• Nenhum resultado encontrado

Ciênc. saúde coletiva vol.14 suppl.1

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2018

Share "Ciênc. saúde coletiva vol.14 suppl.1"

Copied!
3
0
0

Texto

(1)

1338

2 Núcleo de Estudos de Saúde Coletiva, Universidade Federal

do Rio de Janeiro. mlourdestc@globo.com

B

o

d

st

ei

n

R

e

t

a

l.

Comentários sobre a Estratégia de Saúde da Família e o SUS, suscitados pelo texto de Sousa e Hamann

Comments on the Family Health Strategy and the Brazilian Unified Health System (SUS), promoted by Sousa and Hamann´s text

Maria de Lourdes Tavares Cavalcanti 2

Entre 1994 e 2001, Maria Fátima de Sousa foi ge-rente nacional do Programa de Agentes Comuni-tários de Saúde (PACS) e assessora do Ministério da Saúde no Programa Saúde da Família (PSF). Desse modo, a reconstituição da trajetória de im-plantação do PSF no país, apresentada no artigo “Programa Saúde da Família no Brasil: uma agen-da incompleta?”, exprime a visão de quem acom-panhou de perto e participou efetivamente deste processo. Já os breves comentários aqui expostos são fruto da observação mais distanciada do pro-cesso de implantação da Estratégia de Saúde da Família (ESF) (como médica sanitarista, profes-sora e pesquisadora), mas nem por isso menos interessada no tema.

Vale explicitar a concordância, em linhas ge-rais, com as considerações de Sousa e Hamann acerca da evolução do PSF a partir da década de noventa, como uma estratégia de reorganização da atenção básica, e a pertinência das necessidades mais urgentes referentes à ESF, descritas no texto. Os autores abordam com competência os desafi-os relativdesafi-os ao financiamento, à ausência de uma rede regionalizada de referência e contra-referên-cia nos municípios de pequeno porte, bem como os obstáculos à extensão de cobertura da ESF nos grandes centros.

A reflexão sobre os desafios para a ESF remete a questões, algumas das quais enunciadas no arti-go, como a resolutividade das ações; a qualidade da atenção; a integração e articulação com o siste-ma de saúde. Em relação aos recursos husiste-manos, importa enfatizar a fragilidade dos vínculos em-pregatícios (a variedade de formas de contrata-ção), a rotatividade dos profissionais (a dificulda-de dificulda-de fixação especialmente dos médicos), e, como apontado por Sousa e Hamann, a importância da formação voltada para a atuação dentro da con-dade, população, profissionais, pesquisadores e

academia) constitui um caminho promissor, ca-paz de consolidar princípios mais democráticos e republicanos e, portanto, de políticas públicas mais eficientes, efetivas e promotoras de equidade. Isso remete à discussão de um processo decisório base-ado em evidências comprovadas (Evidence Base Decision Making - EBDM), o que, por sua vez,

pres-supõe readaptar conhecimentos em função do sa-ber fornecido pela avaliação6. Esta idéia se traduz

na necessidade de institucionalizar a avaliação em todos os níveis do sistema de saúde, de se incenti-var uma cultura de reflexividade e de avaliação do sistema. Reforçar essas indagações e procurar no-vas abordagens parece uma estratégia promisso-ra, o que aponta para a necessidade de se criar uma rede de especialistas e instituições de diferen-tes regiões do país para produzir benchmarks

váli-das e baseaváli-das em amplo consenso com o intuito de medir resultados e monitorar o programa vis-à-vis a atenção básica no país4.

Referências

Senna MCM, Melo ALR, Bodstein R. A Estratégia Saú-de da Fam ília n o DLIS-Man gu in hos. In : Zan can L, Bodstein R, Marcondes W, organizadores. A promoção da saúde como caminho para o desenvolvimento local: a experiência em Manguinhos-RJ. Rio de Janeiro:

ABRAS-CO; 2002.

Bodstein R. Atenção básica na agenda da Saúde. Cien Saude Colet 2002; 7(3):401-412.

Carvalho AI, Bodstein R, H artz ZMA. Concepções e abordagens na avaliação em promoção da saúde. Cien Saude Colet 2004; 9(3):532-533.

Wor ld Health Organ ization . The World H ealth Re-por t, Pr im ar y Health Care – Now More th an Ever. 2008. Disponível em: http://www.who.int/whr/2008/en/ index.htm l

Buss P, Bodstein R, Marcondes W, Leal MC, Boccolini C. A prom oção da saúde nos congressos brasileiros de saúde coletiva. [Relatório do projeto de pesquisa 2008]

Contandriopoulos AP. Avaliando a institucionalização da avaliação. Cien Saude Colet 2006; 9(3):705-711.

Hartz ZMA. Avaliação dos programas de saúde pers-pectivas teórico m etodológicas e políticas institucio-nais. Cien Saude Colet 1999; 4(2):341-353.

Potvin L, Haddad S, Frohlich KL. Beyond process and outcom e evaluation : a com prehen sive approach for evaluating health promotion programmes. W HO Reg Publ Eur Ser. 2001; (92):45-62.

Felisberto E. Da teoria à formulação de uma política nacional de avaliação em saúde: reabrindo o debate.

Cien Saude Colet 2006; 11(3):553-563.

Bodstein R, Feliciano K, Hortale V, Leal MC. Estudos de Linha de Base do Projeto de Expansão e Consolida-ção da Saúde da Família (ELB/Proesf) - considerações sobre seu acompanhamento. Cien Saude Colet 2006; 11(3):725-731.

1.

2.

3.

4.

5.

6.

7.

8.

9.

(2)

1339

C

n

ci

a &

S

d

e C

o

le

tiv

a, 1

4

(S

u

p

l. 1

):1

3

3

6

-1

3

4

5

, 2

0

0

9

cepção de saúde da família (a educação médica é fundamental neste aspecto). Por fim, a promoção da saúde, a prevenção dos agravos e a intersetori-alidade são atividades centrais na ESF, mas ainda pouco desenvolvidas diante do almejado.

A denominação Estratégia de Saúde da Família ultrapassa a designação do PSF como um progra-ma e aumenta as possibilidades de difusão da con-cepção de saúde da família no sistema de saúde. A ESF constitui uma modalidade de atenção primá-ria à saúde e está inserida no SUS, faz parte do sistema de saúde. Seus objetivos são consonantes aos propósitos do SUS e sua concretização está vinculada à efetivação dos princípios e diretrizes do SUS, ao provimento de atenção à saúde, à me-lhoria da qualidade de vida e do bem-estar da po-pulação, de modo universal, igualitário e integral. Como refere Campos1, a atenção primária à saúde

constitui um eixo organizador de sistemas de saú-de universais: Uma das estratégias colocadas em prá-tica pelos Sistemas Nacionais de Saúde, desde mea-dos da década de 1980, foi a de fortalecer os subsiste-mas de Atenção Primária à Saúde (APS). O objetivo desta estratégia é aum entar a cobertura, alcançar maior equidade na distribuição dos serviços e racio-nalizar os custos. A alegação de que os países que adotaram esta via tem melhores indicadores sociais e sanitários é um forte argumento e é amplamente difundido na literatura, incluindo a OMS/OPAS e as agências de fomento ao desenvolvimento (Banco Mundial/BIRD). O modelo mais predominante bus-ca vincular grupos de famílias à médicos e/ou equi-pes especializadas em APS; dá ênfase às ações de pro-moção e prevenção; organiza algum tipo de regula-ção quanto ao uso de especialistas e exames corres-pondentes e, mais recentemente, dá estímulos à mai-or produtividade/gestão da qualidade/gestão pmai-or re-sultados das equipes e serviços.

Em contraposição a este movimento estão os que defendem o livre acesso aos serviços de acordo com as necessidades dos indivíduos e comunidades. Para es-tes, a livre escolha de profissionais e a utilização de bens e serviços em saúde não podem ser restringidas e deve estar acessível a todos sem distinção. Para estes a liberdade de escolha como premissa é o que garante a qualidade e a redução dos custos por estimular a concorrência entre os prestadores. Nesta visão, a APS é um conjunto de ações limitadas, de baixo custo, oferecidas à populações excluídas do sistema social e

econôm ico1.

As críticas à APS e à ESF remetem às visões sobre sistema de saúde e organização da atenção nos países capitalistas ocidentais. Nações cujo fi-nanciamento dos serviços de saúde tem como base o seguro social historicamente tiveram menor

in-1.

2.

3.

vestimento na implantação de uma rede de servi-ços básicos a funcionar como porta de entrada no sistema. Em contrapartida, nos países que adota-ram a conformação de sistemas nacionais de saú-de financiados por impostos gerais, ocorreu mai-or preocupação com a estruturação do primeiro nível de atenção ou porta de entrada no sistema. Nos últimos anos, a necessidade de racionalização com redução dos custos e aumento da efetividade da atenção à saúde levou à disseminação de refor-mas nos sisterefor-mas de saúde de diversos países, nas quais de um modo ou de outro se buscou priori-zar a atenção primária à saúde, independente da origem e do tipo de sistema de saúde existente.

Um aspecto acentuado por Sousa e Hamann diz respeito às estratégias de avaliação da saúde da família. A avaliação da qualidade das ações, servi-ços e sistemas de saúde constitui um campo de co-nhecimento de importância crescente. O Ministério da Saúde tem fomentado a institucionalização de uma cultura avaliativa nos serviços de saúde, fi-nanciando estudos avaliativos na esfera da atenção básica. A avaliação de desempenho é um desafio para pesquisadores, gestores e profissionais de saú-de. Neste panorama, os estudos comparados de sistemas de saúde contribuem para a identificação de tendências e modos de organização da atenção à saúde mais satisfatórios e eficientes2.

Pesquisadores3-6 e a OPS/OMS7 relatam

resul-tados de estudos que demonstram existir maior equidade e eficiência, melhor efetividade de custos e mais satisfação dos usuários nos sistemas de saúde universais com base na atenção primária à saúde. Em concordância com Campos1, este argumento

(3)

1340

B

o

d

st

ei

n

R

e

t

a

l.

3,4 Departamento de Medicina Social, Faculdade de Medicina

de Ribeirão Preto, USP. jsyrocha@fmrp.usp.br oposição a encobrir a interdependência entre os

dois subsistemas.

Além do mais, o setor saúde vivencia a deterio-ração das relações, o esvaziamento das corpora-ções e das instituicorpora-ções políticas. A despolitização generalizada se expressa no distanciamento dos profissionais de saúde, especialmente os médicos, do sistema público de saúde. Os profissionais não percebem o SUS como um projeto coletivo da so-ciedade, do qual eles fazem parte e no qual desem-penham uma função estrutural, um papel estraté-gico para que o sistema funcione, “dê certo”. Parci-almente, esta descrença resulta da forma como o poder público vem lidando com estes profissio-nais, no encaminhamento dos processos e na ad-ministração da saúde pública brasileira. Por outro lado, o debate político nos espaços públicos como os conselhos de saúde se encontra cristalizado no

modus operandi e nos discursos repetitivos, e a

atu-ação das entidades de representatu-ação, seja dos pro-fissionais ou da população, engessada por dispu-tas de micropoderes e falsos embates ideológicos que encobrem a ausência de proposições e de au-tonomia para enfrentamento dos verdadeiros en-traves. Estes dizem respeito a qual sistema de saú-de a sociedasaú-de brasileira está disposta a bancar.

Referências

Cam pos CEA. Exercícios de Adm inistração e Planeja-mento em Saúde. Tem a: Sistem a Único de Saúde. Sub-tema: Atenção Primária à Saúde-Saúde da Família.

Dis-ciplina de Adm inistração e Planejam ento em Saúde, Departamento de Medicina Preventiva, Faculdade de Medicina, UFRJ; 2008. [Mim eo].

Conill EM. Sistemas comparados de saúde. In: Cam-pos GWS, Minayo MCS, Akerm an M, Drum ond Ju-n ior RM, Car valh o YM, or gaJu-n izad ores. Tratado de saúde coletiva. São Pau lo: H u citec; Rio de Jan eiro:

Fiocruz; 2006. p. 563-614.

Starfield B. Is Prim ary Care Essen tial. Lancet 1994;

344(8930):1129-1133.

Andrade LOM, Bueno ICC, Bezerra RC. Atenção Pri-m ária à Saú de e Estratégia de Saú de da FaPri-m ília In : Campos GWS, Minayo MCS, Akerman M, Drumond Jun ior RM, Car valho YM, organ izadores. Tratado de saúde coletiva. São Pau lo: H u citec; Rio de Jan eiro:

Fiocruz; 2006. p. 783-832.

Giovan ella L. A aten ção prim ária à saúde n o países da Un ião Européia. Con figurações e reform as orga-n izacioorga-n ais orga-n a década de 1990. Cad Saude Publica

2006; (22)5: 951-963.

Conill EM. Ensaio histórico-conceitual sobre a Aten-ção Primária à Saúde: desafios para a organizaAten-ção de serviços básicos e da Estratégia Saúde da Família em cen tros urban os n o Brasil. Cad Saude Publica 2008;

24(Supl. 1):S7-S27.

OPS/OMS. Renovação da Atenção Prim ária em Saúde nas Am éricas – Docum ento de posicionam ento da Or-ganização Pan-Am ericana de Saúde /OM S.

Washing-ton, D.C.: OPS/OMS; 2005.

1.

2.

3.

4.

5.

6.

A atenção básica na construção da saúde

Primary care at health construction

Juan Stuardo Yazlle Rocha 3

Maria do Carmo Gullaci Guimarães Caccia-Bava 4

O trabalho “Programa Saúde da Família no Brasil: uma agenda incompleta?”, de autoria de Maria de Fátima Souza e Edgard Merchán Hamann, pro-põe-se a realizar uma análise longitudinal da expe-riência brasileira nessa área desde a perspectiva de considerar o mesmo um projeto de reorganização da atenção básica. Discutem o significado do PSF diante da realidade de serviços de atenção básica ou de atenção primária à saúde, destacando o sig-nificado de implementar um novo modelo e os principais marcos oficiais do processo de desen-volvimento dessa estratégia. Entre avanços e desa-fios, apontam para as necessidades mais urgentes em termos de incorporação tecnológica, forma-ção da força de trabalho, estabelecimento de no-vos mecanismos e pactos em torno do financia-mento da atenção básica e encaminhafinancia-mento de novas estratégias e tecnologias nos processos de monitoramento e avaliação. Alguns pontos são destacados, como a questão da expansão da co-bertura em grandes centros urbanos, a co-respon-sabilidade do financiamento da atenção básica e a política de capacitação, formação e educação per-manente para o PSF.

Algumas considerações

O título do artigo sugere que os autores atribuiri-am ou focariatribuiri-am na questão da agenda incompleta a razão das dificuldades ou problemas da estrutura e organização dos serviços de atenção básica no país. Eles tratam de várias questões outras e tam-bém de várias agendas: das agendas oficiais (de

Referências

Documentos relacionados

O resultado da classificação do grau de dependên- cia dos pacientes internados na emergência em estudo, de acordo com a complexidade assistencial, demonstrou que o maior número

Entre tantas, participou efetiva- mente dos seguintes projetos: Todas as Crianças na Escola, que consistia em identificar nos territó- rios trabalhados pelos ACS aquelas que não

A última parte do livro, “Agentes Comunitá- rios de Saúde e indicadores de avaliação: discursos e práticas sobre processos saúde- doença e suas repercussões sobre o trabalho”, aborda

do Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) e ex-assessora do Programa de Saúde da Família (PSF), levanta uma questão de profunda relevância: “O PSF contribui para

XXII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos ANÁLISE DO PROCESSO DE RECUPERAÇÃO EM ÁREA DEGRADADA LOCALIZADA NO INTERIOR DO ESTADO

The smart substation concept is built on state of the art automation technologies for substations, and should enable a more reliable and efficient protection,

A administração sistémica é a via mais recomendada quando a manipulação do útero não é desejável (Silva & Alvarenga 2011), mas no entanto, como a

Ensaio histórico-conceitual sobre a Atenção Primária à Saúde: desafi os para a organi- zação de serviços básicos e da Estratégia Saúde da Família em centros urbanos no Brasil