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Jornal de Estudos Espíritas - Resumo - Art. N. 010202

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Jornal de Estudos Espíritas 3, 010202 (2015) - (12pgs.) Volume 3 – 2015

Fenômeno de transporte: Bozzano, Zöllner, a Física e o Espiritismo

Alexandre Fontes da Fonseca

1,a

1

Campinas, SP

e-mail:aa.f.fonseca@bol.com.br

(Recebido em 15 de Março de 2015, publicado em 29 de Março de 2015).

RESUMO

O fenômeno de transporte consiste da introdução ou retirada de objetos materiais de um recinto através da ação invisível dos Espíritos. Embora este fenômeno tenha sido estudado por Kardec, os mecanismos físicos do fenômeno de transporte ainda permanecem desconhecidos. Há na literatura espírita duas propostas distintas para explicar o fenômeno: i) possibilidade de desintegração e reintegração das moléculas do objeto transportado ou das paredes do recinto, defendida por Ernesto Bozzano; e ii) possibilidade do objeto ser movido através de uma quarta dimensão espacial, defendida por Johan Carl Friedrich Zöllner. Neste artigo, analisamos as duas hipóteses em comparação com o conhecimento científico e as explicações contidas em O Livro dos Médiuns (LM). Mostramos que além de explicar o fenômeno e estar de acordo com a Doutrina Espírita, a proposta de Zöllner apresenta muito menos problemas com relação à Física dos materiais do que a proposta de Bozzano. Como a hipótese de Bozzano tem suscitado críticas ao Espiritismo e, em particular, a alguns comentários de Erasto no LM sobre o fenômeno de transporte em recintos fechados, revisamos as explicações de Erasto levando em conta o contexto em que foram escritas para mostrar, afinal, que elas estão corretas e de acordo tanto com as descrições dos fenômenos em si, quanto com relação ao conhecimento científico atual.

Palavras-Chave: Fenômeno de transporte; Bozzano; Zöllner; desmaterialização; quarta dimensão; Erasto.

I

I

NTRODUÇÃO

O fenômeno de transporte é definido por Kardec como “trazimento espontâneo de objetos inexistentes no lugar

onde estão os observadores. São quase sempre flores, não raro frutos, confeitos, jóias, etc.” (item 96 de O Livro dos Médiuns (LM) [1]). Segundo Erasto (item 98 de LM), esse é um dos fenômenos espíritas mais raros em razão das condições muito especiais que são necessárias para sua ocorrência. Uma dessas condições é a perfeita sin-tonia entre Espírito desencarnado e médium já que, se-gundo Erasto, o Espírito só pode realizar o fenômeno de transporte utilizando os fluidos animalizados de um único médium. Em suas palavras (item 98 de LM):

“. . . neste caso, não só o trabalho do Espírito é mais complexo, mais difícil, como, sobretudo, ele não pode operar, senão por meio de um único aparelho mediúnico, isto é, muitos médiuns não podem con-correr simultaneamente para a produção do mesmo fenômeno. Sucede até que, ao contrário, a presença de algumas pessoas antipáticas ao Espírito que opera lhe obsta radicalmente à operação. A estes motivos a que, como vedes, não falta importância, acrescente-mos que os transportes reclamam sempre maior con-centração e, ao mesmo tempo, maior difusão de cer-tos fluidos, que não podem ser obtidos senão com médiuns superiormente dotados, com aqueles, numa palavra, cujo aparelho eletromediúnico é o que me-lhores condições oferece.” (Grifo em itálico original. Grifos em negritos, meus).

E acrescenta:

“. . . estes fenômenos são de tal natureza, que nem todos os médiuns servem para produzi-los. Com efeito, é necessário que entre o Espírito e o médium influenciado exista certa afinidade, certa analogia; em suma: certa semelhança capaz de permitir que a parte expansível do fluido perispirítico do encarnado se mis-ture, se una, se combine com o do Espírito que queira fazer um transporte. Deve ser tal esta fusão, que a força resultante dela se torne, por assim dizer, uma: do mesmo modo que, atuando sobre o carvão, uma corrente elétrica produz um só foco, uma só clari-dade.”

Por essa razão, Erasto recomenda muita análise e cautela perante relatos desse tipo de fenômeno.

Sabemos que uma condição necessária para a ocor-rência de qualquer fenômeno mediúnico, seja de efeitos físicos, seja de efeitos inteligentes, é a combinação entre

o fluido do perispírito do médium com o fluido do perispí-rito do desencarnado1. Para isso, tem que haver sintonia e vontade de ambos os lados em participar e realizar o fenômeno.

No caso dos fenômenos de transporte, a combinação de fluidos tem que ser ainda mais perfeita, isto é, a sin-tonia entre médium e Espírito tem que ser muito precisa, além das condições do ambiente que precisam ser favorá-veis. Mas, por que razão, o fenômeno de transporte re-quer condições tão especiais quanto precisas? Uma pista para isso está nas seguintes palavras de Erasto (item 98 de LM [1]):

“É que, para que estes fenômenos se produzam, ne-cessário se faz que as propriedades essenciais do Es-1Para verificar essa afirmação, consulte o conteúdo do item 455 de O Livro dos Espíritos(LE) [2], e itens 51, 58, 74, 223 e 225 de LM [1].

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pírito motor se aumentem com algumas das do mé-dium; é que o fluido vital, indispensável à produção de todos os fenômenos mediúnicos, é apanágio

exclu-sivo do encarnado e que, por conseguinte, o Espírito

operador fica obrigado a se impregnar dele. Só então pode, mediante certas propriedades, que desco-nheceis, do vosso meio ambiente, isolar, tornar invisíveis e fazer que se movam alguns objetos materiais e mesmo os encarnados.” (Grifos em itálico originais. Grifos em negrito, meus).

Em outras palavras, o fluido vital do encarnado é ele-mento necessário ao fenômeno de transporte. Mas o de-talhe crucial está nas seguintes palavras de Erasto: “Só

então pode, mediante certas propriedades, que

desco-nheceis, do vosso meio ambiente,. . . ” Que

propri-edades do nosso meio ambiente seriam essas? Não

te-mos uma resposta científica ainda, mas o que quer que sejam, Erasto afirma que são elas que permitem ao Es-pírito desencarnado isolar, tornar invisível e mover um objeto material (ou mesmo um encarnado2).

Embora não saibamos científicamente o que sejam es-sas propriedades do ambiente, nem como se processa o fenômeno mediúnico de transporte, na literatura espírita encontramos dois pesquisadores que trabalharam com o fenômeno e propuseram, cada um, uma hipótese dife-rente para os seus mecanismos. Esses pesquisadores são o alemão Johan Carl Friedrich Zöllner (1834 - 1882) e o italiano Ernesto Bozzano (1862 - 1943). Zöllner [3] e Boz-zano [4] trabalharam com diversos fenômenos de efeitos físicos, incluindo fenômenos de transporte. Bozzano, em particular, catalogou e analisou vários casos autênticos de fenômenos de transporte realizados tanto por ele quanto por outrem, em sua obra “Fenômenos de Transporte” [4]. Zöllner propôs, com base em resultados de experi-mentos mediúnicos controlados, que o espaço deve pos-suir uma quarta dimensão espacial (a ser chamada de hipótese “4D” daqui em diante) através da qual os Espí-ritos movimentariam os objetos transportados. Bozzano propôs, também com base na observação de vários casos de transporte, que ele deve ocorrer por meio de um pro-cesso (instantâneo em alguns casos) de desintegração e

reintegração (a ser chamada de hipótese “DR” daqui em

diante) das moléculas dos objetos transportados. Embora a catalogação de muitos casos possa parecer uma vantagem no estudo de Bozzano, veremos adiante que a falta de noções mais precisas a respeito da natu-reza física da matéria impediu-o de analisar criticamente a hipótese DR. Em vista da sua grande reputação junto ao movimento espírita, a hipótese de Bozzano tem sido considerada como base para críticas à explicação espírita dos fenômenos de transporte e, em particular, às expli-cações dadas por Erasto no tocante à possibilidade de se

atravessar matéria através da matéria. Opiniões muito

respeitadas no movimento espírita3acreditam que Erasto tenha se equivocado ao afirmar que não é possível atra-vessar matéria através da matéria e que os Espíritos não

fazem isso quando realizam o fenômeno de transporte “de” ou “para” um recinto hermeticamente fechado.

Neste artigo, nós revisamos o estudo de Bozzano e Zöllner, bem como as afirmativas de Erasto a respeito do fenômeno de transporte em LM [1], de modo a esclare-cer qual hipótese estaria mais de acordo com a Doutrina Espírita e com a Ciência. Aproveitamos a riqueza de de-talhes de algumas descrições de fenômenos de transporte reportados na obra “Fenômenos de Transporte” [4] para identificar: i) a validade e consistência entre as hipóteses de DR e 4D e os fenômenos em si; ii) o grau de coe-rência entre elas e os conhecimentos científicos atuais; e iii) a concordância entre as duas hipóteses e a descrição doutrinária do fenômeno de transporte.

Mostraremos que a hipótese de DR de Bozzano, além de apresentar muitos problemas com relação à Física dos materiais e inconsistências com a própria descrição do fenômeno, apresenta conflitos com outros conceitos espí-ritas como, por exemplo, o conceito de morte de um ser. Mostraremos, também, que a hipótese de 4D, embora ainda não comprovada pela Física, explica perfeitamente os fenômenos de transporte, não apresenta os mesmos problemas da hipótese de DR com a Física, não apre-senta conflito com os conceitos espíritas, e está de acordo com as explicações de Erasto em LM [1].

O artigo está organizado da seguinte maneira. Na se-ção II, descrevemos a hipótese de DR e as descrições dos experimentos realizados ou observados por Bozzano. Na seção III, descrevemos a hipótese de 4D de Zöllner e os experimentos realizados por ele para testá-la. Na seção

IV, analisamos as duas hipóteses, destacando os

proble-mas com relação ao conhecimento científico atual e ao Espiritismo. Na seção V, descrevemos as explicações de Erasto que são objeto de controvérsia na questão da pos-sibilidade de se realizar o fenômeno de transporte “de” ou “para” um recinto hermeticamente fechado (o problema

da matéria atravessar a matéria). Aproveitando as

aná-lises científicas anteriores, verificaremos se as explicações de Erasto estão ou não de acordo com a Física e a própria Doutrina Espírita. Um resumo das principais conclusões é apresentado na seção VI.

II

H

IPÓTESE

DR

DE

B

OZZANO

A obra “Fenômenos de Transporte”, de Ernesto Boz-zano [4], apresenta um conjunto dos casos selecionados de fenômenos espíritas de transporte cujas condições em que ocorreram excluia qualquer dúvida ou suspeita de fraude. Os casos considerados por Bozzano como

au-tênticos formam dois subconjuntos: 1) aqueles que

ocor-reram em plena luz, e assim puderam ser vistos pelos presentes; e 2) aqueles que, embora obtidos em plena obscuridade, ocorreram com objetos que foram pedidos ou designados, no momento, pelos experimentadores, o que afasta qualquer hipótese de arranjo prévio dos

obje-2Esse detalhe é muito importante como veremos adiante. O fenômeno de transporte pode ocorrer com seres vivos incluindo seres humanos ou partes do corpo de um ser humano como descrito na Ref. [5]. Esse é um fato dos mais importantes a ser levado em conta na análise apresentada aqui.

(3)

tos transportados. Assim, os casos descritos por Bozzano na obra acima compõem um conjunto de evidências ex-perimentais para o fenômeno de transporte. Só por isso, a obra de Bozzano é de inestimável valor para o conheci-mento espírita, por corroborar não somente a existência do fenômeno em si, mas por permitir comprovar a ação de Espíritos. Neste artigo, portanto, não está em questão a existência do fenômeno espírita de transporte, mas sim as hipóteses propostas por Bozzano e Zöllner para o seu mecanismo.

Segundo Bozzano [4], o fenômeno de transporte ocorre através da desintegração e posterior reintegração das móléculas sejam do objeto transportado, sejam de partes das paredes dos recintos “de” ou “para” onde o objeto é transportado. Bozzano interpretava os concei-tos de desmaterialização e rematerialização de um ob-jeto como sendo os processos de desintegração e

reinte-gração atômicos ou moleculares do mesmo. Essa

distin-ção é importante pois os conceitos de desmaterializadistin-ção e rematerialização são ambíguous e podem, por exemplo, significar apenas o processo de tornar um objeto invisí-vel ou impalpáinvisí-vel. Nas obras básicas do Espiritismo, en-contramos o adjetivo desmaterializado empregado como sinônimo de “desapego à matéria”4. O termo

materia-lização pode significar tornar visível e/ou tangível, mas

não necessariamente significa agregação de matéria como nas seguintes palavras de São Luiz falando a respeito do fenômeno da escrita direta (questão 18 do item 128 do cap. VIII de LM [1]):

“18a Pois que a matéria de que se serve o Espírito carece de persistência, como é que não desaparecem os traços da escrita direta?

“Não faças jogo de palavras. Primeiramente, não em-preguei o termo - nunca. Tratava-se de um objeto material volumoso, ao passo que aqui se trata de si-nais que, por ser útil conservá-los, são conservados. O que quis dizer foi que os objetos assim compostos pelos Espíritos não poderiam tornar-se objetos de uso comum por não haver neles, realmente, agregação de matéria, como nos vossos corpos sólidos.” (Grifos em negrito, meus).

Com relação à hipótese de Bozzano, nota-se que desde a Introdução da sua obra [4], ela já a considera como a melhor explicação para o fenômeno de transporte. Em-bora Bozzano conhecesse a hipótese de Zöllner de 4D, ele a considerava “fantástica”5, talvez porque em sua época, não se conhecia muito a respeito das teorias de Einstein, e não existiam ainda as modernas teorias de universos multidimensionais que temos hoje.

Os fenômenos descritos por Bozzano possuiam algu-mas peculiaridades que, para ele, reforçavam a hipótese de DR. Essas peculiaridades são:

1. Instantaneidade. Na descrição do Caso I de sua obra [4], Bozzano destaca que uma campainha

ti-lintando foi transportada de um aposento para ou-tro sem que se tivesse notado nenhum momento em que ela tivesse parado de tilintar. Um intervalo de silêncio da campainha demonstraria que ela, tal-vez, tivesse sido desintegrada e o retorno do som só ocorreria quando suas moléculas fossem reinte-gradas. Porém, como não se percebeu nenhum in-tervalo de silêncio, Bozzano assumiu que “o

fenô-meno de desintegração e reintegração da campainha se produziu com tal rapidez que o intervalo de si-lêncio foi bastante curto para não ser notado pelos experimentadores.”

2. Ruídos. Em vários casos (como descrito no Caso VII da obra [4]), ruídos ocorreram concomitante-mente com o transporte. Bozzano argumenta, na pág. 43, que os ruídos devem decorrer do fenô-meno de desintegração e reintegração do objeto as-sim como “um barulho correspondente ao produzido

por um explosivo, visto que o ruído produzido por um explosivo deriva, por sua vez, de um fenômeno de desintegração instantânea de um preparado quí-mico...”

3. Fluidificação do objeto. Um detalhe desta-cado por Bozzano ao analisar o caso XI é que, às vezes, o médium e/ou alguns assistentes notavam a presença do objeto antes de ser rematerializado. Bozzano menciona, também, que alguns objetos fo-ram mesmo fotografados antes de suas moléculas terem sido reintegradas, como se estivessem em um “estado fluídico” (pág. 46). Em outros casos, Boz-zano destaca a percepção da fragrância de flores antes delas serem materializadas. No final do pri-meiro capítulo, Bozzano afirma que o Espírito atu-ante no fenômeno de transporte “teria o poder de

desintegrar e reduzir, instantaneamente, ao estado fluídico, a matéria constituinte de um determinado objeto...”. No capítulo “CATEGORIA II”, Boz-zano relata descrições dadas por alguns Espíritos de que eles atuavam reduzindo o objeto a um es-tado fluídico.

4. Transporte pela metade. O último caso do ca-pítulo “CATEGORIA I” da obra [4] mereceu des-taque de Bozzano por uma peculiaridade rara. O objeto solicitado para o transporte, não chegou in-teiro, mas na forma de um pó brilhante de pirite6 e enxofre. Bozzano considera esse fato como com-provação de que o material transportado é desinte-grado, já que, no caso, o que foi transportado não foi completamente reintegrado. Bozzano acreditava que esse fenômeno “basta por si só para destruir a

hipótese da "quarta dimensão".”

5. Aumento de temperatura. No começo do capí-tulo “CATEGORIA II”, referente aos fenômenos de

4Ver, por exemplo, a questão 58 do item 285 do cap. XXV de LM [1].

5Capítulo “CATEGORIA I”, pág. 48 da edição consultada [4]. Adiante, todas as menções à páginas dessa obra se referem à edição consultada.

6Pirite ou pirita é um material cristalino de dissulfeto de ferro, FeS 2[7].

(4)

transporte obtidos em plena luz, Bozzano comenta que os objetos transportados chegavam quentes, isto é, sua temperatura era percebida estar muito mais alta que a ambiente.

6. Visão da desmaterialização. Ao descrever o caso XXIII, Bozzano destaca que na maioria dos casos, não é possível o experimentador ou os assis-tentes verem o objeto desmaterializando-se ou inici-ando o transporte. Bozzano acreditava em alguma “força” presente no olhar humano e achava que isso era a razão para nunca alguém conseguir olhar o movimento inicial de um objeto.

7. Visão da materialização. No caso XXVII, Boz-zano descreve o fenômeno ocorrendo à vista de to-dos, em que se observou o que ele chamou de “fase

da condensação fluídica sob a forma de uma densa nebulosa.”

8. Duplo etérico. Os casos XI e XXVIII e XXX tem em comum a descrição que os médiuns fizeram do objeto no momento em que era desmateriali-zado. Na pág. 90, Bozzano transcreve a descrição da médium Louise sobre o fenômeno: “Durante a

desmaterialização, vejo as moléculas do objeto se desintegrarem e se separarem singularmente, ainda que conservando cada uma a sua respectiva posição. Adquirem, em tal forma, dimensões muito maiores, porém a forma inicial do objeto não varia. Nesse novo estado fluídico, os objetos não estão submeti-dos às leis da gravidade e à impenetrabilidade. Po-dem atravessar a matéria, sem deixar sinal algum de sua passagem, como podem também manter-se indefinidamente no novo estado, sem alterações.”

A partir desse tipo de descrição, Bozzano inferiu que os objetos materiais possuem um duplo eté-rico, assim como o ser humano tem um perispírito. Essa consideração, como se sabe, é contrária ao que os Espíritos ensinaram a Kardec7.

9. Aspectos morais. Bozzano também destaca que os Espíritos jamais se prestaram a realizar trans-porte de objetos de valor sem devolvê-los.

Discutiremos na seção IV adiante, se essas peculiari-dades dos fenômenos de transporte, de fato, estão con-sistentes com a própria hipótese DR, ou com os aspectos físicos em torno das mesmas.

III

H

IPÓTESE

4D

DE

Z

ÖLLNER

A obra Transcendental physics. An account of

experi-mental investigations from the scientific treatises [3] des-creve diversos experimentos de efeitos físicos realizados por Zöllner com o médium Henry Slade. Exemplos são o

desfazimento de nós sem movimento das pontas de uma corda, a materialização de mãos, o desaparecimento de objetos, etc. Em sua obra, Zöllner apresenta a hipótese teórica de 4D que consiste na existência de, pelo menos, uma dimensão espacial além das três que conhecemos e, usualmente, representamos por: altura, largura e espes-sura8. Segundo a hipótse 4D, os Espíritos utilizam essa

quarta dimensão espacial, invisível aos nossos olhos, para

tornar invisíveis e mover objetos, fazendo-os parecer que poderiam atravessar a matéria. Zöllner, como qualquer pesquisador da área de Física e Astronomia9, fez mais do que apenas apresentar sua hipótese: ele elaborou um experimento particular que pudesse comprová-la.

No primeiro capítulo da sua obra [3], intitulado “On

Space of Four Dimensions”10, Zöllner faz uma simples, mas interessante observação a respeito da nossa impres-são, pelos sentidos do corpo físico, do espaço tridimensio-nal. Nossos sentidos se espalham pela superfície do nosso corpo, cujos sinais elétricos são enviados ao nosso cérebro e interpretados pela nossa mente. Em outras palavras, Zöllner argumenta que não experienciamos diretamente o espaço tridimensional, senão por um processo intelec-tual. O sentido do tato registra formas e texturas dos objetos, e o sentido da visão registra imagens como as que vemos em fotografias. Fotografias são projeções de imagens numa folha de papel bidimensional. O que é que nos dá a impressão da 3a dimensão espacial? Hoje sabemos que isso decorre da superposição das imagens captadas pelo olho direito e pelo olho esquerdo, que são ligeiramente diferentes por causa da distância entre os olhos. Mas, para quem é cego de uma vista, ou quando pensamos em formas diferentes de gerar imagens 3D, al-gumas ideias surgiram como acompanhar uma sequência de imagens, fazer o objeto observado se movimentar com relação a nós, comparar os movimentos com os de outros objetos mais próximos ou distantes, etc. Zöllner usa uma combinação de raciocínios para apresentar uma forma de se perceber a tridimensionalidade do espaço:11:

“Se uma criança contempla suas mãos, ela toma cons-ciência da sua existência a partir de duas formas – em primeiro lugar pela sua tangibilidade, em segundo lu-gar pela imagem registrada na sua retina. Apalpando e tocando suas mãos repetidas vezes, a criança des-cobre por experiência que elas retém a mesma forma e extensão mesmo que elas ocupem diferentes distân-cias e posições em que são observadas, não impor-tando o fato de que a forma e a extensão das ima-gens das mãos registradas na retina estejam cons-tantemente variando com o movimento das mesmas. O problema é, então, de entendimento da criança. Como conciliar e entender a aparente contradição en-tre o fato da invariabilidade da forma do objeto, junto com a variabilidade da sua aparência? Isso é apenas possível dentro de um espaço de três dimensões, onde as distorções das imagens devido a perspectiva com a 7Ver questão 4 do item 128 do capítulo VIII do LM [1].

8Essa representação é genérica e não tem nada de especial. Qualquer direção no espaço tridimensional pode representar altura, largura ou espessura. Descrevemos assim apenas para ajudar no entendimento do Leitor menos habituado aos conceitos de espaço na Física.

9Zöllner foi professor de Física e Astronomia na Universidade de Leipzig, na Alemanha. 10Tradução livre: “Sobre o espaço de quatro dimensões”.

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qual o objeto é observado, podem ser conciliadas com a constância da sua forma.” (Grifos em itálico, origi-nais.)

Os conceitos de invariabilidade (da forma) do objeto e variabilidade da sua aparência são importantes na aná-lise dos fenômenos de transporte. Veremos na próxima seção, que algumas descrições do fenômeno de transporte consideradas importantes por Bozzano, contém esses dois aspectos.

Para explicar melhor como a existência de uma di-mensão extra do espaço pode favorecer a execução de fenômenos de efeitos físicos incomuns, ainda no capítulo I de sua obra [3], Zöllner analisa o problema de se des-fazer um nó em uma corda flexível planar, isto é, uma corda flexível fina o bastante para ser considerada como contendo todos os seus pontos em uma superfície bidi-mensional, ou plano, como se diz em Matemática. Um nó em um plano bidimensional é representado pela se-guinte figura:

Figura 1: Nó em duas dimensões. a e b representam as extremidades da corda. Figura reproduzida da obra [3]. Para se desfazer esse nó sem cortar a corda e sem que ne-nhuma de suas partes “saiam” do plano bidimensional, temos que tomar uma das extremidades, por exemplo a extremidade a, e movê-la girando-a por 360 graus em sentido anti-horário no plano. Seres bidimensionais te-riam que fazer isso para desatar um nó em uma corda bidimensional.

Agora, suponha que existem seres tridimensionais que podem observar os seres bidimensionais. Suponha que um ser tridimensional queira desatar um nó em uma corda bidimensional. Ao invés de girar a extremidade

a ou b da corda, a parte central da figura1, que repre-senta o nó, pode ser torcida através da terceira dimensão, conforme ilustrado na figura2.

Seres bidimensionais, cujos sentidos não permitissem perceber a terceira dimensão, jamais compreenderiam como um nó de uma corda bidimensional pudesse ter sido desfeito sem movimento das extremidades. Eles pensa-riam que a corda foi cortada ou que o nó foi desmateria-lizado e remateriadesmateria-lizado na forma desatada.

Zöllner teve a oportunidade de observar fenômenos de efeitos físicos onde nós tridimensionais de cordas tri-dimensionais foram desfeitos e desatados apesar de suas extremidades terem sido mantidas fixas e seladas para garantir autenticidade do fenômeno. Zöllner, ao contrá-rio de Bozzano, acreditou que a explicação pudesse advir da existência de uma quarta dimensão espacial (hipótese

4D). Para testar sua hipótese, Zöllner elaborou e realizou

um experimento particular a ser descrito a seguir.

Figura 2: Nó em duas dimensões sendo desatado por um movimento de rotação (seta na cor vermelha) através da terceira dimensão. O resultado é a corda sem nós, sem movimento das extremidades a e b que poderiam ter sido mantidas fixas. Figura adaptada do original presente na obra [3].

Antes, vamos transcrever um comentário12de Zöllner

que deixa claro que ele conhecia a hipótese DR:

“As experiências formalmente descritas (datadas de 17 de dezembro de 1878) com nós em uma corda su-gerem duas explicações de acordo com a suposição do espaço ter três ou quatro dimensões. No primeiro caso, deve ter acontecido a chamada passagem da matéria através da matéria; ou em outras pala-vras, as moléculas que compõem a corda devem ter sido separadas em certos lugares, e depois da passagem de outra porção da corda, nova-mente colocadas na mesma posição. No segundo caso, a manipulação da corda flexível estando, de acordo com a minha teoria, sujeita às leis de um espaço de quatro dimensões, tal separação e reu-nião molecular não se tornaria necessária. (Grifos em negrito, meus).

O mais importante, porém, vem do seguinte raciocí-nio, logo após o precedente13:

“No entanto, a corda teria que suportar, durante o processo, um certo número de torceduras que se tornariam visíveis depois dos nós atados. Em dezembro esta circunstância não me tinha chamado à atenção e eu não examinara a direção e a espes-sura das torceduras. A seguinte experiência, porém, levada a efeito a 8 de maio deste ano, numa sessão que durou um quarto de hora, nos dá uma solução a favor da teoria do espaço de quatro dimensões sem a separação das moléculas.” (Grifos em negrito, meus). O experimento mencionado por Zöllner consistiu de cortar duas tiras de couro mole de 44 centímetros de comprimento e de 5 a 10 milímetros de largura, juntar e prender as extremidades de cada tira deixando as ti-ras completamente separadas uma da outra, conforme a parte de cima da figura 3. Após o fenômeno de efeitos físicos, as tiras se tornaram entrelaçadas através de nós, onde se pode verificar as torceduras das tiras que não existiam antes (setas na cor vermelha na figura 3). Es-sas torceduras indicam que, durante o fenômeno, as tiras foram torcidas na direção da 4a dimensão espacial. 12Página 80 da obra.

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Figura 3: Duas correias com as extremidades atadas e seladas. Correias separadas na forma como preparadas para o experimento (acima); correias entrelaçadas por meio de nós (abaixo) mantidas as extremidades presas e originalmente seladas. As setas vermelhas apontam para as torceduras nas tiras. Figura reproduzida da obra [3].

Zöllner menciona também que em seus experimen-tos com esse tipo de fenômeno, a temperatura do objeto transportado através da 4a dimensão aumentava

razoa-velmente.

Outros fenômenos de efeitos físicos foram realizados e observados por Zöllner, mas por razões de espaço, nos limitamos a descrever apenas o que ele realizou com ti-ras de couro, em razão dos resultados favorecerem a sua hipótese 4D.

IV

A

NÁLISE CIENTÍFICA DAS DUAS HIPÓ

-TESES

Passemos, agora, à análise científica e doutrinária das duas hipóteses descritas nas duas seções anteriores. A análise consiste de: i) verificação da coerência interna de cada hipótese, isto é, se não há contradições entre a hipótese proposta e alguma característica descritiva dos fenômenos; ii) verificação da coerência entre hipótese e propriedades físicas dos objetos; e iii) verificação da coe-rência com os princípios espíritas.

IV.1 Coerência interna

– hipótese DR: A hipótese de Bozzano apresenta

algu-mas incoerências internas, isto é, algualgu-mas descrições dos fenômenos não estão de acordo com a própria hipótese de DR ou hipóteses adicionais foram adicionadas ad hoc para resolver os problemas.

No item 2 da seção II, Bozzano destaca a presença de ruídos durante alguns fenômenos de transporte. Ele

sugere que os mesmos decorram do fenômeno de desinte-gração do objeto, argumentando que em todo fenômeno de explosão, um ruído ocorre. Mas, nem todos os fenô-menos observados por ele produziram ruídos. No item 1, por exemplo, no fenômeno de transporte de uma campai-nha tilintando, um ruído seria facilmente percebido por distoar do som da campainha.

Os itens 3 e 8 da seção II são os que apresentam a incoerência interna mais marcante. Em ambos os casos, Bozzano reporta a observação de alguns médiuns videntes do objeto presente no recinto antes de ser materializado. A contradição é a seguinte: se, de fato, o objeto foi des-materializado, então não seria possível vê-lo em nenhum estado, mesmo fluidificado. Um objeto cujas moléculas estão separadas devido a uma desintegração, jamais po-deria ser visto ou gerar “fragrâncias” como descrito no item 3. Uma nova hipótese para tentar explicar esse de-talhe foi adicionada de modo ad hoc. Ela consiste da proposta da existência de “duplos etéricos” de objetos materiais. Porém, isso foi claramente negado pelos Espí-ritos na Doutrina Espírita14.

Na descrição do item 8, a contradição entre o con-ceito de desintegração e os detalhes observados pela mé-dium é mais evidente: “vejo as moléculas do objeto se

desintegrarem e se separarem singularmente, ainda que

conservando cada uma a sua respectiva posição.

Adquirem, em tal forma, dimensões muito maiores, po-rém a forma inicial do objeto não varia.” (Grifos

em negrito, meus). Ora, se as moléculas de um objeto se desintegram, como podem ser vistas “conservando a

respectiva posição”, adquirindo “dimensões maiores”, ou

ainda mantendo “a forma inicial do objeto”? A desin-tegração de um objeto significa a sua destruição, só res-tando completamente separados e sem forma, os elemen-tos ou moléculas que o compuseram. Essa descrição feita pela médium é explicada perfeitamente pela hipótese 4D. Ao ser transportado pelos Espíritos, o objeto é movido para uma dimensão extra do espaço. Nessa dimensão ex-tra, sua forma permanece a mesma, já que não precisa

ser desintegrado para isso. Nesse caso, a visão de

um médium que está no nosso referencial tridimensional seria do objeto possuindo sua forma inicial, porém com a impressão de que o objeto tomou dimensões maiores e diferentes.

A única observação que poderia indicar que o fenô-meno de transporte pode ocorrer por meio de um pro-cesso de desintegração da matéria é a que foi feita no item 4 da seção II, do transporte “pela metade”. Porém, esse evento não exclui a possibilidade da existência de uma 4a dimensão espacial, nem impede que a hipótese

de 4D também o explique.

– hipótese 4D: A hipótese de Zöllner é muito simples e

direta. Há uma 4adimensão do espaço por onde os

obje-tos poderiam ser transportados sem podermos vê-los em nosso referencial. Todos os detalhes observados e desta-cados por Bozzano, itens de 1 a 915 da seção II, podem 14Ver questão 4 do item 128 do capítulo VIII do LM [1].

(7)

ser explicados pela hipótese de 4D.

O item 4 da seção II, considerado por Bozzano uma evidência da não existência de uma 4adimensão espacial

(pág. 60 da obra [4]), pode ser explicada também pela hipótese de 4D. Bozzano argumentou que no fenômeno de transporte em que o objeto trazido apareceu na forma de pó, houve falta de “força” do médium (em linguagem espírita, falta de fluido vital). Como os Espíritos neces-sitam do fluido animalizado do médium para realizar o transporte, na hipótese de Zöllner, havendo falta desse fluido, o fenômeno de transporte de ou para a 4a

dimen-são pode ser prejudicado e apenas parte do objeto pode ser transportada.

IV.2 Coerência com a Física

Aqui, enumeraremos alguns problemas envolvendo conceitos da Física em torno do fenômeno de transporte e como as hipóteses de 4D e DR as respondem, se res-pondem.

– Energia. O primeiro problema com relação à

hipó-tese de Bozzano é com relação à energia necessária para realizar o fenômeno de transporte de acordo com sua hi-pótese. Para desintegrar um objeto, é necessário dispor de uma quantidade muito grande de energia. Quebrar uma ligação química requer bastante energia. De outro modo, não veríamos a estabilidade dos corpos diversos na natureza.

Bozzano tinha ciência desse problema. Ele comenta isso na Introdução e nas Conclusões da obra [4]. Vale aqui citar um comentário de um cientista de sua época, o engenheiro Stanley De Brath que diz (pág. 109): “Ora,

o fenômeno de desintegração exige uma soma de energia tão formidável que, para mim, tal dificuldade se trans-forma em uma objeção quase insuportável.” Diante desse

problema, Bozzano postula que nos fenômenos de trans-porte, não estaria em jogo apenas energias físicas mas, também, uma energia psíquica. Infelizmente, ele não soube definir o que seria a energia psíquica, e menos ainda propor algum experimento que pudesse avaliá-la ou quantificá-la. Além disso, em Física, não importa se a energia é de um tipo ou de outro, energia é sempre

energia e não pode surgir de modo mágico ou misterioso.

Há outro problema envolvendo o conceito de energia. Há objetos materiais que quando desintegrados liberam mais energia do que outros. Todos os materiais combus-tíveis são desse tipo e é por essa razão, isto é, por liberar energia, é que são usados como combustíveis para mo-ver motores e máquinas. Na reação química conhecida como combustão, a molécula do material combustível se desintegra através de uma reação química envolvendo a presença de outros elementos químicos (oxigênio na mai-oria dos casos) e uma certa quantidade de energia ini-cial necessária para disparar a reação. Imagine que um litro de gasolina seja transportado pelos Espíritos. Na hipótese DR, ao desintegrar as moléculas da gasolina, uma quantidade enorme de energia se desprenderia e se transformaria em outro tipo de energia (por exemplo, em

energia cinética das moléculas ou elementos separados). Como os Espíritos atuariam para não deixar essa energia se dissipar para o meio ambiente? O que fariam os Es-píritos para manter os elementos da gasolina separados sem que reagissem com o oxigênio do ar, por exemplo, formando outros compostos? Ou eles permitiriam isso? Nesse caso como eles armazenariam a energia liberada nessas reações? Note que na hipótese de DR, o material é destruído através da desintegração. De alguma forma, os Espíritos teriam que reter as moléculas e depois juntá-las nas posições e distâncias originais. Em outras palavras, os Espíritos teriam que obter de volta a energia dissipada na separação das moléculas e átomos do objeto.

Assim, para cada fase do processo de desintegração e reintegração de um objeto, é necessário dispender e ma-nipular energia em quantidades muito altas. A hipótese

DR apenas supõe que existe um tipo diferente de energia,

psíquica, que seria responsável pelo processo.

A hipótese 4D não apresenta esse problema. Isso, pois, o objeto não é desintegrado. A energia interna do objeto permanece com o objeto. Só haveria necessidade de energia para fazer mover o objeto ao longo da 4a

di-mensão.

– Conservação das partículas. “Na Natureza nada

se cria, nada se perde, tudo se transforma.” (Antoine

Laurent de Lavoisier, 1743–1794). Essa questão consiste em saber para onde vão as moléculas ou átomos do ob-jeto quando desintegrados ou quando passam para a 4a

dimensão. Na verdade esse problema não existe na hipó-tese de 4D, porque a massa do objeto permanece com o objeto independente dele ser deslocado para a 4a

dimen-são.

Já na hipótese de DR, esse problema não é discutido. O que acontece com as moléculas ou átomos do objeto após a desintegração não é mencionado na obra de Boz-zano. O item 3 que expõe a hipótese ad hoc sobre a fluidificação do objeto não explica, de fato, nada. O que significa, em termos físicos, a fluidificação de um objeto? Ao propor que o objeto seja desintegrado, Bozzano pa-rece crer que o objeto simplesmente deixa de existir, per-mancendo apenas um “duplo etérico” do mesmo. Mas, em termos científicos, é preciso explicar o que acontece com as moléculas e átomos do objeto transportado. Por ocasião da reintegração, a hipótese de DR também não explica de onde vem as novas moléculas e átomos que comporão o corpo reintegrado.

– Informação. Essa questão é de natureza

fundamen-tal e, novamente, só é um problema para a hipótese

DR por causa da proposta de desintegração do objeto.

Para se ter uma noção da quantidade de informação con-tida numa porção pequena de algum material, a Ciên-cia já demonstrou que o número de moléculas presentes em uma amostra de uma substância cujo peso em gra-mas é o mesmo valor numérico do seu peso atômico, é aproximadamente 6.02×1023. Esse número é conhecido como “número de Avogadro” e essa quantidade de ma-téria é chamada de “mol”. Esse número é tão grande

(8)

que é quase difícil descrevê-lo em palavras. O número 1023 = 100000000000000000000000 vale 100 bilhões de

trilhões. Então, por exemplo, uma amostra de, apenas, 18 gramas de água contem, aproximadamente, 602 bi-lhões de tribi-lhões de moléculas de água. Se um litro de água tem aproximadamente 1000 gramas de água, basta fazer as contas para ter uma ideia do gigantesco número de moléculas.

Assim, para desintegrar e reintegrar um mol de qual-quer substância, no mínimo é preciso registrar uma quan-tidade de informação referente às posições e velocidades de aproximadamente 602 bilhões de trilhões de molécu-las. Como cada posição e cada velocidade requerem três números (são o que se diz em matemática, vetores no espaço), é necessário o registro de 6 x 602 bilhões de trilhões de informações a respeito de um mol da substân-cia. Se o material contiver mais massa ou se o sistema for complexo, isto é, formado por substâncias e quan-tidades diferentes, a quantidade de informação é ainda muito maior. Somente nos casos de materiais cristali-nos, a quantidade de informação pode ser reduzida, mas mesmo assim ainda forma um conjunto numeroso de da-dos a serem registrada-dos. No caso de sistemas vivos, a precisão dessa informação precisa ser alta, isto é, é ne-cessário salvar os dados com muitas casas decimais por-que sistemas complexos possuem características caóticas e são, assim, muito dependentes das condições iniciais.

A proposta do “duplo etérico” resolveria esse pro-blema na medida que ele pudesse conter essa informa-ção. Porém, além dos Espíritos afirmarem que os objetos não possuem “duplo”, a existência de um “duplo” viola o problema da indeterminação quântica mencionado a se-guir. Portanto, a hipótese DR não se sustenta perante o problema da informação.

– Indeterminação quântica. Esse problema é bas-tante sério nessa questão envolvendo materialização e desmaterialização de objetos materiais. Como os demais pontos acima, esse problema não existe na hipótese 4D.

Indeterminação quântica é a limitação que temos em

determinar com 100% de precisão e ao mesmo tempo, certos pares de grandezas físicas de partículas atômicas e subatômicas. Por exemplo, não se pode determinar a

posição e a velocidade de um átomo num determinado

instante com total precisão. Isso não é uma limitação tecnológica dos instrumentos de medida, mas uma limi-tação imposta pela Natureza. Em outras palavras, ou podemos saber bem onde o átomo está, mas não saber

para onde ele vai (e, portanto, perder a informação sobre

onde ele estará nos instantes seguintes); ou conhecer com precisão para onde ele vai e com que velocidade, mas sem saber onde ele está nesse momento. Isso limita o nosso acesso à informação das partículas que constituem um sistema físico.

No caso de objetos inanimados, pode ser suficiente saber as grandezas físicas que determinam o chamado

macroestado do sistema. Um macroestado consiste de conjunto pequeno (bem menor do que o número de

Avo-gadro) de variáveis termodinâmicas que determinam o estado físico do sistema. Por exemplo, a temperatura, o volume e a pressão, são exemplos desse tipo de infor-mação que podemos obter para um objeto. A Física de-senvolveu teorias que permitem relacionar os chamados

microestados de um sistema de partículas com o seu

res-pectivo macroestado. Um microestado consiste do con-junto enorme de informações a respeito da posição e ve-locidade das partículas que compõem o sistema físico. A Física demonstrou que muitos microestados diferentes le-vam ao mesmo macroestado. Poderíamos, então, sugerir que os Espíritos, no processo de desintegração e reinte-gração de objetos, só restituem o macroestado do mesmo. Isso resolveria, em parte, o problema da indeterminação quântica.

Porém, para certos tipos de sistemas físicos como os seres vivos, a determinação correta do seu

microes-tado pode ser fundamental na sua reintegração. Um ser

vivo desintegrado, ao ser reintegrado, pode não continuar vivo, se parte da informação original do microestado se perder. O problema é que, em geral, Espíritos menos evo-luídos são os que realizam o fenômeno de transporte (isso foi constatado por Bozzano), e Espíritos menos evoluídos são incapazes de registrar não somente um número ele-vado de informações (bilhões de trilhões de informações ao mesmo tempo), mas essas informações não são aces-síveis aos Espíritos. Os Espíritos superiores poderiam se sobrepor à indeterminação quântica? Não o sabemos, mas em geral não são eles quem realizam os fenômenos de transporte.

A hipótese de “duplo etérico” dos objetos materiais não condiz com o problema da indeterminação quântica. Se existisse, de fato, um “duplo” que permitisse inte-grar um conjunto de átomos para formar um objeto de modo único, isso significaria que a Física estaria errada em afirmar que não se pode saber a posição e a veloci-dade das partículas ao mesmo tempo. Vê-se, daí, como o Espiritismo está correto perante a atualidade dos co-nhecimentos científicos porque ele declara que não existe “duplo” de objetos materiais16.

– Aumento da temperatura. Ambos os Autores,

Boz-zano e Zöllner, reportam o aumento da temperatura do objeto que foi transportado. Isso faz sentido já que o fenômeno demanda dispêndio de energia através do dis-pêndio de fluido vital. Porém, dentro da hipótese 4D, é possível especular a ideia de haver uma barreira de poten-cial que impede que, naturalmente, os corpos materiais se movam ao longo da 4a dimensão. Assim, ao trazer

de volta o objeto de uma coordenada diferente da 4a di-mensão, os Espíritos forneceriam energia ao objeto que ao chegar em nosso “plano” reteria o excesso de energia através do aumento da agitação térmica.

– Evidências experimentais diretas. Nenhuma das

duas hipóteses possuem evidências que chamamos de

di-retas, isto é, que mostram que de fato existe uma 4a

dimensão espacial, ou que os objetos transportados pelos

(9)

Espíritos tenham sido desintegrados.

O item 4 da seção II não constitui-se numa evidên-cia de desintegração e reintegração da matéria. Nada impede, por exemplo, que por falta de fluido vital, os Es-píritos tenham realizado o transporte por partes, trans-portando partículas menores de cada vez.

IV.3 Coerência doutrinária

– Hipótese 4D: Não há nada na hipótese de Zöllner que

apresente algum conflito com algum conceito espírita. O fato de existir uma 4a dimensão do espaço e da

possibi-lidade dos Espíritos a utilizarem no fenômeno de trans-porte não apresenta discordância com nenhum conceito espírita. Na verdade, a hipótese 4D é a única que serve de explicação para as propriedades do meio ambiente menci-onadas por Erasto a respeito da forma como os Espíritos podem realizar o transporte (item 98 de LM [1])17: “Só

então pode, mediante certas propriedades, que desco-nheceis, do vosso meio ambiente, isolar, tornar invi-síveis e fazer que se movam alguns objetos materiais e mesmo os encarnados.” (Grifos em negrito, meus).

– Hipótese DR: Há dois pontos ou consequências da

hipótese de Bozzano que conflitam com alguns princípios espíritas.

O primeiro, que já foi comentado acima, trata-se da existência de “duplo etérico” de objetos. Segundo a Dou-trina Espírita, objetos não possuem um “duplo”. O Leitor é referido à questão 4 do item 128 do capítulo VIII do LM.

O segundo ponto diz respeito ao conceito de morte pelo Espiritismo. Segundo os Espíritos a morte decorre do esgotamento dos órgãos (questão 68 e 136a do LE [2]). A questão 68 do LE, em particular, não se refere ao ser humano apenas, mas a todo ser vivo. Logo, o fenômeno de transporte de flores, animais ou seres humanos não pode ocorrer através de processos de desintegração e rein-tegração, porque a desintegração significa a destruição do ser vivo, dos seus órgãos e do seu corpo e, portanto, a morte do ser. Se fosse possível a reintegração de um ser vivo, então seria possível fazer a ressurreição de qualquer ser, bastando reintegrar suas moléculas. O Espiritismo não suporta esse tipo de ideia que emerge da hipótese

DR.

Para contornar esse problema, alguns propõem que no caso do transporte de seres vivos, não é o ser vivo que é desmaterializado, mas sim as paredes do local onde está e para onde é transportado. Entretanto, essa hi-pótese não explica como o ser vivo é tornado invisível e transportado.

V

T

RANSPORTE EM RECINTO FECHADO

:

EXPLICAÇÕES DE

E

RASTO

No item 99 de LM [1], Kardec apresenta uma série de perguntas feitas a um Espírito que com frequência re-alizava fenômenos de transporte. Quando as respostas

desse Espírito não eram precisas, por falta de conheci-mento, Kardec recorreu a Erasto para maiores esclare-cimentos. Uma dessas questões, a de número 20, que foi respondida por Erasto, é questionada no movimento espírita por dizer que não é possível fazer a matéria

atra-vessar a matéria. Reproduzimos a seguir a questão 20 e

depois analisamo-la:

“20a (A Erasto) Pode um objeto ser trazido a um lugar inteiramente fechado? Numa palavra: pode o Espírito espiritualizar um objeto material, de maneira que se torne capaz de penetrar a matéria?

“É complexa esta questão. O Espírito pode tornar in-visíveis, porém, não penetráveis, os objetos que ele transporte; não pode quebrar a agregação da ma-téria, porque seria a destruição do objeto. Tor-nando este invisível, o Espírito o pode transportar quando queira e não o libertar senão no momento oportuno, para fazê-lo aparecer. De modo diverso se passam as coisas, com relação aos que compomos. Como nestes só introduzimos os elementos da maté-ria, como esses elementos são essencialmente penetrá-veis e, ainda, como nós mesmos penetramos e atra-vessamos os corpos mais condensados, com a mesma facilidade com que os raios solares atravessam uma placa de vidro, podemos perfeitamente dizer que in-troduzimos o objeto num lugar que esteja hermetica-mente fechado, mas isso sohermetica-mente neste caso.” (Grifos em negrito, meus. Grifos em itálico originais). Pergunta e resposta acima precisam ser analisadas com cuidado. É importante notar que a questão do trans-porte envolvendo entrada ou saída de um objeto de um recinto fechado foi feita, primeiramente, ao Espírito. É a 18a questão que reproduzimos a seguir:

“18a Como conseguiste outro dia introduzir aqueles objetos, estando fechado o aposento?

“Fi-los entrar comigo, envoltos, por assim dizer, na minha substância. Nada mais posso dizer, por não ser explicável o fato.”

A questão 18 mostra que era fato conhecido de Kar-dec a possibilidade de introduzir objetos em um recinto fechado. Não havia dúvida, portanto, do fato em si, mas apenas como esse fato poderia ocorrer. Assim, é neces-sário analisarmos melhor a pergunta de número 20, feita por Kardec.

Antes, porém, de iniciar a análise da questão 20, va-mos lembrar as recomendações de Kardec com relação à forma como se deve fazer perguntas aos Espíritos. No começo do capítulo XXVI de LM [1], Kardec faz impor-tantes recomendações a esse respeito. Ele diz:

“286. Nunca será excessiva a importância que se dê à maneira de formular as perguntas e, ainda mais, à natureza das perguntas. Duas coisas se devem con-siderar nas que se dirigem aos Espíritos: a forma e o fundo. Pelo que toca à forma, devem ser redigidas 17Citada e reproduzida na Introdução.

(10)

com clareza e precisão, evitando as questões comple-xas. Mas, outro ponto há não menos importante: a ordem que deve presidir à disposição das per-guntas. (...)

“O fundo da questão exige atenção ainda mais séria, porquanto é, muitas vezes, a natureza da pergunta que provoca uma resposta exata ou falsa.” (Grifos em negrito, nossos).

Um exemplo simples da importância da forma de uma pergunta é dada no item 205 de LM, a respeito de se con-sultar um Espírito sobre uma pessoa ser ou não médium. Kardec destaca que “quando alguém inquire dos

Espíri-tos se é médium ou não, eles quase sempre respondem afirmativamente, o que não impede que os ensaios resul-tem infrutíferos.” Ele complementa: “Desde que se faça ao Espírito uma pergunta de ordem geral, ele responde de modo geral. Ora, como se sabe, nada é mais elástico do que a faculdade mediúnica, pois que pode apresentar-se sob as mais variadas formas e em graus muito diferen-tes. Pode, portanto, uma pessoa ser médium, sem dar por isso, e num sentido diverso daquele que imagina. A esta pergunta vaga: Sou médium? O Espírito pode responder -Sim. A esta outra mais precisa: Sou médium escrevente? Pode responder - Não.” Esse exemplo mostra que as

res-postas dos Espíritos devem ser interpretadas de acordo com o pensamento contido na pergunta. É dessa forma que vamos analisar a questão 20 do item 99 de LM, a seguir.

Primeiro, Kardec pergunta a Erasto: “Pode um

ob-jeto ser trazido a um lugar inteiramente fechado?” Se

a questão de número 20 fosse apenas essa pergunta, a resposta de Erasto seria, sem dúvida, diferente. Ele não negaria, porque os fatos conhecidos de Kardec mostraram que era possível realizar tal transporte. Mas Kardec não termina a questão 20 com a primeira pergunta. Ele escla-rece melhor o ponto da dúvida que lhe passava pela mente usando a expressão “Numa palavra”. Ele diz: “Numa

pa-lavra: pode o Espírito espiritualizar um objeto material, de maneira que se torne capaz de penetrar a matéria?”

Ou seja, a dúvida de Kardec não era a possibilidade em si de se trazer um objeto de fora para dentro de um recinto fechado, mas sim se, nesse processo, seria possível tor-nar o objeto “espiritualizado”, isto é, fluídico, de modo que o objeto pudesse atravessar a matéria densa assim como os Espíritos, com seu perispírito, podem atravessar a matéria. Esse foi o sentido da questão 20.

A resposta de Erasto, então, foi direcionada a esse ponto da dúvida destacado por Kardec.

Erasto, então, inicia a resposta dizendo: “É complexa

esta questão.” Isso significa que nossos conhecimentos

não permitem uma compreensão fácil da questão. Depois diz “O Espírito pode tornar invisíveis,

po-rém, não penetráveis, os objetos que ele transporte;

não pode quebrar a agregação da matéria, porque seria a destruição do objeto.” (Grifos em negrito,

meus). Erasto, primeiro, diz que o Espírito que opera o fenômeno de transporte pode tornar invisível o objeto transportado. E em seguida afirma de modo claro e di-reto que os Espíritos não podem quebrar a agregação

da matéria, isto é, não podem desintegrar o objeto. E

explica o porquê: porque seria a destruição do objeto. Essa explicação está em pleno acordo com o conheci-mento científico na atualidade. Quebrar a agregação da matéria que forma um objeto é destruí-lo.

Em seguida, Erasto diz “Tornando este invisível, o

Espírito o pode transportar quando queira e não o liber-tar senão no momento oportuno, para fazê-lo aparecer.”

Aqui, Erasto não explica como o Espírito torna o ob-jeto invisível, mas ele deixa claro que o obob-jeto tornado invisível não sofreu desagregação. Como a questão é

com-plexa, como ele diz no começo de sua resposta, ele não

tinha como expor o processo pelo qual o objeto é tornado invisível. Como mencionado na Introdução deste artigo, Erasto no item 98 do LM [1] revelou que o Espírito opera-dor do fenômeno, “Só então pode, mediante certas

pro-priedades, que desconheceis, do vosso meio am-biente, isolar, tornar invisíveis e fazer que se movam

alguns objetos materiais e mesmo os encarnados.”

(Gri-fos em negrito, meus). Em outras palavras, Erasto afirma que o processo de tornar invisível o objeto a ser transpor-tado utiliza certas propriedades (que desconhecemos ainda) do nosso meio ambiente. A hipótese 4D é a única que envolve uma propriedade do nosso meio

ambiente: possuir uma dimensão extra de espaço.

Depois, Erasto explica que só seria possível fazer a matéria atravessar a matéria se seus elementos básicos, átomos e/ou partículas subatômicas, fossem transporta-das. Isso também está de acordo com a Ciência porque essas partículas são pequenas o bastante para poder atra-vessar os espaços vazios que existem entre os átomos que compõem os objetos materiais.

Assim, vemos que Erasto não negou a possibilidade de transportar objetos para um recinto fechado, apenas negou que o processo se dê através da desintegração do objeto. Erasto, portanto, está correto e de acordo com a Ciência. Notem que Kardec pergunta se seria possí-vel “espiritualizar” o objeto a ser transportado. Se todo objeto material possuísse um “duplo etérico”, como pro-posto por Bozzano, Erasto teria respondido que sim, que os objetos possuiam uma forma de se espiritualizar. Po-rém, Erasto não afirma isso. E essa negativa está em acordo com a resposta dada por São Luís à questão 4 do item 128 do capítulo VIII do LM [1]. Ou seja, a res-posta de Erasto também está de acordo com o próprio Espiritismo.

VI

D

ISCUSSÃO E CONCLUSÕES FINAIS

Neste estudo, apresentamos em resumo as hipóteses de Bozzano e Zöllner para os mecanismos físicos do fenô-meno de transporte. Analisamo-las com base nos conhe-cimentos científicos atuais envolvendo as propriedades da matéria e de seus constituintes. Mostramos que a tese de desintegração e reintegração da matéria, ou hipó-tese DR, de Bozzano apresenta inúmeros problemas com relação à Física dos materiais e apresenta alguns proble-mas de ordem doutrinário. Já a hipótese da existência de uma 4adimensão espacial, ou hipótese 4D de Zöllner,

(11)

além de não apresentar os problemas da hipótese DR, está em pleno acordo com a explicação espírita para o fenômeno.

Revisamos, também, as explicações dadas por Erasto, a respeito da possibilidade de fazer a matéria atravessar a

matéria. Mostramos que Erasto não nega a possibilidade

do fenômeno de transporte para dentro de um recinto hermeticamente fechado, mas nega que os Espíritos rea-lizem a desintegração do objeto. Suas explicações, além de estarem em acordo com as explicações de São Luís, es-tão em pleno acordo com o conhecimento científico atual a respeito da natureza e estrutura da matéria. Mostra-mos, por conseguinte, que a hipótese 4D é a que mais se aproxima das explicações de Erasto para o processo pelo qual o Espírito operador do fenômeno de transporte, torna invisível o objeto a ser transportado.

É importante lembrar um argumento de Zöllner a res-peito da percepção do mundo tridimensional através da visão. Uma pessoa que seja cega de um olho, não pode processar duas imagens recebidas em sua retina e, por-tanto, não pode perceber diretamente a tridimensionali-dade do espaço. Porém, observando como os objetos se movem uns com relação aos outros, a pessoa pode inferir que objeto está na frente do outro e, assim, formar em sua mente a noção da tridimensionalidade. Transpondo essa ideia para o fenômeno de transporte, os médiuns que conseguem ver o objeto transportado antes dele aparecer aos olhos dos assistentes, descrevem impressões de que o objeto assume dimensões e distâncias diferentes, mas mantendo a mesma forma. Essa impressão diferente pode ser interpretada como sendo um efeito da 4adimensão do

espaço. Essa impressão não pode ser explicada pela hi-pótese DR.

Como discutido anteriormente, a hipótese DR não pode ser aplicada a seres vivos, porque isso significaria a morte do ser. Algumas pessoas acreditam que, nesse caso, seriam as paredes do recinto que seriam desma-terializadas. Porém, o que dizer do fenômeno de des-materialização apenas das pernas de uma médium como descrito por Aksakof na obra Um Caso de

Desmateriali-zação Parcial do Corpo dum Médium [5]? A hipótese DR é incapaz de explicar esse fenômeno porque implica em aleijar a médium. Já a hipótese 4D permite solucionar o problema. Na verdade, os Espíritos apenas moveram as pernas da médium ao longo da 4a dimensão. Os en-carnados puderam perceber a ausência das pernas, mas a médium tinha a sensação de que suas pernas estavam no mesmo lugar [5]. Os detalhes desse fenômeno de

desma-terialização parcial será analisado em um futuro artigo. O fato da hipótese DR não explicar alguns detalhes do próprio fenômeno nem responder às questões de natureza científcia não diminui o valor da obra de Bozzano. Ela é importante para o conhecimento espírita pois constitui-se num conjunto de evidências que corroboram a existência do fenômeno em si e a existência e a ação de Espíritos.

Por fim, é importante ressaltar que o Espiritismo não faz uso de hipóteses adicionais sobre a natureza e dimen-sionalidade do espaço físico para mostrar e demonstrar a existência e sobrevivência da alma, bem como as propri-edades gerais dos princípios inteligente e material. Em-bora o Espírito possa sentir o espaço com mais dimensões (não sabemos), a hipótese 4D não explica a natureza do Espírito. Ela só pode ser aplicada às coisas materiais, o que permite entender uma forma pela qual objetos ma-teriais podem ser transportados pelos Espíritos “de” ou “para” um recinto fechado.

Em conclusão, nosso estudo mostra que Erasto está correto em sua descrição do fenômeno de transporte, e que a hipótese 4D é a única que conhecemos que for-nece uma explicação para os mecanismos do fenômeno de transporte que está em pleno acordo tanto com a Ci-ência quanto com o Espiritismo.

R

EFERÊNCIAS

[1] A. Kardec, O Livro dos Médiuns, Editora FEB, 62a Edição, Rio de Janeiro (1996).

[2] A. Kardec, O Livro dos Espíritos, Editora FEB, 76aEdição, Rio de Janeiro (1995).

[3] J. K. F. Zöllner, Transcendental physics. An account of experimental investigations from the scientific treati-ses, Tradução para inglês de Charles Carleton Massey, Editora Ballantyne Press, Londres (1880). Versão ele-trônica acessível em https://openlibrary.org/books/ OL14045935M/Transcendental_physics.

[4] E. Bozzano, Fenômenos de “Transporte”, Tradução de Fran-cisco K. Werneck, Edições FEESP, 3a Edição, São Paulo (1989).

[5] A. Aksakof, Um Caso de Desmaterialização Parcial do Corpo dum Médium, Editora FEB, 3aEdição, Rio de Janeiro (1979). [6] A. O. O. Filho, “O Espiritismo responde”, O Con-solador Ano 8, N. 367 - 15 de Junho de 2014 (2014). Acessado em 25 de Janeiro de 2015 através do link: http://www.oconsolador.com.br/ano8/367/ oespiritismoresponde.html

[7] Pirita: http://pt.wikipedia.org/wiki/Pirita Aces-sado em 31 de Janeiro de 2015.

Title and Abstract in English

(12)

Abstract:

The transport phenomenon consists of the introduction or remotion of material objects into or from a place through the invisible action of the Spirits. Althoug the phenomenon has been studied by Kardec, its physical mechanisms are not known. The spiritist literature, however, presents two different proposals to explain the phenomenon: i) the possibility of disintegration and reintegration of the molecules of the transported object or of the walls of the enclosure, as defended by Ernesto Bozzano; and ii) the possibility of the object to be moved through a fourth spatial dimension, as defended by Johan Carl Friedrich Zöllner. In this article, we analyze these two hypotheses comparing them to the scientific knowledge and to the explanations contained in The Book of Mediums. We show that besides explaining the transport phenomena, and conform to the Doctrine, the Zöllner’s proposal has much less problems regarding the physics of materials than that of Bozzano’s proposal. As the Bozzano’s hypothesis has raised criticisms against the Spiritism and, in particular, to Erasto’s comments in the Book of Mediuns about the transport phenomenon from or to closed rooms, we review the Erasto’s explanations taking into account the context where they were written to show, at the end, that they are correct and in accordance to both the descriptions of the phenomena themselves and the current scientific knowledge.

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