Germinação in vitro do pólen da melancieira (1)
Thiago Francisco de Souza Carneiro-Neto (2); Carine Feitosa Xavier (3); Rayla Mirele Passos Rodrigues (4); Brenda Lima Ribeiro (2); Aureliano Roberto
Rodrigues Ramos (2); Kátia Maria Medeiros Siqueira (5)
(1) Trabalho executado com recursos do Departamento de Tecnologia e Ciências Sociais-Campus III-UNEB.
(2) Bolsistas de Iniciação Científica do CNPq, graduandos em Engenharia Agronômica; Universidade do Estado
da Bahia (UNEB); Juazeiro, Bahia; thiagofs_10@hotmail.com; (3)
Bolsista de Iniciação Científica da Fapesb, graduando em Engenharia Agronômica; UNEB; (4)
Graduanda em Engenharia Agronômica; UNEB; (5) DSc.
em Zoologia, Professora Titular; UNEB; katiauneb@yahoo.com.br.
RESUMO: Para que haja a formação de frutos, as flores da melancieira precisam ser polinizadas.
Assim, o objetivo foi avaliar a fertilidade dos grãos de pólen de duas variedades comerciais de melancieira em diferentes meios de germinação in vitro. Foram utilizadas as variedades Congo e Crimson Select. Os grãos de pólen oriundo de seis flores por variedade coletados entre 07:00 e 08:00 horas foram inoculados em placas de Petri contendo os meios de cultura Brewbaker & Kwack (1963), Kwon et al. (2005), e um meio contendo 10g sacarose e 0,7g ágar (SAC). Decorridas 24 horas, os percentuais de germinação foram obtidos pela contagem de 400 grãos de pólen subdivididos em 4 repetições. Registraram-se diferenças significativas (P<0,05) para as variedades nos diferentes meios de cultura. Na variedade Congo o percentual médio variou de 21,00 a 100%, com os melhores resultados registrados nos meios BK e Kwon. Para a Crimson Select, o meio BK proporcionou a maior taxa de germinação, com variação de 96,00 para 2,25%, sendo este último percentual referente ao meio SAC. Comparando-se o desempenho das variedades em cada meio utilizado a ANOVA, foi registrada diferença significativa (P≥0,05) para os meio Kwon e SAC. Assim, a germinação in vitro dos grãos de pólen de C. lanatus apresentou altos índices nos meios Brewbaker & Kwack (1963), sendo os mesmos indicados para esse tipo de teste.
Termos de indexação: Citrullus lanatus; fertilidade; polinização.
INTRODUÇÃO
As cucurbitáceas representam atualmente 20% da produção total de produtos olerícolas do mundo, e a melancia [Citrullus lanatus (Thunb.) Matsum. & Nakai] é a representante mais cultivada em nível global, atingindo 40% da produção mundial (Bomfim et al., 2013), representando 7% das áreas em todo o mundo dedicadas à produção de vegetais, sendo uma das cinco principais frutas frescas mais consumidas (Guo et al. 2013; Koffi et al. 2013).
Para que haja a formação de frutos, as flores da melancieira precisam ser polinizadas (Bomfim et al, 2013), e a germinação e o crescimento do tubo polínico são sempre necessários para a fertilização, desenvolvimento do fruto e formação de sementes (Kwon et al., 2005). Desta forma, o presente
estudo teve como objetivo avaliar a fertilidade dos grãos de pólen in vitro, de duas variedades comerciais de melancieira em diferentes meios de germinação.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido no Laboratório de Biotecnologia e Laboratório de Microscopia, ambos pertencentes ao Departamento de Tecnologia e Ciências Sociais – DTCS do Campus III – UNEB em Juazeiro-Bahia (09º25’43.6”S, 40º32’14”W, 384m) no período de outubro a dezembro de 2016.
Foram utilizadas as variedades comerciais Congo e Crimson Select. As mudas foram preparadas em bandejas de polipropileno com 200 células preenchidas com substrato comercial Plantmax® e transplantadas quando apresentavam a segunda folha verdadeira. No campo experimental para crescimento e desenvolvimento das plantas, o espaçamento utilizado foi de 3 m entre linhas e 1 m entre plantas. Foram utilizados 10 blocos casualizados, sendo que cada bloco continha dois tratamentos (variedades) e uma repetição, e cada unidade experimental era constituída de dez plantas, totalizando 200 plantas na área, 100 para cada variedade. Adotou-se o cultivo orgânico com irrigação localizada por gotejamento.
Seis flores de cada variedade (n=24) em pré-antese foram ensacadas para evitar o pilhamento e a contaminação do pólen pelos visitantes florais. Após a antese, as flores foram coletadas entre 07:00 e 08:00 horas, levadas para o laboratório e os grãos de pólen foram inoculados em placas de Petri contendo os meios de cultura Brewbaker & Kwack (1963), Kwon et al. (2005), e um meio contendo 10g sacarose e 0,7g de ágar, empregados em estudos de germinação in vitro, aqui denominados meios BK, Kwon e SAC, respectivamente. Posteriormente, as placas foram acondicionadas em câmara úmida durante 24 horas. Decorridas 24 horas, os percentuais de germinação foram obtidos pela contagem de 400 grãos de pólen subdivididos em 4 repetições, sendo realizada sob microscópio óptico com objetiva de 10x. Foi considerado germinado o grão de pólen cujo comprimento do tubo polínico era maior que o dobro do diâmetro do grão de pólen (Sousa et al., 2013). O resultado foi expresso em porcentagem.
O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado. Os dados expressos em porcentagem foram transformados em e analisados através da ANOVA (Lima et al., 2016). Para efeito de diferenças entre tratamentos, as médias foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade, utilizando o programa Statistica v8.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Registraram-se diferenças significativas (P<0,05) para as variedades nos diferentes meios de cultura para germinação do pólen (Tabela 1). Na variedade Congo o percentual de germinação variou de 21,00 a 100%, com os melhores resultados registrados nos meios BK e Kwon. Em um estudo realizado no Paquistão com C. lanatus foi registrado o percentual de germinação de 53%
para pólen fresco no meio BK (Khan & Perveen, 2010), percentual bem inferior ao aqui registrado.
Esses resultados podem ser influenciados por fatores ambientais, tais como temperatura, estresse hídrico e nutricional, que podem afetar a produção dos gametas masculinos (Ramsey & Schemske, 1998), como também, a própria variedade utilizada.
Para a Crimson Select, somente o meio BK proporcionou percentual de germinação superior a 95%, diferindo significativamente dos outros dois meios utilizados (Tabela 1). Vale ressaltar que o meio
SAC apresentou um percentual muito baixo, o que provavelmente esta relacionada ao próprio meio uma vez que, contem apenas sacarose e ágar (SAC). Provavelmente, a ausência de elementos importantes como Cálcio e Boro, que são requisitados para promover a germinação (Boavida &
McCormick, 2007), como verificado por Silva et al. (2017) tenham influenciado diretamente nos resultados com o meio SAC.
Tabela 1. Avaliação in vitro do percentual de germinação dos grãos de pólen de duas variedades comerciais de melancieira em Juazeiro-BA, 2016.
Meios % de germinação
Congo Crimson Select Média Geral CV(%)
Meio BK 96,75±2,50Aa 96,00±2,58Aa 96,38 6,58
Meio Kwon 89,75±2,06Aa 74,00±6,08Bb 83,00 4,52
Meio SAC 43,50±16,90Ba 2,25±2,63Cb 22,88 34,65
Média Geral 76,67 55,91
CV(%) 10,83 10,21
Médias seguidas da mesma letra maiúscula na coluna e minúscula na linha, não diferem estatisticamente entre si pelo Teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.
Quando comparamos o percentual de germinação nas duas variedades por meio de germinação (Tabela 1), observamos que não houve diferença significativa para o meio BK (P≥0,05), indicando que este meio pode ser utilizado para avaliar a fertilidade dos grãos de pólen em ambas as variedades. Ressaltamos ainda que o meio BK obteve percentuais acima de 95% o que é considerado como excelente em termos de fertilidade dos grãos de pólen (Figura 1). Estudos sobre a viabilidade polínica, com método colorimétrico em quatro variedade de C. lanatus comerciais, registrou um percentual médio de mais de 95% (Duarte et al., 2015), corroborando com os resultados aqui encontrados.
Figura 1. Germinação in vitro dos grãos de pólen de Citrullus lanatus, em Juazeiro-BA, 2016. Foto:
Carneiro-Neto, 2016.
Quando fazemos o mesmo tipo de comparação para o meio Kwon, observamos diferença
significativa entre as variedades, com o maior percentual para a Congo, indicando que os grãos de pólen desta variedade interagem mais com o referido meio do que com a variedade Crimson Select.
Em estudo realizado na República da Coréia com C. lanatus, foi registrado um percentual de 87%
de germinação (Kwon et al., 2005).
Analogamente, registrou-se diferença para o meio SAC, com a melhor taxa de germinação também para a variedade Congo. Entretanto, a taxa alcançada não foi considerada satisfatória para ambas variedades, pois quando se observa a germinabilidade da Crimson Select esse percentual cai para 2,25%. A sacarose empregada no meio de cultura tem por finalidade proporcionar o equilíbrio osmótico entre o pólen e o meio de germinação, e fornecer energia para auxiliar o processo de desenvolvimento do tubo polínico, porém é desprovida de elementos que favorecem a germinação (Silva et al., 2017; Stanley & Linskens, 1974).
CONCLUSÕES
A germinação in vitro dos grãos de pólen de Citrulus lanatus apresentou altos índices no meio Brewbaker & Kwack (1963), sendo este indicado para esse tipo de teste.
AGRADECIMENTOS
À orientadora Kátia M. M. Siqueira, a Dra. Joselita Cardoso de Souza pelas valiosas contribuições, ao PIBIC/CNPq e Fapesb pela concessão das bolsas e à Universidade do Estado da Bahia pela infraestrutura e apoio na realização das atividades.
REFERÊNCIAS
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