além. É preciso criar um sistema de proteção que valorize o perfil

dos produtos e o vínculo entre esses produtos e as condições regionais, que incentive a

indústria e o mercado local, propiciando a criação de empregos e geração de renda.

(10)

Ainda apontam os autores que as ações de políticas públicas direcionadas apenas para o aumento da produção, apesar de serem importantes, já não são mais suficientes para o mercado, cada vez mais globalizado e competitivo. A competitividade do agronegócio brasileiro tem como premissas a valorização do produto, por sua aferida qualidade.

Decorrente disto, ao longo dos últimos anos a sociedade tem demonstrado uma maior conscientização quanto à importância das questões sociais e ambientais relacionadas à forma de produção e comercialização de produtos agroalimentares (VIEIRA, BUAINAIN &

BRUCH, 2015).

4.1 – PERSPECTIVAS E DESAFIOS DAS IGS VITIVINÍCOLAS PÓS REGISTRO

Efetuada a caracterização das IGs vitivinícolas reconhecidas no Brasil, neste item se apresenta e analisa as vantagens e desafios enfrentados pelos produtores (associações) e território após o reconhecimento do registro. A primeira parte da pesquisa buscou identificar as vantagens observadas pelos produtores e pelo território após o reconhecimento dos produtos. O Quadro 2 apresenta as vantagens observadas pelos produtores, após o reconhecimento do registro da IG.

Quadro 02 – Vantagens observadas pelos produtores após reconhecimento da IG

Vantagens para os produtores Concordam (%)

Discordam (%)

Não responderam

(%)

Aumento na venda dos produtos 62,50 0,00 37,50

Aumento da escala de produção 50,00 12,50 37,50

Aumento do portfólio de produtos atrelados a IG 50,00 25,00 25,00 Aumento de produtos não atrelados a IG, mas que são

beneficiados

100,00 0,00 0,00

Reconhecimento do consumidor do produto atrelado ao território

87,50 0,00 12,50

Reconhecimento do consumidor que o produto tem qualidade atrelada a IG

62,50 25,00 12,50

Apoio do setor público 37,50 25,00 37,50

Apoio do setor privado 12,50 25,00 62,50

Maior participação dos atores da cadeia 75,00 25,00 0,00

Maior participação da sociedade 25,00 25,00 50,00

Maiores informações sobre linhas de fomento para pesquisa

25,00 12,50 62,50

(11)

Maior facilidade para acesso a financiamentos para pesquisa

12,50 12,50 75,00

Maior facilidade para acesso a financiamentos para gestão do negócio

0,00 37,50 62,50

Acesso ao conhecimento das Universidades (P & D) 62,50 12,50 25,00 Apoio de instituições de pesquisa e academia 75,00 12,50 12,50

Inserção de inovações nos produtos 87,50 0,00 12,50

Maior valor agregado ao produto após reconhecimento 62,50 25,00 12,50

Aumento de marketing espontâneo 75,00 12,50 12,50

Fonte: Organizada pelos autores a partir dos dados coletados pela pesquisa de campo

No que se refere as vantagens para os produtores, três delas devem ser destacados: (i) aumento na produção de produtos não atrelados diretamente a IG, mas que acabam sendo beneficiados; (ii) reconhecimento do consumidor da relação entre produto e território; e (iii) inserção de inovações nos produtos reconhecidos.

Em relação a primeira vantagem, ela confirma a capacidade das IGs em estimular atividades complementares na região demarcada que, muitas vezes não tem relação direta com o produto reconhecido, no entanto, são beneficiadas. É o que bem apresenta Pecqueur (2001) quando denomina de “cesta de bens e serviços do território”. O consumidor, ao se interessar em adquirir produtos com IG, pode se interessar também em consumir outros produtos e/ou serviços provenientes daquela região demarcada e, assim estimula a produção e oferta de outros bens. A segunda vantagem apontada evidencia a dimensão cultural estimulada pela IG.

Ao relacionar produto com o território, o consumidor acaba fortalecendo a identidade da região demarcada e os produtos carregam além da qualidade, que é uma das exigências do Conselho Regulador para que um produto consiga o selo, um componente territorial que os diferencia dos demais produtos. Por fim, a terceira vantagem apontada sugere uma relação com o sistema de produção. A partir do momento em que se define as regras para produção, através do Regulamento de Uso, a tendência é que a qualidade dos produtos melhore significativamente e inovações no sistema de produção sejam implementadas, mantendo, no entanto, a autenticidade dos produtos e de seu sistema produtivo.

A partir destas analises, Bruch (2013) ressalta que novos nichos de mercados têm possibilitado a valorização de produtos, como é o caso daqueles que obtêm a distinção de indicações geográficas (IGs), que foram surgindo de forma gradativa, quando produtores e consumidores passaram a perceber sabores ou qualidades peculiares em alguns produtos que provinham de determinados locais. Essas características não eram encontradas em produtos equivalentes, feitos em outro local. Começou-se a denominar os produtos que apresentavam um diferencial com o nome geográfico de sua procedência.

Entre as vantagens menos lembradas estão as que se relacionam com acesso a

linhas de financiamento para a gestão das empresas e acesso a financiamentos para pesquisa,

além do pouco apoio oferecido pelo setor privado. De certa forma isso evidencia um dos

principais gargalos da IG na atualidade que se refere ao pouco ou nenhum apoio financeiro

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para IGs no Brasil, principalmente no estágio pós reconhecimento, quando se deparam com o desafio de inserir seus produtos em mercados mais competitivos. E conforme lembra o presidente da Indicação de Procedência dos Vales da Uva Goethe, é após o reconhecimento da IG que o trabalho realmente aumenta.

Após apontar vantagens para produtores, foi perguntado aos atores pesquisados quais seriam as vantagens do reconhecimento da IG para o território. As respostas são apresentadas a seguir, no Quadro 03:

Quadro 03 – Vantagens observadas para o território após reconhecimento da IG

Vantagens para o território Concordam (%)

Discordam (%)

Não responderam

(%)

Aumento de visitas de turistas 87,50 12,50 0,00

Aumento de vendas no comércio 87,50 12,50 0,00

Aumento de estabelecimentos na região da IG 75,00 25,00 0,00

Maior participação da sociedade em eventos 50,00 0,00 50,00

Reconhecimento da sociedade e do consumidor do que é uma IG

25,00 25,00 50,00

Valorização das terras e propriedades 75,00 12,50 12,50

Valorização do patrimônio histórico e cultural 50,00 25,00 25,00

Valorização das paisagens 50,00 25,00 25,00

Maior preocupação com a preservação ambiental 25,00 12,50 62,50 Sustentabilidade da empresa nos três níveis

(econômico, social e ambiental)

25,00 37,50 37,50

Fonte: Organizada pelos autores a partir dos dados coletados pela pesquisa de campo

Em relação a contribuição das IGs para o desenvolvimento territorial, se

destacaram quatro vantagens: (i) aumento no fluxo de turistas; (ii) Aumento das vendas dos

produtos; e, apontadas com o mesmo percentual, (iii) aumento no número de estabelecimentos

na região da IG e valorização das terras e propriedades na região demarcada. Todas as

vantagens se relacionam com a dimensão econômica e, neste contexto, o fortalecimento de

atividades para os turistas merece destaque. Trata-se de uma atividade que é estimulada na

maioria das experiências de IG vitivinícolas no Brasil e no mundo. Um exemplo de que a IG

pode contribuir para o desenvolvimento territorial é observado no Vale dos Vinhedos, haja

vista o aumento considerável no fluxo turístico na região demarcada que recebeu, em 2014, de

acordo com a Aprovale, 290 mil turistas. A título de comparação, em 2006 o fluxo de turistas

foi de apenas 45 mil. São vinte e seis vinícolas da IG que respondem por 17% dos vinhos

(13)

finos e 12% dos espumantes brasileiros produzidos. Os perfis são variados: há vinícolas familiares, com elaboração limitada e venda exclusiva em seu varejo, como também grandes empresas com presença internacional. São 43 associados ligados ao trade de turismo entre 9 hotéis e pousadas, sendo 1 SPA internacional, 15 restaurantes e 2 agências de turismo, e 1 operadora; agroindústrias de queijos, geleias, biscoitos, ateliês de arte e artesanato, showroom de indústria moveleira, entre outros. Portanto, é importante lembrar que a atividade turística produz benefícios diretos ou indiretos para vários segmentos gerando emprego e renda local.

Entretanto, se a dimensão econômica é a mais lembrada, vantagens relacionadas as dimensões ambientais e ao reconhecimento dos consumidores e sociedade sobre os produtos com IG são as menos lembradas. Um dos principais desafios para as IGs brasileiras na atualidade é justamente o pouco ou nenhum conhecimento que consumidores tem em relação a elas. Sendo assim, há a necessidade de se criar mecanismos para disseminar seu conceito, populariza-las e, consequentemente, estimular seu consumo. Com isso, o consumidor tem o conhecimento de onde vêm e como são produzidos. Por exemplo, na indicação de procedência de carne do Pampa Gaúcho da Campanha Meridional há o controle dos animais. Assim, o consumidor pode verificar pelo código de barra no site da associação qual animal vem o corte de carne que ele acaba de adquirir, conhecer a fazenda de produção e sua localização (CERDAN, 2013).

Por fim, a pesquisa buscou identificar quais os principais desafios enfrentados após o reconhecimento da IG. O resultado é sintetizado no Quadro 04:

Quadro 04 – Principais desafios enfrentados pelos produtores após reconhecimento da IG

Desafios para os produtores Concordam (%)

Discordam (%)

Não responderam

(%) Uso das regras impostas pelo Regulamento de Uso 62,50 12,50 25,00

Controle das regras do regulamento de uso 62,50 25,00 12,50

Participação efetiva dos atores da IG 87,50 0,00 12,50

Apoio dos membros que compõe a IG 37,50 12,50 50,00

Apoio da sociedade 37,50 25,00 37,50

Apoio de instituições de pesquisa (Academia e institutos de pesquisa)

50,00 25,00 25,00

Apoio de instituições (Associações, cooperativas etc) 37,50 0,00 62,50 Realização de Planejamento Estratégico da IG para um

período

87,50 0,00 12,50

Inserção do produto no mercado com IG 62,50 12,50 25,00

Inserção do produto no mercado sem IG 25,00 37,50 37,50

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Sucessão familiar para manter a empresa 37,50 12,50 50,00 Falta de conhecimento por parte do consumidor em

relação a IG

87,50 0,00 12,50

Em relação aos custos de manutenção da IG

Altos custos da gestão da IG 37,50 12,50 50,00

Facilidade de manutenção da IG 25,00 50,00 25,00

Altos custos para participar de eventos (feiras, seminários, Workshops) para promover a IG

87,50 0,00 12,50

Fonte: Organizada pelos autores a partir dos dados coletados pela pesquisa de campo

Em relação aos maiores desafios para as IGs, dois destes estão diretamente relacionados à gestão. Trata-se das dificuldades em envolver a participação efetiva dos atores da IG nas discussões e estratégias de ações. O envolvimento dos atores está diretamente relacionado a construção de arranjos institucionais representativos e processos de governança territorial legítimos. A dificuldade em realizar um planejamento estratégico que envolve, por exemplo, a estruturação de um plano de negócios, é outro desafio a ser superado. Após reconhecimento da IG a sustentabilidade econômica do projeto está intimamente ligada a inserção dos produtos em mercados, que nos dias atuais, estão cada vez mais competitivos.

Para isso é fundamental desenvolver um planejamento estratégico participativo. Para os Vales da Uva Goethe, juntamente com a Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC), está sendo desenvolvido um projeto de extensão para elaborar um planejamento estratégico para ProGoethe, com o objetivo de estimular o desenvolvimento socioeconômico da agricultura familiar na região delimitada pela Indicação de Procedência dos Vales da Uva Goethe por meio de estratégias específicas da Associação dos Produtores de Uva e Vinho Goethe. O primeiro passo é realizar o diagnóstico do ambiente da agricultura familiar (AF) (possíveis produtores artesanais que possam se inserir na IPVUG), redefinir as estratégias de negócios da ProGoethe, para fortalecer a AF, d) e desenvolver planos de ação de acordo com as estratégias estabelecidas. Nesta experiência, há dois anos estão sendo realizados os planos de negócios das vinícolas formalizadas: Vitivinícola Urussanga (Casa del Nonno), Vigna Mazon, Vinícola De Noni e Vinícola Quarezemim.

De acordo com o que aponta Cerdan (2013), a IG pode ser uma aposta para valorizar as regiões agrícolas menos desfavorecidas, onde os produtores não têm condições de reduzir o custo de produção. Neste sentido, estes agricultores apostam na valorização da qualidade e dos conhecimentos tradicionais (savoir-faire). Assim, a partir da IG pode se promover, criar e implementar novas formas de governança local e de regulamentação entre os diferentes agentes da cadeia produtiva.

Especificamente em relação aos custos de manutenção da IG o maior desafio

está nos altos custos para participar de eventos de promoção do território, que poderia ser

considerado como uma estratégia de popularização das IGs. Neste sentido, há carência de

linhas específicas para isso no Brasil, tanto para gestão como para pesquisas nas agências de

fomento. A exemplo, em todo território nacional, somente a agência de fomento na Bahia,

lançou edital especifico para estudos com o tema de indicações geográficas. Mesmo assim, o

(15)

edital estava mais atrelado a organização para a solicitação de IGs junto ao INPI. Não há atualmente nenhuma política pública para promover as IGs após a concessão do registro.

5- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Segundo um levantamento realizado pelo Sebrae (2014), o preço dos produtos com qualidade reconhecida, seja por meio da proteção do instituto da marca coletiva ou de indicação geográfica, podem subir até 30%, quando o consumidor identifica os benefícios do selo. Este cenário corrobora com os dados da pesquisa apresentada por Bruch, Vieira e Barbosa (2014), em que os entrevistados afirmaram que, entre os requisitos e atributos que desejam encontrar em um produto, eles priorizam a qualidade.

Portanto, pode ser concluído que as IGs constituem um bom instrumento de diferenciação e qualificação dos produtos, num mercado cada vez mais globalizado. Na percepção do consumidor, o valor dos produtos com registro de IG está relacionado à sua reputação como um produto oriundo de um território específico, à preocupação com safety food (qualidade do alimento), à defesa de um modo de vida e à ligação com um ato de compra que reflete um status sociocultural e preferências pessoais.

Conforme apontam em seu artigo, os autores Vieira, Buainain e Bruch (2015) já há percepção de que as ações de políticas públicas direcionadas apenas para o aumento da produção, apesar de serem importantes, já não são mais suficientes para o mercado, cada vez mais globalizado e competitivo. A competitividade do agronegócio brasileiro se baseia, hoje, na valorização do produto, por sua aferida qualidade. Ao longo dos últimos anos a sociedade tem demonstrado uma maior conscientização quanto à importância das questões sociais e ambientais relacionadas à forma de produção e comercialização de produtos agroalimentares.

E, de acordo com a pesquisa, ainda há a necessidade de um esforço maior de aproximação entre os diversos stakeholders (setor público, setor privado e sociedade) para que todos os envolvidos, bem como o território, possam usufruir dos possíveis benefícios que a IG permite. É necessário construir parcerias, que possam auxiliar no desenvolvimento estratégico da IG e receber apoio do setor governamental, a fim de que políticas públicas sejam elaboradas para maior apoio pós-concessão do registro da IG.

Portanto, antes do Brasil se preocupar em aumentar o número de IGs reconhecidas é necessário se preocupar com o estabelecimento de políticas públicas eficientes para auxiliar as que já existem e que tem muitas dificuldades para se desenvolver e popularizar seu conceito junto ao consumidor e a sociedade de maneira geral. E este ponto é confirmado pelas entrevistas realizadas, uma vez que um dos gargalos pós concessão é a falta de conhecimento do consumidor do que é uma IG.

Algumas IGs apresentam resultados bastante expressivos como, por exemplo, o Vale dos Vinhedos. Mas estes resultados não podem ser “romantizados” ao ponto de achar que a IG produz resultados positivos automaticamente. Pelo contrário, conforme aponta o presidente da ProGoethe, foi após três anos do reconhecimento da IPVUG, que o trabalho aumentou. Manter a coerência e adesão de todos os associados, a participação dos stakeholders (poder público, setor privado e sociedade) para que o turismo na região seja reconhecido, não é tarefa fácil. As batalhas são diárias para que as conquistas sejam observadas.

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