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RESENHA Temas em Educação comparada

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Academic year: 2021

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RESENHA

Temas em Educação comparada

Josania de Lourdes Alcantarino Nery

*

Resenha do livro: SOUZA, Donaldo Bello de; MARTINEZ, Silvia Alicia (orgs.). Educação Comparada: Rotas de além-mar. São Paulo: Xamã, 2009, 519p. (ISBN: 978-85-7587-124-9)

A Educação Comparada tem sido objeto de estudo de muitos pesqui- sadores por ajudar a explicitar questionamentos na área da educação. Tal perspectiva Não se trata de comparar dados para ver quem é melhor ou pior, mais ou menos, igualdades ou similaridades, mas acima de tudo, trata-se de verificar o que é singular em cada comparação; o que o torna único e diferente dos outros.

Neste livro Donaldo Bello de Souza e Silvia Alicia Martínez fazem um brilhante trabalho de organizar uma coletânea de artigos em quatro diferen- tes eixos: 1.Educação Comparada: Possibilidades e Limites; 2. História da Educação em Perspectiva Comparada Brasil-Portugal; 3. Educação Superior, de Jovens e Adultos, Inclusiva e Formação de Professores em Perspectiva Comparada Brasil-Portugal; 4. Gestão e Avaliação da Educação Perspectiva Comparada Brasil-Portugal.

Este é um livro muito denso (519 páginas) e importante, ao fazer sua resenha fiquei envolvida com a qualidade do material nele publicado. A leitura desta obra é recomendada em sua totalidade a todos os que desejam se aprofundar no assunto.

Inicialmente quero comentar sobre o prefácio tão bem escrito pelo Presidente do Conselho Diretivo da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa, Prof. Dr. João Barroso, que não só teve o cuidado de não esvaziar o sabor da leitura da obra, mas apresenta contribuições riquíssimas quando evidencia a existência de “paradoxos” na educação comparada, chamando a atenção para as condições de comparabi- lidade, afirmando, mesmo, que “Não há comparação sem comparáveis”. Por isso, afirma que “a comparação não é uma relação de A com B, mas uma

* Mestranda em Educação do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universida-

de Metodista de São Paulo, Umesp.

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relação de A e B com C, em que C é a própria condição de comparabilidade de A e B” ( p.10).

Ele também chama a nossa atenção para dois grandes aspectos desta obra: a valorização da contribuição dos textos da primeira parte para uma reflexão fundamentada sobre a definição da educação comparada como campo de estudo das ciências da educação e, o segundo aspecto destacado, a importância das “redes sociais” de pesquisa na construção de um campo científico. De acordo com o Prof. João Barroso, a constituição dessas redes é uma importante contribuição para o surgimento de “novas geografias” de conhecimento sobre a educação (p.13).

Na primeira parte do livro: Educação Comparada: Possibilidades e Limites são discutidos os referencias teóricos e metodológicos de uma

”disciplina” ainda em construção, apresentando a especialização técnica e métodos comparativos de coleta e de análise de dados, além da reflexão cien- tífica necessária à problematização e à elaboração de teorias da comparação (Barroso, p. 11), distribuídos em cinco textos:

Modelos de análise em educação comparada: o campo e o mapa

,

de Antonio Nóvoa. Texto publicado em francês, em meados de 1990, mas ainda relevante para os dias atuais, foi traduzido por Ana Isabel Madeira. Neste texto, Nóvoa aborda as dimensões teóricas e conceituais da educação comparada, discutindo a historicidade da educação comparada até os anos 1960, com uma relação dos espa- ços dos saberes e dos poderes e as configurações dos sete modelos de análise adotados na segunda metade do século XX. São elas:

perspectivas historicistas, positivistas, da modernização, da reso- lução de problemas, críticas, do sistema mundial e sociohistóricas.

Para Nóvoa, a educação comparada traz novos desafios tais como:

identificar novos problemas, colocar em prática novos modelos de análise e o de inventar novas abordagens.

Aceitando os desafios da complexidade: metodologia da educação

comparada em transição de Jürgen Schriewer, em que é evidenciada a necessidade de as Ciências Sociais fornecerem explicações para os fenômenos macrossociais. No artigo, ele busca enfatizar principal- mente as dificuldades para que isso aconteça. E o autor problematiza em torno das possibilidades fornecidas pela mudança sociohistórica e das diferentes metodologias usadas nos processo de comparação.

O campo da educação comparada: do simbolismo fundacional à

renovação das lógicas de investigação: de Ana Isabel Madeira em

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que a autora faz uma clarificação da posição da educação compa- rada nas Ciências Sociais. De acordo com a autora, a ruptura com os modelos dominantes até meados do século XX está na atual reconfiguração das abordagens em educação comparada, que visa articular perspectivas do sistema mundial com as perspectivas só- ciohistóricas.

O sentido da educação comparada: uma compreensão sobre a

construção de uma identidade de Antonio Gomes Ferreira, cuja análise gira em torno do sentido da comparação na educação.Ele traz a evolução da educação comparada analisando diversos períodos: o da criação, da descrição, da interpretação (que abrange as abordagens interpretativo-histórica, interpretativo-antropológica e interpretativo- filosófica), da comparação complexa (com as abordagens positivista, de resolução de problemas, crítica e sócio-histórica).

Encerrando a primeira parte do livro, o artigo assinado pelos organiza- dores do livro, Donaldo Bello de Souza e Sílvia Alicia Martínez: O estado do conhecimento em educação comparada Brasil-Portugal (1986-2006), com uma analise da produção em educação comparada no Brasil e Portugal, discutindo a crescente expressão de trabalhos em educação comparada nos cursos de pós-graduação, no âmbito de seminários e congressos.

A segunda parte, sob o título: História da Educação em Perspectiva Comparada Brasil-Portugal traz uma coletânea de estudos, com resultados de pesquisas em educação comparada na relação Brasil-Portugal, organizada no campo da história da educação:

Produção e Circulação do conhecimento pedagógico: análise com-

parada de revistas de educação e ensino no Brasil e em Portugal (1880-1930) de Ana Lúcia Cunha Fernandes, texto que faz parte de sua tese de doutorado, em que investiga a gênese e a produção de um discurso especializado sobre educação, em Portugal e Brasil, veiculado por meio de revistas pedagógicas de ambos os países, em dois momentos distintos: o último quartel do século XIX e os anos 20 e 30 do século XX (p. 221).

Saberes “normalistas” e sua circulação e aproximação no contexto

Portugal-Brasil: o caso do manual Elementos da Pedagogia, de

Affreixo e Freire, autora Silvia Alicia Martínez; Baseaando-se no

estudo de um manual elaborado num contexto português, refere-se

ao livro Elementos de Pedagogia, adotado na Escola Normal de

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Campos, Rio de Janeiro, objeto de estudo da autora, e que traz um contexto luso-brasileiro para o meio de circulação dos saberes pedagógicos.

A educação na casa: uma prática das elites portuguesas e brasi-

leiras no século XIX, de Maria Celi Chaves Vasconcelos; A autora aborda a educação doméstica, fazendo um resgate histórico no Brasil e em Portugal e mostrando como a mesma resistiu como prática educativa ao longo do século XX, convivendo com as escolas par- ticulares e com a escola pública estadual emergente.

Notas sobre uma história de leituras para normalistas em Portugal

e no Brasil (1870-1970): tornar visíveis os distanciamentos nas proximidades, de Vivian Batista da Silva, é um artigo em que a au- tora traz uma pesquisa realizada sob uma perspectiva sociohistórico- comparada e relacionada a manuais pedagógicos editados nos dois países ( Brasil e Portugal).

História comparada sobre a institucionalização da disciplina de

Desenho nas escolas imperiais luso-brasileiras, de Gláucia Maria Costa Trinchão. Neste texto a autora faz um levantamento da trajetória e identifica as raízes históricas da inserção da disciplina de Desenho nas escolas públicas luso-brasileiras a partir das primeiras iniciativas de institucionalização de ensino público, no século XX.

Estar aqui, estar lá

, de Vera Lúcia Gaspar da Silva. Texto base- ado em aparentes semelhanças entre o pensamento de professores catarinenses e franceses com formação e atuação no fim do século XIX e inicio do século XX. Estudo que serviu de base para a tese de doutorado da autora: Sentido da profissão docente, defendida em 2004 e que envolveu o corpo docente de Santa Catarina, São Paulo e Portugal. A autora buscou através de um diferente olhar, a compreensão de projetos semelhantes em terras tão distantes.

A próxima parte do livro, o terceiro eixo, aborda sobre assuntos diver- sos ligados a educação e tem como tema: Educação Superior, de Jovens e Adultos, Inclusiva e Formação de Professores em Perspectiva Comparada Brasil-Portugal. São eles:

Brasil e Portugal em busca da democratização do acesso ao ensi-

no superior mediante os programas de financiamento estudantil

sob a perspectiva da prática comparativa, de autoria de Ana Maria

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Gonçalves de Sousa. No artigo a autora busca esclarecer o ponto de partida de sua investigação, o espaço da lusofonia; depois faz o ensaio de alguns conceitos e linhas de análise da construção teórica dessa investigação e , por fim, trata das características dos programas de financiamento estudantil no ensino superior e seus resultados.

Educação de jovens e adultos trabalhadores no Brasil e em Portu-

gal: escritos preliminares, de Rui Canário e Sonia Maria Rummert;

Os autores analisam neste artigo as políticas voltadas para o EJA, Educação de Jovens e Adultos a classe trabalhadora destes dois países ( Brasil e Portugal) na presente década.

Estudo comparado das salas de recursos ( Brasil) e das salas de

apoio ( Portugal) : buscando nexos entre a educação especial e a educação inclusiva , autoria de Fabiany de Cássia Tavares Silva;

Texto que faz parte da tese de doutorado da autora, tem como ob- jeto de pesquisa o estudo comparado das proposições de criação e funcionamento das salas de recursos, no Brasil, e das salas de apoio, em Portugal. Ela buscou compreender como o oferecimento desses serviços pela educação especial pode representar uma resposta estratégica aos problemas de inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais em escolas comuns.

História da formação de professores em cursos a distância: é pos-

sível uma comparação entre Brasil e Portugal? Artigo de Maria Luisa Furlan Costa, é uma provocação da autora para as diferenças e semelhanças dos cursos superiores a distância para a formação de professores no Brasil e em Portugal. Ela mostra como o caminho percorrido pelos dois países aproxima-se em alguns pontos, mas diverge, totalmente, em outros aspectos.

Sentidos da Profissão Docente

, de Olinda Evangelista. A autora

busca abordar a importância da formação do professor nos anos no- venta, considerando a relevância dada ao tema pelas políticas públi- cas e demais entidades voltadas para o ensino na referida época.

Na quarta e última parte, porém não menos importante do que as de- mais, sob o título: Gestão e Avaliação da Educação Perspectiva Comparada Brasil-Portugal, os autores abordam questões sobre gestão e avaliação num estudo comparativo entre Brasil e Portugal.

Centralização e descentralização: dilemas em ambos os lados

do Atlântico, de Candido Alberto Gomes e Marta Luz Sisson de

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Castro. Os autores abordam a questão da descentralização, ou da centralização, como não sendo a solução para uma maior e melhor educação e, o fazem através de todas uma abordagem histórica nos dois Países ( Brasil e Portugal);

Gestão e autonomia da escola pública no Brasil e em Portugal:

aproximações e distanciamentos, autoria de Ângela Maria Martins, quem vem a discutir a agenda política implementada a partir de meados dos anos 1980, tanto no Brasil quanto em Portugal, discu- tindo proximidades e distanciamentos entre estas duas realidades.

Ela considera que a agenda política implementada, centrada no dis- curso da modernização e da autonomia das escolas, não conseguiu romper a cultura político-administrativa consagrada por práticas tradicionais.

Políticas participantes em escolas públicas de educação básica:

comparações entre os casos brasileiro e português, de Flávia Obino Corrêa Werle e Daianny Madalena Costa; Neste artigo os autores trazem uma reflexão sobre as perspectivas democratizantes e participativas presentes nas políticas públicas estudantis no Bra- sil ( através dos conselhos de escola) e em Portugal ( através das assembléias escolares) e na possibilidade de seus representantes serem considerados sujeitos capazes de intervir nos processos de regulação da educação.

Investigação de fatores associados à eficácia escolar no Brasil e

em Portugal a partir dos dados do Pisa 2000, de Alicia Bonamino e Fátima Alves. As autoras fazem um levantamento dos dados do PISA e o retrato da educação nestes dois países ( Brasil e Portugal) baseado nos dados de leitura. Neste estudo constatam muitas dife- renças entre os resultados obtidos, mas destacam a importância de realizar estudos comparados como instrumento para entender melhor as problemáticas educacionais e as realidades locais.

A leitura dessa obra é fundamental para quem pesquisa em educação,

especialmente nessa perspectiva comparada; uma obra em que seus 27

autores brasileiros e portugueses nos presenteiam com suas contribuições

além-mares, no aperfeiçoamento de nossos conhecimentos sobre esse modo

de pesquisar... Imperdível!

Referências

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