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RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL ACIDENTE DE VIAÇÃO ADMISSIBILIDADE DE RECURSO EXCESSO DE VELOCIDADE CONDUTOR POR CONTA DE OUTREM NULIDADE DE ACÓRDÃO

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Supremo Tribunal de Justiça

Processo nº 2222/11.0TBVCT.G1.S1 Relator: HELDER ALMEIDA

Sessão: 23 Maio 2019 Votação: UNANIMIDADE Meio Processual: REVISTA

Decisão: NÃO ADMITIDA EM PARTE A REVISTA PRINCIPAL. CONCEDIDA PROVIMENTO PARCIAL À REVISTA PEINCIPAL. NEGADO PROVIMENTO AO RECURSO SUBORDINADO

RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL ACIDENTE DE VIAÇÃO CONCORRÊNCIA DE CULPAS DUPLA CONFORME PARCIAL

DANOS NÃO PATRIMONIAIS RECURSO DE REVISTA

ADMISSIBILIDADE DE RECURSO EXCESSO DE VELOCIDADE MOTOCICLO AUTO-ESTRADA PRESUNÇÃO DE CULPA

CONDUTOR POR CONTA DE OUTREM NULIDADE DE ACÓRDÃO OMISSÃO DE PRONÚNCIA

Sumário

I - A figura da dupla conforme, consagrada no art. 671.º, n.º 3, do CPC,

consubstancia uma relevante excepção ao preceituado no n.º 1 desse preceito, traduzida na inadmissibilidade de recurso de acórdão da Relação que

confirme, sem voto de vencido, e sem fundamentação substancialmente diversa, a decisão proferida na 1.ª instância.

II - O ponto de referência para a verificação de uma situação de dupla

conforme é um acórdão da Relação que, incidindo sobre a decisão prolatada na 1.ª instância, conheça do mérito da causa ou determine a extinção – total ou parcial – da instância.

III - Assim sendo, a decisão da 1.ª instância relevante para um juízo de conformidade com o pertinente acórdão, tem de necessariamente constituir

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objecto da parte dispositiva ou estatuitória final de tal acórdão, ou seja, tem de a conclusão – thema decisum – deste aresto versar/recair sobre essa decisão, outrossim a confirmando sem divergência substancial de

fundamentação.

IV - Essa decisão recorrida, manante da 1.ª instância, não poderá ser ou consubstanciar um qualquer pronunciamento emitido no desenvolvimento da peça impugnada – um elemento intercalar do respectivo arrasoado ou parte motivatória – mas um acto judicativo final, no sentido de integrante ou representativo do seu ultimador dispositivo, do seu terminante e verdadeiro decreto.

V - Assim, ainda que respeito da questão da presunção de culpa a que se refere o art. 503.º, n.º 3, do CC tenha ocorrido veredicto por parte do aresto sindicador coincidente com o que lhe foi conferido no âmbito da sentença recorrida, não tendo tal questão sido objecto ou integrado a parte decisória final quer da sentença, quer do acórdão sobre esta incidente, não se verifica qualquer impedimento decorrente da dupla conforme, podendo a mesma ser novamente suscitada no quadro da revista interposta pelos recorrentes a respeito da responsabilidade pela produção do acidente.

VI - Já quanto à questão da quantificação da indemnização destinada a

ressarcir os danos não patrimoniais da vítima do acidente, uma vez que, como vem sendo defendido a nível doutrinal e jurisprudencial, a admissibilidade ou não do recurso normal de revista deve fazer-se mediante o confronto de cada um dos vários segmentos decisórios, verificando-se uma situação de dupla conforme no tocante ao valor da indemnização devido a este título por parte da sentença e do acórdão recorrido (€ 80 000) e não sendo a circunstância do valor final da indemnização variar em função da percentagem de

responsabilidade atribuída pelo produção do acidente (75% pela 1.ª instância e 70% pela Relação) impeditiva a que se verifique uma situação dupla

conforme, não é o recurso de revista admissível nesta parte.

VII - O conceito de velocidade excessiva, definido no art. 24.º, n.º 1, do CEst, contempla duas realidades distintas: uma vertente absoluta, verificada sempre que se ultrapassem os limites legalmente estipulados, e uma vertente relativa, quando a não adequação da marcha à situação concreta, implica que o

condutor não consiga parar no espaço visível à sua frente.

VIII - Ainda que constitua entendimento generalizado que não pode exigir-se a um condutor que preveja ou conte com os comportamentos imprudentes, culposos, dos demais utentes da estrada, a diminuição de velocidade de um motociclo, a despeito de súbita, não constitui um facto imprevisível que,

repentinamente, se tenha interposto ou intrometido entre a visão do condutor e o limite do horizonte por ela proporcionado que leve à desconsideração de

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uma situação de excesso de velocidade.

IX - Resultando da matéria de facto provada que o veículo automóvel em causa nos autos embateu no motociclo que circulava na sua dianteira, encontrando- se ambos no lado esquerdo da via de uma auto-estrada, quando circulava animado de uma velocidade não inferior a 110/kms/hora e que deixou um rasto de travagem de 16,50 metros a anteceder o embate, conclui-se que o condutor desse veículo seguia com uma velocidade excessiva e sem observar a distância mínima suficiente para evitar o embate, incorrendo em violação do disposto nos arts. 18.º, n.º 1, e 24.º, n.º 1, do CEst.

X - Ficando, ainda, provado que o embate se deveu igualmente à súbita diminuição de velocidade do motociclo devido à necessidade do condutor de accionar a reserva de combustível, incorreu este em violação do disposto nos arts. 3.º, n.º 2, 11.º, n.º 2, 13.º, n.º 1, e 24.º, n.º 2, do CEst, pelo que se mostra correcta a repartição de culpas efectuada pelo tribunal da Relação de 70%

para o condutor do veículo automóvel e de 30% para o condutor do motociclo.

Texto Integral

Acordam no Supremo Tribunal de Justiça[1]

I – RELATÓRIO

1. AA instaurou a presente acção declarativa com processo ordinário

destinada à efectivação de responsabilidade civil emergente de acidente de viação contra a BB - Companhia de Seguros, S.A., pedindo a condenação desta a pagar-lhe a quantia global líquida de € 512.249,85, acrescida de juros de mora à taxa legal de 4% ao ano, contados desde a data da propositura da acção até efectivo e integral pagamento, bem como a indemnização que vier a ser fixada em decisão ulterior, por força dos internamentos, intervenções, consultas, exames, tratamentos, auxiliares de locomoção, próteses, veículo apropriado e adaptação da habitação de que ainda irá necessitar.

2. Para tanto alegou, em suma, que ocorreu um embate em que foram

intervenientes o motociclo de matrícula ...-...-RS, por si conduzido, e o veículo automóvel de matrícula ...-...-TF, seguro na Ré, sendo certo que a ocorrência

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do sinistro ficou a dever-se a culpa exclusiva do condutor do aludido veículo automóvel.

Mais invocou a existência de danos patrimoniais e não patrimoniais, cuja reparação reclama, em virtude das lesões sofridas no embate dos autos.

3. A Ré apresentou contestação, alegando a sua versão do acidente, mais impugnando a existência de prejuízos e respectivos montantes, concluindo que a acção deverá ser julgada totalmente improcedente.

4. O A. apresentou, por sua vez, réplica, mantendo o alegado na petição inicial.

5. Ocorreu entretanto o falecimento do A., tendo sido habilitados, como seus únicos herdeiros e sucessores legais, os filhos CC, DD, e EE.

6. Seguindo os autos os seus normais trâmites, teve lugar a audiência de julgamento culminada com sentença, finda com o seguinte dispositivo:

- “Pelo exposto, julgo parcialmente procedente a acção e, em consequência, condeno a ré Companhia de Seguros FF, S.A.. a pagar aos sucessores

habilitados de AA:

- quantia de € 80.027,48 (oitenta mil vinte e sete euros e oitenta e quarenta e oito cêntimos), acrescida de juros de mora, à taxa legal de 4%, contados desde a citação até integral pagamento; e

- a quantia de € 60.000,00 (sessenta mil euros), acrescida de juros de mora a contar da data desta sentença até integral pagamento;

absolvendo-a do restante peticionado…”.

7. Não se conformando com o assim decidido, a Ré interpôs o competente recurso de apelação, a que os AA./habilitados deduziram contra-alegações, acompanhadas de recurso subordinado.

8. Pela Relação foi proferido douto Acórdão – fls. 1141 e ss.‑, findo com o decisório que segue:

- Pelo exposto, julga-se parcialmente procedente a Apelação e altera-se a decisão recorrida, condenando-se a ré a pagar aos AA/habilitados:

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- a quantia de € 42.142.41, a título de danos patrimoniais (correspondente essa quantia a 70% do total da indemnização devida, depois de abatida a quantia de € 5.000,00 adiantada ao A. pela ré seguradora), acrescida de juros de mora, à taxa anual de 4%, contados desde a citação e até integral

pagamento;

- a quantia de € 56.000,00, a título de danos não patrimoniais (correspondente essa quantia a 70% do total da indemnização devida), acrescida de juros de mora, à taxa anual de 4%, contados desde a data da sentença da 1ª instância e até integral pagamento.

9. Pelo Ministério Público foi interposto recurso obrigatório para o Tribunal Constitucional do segmento da decisão proferida no Acórdão ora em foco, julgando inconstitucional a norma contida no art. 64.º, n.º 7[2], do D.L. n.º 291/2007, de 21 de Agosto [Regime Jurídico do Seguro Obrigatório de Responsabilidade Civil Automóvel], recurso a que o dito Tribunal, por

pertinente douto Acórdão – fls. 1348 e ss.‑ negou provimento.

10. De novo irresignados, os AA/habilitados interpuseram o vertente recurso de revista, o qual encerram cos as seguintes conclusões:

1ª – O acórdão recorrido é nulo nos termos do disposto no artº. 615º, nº 1 do Cód. Proc. Civil, pois não conheceu do recurso subordinado interposto pelos AA./habilitados da decisão do tribunal de 1ª instância, limitando-se a apreciar o recurso de apelação interposto pela Ré “GG - Companhia de Seguros, S.A.”.

2ª – Pelo que deverá ser declarado nulo, ordenando-se a remessa dos autos ao tribunal “a quo” para que o mesmo aprecie e decida o recurso subordinado interposto pelos AA..

3ª – Ao decidir que existiu concorrência de culpas na eclosão do sinistro - fixando em 70% a culpa do condutor do veículo ...-...-TF, segurado na Ré seguradora, e de 30% para o A. AA – o tribunal “a quo” fez errada apreciação da factualidade provada e proferiu uma errada decisão sobre a culpa na eclosão do sinistro.

4ª – Com efeito, face à factualidade dada como provada, o tribunal “a quo”

deveria ter considerado que o condutor do veículo segurado na Ré “GG - Companhia de Seguros, S.A.” foi o único culpado na eclosão do sinistro, por violação do disposto nos artº.s 13º, nº 1 e 3, artº. 18º, nº 1 e 2, artº. 24º, nº 1

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do Cód. da Estrada.

5ª - Resulta dos pontos 3, 4, 8, 10, 11, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 21, 22, 24, 25, 26, 28 29, 30, 31, 32, 33, 34, 35, 36, 37 e 38 dos “Factos provados” que o condutor do veículo de matrícula ...-...-TF, segurado na Recorrida seguradora, circulava pela hemi-faixa de rodagem direita da A28, a qual era perfeitamente iluminada por candeeiros públicos que estavam ligados e permitiam ver ao longo de toda a faixa de rodagem e das bermas.

6ª - O segurado da Recorrida seguia numa posição atrás do AA e, não

obstante o motociclo por este tripulado estar dotado de farolins reflectores e de cor vermelha e o capacete vermelho – cfr. alínea N) dos Factos Assentes, que prevalecem - por ele utilizado ter na sua rectaguarda uma substância reflectorizante, aquele segurado não se apercebeu do abrandamento do

motociclo conduzido pelo pai dos Recorrentes a não ser quando se encontrava a uma distância de apenas 16,50 metros (tendo travado e deixado um rasto de travagem de 79,30 metros)!

7ª - Por essa razão, o condutor do veículo segurado da “GG - Companhia de Seguros, S.A.” não imobilizou o veículo que conduzia no espaço livre e visível disponível à sua frente, nem se desviou do mesmo, nem passou pela largura da faixa que tinha disponível, tendo antes embatido contra o AA quando o mesmo circulava pela faixa de rodagem da A28.

8ª - Perante esta factualidade que resultou provada, deveria o tribunal “a quo”

ter decidido que o condutor segurado da Recorrente violou, entre outras, as disposições dos artº.s 13º, nº 1 e 3, artº. 18º, nº 1 e 2, artº. 24º, nº 1 do Cód.

da Estrada.

9ª – Acresce que ficou provado que o veículo de matrícula ...-...-TF era propriedade de HH e, na altura do sinistro, era conduzido por II.

10ª - Verifica-se, assim, a relação comitente-comissário, tal como é configurada no artº. 503º, nº 3 do Cód.. Civil.

11ª - Pelo que, sobre o condutor do veículo de matrícula ...-...-TF impende, assim, uma presunção legal de culpa que a Ré “GG” não logrou ilidir – artº.

503º, nº 3 do Cód. Civil.

12ª - Ao decidir de forma diversa, o tribunal “a quo” fez errada interpretação e aplicação dessas mesmas disposições aos factos provados.

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13ª - Pelo que deverá a decisão ser alterada, decidindo-se que o condutor segurado na Recorrida “GG - Companhia de Seguros, S.A.” é o único e exclusivo responsável pela eclosão do sinistro.

14ª – Nessa medida, a Recorrida deverá ser condenada a pagar a totalidade – 100% - das indemnizações por danos patrimoniais e não patrimoniais que se considerem equitativas, e não apenas 70% das mesmas.

15ª - As quantias arbitradas pelo tribunal “a quo” para ressarcimento dos danos patrimoniais e não patrimoniais sofridos pelo AA é manifestamente insuficiente.

16ª - A quantia de € 42 142,41 fixada pelo tribunal “a quo” para

ressarcimento dos danos patrimoniais sofridos pelo AA, é manifestamente insuficiente para ressarcimento de todos os danos por aquele sofridos.

17ª – Resultou provado que o AA teve as seguintes despesas e prejuízos em consequência do sinistro sub-judice:

1. DESPESAS:

a) Medicamentos € 281,77 b) Taxas moderadoras € 654,30 c) Deslocações de táxi € 614,15 d) Deslocações em viatura própria € 250,00

e) Deslocações em ambulância dos Bombeiros € 120,00 f) Parques de estacionamento € 4,30

g) Refeições € 591,00

h) Vestuário inutilizado € 400,00

€ 2 915,52

(pontos 50, 98, 99, 100, 101, 102, 103 e 104 dos Factos provados) 2. DANOS RESPEITANTES AO MOTOCICLO DE MATRÍCULA ...-...-RS:

a) Custo de reparação do ...-...-RS € 6 287,93

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b) Desvalorização do ...-...-RS € 1 500,00

€ 7 787,93

(pontos 40 e 42 dos Factos provados)

18ª - Para além destas quantias, o AA sofreu ainda uma perda de rendimentos – dano futuro - em consequência da incapacidade de que ficou a padecer para o trabalho.

19ª – O AA ficou a padecer de um défice funcional permanente da integridade física e psíquica de 30 pontos, auferia um rendimento de trabalho de € 800,00 e, desde a data do acidente até à data da sua morte, nunca mais trabalhou, tendo deixado de auferir aquele rendimento (pontos 93, 95 e 96 dos Factos provados).

20ª – Pelo que, tendo em conta que entre a data do acidente (25.12.2006) e a data da morte do AA (16.10.2012) decorreram 70 meses, a perda de

rendimento deste cifrou-se em (70 meses x € 800,00) € 56 000,00 (cinquenta e seis mil euros).

21ª - Assim, o valor global de danos patrimoniais sofridos pelo AA em

consequência do sinistro foi de (€ 2 915,52 + € 7 787,93 + € 56 000,00) € 66 793,45.

22ª - Pelo que, deduzida a essa quantia o montante de € 5 000,00 adiantado pela Recorrida ao AA, deveria a Recorrida “GG - Companhia de Seguros, S.A.”

ter sido condenada a pagar aos AA./habilitados, a título de danos patrimoniais, a quantia de € 61 793,45 (sessenta e um mil setecentos e noventa e três euros e quarenta e cinco cêntimos), acrescida de juros de mora.

23ª - Ao decidir de forma diversa, o tribunal “a quo” violou o disposto nos artº.s 562º, artº. 564º, nº 1 e 2 e artº. 566º, nº 2 do Cod. Civil.

24ª – Pelo que deve a decisão recorrida ser nessa parte ser revogada,

substituindo-se por outra que condene a Recorrida a pagar aos Recorrentes a quantia de € 61 793,45, acrescida de juros de mora, a título de danos

patrimoniais sofridos pelo AA.

25ª – A quantia de € 56.000,00 arbitrada pelo tribunal “a quo” para

ressarcimento dos danos não patrimoniais é manifestamente insuficiente para

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ressarcimento de todos os danos não patrimoniais sofridos pelo AA.

26ª - Para fixar essa indemnização, deverá levar-se em linha de conta a

gravidade dos danos que vem plasmada nos pontos 51, 52, 53, 54, 55, 56, 57, 58, 59, 60, 61, 62, 63, 64, 65, 66, 67, 68, 69, 70, 71, 72, 73, 74, 75, 76, 78, 79, 80, 81, 82, 83, 84, 85, 86, 87, 88, 89, 90, 91, 92, 93, 96 e 106 dos “Factos Provados”.

27ª – Dessa factualidade resulta que:

a) o AA sofreu lesões gravíssimas, que implicaram a amputação da perna esquerda.

b) para além do enorme susto sofrido na altura do acidente e do receio de perder a vida, o AA sofreu danos não patrimoniais prolongados até à morte.

c) O AA foi sujeito a várias operações cirúrgicas e a períodos prolongados de internamento, pois não conseguia receber e conservar a prótese, devido a ulcerações do coto de amputação, por falta de almofada cutânea.

d) Frequentemente a ferida da perna esquerda não cicatrizava, mantendo-se em carne viva.

e) Por essa razão, os internamentos, tratamentos e cirurgias foram recorrentes e prolongadas, aumentando o sofrimento do AA.

f) O grau de dor ("Quantum Doloris") foi de grau 5, numa escala de 0 a 7.

g) E o "Dano Estético" foi de grau 4, numa escala de 0 a 7.

h) Todo esse sofrimento, aliado ao facto de a ausência da perna amoutada o ter impedido não apenas de trabalhar como de se poder dedicar às actividades lúdicas – motociclismo e dança – pelas quais o mesmo tinha uma grande

paixão e que lhe permitiam o convívio com os seus amigos, deixou o AA num estado de tristeza e depressão muito elevado.

i) A esse estado o conduziu também a consciencialização do seu estado de incapacidade e de dependência de uma terceira pessoa para o resto da vida, bem como o de que iria passar o resto da sua vida em consultas, médicos, tratamentos e cirurgias.

28ª - Todos estes factos que resultaram provados, apontam para um dano não patrimonial muito grave e considerável, cuja equidade impõe que seja

indemnizado em montante não inferior a € 100 000,00.

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29ª - Ao decidir de forma diversa, o tribunal “a quo” fez errada interpretação e aplicação do direito, designadamente dos artº.s 494º, 496º, 562º, 564º, nº 2 do Cód. Civil.

30ª - Pelo que deverá a douta sentença recorrida ser nessa parte revogada, fixando-se o valor da indemnização pelo dano não patrimonial sofrido pelo AA em quantia não inferior a €100 000,00 (cem mil euros).

No entanto, e sem prescindir, sempre se dirá que

31ª - O tribunal “a quo”, ao fixar a quantia de € 56 000,00, para indemnização dos danos não patrimoniais, laborou num erro de cálculo.

32ª - Com efeito, ao fixar o valor final indemnizatório, decorrente da aplicação da percentagem de 70% de responsabilidade que entendeu atribuir ao

condutor do veículo segurado na Recorrida seguradora, o tribunal “a quo” não aplicou essa percentagem sobre o valor global que havia sido reputado como justo pelo tribunal de 1ª instância, mas antes sobre o produto de 75% desse valor - € 80 000,00 - que havia sido fixado por este tribunal de 1ª instância em consequência da percentagem de culpa então entendida como justa (75% para o condutor do veículo seguro na Ré; 25% para o AA).

33ª - Nessa medida, a indemnização agora arbitrada não consubstancia 70%

de 100% do valor reputado como justo pelo tribunal de 1ª instância, mas sim 70% de 75% desse valor.

34ª - Trata-se, manifestamente, de um erro de cálculo do tribunal “a quo”.

35ª – Pelo que, se ao contrário do que se espera, o tribunal “a quo” não

entender que a culpa na eclosão do sinistro se ficou única e exclusivamente a dever ao condutor do veículo segurado na Recorrida e que o condutor

segurado na Recorrida tem uma percentagem de apenas 70% de culpa, deverá a indemnização por danos não patrimoniais ser calculada aplicando esses 70%

sobre 100% do valor indemnizatório considerado pelo tribunal de 1ª instância e não sobre os 75% desse valor.

Rematam no sentido de, no provimento do recurso, ser a decisão recorrida revogada e, em sua substituição, proferido Acórdão em conformidade com as conclusões supra formuladas.

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11. A Ré apresentou, por sua vez, resposta, a qual ultimou no sentido de não dever ser admitida a revista, quanto às questões relacionadas com a existência de uma presunção de culpa [por parte do condutor do veículo automóvel], bem como quanto aos valores das indemnizações destinadas a ressarcir o dano não patrimonial e patrimonial.

Mais interpôs recurso subordinado, findando-o com as seguintes conclusões:

A. O condutor do veículo seguro na Ré, não conduzia em excesso de velocidade, seja porque não ultrapassava o limite absoluto de velocidade permitido no local do acidente,

B. seja porque não imprimia ao veículo que conduzia, velocidade que o impedisse de realizar qualquer manobra cuja necessidade fosse de prever.

C. O condutor do veículo seguro na Ré não violou a regra estradai da

"distancia de segurança".

D. O condutor do veículo seguro na Ré, não violou qualquer regra do Código da Estrada,

E. nem deu causa ao embate entre ambos os veículos interveniente no acidente.

F. Causa única e exclusiva do embate, foi a súbita e imprevisível (para o condutor do veículo do veículo seguro na Ré!) redução da velocidade do veículo conduzido pelo infausto pai dos autores,

G. decorrente da circunstância de se ter determinado a realizar uma viagem, sem se ter certificado previamente de que o seu veículo estava abastecido com combustível suficiente para a realizar.

H. Tal redução de velocidade, violou o disposto no artigo 24.° (Princípios gerais) n° 2 do Código da Estrada, segundo o qual, "Salvo em caso de perigo iminente, o condutor não deve diminuir subitamente a velocidade do veículo sem previamente se certificar de que daí não resulta perigo para os outros utentes da via, nomeadamente para os condutores dos veículos que o sigam."

I. Já a iniciativa de iniciar a viagem sem ter combustível suficiente, e, pior do que isso, iniciar uma ultrapassagem sem ter combustível suficiente, constituí violação grosseria do disposto no artigo 11° n° 2 do Código da Estrada.

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12. Os AA., por sua vez, apresentaram resposta a este recurso subordinado atravessado pela Ré, concluindo a pugnar no sentido de dever ser negado provimento ao dito recurso e, pelo contrário, dado provimento ao recurso de revista por eles interposto, de conformidade com as conclusões nessa sede formuladas.

13. Tomando posição sobre a nulidade do Acórdão recorrido, invocada nessa reproduzida alegação de revista pelos AA./Recorrentes, com fundamento em não haver sido apreciado em tal aresto o recurso subordinado por eles

interposto da sentença, a Relação prolatou ainda novo Acórdão – fls. 1315 e ss.‑, nos termos do qual, decidindo não ter ocorrido essa alegada omissão de pronúncia, mas mero lapso de escrita na parte decisória respectiva, no que toca à referência à apelação, entrou de corrigir oficiosamente tal lapso, no sentido de dever passar a constar desse segmento “Julgam-se parcialmente procedentes ambas as apelações e altera-se a decisão recorrida….”, em sintonia ‑ mais se acrescentou/explicitou – “com a restante parte decisória, que condena em custas ambas as partes pelas apelações interpostas.”

14. Nada a tal opondo, cumpre decidir.

II - FACTOS

A] - Foram definitivamente CONSIDERADOS PROVADOS os seguintes factos:

1. AA nasceu no dia 23.12.1946, conforme documento de fls. 250 e cujo teor se dá por reproduzido para todos os legais e devidos efeitos.

2. E faleceu no dia 16.10.2012, no estado de divorciado de JJ, tendo deixado como descendentes os autores CC, DD e EE, conforme documentos de fls. 796 a 804 e 808 a 812 e cujo teor se dá por reproduzido para todos os legais e devidos efeitos

3. No dia 25.12.2006, pelas 19,40 horas, ocorreu um embate na A28, sobre o Tabuleiro da Ponte …, ao quilómetro nº 68,50, na freguesia de …, comarca de

…, em que foram intervenientes: o motociclo de matrícula ...-...-RS, pertencente e conduzido pelo autor AA, e o veículo automóvel ligeiro de passageiros de matrícula ...-...-TF, pertencente a HH, e que, na altura, era conduzido por II.

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4. A faixa de rodagem da A28, no local do embate configura um traçado rectilíneo, com um comprimento superior a três (03,00) quilómetros, apresenta duas (02,00) hemi-faixas de rodagem distintas, uma delas, destinada ao trânsito de veículos automóveis que se processa no sentido Norte-Sul, ou seja, Viana do Castelo-Porto e a outra, destinada ao trânsito de veículos automóveis que se processa no sentido inverso, Sul-Norte, ou seja, Porto-Viana do Castelo.

5. A dividir essas duas (02,00) hemi-faixas de rodagem a A28 apresentava, à data da ocorrência do embate, como apresenta na presente data, um

separador central, protegido a perfil de aço, com uma altura de cerca de 01,50 metros.

6. A hemi-faixa de rodagem, destinada ao trânsito de veículos automóveis que se processa no sentido Norte-Sul, ou seja, Viana do Castelo-Porto, tem uma largura de 07,40 metros, que é subdivida em duas (02,00) semi-faixas de rodagem distintas, separadas, entre si, através de uma linha, pintada a cor branca, com soluções de descontinuidade: linha descontínua - marca m2.

7. O seu piso era, como é, pavimentado a asfalto e encontrava-se em bom estado de conservação.

8. O tempo estava bom e seco, sem chuva, sem nevoeiro ou neblina.

9. Pelas suas duas (02,00) margens, a hemi-faixa de rodagem da A28,

destinada ao trânsito de veículos automóveis, que desenvolvem a sua marcha, no sentido Norte-Sul, ou seja, …-…, apresentava, como apresenta, bermas, também, pavimentadas a asfalto, cujo piso se encontrava, também, limpo, seco e em bom estado de conservação.

10. A margem situada do lado direito (lado exterior), tem uma largura de 03,30 metros, tendo em conta o sentido Norte-Sul, ou seja, …-…, e a situada do lado esquerdo (lado interior junto ao separador central), tem uma largura de 01,60 metros, tendo em conta o mesmo indicado sentido de marcha.

11. O pavimento asfáltico dessas duas (02,00) bermas situava-se e situa-se no mesmo plano que o plano configurado pelo pavimento asfáltico da hemi-faixa de rodagem da A28, destinada ao trânsito de veículos automóveis que

desenvolvem a sua marcha no sentido Norte-Sul, ou seja, … – ….

12. Na altura da ocorrência do embate era noite.

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13. No preciso local do embate e para quem circulava pela A28 - sobre o Tabuleiro da Ponte … - existiam e existem, nas duas (02,00) margens da referida via, de forma constante e ininterrupta, postes verticais, com candeeiros da iluminação pública.

14. Os candeeiros de iluminação pública existentes sobre o Tabuleiro da Ponte

… encontram-se a uma distância não superior a trinta metros uns dos outros.

15. Os quais, na altura do embate, se encontravam todos ligados e acesos.

16. E os seus respectivos fachos luminosos incidiam, de forma permanente, constante e ininterrupta, sobre a faixa de rodagem da A28 - Tabuleiro da Ponte

… - e sobre as suas respectivas bermas.

17. Permitindo ver ao longo de toda a faixa de rodagem da referida via e das respectivas bermas.

18. Para quem se encontrasse no preciso local da deflagração do acidente, conseguia avistar a hemi-faixa de rodagem da referida via - A28 -, destinada ao trânsito de veículos automóveis que desenvolvem a sua marcha, no sentido Norte-Sul, ou seja, … - …, em toda a sua largura, quer no sentido Norte - … -, quer no sentido Sul - … -, ao longo de uma distância não inferior a cem

metros.

19. A chapa da matrícula do motociclo de matrícula ...-...-RS era de cor branca e estava pintada com tinta reflectorizante.

20. Os caracteres correspondentes à matrícula do referido motociclo RS estavam pintados, a cor preta, sobre a superfície branca da referida chapa de matrícula.

21. O motociclo de matrícula RS estava equipado, na traseira, com farolins reflectores e com farolins alimentados a energia eléctrica, proveniente da bateria do motociclo de matrícula ...-...-RS, de cor vermelha.

22. O autor AA levava, colocado, na cabeça, o capacete de protecção o qual era de cor preta e estava dotado de substância reflectorizante, também, de cor vermelha, na sua retaguarda.

23. O motociclo era preto e o seu condutor estava vestido de preto.

24. Nas circunstâncias de tempo e lugar em que ocorreu o embate, o autor AA conduzia o motociclo de matrícula ...-...-RS, pela semi-faixa situada mais à

(15)

esquerda da hemi-faixa de rodagem da A28, destinada ao trânsito de veículos automóveis, que desenvolvem a sua marcha, no sentido Norte-Sul, ou seja, … -

….

25. Nas mesmas circunstâncias de tempo e lugar, o veículo automóvel ligeiro de passageiros de matrícula ...-...-TF transitava, também, pela A28,

desenvolvendo a sua marcha, no sentido Norte-Sul, ou seja, … - ….

26. Circulava, através da semi-faixa situada mais à esquerda da hemi-faixa de rodagem da A28, destinada ao trânsito de veículos automóveis, que

desenvolvem a sua marcha, no sentido Norte-Sul, ou seja, … - ….

27. O motociclo de matrícula RS seguia animado de uma velocidade não concretamente apurada.

28. A dada altura, a gasolina do depósito (normal) de combustível do

motociclo RS aproximava-se do seu termo, tendo o autor mudado a posição do respectivo comutador, para a posição de reserva.

29. O que fez com o que o motociclo de matrícula ...-...-RS tenha diminuído a velocidade de que seguia animado, vindo a ser embatido pelo veículo seguro na ré.

30. O veículo TF circulava animado de uma velocidade não inferior a cento e dez quilómetros por hora.

31. Quando o condutor do veículo TF se apercebeu da presença do motociclo à sua frente, na sua semi-faixa de rodagem, próximo do eixo da via, travou a fundo e guinou para a sua esquerda.

32. Indo embater com a parte frontal direita e a parte lateral direita do veículo TF na parte traseira esquerda e lateral esquerda, de raspão, do motociclo RS.

33. O veículo TF deixou rastos de travagem marcados na via, de forma

enviesada, do lado direito para o lado esquerdo, atento o sentido Norte-Sul, ou seja, … - ….

34. E localizados totalmente sobre a metade situada mais à esquerda da hemi- faixa de rodagem da A28, atento o referido sentido de trânsito.

35. Os referidos rastos de travagem terminavam sobre a berma, do lado esquerdo, da metade situada mais à esquerda da hemi-faixa de rodagem da A28, destinada ao trânsito de veículos automóveis, que desenvolvem a sua

(16)

marcha, no sentido Norte-Sul, ou seja, … - …, junto ao perfil metálico, que protege o separador central da referida via A28.

36. Esses rastos de travagem apresentavam um comprimento, da roda do lado esquerdo de 79,30 metros, sendo de 16,50 metros antes do embate e de 62,80 metros após o embate, e do pneu da frente do lado direito de 46,30 metros após o embate.

37. Na sequência do embate, o veículo automóvel ligeiro de passageiros de matrícula ...-...-TF imobilizou-se contra o referido perfil metálico, que protege o separador central da referida Via A28, onde ficou, parado e imobilizado, no termo do lado Sul - do lado do Porto - da metade situada mais à esquerda da hemi-faixa de rodagem da A28, destinada ao trânsito de veículos automóveis, que desenvolvem a sua marcha, no sentido Norte-Sul, ou seja, ... - ... .

38. O embate entre o veículo automóvel TF e o motociclo RS, ocorreu sobre a metade situada mais à esquerda da hemi-faixa de rodagem da A28, destinada ao trânsito de veículos automóveis, que desenvolvem a sua marcha, no sentido Norte-Sul, ou seja, … - ….

39. Após as respectivas averiguações, a ré assumiu parcialmente a

responsabilidade pelo pagamento da indemnização ao autor e, na sequência dessa sua assunção da culpa e da responsabilidade, tendo pago ao autor AA a quantia de 5.000,00 € a título de adiantamento por conta da respectiva

indemnização.

40. Em consequência do embate, o motociclo RS sofreu danos, a demandar, para a sua reparação, serviços de mão-de-obra de mecânico, chapeiro e pintor, bem como a substituição de peças várias, nomeadamente 1 guiador, 1 punho esquerdo, 1 taco do punho, 1 manete esquerda, 1 pedal de mudanças, 1 pousa- pés esquerdo, 1 descanso, 1 tampa do motor, 1 cardan, 1 fitas do depósito de combustível, 1 tirante das mudanças, 1 quadro, 1 farolim pisca de trás

esquerdo, 1 suporte dos farolins piscas, 1 encosto, 1 par de malas, 1 suporte da malas, 1 pára-brisas, 1 válvula do descanso, 1 depósito de combustível, 1 guarda-lamas de trás, a qual foi orçamentada no valor global de 5.196,63 €, sem IVA.

41. O motociclo RS não foi ainda reparado.

42. Depois de reparado, o motociclo vai ficar desvalorizado no respectivo valor de mercado em quantia não inferior a € 1.500,00.

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43. O autor AA havia adquirido o motociclo RS, de marca Yamaha, modelo VM02 XVS 650, em 2005, pelo preço de € 12.000,00 e, à data do embate, o mesmo encontrava-se em perfeito estado de conservação.

44. Até à data do embate, o autor AA utilizava o motociclo de matrícula RS para as suas deslocações de lazer e, por vezes, para as suas deslocações de trabalho.

45. O referido autor participava antes e à data do sinistro, em passeios solitários e organizados por outros colegas e amigos, de motociclo e em concentrações de motociclistas, bem como nas festas e convívios, sempre presentes nesses passeios e concentrações de motociclistas.

46. O que lhe proporcionava a possibilidade de ocupar os seus tempos livres, numa actividade que lhe proporcionava enorme prazer e lhe emprestava a possibilidade de conviver com os seus amigos e companheiros do

motociclismo, de manter e de cultivar as suas antigas amizades e de obter e de cultivar novas amizades.

47. O autor AA, devido às lesões que sofreu em consequência do embate, necessitava de um veículo automóvel adaptado, não tendo podido conduzir qualquer veículo, nomeadamente, qualquer motociclo, tendo deixado de participar em passeios, festas e concentrações de motociclistas e de conviver com os amigos e companheiros do motociclismo, o que lhe causou tristeza, desgosto e angústia.

48. Desde o embate, o referido autor realizava as suas deslocações em veículo automóvel próprio ou de terceiro, sempre conduzido por terceira pessoa.

49. O autor AA sofreu um grande desgosto ao ver o seu motociclo danificado.

50. Em consequência do embate, ficaram danificados e inutilizados as

seguintes peças de vestuários e objectos de uso pessoal do autor AA: um par de calças, no valor de € 75,00; um par de luvas de motociclista, no valor de € 75,00; um par de óculos de motociclista, no valor de € 100,00 e 1 capacete de protecção de motociclista, no valor de € 250,00.

51. Em consequência do embate o autor AA sofreu lesão traumática da perna esquerda, fractura da perna esquerda, esfacelo da perna esquerda, ferida grave na perna esquerda, traumatismo da coluna lombar, dorsal e cervical, escoriações e hematomas espalhados pelo corpo todo.

(18)

52. Na sequência, foi transportado, de Ambulância, para o Centro Hospitalar do …, EPE, de …, onde lhe foram prestados os primeiros socorros, no

respectivo Serviço de Urgência.

53. Foram-lhe, aí, efectuadas lavagens cirúrgicas e desinfecções às escoriações e ao esfacelo da perna esquerda.

54. Foi internado, de imediato, no Serviço de Ortopedia, do Centro Hospitalar do …, EPE, de …, onde fez análises clínicas.

55. E foi sujeito a uma intervenção cirúrgica, com anestesia, consubstanciada na amputação da perna esquerda, pela junção do seu terço médio com o

superior - proximal, em nível fora da zona de eleição.

56. O autor AA manteve-se, internado, no Centro Hospitalar do …, EPE, de …, durante um período de tempo de dois meses e meio.

57. Durante o referido período de tempo de internamento, no Centro Hospitalar do …, EPE, de …, o autor AA manteve-se retido no leito, onde

tomou todas as suas refeições diárias, que lhe eram servidas por uma terceira pessoa.

58. Nos últimos dias de internamento, o autor AA utilizava, também, uma cadeira de rodas, para pequenas locomoções, no interior das instalações do Serviço de Ortopedia do Centro Hospitalar do …, EPE, de ….

59. O autor AA foi medicado com analgésicos, anti-inflamatórios e antibióticos e foi-lhe ministrado soro, pela via endovenosa.

60. Durante o referido período de internamento, no Centro Hospitalar do …, EPE, de …, o referido autor foi submetido a mais uma intervenção cirúrgica à região do coto de amputação para extracção de tecidos "mortos" e para

reparação do coto de amputação, para receber uma prótese e para enxerto de pele.

61. Todas as intervenções cirúrgicas foram precedidas de análises clínicas e de anestesias gerais.

62. O autor AA, porém, apresentava grave dificuldade de recepção e de conservação da prótese, devido a ulcerações do coto de amputação, por falta de almofada cutânea.

(19)

63. Durante o referido período de tempo de internamento, de dois meses e meio, o autor AA frequentou tratamento de fisioterapia, no Centro Hospitalar do …, EPE, de … ao coto de amputação e à articulação do joelho esquerdo.

64. No dia 12.03,2007, o aludido autor obteve alta hospitalar e regressou à sua casa de residência, onde se manteve, doente, combalido e retido no leito, ao longo de um período de tempo de dois meses.

65. Nesse período que se manteve acamado, o autor AA tomou todas as suas refeições, no leito que foram servidas por uma terceira pessoa, de que não pôde prescindir.

66. Durante esse período de tempo de acamamento, na sua casa de habitação, o autor AA foi assistido por duas enfermeiras do Centro de Saúde de …, para lavagens, desinfecção, curativos e mudanças de pensos, na região do coto de amputação e a feridas na sua perna esquerda que não cediam aos tratamentos e que ameaçavam tornar-se crónicas.

67. Ao fim desse período de tempo de acamamento, de dois meses, o autor AA passou a levantar da cama e a dar alguns "passeios" no interior da sua casa de habitação e no respectivo logradouro.

68. Como auxiliar de locomoção, o autor AA utilizava um par de canadianas e, por vezes, a cadeira de rodas.

69. A partir do mês Maio de 2007, o autor AA passou a frequentar o Hospital de …, na cidade do …, por conta e expensas da ré.

70. O autor AA dirigiu-se ao Hospital de …, da cidade do …, por cerca de cinquenta vezes.

71. Onde lhe foram efectuadas lavagens, desinfecções e curativos ao coto de amputação e à ferida da perna esquerda e à aplicação e mudança de pensos.

72. O autor AA foi operado, mais uma vez, no Hospital de …, no …, ao coto de amputação - cirurgia plástica.

73. A ferida da perna esquerda não cicatrizava, mantendo-se em carne viva.

74. Em 13.11.2008, os Serviços Clínicos da ré Companhia de Seguros "BB Companhia de Seguros, S.A.", reabriram o seu processo, tendo o autor AA continuado em tratamento, no Hospital de …, da cidade do …, por conta e a expensas da ré.

(20)

75. O autor AA aplicou uma prótese no membro inferior esquerdo amputado, na "Ortopedia …", na cidade do …, por conta e a expensas da ré.

76. Desde essa data e até à sua morte foram-lhe substituídos três encaixes da prótese, por conta e a expensas da ré.

77. No dia 19.01.2009, os Serviços Clínicos da ré deram alta médica, ao autor AA.

78. Ao mesmo tempo que frequentava os Serviços Clínicos da "Ortopedia …"

na cidade do …, o autor AA frequentou, também, o Centro de Saúde e foi acompanhado pela Consulta Externa de Ortopedia e de Fisiatria, do Centro Hospitalar do …, EPE, de ….

79. No momento do embate e nos instantes que o precederam, o autor AA sofreu enorme susto e receou pela própria vida.

80. Em consequência do embate, o autor AA sofreu os efeitos maléficos

inerentes aos medicamentos e às anestesias gerais que lhe foram ministradas, as dores e os incómodos inerentes às intervenções cirúrgicas, a que foi

submetido e aos períodos pós-operatórios, os incómodos inerentes aos períodos de acamamento e à necessidade de permanecer e de ser deslocar, numa cadeira de rodas e ao uso de um par de canadianas, como auxiliar de locomoção e as dores e os incómodos inerentes ao uso de uma prótese, no seu membro inferior esquerdo amputado até à data da sua morte.

81. O uso de prótese causava-lhe constante irritação do coto de amputação, feridas e infecções, necessitando de se submeter frequentemente a

desinfecções, curativos e pensos.

82. Em consequência do embate e das lesões e sequelas sofridas, o autor AA apresentava dificuldades na marcha, mesmo com o auxilio de locomoção.

83. E afectação psicológica persistente, com tendência para o isolamento, passando grande parte do tempo deitado e no leito.

84. Aumentou de peso, em mais de dez quilogramas.

85. Deixou de poder dançar.

86. E teve que abandonar, para toda a sua vida, as actividades lúdicas que exercia, com regularidade, nomeadamente os passeios de motociclo, o que,

(21)

para ele, constituía, antes do embate dos presentes autos, um amplo espaço de diversão e realização pessoal.

87. Os factos supra descritos causavam-lhe permanente, profundo, intenso e inultrapassável desgosto.

88. O autor AA atingiu a sua consolidação médico-legal, no dia 19.01.2009.

89. Em consequência do embate e das lesões sofridas o autor AA apresentava como sequelas: amputação dos 2/3 inferiores da perna esquerda.

90. As lesões sofridas e as sequelas delas resultantes determinaram, para o autor AA um défice funcional temporário total de 78 dias, um défice funcional temporário parcial de 679 e um período de repercussão temporária na

actividade profissional total de 392 dias.

91. Sofreu um "Quantum Doloris" de grau 5, numa escala de 0 a 7.

92. Sofreu um "Dano Estético" de grau 4, numa escala de 0 a 7.

93. E ficou a padecer de um défice permanente da integridade físico-psíquica de 30 pontos, sendo as sequelas impeditivas do exercício da actividade

profissional habitual, mas compatíveis com outras profissões da área da sua preparação técnico profissional.

94. À data do embate, o autor AA estava reformado, mas ainda prestava com carácter de regularidade serviços de …, por conta da empresa KK, Lda.

95. E auferia um rendimento desse seu trabalho, no valor de cerca de € 800,00 mensais.

96. Desde a data da ocorrência do embate até à data da sua morte, o autor AA nunca mais trabalhou, tendo deixado de auferir o aludido rendimento.

97. Em consequência do embate, das lesões sofridas e das sequelas delas resultantes, o autor AA suportou despesas com consultas médicas para obtenção do relatório médico junto aos autos, no montante de € 400,00.

98. Suportou o custo dos medicamentos, no montante € 281,77.

99. Com taxas moderadoras suportou o custo total de € 654,30.

100. Com deslocações de táxi pagou, o montante total de € 614,15.

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101. Em combustível para deslocações em veículo próprio gastou a quantia total de € 250,00.

102. Em parques de estacionamento pagou o montante de € 4,30.

103. Em refeições, em restaurantes pagou o montante total de € 591,00.

104. Suportou o custo em deslocações em ambulância dos Bombeiros, no montante de € 120,00.

105. Em fotocópias (142,88 €), custo de 1 certidão de nascimento (16,50 €);

custo de 2 certidões da Conservatória Automóvel (34,00 €); custo da

participação de acidente de viação - GNR (0,16 €) e custo de 1 publicação, no Jornal … (69,94 €), no montante total de € 135,48.

106. […][3]

107. […][4]

108. A casa de habitação do autor AA tinha escadas e divisões exíguas, não estando preparada uma pessoa com limitações na sua mobilidade, o que lhe causou incómodos e transtornos, nomeadamente, quando necessitava de usar a cadeira de rodas.

109. À data do embate, a responsabilidade civil por danos causados a terceiros pelo veículo automóvel ligeiro de matrícula TF estava transferida para a ré seguradora, através do contrato de seguro, titulado pela apólice nº 004...”.

B] - E foram definitivamente dados como NÃO PROVADOS os seguintes:

a) - no momento da ocorrência do embate, o condutor do veículo TF conduzia- o à ordem e por conta de HH e seguia por um itinerário que a referida HH lhe havia, previamente, determinado;

b) - o capacete do condutor do motociclo era vermelho;

c) - na altura do embate, os farolins do motociclo estavam acesos;

d) - o motociclo circulava com os piscas em funcionamento;

e) - o autor AA e o motociclo eram visíveis a uma distância superior a 500 metros;

(23)

f) - após o autor AA ter mudado a posição do comutador, o motociclo continuou a circular por forma a desenvolver uma trajectória rectilínea e inalterável, sendo ultrapassado por diversos veículos;

g) - o condutor do veículo TF só travou após o embate;

h) - o veículo TF circulava com as luzes ligadas na posição de médios e ocupava uma posição equidistante da berma do lado esquerda e da linha divisória da faixa de rodagem situada mais à sua esquerda;

i) - quando o condutor do veículo TF se apercebeu da presença do motociclo, este estava completamente imobilizado e sem qualquer órgão de iluminação ligado;

j) - o condutor do veículo TF só se apercebeu da presença do motociclo a 5 ou 10 metros dele;

l) - o autor AA interpelou a ré para que a mesma assumisse a responsabilidade da reparação do motociclo;

m) - o custo da mão de obra e das peças de substituição para reparação do motociclo sofreram agravamento dos respectivos preços;

n) - o autor AA utilizava o motociclo RS para a satisfação de todas as suas necessidades de deslocação;

o) - após o embate o autor AA passou a utilizar veículos mais dispendiosos;

p) - o autor AA, em consequência do embate, ficou com varizes esofágicas de grau III;

q) - o autor AA vá ter necessidade de recorrer a consultas, intervenções cirúrgicas, anestesias gerais, de comprar e de ingerir medicamentos vários e de sofrer um ou mais períodos de tempo de internamento hospitalar e de pagar os preços relativos aos respectivos custos, de substituir próteses, de adaptar a casa de habitação, etc”.

III – DIREITO

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1. Consoante claramente emerge do disposto nos arts. 635.º, n.º 4, e 639.º, n.ºs 1 e 2, ambos do Novo Cód. Proc. Civil[5], o âmbito do recurso é fixado em função das conclusões da alegação do recorrente, circunscrevendo-se,

exceptuadas as de conhecimento oficioso, às questões aí equacionadas, sendo certo que o conhecimento e solução deferidos a uma[s] poderá tornar

prejudicada a apreciação de outra[s].

De tal sorte, e tendo em mente esse conjunto de finais proposições com que os Recorrentes ultimam as respectivas alegações, perfilam-se aqui a dilucidar as questões seguintes:

- Nulidade do Acórdão recorrido por omissão de pronúncia;

- Questão prévia da parcial inadmissibilidade do recurso de revista independente;

- Responsabilidade pela produção do acidente; e - Montante dos danos patrimoniais do sinistrado

Apreciando:

I – Nulidade do Acórdão por omissão de pronúncia

1. Como vimos, os AA. iniciam o seu independente recurso arguindo a nulidade do Acórdão recorrido, nos termos do n.º 1, al. d), do art. 615.º, do CPC, por isso que não teria conhecido do recurso subordinado por eles interposto da sentença apelada.

Nesse específico recurso, os AA. defenderam – cfr. fls. 1125 e ss.‑, que o Tribunal “a quo” deveria ter considerado o condutor do veículo seguro na Ré único culpado no acidente, não só por isso que a factualidade provada tal evidenciava, que o mesmo é dizer, como havendo ele incorrido em várias infracções estradais, mas também na medida em que exercendo o mesmo tal condução numa relação de comitente-comissário com a proprietária do dito veículo, não haver a Ré logrado ilidir a presunção de culpa daí resultante. E mais defenderam ainda, ser a indemnização fixada para ressarcimento do dano não patrimonial sofrido pela vítima manifestamente insuficiente, devendo o respectivo montante ser fixado em quantitativo não inferir a € 100.000,00.

(25)

1.1. Conforme é sabido, o vício ora em presença, previsto no segmento inicial da acima referenciada al. d), ocorre – conforme expressão literal dessa norma -, “quando o juiz deixe de pronunciar-se sobre questões que devesse apreciar”.

Este vício, usualmente denominado “omissão de pronúncia” ou “omissão de conhecimento”, resulta – como é identicamente sabido ‑ da infracção pelo juiz do dever contido no nº 2, do art. 608º, do NCPC, qual seja, o de o mesmo resolver todas as questões que as partes tenham submetido à sua apreciação, cuja decisão não esteja prejudicada pela solução dada a outras.

Como expende o Prof. Alberto dos Reis [6], para obviar a esta nulidade ou vício processual, não se impõe ao juiz que aprecie todas as razões ou

argumentos que as partes aduzem para fazer vingar as sua pretensões; o que importa é que decida a questão posta.

1.2. Ora, e tal como já antes se narrou, em novo Acórdão, a Relação, conhecendo da nulidade em apreço, de conformidade com o estatuído nos arts. 617.º, n.º 1, 641.º, n.º 1 e 666.º, n.º 2, ambos do CPC, julgou inverificada a deficiência a que nos vimos atendo.

Para o efeito, nesse douto aresto, a Relação, começando por equacionar a questão em causa – “[alegam para tanto [os Recorrentes] que não foi

apreciado no acórdão proferido o recurso subordinado por eles interposto”, logo acrescentou:

- “Mas sem razão, como é bom de ver, pela leitura do acórdão proferido.”

E prosseguindo:

- “Como consta, desde logo, do relatório do mesmo acórdão: “Os AA./

habilitados, CC e outros, vieram apresentar contra-alegações e interpor Recurso Subordinado, apresentando alegações e formulando as seguintes conclusões (…)” (sublinhado nosso).

E na fundamentação jurídica do acórdão, na apreciação da responsabilidade dos condutores na produção do acidente, apreciam-se as questões suscitadas pelos recorrentes no recurso subordinado, como expressamente do mesmo consta:

“Da responsabilidade pela produção do acidente:

(26)

Pretende a ré recorrente que com base nos factos provados – alterada a matéria de facto impugnada – se considere que a culpa na produção do

acidente foi exclusivamente do condutor do motociclo, o qual se imobilizou no meio da via, o que levou o condutor do automóvel seguro na ré a embater-lhe e a causar-lhe os danos verificados.

Por seu lado, pretendem os AA/habilitados, filhos do falecido AA – no recurso subordinado que apresentaram – que se atribua a culpa,

exclusivamente, ao condutor da viatura segurada, o qual deveria imprimir à sua viatura uma velocidade adequada, de modo a poder parar no espaço livre e visível à sua frente, de modo a não embater no motociclo.” (sublinhado nosso).

Apreciada que foi a responsabilidade se ambos os condutores, concluiu-se, a final, que houve culpas concorrenciais de ambos os condutores, (fixando-se em 70% a culpa do veículo seguro na ré e em 30% a culpa do motociclo) e, em consequência, alterou-se a decisão recorrida em conformidade e condenou-se ambas as partes nas respectivas custas.”

Após o que se findou:¨”Concluímos do exposto que não ocorreu a alegada nulidade, por omissão de pronúncia:”

Ainda, e por último – consoante antes noticiado ‑, mais se adscrevendo:

- “O que poderia ser apontado ao acórdão proferido (e não foi) seria mero lapso de escrita na parte decisória respectiva, no que toca à referência à apelação”; sem mais, passou-se a corrigir oficiosamente tal lapso, no sentido de dever passar a constar desse segmento

-“Julgam-se parcialmente procedentes ambas as apelações e altera-se a decisão recorrida….,” ‑ mais se acrescentando “em sintonia, aliás, com a restante parte decisória, que condena em custas ambas as partes pelas apelações interpostas.”

1. 3. Frente a esta explanação, e sendo os excertos nela transcritos do Acórdão recorrido inteiramente conformes com a realidade, não restam

dúvidas que, como nessa mesma explanação se consigna, ao invés de nulidade por falta de pronúncia quanto a tal questão da responsabilidade pela eclosão do sinistro, o que ocorreu foi mero lapso omissivo na parte estatuitória final do dito Acórdão, lapso que, em nosso modesto entender, com esse oficioso

(27)

providenciamento, devida e cabalmente se corrigiu e colmatou.

No que a essa mencionada questão concerne, pois, a ora invocada nulidade surge de ter como inverificada.

1.4. Porém, e como se referiu, nesse recurso subordinado os AA. puseram em crise a sentença apelada, não só nesse aspecto da definição da

responsabilidade pelo acidente, mas também no tocante à quantificação da indemnização pelo dano não patrimonial sofrido pelo seu malogrado

progenitor, e condutor do motociclo abalroado.

E no que tange a esta suscitada questão, esse posterior Acórdão proferido pela Conferência nenhum pronunciamento, como visto, emitiu.

Ora – ocorre perguntar -, será que tal arguida nulidade, quanto a essa questão, efectivamente se verificou no Acórdão recorrido e, assim, e uma vez que no subsequente aresto nada foi a esse respeito dito, se impõe a remessa dos autos à Relação, nos termos e para os efeitos mencionados, seja no n.º 5, do art 617.º, seja do n.º 1, do art. 684.º, ambos do NCPC?

Salvo o muito respeito, a resposta surge negativa.

1.4.1. Na verdade, e tal como a Ré bem obtempera na sua contraminuta, a questão do valor da indemnização a atribuir ao sinistrado motociclista a título de dano não patrimonial foi, a par de outras, suscitada – obviamente em

termos contrapostos - , tanto pela mesma Ré no seu recurso independente, como pelos AA. no recurso subordinado.

E assim sendo, tal questão – presentes tais naturalmente diferentes enfoques -, foi integralmente enfrentada e decidida no Acórdão recorrido, como resulta do respectivo capítulo – cfr. fls. 1195 e ss. ‑ justamente intitulado “Dos danos não patrimoniais”.

Com efeito, e plasmado este título, logo de seguida se consignou:

- “Insurge-se também a recorrente seguradora quanto á indemnização

atribuída ao falecido AA a título de danos não patrimoniais – de € 80.000,00 -, pugnando pela sua redução para € 50.000,00, e insurgem-se os recorrentes AA/habilitados contra a mesma decisão, pugnando pelo seu aumento para € 100.000.00.”

(28)

De imediato se acrescentando:

“Mas não encontramos motivo para proceder à alteração da quantia fixada ao A. a título de danos não patrimoniais, aderindo, nessa parte, ao que consta da decisão recorrida, que fez, em nossa opinião, uma correta avaliação da situação factual apurada nos autos e a uma boa aplicação aos factos das normas jurídicas envolvidas.”

E passando a justificar este [adiantado] pronunciamento, chamou-se à colação e ponderou-se todo o conjunto de factos provados relevantes para a determinação do “quantum” desses danos, nesse seguimento se afirmando:

- “Assim, considerou-se equitativa, razoável e ajustada à situação

concreta, no confronto com os casos com alguma similitude versados em diversas decisões dos tribunais superiores, fixar a compensação por danos não patrimoniais (sofridos pela vítima desde o acidente até ao falecimento) na quantia de € 80.000,00.”; para rematar:

- “Ora, como se disse, nenhum reparo temos a fazer à decisão recorrida, que fez, em nosso entender uma correta apreciação dos factos provados e uma correta integração dos mesmos às normas legais aplicáveis, pelo que consideramos ser de manter a indemnização nela arbitrada.

Improcedem, nesta parte, as conclusões de recurso de ambas as partes.”

1.4.2. Tendo em conta todo este conteúdo participante do Acórdão recorrido, uma vez mais não vemos como não considerar que esta remanescente matéria integrante do recurso subordinado dos AA. – fixação da indemnização pelos danos não patrimoniais da vítima em montantes não inferiora € 100.000,00 – foi efectivamente versada nesse aresto, e objecto da decisão tida por ajustada.

Como assim, apenas há que, tal como no tocante a essoutra questão plasmada no recurso subordinado dos AA., considerar também ela abrangida por esse lapso omissivo perpetrado no decisório final do Acórdão ora sob censura, lapso que, mercê dessa apontada oficiosa correcção operada em sede do

subsequente aresto se tem, uma vez mais, de ter como devidamente suprido e, portanto, para os devidos efeitos, totalmente sanado.

(29)

1.5. Por tudo o exposto, e em suma, não enferma o Acórdão recorrido na

nulidade a que nos temos vindo a ater, pelo que a vertente objecção recursória naufraga.

II - Questão prévia da parcial inadmissibilidade do recurso de revista independente

1. Neste quadro, sustenta a Ré que, tal como se acaba de ver, os AA., nas suas alegações de recurso subordinado da sentença, vieram pugnar pela subida para € 100.000,00 da indemnização destinada a ressarcir o dano não

patrimonial da vítima, indemnização essa que a dita sentença, como também mencionado, havia fixado em € 80.000,00.

Consoante também se teve o ensejo de constatar, mais diz, no Acórdão recorrido entendeu-se manter esse valor, fixado na 1.ª Instância, que se reputou justo e adequado.

Por outro lado – prossegue a Ré ‑, vê-se da p. i. que o primitivo A. [o

acidentado motociclista, e pai dos agora AA.] sustentou a condenação da Ré, além do mais, na circunstância de se dever presumir a culpa do condutor do veículo seguro, nos termos do art. 503.º, n.º 3, do Cód. Civil.

A sentença apelada, porém, entendeu não estarem reunidos, “in casu”, os pressupostos de facto que permitem a actuação dessa presunção, ou seja, a culpa do comissário, reportada nesse preceito legal.

Ora, nas alegações que apresentaram na apelação subordinada, os AA.

insurgiram-se contra o assim decidido, mas a Relação, no Acórdão ora recorrido, pronunciou-se de igual modo sobre essa questão, nesse aresto referindo que "Ora, no caso em apreço, ficou provado que a viatura segura na ré não pertencia ao seu condutor, mas não ficou demonstrado que ela era conduzida ao serviço da respectiva proprietária, pelo que não se verifica a presunção de culpa."

Nestes termos – mais aduz a Ré ‑, segue-se que no Acórdão ora recorrido a Relação confirmou, sem qualquer voto de vencido e sem fundamentação essencialmente diferente, o valor da indemnização destinada a ressarcir o dano não patrimonial do sinistrado, bem como que não se está perante caso em que se deva presumir a culpa do condutor do veículo segurado na Ré, pelo que, quanto a estas questões, deve-se considerar irrecorrível a decisão “sub

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judice”, por sobre elas se ter formado a chamada dupla conforme, de acordo com o disposto no n.º 3, do art. 671.º, do CPC..

Que dizer?

1.1. Consoante é sabido, essa ora convocada figura da dupla conforme, como também referido, consagrada nesse n.º 3, do art. 671.º ‑ normativo preceito este no qual se textua que “ [s]em prejuízo dos casos em que o recurso é sempre admissível, não é admitida revista do acórdão da Relação que confirme, sem voto de vencido, e sem fundamentação essencialmente

diferente, a decisão proferida na 1.ª instância, salvo nos casos previstos no artigo seguinte” ‑, consubstancia-se numa relevante excepção ao preceituado no n.º 1, desse mesmo artigo – “[c]abe revista para o Supremo tribunal de Justiça do acórdão da Relação, proferido sobre decisão da 1.ª instância, que conheça do mérito da causa ou que ponha termo ao processo, absolvendo da instância o réu ou algum dos réus quanto a pedido ou reconvenção

deduzidos.”.

Excepção, pois, traduzida na inadmissibilidade de recurso de acórdão da Relação que confirme, sem voto de vencido, e sem fundamentação

substancialmente diversa, a decisão proferida na 1.ª instância ‑ salvo nas particulares situações elencadas no n.º 1, do sequente art. 672.º, permissivas da interposição de recurso de revista excepcional.

Em vista com esta figura da dupla conforme perfila-se, como igualmente sabido, a racionalização do acesso ao S.T.J. ‑ retomando-se assim o desígnio já antes prosseguido pela Reforma de 2007 efectuada em relação ao Código de Processo Civil de 19661 ‑ de modo à criação de condições para um melhor exercício, por tal órgão, da sua função de orientação e uniformização da jurisprudência.

1.2. Como claramente deflui do teor desses reproduzidos n.ºs 1 e 3, do art.

671.º, o ponto de referência para a verificação de uma situação de dupla conforme é um acórdão da Relação que, incidindo sobre decisão prolatada na 1.ª instância, conheça do mérito da causa, ou determine a extinção - total ou parcial -, da instância dos autos.

Mas assim sendo, como é, a decisão da 1.ª Instância relevante para um juízo de conformidade com o pertinente acórdão, tem de necessariamente constituir

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objecto da parte dispositiva ou estatuitória final de tal acórdão, ou seja, tem de a conclusão -“thema decisum” - deste aresto versar/recair sobre essa decisão, outrossim a confirmando sem divergência substancial de

fundamentação.

Por outro lado, essa decisão recorrida, manante da 1.ª instância, não poderá ser ou consubstanciar um qualquer pronunciamento emitido no

desenvolvimento da peça impugnada, um elemento - “intercalar”, permita-se- nos a expressão - do respectivo arrasoado ou parte motivatória, mas um acto judicativo final, no sentido de integrante ou representativo do seu ultimador dispositivo, do seu terminante e verdadeiro decreto.

Portanto, e em suma, não é no tocante a qualquer pronúncia, proferida no âmbito de acórdão de Relação que, conhecendo do recurso interposto de decisão – final, no sentido indicado ‑ da 1.ª instância, julgue em sentido

coincidente questão apreciada nessa decisão, que se coloca a possibilidade de verificação de uma situação de dupla conforme, impeditiva do normal acesso ao 3.º grau de jurisdição.

Não. Essa possibilidade, e seu efeito restritivo, apenas é equacionável no tocante a questão, julgada, sim, em plena conformidade com a entidade processual recorrida, mas em que esse julgamento, essa apreciação, conste - não apenas da parte justificativa do acórdão sindicador -, mas da sua da parte injuntiva ou decisória que o remata.

1. 2.1. Frente a estes considerandos, logo surge de concluir, pois, e sem quebra do muito respeito, que no tocante a essa questão respeitante à presunção de culpa do condutor do veículo segurado na Ré, nos termos do disposto no n.º 3, do art. 671.º, do Cód. Civil, suscitada pela Contraparte em sede da 1.ª Instância e da Relação aqui recorrida, e objecto de igual

pronunciamento negativo em ambas elas, nada obsta à sua nova suscitação no quadro da revista pelos AA. ora interposta, designadamente considerando a já reiteradamente mencionada figura da dupla conforme.

Com efeito, ainda que, como dito, versada/apreciada de modo sintónico em ambas as Instâncias, tal questão não foi objecto, não integrou, a parte decisória final, quer da sentença, quer do Acórdão sobre esta incidente.

Ao invés do [duplamente] postulado nesse n.º 3, do predito art. 671.º, sobre essa questão não de verificou “decisão proferida na 1.ª instância”, do mesmo

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passo que, ainda que tendo ocorrido veredicto por parte do aresto sindicador [o ora recorrido], a respeito dessa questão, coincidente com o que lhe foi conferido no âmbito da sentença recorrida, esse veredicto não é passível de ser reconduzido a tal aresto, que o mesmo é dizer, a “acórdão da Relação confirmativo” desse equivalente pronunciamento por parte da dita sentença.

No que tange a esta questão, portanto, a douta objecção da Ré ora em atinência naufraga.

1.2.2. No que, por sua vez, respeita à questão da quantificação da

indemnização destinada a ressarcir o dano não patrimonial da vítima, mais precisamente à verificação quanto ao respectivo estabelecimento também de dupla conforme, cumpre antes de mais dizer que é inteiramente conforme com a realidade a descrição, feita pela Ré/Recorrente, e acima narrada, dos termos do processamento até agora ocorrido a respeito da mesma.

Designadamente, que havendo a sentença da 1.ª Instância fixado tal

“quantum” indemnizatório em € 80.000,00 – e em função da percentagem de risco assacada aos veículos intervenientes [75% para o automóvel e 25% para o motociclo] -, em € 60.00,00, o Acórdão recorrido, por sua vez, conhecendo do recurso subordinado interposto pelos AA. – no qual estes sustentavam como a tal respeito adequada a cifra de € 100,000,00 -, confirmou, de forma unânime, tal estabelecido inicial quantitativo de € 80.000,00, e - por

referência à proporção de culpas concorrentes que considerou verificadas [70% para o condutor do automóvel e 30% para o motociclista] -, em € 56.000,00 o montante final arbitrado.

Verificando-se, pois, sobreposição ou identidade de arbitramento por parte de ambas as Instâncias – esse inicial valor de € 80.000,00 - , será que, consoante defende a Ré/Recorrente, nessa parte ocorre uma situação de dupla conforme, impeditiva, nos termos desse já antes mencionado n.º 3, do art. 671.º, do CC;

da admissibilidade da revista, enquanto adversando esse segmento do Acórdão ora “sub judicio” ?

1.2.2.1. Como logo se alcança, a ora enfocada questão, prende-se com aqueles casos de aresto – a exemplo do que ora nos vimos atendo – em que, mercê da deduzida e por ele versada pluralidade de objectos processuais, no seu dispositivo final comporta – tal como na decisão por ele em sindicância - vários segmentos decisórios, podendo um ou uns apresentarem-se conformes com essa decisão apreciada, e outro ou outros não.

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Pois bem.

Nesta figurada hipótese – e como vem sendo defendido tanto a nível jurisprudencial[7], como doutrinário[8] -, a aferição sobre a existência de dupla conforme e, portanto, sobre a admissibilidade ou não do recurso normal de revista, deve fazer-se mediante o confronto de cada um desses segmentos.

Destarte, e volvendo ao caso ora ajuizado, temos que, tal como sustentado pela Ré/Recorrente, depara-se-nos uma situação de dupla conformidade, obstativa por isso de correspondente recurso de revista, no tocante ao arbitramento da indemnização pelos danos não patrimoniais

sofridos pelo acidentado motociclista, considerando o decidido, a tal respeito, na sentença e no subsequente Acórdão ora recorrido.

Na verdade, e como já repetidamente explanado, em uma e outra de tais entidades jurídico-processuais a importância de tal arbitramento, a valoração desses aludidos danos, foi convergentemente fixada - € 80.000,00 - ,sendo que a fundamentação convocada nas mesmas para a obtenção desse uniforme resultado também se traduziu na adução de idêntica cota de argumentos, sem que qualquer segmento de índole substancial os diferencie ou aparte.

Na verdade, e como antes se referiu – “item” 2.5. -, começando por se

equacionar no Acórdão a discordância tanto da Ré como dos AA. no tocante à indemnização pelos danos em questão, logo se acrescentou “Mas não

encontramos motivo para proceder à alteração da quantia fixada ao A.

a título de danos não patrimoniais, aderindo, nessa parte, ao que consta da decisão recorrida, que fez, em nossa opinião, uma correta avaliação da situação factual apurada nos autos e a uma boa aplicação aos factos das normas jurídicas envolvidas.”

E após, também no seu contexto, se justificar este vestibular pronunciamento, rematou-se o Acórdão‑ não mais que reiterando – “Ora, como se disse, nenhum reparo temos a fazer à decisão recorrida, que fez, em nosso entender uma correta apreciação dos factos provados e uma correta integração dos mesmos às normas legais aplicáveis, pelo que consideramos ser de manter a

indemnização nela arbitrada.”

Nestes moldes, pois, cremos não subsistirem dúvidas sobre a consonância de veredicto entre uma e outra das enfocadas decisões a respeito da matéria em apreço, e, portanto, não olvidando achar-se o Acórdão subscrito em

absoluta unanimidade, sobre a bi-conformidade de sentido judicativo em

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