O ´INDICE DOS OPERADORES DE TOEPLITZ
INSTITUTO DE MATEM ´ATICA E ESTAT´ISTICA DA USP MAT 554 – PANORAMA DE MATEM ´ATICA
AULA DE 9 DE NOVEMBRO DE 2020
1. Preliminares de An´alise Funcional
Defini¸c˜ao 1. Um espa¸co de Hilbert ´e um espa¸co vetorial (complexo) H com produto interno h·,·i que se torna um espa¸co m´etrico completo se munido da distˆancia
d(x, y) =kx−yk, kzk=hz, zi1/2, x, y, z∈H.
Defini¸c˜ao 2. {x1, x2,· · · }´e um conjunto ortonormal completo do espa¸co de Hilbert H se
hxj, xki=
( 0 se j6=k 1 se j=k e se
x∈H, hx, xki= 0, k = 1,2,· · · =⇒ x= 0.
Proposi¸c˜ao 1. O conjunto[x1, x2,· · ·] das combina¸c˜oes lineares de um conjunto ortonormal com- pleto {x1, x2,· · · } de um espa¸co de Hilbert H ´e denso em H. Reciprocamente, se β ={x1, x2,· · · }
´e um conjunto ortonormal e [x1, x2,· · ·]´e denso em H, ent˜ao β ´e completo.
Dado M um subespa¸co de H, definimos M⊥ ={x∈H; hx, yi= 0 para todo y ∈M}.
Proposi¸c˜ao 2. Seja M um subespa¸co fechado do espa¸co de Hilbert H. Dado x ∈ H, existe um
´
unico xM ∈M tal quex−xM ∈M⊥.
A aplica¸c˜aoP :H →H definida porP x=xM ´e linear, satizfazkP xk ≤ kxkpara todox∈H, P2=P, ImP =M e kerP =M⊥. Ela ´e chamada deproje¸c˜ao ortogonal sobre M.
Proposi¸c˜ao 3. Seja H um espa¸co de Hilbert, seja T :H →H linear. S˜ao equivalentes:
• T ´e cont´ınua.
• T ´e cont´ınua em 0.
• Existe C≥0 tal que kT xk ≤Ckxk para todox∈H
1
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Define-se uma norma no espa¸co vetorialB(H) de todas as transforma¸c˜oes lineares satisfazendo as trˆes condi¸c˜oes da Proposi¸c˜ao 3 por
kTk= sup
x6=0
kT xk kxk .
Proposi¸c˜ao 4. Dado T ∈ B, existe um ´unico T∗ ∈ B(H) tal que iT x, yi = hx, T∗yh para todos x, y∈H.
Defini¸c˜ao 3. Um operador compacto em H ´e uma transforma¸c˜ao linear K :H → H tal que, para toda bola B contida em H, o fecho deT(B) ´e compacto. Denotamos por K(H) o conjunto de todos os operadores compactos emH.
Proposi¸c˜ao 5. K(H)´e um ideal fechado da ´algebraB(H). Um operador T ∈ B(H) ´e compacto se e somente se existemTn∈ B(H), ImTn de dimens˜ao finita, tais que lim
n→∞kTn−Tk= 0.
Teorema 1. Se K∈ K(H), ent˜ao I+K ´e um operador de Fredholm de ´ındice zero.
Defini¸c˜ao 4. F(H) ={T ∈ B(H); tal queT ´e um operador de Fredholm}
Teorema 2. Sejam T ∈ B(H) tal que I −T S e I −ST s˜ao operadores compactos para algum S∈ B(H). Ent˜ao T ´e um operador de Fredholm.
Teorema 3. F(H) ´e aberto em B(H). O ´ındice de Fredholm ind : F(H) → Z ´e uma aplica¸c˜ao cont´ınua. Existe uma curva cont´ınua contida em F(H) conectando dois operadores de Fredholm T1, T2 ∈ F(H) se e somente se indT1 = indT2
2. A ´algebra de Toeplitz abstrata
SejaH um espa¸co de Hilbert que possui um sistema ortonormal completo{e0, e1, e2,· · · }.
Proposi¸c˜ao 6. Existe um ´unico S∈ B(H) tal queSej =ej+1, j= 0,1,· · ·. S satisfaz kSxk=kxk para todo x∈ H eS∗ ´e dado por S∗e0 = 0 eS∗ej =ej−1, j= 1,2,· · ·.
Defini¸c˜ao 5. A ´algebra de Toeplitz gerada por S ´e a menor sub´algebra fechada T de B(H) que cont´emS, S∗ e a identidade I.
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A menos de isomorfismos, T n˜ao depende da escolha deHe do conjunto ortonormal completo.
Teorema 4. [2, Theorem 7.23]K(H)⊂ T e existe um *isomorfismo de ´algebras T
K(H) −→C(S1) que leva [S]na fun¸c˜ao identidade z7→z.
3. Operadores de Toeplitz Defina em C(S1) o produto interno
(1) hf, gi= 1
2π Z 2π
0
f(eiθ)g(eiθ)dθ.
Para cada k ∈ Z, seja ek ∈C(S1) definida por ek(z) = zk, z ∈ S1. O conjunto {ek;k ∈ Z}
´e ortonormal. As combina¸c˜oes lineares dos elementos deste conjunto s˜ao chamadas de polinˆomios trigonom´etricos.
Teorema 5. [3, Theorem 4.25]Dados f ∈C(S1) e >0, existe polinˆomio trigonom´etrico p tal que
|f(z)−g(z)|< para todoz∈S1.
Corol´ario 1. O conjunto dos polinˆomios trigonom´etricos ´e denso em C(S1) munido da m´etrica induzida pelo produto interno (1).
Demonstra¸c~ao: kf −gk2≤
sup
z∈S1
|f(z)−g(z)|
2
.
O espa¸co com produto interno C(S1,h·,·i) n˜ao ´e completo. Seu completamento ´e L2(S1).
Segue do Corol´ario 1 que {ek;k∈Z} ´e um conjunto ortonormal completo de L2(S1).
Defini¸c˜ao 6. O espa¸co de HardyH2´e o menor subespa¸co fechado deL2(S1) que cont´em o conjunto ortonormal {e0, e1, e2,· · · }. Denotamos por P a proje¸c˜ao ortogonal de L2(S1) emH2
Segue que {e0, e1, e2,· · · }´e um sistema ortonormal completo de H2.
Defini¸c˜ao 7. Dada φ∈C(S1), o operador de Toeplitz com s´ımbolo φ, Tφ ∈ B(H2), ´e definido por Tφ(f) =P(φf).
Definindo kφk∞= sup
z∈S1
|φ(z)|, temos
(2) Tφ≤ kφk∞, φ∈C(S1).
E f´´ acil ver que Te1(ek) =ek+1,k = 0,1,2,· · ·, Te−1(e0) = 0 e Te−1(ek) =ek−1, k= 1,2,· · ·. Tamb´em valeTek =Tek1 e Te−k =Tek−1, para todo inteiro positivo k.
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Se f, g ∈ {e0, e1, e2,· · · } ou se f, g ∈ {e0, e−1, e−2,· · · }, segue ent˜ao que Tf g =TfTg =TgTf. Para k um inteiro positivo, TekTe−k =I e Te−kTek =I −Pk, em quePk ´e a proje¸c˜ao ortogonal de H2 no espa¸co gerado por{e0.e1,· · ·, ek−1}. Se ke l s˜ao inteiros positivos, temos que
Te−(j+k)Tek =Te−l(I−Pk), e Te−kTek+l =Tel
A conclus˜ao ´e que, se f, g∈ {ek;k∈Z},
(3) Tf g −TfTg ∈ K(H2)
Por linearidade, segue que (3) vale tamb´em se f e g forem polinˆomios trigonom´etricos. Como toda fun¸c˜ao cont´ınua pode ser uniformente aproximada por polinˆomios trigonom´etricos, segue de (2) que (3) vale para todas f e g em C(S1). Da´ı e segue que, sef ∈C(S1) ef(z) 6= 0 para todo z ∈S1, ent˜ao
TfT1/f =Tf(1/f)+K =I+K, para algum K ∈ K(H2).
Segue ent˜ao do Teorema 2 queTf ´e um operador de Fredholm se f nunca se anula.
Se γ :S1 →C´e C1 por partes nunca se anula, ent˜ao n(γ) = 1
2πi Z
γ
f(z) z dz
´e um inteiro, chamadon´umero de rota¸c˜aode γ. Aproximando uma fun¸c˜ao cont´ınua, etc.
Pelo Teorema ...
Referˆencias
[1] H. O. Cordes. Elliptic pseudo-differential operators – An abstract theory. Springer Lecture Notes in Mathematics 756, 1979.
[2] R. G. Douglas. Banach algebra techniques in operator theory. Academic Press, 1972.
[3] Rudin, Real and Complex Analysis.