• Nenhum resultado encontrado

Microfundamentos da macroeconomia : crítica de Lucas à economia da complexidade

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Microfundamentos da macroeconomia : crítica de Lucas à economia da complexidade"

Copied!
115
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE ECONOMIA

RAFAEL PEIXOTO MEIRA

Microfundamentos da macroeconomia: da Crítica de Lucas

à economia da complexidade

Campinas

2019

(2)

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE ECONOMIA

RAFAEL PEIXOTO MEIRA

Microfundamentos da macroeconomia: da Crítica de Lucas

à economia da complexidade

Prof. Dr. José Ricardo Fucidji – orientador

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Econômicas do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas para obtenção do título de Mestre em Ciências Econômicas.

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELO ALUNO RAFAEL PEIXOTO MEIRA E ORIENTADA PELO PROF. DR. JOSÉ RICARDO FUCIDJI.

Campinas

2019

(3)

Ficha catalográfica

Universidade Estadual de Campinas Biblioteca do Instituto de Economia

Mirian Clavico Alves - CRB 8/8708

Peixoto Meira, Rafael, 1989-

P359m Microfundamentos da macroeconomia : da crítica de Lucas à economia da complexidade / Rafael Peixoto Meira. – Campinas, SP : [s.n.], 2019.

Orientador: Jose Ricardo Fucidji.

Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Economia.

1. Economia - Metodologia. 2. Macroeconomia. 3. Economia da

complexidade. I. Fucidji, Jose Ricardo, 1971-. II. Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Economia. III. Título.

Informações para Biblioteca Digital

Título em outro idioma: Microfoundations of macroeconomics : from Lucas' critique to the

complexity economics

Palavras-chave em inglês:

Economics - Methodology Macroeconomics

Complexity economics

Área de concentração: Teoria Econômica Titulação: Mestre em Ciências Econômicas Banca examinadora:

Jose Ricardo Fucidji [Orientador] Adriana Nunes Ferreira

Tatiana Massaroli de Melo

Data de defesa: 31-05-2019

Programa de Pós-Graduação: Ciências Econômicas

Identificação e informações acadêmicas do(a) aluno(a)

- ORCID do autor: https://orcid.org/0000-0003-3970-4403 - Currículo Lattes do autor: http://lattes.cnpq.br/4847948312254807

(4)

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE ECONOMIA

RAFAEL PEIXOTO MEIRA

Microfundamentos da macroeconomia: da Crítica de Lucas

à economia da complexidade

Prof. Dr. José Ricardo Fucidji – orientador

Defendida em 31/05/2019

COMISSÃO JULGADORA

Prof. Dr. José Ricardo Fucidji - PRESIDENTE Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)

Prof.ª Dr.ª Adriana Nunes Ferreira

Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)

Prof.ª Dr.ª Tatiana Massaroli de Melo

Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP)

A Ata de Defesa, assinada pelos membros da Comissão Examinadora, consta no processo de vida acadêmica do aluno.

(5)

RESUMO

Esse trabalho analisa o debate em torno do que ficou cunhado na literatura como ‘microfundamentos da macroeconomia’, e tem como objetivo discutir tanto as críticas ao modo como eles são propostos pela teoria econômica mainstream quanto visões alternativas da conexão entre o micro e o macro. Apesar de existir atualmente um ‘novo consenso em macroeconomia’, a sua estratégia de microfundamentação baseada no agente representativo é alvo de inúmeras críticas, por apresentar diversos problemas de agregação e ignorar a importância das interações entre os agentes e dos mecanismos de influência do macro sobre o micro. Estes são dois aspectos que estão no centro de diversas propostas alternativas de conexão entre a microeconomia e a macroeconomia, e que muitas vezes são expressos por meio do conceito de emergência. Embora esse seja um conceito mal especificado no debate econômico, em várias abordagens – como será defendido aqui –, ele é utilizado representando justamente estes dois aspectos. Dentre essas abordagens, é destacada nessa dissertação a da economia da complexidade, que enxerga a economia enquanto um sistema complexo adaptativo e propõe a sua análise a partir – entre outros métodos – de modelos baseados em agentes (ABMs). Estes possibilitariam o estudo das interações e feedbacks existentes no sistema econômico a partir do exame tanto das regras de comportamento dos agentes quanto das redes de conexão entre eles. Assim, tais modelos seriam capazes de analisar os principais mecanismos de influências causais existentes entre a microeconomia e a macroeconomia, considerando uma relação dinâmica e continua entre esses dois domínios. Será discutido nesse trabalho, também, como a análise de tais mecanismos de influência constitui um modo de explicação adequado dos fenômenos em ciências sociais – o que é referido no debate como ‘explicação baseada em mecanismos’. A partir disso, conclui-se que microfundamentar a macroeconomia consistiria em explicar os mecanismos de influência das interações entre os agentes microeconômicos sobre as estruturas macroeconômicas, porém, levando-se em conta, também, os diversos outros mecanismos em ação e a forma dinâmica como os mecanismos nos diversos níveis se relacionam.

Palavras-chave: microfundamentos, emergência, complexidade, mecanismos,

(6)

ABSTRACT

This work analyzes the debate around what has been coined in the literature as 'micro-foundations of macroeconomics' and aims to discuss both the critiques of the way they are proposed by mainstream economic theory and alternative visions of the connection between micro and macro. Although there is currently a 'new consensus in macroeconomics', its strategy of microfoundation based on the representative agent is criticized for presenting several problems of aggregation and ignoring the importance of the interactions between the agents and the mechanisms of influence of the macro over the micro. These are two aspects that are at the center of several alternative proposals of connection between microeconomics and macroeconomics, and which are often expressed through the concept of emergence. Although this is a badly specified concept in the economic debate, in several

approaches – as it will be argued here – it is used for representing these two

aspects. Among these approaches, the complexity economics, which sees the economy as a complex adaptive system, is emphasized in this dissertation and

proposes its analysis based on – among other methods – agent-based models

(ABMs). These would make possible the study of the interactions and feedbacks existing in the economic system from the examination of both the agents’ rules of behaviour and the networks of connection inter agents. Thus, they would be capable of analyzing the main mechanisms of causal influences between microeconomics and macroeconomics, considering a dynamic and continuous relationship between these two domains. It will also be discussed in this paper how the analysis of such mechanisms of influence constitutes a proper way of explaining phenomena in social sciences – what is referred to in the debate as 'mechanism-based explanation'. From this, it is concluded that to microfound the macroeconomics would involve explaining the mechanisms of influence of and the interactions between microeconomic agents on macroeconomic structures, however, considering also the various other mechanisms in action and the dynamic forms with which they relate.

(7)

Sumário

INTRODUÇÃO ... 9

CAPÍTULO 1: O DEBATE DA MICROFUNDAMENTAÇÃO DA MACROECONOMIA12 1.1. Introdução ... 12

1.2. Uma visão histórica ... 14

1.2.1. A microfundamentação mainstream como a “única” proposta de microfundamentação? ... 18

1.3. A microfundamentação mainstream ... 20

1.4.Críticas à microfundamentação mainstream ... 23

1.4.1. Agentes Representativos ... 28

1.5. Microfundamentações alternativas ... 35

1.6. Considerações Finais ... 40

CAPÍTULO 2: O CONCEITO DE EMERGÊNCIA ... 42

2.1. Introdução ... 42

2.2. Conceitos importantes no debate sobre emergência ... 44

2.2.1. Superveniência ... 45

2.2.2. Realizabilidade múltipla ... 49

2.2.3. Downward causation ... 49

2.3. A classificação de Bedau ... 53

2.3.1. “Emergência fraca” e simulações computacionais ... 60

2.4. Emergência em ciências sociais e economia... 64

2.6. Considerações finais ... 73

CAPÍTULO 3: A ECONOMIA DA COMPLEXIDADE ... 75

3.1. Introdução ... 75

3.2. Cognição e comportamento ... 76

3.3. Estruturas e redes de interação ... 81

3.4. Modelos baseados em agentes (ABMs) ... 83

3.4.1. História dos ABMs ... 85

(8)

3.4.3 ABMs em macroeconomia ... 90

3.4.4. Microfundamentos de modelos macroeconômicos baseados em agentes ... 93

3.5. Explicação baseada em mecanismos ... 97

3.6. Considerações finais ... 102

CONCLUSÃO ... 104

(9)

Introdução

Existe um debate na teoria econômica – que já dura mais de 80 anos – sobre a necessidade de microfundamentação da macroeconomia. De acordo com Hoover (2009, p. 387), esse debate nasce logo depois da separação da teoria econômica em seus dois ramos principais – Microeconomia e Macroeconomia –, com a publicação do livro Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda de John Maynard Keynes, em 1936, e as críticas que este recebeu devido à sua incompatibilidade com a teoria microeconômica do equilíbrio geral, como em Leontief (1936). Porém, a partir dos anos 1970, com a famosa “crítica de Lucas” (LUCAS, 1976), este tema ganha destaque, com o mainstream pendendo fortemente para uma visão de defesa de tal microfundamentação (HOOVER, 2015). Atualmente, esse debate gira em torno da proposta de conexão micro-macro da Nova Síntese Neoclássica (NSN) que, embora tenha se tornado a abordagem macroeconômica mainstream, é alvo de inúmeras críticas – que vão desde aspectos mais técnicos, dos seus modelos DSGE (Dynamic Stochastic General Equilibrium), até questões metodológicas e inclusive ontológicas (e.g., Fagiolo e Roventini (2012); Gatti et al. (2011); Denis (2016)). Com isso, uma grande parcela das críticas à microfundamentação da macroeconomia, atualmente, se destina às características da NSN, como, por exemplo, pressupostos irrealistas e uma estrutura analítica inadequada, além da sua visão alinhada ao individualismo metodológico.

Dentro desse contexto, diversos críticos da microfundamentação da NSN utilizam o termo emergência para caracterizar a conexão entre microeconomia e macroeconomia, como contraposição à visão reducionista ali presente. Apesar de o conceito de emergência frequentemente aparecer com significados diferentes na literatura – com cada autor definindo-o de maneira diferente (ou, às vezes, até sem uma definição precisa) –, para grande parte dos autores do debate em economia, e em ciências sociais em geral, ele possui como aspecto fundamental a formação das macroestruturas a partir das interações entre os agentes. Partindo dessa visão, seria inadequado analisar a macroeconomia a partir de um agente representativo, como o faz a teoria econômica mainstream.

(10)

Dentre os diversos autores que ressaltam a centralidade das interações entre agentes no processo de emergência – que, por sua vez, seria fundamental na conexão entre a microeconomia e a macroeconomia –, estão aqueles associados à economia da complexidade (ARTHUR, 1999). Essa abordagem entende o sistema econômico enquanto um sistema complexo adaptativo, no qual tanto as interações entre os componentes influenciam as propriedades do sistema quanto o sistema influencia as próximas interações entre os seus componentes, de forma dinâmica e cíclica. Assim, o feedback do macro sobre o micro seria um aspecto também central, juntamente com as interações entre os agentes, na conexão entre o micro e o macro.

A partir disso, esse trabalho pretende analisar concepções de microfundamentação alternativas à proposta pela teoria economia mainstream – que não imponham uma relação reducionista da macroeconomia na microeconômica, como a NSN. Em especial, concepções que considerem as interações entre os agentes e os feedbacks do macro sobre o micro. Tais aspectos são encontrados na economia da complexidade, mas também em diversos autores sem ligação direta com essa abordagem (como Lawson (2012), Vercelli (2016), Chick (2016), entre outros).

Assim, o trabalho irá, primeiramente, se debruçar sobre o debate na teoria econômica a respeito de microfundamentos, com o objetivo de mostrar como esse conceito foi e continua sendo utilizado de diversas formas. Em seguida, investigará como o conceito de emergência é utilizado por diversos autores como uma proposta de conexão micro-macro alternativa à da NSN, que foca nas interações entre os agentes e explicita a impossibilidade de se derivar o comportamento agregado a partir do comportamento de um único agente representativo. Por fim, é apresentada e discutida a economia da complexidade, que aparece como uma proposta de análise da relação micro-macro que incorpora esses dois aspectos acima apontados: a interação entre os agentes e o feedback do macro sobre o micro. De forma mais específica, o trabalho estará dividido em três capítulos:

a) Uma contextualização do debate sobre microfundamentação da macroeconomia, e o estado em que tal debate se encontra atualmente. b) Um exame de diferentes propostas do conceito de emergência, e como

(11)

c) Uma análise da economia da complexidade, e sua visão da relação entre microeconomia e macroeconomia.

Sobre o item a), o que se pretende fazer, de modo mais concreto, é uma revisão da literatura a respeito do debate sobre microfundamentação da macroeconomia, procurando apresentar uma breve exposição histórica, diferentes conceitualizações desse termo e os principais argumentos levantados a seu favor e contra. Como, atualmente, este debate gira muito em torno da microfundamentação proposta pela NSN, pretende-se também analisá-la, com um foco em suas características metodológicas.

Com relação ao item b), será feita uma exposição e comparação de diferentes propostas de conceitualização da noção de emergência. Pretende-se mostrar como, apesar de importantes discrepâncias, há uma convergência, no debate econômico, a uma noção centrada nas interações entre os agentes.

Já sobre o item c), será feita uma exposição da economia da complexidade e sua visão de sistema econômico enquanto um sistema complexo adaptativo. Será discutido como essa abordagem coloca esses dois aspectos da conexão micro-macro (as interações entre os agentes e o feedback do micro-macro sobre o micro), a partir do comportamento dos agentes e das redes de interação entre eles. Adicionalmente, serão examinados os modelos baseados em agentes (ABMs), e como esses possibilitam um tipo de explicação baseada em mecanismos.

Ao final desses três capítulos, se seguirá uma conclusão, procurando conectar de forma sucinta os temas abordados durante o trabalho, com o objetivo de apontar uma relação micro-macro alternativa à presente na microfundamentação da NSN, e que inclua tanto a influência das interações entre os agentes microeconômicos sobre o sistema macroeconômico emergente quanto a influência do feedback desse sistema sobre as interações subsequentes. Já antecipando, aqui, a conclusão do trabalho, o que se procurará mostrar é que esses dois mecanismos de influência, que se intercalam de forma dinâmica, são centrais para se explicar a conexão entre a microeconomia e a macroeconomia.

(12)

Capítulo 1: O debate da microfundamentação da macroeconomia

1.1. Introdução

A conexão entre o comportamento individual e o comportamento coletivo (ou agregado) sempre foi uma questão que esteve presente no debate econômico, porém, propostas sistematizadas sobre tal conexão só surgiram com a divisão da teoria econômica em microeconomia e macroeconomia, nos anos 1930. Isso porque, como coloca Hoover (2009, pp. 386-7), “Questions about the relationship between these two groups of concerns could hardly be articulated until a categorical distinction between macroeconomics and microeconomics had been drawn”.O termo “microfundamentos”, por sua vez, só aparece nos anos 1950, de forma esparsa, e só se populariza a partir dos anos 1970 (HOOVER, 2012, p. 23). Atualmente, tanto esse termo quanto a questão sobre a conexão micro-macro em geral giram em torno da teoria macroeconômica associada ao que ficou conhecido como a Nova Síntese Neoclássica (NSN). Essa, embora tenha se tornado a abordagem macroeconômica mainstream, é alvo de inúmeras críticas. Com isso, uma grande parcela das críticas à microfundamentação da macroeconomia, atualmente, se destina a características da NSN, como, por exemplo, seus pressupostos do agente representativo e das expectativas racionais, e seu discurso de “obrigatoriedade” de adequação da teoria macroeconômica a certos microfundamentos.

Apesar dessa identificação, recorrente na literatura, entre microfundamentos e a NSN, diversos autores (e.g., Hartley (2002); Hoover (2012); Vercelli (2016)) defendem uma visão mais pluralista a respeito do conceito de microfundamentos, de modo que tal termo possa fazer referência a outras estratégias de conexão entre o micro e o macro, diferentes da existente na NSN. Entendendo microfundamentos a partir dessa visão pluralista, é possível criticar o modo específico como esses são propostos pela NSN, e admitir a possibilidade de formas alternativas, que não imponham um reducionismo da teoria macroeconomia na teoria microeconomia, como proposto pela NSN.

A partir disso, o objetivo desse capítulo é examinar as principais questões envolvidas em uma microfundamentação da macroeconomia, analisando, para isso, as principais propostas que surgiram ao longo do tempo e a proposta mainstream

(13)

atual (NSN). Como será visto, há na literatura diversas propostas alternativas de conexão entre a microeconomia e a macroeconomia.

Desse ponto em diante, sempre que o termo microfundamentos fizer referência à proposta da NSN será explicitado que se trata dela.Tal proposta é denominada de diversas formas na literatura (e.g., apenas ‘microfoundations’ (KING, 2012); ‘MIF’ (VERCELLI, 2016); ‘representative-agent program’ (HOOVER, 2012)), e nesse trabalho será denominada de ‘microfundamentação mainstream’. O que se está aqui atribuindo, exatamente, a essa proposta, é a utilização de certos pressupostos na estratégia de microfundamentação da macroeconomia: agentes representativos, expectativas racionais e estrutura teórica de equilíbrio geral. Tais pressupostos estão presentes tanto nos novos clássicos, quanto nos novos keynesianos e, posteriormente, na NSN (DUARTE, 2012, p. 203). Assim, ‘microfundamentação mainstream’ faz referência à teoria macroeconômica mainstream desde meados dos anos 1970 até os dias atuais.

Esse capítulo, resumidamente, apresenta como o desenvolvimento histórico do debate sobre microfundamentos culmina, depois do surgimento de diferentes propostas, na microfundamentação mainstream; e, após um breve detalhamento dessa última, discute críticas e alternativas a essa proposta. Será visto, aqui, que grande parte das críticas se dirige ao uso do pressuposto do agente representativo e que diversos autores – a partir de visões e argumentações completamente diferentes – propõem que, dado os problemas associados a esse pressuposto, a conexão entre a macroeconomia e a microeconomia envolveria o conceito de emergência – muito embora esse conceito seja mal especificado no debate. O pressuposto do agente representativo apresenta uma série de problemas relacionados a agregação, especialmente ao desconsiderar a existência de interações entre os agentes na economia.

De forma mais específica, esse capítulo se dividirá em mais cinco seções: na seção 1.2, será feita uma breve exposição histórica do debate em torno da microfundamentação da macroeconomia, e como a microfundamentação mainstream se tornou a proposta dominante; a seção 1.3 discute a microfundamentação mainstream, que atualmente é o foco do debate sobre microfundamentos; a seção 1.4 apresenta as principais críticas à microfundamentação mainstream, focando-se nas críticas metodológicas (em especial, ao uso de agentes representativos); a seção 1.5 apresenta uma conclusão

(14)

dessa discussão e algumas visões alternativas de conexão entre a microeconomia e macroeconomia, indicando como diversos autores utilizam o termo “emergência” para caracterizar tal conexão.

1.2. Uma visão histórica

É possível analisar a história das propostas de microfundamentação da macroeconomia a partir de diversas óticas, como, por exemplo, focando-se no seu desenrolar cronológico (como faz King (2012)) ou identificando propostas ou projetos que possam ser enquadrados em programas relativamente coesos (como em Hoover (2012)). Hoover (2012) identifica, ao longo do século XX, três programas de microfundamentos – o programa do equilíbrio geral (general-equilibrium program), o programa da agregação (aggregation program) e o programa do agente representativo (representative-agent program). Já King defende a existência de apenas uma microfundamentação propriamente dita, que ele denomina de “microfoundations dogma” (KING, 2012, p. 75) – e que diria respeito ao programa do agente representativo, indicado por Hoover –, porém aponta, também, que ideias a respeito da conexão entre a microeconomia e a macroeconomia foram se desenvolvendo ao longo do tempo até desembocarem em tal ‘dogma’. Essa identificação mais restrita, de King, a respeito de microfundamentos, como será visto, provém da sua associação direta entre o conceito de microfundamentos e um reducionismo da teoria macroeconômica na teoria microeconômica. Tal conceito, porém, pode ser tomado de forma mais ampla e plural, como faz Hoover.

Hoover (2012), em sua análise da história dos microfundamentos em economia, antes de apresentar os programas citados, indica a existência, também, de uma “pré-história” das microfundamentações, na qual, muito embora houvesse um exame da relação entre macroeconomia e microeconomia, tal exame não era empregado na construção de um programa sistemático de investigação a respeito dessa relação. Hoover destaca, como fazendo parte dessa “pré-história” Frisch, Keynes e Hicks. Os programas de microfundamentação que se seguiram receberam grande influência desses autores.

De acordo com Hoover (2012), para Keynes e para Frisch – que foi quem cunhou os termos “microeconomia” e “macroeconomia” –, a relação entre microeconomia e macroeconomia era de interdependência, na qual a dinâmica micro

(15)

dependeria de variáveis e parâmetros provenientes da macroeconomia, e a dinâmica macro seria o resultado de toda a dinâmica micro. Para se chegar a esse resultado da dinâmica macro, entretanto, Frisch argumentava que, dada a impossibilidade – analítica ou por falta de dados – de se utilizar todos os detalhes de toda a dinâmica micro, era necessário recorrer-se ao uso de agregados como representação das propriedades macro. Já Keynes procurava identificar qual seria o comportamento macro dados certos comportamentos individuais, de forma ‘impressionistic’, como aponta Hoover (2012, p. 30), que utiliza o termo emergência para caracterizar essa estratégia: “Emergence is perhaps the most characteristic feature of Keynes’s account of the relationship of microeconomic to macroeconomic behavior” (HOOVER, 2012, p. 35). Hicks, por sua vez, defendia que a teoria macroeconômica poderia ser completamente derivada da microeconômica, considerando o comportamento do sistema como idêntico ao comportamento individual, estratégia que ele sustentava com base em seu teorema da mercadoria composta, como aponta Hoover (2012, p. 36): “Hicks’s theoretical rationale for the assumption that what is true of the individual is true of the group […] is found in what would later be referred to as his ‘composite-commodity theorem’”. É como resposta a esse teorema que surge o primeiro programa de microfundamentação identificado por Hoover.

Hoover aponta que o teorema da mercadoria composta estabelecia uma série de condições sob as quais o agregado poderia ser tratado como o caso individual. Entretanto, ele acrescenta, “Hicks does not address the applicability of the theorem to the real world. Subsequent developments in aggregation theory, however, suggest that its range of applicability is exceedingly narrow” (HOOVER, 2012, p. 36). Assim, dada essa dificuldade, uma postura que foi tomada por diversos autores foi permanecer com modelos formais de equilíbrio geral nos quais cada agente era tratado como um indivíduo diferente. Essa postura daria origem ao programa de microfundamentação do equilíbrio geral (HOOVER, 2012, p. 37).

Hoover não se aprofunda muito na análise desse programa, para além da sua caracterização enquanto uma resposta à visão de Hicks, pois tal programa, de acordo com ele, “essentialy became the domain of economic theorists – generally regard as microeconomists, even when they addressed coordination failures – and hardly affected mainstreram macroeconomics” (HOOVER, 2012, p. 38). Nesse programa, a relação entre a teoria macroeconômica e a teoria microeconômica seria

(16)

a mesma defendida por Hicks, de que a primeira seria completamente derivada da segunda. Porém, dadas as exigências associadas ao teorema da mercadoria composta, no programa do equilíbrio geral, a estratégia seria criar modelos nos quais todos os agentes seriam inclusos.

O próximo programa de microfundamentação identificado por Hoover é o programa da agregação, que tem na macroeconometria de Klein (1946) seu principal exemplo. Hoover aponta que, embora esse programa seja bem diferente do programa do equilíbrio geral, os dois partem de praticamente o mesmo lugar: agentes individuais resolvendo problemas de otimização, situados em um equilíbrio Walrasiano. Entretanto, como Klein considerava um equilíbrio geral detalhado impraticável – assim como Frisch –, para fins de modelagem econométrica, os indivíduos acabavam sendo substituídos por agregados. Porém, isso não poderia ser realizado de qualquer maneira, sendo necessário, na visão de Klein, o uso de “métodos apropriados de agregação”. Caso isso fosse satisfeito, as funções macroeconômicas teriam as mesmas propriedades das funções microeconômicas

(HOOVER, 2012, p. 39). Com relação a tais métodos apropriados de agregação,

Hoover aponta que Klein propunha tomar como dadas tanto a teoria microeconômica do equilíbrio geral quanto a teoria macroeconômica Keynesiana e buscar agregados que tornassem essas duas compatíveis. Mais especificamente, partia-se de poucas equações macroeconômicas e procurava-se desagregá-las o máximo possível, na direção de um modelo Walrasiano de equilíbrio geral.

Por último, Hoover (2012, p. 46) apresenta o programa do agente representativo, que, de acordo com ele, suplanta o programa da agregação já no começo dos aos 1980. Tal programa é introduzido por economistas novo clássicos, porém, posteriormente, adotado por todos os macroeconomistas mainstream – notadamente pelos novos Keynesianos, passando a exercer, assim, uma dominância, na academia, na questão acerca de microfundamentos – sendo por muitos tomada como a única microfundamentação propriamente dita. Como Hoover coloca:

Microfoundations as a concept, in the minds of many, has come to exclude the earlier programs altogether. The general-equilibrium program of microfoundations has come to be seen as a respectable area of research, but one that is essentially microeconomic; while the aggregation program of microfoundation is falsely characterized as an analysis of aggregates without any substantial connection to microeconomics. (HOOVER, 2012, p. 46)

(17)

O programa do agente representativo, de acordo com Hoover (2012, p. 46), tem como marco de seu estabelecimento a publicação do Microeconomic Foundations, em 1970, editado por Edmund Phelps, e com contribuições de Robert Lucas e Leonard Rapping. Porém, é em um outro artigo de Lucas – “Expectations and the Neutrality of Money” (1972) – que as bases teóricas desse programa são firmadas, como aponta Hoover (sobre tal artigo):

Programmatically, it serves a function not dissimilar to Klein’s articles on aggregation. Each provides a sort of theoretical reassurance that something that we cannot do in practice at least works in principle. In Lucas’s case, it allows him to conclude that we could get the desired result out of a fully articulated general-equilibrium model with heterogeneous agents; and knowing that we could, it is OK to short-circuit the process and to work with much simpler models. (HOOVER, 2012, p. 48)

De forma mais específica, o que permitiria tal “curto-circuito” seria o uso da hipótese de expectativas racionais, que gerava uma solução simultânea para o indivíduo e para o sistema, sendo, dessa forma, desnecessária a inclusão de todos os agentes heterogêneos na análise. Assim, através da hipótese de expectativas racionais, esse programa defendia um ‘método de agregação’ semelhante ao que Hicks havia proposto, no qual seria possível considerar o comportamento do sistema como idêntico ao dos indivíduos. Ou seja, a teoria macroeconômica seria completamente derivada da teoria microeconômica, utilizando-se, para tanto, o pressuposto do agente representativo. Porém, tal pressuposto aparece apenas como um dispositivo para simplificar a conexão entre o indivíduo e o sistema, e o que dá sustentação teórica aos modelos é a hipótese de expectativas racionais, combinada com a otimização intertemporal (HOOVER, 2012, pp. 49-50). O uso de agentes representativos não é sequer justificado:

Sargent (1979: 371, fn. 4) refers to the “standard device of ‘representative’ agents” as needing no special justification and by the time that Sargent’s

Dynamic Macroeconomic Theory (1987) appears – the representative agent

model has become the workhorse of the new classical macroeconomics. […] there is never any discussion of the conditions under which this assumption [agentes representativos] is warranted more generally. It is truly just assumed without comment. So, in effect, the new classic macroeconomists sleepwalked into their most characterized methodological position. (HOOVER, 2012, p. 50)

A relação entre esses programas pode ser resumida da seguinte forma. A partir do teorema da mercadoria composta de Hicks, que requeria condições muito

(18)

estritas para a agregação, o programa do equilíbrio geral tomava a posição de que, devido a essas condições estritas, apenas seriam aceitáveis modelos (de equilíbrio geral) em que cada indivíduo fosse especificado. Hoover aponta que essa posição acaba por culminar em análises puramente microeconômicas, sem muito impacto sobre o direcionamento da teoria macroeconômica. Outras duas atitudes diferentes dessa, e opostas entre si, são a do programa da agregação e a do programa do agente representativo. Klein e o programa da agregação, dados os problemas envolvendo agregação, tentam superá-los a partir da construção de métodos de agregação apropriados, que tornariam compatíveis a teoria microeconômica do equilíbrio geral e a teoria macroeconômica Keynesiana. O programa do agente representativo, por sua vez, toma um caminho oposto, desconsiderando os problemas de agregação e derivando a teoria macroeconômica da microeconômica, a partir do pressuposto do agente representativo.

Essa análise histórica realizada por Hoover mostra a possibilidade de diversidade de abordagens sobre a conexão entre microeconomia e macroeconomia. Tal diversidade, entretanto, é frequentemente ignorada no debate atual, focado quase que exclusivamente no programa do agente representativo, que passa a ser a abordagem mainstream. Por um lado, o mainstream mantém, desde a ascensão da escola novo clássica, um discurso de ‘obrigatoriedade’ de microfundamentos para a macroeconomia, do tipo proposto por ela; por outro, e talvez como uma resposta a isso, críticos desse tipo de microfundamentação concentram suas análises nos aspectos (pressupostos) específicos desse programa.

1.2.1. A microfundamentação mainstream como a “única” proposta de

microfundamentação?

A estratégia de microfundamentação enquadrada por Hoover no programa do agente representativo, como citado acima, acabou por dominar o mainstream econômico a partir dos anos 1970, sendo considerado até hoje o modo sui generis de microfundamentar a macroeconomia. Assim, ela é tida por diversos autores como sendo o único projeto de microfundamentação propriamente dito, muito embora eles reconheçam que tal debate seja mais antigo e tenha se desenvolvido desde os anos 1930 (JARDIM et al., 2009; KING, 2012; DENIS, 2016). King (2012), por exemplo, aponta que

(19)

The microfoundations dogma could have become established at any time after 1870, when the marginal revolution symbolized a shift in the focus of mainstream economics towards the study of individual behavior and away from the macroeconomic questions of growth and distribution. In fact it did not emerge then, or indeed (as we have seen) for another century. This is a real historical puzzle. Why in the 1970s, and not very much earlier? Why then, and not in the late 1930s, in reaction to the General Theory? (KING,

2012, p. 98)

Entretanto, sobre esse aspecto da historiografia da microfundamentação proposta por King (2012), Hoover (2013), comentando o livro The microfoundations delusion: metaphor and dogma in the history of macroeconomics, afirma:

Although King’s survey reaches back into the 1930s, he concludes that microfoundations is a product of the 1970s, first reaching its full expression in the real-business-cycle models of the early 1980s. He identifies microfoundations with the representative-agent rational-expectations model. The core of his book is an historical – or, at least, chronological – account of how that approach came to dominate macroeconomics and a case for why the approach itself is wrong.

[…] King’s emphasis on the metaphor of foundations (e.g., foundations of a building on which the higher floors are built) and on the importance of metaphor in science (more asserted than demonstrated or analyzed) forces him into a narrow historiographical box. The problem is that he adopts – if the term is not too oxymoronic – a “metaphorical literalism”. Only those who view microeconomics as foundational in the sense that macroeconomics is supposed to be fully derivable from microeconomics and that macroeconomics is completely dispensable count as endorsing the metaphor of foundations and thus as supporting a microfoundational program. It is for this reason that King sees true microfoundations as entering macroeconomics only in the mid-1970s.

[…] On my view, microfoundations has been a central issue in

macroeconomics from an early date, and there are multiple

microfoundational programs distinguished by different conceptions of the micro/macro relationship and various pragmatic and theoretical goals (Hoover 2012).(HOOVER, 2013, pp. 90-92)

Essas diferenças a respeito da história das microfundamentações em macroeconomia derivam em parte do próprio conceito de microfundamentação. Partindo-se da visão de que microfundamentos necessariamente envolvem um reducionismo completo da teoria macroeconômica na teoria microeconômica, de modo que a primeira se torna dispensável, então microfundamentos são estabelecidos na teoria econômica apenas nos anos 1970. Porém, partindo-se da visão de que microfundamentos podem envolver diversas concepções a respeito da relação entre o micro e o macro, então é possível distinguir várias propostas (ou programas) ao longo do século XX e atualmente. Vercelli (2016), por exemplo, aponta que

(20)

From a descriptive point of view, ‘microfoundations’ may simply indicate the need to understand the individual decisions, choices or actions underlying the behaviour of one or more microeconomic variables, that is, variables referring to the economy as a whole. In this broad meaning, microfoundations do not need to be reductionist in the sense that macroeconomic behaviour is derived through simple operations od addition or averaging from the choices of isolated individuals. (…) Our criticism of microfoundations are restricted to the dogmatic version suggest by the MIF [a microfundamentação mainstream] and do not mean to deny the fecundity of a constructive reflection on microfoundations in the wider sense of trying to build a variety of bridges between individual and collective behaviour in both causal directions. (VERCELLI, 2016, p. 155)

Nessa mesma direção, indicando que uma parcela das críticas à microfundamentação se dirige ao modo específico como essa é feita pelo mainstream atual, Lengnick (2013, p. 1) escreve que “one of the main building blocks that many scholars are unsatisfied with is the way microfoundation is provided.” De forma similar, Napoletano et al. (2012, p. 2) afirmam que “This approach looks sound and uncontroversial, so at first glance no problem arises. However, the worries are related to the type of microfoundations adopted by DSGE models.” Assim, para diversos autores, o problema não estaria em propor uma microfundamentação para a macroeconomia, mas sim no modo como essa é realizada.

Como citado acima, Hoover acredita que o conceito de microfundamentos proposto por King é muito estreito, sendo que para ele pode haver diferentes modos de microfundamentar a macroeconomia. Entretanto, como o debate atual sobre microfundamentos gira em torno basicamente do programa do agente representativo, uma vez que esse representa a visão mainstream sobre o tema, a próxima seção analisará com maior profundidade esse programa que, como mencionado na introdução, será denominado de microfundamentação mainstream.

1.3. A microfundamentação mainstream

Como apontado por Hoover (2012), a partir dos anos 1970 o programa do agente representativo se torna a abordagem mainstream de microfundamentação da macroeconomia, e, ainda que tenha sofrido modificações, se mantém – no que diz respeito à sua estratégia de conexão entre o micro e o macro – atualmente sob o nome de Nova Síntese Neoclássica (NSN) e seus modelos DSGE. Assim, convém fazer, aqui, uma breve análise sobre a NSN, uma vez que essa frequentemente é tomada como referência em tal debate.

(21)

De acordo com Fagiolo e Roventini (2012, pp. 70-71), os modelos DSGE surgiram a partir de duas abordagens “concorrentes”, quais sejam a dos Ciclos Reais de Negócios (RBC) e a Novo Keynesiana, levando, assim, ao desenvolvimento do que ficou cunhado como a Nova Síntese Neoclássica. Blanchard (2016) aponta que o primeiro modelo DSGE era um modelo RBC que representava uma economia sem distorções, sendo que, posteriormente, foi incorporando uma série de análises Novo Keynesianas, resultando num tipo de modelo parecido com o que é usado atualmente. Esse modelo resultante pode ser resumido, assim, como um modelo RBC com competição monopolística, imperfeições nominais e uma regra de política monetária. O modo como ocorre esse ‘consenso’ entre abordagens distintas, merece aqui, uma exposição mais detalhada.

De acordo com Duarte (2012, p. 192), baseando-se em Gregory Mankiw e Michael Woodford, existiriam dois consensos na história da macroeconomia: “[...] the neoclassical syntesis of the 1950s and 1960s and the recent new consensus (from the late 1990s to the present day). Labeled as the new neoclassical synthesis by Marvin Goodfriend and Robert King”. Sobre essa segunda, Duarte coloca:

Mainstream macroeconomists see the new synthesis as a bridge between two broad fields: the classical (which incorporates monetarist ideas and is composed of the new classical and real business cycle theorists) and the Keynesian (basically the new Keynesians and the Keynesians of the 1970s associated with the large-scale econometric models). (DUARTE, 2012, p. 195)

Duarte escreve, ainda, que o que uniu essas três abordagens foi uma convergência metodológica em torno dos modelos DSGE:

The central point of convergence in the new synthesis was methodological: the use of dynamic stochastic general equilibrium (DSGE) models that explain not only the evolution of the potential output over time as mostly a supply-side phenomenon, but also short-run and inefficient deviations of the actual output from its “natural” level (the level achieved if prices were flexible) that arise as consequence of wages and prices rigidity. (DUARTE, 2012, p. 210)

Tal convergência, por sua vez, teria surgido através de uma necessidade de dar respostas à crítica de Lucas (1976):

New classical, RBC and new Keynesians economists all worked in a similar fashion to address the Lucas critique, by providing the kind of microfoundations that nowadays characterizes not only their research

(22)

program but also the models of the new consensus macroeconomics. (DUARTE, 2012, p. 196)

Assim, apesar de suas diferenças, essas três abordagens compartilhavam diversos aspectos metodológicos e teóricos:

[...] despite the major points of disagreement among the new classical and RBC macroeconomists, on the one hand, and the new Keynesians on the other, these two camps share significant methodological and theoretical grounds: they all adopt the rational expectations hypothesis, favor general equilibrium models with microfoundations, and have in their benchmark models a representative agent in an environment of complete markets and complete information. (DUARTE, 2012, p. 203)

Como citado na introdução desse capítulo, é o compartilhamento desses aspectos metodológicos e teóricos que permite o uso da alcunha “microfundamentação mainstream” para se referir desde os novos clássicos até a NSN.

Esses aspectos metodológicos, como será visto, são alvos de diversas críticas – tanto aquelas dirigidas à proposta de microfundamentação da NSN quanto dirigidas a aspectos técnicos dos modelos DSGE. Fagiolo e Roventini (2012, p. 69), por exemplo, escrevem que “the basic assumptions of mainstream DSGE models, e.g. rational expectations, representative agents, perfect market etc., prevent the understanding of basic phenomena underlying the current economic crisis”. Dentre esses pressupostos, os do agente representativo e o de expectativas racionais estão entre os mais criticados na literatura sobre microfundamentos da teoria mainstream (e.g., Kirman (1992); Hoover (2009); King (2012); Chick (2016); Vercelli (2016)).

A conclusão a que Fagiolo e Roventini (2012) chegam, a partir da análise desses dois pressupostos – agentes representativos (RA) e expectativas racionais (RE) –, é que, devido ao seu caráter ultra irrealista, modelos baseados neles são seriam adequadas para análises de política. Como eles escrevem: “[...] the RE and RA assumptions strongly reduce the realism of DSGE models. This is not a minor issue when one has to perform policy analyses” (FAGIOLO E ROVENTINI, 2012, p. 84).

Diversos outros autores chegam a conclusões similares, principalmente a partir da análise do pressuposto do agente representativo. Hoover afirma que “once we recognize that representative-agent models do not deal with individuals, we see that macroeconomics mimics the forms of microeconomics without successfully implementing an individualist methodology” (HOOVER, 2006, p. 6). Gaffeo et al.

(23)

(2008), de forma mais dura, afirmam que “[...] a microfoundation strategy that assumes away individuals’ heterogeneity and interactions like the RA approach is not just over-simplistic, it in fact represents an incorrect scientific practice”. Stiglitz e Gallegati (2011, p. 7) defendem que “[...] the RA approach is simply not up to the task of enhancing our understanding of modern macroeconomies”. Gatti et al. (2010) colocam assim a questão:

Unfortunately, it is becoming more and more apparent that microfounded macroeconomics as a field of scientific knowledge – exemplified by [...] (DSGE) models – has been locked into a wrong trajectory. (…) If one wants to take the Lucas’s critique seriously, therefore, it should be realized that the standard microfoundation methodology, according to which aggregate outcomes are nothing but the choices of a single agent amplified n times, must be discarded, not because of an iconoclastic passion but simply because it is incorrect. (Gatti et al., 2010, p. 116, 117)

É perceptível, assim, que muitas das críticas aos modelos DSGE, e à NSN em geral, se dirigem ao seu uso do pressuposto do agente representativo. Para diversos autores, tal pressuposto não se mostra uma forma adequada de conexão entre o micro e o macro, resultando em modelos inadequados para a análise da macroeconomia, principalmente se o intuito for a elaboração de políticas. A próxima seção discute com maior profundidade tais críticas.

1.4.Críticas à microfundamentação mainstream

Como exposto na seção 1.2, a relação entre microeconomia e macroeconomia é alvo de um debate já antigo na teoria econômica, havendo diversas propostas distintas de caracterizá-la. A microfundamentação mainstream é a proposta dominante na teoria mainstream desde os anos 1970, sendo assim o objeto central dessa discussão no debate atual. Assim, grande parte das críticas à microfundamentação da macroeconomia se dirigem a ela. Inclusive, diversos autores não se colocam de forma contrária à microfundamentação da macroeconomia entendida de forma mais geral, mas apenas a essa proposta atualmente empregada pelo mainstream econômico. Com isso, essa seção apresentará algumas das principais críticas direcionadas à microfundamentação mainstream – algumas delas já apontadas na seção anterior. Dentre essas, se destacam como alvo: o seu discurso de imposição de microfundamentos (de um tipo

(24)

específico); a sua visão alinhada ao individualismo metodológico; o uso do pressuposto do agente representativo.

Com relação ao primeiro, há um caráter de obrigatoriedade no discurso de diversos autores que tratam da fundamentação da macroeconomia na microeconomia – do tipo proposto pela microfundamentação mainstream –, o que muitas vezes está relacionado a uma rejeição de qualquer linha de pesquisa que se desvie disso. Como Vercelli (2016) aponta:

This article argues that the MIF [pode ser entendida como a microfundamentação mainstream] has dogmatic implications. Not by chance has it been systematically used as a crucial argument to exclude a priori the status of scientific theory from alternative macroeconomic theories (such as those of Keynesian or Marxian ascendency) and to show that only mainstream approach founded on the MIF can be soundly used for prediction and policy. (…) As has been well known since the late 1970s or so, papers lacking this particular sort of microfoundations have been systematically rejected by high-ranking economic journals and their authors found it increasingly difficult to be accepted by ‘top’ economics departments or to be consulted by economic organizations and mass media. (VERCELLI, 2016, pp. 154, 155)

De forma semelhante, Denis coloca:

Thus mainstream economics partitions macroeconomic research activity into two kinds: microfounded models, regardless of their distance from reality, are scientific, while ‘ad hoc’ models, that is, everything else, regardless of their proximity to reality, are conjectures, which may or may not lead to scientific theory to the extent that, over time, they are discovered to be amenable to being microfounded. (DENIS, 2016, p. 139)

Para Hoover (2009), essa imposição de uma microfundamentação é uma ideologia que, além de se configurar como uma “ilusão coletiva”, ainda se baseia em uma visão equivocada a respeito da ontologia do mundo social. Nas suas palavras:

In referring to microfoundations for macroeconomics as an ideology, I use ideology both in the neutral sense of a more or less coherent set of beliefs guiding the collective activity of macroeconomic research and in its pejorative sense of false consciousness – a collective illusion shared by macroeconomists. My contention is that, even in its neutral sense, the ideology of microfoundations rests on a mistake about the ontology of the social world; while, in its pejorative sense, it shares the characteristic, common to political ideologies, of serving as a tool of persecution and intellectual repression. (HOOVER, 2006, p. 388)

King (2012) aborda esse aspecto normativo associado à proposta de microfundamentação mainstream defendendo que essa se trata de uma (má)

(25)

analogia. E, enquanto tal, ela é utilizada para exercer o papel de distinguir entre práticas – de teoria macroeconômica – que seriam boas das práticas ruins:

‘Microfoundations’ is a spatial analogy, taken from architecture, from the building trades or from constructional engineering. It has some very clear implications. Foundations have to come first, they must be solid, and they need to be reasonably extensive. […] You cannot construct a high-rise building first and then put in the foundations, as an afterthought. They must be solid: we all know what happened to the foolish man in the bible who built his house upon sand, and Takishi Negishi’s stepping stones would not be a great improvement. Finally, they must be extensive: you would not want an entire shopping center to have the same meagre foundations as a single suburban house.

Mainstream economists claim that their ‘microfoundations’ satisfy all three conditions. The model of the rational, forward-looking, utility-maximizing representative agent already exists; it is logically sound; and it has been applied to a very wide range of (micro)economic behaviour […]. Heterodox economists are at a considerable disadvantage on all three criteria: their microeconomics is a work-in progress that lacks the rigorous analytical core of neoclassical theory and is in principle incapable of supplanting the other social sciences. Thus the ‘microfoundations’ analogy place opponents of the mainstream at a very methodological disadvantage. (KING, 2012, p. 22)

Em contraposição a esse tipo de fundamentação, King (2012, p. 10) defende que a relação entre as teorias macroeconômica e microeconômica deveria ser vista como uma relação horizontal, na qual nenhuma das duas se colocaria como ‘fundação’ da outra, ou seja, nenhuma viria primeiro e nem seria mais importante que a outra. O autor acredita que a microeconomia, e o comportamento individual, são relevantes para o estudo da macroeconomia, porém aquela não deveria ser tomada como mais fundamental que essa. Skouras e Kitromilides (2014) relacionam tal posição de King a uma rejeição do individualismo metodológico em economia:

Methodological individualism clearly implies the methodological primacy of micro-theory. […] If economic theory is to be unified, this must be done in a

way that preserves the primacy of micro-theory. Micro-foundations do

exactly this: they assert the primacy of micro-theory in unifying economic theory. Establishing Micro-foundations means that all propositions in macroeconomics must be reducible to microeconomic propositions relating to the behavior of individual agents. It is this belief that King (2012) calls ‘the Microfoundations dogma’ and shows convincingly to be untenable. From this he draws the conclusion that neither can the primacy of micro-theory be established and justified nor is it essential for economic theory to be unified. (SKOURAS E KITROMILIDES, 2014, p. 69)

Entretanto – e entrando na segunda série de críticas –, essa relação entre a microfundamentação mainstream e o individualismo metodológico, embora seja apontada por diversos autores (e.g., Denis (2016), Vercelli (2016), King (2012)), é um

(26)

tanto ambígua, uma vez que o próprio conceito de individualismo metodológico é mal especificado no debate. Existiriam, inclusive, versões fortes desse conceito que seriam incompatíveis com as práticas da microfundamentação mainstream. Assim, haveria dois aspectos centrais da crítica ao alinhamento da microfundamentação mainstream ao individualismo metodológico: (i) esse se mostraria uma estratégia inadequada de análise em ciências sociais; (ii) a microfundamentação mainstream não seria consistente com versões mais fortes desse conceito. Tanto Vercelli quanto Hoover enfatizam bem esse Segundo ponto:

The MIF [microfundamentação mainstream] is thus presented as the only research strategy consistent with methodological individualism. Before discussing to what extent this claim is justified, let us emphasize that Lucas’ methodological individualism does not advocate reduction to isolates individuals. […]

So far so good. The acknowledgement of the crucial role of interactions between individuals adds considerably to the plausibility and persuasiveness of the MIF. Actual MIF models, however, are hardly consistent with methodological individualism, and, when they may claim to be consistent with it, they comply with a very idiosyncratic version of it. (VERCELLI, 2016, p. 157)

The reductionist impulse in macroeconomics is frequently referred to as

methodological individualism. The term is not apt. Practical macroeconomics

does not consist of true microeconomic models – that is, of models in which the behavior of macroeconomic aggregates is derived from the composition of the behaviors of individual economic actors. This would obviously be a very difficult way to approach the economy, posing problems of a similar nature to trying to explain the formation of hurricanes molecule by molecule, applying the established principles of Newtonian mechanics. In practice, macroeconomists generally accept the representative-agent model as a workable microfoundation. [...]

Once we recognize that representative-agent models do not deal with individuals, we see that macroeconomics mimics the forms of microeconomics without successfully implementing an individualist methodology. (HOOVER, 2006, pp. 388-9)

Hoover defende, ainda, que apesar de uma adequação ao individualismo metodológico parecer ser a motivação – e, portanto, a imposição normativa – para a defesa da microfundamentação mainstream, na verdade, tal motivação seria uma visão ontológica a respeito da realidade econômica:

I conjecture that the real underlying motivation is not methodological but ontological. The ontological mistake of macroeconomics is to believe that the objects of macroeconomic analysis are not ontologically independent. Macroeconomists fear that they are not dealing with solid economic entities unless the can trace the route along which those entities reduce ontologically to individual decision-makers. But, since this is an impracticable

(27)

task, they emphasis the connection of the aggregate to the individual by aping the analytical forms of microeconomics. (HOOVER, 2009, p. 389)

Desse modo, Hoover relaciona dois aspectos centrais das críticas à microfundamentação mainstream: um aspecto normativo e um aspecto metodológico. O medo dos macroeconomistas de não estarem lidando com entidades econômicas sólidas faria com que eles defendessem a exigência de se prover microfundamentos à macroeconomia, ou seja, a exigência de se conectar a macroeconomia diretamente ao comportamento individual dos agentes; porém, como essa tarefa seria impraticável (na visão de Hoover), esses macroeconomistas acabam recorrendo a pressupostos problemáticos, como o do agente representativo, em sua tentativa de conectar o agregado ao individual.

A crítica mais contundente a respeito da definição de individualismo metodológico – e a adequação de propostas de explicação em ciências sociais a esse conceito –, entretanto, talvez seja a de Hodgson (2007), onde o autor examina as raízes historias desse termo e o seu uso no debate econômico. Hodgson conclui que o termo é raramente utilizado de forma precisa, e que a maior ambiguidade está na questão sobre se o tipo de explicação a ele associado deveria ser em termos de indivíduos, apenas, ou em termos de indivíduos mais as relações entre esses. Nas suas palavras:

[...] much of the confusion in the debate over methodological individualism stems from whether methodological individualism means one or other of the following:

(a) social phenomena should be explained entirely in terms of individuals alone; or

(b) social phenomena should be explained in terms of individuals plus relations between individuals.

The first of these versions (a) has never been achieved in practice, for reasons given above. It has been also shown above that many advocates of methodological individualism fail to specify this doctrine clearly in such narrow terms. It is just as well, as version (a) is unattainable in practice. By contrast, the problem with the second version (b) is not that it is wrong but that the term ‘methodological individualism’ is unwarranted. The critique here is brief but no less devastating. In modern social theory, structures are typically defined as sets of interactive relations between individuals. (HODGSON, 2007, p. 220)

Essa argumentação de Hodgson não apenas fragiliza o termo ‘individualismo metodológico’, como também evidencia o papel das interações entre os indivíduos na explicação de fenômenos sociais. Esse é um ponto central do tipo de relação micro-macro defendido por vários autores, como será visto ao longo desse trabalho.

(28)

Inclusive, o conceito de emergência, que muitos desses autores utilizam para caracterizar tal relação centrada em interações, é também colocado por Hodgson como modo de enfatizar essas interações:

The philosophical literature on emergent properties establishes that novel properties may emerge when entities interact, properties that are not possessed by the entities taken in isolation. […] Hence the admission of ‘interactive relations between individuals’ in the definition of methodological individualism opens the door to properties that are emergent, ad not the properties of individuals, taken severally. (HODGSON, 2007, p. 220)

Com isso, a estratégia da microfundamentação mainstream de considerar o comportamento do sistema como igual ao comportamento de um agente representativo, tomado isoladamente, apresenta fundamentos metodológicos no mínimo frágeis. O pressuposto do agente representativo possivelmente é o maior alvo das críticas metodológicas à microfundamentação mainstream. Ao final da seção anterior, foram mencionadas diversas dessas críticas. Cabe aqui, agora, analisar de forma mais profunda de onde exatamente emanam os problemas associados a essa estratégia de conexão entre a microeconomia e a macroeconomia, que é a terceira série de críticas à microfundamentação mainstream.

1.4.1. Agentes Representativos

O uso de agentes representativos é um dos aspectos mais marcantes da proposta de microfundamentação que se inicia com os novos clássicos e depois é adotada pelos novos Keynesianos e pela Nova Síntese Neoclássica, ao ponto de Hoover (2012) denominar essa proposta de ‘programa do agente representativo’, como mostrado na seção 1.2. Entretanto, pouca justificativa é oferecida para o uso desse dispositivo metodológico. Já as críticas ao seu uso são abundantes. Sobre essa situação, Hartley escreve:

One of the most widely used methods of studying the macroeconomy, if not the predominant method, is the representative agent model. In these models, the macroeconomy is studied not by working out theories regarding how aggregate economies behave, but rather by working out theories regarding how an individual behaves and transferring these rules of behavior to the aggregate level.

Oddly, there has been extraordinarily little discussion in the macroeconomic literature about either the property or usefulness of representative agent

(29)

models as a means of studying the macroeconomy. There are no widely cited justification for its use; there are assorted critiques of its use, but while these critiques were relatively well known among microeconomic theorists, there is little evidence that macroeconomists took much notice. (HARTLEY, 2002, 3)

Antes de entrar nas críticas ao uso desse pressuposto, porém, é importante analisar melhor no que exatamente ele consiste. De acordo com Hartley:

In a new classical representative agent model, this well-defined and mathematically derived individual demand curve is used as the exact specification of the aggregate demand curve. To fit the requirements of a new classical representative agent model, the aggregate curve must be exactly the same as the rigorously derived individual curve. (HARTLEY, 2002, p. 4)

É visível que se trata de um pressuposto irrealista, porém é necessário analisar quais são, de fato, as implicações do seu uso, e se ele é justificável. Como mencionado acima, entretanto, essa estratégia raramente é justificada, e mesmo quando uma defesa é apresentada, ela aparece de forma breve e bem geral. Como Hartley aponta:

It would be very convenient to be able to turn to the series of papers written by others in which the case for using representative agent models to study the macroeconomy is convincingly set forth. Unfortunately, such a series of papers does not exist. What does exist is a large set of introductions, paragraphs, and parenthetical asides that, when brought together, set forth the rationale for using representative agent models.

[…] By examining the comments made by prominent new classical economists, we can find three related justifications for the modern use of representative agent models. Briefly, these justifications are that representative agent models allow us to avoid the Lucas critique, that they are a powerful means of constructing Walrasian (or general equilibrium) models, and that they are a means of providing microfoundations for macroeconomics. (HARTLEY, 2002, p. 6)

Essas três justificativas citadas por Hartley, entretanto, de acordo com esse autor, não fornecem uma boa sustentação para o uso do pressuposto de agentes representativos, uma vez que até a própria relação entre elas e esse pressuposto são discutíveis. Como o autor escreve: “[...] the representative agent model does not solve the Lucas critique, it does not help in the creation of Walrasian models, and it does not provide microfoundations” (HARTLEY, 2002, p.7). Vejamos como Hartley relaciona o pressuposto do agente representativo principalmente com a crítica de Lucas e com microfundamentos.

(30)

Com relação à crítica de Lucas, Hartley (2002, p. 24) aponta que embora essa apresente um problema teórico interessante, ela não indica nenhuma solução a tal problema. De forma mais específica, ela argumenta a necessidade de se inserir ‘deep parameters’ no modelo, mas não especifica como fazê-lo. A crítica de Lucas (1976) suscitaria a necessidade de microfundamentos para a macroeconomia a partir do argumento de que políticas econômicas alteram a estrutura macroeconômica, o que inviabilizaria a análise macroeconômica a partir de seus próprios parâmetros. Ou seja, como os parâmetros macroeconômicos variam com a implantação de políticas econômicas, seria necessário o uso de parâmetros que estariam na base microeconômica da economia, ou “parâmetros profundos” (deep

parameters) – como as preferências, tecnologias e restrições de recursos –, para se

analisar o impacto de políticas macroeconômicas. Entretanto, Hartley defende que modelos com agentes representativos também apresentam parâmetros que variam com mudanças de políticas, o que os tornariam também suscetíveis à crítica de Lucas:

Lucas (1976) tells us that old-style Keynesian macroeconomic models are fatally flawed. Such models do not incorporate the effects of regime changes on the fixed parameters in the model. Thus, policy predictions using these models are not reliable; the fixed parameters may change with every change in policy. […]

If the argument in the previous paragraph is true, then representative agent models suffer the same fate as their Keynesian siblings. […] representative agent models do not contain invariant taste and technology parameters. Thus, the policy predictions using a representative agent model are similarly not reliable. […] If Lucas (1976) gives us a theoretical presumption that old-style Keynesian macroeconomics models are not useful, then it also gives us a theoretical presumption that representative agent models are not useful. (HARTLEY, 2002, pp. 52-53)

Com relação ao fornecimento de microfundamentos, Hartley ressalta, antes de tudo, que não é uma proposição exata e pode ser tomada de diferentes formas – assim como outros autores já citados no presente trabalho –, sendo a proposta pelos novo clássicos – com seu uso de agentes representativos - apenas uma das possibilidades:

The differences in the possible aims of microfoundations are crucial to an understanding of the role of the representative agent. We saw in the last chapter that if the aim of microfoundations is taken to be that of the Austrian, then representative agent models are not satisfactory. But when new classicals argue for microfoundations, they are arguing for something much less stringent than the Austrian ideal […] On the other hand, when the new

Referências

Documentos relacionados

Embora a solução seja bastante interessante como parte de uma política pública relacionada ao gerenciamento de dados de saúde dos usuários do sistema, esse

O artigo 7.° do Regulamento (CE) n.° 261/2004 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 11 de fevereiro de 2004, que estabelece regras comuns para a indemnização e

O objetivo do curso foi oportunizar aos participantes, um contato direto com as plantas nativas do Cerrado para identificação de espécies com potencial

(2019) Pretendemos continuar a estudar esses dados com a coordenação de área de matemática da Secretaria Municipal de Educação e, estender a pesquisa aos estudantes do Ensino Médio

Controlador de alto nível (por ex.: PLC) Cabo da válvula Tubo de alimentação do ar de 4 mm Pr essão do fluido Regulador de pressão de precisão Regulador de pressão de

Como parte de uma composição musi- cal integral, o recorte pode ser feito de modo a ser reconheci- do como parte da composição (por exemplo, quando a trilha apresenta um intérprete

2 - OBJETIVOS O objetivo geral deste trabalho é avaliar o tratamento biológico anaeróbio de substrato sintético contendo feno!, sob condições mesofilicas, em um Reator

Considerando a presença e o estado de alguns componentes (bico, ponta, manômetro, pingente, entre outros), todos os pulverizadores apresentavam alguma