MEMÓRIA E PATRIMÔNIO DOCUMENTAL 1
O tema que devo desenvolver é sobre o patrimônio documental. Confesso que, embora tenha trabalhado por cerca de sete anos no Arquivo Histórico de S. Paulo, não me sinto autorizado a muito falar sobre assunto que cada vez mais recebe a atenção dos estudiosos que vem se especializando na Arquivística – disciplina que orienta e normatiza as técnicas de organização dos arquivos documentais. Fazem já dez anos que estou afastado do trabalho de arquivista. Porém foi ele que me deu alguma experiência e me fez refletir mais amplamente sobre a importância dos arquivos documentais enquanto fontes primordiais de Memória Social. Daí porque gostaria de iniciar essas minhas considerações acerca do assunto colocando antes uma questão: O que é a memória?
Memória é, antes de tudo, a lembrança que temos de pessoas, de coisas, de fatos, de relações, de situações que, por alguma razão, ficaram gravadas em nossas mentes. E é por meio delas, dessas lembranças, que nos é possível recordar o passado, desde o nosso passado familiar, da casa onde passamos nossa infância, do bairro onde vivemos, do grupo social ao qual pertencemos, dos lugares por onde passamos e trabalhamos no curso de nossas vidas que se estende à cidade onde vivemos parte ou toda a nossa existência. A lembrança é, portanto, a primeira forma de memória que nós utilizamos para recuperar o nosso passado.
Essa massa enorme de lembranças que registramos e acumulamos em nossas mentes constituem de certo o que de mais valioso possuímos. Relacionam‐se a pessoas, a coisas, a determinados espaços que infelizmente se vão: as pessoas seguindo o curso normal da vida crescem e se transformam, aproximam‐se ou distanciam‐se de nós, alteram‐se as relações e com elas os sentimentos e a afeição iniciais, ou simplesmente mudam de moradia e não as vemos mais; as coisas por vezes se estragam ou saem de moda e as jogamos fora ou as enfiamos em alguma gaveta e permanecem ali tal como a uma nefasta lembrança que não desejamos, inconsciente a nos perturbar vez por outra, outras simplesmente deixamos n’algum baú ou nos porões das casas e vão se recobrindo da poeira do esquecimento até nunca mais; e os espaços ... ah! esses parecem que hoje estão sempre a se modificar, em permanente processo de transformação, acompanhando o ritmo agitado e nervoso da vida contemporânea. As ruas, o bairro, a cidade toda numa transformação sem fim, transfigurando o que era em novos estados de coisas. De tudo isso, das pessoas, das coisas, dos espaços, restam‐nos algumas vezes apenas a lembrança deles. É por isso que damos importância às lembranças. São elas a matéria‐prima da memória. (Vocês notaram que não estou a valorar as lembranças agrupando‐as em boas ou más, embora talvez devesse; evito, porém, tal juízo para evitar cair num campo que seria o da psicologia social, que nos levaria a caminhos diversos daqueles pretendidos aqui.) As sociedades mais simples, as que não tem acesso à escrita, como as comunidades de nossos indígenas de uns tempos atrás (ou as poucas que ainda vivem isoladas no interior da Amazônia), sabemos que tem grande estima e consideração pelos mais velhos, os idosos. Constituem eles próprios a memória viva da coletividade; são os guardiães do saber e também da experiência transmitidos pelas gerações que os antecederam e são também,
1 Em 1993 fomos em companhia da arqueóloga Maria Lucia Franco Pardi e do arquiteto José Saia Neto a
Ribeirão Preto participar de seminário que a Prefeitura desenvolvia com vista a estabelecer política de preservação do patrimônio cultural da cidade. Essa foi a comunicação que apresentamos na noite de 7 de maio para um público bastante interessado.
consequentemente, os responsáveis pela transmissão desse saber e experiência às novas gerações, aos seus filhos e netos. É por meio deles que a comunidade toda aprende a importância de cada coisa, de como fazê‐las e usá‐las, o significado das festas e das cerimônias que realizam, e assim reproduzem os valores tradicionais e o modo de vida da comunidade que, desse modo, permanece, apesar das mudanças que já se operaram e se operam irremediavelmente, tanto dentro como sobre tudo fora dela e que inegavelmente a atinge, mas que lhe permite resistir e preservar‐se mesmo assim. Os idosos, nesse tipo de sociedade tem, portanto, enorme valor. São uma espécie de arquivo e de escola ao mesmo tempo, pois que guardam e transmitem a memória dos grupos e da comunidade. Até quando? – Não sabemos. Imaginemos, por um momento, isso acontecendo no tempo, geração após geração; em cada parcela de tempo um grupo de idosos cumprindo a função de guardar e transmitir essas lembranças carregadas de significados porque trazem consigo saberes e experiências; e admitamos também que nesse processo possam se conservar sem sofrer muitas alterações, ou distorções, conservando‐se no seu cerne tão verdadeiras como as verdades que a lembrança é capaz de reter na memória desses homens, idosos. Num suceder que, para ser efetivo, capaz de conserva‐las e transmiti‐las, precisam constantemente recordá‐las, atualizá‐las por intermédio do pensamento desses homens idosos frente ao olhar interessado das gerações novas – o que significa dizer, estão constantemente sendo reelaboradas que é a condição para que se conservem, mantenham validade e importância para os mais novos, ou seja, tenham status de verdade. Essa é uma interpretação; minha interpretação se se quiser. Mas, admitamos aqui entre nós, pois estamos nos baseando em postulados de uma determinada forma de pensamento civilizado e europeu e não no pensamento mágico que é próprio e natural (e talvez mais adequado para explica‐lo) das comunidades ditas “primitivas”, que o próprio processo de conservação ou preservação das lembranças, realizado pelos idosos dessas sociedades, carrega consigo uma necessária e constante reelaboração, sem a qual ela própria não se realizaria, e portanto nem se atualizaria. Da mesma forma, como entre nós procuramos entender a memória, constituída no devir histórico, e que atualmente estamos a chamar de Memória Social. E aqui talvez esteja a importância maior da memória: a necessidade que o homem tem de constantemente se reportar ao passado, de repassar as lembranças, guardar e analisar os registros deixados nas coisas, nos espaços, reconstituir os fatos e as relações, o sentido que tiveram ou ainda tem, e mais importante ainda: possam ter às novas gerações, pois é com as novas gerações que se descobrem ou nos damos conta que se pode atribuir significados novos às lembranças do passado quando referidas no presente. Que é o que fazemos quando estamos, tal como os idosos fazem, seja dessa ou daquela sociedade, primitiva ou civilizada, a recontar as histórias pessoais, familiares, dos grupos sociais, das sociedades enfim, com h – minúsculo ou maiúsculo. Mas aí já estamos num outro patamar, o da busca de explicações, tanto do indivíduo em si mesmo, como do grupo, ou da coletividade como um todo. Por essa razão é que o lembrar, ou o relembrar, o contar e o recontar as histórias com base nas lembranças, nos registros de memória, não é meramente um ato individual, por mais que dependa da inteligência de quem as lembra e de quem as conta; a lembrança, a história que a contextualiza só se torna verdadeira, válida, se aceita pelo grupo, pela comunidade. Daí a constante necessidade da reelaboração do passado, e que fazemos reiteradamente recorrendo às lembranças e aos registros da memória. É por seu intermédio que pretendemos explicar tanto o passado como o presente que estamos vivendo. Alcançamos com isso não somente uma certa noção de tempo, do tempo decorrido
até nós, a que chamamos tempo histórico, mas uma nova e reiterada explicação do presente em que vivemos.
Permaneço ainda no plano das lembranças. Essas hoje recebem o nome de Memória Oral quando são gravadas e transcritas, constituindo então um tipo novo de documento escrito – fruto imediato da transformação da memória antes abstrata e pessoal tornada escrita e, portanto, com potencial de se tornar pública em razão do interesse social que possa conter. Dela se valem os estudiosos, em especial os antropólogos, para estudar esses povos primitivos ou mesmo certos grupos sociais que, nas sociedades evoluídas, não tiveram ainda acesso pleno à escrita. Dela também se valem os sociólogos e mais recentemente os historiadores, quando interessados em estudar determinados grupos ou classes sociais que no curso de suas existências pouco ou quase nada deixaram registrado em documentos próprios. O estudo sobre os escravos, os agregados das grandes fazendas, os sitiantes, os operários urbanos dos primórdios da industrialização, se dá quase que exclusivamente por meio de documentação indireta, isto é, não produzida por eles próprios. Mesmo sobre a grande massa de imigrantes que veio ao Brasil a partir do último quartel do século passado e, em especial a São Paulo para trabalhar na lavoura de café, os estudos em geral se apoiaram também em documentação indireta, quase sempre proveniente dos arquivos públicos. Essa região de Ribeirão Preto recebeu contingentes enormes de imigrantes, muitos dos quais analfabetos mesmo na língua nativa e desconhecedores por completo da língua no país que os recebia, figuraram inicialmente como trabalhadores simples das fazendas de café outros depois com contratos de parceria firmados, para só muito mais tarde virem a ter acesso a uma pequena propriedade rural – razão porque maior por terem abandonado seu país de origem e atravessado o Atlântico. A coleta de depoimentos dentre os membros mais antigos desses grupos sociais permitiu, por vezes, a reconstituição, a um só tempo rica e simplificada, da história desses grupos e permitiu esclarecer um pouco mais as formas de sua inserção na sociedade brasileira e porque meios conservaram certos valores e costumes de sua cultura. Esses depoimentos são baseados sobre tudo nas lembranças que os indivíduos guardaram do passado (especialmente a memória dos mais idosos), e permitem aos estudiosos e pesquisadores sociais a confecção ou elaboração de novos documentos que lhes servem como fontes complementares de pesquisa e de análise, oferecendo novas possibilidades de interpretação teórica.
Embora a elaboração desses novos documentos se realize sobre tudo mediante projetos desenvolvidos nas universidades, não é exclusividade sua. Centros de Documentação ligados aos movimentos populares e às organizações sindicais, Conselhos e órgãos técnicos que cuidam da preservação do patrimônio, locais e regionais, e até mesmo Arquivos Públicos tem executado projetos nesse sentido. Projetos esses que tem origem numa política de aquisição ou incorporação de novos fundos documentais, arquivos ou coleções de origem pública ou privada.
São ações que merecem apoio. Porque o que importa é recuperar as “memórias da sociedade”, quero dizer, as lembranças transformadas em documentos que por sua vez resultam em produtos culturais de tantos segmentos sociais quanto se queiram produzir – desde os mais ilustres representantes das elites até os mais combativos e engajados críticos da realidade brasileira, cientistas e políticos, de direita ou esquerda, habilitando seus acervos documentais para a pesquisa pública. Não estou defendendo com isso que as instituições se afastem de suas atribuições específicas. Um Arquivo Público tem como finalidade primeira recolher, guardar e organizar a documentação produzida pelos órgãos públicos. Essa é a sua atribuição principal. Porém essa atribuição não o impede de recolher outros fundos documentais que complementem as fontes administrativas e legislativas que já tem sob sua guarda ou mesmo
outros fundos que ampliem ou possam até se contrapor à visão oficial contida nos documentos públicos. E sobre tudo porque nessa região de Ribeirão Preto as memórias que guardam o que de mais profundo interessa para a história da sociedade ribeirão‐pretana não estava propriamente na cidade, mas sim espalhadas pelo município, na cabeça dos homens que fundaram as fazendas de café, nos seus descendentes que as herdaram, e também na massa enorme de trabalhadores, imigrantes e nacionais, e ainda um bocado de negros ainda escravos que para cá também vieram na segunda metade do século XIX, de cujo trabalho brotou a riqueza dessa região. Daí a importância do recolhimento da documentação dessas fazendas, habilitando‐as convenientemente para o estudo. Trabalho que me parece não ser exclusivo dos Centros de Documentação universitários.
Recomenda‐se aos próprios órgãos de preservação do Patrimônio Histórico e Artístico, especialmente os locais, quando promovem o tombamento de sedes antigas de fazenda de café cuidarem também da sua documentação, especialmente daquela relativa a sua fundação e desenvolvimento inicial, guardando e habilitando tudo que possa contribuir para a reconstituição de sua trajetória histórica, indispensáveis à preservação e valorização das fazendas tombadas. [Uma observação à parte: quando se fazia o tombamento de uma igreja colonial, p. ex., todo o seu equipamento artístico interior – altares, púlpitos, tribunas, imagens, pinturas, móveis diversos, etc. era considerado igualmente tombado (muito embora não se fizesse inventário deles – tarefa que hoje somos obrigados a realizar decorridos mais de 30, 40 anos). Com as fazendas não ocorria o mesmo. O tombamento restringia‐se à arquitetura, quando muito a um ou outro elemento artístico, geralmente relacionado à capela situada no interior da sede ou fora dela. Quanto, porém, aos documentos, nem a uma nem a outra (igreja ou fazenda) dava‐se proteção alguma. Esquecia‐se do mais importante que é a documentação que produziram ao longo de suas existências e onde se pode ler, descobrir e reconstituir tudo quanto foi feito desde o surgimento delas.] Outra ação que vem sendo tomada pelos Arquivos Públicos paulistas, tanto o estadual como os de vários municípios paulistas, é relativa ao recolhimento da documentação dos antigos Cartórios das cidades, em alguns casos com a intermediação do Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural (IBPC)2 junto às autoridades judiciais. Exemplos: 1º e 2º Tabeliões da cidade de São Paulo e dos Cartórios de Mogi das Cruzes encaminhados ao Arquivo do Estado onde já se encontra organizados e disponíveis à pesquisa pública. Já os Arquivos Históricos das cidades de Taubaté, Pindamonhangaba, Guaratinguetá e Areias, todas do Vale do Paraíba, recolheram a documentação cartorial, dando acesso aos pesquisadores dos valiosos autos de inventário das antigas fazendas de café.
Mas caberia perguntar: por que afinal nos preocupamos tanto com essas diferentes fontes de memória? Porque são peças primordiais da Memória e, por extensão, do conhecimento.
Independentemente da importância de outros registros de Memória – os que mereceram consagração maior no Brasil como são as obras de Arte e de Arquitetura tradicionais – é o documento, nas suas mais variadas e diferentes formas, aquele que melhor atesta as atividades humanas e os produtos dessas atividades, pois comprova, descreve ou explica, localiza no tempo e no espaço as ações e as obras humanas; é portanto o que melhor indica, testemunha e expressa a totalidade dos produtos que resultam da ação do homem e que restam também gravados em outras modalidades de documentos – mapas, plantas, fitas, sonoras,
filmes, fotografias, etc. A riqueza de informações que esses registros todos contém apenas reforça o caráter globalizante do documento.
Dirá o arquivista que um conjunto de documentos, organicamente produzidos e acumulados ao longo de tempo para cumprir as finalidades de uma dada instituição pública ou privada, formam um arquivo. O arquivista ainda lembrará que arquivo documental assim constituído difere da coleção, porque esta geralmente se refere a conjuntos de determinados documentos reunidos em bibliotecas, museus ou centros de documentação com finalidades variadas (consultas, exposições, pesquisas) voltadas ao atendimento de seus respectivos públicos. Porém, não pretendo me ocupar com a exatidão das definições nem das distinções que deve necessariamente fazer o trabalhador da área.
Antes se separar, prefiro agora o caminho inverso, pois me possibilita considerar todos os conjuntos documentais numa única concepção: a de Patrimônio Documental. Isso porque engloba o universo todo dos acervos documentais. E há uma razão: para além das finalidades porque foram produzidos, acumulados e reunidos, são eles testemunhas ou expressões das ações humanas, estão relacionados, e, por essa razão, devemos trata‐los como o conjunto que formam.
Desse modo, a Memória Social ou o Patrimônio Documental de uma cidade e seu município provém de vários organismos e instituições, fontes geradoras de documentos. As repartições públicas, os cartórios, as igrejas, os jornais, as indústrias, as escolas, os sindicatos, os comitês e diretórios de partidos políticos, os hospitais e também as fazendas, as usinas, são todos produtores de documentos, fontes geradoras do Patrimônio Documental da cidade e do município.
Preservar todos esses conjuntos documentais que formam a Memória é que é o problema! O ideal seria que cada uma dessas entidades citadas cuidasse de seus próprios acervos. Mas, na maioria dos casos, sabemos que não é bem assim! Muitos dos responsáveis por esses arquivos ignoram a importância que tem para a Memória. É preciso pois que alguém tome a iniciativa de informar, de esclarecer. Penso que isso é uma das tarefas primordiais do Arquivo Histórico da cidade.
Mas, até contrariando o que disse a pouco: não podem os Arquivos Públicos assumir, sozinhos, a responsabilidade de recolher essa massa enorme de documentos; nem dividir a tarefa com os museus ou centros de pesquisa das universidades. Principalmente porque, como dissemos anteriormente, aos arquivos cabe primordialmente a guarda e a habilitação da documentação produzida pelos Poderes Públicos. E ela é por vezes imensa e tende sempre a crescer – o que provoca a necessidade de estabelecer critérios de recolhimento que implicam também e necessariamente na eliminação de parte dos documentos, fazendo prevalecer o que os arquivistas chamam de valor permanente dos documentos. Dada a dimensão dos acervos, chega a ser necessária a criação e implantação de um Sistema de Arquivos (constituindo três níveis de arquivos: os Correntes, o Intermediário e o Permanente ou Histórico) para organizar e controlar o fluxo documental e assegurar a permanência daqueles que registram, pelo que expressam das atividades desenvolvidas pelo homem em sociedade, a diversidade de aspectos da vida social e cultural.
Não é o momento de entrarmos em considerações técnicas e detalhadas do funcionamento do Sistema de Arquivos. Matéria para especialistas. Basta apenas dizer que – afirmam os arquivistas – a sua correta implantação organiza a gestão da documentação desde a
sua criação até o momento final de sua eliminação ou guarda definitiva. Além disso, aviso aos Senhores gestores do Serviço Público, sua implantação diminui despesas e reduz a burocracia.
Ainda mais uma consideração, a última. É desejável que o Arquivo Histórico vá um pouco além do mero cumprimento de suas atribuições. Para que isso seja possível é necessário que faça parte da política geral da Secretaria de Cultura, que nela tenha voz ativa e antes de tudo tenha o respeito das demais Secretarias geradoras de documentos. Sem isso, o Sistema de Arquivos não se efetiva. Só depois de obtida a sua implementação, garantindo que à produção contínua de documentos corresponda um recolhimento criterioso dos documentos de valor permanente, históricos, é que se poderá de fato dar curso a outros projetos e a realização de ações de valorização dessa documentação histórica, entre as quais se destaca sobremaneira as tarefas de seleção e publicação, dando maior acessibilidade ao público. Ação do Arquivo Histórico junto a outros órgãos de cultura do município. Em geral, os órgãos da Secretaria – como bibliotecas, museus, casas de cultura, teatro, e hoje também os conselhos de patrimônio histórico e artístico – atuam separadamente, quase sem entrosamento ou política comum. Isso é um erro. É necessário que se elabore projetos que os envolvam em atividades que, além de reforçar as tarefas que lhes são próprias, se sobreponha ao rotineiro serviço técnico. Nada impede, p. ex., que o Arquivo Histórico realize determinadas pesquisas ao Conselho do Patrimônio, subsidiando ou complementando os projetos de tombamento ou de inventário de bens imóveis de valor histórico da cidade. Essa ação só irá aumentar a importância do Arquivo Histórico e valorizar os seus técnicos. Da mesma forma, ao Museu Histórico subsidiando pesquisas a partir de seu acervo. Ou ainda que realize exposições documentais complementares e paralelas às exposições museológicas, oferecendo ao público uma visão mais larga dos temas tratados. Ambas concorrem ao maior esclarecimento do Público e valorizam seus acervos respectivos.
E ainda, por fim, no âmbito de suas responsabilidades, estabeleça projetos de orientação técnica aos detentores de arquivos documentais – aos fazendeiros e empresários, p. ex. –, incitando‐os a cuidar de seus acervos, permitindo sua habilitação e reprodução, e assim ampliar a proteção e valorização do patrimônio documental da cidade e do município. É o que tinha a falar para vocês. Muito obrigado. Ribeirão Preto, 7 de maio de 1993. Carlos G.F. Cerqueira