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que estatua, a policia prohibio a entrada de quadrúpedes ua praça da Constituição.

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1 ^N^^^^^taf^pjhife^^1^1^^^^^^^^ ^^dr^^^L

lib**i^i*£-H3|*il^. __jiK. l,-*»v'^ ^^^^^^. ^ ¦ t ^^h. e*^ %-- f~*^^^MSs^^^P*^Ê^^^^^^-z.^~^^~% 1 1 - M-aiiorcs quo nos quizercm lionrar com

"..'"iMuiescnhosterâoaboridadc ile remuite-¦ -. i v.i carta fechada, á Rclarçào da Semana

Illustrada, lio larpo do ?. francisco ilo

SEGUNDO ANNO.

N. 69.

Publica-se tintos «!S Diiniugus Subscreve-se: Còtte. Píoviacius.

Trinifítro . . níODO i'rinu'.--ire - <-''¦-»• Semestre . . UfO<'(> Semestre . i;."ii!,-i Anno. . . . 1C--'X\0 Anno

\m.1-ii õuü rs.

NoIa,-tifi-l.' \ri>li».-i).!ai-o;»j ,},.?. Frane-íí-e >c.

'i v¥i* vtt \.'-"»»WHk' A. i'^iM1W?^i'^i^K>i'''-'*^ ^? ^~*'' *"'**'^': * €? ^^Bt""iL*-* ^if*'' i3fr\ '¦ * 'AS^^BS-^S^S-^^^SS:

— Parabéns, nhôuhô, pela sua casquilliaria; hoje certameute que fará meia dúzia de conquistas. E que

t!>l me acha?

~ Entende

pie estás decentemente vestido; mas deixa o cavallo, que á excepção dos animaes que

or-11 "m u estatua, a

policia prohibio a entrada de quadrúpedes ua praça da Constituição.

(2)

546 SEMANA ILLÜSTRADA.

Rio, «í dc Abril tio 1869.

1

CONTOS DO RIO DE JANEIRO. Se todos pensassem como o velho Ferreira, que disse no segundo acto de sua Castro :

Pompas e ventos,.títulos inchados

Não dão descanço, nem mais doce sono ! Mas nossos homens não lêem pela mesma cartilha. Adoram os peuduricalhos e, para have-los, não afrou-xam diante do mais sobrelevado obstáculo.

.Sirva de prova, e muito, o incansável denodo com quepuzerain cm campo toda a sua actividade e saber para levarem a efrVito o pensamento nacional, esses «jiie se encarregaram de traduzir na linguagem de bronze, universal e nuazi eterna, a nova tradicção dc um povo novo.

Ondi- havia uni cidadão, entre as paredes, safadas pelo tomno. de um triste alvevgue raso com o chão, ou nos elevados e rutilantes pavimentos de unia habitação nobre, ahi descia ou assomava um nicnhro da comniis-São. o qual não saia antes de reduzir a melai o eiitlm-siasmo político da vitima a que se aterrava.

Tantos e tão couscienciosos foram os serviços pres-tados, «pie animgucm era licito duvidar ile que a muni-licencia imperial vnsasse sobre seus audures g-rande'

abundância de graças. I

Era esta a opinião mais corrida.. Felizmente

Felizmente foi o estatuario o único cunitemplado. Alguns decepcionados protestaram, escreveram corres-pondenciasiinouynias. forjaram motínas. Embalde!

Agradou-me sobremaneira esta perrice da ]iiirte do governo. Ella ensinará aos futuros ambiciosos que o melhor meio de ser contemplado c lazer favor a expen-sas próprias e não a custo das economias do pobre, ipie ganha seu pão tão peádo.

O sol e a chuva brilharam no dia da inaugoraçijo da estatua eqüestre, áquelle do meio dia ás cinco da tarde e esta das cinco as dez da noule.

Não sei qual dos dous íncommodava mais !

Em compensação alegrava os olhos a fita de en-cantadores rostos, que se desenrolava pelas janellas. sobresaindo tanto sobre o fundo dc casacas pretas, que tapetavam a praça.

A festa correu regularmente, salvas as irregulari-dades que houve.

Assim : ftn supprimida do prograinuia a grande re-volução, ofEcial e oftTciosamente anmmciada; as corti-nas, que deviam encobrir a estatua, deixaram-lhe a calva á mostra, acerescendo <pte não foram puxadas pelas pessoas declinadas no programma, mas por uns

trabalhadores ; não começou a festa á hora dosio-nada ¦ a desordem do prestito foi monumental, subindo ao ponto de irem, logo em seguida ao pallio e á cainara municipal, os pretinhos commissionados pelas irmmi-dades de Santa Ephygenia, Rosário o S. Bcnedicto'

Longo seria o rol dos senões!

O—primeiro de Abril—é o dia das petas. Não quero com isto dizer que os outros trezentos e sessenta e quatro não o sejam. Desde o anuo bom até o S. Sil-vestre, todos os dias succ-cdem-sc c assemelham, a começar pelo primeiro de Janeiro, que sempre é bom, ainda «pie seja o núncio dc quanta cousa má despejou Pandora sobre o terráqueo globo.

<) privilegio do primeiro de Abril está, só, na obri-gaç.ão por elle imposta a todos os jornaes dc pregarem

seu carapetão humorístico. \ ide os jornaes desse

dia'. Ordinariamente a imprensa petea por devoção: nesM- dia é |)or obrigação que uão falia a verdade.

A melhor peta «pie nos foi orlertada pelo próximo passado primeiro de Abril foi a—o\ação, promovida pela Petalogica., em favor do eslatnario franeez.

Como assenta bem. na forma di- ião íncinuravcl dia cômico, essa demonstração'!

¦i Mas o Sr. líochet. que não ^be o ipie significa — peíalogica— em porluguez. tomou o caso ao serio «lizem que até chorou. »

IVosto facto coiieluiram os abriloiise.- que o homem eslava enternecido, como se o excesso de riso não abrisse lambem as torneiras lacrvmáes'.' !

Lembram-se do Biard. pintor, que foi lão obscquiaue entre nós, desde o Paço de S. Christovão. ondetractou com SS. M. M. i'A. A. 1. 1, alé a «-asa de sapé das solidões do norte do império?

Sabem o que fez este franeez, de volta a sua França? Escreveu um volume em que nos acabruiiha de ridicu-lo, chama-nos tidalgotcs po>.tr-rir<\c fornece, termo me-dio, aos seus leitores duas semsaborias ou insultos ein cada pagina contra os nossos cosi umes e instituições. Antes de Biard, outro franeez, de nome F. Dabadie. publicou um ainonloado de parvoiees «-outra o Brazil. Dabadie tora muito bem recebido pelos nossos compa-triotas, durante a sua estada no Hio dtv Janeiro.

Antes deste, ainda fomos calumniados por outro fran-ccz, o celeberrimo Jacqucs Arago, que lambem nos «lo-veu favores sem numero.

Veremos o que fará o Sr. Rodict quando pisar o sollo d«> sua pátria.

Preparo-me desde já para enriquecer a minha bii-blvoteca com maisum\«dunu\ intilulado Lessingesdu, Brésil.

Ainda ha quem creia na sinceridade de certos lio-meus!

(3)

SEMANA ILLUSTRADA.

¦mr.

Quanto a mim, industriado pelos exemplos que a

his-toria do nosso ultimo decennio nos fornece, defendo-me de taes e quejandos viajantes com o escudo—ab uno

t.liscc omnes.

Nem todos pensam do mesmo modo—e já que estou om maré de citação latina, lanço mão da opportunidade para applicar aos meus patrícios, com relação ás aves de arribarão estrangeiras, a máxima do poeta :

Seuescil ei se nescil.

Os desfavores são, de ordinário, apaga (pie recebem pelos favores que fazem ; mas nem por isso ficam de sobreaviso.

Envelhecem sem aproveitarem as lições da expc-riencia.

Muito se tem dito nestes ultimos tempos sobre os nossos progressos materiaes,

«. Caminhamos sempre ; vamos á vela ! ¦¦ apregoam os nossos patriotas.

Assim é; mas caminhamos sempre "' roda. nuno

no circo da Guarda Velha, e vamos á vela— tle sebo. A câmara municipal, promotora oHicial dos nossos melhoramentos, diz sem cessar: « Munieipes, contai com a minha dedicação ! » porém, no momento oriti-ei. faz como o Manrico, do 'Provador: canta o

comio .\ sai.vah-ti-:. sentada na doce poltrona, da inacção.

Por fallar em Municipalidade, ahi vae a

«. MGKINA.

« Quando quererá a ('amara Municipal cumprir com seu dever, obrigando a Sra. 1). Rosa Carolinada ^ilv.-t Maia a murar o seu terreno, que dá frente para as ruas do Silva Manuel, Resende e Mata-Cavallos ? » Ha um mez que publico este mofina, sem que a Ca-mara se digne de dar a menor providencia.

Quando o estylo cortez e civil não chega até a edi-lidade, deve o órgão da opinião publica lançar mão de outro meio. E' o que passo a fazer. Vou deixar de parte a delicadeza. Entesando a corda do arco, hão de tal-vez os Vereadores sentir as minhas bodoeadas.

| Até sabbado.

¦r. fr

Como tive oceasião de annunciar, ha oito dias, effce-tuou-se no Cíymuasio a primeira representação do dra-ma de Alexandre Dudra-mas—Consciência. y

E' uma bella produção, que os artistas souberam in-terpretar com bastante fidelidade.

Pena-me que a traducção não seja dãs mais correctas. O Sr. Amoedo distinguiu-se muito.

*

*-\ ejo pelos jornaes Francezes que os artistas Charton-Uemeur c Tamberlick, nossos amigos velhos, estão es-^ripturados

para cantarem no theatro italiano de, Pariz.

Consumatumest! ¦¦"

Seccou finalmente a mammadeira da ÔperàNàcional. No dia 9 do corrente recebeu o Sr. Amát Y Zápata os ultimos vinténs da sua pinguissima subvenção.

Quanto custou a empreza da Opera Mixta? Quaes benefícios logrou com ella a arte no Brazil ? Renascerá o phenix?

Trataremos do assumpto brevemente. Por hoje, basta.

Ainda não; mais duas linhas.

Sabem em que se resume a historia da Opera Mixta? No seguinte: quando era criança brincava com o fo-go; viveu depois sem norma, qiie a guiasse pelo bom caminho, por isso morreu Iransviadei.

Amen.

Passeios áe uni inóspito.

Quando um insecto de minha espécie ousa, em uma folha publica, criticar os abusos que por ahi observa, necessariamente tem de sujeitar-se a muitas contra-riedades, causadas por qualquer outro animal de cathe-goria superior, como o é a classe dos mammiferos.

Estes animaes, acostumados desde o primeiro mo-mento em que viram a luz do dia, a sugarem um liquido nutritivo, chamado leite, com (pie se sustentam e desenvolvem, ficam por tal modo inclinados a esse alimento, que mal percebem ao longe alguma mam-minha rochunclmda, concebem logo a idéa de-mam-mar, até que ficam todos mammados.. Distrahidps por esta- fôrma, o compositor deixa cahir algumas paginas do original, e o caso quiz que fossem justamente as que continham o barbam castigo (pie uma senhora man-dará profligar em uma sua escrava por ciúmes do seu marido.

O re visor, que só pensa namammata, não presta atten-ção ao original, deixa passar gato por lebre, e quem sabe, se tudo isto não é para tornar pouco intellig-ivel ou inteiramente obscura uma censura feita a alguma pessoa, que ao longe lhe mostre um bom petisco?

O paginador, emfim, quebra parte da composição, e, para não ter maior massada, tira a parte quebrada, entrelinha o resto para encher a fôrma, e assim acon-tece vir um artigo do mosquito com cara de monstro

ao mundo. -.'.,?

Mas que fazer na épochn das monstruosidades ? Vainos proseguir.

Não se admire o leitor, se ainda gosto de demorar-me na praça da Constituição. E' hoje o centro do niun-do elegante,» è portanto de tuniun-do quanto ha de mais bei-lo e mais attíactivo. Alli se discute-se a política ea im-política, a verdade e a mentira, a honestidade e a ra-tonice.

Que a discussão nestes dias fosse muito animada, varia, fácil é de acreditar.

(4)

Porque se chama estatua eqüestre?

Que pergunta galante!... E' por não ser pedestre Ah! já comprehendo... Se fosse feita pela poli-cia era pedestre, mas como foi pela câmara munici-pai é eqüestre.

— Paguei 10/}. por este logar. e nada vejo da ceremonial Nem

ao menos o chapéo da estatua!.. Arre ! que calor!.. Estou

maxiusra-do como um caju de sorvete Que bello divertimento!...

flBSHytf^f^ ' T-^iJÈ _jHL ^^^¦m:f i^ ^^.^kH ^EbI ^ÉtfH^Mj-^^B/^^^^^Bw S |SP^?í?U ^fl^j I

Como orador da mui antiga e nobre corporação dos gatos, que tantos serviços tem prestado á humanidade, venii reclamar a usurpação, que se acaba de fazer contra o direito dos gatos, privando-os dos telhados, d'onde costumam assis

ás festas publicas. ;

(5)

Diabo desta estatua esta tão escura... Preferia antes — Olá t meu amigo! O que faz com essas janellas ás costas"?

que a pintassem de branco... — Vou para o largo do Rocio, alugal-as para o dia 30 de

Ora de branco I... Bem mostras que és pintor de casas!... Marco, porque sei que as pagam por iom dinheiro. üe verde, sim... ohl como seria bonita/...

Não podes negar que pertences á classe dos carnes-verdes I.

»

Então, compadre, que diz da orchestra, não acha grandiosa?

Falta-lhe alguma cousa, que lhe devia dar mais graça. Entre tanta qualidade de instrumentos não vejo um só machete, isto na corte, quando em qualquer festa da minha freguezia, que dista daqui vinte léguas, elles apparecem ás dúzias 1

j **yWU^ ^^^^~**^*_^^iii&Í^^W&f' . - ,tm. .., —*—•

Iliustrações para os Miseráveis de Victor Hugo. (Continuação.)

0 Convencionista G....eo moço pastor.

(6)

550 SEMANA ILLUSTRADA. Dizia-se que a estatua eqüestre devia apresentar'

nos D. Pedro 1" a pé, outros que não podia ter isto lu-car, visto ter sido 1). Pedro Io tão bom cávalleiro. Uns não queriam ver D. Pedro com a constituição na mão ; outros emfim que D. Pedro é muito grande para uma praça tão estreita e para olhos tão myopes, que o

cavallo não devia levantar tanto o rabo. e que

o cávalleiro não podia mover os pés a vista da posição em que se achava a cabeça. Fiquei emfim pasmo de ver tantos artistas e tão pouca arte.

Um outro grupo occupava-se com a peça que tinha pregado a chuva em não consentir que a inauguração ti-vesse logar no dia designado.. Diziam uns, que a Pro-videncia queria dar uma lição aos observadores do castello; outros, que a chuva veiu opportunaiiiente para refrescar os ânimos dos exaltados; ainda outros, que, devendo a cidade apresentar em um dia tão fes-tivo ura aspecto brilhante, tornou-se necessária uma lavagem geral, para carregar com todas as impurezas que o deTeixo fiscal conserva amontoadas, talvez com

o louvável fim de as reduzira estrume para aug

-mento das rendas municipaes.' Eu, por minha parte, nbstenho-me de emittir opinião, systema estecom que

me tenho dado muito bem. porque fica _ mo tempo

para inclinar-me sempre á opinião mais aceila. e assim ser tido por muito prudente, discreto e por um ente de varicgada instrucção.

Na verdade este meu disfarce não póde durar muito tempo; em bre\e serei conhecido de todos, mas em

quanto o páo -sai e vem folgam as costas, e

em-quanto não houver algum impertinente que me

ar-ranijue a mascara, vou vivendo vida folgada,

amou-toando os cobres e arranjando os meus filhinlios. Conheço bem o meu paiz. Nem sempre os «pie mais merecem são os mais bem aquinhoados. Para o con-seguir é preciso saber fazer valer os seus feitos, re-presentar sempre para com os superiores o papel de Servo obediente e para com os inferiores o de chefe orgulhoso e impertinente. E'este uni systema com o qual digo e confesso, não me tenho dado mal.

Mas deixemos de falar tanto na minha pessoa, que em verdade, é de pequeno quilate, para ver o que di-zem por ahi de mais interessante.

Como o Rochet apresentou um trabalho acima de toda a expectativa, já appareceu alguém que (píer attribuir a si <à gloria da idéa, como. ainda mesmo que o artista tivesse executado o desenho de outrem (o que é falso:, não lhe coubesse toda a gloria da boa exe-eução.

Mas, já (pie estami s na quaresma eváeem moda o pôr a mão na consciência e os olhos em Deus. será bom que esse pretendente á idéa se reconcentre em sua consciência e pergunta a si mesmo :

Foste algum dia auctor de um desenho ou esboço, ou en traste somente nisto como Pylatos no Credo??''

(Continuar-se-ha)

Dií. BoiiUACUKDO.

Memórias dc um 1'iiiiianU1.

I.

Nasci na cidade do Rio de Janeiro, no anno em im(. apparecerain as cameras de sangue. Foi, portanto, o meu nascimento assignalado por esse grande melhora-mento das algibeirás médicas, que sempre tem engros-sado nas épocas ein que se procura saúde no mercado, como setim verde e amarello em vésperas de inaugura-ções de estatuas.

Meu pai era official de garfo em (piniquei- banquete maçonico. e, nas horas vagas, fazia gaiolas de arame e correntes de papagaios. Bom homem ! Tinha oitenta e oito annos, quando eu vim ao mundo, c por isso ai-guns visinhos malignos chamavam-me de ante-Christo. e admiravam a falta de dentes. <jii<« eu tinha, o que muito me fazia parecer com meu pai. que lambem, graças á uma alta doze de velhice, tinha perdido <> ultimo dente, seis annos antes do meu appareciinento. ! A" noite, esse pobre velho divertia-se ensinando a mi- ' nha mãi a fazer arroz cosido com camarão, que nesse tempo era muito procurado ao toque das .\r<- Marins, e lia-lhe, para que ella se entrotivesse. a historia de Carlos Magno e o Ahitocren- tle Pelas.

Vida patriarchal!

Minha mãi, que infelizmente não conheci, morreu um mez antes do meu nascimento—o que deu muito a fallar aos curiosos, por is<o que eu era-uni filho pos-ihuino de nova espécie. Coitada ! Tinha \inte e cinco annos. sete mezes e doze dias. quando a \ irgem da Boa-Morte a veio chamar para gozar as delicias da bem-avenluraiiça.

Fiquei, orphão no mundo, e sujeito ãs iras de uma madrasta estúpida e mal ereada, por isso «pie meu pai, reconhecendo a falta que fazia a minha progenitora. resolveu casar, quatro mezes depois de enviuvar. Era a quinta mulher que possuía, presa aos laços de que nos falia a Santa Madri1 Igreja.

Tinha eu quatro irmãos, e seis irmãs, que comigo, meu pai o minha madrasta, faziam o cabalistico nu-mero treze. Até esse nunu-mero servia para mostrar o meu caiporisino !

Uma negra velha, que fôra minha ama secca. um cachorro, que a lepra não deixava mais ver a còr do pello. e um gallu zarolho, c de esporões retorcidos, eram os outros viventes, que respiravam debaixo dos telhados da nossa casa na rua do Piolho.

II.

Quando íiz oito annos, meu pai (pie já tinha ímveii-ta e seis. lembrou-se de aprender á tocar rabeca, e. longe de me mandar para o collegio. gastava o pouco dinheiro (pie lhe davam as quitandas da velha Pasclioa (era o nome da negra], em methodos de musica, solte-jos, cordas de tripa, e breu para bezuntaro arco do 'maldito

instrumento, que tanto nos atormentava a ca-beca.

(7)

SEMANA ILLUSTRADA 551 seguido assentar praça em tres de meus irmãos,

cobri-g-àr cinco irmãos n ir pura o recolhimento do Parto, ilesgostosa dc mo ver cm casa, cmpinando papagaios, c jogando peão, uiandou-nie para uma loja cie sapatei-ni da- vizinhança aprender a coser sapatos, apezar da minha falta de geito, e á apanhar oito e nove dúzias dc bolos sem chorar. Isto era uma prova da minha ro-bustez.

Ao cabo dc um anno, o meu mestre, que se chamava Domingos, lembrou-se de mandar-me para casa, eom um attestado dc preguiçoso, vadio, turbulento, mal asseiado, goloso. moleque c até dc larapio !..

Km uma caluninia, como vim depois a reconhecer. Minha madastra recelieu-inc debulhada cm prantos dc tintado, e depois de cinco minutos do niinios o de ! carinhos niaieniaes, deu-me uma sova de camarão, e trancou-nie, dez dias, u'um quartinho do fundo do quin-tal, a pão e a laranja. ]•]' uma maneira de dizer, por-ipte não estávamos eni tempo dc laranjas.

Hna e santa senhora! Fira unia rapariga de desoito anuiis. extraordinariamente g-orda. com as faces còr de mu pimentão, vesga, eom faltas de dentes, e uma por-ua inchada. Era de uma seiii-ceroinoiiia a toda a pro-va. Nunca se sirvi.i dos colchetes do vestido para ahu-tuai-o, não usava de lenço ao pescoço e mudava a rou-pa, inclusive' meias, de <piinze em (punze dias. Meu pai, «punido não tinha licção de rabeca, era o primeiro u u-abar a econonúa da consorte.

' Kecebi sempre os melhores conselhos da boca dessa senhora.

Dizia-me cila, e talvez com razão, que uma escova dc iicnles era uni objecto de luxo, e que os banhos gv-racs serviam para encanpiilhar a pelle, e enfraquecer o urg-aiiisino. Hoje é que eu reconheço (pie essas dou-trinas são ainda abraçadas por muita gente, o (pie a limpeza particular o publica só se deve fazer por meio dc companhias anonynias ou conianditarias.

Por descuido dos pais de minha madrasta, não linha ella aprendido a ler, e a escrever, o que a obri-gava a mandar chamar o veiidelhão da esquina, para fazer o rol da roupa suja. Creou-nio da inesma manei-ra. dizendo, com acerto, (pie a instrucçâo era causa de muitas desgraças no mundo, e ariançando-ino <pie Adão c Pau nunca souberam ler e escrever. A im de-pois ;i certiticar-nic dessa grande verdade.

Minha madrasta era unia senhora resoluotn. e capaz dc coiinneiter até um acto de heroísmo diante de.... um gato, ou dc um rato de deqiensa ( eou.-a ijue nanca houve cm minha casa ).

^ i-a unia vez, agarrar uma g-allinha, que passou para o nosso quintal, estrangulal-a, e.... ensopal-a para comer. Infelizmente, meu pai não provou esse petisco, porque tinha nesse dia uns

diíriceisy)sv'«i//o.s-de rabeca para estudar, o nós também não

lhemet-hanos o dente, por sermos muito crianças, como

nos disse ella com todo o discernimento

III.

Tinha eu chegado a idade da puberdade, depois de ser cuxeiro de um armazém de vinhos, onde aprendi á conhecer todos os vinhos só pelo gosto, e de ser ferra-dor de animaes em uma coxeira da rua do Aterrado, on-de também aprendi a conhecer o caracter on-de diversos animaes, entre os quaes o homem não eracomtemplado.

Quatorze annos !

Que bella idade de illusões !

Meu pai havia morrido, e minha madrasta, coberta de luto, c cheia dc afflições, quiz morar só,para melhor chorar a perda do seu companheiro, e poz-nos no olho da rua.

Estava eu desempregado.

Andei trez dias o trez noutes á procura de uma po-sição decênio. Xão me incommodava a idéia de falta dc cama. porque eu sabia, á muito tempo, oueos de-gráos da igreja de S. Francisco dc Paula, se não dão bom comrnodo, dão, pelo menos, occasião para qual-(píer contar as estrellas e estudar astronomia. A fome, porem, começou a mostrar-me que não era uma fábula a historia, ipic se contado cavallo do ing-lez, e então resolvi procurar alimento, fosse onde fosse.

Passei por um armazém, á noute ; os caixeiros coxi-lavam no balcão; haviam uns queijos na porta, empai-mei uni e corri a bom correr. Quando parei, ninguém me segaria, o pude então esfregar a ling-ua com mais de metade- d:-, ipieijo. Heconhcci log'o depois que o queijo não era das melhores alimentações, visto que me obri-gou á beber muita ngnn no chafariz da Carioca. Con-vem notar que, nesse tempo ainda não haviam bicas nas esquinas das ruas.

Xa noute seguinte, encostei-me a porta de uma cpii-tandeira, onde uma fregideira de sardinhas chiava á convidar os ^astrônomos, amantes do bonic do barato. Atirei-me á fregideira, queimei-me. fechei a mão e corri como na véspera. Depois que vi que estava á salvo, abri a mão, c lubriguei cinco bellas saidinhas, qne a minha boa. sorte meoffertava com um sorriso nos lábios. A fome era grande, cas sardinhas.por conseqüência, fo-ram devoradas.

Triste fado me perseguia !

A sede, nesse dia, fora atroz, c o chafariz das Alar-rocas servm

o cl

para nicempanturrar de mais de duasg-ar-rafas d'agoa.

Xa terceira noute. um presunto chamou a minha attenção na rua do Rozario. Disfarcei, o quando já o ti-nha prezo por cinco dedos vigorosos, fui também agar-rado por cinco dedosa inda mais vigorosos de um pedes-tro com feições de escova dc pentear cabellos.

Maldicto pedestre! se já morreste, estás no inferno, se ainda não, conta com elle.

(Continua). A. de C.

(8)

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A REVOLUÇÃO DE 80 DE MARÇO.

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