NH2802–Fundamentos da Eletrodinˆ amica
Prof. Jos´e Kenichi Mizukoshi
Aula 10 (vers˜ao 10/12/2013)
Indu¸ c˜ ao Eletromagn´ etica
Indu¸c˜ao Eletromagn´etica
A lei de faraday
Indu¸c˜ao Eletromagn´etica
■ Muitas vezes, quando aplicamos a lei de Faraday (ou quando calculamos a fem de movimento),
E = − d dt
Z
B · da
podemos nos atrapalhar com o sinal, que por sua vez determina o sentido da corrente el´etrica induzida.
■ Uma regra muito conveniente pode nos auxiliar a encontrar o sentido da corrente: a lei de Lenz. De acordo com esta lei,
A Natureza abomina a mudan¸ca no fluxo
A corrente induzida ir´a fluir na dire¸c˜ao tal que o fluxo que ela produz (corrente el´etrica gera campo magn´etico) tende a cancelar a mudan¸ca.
A lei de faraday
Indu¸c˜ao Eletromagn´etica
■ Considere o exemplo 2 da Aula 9 (p´ag. 21), onde um ´ım´a vai atravessar um anel circular:
■ Quando a extremidade `a esquerda do ´ım˜a atravessa o anel circular, aumenta o fluxo magn´etico atrav´es dele e portanto haver´a uma corrente induzida no anel no sentido hor´ario, quando visto da esquerda.
■ Enquanto a por¸c˜ao central do ´ım˜a atravessa o anel, n˜ao haver´a mudan¸ca no fluxo magn´etico, portanto a corrente induzida ´e zero.
■ A corrente surge novamente no anel quando a extremidade `a direita atravessa o anel. Neste caso, como o fluxo magn´etico diminui, surgir´a uma corrente no sentido anti-hor´ario para tentar conter essa mudan¸ca.
O campo el´ etrico induzido
Indu¸c˜ao Eletromagn´etica
■ A descoberta de Faraday indica que h´a dois tipos de campos el´etricos: um relacionado diretamente com cargas el´etricas e outro com a mudan¸ca no campo magn´etico.
■ Para calcular o segundo tipo de campo magn´etico, vamos explorar a analogia entre as leis de Faraday e Amp`ere,
∇ × E = −∂B
∂t e ∇ × B = µ0J respectivamente.
■ Conforme j´a visto, o rotacional sozinho n˜ao determina o campo – ´e preciso especificar tamb´em o seu divergente. No caso, como E ´e um campo de Faraday puro, n˜ao h´a uma carga associada a ele, portanto,
∇ · E = 0
enquanto que evidentemente ∇ · B = 0 sempre.
O campo el´ etrico induzido
Indu¸c˜ao Eletromagn´etica
■ Temos portanto que existe neste caso um paralelo entre −(∂B/∂t) e µ0J. Em particular, se a simetria permitir, podemos usar todos os truques
associados com a lei de Amp`ere na forma integral, I
B · dl = µ0Iinc
para a lei de Faraday na forma integral, I
E · dl = −dΦ dt
O campo el´ etrico induzido – exemplos
Indu¸c˜ao Eletromagn´etica
Ex. 1 Um campo magn´etico uniforme B(t), apon- tando para cima, preenche uma regi˜ao circular som- breada da figura ao lado. Se B est´a mudando com o tempo, qual o campo magn´etico induzido?
Solu¸c˜ao Pela simetria, E aponta na dire¸c˜ao circun- ferencial, da mesma forma que um campo magn´etico
de um fio infinito conduzindo uma corrente uniforme. Espira amperiana de raio s
■ Vamos desenhar uma espira amperiana de raio s e aplicar a lei de Faraday, I
E · dl = E(2πs) = −dΦ
dt = − d dt
πs2B(t)
⇒ E = −s 2
dB dt φˆ
◆ Observa-se que quando B est´a aumentando (dB/dt > 0), E apontar´a no sentido hor´ario, quando visto de cima.
O campo el´ etrico induzido – exemplos
Indu¸c˜ao Eletromagn´etica
Ex. A borda da roda de raio b est´a carregada com uma densidade linear de carga λ. Vamos assumir que a roda ´e feita de um material n˜ao-condutor – digamos, madeira. A roda est´a suspensa, tal que ela possa gi- rar livremente em torno de um eixo vertical, conforme mostra a figura ao lado. Na regi˜ao central, at´e um raio a, h´a um campo magn´etico uniforme B0 apontando para cima. De repente, algu´em desliga o campo. O que acontece?
Sentido da rota¸c˜ao
Solu¸c˜ao A varia¸c˜ao do campo magn´etico vai induzir um campo el´etrico, que ir´a apontar no sentido circunferencial, em torno do eixo da roda. Este campo exercer´a uma for¸ca sobre a distribui¸c˜ao λ de de carga e portanto a roda come¸cara a girar.
■ De acordo com a lei de Lenz, a roda ir´a girar no sentido tal que a corrente induzida produzir´a um fluxo para manter o fluxo original para cima. Para produzir um fluxo para cima, a corrente precisa girar no sentido anti-hor´ario, visto de cima.
O campo el´ etrico induzido – exemplos
Indu¸c˜ao Eletromagn´etica
■ De acordo com a lei de Faraday, I
E · dl = I
Edl = −dΦ
dt = −πa2dB dt
■ O torque no segmento de fio dl ´e dado por
dN = r × dF = λEr × dl = λEbdl ˆz
Portanto o torque total sobre a roda ´e
Nz = Z
dNz = bλ I
Edl = bλ
−πa2dB dt
■ Como o torque resultante ´e a varia¸c˜ao do momento angular com o tempo, N = dL/dt,
dLz = Nzdt ⇒ Lz = Z
Nzdt = −λπa2b
Z 0
B0
dB
O campo el´ etrico induzido – exemplos
Indu¸c˜ao Eletromagn´etica
■ Portanto
Lz = λπa2bB0
■ Como L = Irodaω, onde Iroda ´e o momento de in´ercia da roda, a sua velocidade angular ser´a
ω = λπa2bB0 Iroda
■ Observe que a velocidade angular ω ´e independente da rapidez com que o campo magn´etico ´e desligado, ou seja, n˜ao depende do valor de dB/dt.
■ H´a conserva¸c˜ao de momento angular nesse sistema? Na segunda parte do curso discutiremos sobre o assunto.
■ Observe que o agente causador da rota¸c˜ao da roda ´e de fato o campo
el´etrico. Na regi˜ao com cargas, o campo magn´etico nem existe. No entanto, o que fez surgir E foi desligar o campo magn´etico (dB/dt 6= 0).
O campo el´ etrico induzido
Indu¸c˜ao Eletromagn´etica
■ Uma observa¸c˜ao importante quando aplicamos a lei de Faraday: a indu¸c˜ao eletromagn´etica ocorre quando o campo magn´etico est´a variando. No
entanto, ´e comum utilizarmos os aparatos da magnetost´atica (como a lei de Amp`ere e a lei de Biot-Savart) para determinarmos o campo magn´etico!
Podemos, desta forma, confiar nos nossos resultados?
■ Tecnicamente, o resultado ´e somente aproximado. Mas na pr´atica, a
aproxima¸c˜ao ´e muito boa, exceto quando o campo flutua muito rapidamente ou quando se est´a num ponto muito longe da fonte.
■ O regime em que as regras da magnetost´atica s˜ao v´alidas para quando na utiliza¸c˜ao da lei de Faraday ´e chamado de regime quase-est´atico.
■ De uma forma geral, esse regime ´e quebrado quando se fala em ondas eletromagn´eticas e radia¸c˜ao.
O campo el´ etrico induzido
Indu¸c˜ao Eletromagn´etica
Ex. 3 Um fio reto e infinitamente longo con- duz uma corrente I(t) variando lentamente com o tempo. Determine o campo el´etrico induzido como uma fun¸c˜ao da distˆancia s acima do fio.
Espira amperiana
Solu¸c˜ao
■ Como a corrente varia muito lentamente, estamos no regime quase-est´atico.
Logo, podemos utilizar a lei de Amp`ere para calcular o campo magn´etico `a uma distˆancia s do fio.
Por simetria, B circula em torno do fio e portanto, I
B · dl = I
Bdl = B(2πs) = µ0I ⇒ B = µ0I 2πs
O campo el´ etrico induzido
Indu¸c˜ao Eletromagn´etica
■ Como o campo B dentro de um solen´oide, o campo E induzido ´e paralelo ao fio. Tomando uma espira amperiana retangular, a lei de Faraday d´a
I
E · dl = E(s0)l − E(s)l = − d dt
Z
B · da
Portanto, tomando da apontando para fora da p´agina,
E(s0)l − E(s)l = −µ0l 2π
dI dt
Z s
s0
ds
s = −µ0l 2π
dI
dt (ln s − ln s0) Logo,
E(s) = µ0 2π
dI
dt ln s+E(s0) − µ0 2π
dI
dt ln s0
| {z }
≡ C(t)
⇒ E =
µ0 2π
dI
dt ln s + C(t)
ˆ x
O campo el´ etrico induzido
Indu¸c˜ao Eletromagn´etica
■ Observe que a equa¸c˜ao que acabamos de encontrar para E ´e proporcional a ln s. Portanto, para s → ∞, E → ∞, o que parece n˜ao fazer sentido
fisicamente.
■ O motivo ´e que a equa¸c˜ao obtida n˜ao se aplica a distˆancias muito grandes.
Como a informa¸c˜ao do campo eletromagn´etico se propaga `a uma velocidade da luz, c, o campo magn´etico vari´avel, `a umda distˆancia grande depende n˜ao somente da corrente atual, como tamb´em do tempo passado (na verdade, dos tempos passados, como diferentes as informa¸c˜oes dos diferentes pontos do fio chegam em diferentes tempos).
■ Se τ ´e o tempo para que I mude consideravelmente, a aproxima¸c˜ao quase-est´atica s´o ´e v´alida para pontos onde
s ≪ cτ
Indutˆ ancia
Indu¸c˜ao Eletromagn´etica
■ Considere duas espiras em repouso, como na figura ao lado. Se uma corrente estacion´aria percorrer a espira 1, ela ir´a produzir um campo magn´etico B1.
■ O campo B1 pode ser encontrado atrav´es da lei de Biot-Savart,
B1 = µ0 4πI1
I dl1 × (r − r′)
|r − r′|3
Mesmo que n˜ao seja f´acil calcular o campo, d´a para ver que ele ´e proporcional `a corrente I1.
Espira 2
Espira 1
■ Algumas linhas de B1 passam atrav´es da espira 2; seja Φ2 o fluxo desse campo atrav´es de 2:
Φ2 = Z
B1 · da2
Indutˆ ancia
Indu¸c˜ao Eletromagn´etica
■ Como B1 ∝ I1, temos que Φ2 ∝ I1. Logo, temos que Φ2 ≡ M21I1
A constante de proporcionalidade M21 ´e conhecida como a indutˆancia m´utua das duas espiras.
■ Pode-se obter uma express˜ao muito pr´atica para calcular a indutˆancia m´utua, mas revela algumas propriedades dessa grandeza.
Vamos expressar o fluxo magn´etico em teros do potencial vetor e a seguir, utilizar o teorema de Stokes:
Φ2 = Z
B1 · da2 = Z
(∇ × A1) · da2 = I
A1 · dl2
Por outro lado, conforme visto na Aula 4, p´ag. 14, para I constante,
A1 = µ0 4πI1
I dl1
|r − r′|
Indutˆ ancia
Indu¸c˜ao Eletromagn´etica
■ Logo,
Φ2 = µ0I1 4π
I I dl1
|r − r′|
· dl2
Portanto,
M21 = µ0 4π
I I dl1 · dl2
|r − r′|
Espira 1
Espira 2
que ´e a express˜ao conhecida como f´ormula de Neumann.
■ Observa-se da f´ormula acima que
1. M21 ´e uma quantidade puramente geom´etrica. S´o depende das formas, tamanhos e posi¸c˜ao relativa das duas espiras;
2. A integral na f´ormula de Neumann n˜ao se altera se trocarmos os pap´eis das espiras 1 e 2. Logo,
M21 = M12
Indutˆ ancia
Indu¸c˜ao Eletromagn´etica
Trata-se de um resultado surpreendente, pois quaisquer que sejam a forma e a posi¸c˜ao das espiras, o fluxo atrav´es da espira 2 quando se faz passar uma corrente I pela espira 1 ´e idˆentica ao fluxo atrav´es de 1 quando se passa a mesma corrente na espira 2.
Indutˆ ancia – exemplo
Indu¸c˜ao Eletromagn´etica
Ex. 4 Um solen´oide curto, de comprimento l e raio a, com n1 voltas por unidade de comprimento, encontra-se sobre o eixo de um solen´oide muito longo, de raio b e n2 voltas por unidade de comprimento, conforme mostra a figura abaixo. Uma
corrente I flui pelo solen´oide curto. Qual ´e o fluxo atrav´es do solen´oide longo?
Solu¸c˜ao Como o solen´oide interno ´e curto, seria extremamente complicado calcular o seu campo e depois o fluxo atrav´es do solen´oide maior. Contudo,
podemos explorar a igualdade da indutˆancia m´utua. Podemos passar uma corrente I na espira longa e calcular o fluxo sobre a espira curta.
Indutˆ ancia – exemplo
Indu¸c˜ao Eletromagn´etica
■ Conforme j´a calculado em outra ocasi˜ao, o campo magn´etico no interior do solen´oide longo ´e
B = µ0n2I
■ O fluxo magn´etico para cada espira do solen´oide curto ´e Φespira =
Z
B · da = Z
Bda = B(πa2) = µ0n2Iπa2
Logo, o fluxo atrav´es do solen´oide curto ´e
Φ = (n1l)Φespira ⇒ Φ = µ0πa2n1n2lI
Esse fluxo ´e igual ao fluxo atrav´es da espira longa quando uma corrente I percorre o solen´oide curto.
■ Da express˜ao acima, verifica-se que a indut˜ancia m´utua ´e M = µ0πa2n1n2l.
Referˆ encias
Indu¸c˜ao Eletromagn´etica
■ David J. Griffiths, Introduction to Electrodynamics, Third Edition, Prentice Hall, 1999.