SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE CIÊNCIAS INTEGRADAS DA UNAERP CAMPUS GUARUJÁ
O caso da empresa Rhodia que contaminou funcionários, parte da população e o meio ambiente com substâncias
tóxicas.
Juliane Elisa Bruch Discente do Curso de Direito
UNAERP – Universidade de Ribeirão Preto – Campus Guarujá juli-bruch@hotmail.com
Tiene de Castro Silva Discente do Curso de Direito
UNAERP – Universidade de Ribeirão Preto – Campus Guarujá tiene.c@hotmail.com
Agata Caffarello Discente do Curso de Direito
UNAERP – Universidade de Ribeirão Preto – Campus Guarujá agcaf@yahoo.com.br
Hélio Mendonça Raymundo Discente do Curso de Direito
UNAERP – Universidade de Ribeirão Preto – Campus Guarujá helioramunno@hotmail.com
Edgard Cristian
Discente do Curso de Direito
UNAERP – Universidade de Ribeirão Preto – Campus Guarujá edgardcristian@hotmail.com
Professores Orientadores:
Bruno Freire e Silva Vanessa Barco
Este simpósio tem o apoio da Fundação Fernando Lee.
Resumo:
Analisa-se neste trabalho o grau de contaminação sofrido por aqueles
que estiveram expostos e manusearam os produtos de alto poder toxicológico
e os efeitos de contaminação causados pela Empresa Rhodia ao solo, a água
e também levado pelo ar a locais que a maior parte da população que reside
na baixada santista nem imagina. Os efeitos foram devastadores e
silenciosos. A empresa poluidora tentou se livrar do problema e escapar das
sanções a ela impostas através de um TAC, instrumento jurídico formulado
pelo Ministério publico, onde a indústria química confessou os crimes
cometidos contra os indefesos trabalhadores e ao meio ambiente. No
trabalho são examinadas as possíveis doenças que a população exposta pode
desenvolver, demonstrando-se os riscos para a saúde pública regional e
trabalhadores. Por fim, avalia-se se o Estado foi eficaz na fiscalização e acompanhamento de tais poderosas indústrias multinacionais que se instalam em locais super atrativos e simplesmente depois vão embora, deixando um rastro de devastação e poluição.
Palavras chave:
Indústria, Contaminação causados ao solo, População.
Seção 1 - Curso de Direito – Meio Ambiente.
Apresentação: oral.
1. Introdução
Perplexidade é a real condição mundial, quando se fala em poluição, mais pouco se faz para evitá-la. “O ato de poluir atinge diretamente à saúde mundial”. Observando-se a Lei de Política Nacional do Meio Ambiente, encontrou-se na definição de poluição, dentre outros fatores, como
“degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente prejudiquem a saúde, a segurança e o bem estar da população, bem como lancem matéria ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos”. Daí surge à intenção e a urgência em realizar esta pesquisa, voltada a estudar os elementos que verdadeiramente poluem e o seu significado jurídico, focado no caso Rhodia.
Dentre os agentes poluidores podemos ressaltar as substâncias químicas altamente tóxicas. Dentre eles os “organoclorados”, um composto orgânico, que contém cloro, e que por permanecer no meio ambiente é de uso restrito ou proibido. Buscando estabelecer uma relação entre a poluição química e o meio ambiente. Defrontamo-nos com um conflito de necessidades, qual a real necessidade da utilização desses produtos nos dias de hoje, e quais seriam os danos por eles causados.
Quais os cuidados tomados por aquele que produz estas substâncias e o que fazem para evitar uma contaminação geral, como evitar uma catástrofe ambiental. Então nos deparamos com o caso Rhodia, indústria química instalada no município de Cubatão, cidade da baixada santista, esta indústria foi e é responsável pela contaminação local por Hexaclorobenzeno, organoclorado de produção exclusiva da referida empresa. A partir da análise da ação ajuizada contra ela, surgiu a idéia de avaliar a Responsabilidade Civil dos Poluidores de Hexaclorobenzeno.
O trabalho realizou também uma pesquisa com os trabalhadores
expostos a substâncias tóxicas no ambiente de trabalho de modo a relatar o
sofrimento vivido por eles e investigar a ações tomadas pelo poder público.
Constatou-se que o sofrimento físico derivado das doenças é apenas uma dentre as várias dimensões que foram descritas como parte do quadro de sofrimento psicossocial a que os trabalhadores contaminados foram submetidos devido às ansiedades que acompanham a incerteza quanto ao prognóstico da doença e à falta de responsabilização das corporações, bem como à ineficaz atuação do Estado no sentido de lhes garantir direitos.
Detectou-se um ciclo comum na estratégia das corporações contaminadoras e vários mecanismos através dos quais o Estado acabou por desempenhar papel de cúmplice delas, compondo uma base de conhecimentos que pode vir a servir de subsídios para o estabelecimento de políticas públicas que visem romper aquele ciclo e essa cumplicidade.
Encontrou-se uma trajetória de evolução das lutas das associações, partindo-se da situação de alienação em que se encontravam os trabalhadores contaminados, passando pela busca de informações, pela luta por direitos coletivos no cumprimento do TAC – Termo de Ajustamento de Conduta firmado com o Ministério Público.
Gradativamente, nesse processo, os trabalhadores foram adquirindo maior compreensão do poder corporativo, fortalecendo uma consciência política de enfrentamento e luta. Entretanto, a importância do tema abordado decorre principalmente da possibilidade de este tornar-se um mecanismo criador de condições jurídicas que, unindo-se aos conhecimentos científicos, químicos e legais, possibilitarão a um estudo mais profundo e a transparência da ligação entre a produção e desenvolvimento e os danos causados pela poluição decorrentes desta atividade, ou seja, a configuração da responsabilidade civil.
Mostrou-se necessário uma enérgica tutela do meio ambiente e saúde
da população contra o ato ilícito civil praticado, de modo que as empresas
assumam a responsabilidade a elas imputada de forma a indenizar e
ressarcir as vítimas dos prejuízos causados. Outro sim se espera que essa
atitude iniba a produção desses poluidores, tal como nos países
desenvolvidos ou que consiga delas os cuidados necessários para que não
haja danos ambientais aos seres vivos, em qualquer tempo ou local.
Figura 1 - Empresa Rhodia
2. Histórico e Dados da Contaminação
O Ministério Público, autor do processo de embargo da fábrica da Rhodia, optou por fazer um Acordo Judicial com a empresa-ré, visando minimizar os problemas causados tanto aos trabalhadores quanto ao meio ambiente, pois, se a Ação Civil Pública seguisse seu curso normal, apesar da provável condenação da Rhodia, a demanda se estenderia por anos, trazendo como conseqüência o agravamento da situação clínica dos trabalhadores e material do meio ambiente.
Após o fechamento da fábrica já se contabilizam oito mortes em decorrência da contaminação e a primeira avaliação médica feita nos funcionários pelo Hospital Albert Einstein evidenciou várias seqüelas resultantes da exposição aos produtos tóxicos produzidos pela Rhodia.
A anomalia mais comum entre os funcionários é a hepatomegalia (aumento de fígado), acompanhada de esteatose hepática, que é uma lesão degenerativa de origem tóxica característica, cujo principal agente causador é o tetracloreto de carbono, matéria-prima do gás freon utilizado para refrigeração, substância banida nos Estados Unidos e Europa por ser comprovadamente responsável pela destruição da camada de ozônio que envolve o planeta.
Diante do resultado dos exames, surgiram também casos suspeitos de
câncer e problemas renais, revelando indícios que levam a suspeita de
manipulação do resultado dos exames médicos semestrais feitos pela
Rhodia, com a cumplicidade do seu setor médico, uma vez que tais patologias nunca vieram à tona enquanto a fábrica estava em atividade.
A Rhodia se comprometeu a pagar todos os trabalhos de avaliação e descontaminação do solo, além de garantir o emprego de seus funcionários por quatro anos e a implementação de exames médicos para se detectar até que ponto a saúde dos contaminados foi afetada, incluindo os ex-funcionários e os trabalhadores de empreiteiras.
Designou-se uma Junta Médica tripartite - composta por peritos do Ministério Público, Rhodia e Sindicato dos Químicos, este último representando os trabalhadores, com a função de avaliar as seqüelas apresentadas pelos resultados dos exames clínicos e indicar quais operários têm patologias relacionadas com a contaminação por organoclorados.
É importante ressaltar que, além de a maioria dos trabalhadores estarem com a saúde comprometida, ainda sofrem discriminação por estarem contaminados, situação vivenciada mais de perto pelos ex- funcionários da Rhodia que, ao tentarem colocação em outras empresas, foram desprezados sob a argumentação de que um ex-funcionário da Rhodia pode vir a ficar doente no futuro em razão da contaminação.
Os resíduos da Rhodia são organoclorados, compostos de Carbono, Hidrogênio e Cloro. Estes produtos são tóxicos, sendo absorvidos e armazenados nos seres vivos em sua forma original, acumulando-se particularmente no fígado, nos rins e tecidos gordurosos.
Dentre os componentes dos "lixões" de Samaritá, o hexaclorobenzeno- HCB é o mais maléfico deles devido à grande quantidade em que se apresenta e a sua capacidade de bioacumulação e biomagnificância. Mesmo após anos de exposição ele pode ser detectado como resíduo no sangue, no leite materno e em biópsias do tecido gorduroso. Tem sido utilizado como uma espécie de marcador nas avaliações do impacto ambiental devido a sua elevada persistência no meio ambiente e a sua capacidade de bioacumulação e biomagnificância.
32O pentaclorofenol e o tetracloreto de carbono, devido à toxicidade e ao fato de terem sido encontrados tanto nos "lixões" como na água dos rios e do lençol freático, são também descritos neste estudo como contaminantes perigosos. O hexaclorobutadieno, encontrado como um dos grandes constituintes dos "lixões", é apresentado aqui devido ao seu potencial também cancerígeno.
Não se pode olvidar, pois, os problema gerados pela atuação da Rhodia, como a grande devastação da natureza e o comprometimento da saúde humana.
Os pesticidas utilizados foram os seguintes Organoclorados:
Hexaclorobenzeno, Pó da China – Pentaclorofenol; Tetracloreto de Carbono e o Hexaclorobutadieno.
Os dados clínico-epidemiológicos são os seguintes: Deprime e lesa
quase todas as células do organismo, do sistema nervoso central, do fígado,
dos rins e dos vasos sangüíneos. Na intoxicação aguda, pode provocar
edema, icterícia e dermatite; astenia, convulsões, narcose semelhante ao
clorofórmio, sonolência e coma, lacrimejamento, conjuntivite e transtornos
da visão, zumbido, coriza e rinite, tosse e dispnéia, hipotensão arterial, náuseas e vômitos, cólicas intestinais, diarréia e gastroenterites.
58A exposição crônica pode provocar: atrofia amarela do fígado e hepatite tóxica;
glomerulonefrite, degeneração gorda dos rins, oligúria ou anúria, uremia, hipoglicemia, proteinúria e hemoglobinúria.Os compostos organoclorados, produzem, entre outras alterações no sistema reprodutor humano, no sistema imunológico e no hepático, além de causarem câncer.
3. Matérias de Jornais sobre o Caso Rhodia
Figura 2 - Jornal A Tribuna – Caso Rhodia
Figura 3 - Jornal A Tribuna
Fifura 4 – Contra a Incineração
4. Termo de Ajustamento de Conduta
Nos autos da ação civil pública proposta pelo Ministério Público do
Estado de São Paulo e o Sindicato dos Empregados nas Indústrias Químicas
e Farmacêuticas de Cubatão, Santos, São Vicente contra a RHODIA S.A
houve a realização de um acordo, haja vista a aceitação pela ré do
cumprimento, de inúmeras exigência do Parquet.
O Termo de Ajustamento foi homologado por sentença, sendo que a empresa ré responsabilizou-se pelas seguintes obrigações de caráter ambiental:
1. Promover a prospecção e o diagnóstico de todas as quantidades de resíduos sólidos industriais (RSI), dos solos contaminados por poluentes, existentes inadequadamente na área da UQC, considerados fontes de poluição. Indicando quais deveriam ser retirados e incinerados para garantir os níveis estabelecidos no Termo de Ajustamento de conduta.
1.1 A água subterrânea, dentro dos limites da fábrica, seria integralmente tratada.
1.2. Os resíduos sólidos industriais (RSI) e os solos ainda contaminados por este produto seriam considerados fonte de poluição, devendo ser confinados, para que não possam causar nenhum prejuízo para a saúde das pessoas e ao meio ambiente.
1.3. As ações corretivas e preventivas aqui especificadas deveriam ser cumpridas pela ré para diminuir os danos já causados e prevenir danos futuros.
1.4. Se porventura ocorresse falhas no sistema de isolamento dos RSI e/ou porções de solos contaminados, em conseqüência de fenômenos naturais, tais como a acomodação de grandes massas de solo, enchentes e desmoronamentos deveriam ser providenciada a implementação de medidas que visassem à diminuição dos danos, a qualidade do meio ambiente e da saúde da população local. Tais medidas deveriam ser adotadas no prazo de 24 horas após o conhecimento do fato.
1.5. A empresa ré se comprometeu a utilizar um sistema de tratamento de todo o volume de água contaminada por resíduos sólidos industriais nos limites da fábrica.
No Termo de Ajustamento de Conduta, a empresa RHODIA S.A firmou compromisso quanto ao cumprimento de obrigações relativas à saúde, sendo estas:
1.6. Submeter os empregados que atuavam na UQC na data em que esta foi fechada a exames clínicos e laboratoriais, que poderão permitir uma avaliação quanto ao estado de saúde de cada funcionário.
1.7. Criação de Junta Médica que será composta por um médico indicado pelo Ministério Público, outro pelo Sindicato e outro pela RHODIA S.A cuja função será:
a) Através de dados científicos relacionar as doenças que podem ser causadas por exposição a organoclorados.
b) A partir destes resultados, definir um quadro-suspeito, ou seja, aqueles portadores de doenças decorrentes à exposição a organoclorados.
1.8. Ao funcionário considerado portador de doenças provenientes de exposição a organoclorados, assegurar tratamento médico.
1.9. Incluir os aposentados que trabalharam na UQC por tempo não
inferior a seis meses, e os empregados das empreiteiras que tenham
trabalhado na fábrica, nos cinco anos contados retroativamente da data em
que esta foi fechada, a exame de sangue para verificar a probabilidade de
exposição a organoclorados. Se esta for comprovada serão estes submetidos
à avaliação de saúde do item 1.6.
1.10. Os empregados da empresa ré com contrato de trabalho em na data do fechamento da UQC (07/06/93), que apresentassem doença, teriam direito aos benefícios estabelecidos no regulamento do Instituto Rhodia de Seguridade Social, independentemente de gozo de benefício previdenciário acidentário.
1.11. A empresa ré concederia a todos os empregados, com contrato de trabalho na data do seu fechamento, uma garantia de emprego provisória pelo período de quatro anos contados de 1 de janeiro de 1995.
Poderia transferir os empregados para outras unidades fabris de seu controle ou participação dentro do território da grande São Paulo e da Baixada Santista ou para empresas do Pólo Petroquímico de Cubatão desde que mantida a remuneração, a função e respeitadas às normas jurídicas pertinentes.
Contudo, esta garantia de emprego se extinguiria para o empregado que fosse despedido por justa causa e outras inerentes à frustração da estabilidade, aposentadoria ou acordo exonerativo feito com a assistência do Sindicato.
1.12. Ao empregado com contrato de trabalho na data do fechamento da fábrica, que viesse a ser submetido a tratamento médico, seria assegurada a garantia enquanto permanecera doença e por ele forem cumpridas as prescrições médicas.
1.13. Após o decurso do prazo de garantia provisória de emprego, o empregado da ré que fosse despedido sem justa causa, porém permaneceria no quadro-suspeito, seria ele reintegrado ao quadro funcional, retomando a garantia provisória de emprego pelo período em que persistisse a doença, e o cumprimento por ele das prescrições médicas.
1.14. A FUNDACENTRO ou outra empresa habilitada realizaria uma avaliação da qualidade do ar no interior da UQC, antes que qualquer empregado retorne ao trabalho.
A Empresa RHODIA S.A também se comprometeu ao cumprimento de outras obrigações, que no Termo de Ajustamento de Conduta foram denominadas de disposições gerais, sendo:
1.15. Responsabilizar-se-ia pelos ônus provenientes das obrigações ambientais e relativas à saúde por ela assumidas, além do pagamento dos terceiros envolvidos na execução das cláusulas.
1.16. A empresa ré a título de benefício social ainda doaria:
a) para a CETESB R$ 800.000,00 em equipamentos,
b) para o Instituto Adolfo Lutz R$ 700.000,00 em equipamentos,
c) para a Secretaria Estadual do Meio Ambiente R$ 300.000,00 destinada a um fundo especial a ser criado por lei, sendo que seu desígnio seria em caráter emergencial, viabilizaria a troca de informações técnico- científicas no âmbito nacional ou internacional para solução de problemas envolvendo produtos químicos altamente tóxicos.
1.17. Esta importância ficaria à disposição da Secretaria Estadual do Meio Ambiente a partir da criação do Fundo, se esta não o fizesse no prazo de 5 anos, tal valor reverteria em favor do Fundo Estadual para Reparação dos Interesses Difusos Lesados.
1.18. Não sendo atendido o disposto no item 1.17(a, b) no prazo de 90
dias deste acordo, por culpa da ré, os valores ali previstos deveria ser
depositados em valor dez vezes maior e devidamente atualizado, na conta do Fundo Estadual para Reparação dos Interesses Difusos Lesados. Porém, se a culpa fosse dos donatários os equipamentos serão doados para outros Órgãos Públicos envolvidos no acordo, na falta destes, seriam destinados para a conta do Fundo Estadual para Reparação dos Interesses Difusos Lesados.
1.19. A empresa ré doaria a Órgão Publico Estadual de saúde ocupacional, com atuação na Baixada Santista a ser indicado pelos autores da demanda em 60 dias a importância de R$ 200.000,00.
2.0 Se a empresa ré deixasse de cumprir qualquer uma das obrigações especificadas arcaria com multa diária de R$ 100.000,00 até cessar seu inadimplemento, sendo que o montante total da multa não pode exceder cinco vezes o valor total das obrigações que estivessem por ser executadas à data da constituição em mora.
2.1. A empresa ré apresentaria, a título de garantia, um seguro no valor R$ 25.000.000,00 atualizado monetariamente, sendo que esse valor a partir do inadimplemento das obrigações seria depositado em conta judicial e ficaria a disposição do Ministério Público para cumprimento do ora acordado, sem prejuízo da aplicação concomitante de multa diária prevista.
2.2. O valor do seguro seria decrescente, sendo abatido a cada ano o valor dos eventos que tenham sido cumpridos, devidamente atestado pelo Ministério Público.
2.3. O inadimplemento da ré ocorreria no descumprimento das obrigações por prazo superior a noventa dias das datas programadas, exceto no caso de força maior, quando o prazo passará a fluir da cessação do evento.
2.4. No caso de inadimplência seria providenciada uma perícia judicial para que fosse avaliado o montante das obras referente aos preceitos de ordem ambiental e das despesas de ordem ocupacional.
2.5. Nas disposições relativas à saúde, restou considerado inadimplemento da empresa ré o não cumprimento por prazo superior a 30 dias.
2.6. O Termo de Ajustamento trata-se de uma garantia para os interesses da sociedade, sendo que poderiam ser revisto toda vez que fosse considerado insuficiente ou inadequado para a tutela destes.
5. Efetividade do Termo de Ajustamento de Conduta
É necessário, conforme objetivo proposto, realizar uma análise crítica quanto à efetividade do referido Termo de Ajustamento de Conduta. A triste constatação é que o acordo firmado com o Ministério Público não teve o condão de obter um tratamento digno aos contaminados.
As patologias e seqüelas se acumulam a cada etapa de exames
médicos. Estes por sinal deveriam ser realizados semestralmente a partir de
1995, de acordo com o que foi homologado pela Juíza da 1ª Vara da
Comarca de Cubatão, e consta no TAC, descrito acima. Infelizmente, entretanto, até meados de 2003, apenas foi realizada uma bateria de exames completa e outras duas incompletas.
As ações individuais por acidente de trabalho, outrossim, têm sido uma constante, haja vista que o Termo de Ajustamento de Conduta não trouxe uma tutela efetiva para a contaminação por organoclorados.
Porém, assim, como o TAC, as ações individuais também não têm dado resultado, por se tratar de matéria nova em nossos tribunais e de difícil prova do nexo de causalidade. Peritos forenses têm demonstrado evidente inabilidade e falta de preparo para exame dos casos de intoxicação crônica e patologias que diminuem drasticamente a qualidade de vida dos trabalhadores intoxicados. Inclusive, muitas perícias não foram realizadas por especialistas da área médica.
A triste constatação é a seguinte:
- 95% dos trabalhadores estão com alguma doença ou agravo causados pelos organoclorados;
- 12 já morreram, e 9 encontram-se inaptos para qualquer tipo de trabalho;
- Segundo relatos científicos, muito possivelmente os 5% é questão de tempo;
- Os trabalhadores não possuem orientação médica para não mais terem contato com produtos químicos;
- Na UQC, nem os escritórios longe da usina, ficaram livres da contaminação;
- Vários trabalhadores são portadores de dupla contaminação em diferentes unidades da Rhodia.
Por fim, após todo esse contexto, em janeiro de 2002, a Rhodia
anunciou oficialmente nos meios de comunicação sua "saída definitiva" da
região da Baixada Santista, sem oferecer maiores garantias quanto ao
cumprimento das obrigações impostas judicialmente perante o imenso
passivo sócio-ambiental. A comunidade local teme uma possível manobra
corporativa da empresa para escapar da responsabilidade deixando um
rastro de mazelas e uma herança tenebrosa.
6. Conclusão
Não defendemos a paralisação das empresas químicas. Apenas nos deparamos com o caso Rhodia, reconhecidamente responsável por um dos maiores crimes ambientais na baixada santista, e talvez no Brasil, a que tivemos conhecimento, onde a manipulação de produtos internacionalmente proibidos eram produzidos sem interferência daqueles que tinham o dever de fiscalizar, onde trabalhadores, famílias, comunidades, e cidades, foram expostas a produtos que ilegalmente eram produzido com a intenção de beneficiar o ser humano.
O descumprimento de nossa Constituição, entretanto, na parte que se refere à preservação e a manutenção daquilo que deixaremos para gerações futuras, foi maculado. Não podemos deixar de destacar a falta de ética por parte da empresa Rhodia. Preservar e manter sadio o meio ambiente são deveres garantidos em nossa Constituição.
Danos foram causados e há vitimas que nem desconfiam que o manuseio ou exposição a esses produtos químicos prejudicou o funcionamento de vários órgãos, alteram os níveis hormonais e influenciam o aparecimento de varias doenças graves, destacando dentre elas o câncer, naqueles que estiveram expostos diretamente ou não.
Como se não bastasse, surgiram casos de crianças com deficiências mentais, com o nível do sistema imunológico baixíssimo
. Oquadro é grave e muito recente, apesar de tantas advertências e alertas aos perigos advindos com a contaminação. Outros casos, outrossim, poderão aparecer, pois esse material esta lá, depositado em áreas ainda não descobertas, utilizados como fertilizantes. As pessoas se alimentam de peixes, onde a combinação de organoclorados (cloro e material orgânico) podem contaminar grande parte da população, o solo, o lençol freático e a todos os seres vivos. As aves, por exemplo, se alimentam desses peixes, migram para outras regiões aumentando assim a área de contaminação.
No presente trabalho procurou-se examinar a conduta do agente poluidor e a grande possibilidade de enquadrar e qualificar o crime ambiental e com isso comprovar a má conduta do poluidor e o seu ato ilícito.
É necessário encontrar meios para fazer a Rhodia cumprir o TAC e com isso
o mínimo por aqueles que até a presente data se encontram abandonados e
sem perspectiva de solução. Este caso da década de 90 enseja a grande
relevância de se buscar mecanismos que façam despertar a enorme
importância de defender o meio ambiente e, assim, contribuir para a
melhoria da qualidade de vida da humanidade.
Referências Bibliográficas
CARLSTRAN, C. Uso e Ocupação do Solo do Distrito de Samaritá - São Vicente (SP) nos anos de 1972, 1977 e 1988. GEPRO - Saúde e Meio
Ambiente/CVS/ São Paulo. 1988.
CETESB- Ação da CETESB em Cubatão. Junho, 1992
CETESB- Resíduos Sólidos Industriais na Bacia do Rio Cubatão - VI, São Paulo, 1978.
CETESB-Carta do Meio Ambiente e de sua Dinâmica - Baixada Santista. São Paulo, 1985
http://www.terra.com.br/istoe/politica/152014.htm
http://www.caieiraspress.com.br/historia.php?acao=verMateria&id=6 72
http://sites.uol.com.br/acpo94 http://acpo.org.br