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Violência contra a mulher: o perfil das vítimas e as estratégias de acolhimento da rede de atendimento

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Academic year: 2021

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UNIJUÍ - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

JANETE OLIVEIRA DA SILVA

VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER :

O PERFIL DAS VÍTIMAS E AS ESTRATÉGIAS DE ACOLHIMENTO DA REDE DE ATENDIMENTO

IJUI (RS) 2014

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JANETE OLIVEIRA DA SILVA

VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER :

O PERFIL DAS VÍTIMAS E AS ESTRATÉGIAS DE ACOLHIMENTO DA REDE DE ATENDIMENTO

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Curso - TC.

UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DEJ- Departamento de Estudos Jurídicos.

Orientadora: MSc. ESTER ELIANA HAUSER

IJUI(RS) 2014

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por ter me orientado na escolha do tema, por sua presença sublime em minha vida e por seu amor incondicional, tornado possível a realização desse trabalho.

De modo particular agradeço a Mestre Ester Eliana Hauser dedicada que me foi dada ao longo deste.

Ao meu pai, pois sem ele jamais teria a oportunidade de ingressar nesta douta faculdade, por conseguinte, concluir este trabalho, e estar na reta final da conquista de um sonho.

Dedico também aos meus amigos e amigas aos quais tive que me afastar para dar conclusão a este trabalho.

Enfim a todos que de forma direta e indiretamente, ajudaram na realização dessa pesquisa.

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Resumo

Este estudo tem como objetivo observar a violência doméstica e familiar contra a mulher, no sentido de se questionar no sentido de se pensar ações de prevenção e de combate.

Cabe ressaltar que essa violência doméstica e familiar é baseada no abuso de poder que na maioria dos casos é exercido pelo cônjuge ou alguém muito próximo do convívio da vítima, como namorado, companheiro ou responsável.

A violência doméstica e familiar contra a mulher é praticada de várias maneiras e não apenas por atos que provocam lesões físicas. Encontra-se presente através de ofensas, intimidações, chantagem, ameaças e atitudes covardes por parte do agressor (violência verbal, psicológica e moral), na destruição de bens e documentos (violência patrimonial), relações sexuais forçadas (violência sexual) e que desrespeitam os direitos das mulheres.

Atualmente a mulher deixou de ser aquele sexo frágil, mostrando que é capaz de envolver-se com a política, com a justiça e além de tudo ainda ser mulher, mãe, esposa e profissional. Tendo que serem respeitadas na sua integridade física, moral e emocional. Por isso, a existência de Leis e normas que as amparem faz grande diferença no que condiz a seus direitos e ao princípio da dignidade da pessoa humana.

Palavras chave: mulher, violência doméstica e familiar, leis, direitos,

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ABSTRACT

This study aims to observe the domestic and family violence against women in order to question the sense of thinking about prevention and combat .

It is worth noting that domestic violence is based on the abuse of power which in most cases is exercised by the spouse or someone very close to the familiar to the victim , as boyfriend , companion or guardian.Domestic and family violence against women is practiced in many ways and not only by acts that cause physical injury .

Is through insults , intimidation , blackmail , threats and cowardly actions of the abuser (verbal moral violence , and psychological ) , destruction of property and documents ( patrimonial violence ) , forced sexual intercourse (sexual violence) and that this disrespect women's rights .

Currently the woman ceased to be that fairer sex , showing that it is able to engage with politics , justice and besides all still being a woman , mother , wife and professional. Having to be respected in their physical , emotional and moral integrity. Therefore , the existence of laws and regulations that amparem makes big difference in

what befits their rights and the principle of human dignity .

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SUMÁRIO

1. O fenômeno da violência contra a mulher e os mecanismos legais para sua

proteção...3

1.1. Violência contra a mulher na perspectiva histórica...3

1.2. Conceito de violência doméstica...9

1.3. Formas de violência doméstica...16

1.4. Mecanismos legais de proteção à mulher na Lei Maria da Penha...21

2. A Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher no Brasil e papel da rede de atendimento...27

2.1 A violência contra a mulher no Brasil contemporâneo...27

2.2 A violência contra a mulher no Estado do RS e no município de Ijuí: as principais formas de agressão e o perfil dos agressores...34

2.3 O papel da rede de atendimento a mulher...38

2.4 A efetividade da lei Maria da Penha como instrumento de contenção da violência contra a Mulher...42

3.Conclusão...46

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INTRODUÇÃO

Este estudo tem por objeto uma ampla pesquisa sobre a Violência Doméstica e familiar contra a Mulher o Brasil, no Estado do Rio Grande do Sul, e na cidade de Ijui, localizado no noroeste do estado gaúcho. Como princípio primeiro de identificar as principais formas de violência praticadas, o perfil das vítimas e de seus agressores, bem como avaliar o funcionamento da rede de atendimento a mulher.

A família composta de seus integrantes ambos moradores de residência fixa o que chamamos de lar propriamente dito, é o ambiente de maior ocorrência de atos de violência. Independente da classe social, cultura ou raça observa-se uma crescente demanda nas estatísticas com relação de Brasil, Rio Grande do Sul e Ijui/RS. A vítima fica refém de seu medo, sendo as mulheres vítimas de seu cônjuge, companheiro ou outro do grupo familiar muito próximo.

Frente este contexto, creio da importância dessa pesquisa sobre a violência doméstica e familiar contra a mulher, donde a escolha do tema vem de encontro á indignação por saber que mesmo amparada por lei ás mulheres brasileiras continuam sendo vítimas. Com este propósito a pesquisa relatará o perfil da vítima dentro do contexto familiar e seu agressor, quais as causas que levam as mulheres a sofrerem tal violência.

Trata-se do tema “VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER: O PERFIL DAS VÍTIMAS E AS ESTRATÉGIAS DE ACOLHIMENTO DA REDE DE ATENDIMENTO, o presente trabalho apresentará dois capítulos que desenvolverão a temática apresentada. No primeiro falaremos do fenômeno da violência contra a mulher e os mecanismos legais para sua proteção, com perspectiva histórica, conceito, formas de violência e os mecanismos legais de proteção.

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No segundo capítulo discutiremos a violência domestica e familiar no Brasil, Rio Grande do Sul e Ijui/RS, o perfil das vítimas e agressores e o papel na rede de atendimento e acolhimento das vítimas.

Tendo como proposta primeira uma pesquisa bibliográfica sobre a vítima e seus agressores, violência essa causada na maioria das vezes pelos seus cônjuges, companheiros, maridos, ex-maridos, namorados ou ente próximo da família.

Fato é que a violência doméstica e familiar é uma questão histórica e cultural anunciada, que ainda hoje infelizmente faz parte da realidade de muitas mulheres nos lares brasileiros.

Com Lei Maria da Penha, que cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra as mulheres almeja-se que essa realidade mude e a mulher passe a ter instrumentos legais inibitórios, para que não seja vítima de discriminação, violência e ofensas dos mais variados tipos.

A violência doméstica não é marcada apenas pela violência física, também pela violência psicológica, sexual, patrimonial, moral dentre outras, em nosso país atinge grande número de mulheres, as quais vivem estes tipos de agressões no âmbito familiar, a casa, espaço da família, onde deveria ser “o porto seguro” considerado como lugar de proteção, passa a ser um local de risco para mulheres e crianças.

O alto índice de conflitos domésticos já detonou o mito de “lar doce lar”. As expressões mais terríveis da violência contra mulher estão localizadas em suas próprias casas onde já foi um espaço seguro com proteção e abrigo.

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1. O fenômeno da violência contra a mulher e os mecanismos legais para sua proteção

1.1 Aspectos históricos

A família segundo é um grupo social capaz de influenciar e ser influenciado por outras instituições ou pessoas. Sempre ligados por questões de descendência, matrimônio ou adoção, havendo sempre certo grau de parentesco. Dentro deste contexto a família se faz presentenesta pesquisa com o próposito de entender o porquê de tantas mulheres serem vítimas dessa violência doméstica ou familiar.

Observa-se enraizado no contexto histórico brasileiro um modelo de organização familiar patriarcal, em que a mulher não tinha voz nem vez, sendo criada sob o domínio do homem e para atender as necessidades do mesmo sem poder ter opinião ou se expressar de forma crítica. Historicamente a mulher foi vista apenas como objeto para servir e nunca ser servida e, neste contexto, instalaram-se as condições para o ditame da violência contra elas.

Essa violência, em geral ocorre no ambiente doméstico ou familiar, atingindo um grupo significativo de mulheres e, face ao silêncio de muitas, que aceitam essa condição degradante de estado físico e emocional em razão da dependência financeira e emocional, torna-se mais intensa, incapacitando-as de sair daquele ambiente físico hostil.

Nesse contexto, é necessário o adequado atendimento desta mulher e também a responsabilização do agressor, tipificando por meio da LEI os delitos e crimes cometidos, fazendo com que o mesmo se atente que a realidade do mundo contemporâneo é outra, onde a mulher desde a década de 70 encontra-se na busca de paridade e igualdade em direitos e deveres.

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A Constituição Federal de 1988, no art.5º garantiu que “homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações”. Mas, na prática, a igualdade ainda não se efetivou, uma vez que as mulheres ainda são discriminadas e também vítimas de violência.

O fato é que homens e mulheres são diferentes pela própria natureza, no que condiz com a estrutura física, emocional, por vezes difícil entender o princípio da igualdade tratado na CF/88, uma vez que tal princípio não exige tratamento igualitário a todos, mas sim um tratamento capaz de reconhecer as diferenças.

A violência contra a mulher não é recente, estando presente em todas as fases da história, mas apenas recentemente no século XIX, com a constitucionalização dos direitos humanos a violência passou a ser estudada com maior profundidade e apontada por diversos setores representativos da sociedade, tornando-se assim, um problema central para a humanidade, bem como, um grande desafio discutido e estudado por várias áreas do conhecimento enfrentado pela sociedade contemporânea.

No Brasil, este tema ganhou maior relevância com a entrada em vigor da Lei nº 11.340, de 07 de agosto de 2006, também conhecida como “Lei Maria da Penha”, uma merecida homenagem a mulher que se tornou símbolo de resistência a sucessivas agressões de seu ex- esposo.

Diante de toda repercussão alcançada, principalmente pela mídia, surgiram muitos comentários equívocos, criando-se, algumas vezes, falsas expectativas, como se, a partir da criação de uma lei exclusiva para tratar do tema, fosse inverter, de uma hora para a outra, uma rota histórica da violência. Basicamente por ser a violência resultante de uma arraigada cultura machista e discriminatória, que subjuga as mulheres, este problema não se resolve de imediato, num simples passe de mágica pelo poder da lei.

Com base no importante peso do instrumento legal, ainda assim, dentro do ponto de vista técnico, é preciso averiguar e analisar a lei à luz dos princípios constitucionais, penais e processuais penais, para se apurar até que ponto o Estado tem legitimidade para intervir coercitivamente na liberdade dos cidadãos.

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Observa-se que independente de sociedade ou comunidade em que se resida ou se tenha convívio continuo, cada membro ocupa seu espaço dentro da mesma como: marido, mulher, filho, irmaõ, avó, avô, tio ou tia. Segundo DUVALL; MILLER cit. por STANHOPE; 1999; pg.502 – esses papéis são:

As expectativas de comportamento, de obrigações e de direitos que estão associados a uma dada posição na família ou no grupo social.

Com as constantes tranformações acompanhadas da individualização a capacitação, autonomia e privacidade assim como, a conduta e costumes inerentes à cada família é que ocorre constantes desavensas e de certo modo destruição e diluição das famílias. A sociedade que não valoriza a família tende a sucumbir-se moralmente, deixando um rastro de destruição, onde conflitos afloram mais e mais e problemas pequenos ganham grandes dimensões, transferindo-se a crise familiar aos cuidados do Estado e das comunidades em si. Desse modo o problema da violência doméstica e familiar vai de encontro a terceiros que tendam se moldar aos novos males de uma sociedade em constante transformação.

Segundo o historiador e poeta Borges (2008, p.1), define que:

É a violência, explícita ou velada (obscura, encoberta, palavra que vem do Latim "velare", que significava “cobrir com um véu”), praticada dentro de casa, usualmente entre parentes (marido e mulher). Inclui diversas práticas, como a violência e o abuso sexual contra as crianças, violência contra a mulher, maus-tratos contra idosos, e a violência sexual contra o parceiro.

Violência em sentido de força superior sobre a outra pessoa capaz de constranger causando enorme sofrimento às vítimas assim como seus familiares. Violência essa capaz de limitar o desenvolvimento econômico, comprometendo gerações futuras e as relações sociais das comunidades. Neste contexto encontra-se abaixo o histórico capaz de reavivar em nossa memória a constante luta das mulheres em busca de seus direitos frente a tantos anos de opressão e violência sofrida.

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Em meados de 1970 se reconheceu que a violência doméstica não era meramente um assunto privado, e sim assunto a ser debatido e discutido pelo Estado. Havendo assim a publicação da violência doméstica e familiar como forma de inibir e minimizar a mesma.

Segundo dados do Ministério da Saúde (2002), em meados de 80 criou-se o SOS Mulher, meio a qual ocorria o atendimento a todas as vítimas de violência. Onde as primeiras cidades a aderirem foram São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Sendo que em 1983 foram criados os primeiros Conselhos Estaduais e Municipais de Direitos da Mulher, espaços estes onde o poder Executivo tem o poder para elaborar, deliberar, fiscalizar e implementar políticas públicas para as mesmas.

No ano seguinte, em 1984 ocorreu a Assinatura pelo Brasil da Convenção sobre Eliminação de todas as formas de discriminação contra a Mulher (CEDAW), que já tinha sido aprovada pela ONU em meados de 1979.

Em 1985, no entanto observa-se a Criação do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM) e das Delegacias Especializadas no atendimento às vítimas de Violência Doméstica e Familiar (DEAMs). Neste mesmo ano, nosso país, assinou Declaração e a Plataforma de Ação de Beijing, sendo essa a IV Conferência Mundial sobre a Mulher. Reafirmando-se avanços conseguidos pelas mulheres, destacando-se os direitos sexuais e reprodutivos. Disposto que cabe ao Governo Brasileiro garantir que as resoluções adotadas sejam cumpridas e a apresentação de relatórios periódicos de acompanhamento sobre os direitos da mulher.

A Constituição Brasileira de 1988 se faz presente e atuante com relação aos movimentos de mulheres, garantindo a igualdade entre os sexos. Conforme preconiza o inciso I, artigo 5º: “Homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, e ainda no artigo 226, § 8º que prima que: O Estado assegurará a assistência à família[...]criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações.”

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7 Referindo-se a igualdade entre os gêneros como princípio na constituição brasileira de 1988, Piazzeta (2001, p.85) comenta que:

É justamente nas diferenças existentes entre os dois sexos que repousa o fundamento jurídico do princípio da igualdade. A diferença que pesava para as mulheres enquanto marca de inferioridade e razão de discriminação (no que se convencionou chamar de diferença – exclusão) vem exibido, assumido, como sinal de seu valor intrínseco como individuo e também como fundamento da reivindicação de direitos (no que se denomina diferença – especificidade).

Em meados da década de 90, mais exatamente no ano de 1992 a Câmara dos Deputados constituiu uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar a violência conta a mulher no país. O Brasil no ano de 1993 participou da Conferência Mundial dos Direitos Humanos, em Viena quando houve a reconhecimento de que a Violência contra mulheres e meninas é uma violação dos Direitos Humanos.

No Brasil um fato abalou todo o país, pois no dia 29 de maio de 1983, uma biofarmacêutica foi atingida por um tiro no momento em que dormia, conduta esta praticada pelo seu marido, economista formado, professor de universidade, colombiano naturalizado brasileiro ele – Marcos Antonio Heredia Viveiros, ela- Maria da Penha Maia Fernandes, deste momento de pura loucura Maria da Penha fica paraplégica. Ainda em estado de recuperação, a vítima volta para casa e sofre outro ataque de seu marido, dessa vez recebe uma forte descarga elétrica enquanto tomava banho.

Segundo, pesquisa realizada por Campos (2008), referente a efetividade da Lei Maria da Penha, pela Universidade Estadual do Vale do Acaraú, Escola de Magistratura do Ceará, comenta que:

O acusado foi preso , em setembro de 2002, quando dava aula numa Universidade do Rio Grande do Norte. O agressor foi denunciado em 28 de setembro de 1984, pelo Ministério Público, sentença de pronuncia em 31 de outubro de 1986, sendo julgado no dia 04 de maio de 1991, sendo condenado a 15 anos de reclusão. Devido aos inúmeros recursos dirigidos aos Tribunais Superiores, quase 20 anos depois do delito.

No ano de 2001,a Comissão Interamericana de Direitos Humanos responsabilizou o Estado Brasileiro por omissão e negligência com relação aos atos de

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8 violência concreta de Maria da Penha, cabendo ao Estado enfrentar assim, a violência doméstica e familiar referentes às mulheres brasileiras. Devido a forte pressão internacional e a Comissão Interamericana, no ano de 2002, o processo de reconhecimento no âmbito nacional deu-se por encerrado em 2003, onde o ex-marido de Penha foi preso, cumprindo apenas dois anos de prisão.No ano de 2002, observa-se a criação da Secretaria Espacial de Políticas para as Mulheres, considerado o Lançamento da Plataforma Política Feminista, sendo este um documento elaborado por cerca de cinco mil ativistas, participantes de 26 Conferências Estaduais sendo aprovado em junho de 2002.

A Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006, que ficou conhecida como “Lei Maria da Penha” criou mecanismos capazes de coibir a violência doméstica e familiar contra mulher, buscando colocá-la a salvo do agressor. Conforme o art. 2º da Lei nº 11.340:

Toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e religião, goza dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as oportunidades e facilidades para viver sem violência, preservar sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social. A Lei Maria da Penha constitui-se uma ação afirmativa que estabelece uma proteção específica, que proporciona tratamento diferenciado às mulheres, essa tutela de forma garante a dignidade e o exercício aos direitos fundamentais das mesmas.

A Lei Maria da Penha constitui-se uma ação afirmativa que estabelece uma proteção específica, que proporciona tratamento diferenciado às mulheres, essa tutela de certa forma garante a dignidade e o exercício aos direitos fundamentais das mesmas, sendo dever do Estado proteger as mulheres contra toda forma de violência (art.226,§8º, da CF/88).

Sobre a Lei Maria da Penha, Dias (227, p. 29), define que:

A lei Maria da Penha só chegou agora, cumprindo o Brasil compromissos assumidos internacionalmente. Mas Apesar da demora na sua elaboração, como saúda Sílvia Pimentel, “o Brasil está de parabéns, pois se trata de instrumento legal bastante cuidadoso, detalhado e abrangente.

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9 Segundo Farias, em seus estudos sobre a Violência Doméstica (2007, p.176), analisou que a Lei Maria da Penha é um marco na história com relação à proteção as mulheres, mas não deixa de conter dúvidas quanto a sua aplicação. Devendo ser mais bem analisada e redimensionada conforma seus preceitos. Sendo ela a LEI MARIA DA PENHA o que temos de mais novo e atual dentro de nossa legislação, sendo uma ferramenta importante para dar vez e voz as mulheres vitimas de violência doméstica e familiar.

1.2 Conceito de Violência Doméstica

Para as Nações Unidas a violência doméstica contra a mulher é conceituada como “qualquer ato de violência baseada na diferença de gênero, que resulte em sofrimentos e danos físicos, sexuais e psicológicos da mulher; inclusive ameaças de tais atos, coerção e privação de liberdade, seja na vida pública ou privada”, (BRASIL,2005,p.5).

De acordo com Wikipédia, a enciclopédia livre, define em um de seus artigos violência como sendo:

Um comportamento que causa intencionalmente dano ou intimidação morala outra pessoa ou ser vivo. Tal comportamento pode invadir a autonomia, integridade física ou psicológica e até mesmo a vida de outro. É o uso excessivo de força, além do necessário ou esperado.

Sendo tudo que é feito por meio da força e da brutalidade, ou que é feito contra vontade ou agrado. Podendo assim, causar danos físicos ou psíquicos a outrem, um comportamento violento capaz de impor algo por meio da força. Dando-se como nome principal de Violência Doméstica por ser essa ocorrer dentro do ambiente familiar, ou seja dentro da própria casa.

Em conseqüência é o puro e covarde ato de obrigar outra pessoa a fazer algo contra sua vontade, é incomodar, constranger, ameaçar ou até mesmo lesionar o outro (a). Infelizmente a violência em si encontra-se em todos os lugares, nas escolas, nos meios de comunicação, no cotidiano de toda sociedade. A palavra violência neste sentido expressa comportamentos e ou fenômenos de uma sociedade.

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Trata-se de uma violência que se constitui a partir de relações de gênero, que colocam a mulher numa condição de subordinação ao masculino.

A “violência de gênero” é: [...] uma relação de poder de dominação do homem e de submissão da mulher. Ele demonstra que os papéis impostos ás mulheres e aos homens, consolidados ao longo da história e reforçados pelo patriarcado e sua ideologia, induzem relações violentas entre sexos e indica que a prática deste tipo de violência não é fruto da natureza, mas sim do processo desocialização das pessoas. Ou seja, não é a natureza responsável pelos padrões e limites sociais que determinam comportamentos agressivos aos homens e dóceis submissos as mulheres [...] (TELES e MELO, 2002,p.18).

A definição mais coerente de violência de gênero é a que se exerce sobre sexo oposto, referindo-se a violência contra a mulher, em que o sujeito passivo é a mulher, sendo uma violência machista que ocorre no âmbito familiar.

No que diz respeito à violência contra a mulher, Cavalcanti (2010, p.12) define como sendo “qualquer ação ou conduta que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto no âmbito público como no privado”

Dispõe o art.5º da Lei 11.340/06:

Art.5º Para os efeitos desta Lei configura violência doméstica e familiar

contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe

cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: I – no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;

II – no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa;

III – em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. (BRASIL, 2006, grifo nosso).

Ressalta-se ainda, que a violência doméstica e familiar é uma das formas de violência contra a mulher. Esse tipo de violência não se restringe apenas à violência perpetrada no local que a vítima reside, mas em qualquer lugar, desde que motivada por uma relação de afeto ou de convivência familiar entre agressor e mulher, vítima, (LEAL, 2010).

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12 De acordo com Cunha e Pinto (2008) a agressão no âmbito da unidade doméstica compreende aquela praticada no espaço caseiro, envolvendo pessoas com ou sem vínculo familiar. Violência no âmbito da família é aquela praticada entre pessoas unidas por vínculo jurídico de natureza familiar, podendo ser conjugal, em razão de parentesco (em linha reta ou por afinidade), ou por vontade expressa (adoção). E agressão em qualquer relação íntima de afeto é aquela inserida em um relacionamento estreito entre duas pessoas, fundadas em laços de amor, companheirismo, amizade.

Segundo o Núcleo de Estudos de Violência contra a Mulher – em um de seus artigos, datado do dia 31 de maio de 2011, a nossa Constituição Federal expõe modelos familiares como às famílias anaparentais (formada entre irmãos), as homo afetivas, ou seja, pessoas de mesmo sexo e as famílias paralelas, onde o homem mantém duas famílias ao mesmo tempo, enterrando por vez a idéia de que família estava vinculada apenas ao casamento.

Define-se unidade doméstica como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas. No entanto, não basta a mulher estar na casa de alguém, como uma visita, pois não há o convívio, não configurando desta forma a aplicação da Lei Maria da Penha. Contudo, segundo Paula monitora e ajudante da professora Maria Iolanda da Universidade Federal de Ponta Grossa:

Não há necessidade de a vítima e o agressor viverem sob o mesmo teto, basta que mantenham, ou já tenham mantido um vínculo de natureza familiar. A Lei tem como sujeito passivo apenas a mulher, independendo da orientação sexual. Já o sujeito ativo, o agressor, pode ser tanto homem ou mulher, desde que haja o vínculo de relação doméstica, relação familiar ou de afetividade, exemplo, no caso de união homo afetiva entre mulheres, havendo violência entre elas, a parceira da vítima responde pela prática de violência no âmbito familiar.

A Lei Maria da Penha foi criada para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, mostrando as várias formas e particularidades que antes a lei não analisava-. Compreendê-la nos mostra, entre outros, a importância em mudar alguns

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12 conceitos e costumes da sociedade, principalmente os que levaram a discriminação, podendo assim evitar mais vítimas.

Segundo Lurdes Aparecida Grossmann ([s.d], [?]):

Violência de gênero é um problema social que afeta grande parte dos países e, por isso foi reconhecida pela Organização Mundial de Saúde como um problema de saúde pública. Ocorre que, no Estado Gaúcho, os patamares estão subindo de forma acelerada e chocante no que tange a uma das principais conseqüências – o homicídio de mulheres. De acordo com a Comissão de Cidadania e Reprodução, em cada 10 mulheres assassinadas, 8 foram ameaçadas antes do crime. Através disso, constata-se que o problema não está apenas na fatalidade, e, inclusive, em fatos anteriores que envolvem opressão, ameaça e agressão.

Ressalta Sabadell (2005, p.235-236):

No âmbito das relações privadas, a violência contra a mulher é um aspecto central da cultura patriarcal. A violência doméstica é uma forma de violência física e/ou psíquica, exercida pelos homens contra as mulheres no âmbito das relações de intimidade e manifestando um poder de posse de caráter patriarcal. Podemos pensar na violência doméstica como uma espécie de castigo que objetiva condicionar o comportamento das mulheres e demonstrar que não possuem o domínio de suas próprias vidas.

Esclarece que a invisibilidade da violência decorre da divisão da esfera pública da privada onde no primeiro caso ocorre a exclusão da mulher e na segunda o Estado não tem por objeto violar a privacidade do homem, ocorrendo assim todo o tipo de violência e discriminação de mulheres e crianças, (SABADELL, 2005, p.235).

Quando os homens não se utilizam da palavra por meio do diálogo ou da argumentação, acabam se usando da violência diretamente sendo que os meios e os fins não possuem nenhuma legitimidade, por não serem aprovados pelas leis e pela moral.

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Cabe ressaltar que a palavra violência caminha juntamente com a palavra poder em sentido de superioridade quer seja intelectual, política, social, econômica sendo capaz de atingir os seres mais indefesos da sociedade, as mulheres, crianças e adolescentes.

No Direito Penal observa-se a desigualdade de gênero com relação à mulher em sua condição de vítima, sendo objeto de estudo por parte da criminologia. Sendo revista a posição da mulher na questão criminal. Cabe ressaltar que a ciência moderna baseia-se na oposição entre sujeito e objeto, razão e emoção, espírito e corpo, de certa forma oposições que correspondem á qualidade masculina, sendo esta vista como superior a feminina.

Segundo Barata (1999, p.19) “as pessoas do sexo feminino tornam-se membros de um gênero subordinado [...], certas qualidades e o acesso a certos papeis vem percebidos naturalmente ligados somente a um sexo biológico e não a outro”

Demonstrando assim, posições entre os dois sexos em que o homem exerce seu poder masculino sobre a mulher, numa espécie de ciclo vicioso de desigualdade.

Para Real (2010, p.1), em seu artigo:” Violência doméstica contra o idoso”, publicado no jornal - Notícias Paulistas:

A violência leva a conseqüências orgânicas, psicológicas, comportamentais (autoritarismo, delinqüência, entre outros) e desequilíbrio familiar. Os idosos são vítimas dos mais diversos tipos de violência que vão desde insultos e agressões físicas perpetradas pelos próprios familiares e cuidadores (violência doméstica), maus tratos sofridos em transportes públicos e instituições públicas e privadas até a própria violência decorrente de políticas econômicas e sociais que mantenham as desigualdades socioeconômicas ou de normas sócio-culturais que legitimem o uso da violência (violência social).

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Levando-se a se ter conseqüências de ordem comportamentais, psicológicas e orgânicas. As primeiras oriundas da personalidade autoritária, anseios e vontades onde por meio da força física vitimizam-se milhares de mulheres decorrentes de atos violentos, a segunda tende a demonstrar os mais variados sentimentos como medo, raiva e revolta, e a terceira pode considerar os mais variados tipos de lesões corporais, fraturas e até mesmo a morte dependendo da violência do ato.

Para Philippi ([s.d.], p. 36), mesmo a CF/88 primando que “todos são iguais perante a lei”, observa-se o contrário, pois os fatos da vida são diferentes, onde tratamento discriminatório legitima-se em fatos lógicos justificando racionalmente a discriminação. Justificando a absoluta garantia do direito aos considerados mais aptos, onde os sujeitos estão adaptados a realidade.Diferenças físicas, psíquicas, culturais, sociais acabam individualizando os seres, neste contexto a igualdade tem contexto ético não factual.

Para Azevedo (2000) deve-se reconhecer que todo e qualquer ato de violência é histórica e social, no sentido de que pode ser controlada e erradicada se houver vontade política para tal. Violência essa que deve ser contextualizada, por ser uma sociedade completamente desigual, tanto no sentido cultural como em termos socioeconômicos.

Ao analisar-se como referência o sistema de justiça o conceito de gênero; é incisivo na questão de dominação das mulheres vitimizadas pela violência doméstica e familiar. Essa qualificação de gênero inclui como vítimas mulheres, crianças e adolescentes de certa convivência ou vinculo familiar.

Historicamente os homens, por questões culturais, ocuparam espaços privilegiados de poder nas mais diferentes gerações, constituindo uma herança patriarcal. De certo modo esse entendimento distorcido acaba primando pela exploração e ou a dominação sobre o outro(a), em que sua capacidade de poder ou de mando leva ao quesito negativo que é a violência.

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A mulher desde pequenina cria mais brincadeiras infantis a imagem do homem como o príncipe encantado capaz de satisfazer suas necessidades emocionais e pessoais, mas este entendimento desaba ao ver que no dia a dia com a convivência e os altos e baixos da relação, o príncipe se torna, muitas vezes, em tirano sendo que seus atos agressivos começam com agressões verbais humilhantes, várias formas de violência física além do abuso sexual propriamente dito.

Na maioria das vezes as vítimas permanecem nessa situação de risco por razões diversas: medo, submissão ou dependência econômica. Este fato gera, por conseqüência, o envolvimento dos demais familiares que crêem na recuperação do agressor. Segundo Sorj (2002, p. 105). A sociedade é vista como conservadora supervalorizando o núcleo familiar (pai, mãe e filhos) como sendo modelo ideal de vida feliz.

1.3 Formas de violência doméstica

De acordo com as estatísticas, a violência doméstica é uma constante dentro de nossa sociedade, sendo capaz de revelar a impunidade desses crimes. Mesmo com os mais variados avanços tecnológico vivemos tempos primitivos em certos aspectos.

Para Cavalcanti (2005: p.58) por haver certa discriminação ou uma diferença entre os sexos: “induzem relações violentas entre os sexos e indicam que a prática desse tipo de violência não é fruto da natureza, mas sim do processo de socialização das pessoas.

Segundo Safiotti, (2004, p.76):

A desigualdade, a violência, a intolerância não são inerentes ao ser social. Ao contrário, o são a identidade e a diferença. Estas sim têm, por via de conseqüência, lugar ontológico assegurado.

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As formas de manifestação da violência contra a mulher estão expressas na Lei 11.340 de 07/08/2006, a qual é fruto da ratificação pelo Brasil da Convenção Interamericana para prevenir, punir e erradicar a Violência contra a mulher, conhecida como Convenção de Belém do Pará, em novembro de 1995.

A lei ampliou as formas de manifestação da violência doméstica e familiar contra a mulher, além das mais conhecidas e praticadas que são as violências físicas, psíquicas, morais, sexuais e patrimoniais.

A atitude do legislador foi justa, pois a vítima fica em uma situação difícil face à sua família, ao agressor e principalmente diante da sociedade. Na maioria dos casos de violência contra a mulher existe uma relação de dependência econômica e financeira.

Segundo artigo: “O perfil do agressor, violência da mulher“, de 2 de janeiro de 2010:

A Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicará:Violência contra a Mulher, “Convenção de Belém do Pará”, entende que a violência contra a mulher abrange a violência física, sexual e psicológica, podendo ocorrer tanto no âmbito da família ou unidade doméstica ou em qualquer relação interpessoal, quer o agressor compartilhe, tenha compartilhado ou não a sua residência, incluindo-se entre outras formas, o estupro, maus- tratos e abuso sexual; ocorrida na comunidade e cometida por qualquer pessoa, incluindo, o estupro, abuso sexual, tortura, tráfico de mulheres, prostituição forçada dentre outras; perpetrada ou tolerada pelo Estado ou seus agentes, onde quer que ocorra.

De acordo com a Deputada Bezerra, PSB, em sua página na internet , em proposta sugestiva de criação de Projeto de Lei, para acrescentar no rol de crimes hediondos ( Lei nº 8072, de 25 de julho de 1990), os crimes contra MULHER E

PESSOA IDOSA, por se tratar de condutas ilícitas manifestamente repugnantes aos

olhos da sociedade brasileira. Definindo como violência intrafamiliar :

Violência intrafamiliar contra a mulher e contra a pessoa idosa é um problema social que se agrava brutalmente nos nossos dias atuais. A situação de dependência, convivência familiar e outras circunstâncias, conjugados com a inexistência de leis crimenalizadoras mais severas têm sido os pontos preponderantes para esse retrocesso social em pleno século XXI.

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Observa-se, assim, um constante ataque a pessoas idosas e mulheres, vítimas fáceis, por ser frágeis e dependentes de seus familiares estando em constante convivência familiar.

No mesmo artigo a Deputada Bezerra, coloca como fundamento a Conferência de “Beijing” que aponta os tipos de violência contra a mulher à violência física, sexual e psicológica na família; a violência física, sexual e psicológica praticada pela comunidade em geral, como no trabalho, em instituições educacionais e outros âmbitos; a prostituição forçada; a violência física, sexual ou psicológica perpetrada pelo Estado; as violações em conflitos armados; a esterilização forçada; o aborto forçado e o infanticídio.

De acordo com a Convenção do Conselho da Europa para a prevenção e o Combate a Violência Contra as mulheres e a Violência Doméstica, no site Direitos Humanos, Instrumentos internacionais de Direitos Humanos:

A Recomendação nº 5 do Conselho da Europa afirma que a violência contra a mulher é a violência perpetrada na família e no lar, e nomeadamente as agressões de natureza física ou psíquica, os abusos de natureza emocional e psicológica e o abuso sexual, o incesto, a violação entre cônjuges, parceiros habituais, parceiros ocasionais ou co - habitantes, os crimes cometidos em nome da honra, a mutilação de órgãos genitais ou sexuais femininos, bem como outras práticas tradicionais prejudiciais às mulheres, tais como os casamentos forçados; a violência perpetrada pela comunidade em geral, nomeadamente a violação, o abuso sexual, o assédio sexual e a intimidação no local de trabalho, nas instituições ou em outros locais, o tráfico de mulheres com fim de exploração sexual e econômica bem como o turismo sexual; a violência perpetrada ou tolerada pelo Estado ou os agentes do poder público; a violação dos direitos fundamentais das mulheres em situação de conflito armado, particularmente a tomada de reféns, a deslocação forçada, a violação sistemática, a escravatura sexual, a gravidez forçada e tráfico com o fim de exploração sexual e econômica.

Após a descrição das várias classificações contidas em tratados internacionais e pela doutrina brasileira e estrangeira no que diz respeito aos tipos de violência contra as mulheres, conclui-se que:

Nas situações em que não existe a presença do diálogo ou de uma boa conversa para resolver as diferenças ou os mais variados conflitos, a violência se faz presente como uma forma rápida de calar outro (a). Sendo um fato constante e corriqueiro em todas as classes sociais e em todas as partes do mundo.

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19 O Brasil não se exclui das estatísticas, rompendo com a noção de cidadania. A sociedade parece aceitar passivamente todas as formas de violência, sendo observado certo descompromisso do indivíduo com as regras e normas da sociedade.

A violência doméstica e familiar permanece encoberta ou de certa forma obscura, por ser praticada dentro de casa, quase sempre entre marido e mulher. Percebe-se que os homens batem nas mulheres entre quatro paredes para que não Percebe-sejam vistos por seus colegas, parentes e ou amigos. As agressões domésticas incluem: abuso físico, sexual e psicológico, a negligência e o abandono.

Segundo o artigo 7º da Lei nº 11.340/2006 são consideradas formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras:

I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal; II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação; III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos; IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades. A violência física se manifesta das mais variadas formas como: tapas, socos, chutes, mordidas, empurrões, cortes, lesões por armas e objetos, entre outros. De forma que coloca o agressor em posição de poder, superioridade frente a sua vítima, causando danos internos ou externos ao físico do outro (a).

A violência sexual se acomete de coação física forçada a levar ao ato sexual propriamente dito, sendo cometida por aquele de vínculo conjugal como marido, namorado, amante, companheiro, sem distinção de classe social ou cultural.

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20 Atos sexuais violentos como: estupro dentro do namoro ou casamento; abuso sexual de incapazes; coabitação forçada; prostituição ou tráfego de pessoas para fins de exploração sexual.

A Violência psicológica é aquela que tem a tendência de causar dano á auto-estima ou a identidade da pessoa. Observa-se assim: insultos, desvalorização, humilhação, ridicularização de forma a denegrir o outro (a), frente á sociedade ou ambiente em que vive.

A Violência patrimonial aquela que configure retenção, subtração ou destruição de seus objetos, documentos, recursos econômicos destinados a satisfazer suas necessidades.

Neste contexto, a Lei Maria da Penha objetiva a proteção à integridade física, psíquica, moral, patrimonial e sexual do sexo biológico mulher, independente de sua orientação sexual, bem como do gênero feminino. Assim, sendo o Direito não deve se preocupar com as formalidades ocorridas dentro da sociedade, pois perante a lei homens e mulheres são iguais em seus direitos e deveres, gays, lésbicas, travestis e transexuais são cidadãos.

A Lei Maria busca combater o preconceito e a discriminação devendo ser aplicada da mesma forma aos travestis, transexuais, lésbicas e gays, pois o papel da Lei Maria da Penha é proteger todos aqueles que se comportam como mulheres, com papel definido dentro da sociedade.

Comenta Aracaju (2013, p.3) em seu artigo: ”Violência a triste realidade das mulheres brasileiras”:

A Lei Maria da Penha precisa sair do papel e, para isso, é preciso que sejam destinados recursos suficientes para a aplicação e ampliação desta lei. Não podemos aceitar que o governo siga gastando metade do Orçamento da União para pagamento de juros e amortização da dívida pública aos bancos enquanto os índices de violência contra a mulher crescem de forma assustadora.

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21

Havendo necessidade de investimentos no que se refere á forma de atendimento dessas mulheres vitimas da violência doméstica e familiar. Sendo necessário investir em Centro de Referência as Mulheres, ampliação das delegacias de mulheres, com funcionamento 24 horas, capazes de atenderem e investigarem os crimes, bem como ampliação de juizados específicos para punição dos agressores.

Além de ser um problema de toda a sociedade a violência doméstica e familiar é um problema de saúde pública, cabendo a cada um de nós a busca de soluções frente aos direitos constitucionais e aos princípios gerais dos direitos humanos nos faça cidadãos presentes e atentos integrantes de uma sociedade que vive constante transformação.

1.4 Os mecanismos legais de proteção à Mulher na lei Maria da Penha

A defesa da integridade da mulher não depende somente da aplicação de medidas de assistência, mas sim medidas protetivas de urgência aplicadas frente ao agressor. Ao se constatar a violência doméstica, o juiz responsável aplicará, em conjunto ou separadamente, de imediato ao agressor a suspensão da posse ou restrição do porte de armas, o afastamento do lar, domicilio ou local de convivência e a proibição de determinadas condutas (aproximação e contato da ofendida, incluindo de seus familiares e das testemunhas), restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores e prestação de alimentos.

Segundo BRASIL, Ministério do Trabalho e Emprego, Gêneros Diferentes, Direitos iguais. Brasília, 2010:

Na hipótese ou na prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, a autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência deverá tomar as providências legais: garantir proteção; encaminhar a agredida ao hospital ou posto de saúde; fornecer transporte e abrigo quando houver risco de vida; se necessário acompanhar a agredida para a retirada de seus pertences no local da ocorrência; e informar os direitos e os serviços disponíveis.

A Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006) é reconhecida pela ONU como uma das três melhores legislações do mundo no enfrentamento à violência contra as

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mulheres. Nasceu como resultado de um esforço coletivo dos movimentos de mulheres e poderes públicos no enfrentamento à violência doméstica e familiar e ao alto índice de morte de mulheres no País.

Além disso, configura-se como resposta efetiva do Estado brasileiro às recomendações da Convenção de Belém do Pará (Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher) e da Convenção da ONU sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (CEDAW), das quais o Brasil é signatário. Soma-se a essa luta, o episódio da condenação do Estado como resultado das lutas históricas dos movimentos feministas e de mulheres por uma legislação contra a impunidade no cenário nacional de violência doméstica e familiar contra a mulher.

Assim, a Lei Maria da Penha representa uma grande reviravolta na história da impunidade. Por meio dela, vidas que seriam perdidas passaram a ser preservadas; mulheres em situação de violência ganharam direito e proteção; fortaleceu-se a autonomia das mulheres. Dessa forma, a lei cria meios de atendimento humanizado às mulheres, agrega valores de direitos humanos à política pública e contribui para educar toda a sociedade.

Para Eleonora Menicucci Ministra de Estado Chefe da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, em conjunto com outros órgãos do Governo e da sociedade civil, vem conseguindo ampla divulgação desse importante instrumento na luta pelo fim da violência contra as mulheres. Tanto que a lei é conhecida e reconhecida por ampla maioria da população (84% de popularidade entre brasileiras e brasileiras – (Ibope/Themis,2008).

É necessário destacar que, a lei encontrou significativas resistências junto à sociedade, o que ensejou, inclusive, a proposição de uma ação direta de inconstitucionalidade contra alguns de seus dispositivos.

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No entanto, o Supremo Tribunal Federal (STF), em uma manifestação histórica pela constitucionalidade da lei, reconheceu a flagrante desigualdade ainda existente entre homens e mulheres, e determinou que a prática de violência doméstica contra as mulheres leve o agressor a ser processado criminalmente, independentemente de autorização da agredida.

De acordo com a Revista Projeção, Direito e Sociedade _ v. 2 _ n. 2 _ p. 385-391 _ ago. _ 2011:

Com a criação da lei no ano de 2006 o objetivo primeiro foi e é o de coibir a violência doméstica e familiar contra as mulheres, sendo que no ano de 2009 criou-se a Secretaria de Políticas para as Mulheres na Presidência da Republica, e por meio dela a Subsecretaria de Enfrentamento à Violência contra Mulheres quetem a capacidade de formular políticas de enfrentamento e prevenção a este fenômeno constante na sociedade, proporcionando a assistência e a garantia de direitos as mulheres vítimas de tal violência ( Decreto nº 7.043/2009).

São muitos os atos de violência contra as mulheres e neste contexto medidas assistências se fazem necessárias onde as diretrizes previstas nas leis como: Assistência Social, Sistema Único de Saúde, Sistema Único de Segurança Pública; garantido assistência do governo federal, estadual e municipal, também garantido a preservação da integridade física e psicológica, incluído serviços de contracepção de emergência, profilaxia das DSTs e AIDS, assim como outros procedimentos médicos no caso de violência sexual.

São muitos os avanços legais trazidos pela Lei Maria da Penha, entre eles:

- a definição do que é violência doméstica, incluindo não apenas as agressões físicas e sexuais, como também as psicológicas, morais e patrimoniais;

- reforça que todas as mulheres, independentemente de sua orientação sexual são protegidas pela lei, o que significa que mulheres também podem ser enquadradas – e punidas – como agressoras;

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- não há mais a opção de os agressores pagarem a pena somente com cestas básicas ou multas. A pena é de três meses a três anos de prisão e pode ser aumentada em 1/3 se a violência for cometida contra mulheres com deficiência;

- ao contrário do que acontecia antigamente, não é mais a mulher quem entrega a intimação judicial ao agressor;

- a vítima é informada sobre todo o processo que envolve o agressor, especialmente sobre sua prisão e soltura;

- a mulher deve estar acompanhada por advogado e tem direito a defensor público;

- podem ser concedidas medidas de proteção como a suspensão do porte de armas do agressor, o afastamento do lar e uma distância mínima em relação à vítima e aos filhos;

-permite prisão em flagrante;

- no inquérito policial constam os depoimentos da vítima, do agressor, de testemunhas, além das provas da agressão;

- a prisão preventiva pode ser decretada se houver riscos de a mulher ser novamente agredida e

- o agressor é obrigado a comparecer a programas de recuperação e reeducação.

Segundo Sandes, Advogada e professora de Direito Penal e Especialista em Ciências Penais, em seu artigo: “Aplicação das Medidas Protetivas da Lei Maria da Penha em favor do homem”:

Tais medidas protetivas da Lei possuem um caráter cautelar, pois asseguram a eficácia da prestação jurisdicional, afastando situações periclitantes e perigosas que poderiam por em risco a vida da vítima, buscando-se o desenvolvimento ou resultado final com as medidas ao qual se busca a

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satisfação. Conceder tais medidas de proteção a mulher, que é a única tutelada expressamente pela Lei, bem como ao homem em situações que requeira do Poder Judiciário por ser, naquela ocasião excepcional, vulnerável, é garantir segurança a esses indivíduos, cessando futuras ameaças, lesões e até mesmo um homicídio. O que se busca é que por meio do deferimento das medidas de proteção da Lei Maria da Penha pelo juiz, a vítima se resguarde do bem maior que ela tem que é a vida.

Dessa forma a Lei Maria da Penha elenca um rol de medidas protetivas para assegurar a mulher o direito a uma vida sem violência, no entanto, sua aplicação deve ser vista de forma mais ampla, a toda e qualquer vítima de violência em seu ambiente familiar, ou relacionamento intimo, demonstrada a situação de risco. Dessa maneira a lei deve ser interpretada e aplicada de maneira rápida de forma a prevenir e repreender a todo e qualquer tipo de violência domestica e familiar

Ao se constatar a violência doméstica, o juiz responsável pode aplicar, em conjunto ou separadamente, de imediato ao agressor a suspensão da posse ou restrição do porte de armas, o afastamento do lar, domicilio ou local de convivência e a proibição de determinadas condutas (aproximação e contato da ofendida, incluindo de seus familiares e das testemunhas), restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores e prestação de alimentos.

Na hipótese ou na prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, a autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência deverá tomar as providências legais: garantir proteção; encaminhar a agredida ao hospital ou posto de saúde; fornecer transporte e abrigo quando houver risco de vida; se necessário acompanhar a agredida para a retirada de seus pertences no local da ocorrência; e informar os direitos e os serviços disponíveis.

Visa-se observar que o Brasil, assim como o Estado do Rio Grande do Sul e a cidade de Ijui/RS, no que pese todas as dificuldades encontradas e inerentes ao assunto Violência doméstica e familiar ambos buscam encontrar soluções relevantes de atendimento as vítimas, visto que é um problema considerado de ordem pública tal é o número de casos relatados e denunciados.

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26 São muitos os obstáculos encontrados, porém, cabe a todos os entes da federação elaborar frentes de apoio as vítimas em conjunto com as ONGS, Instituições, Escolas, Igrejas, Hospitais pois ambas tem intuito de alertar e principalmente prevenir mulheres e crianças no sentido de ir contra violência doméstica e familiar. Cabe a sociedade como um todo denunciar de forma ativa os casos em questão para haver a coibição e ou a descontinuidade de tamanha violência capaz de acabar com a primeira sociedade conhecida a família.

Com base no que já foi relatado este trabalho de pesquisa monográfica continua visando o papel da rede de atendimento contra a Violência Doméstica e Familiar, na busca constante de soluções para atender as vítimas, assim como de alertar as mesmas de que tem direito ao amparo e a proteção de forma a evitar a violência contínua.

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2. A Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher no Brasil e papel da rede de atendimento

2.1 A Violência contra mulher no Brasil Contemporâneo

A sociedade contemporânea possui um contexto de questões vindas de uma cultura machista e patriarcal composta de costumes do passado que são enfrentados na atualidade. A criança que observa em seu ambiente um pai que bate, maltrata, humilha e abusa da força para coibir qualquer forma de reação recria em seu consciente uma mentalidade igual a de seu pai, visto que, no seu cotidiano vê a mulher como objeto enquanto vê o pai como o todo poderoso, aquele visto como dono do ambiente e do lar.

Há muito que esclarecer frente a violência doméstica e familiar no Brasil a partir das tipificações legais sobra as variadas formas de agressões domesticas, ambas dignas de sanções legais.

Referindo-se a violência contra a mulher no Brasil, Hauser (2014, p 14) observa que apesar dos avanços legais ainda persiste uma realidade de violações e de desigualdade.

O reconhecimento da igualdade entre homens e mulheres, o estabelecimento de instrumentos legais de proteção à mulher vítima de violência e o fortalecimento de políticas públicas destinadas a este grupo social específico, representaram, nas últimas décadas, avanços significativos no sentido da afir-mação da igualdade e dos direitos humanos. Mas, apesar de tais avanços a violência contra a mulher ainda persiste e representa um dos maiores entraves para a consolidação da cidadania feminina. Historicamente, a violência contra a mulher tem se manifestado sob as mais diversas formas e em distintos locais. A falta de acesso a direitos fundamentais, a exclusão, a discriminação e as diferentes formas de abuso são modalidades de violência que tem acompanhado a história das mulheres a séculos. No entanto, é no espaço doméstico e familiar que a violência contra mulheres assume sua fei-ção mais dramática. Estima-se que em 70% dos casos a violência contra a mulher ocorra no ambiente doméstico e envolva agressores do grupo familiar. O mapa da violência divulgado em 2012 demonstrou que, no Brasil, por exemplo, 65% dos feminicídios de mulheres entre 20 e 49 anos ocorreram dentro da residência ou habitação.

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28 Este fenômeno nos instiga a pensar sobre a realidade de violência e sobre a efetividade dos instrumentos previstos na Lei Maria da Penha. Dados do IBGE (Instituto Brasileira de Geografia e Estatística) denotam que:

Até o primeiro semestre de 2012, foram feitos 47.555 registros de atendimento na Central de Atendimento à Mulher. Durante todo o ano de 2011, foram 74.984 registros, bem inferior aos 108.491 de 2010. O tipo de registro que aparece em maior número é para relatar violência física contra a mulher que pode variar de lesão corporal leve, grave ou gravíssima, tentativa de homicídio e homicídio consumado. Foram 63.838 em 2010, 45.953 em 2011 e 26.939 até julho de 2012. (http://cod.ibge.gov.br/23GQV)

Prividelli (2012) em artigo: ”Os 7 Estados brasileiros com maior violência contra a mulher” para Revista Exame, definiu que:

(...) O Brasil é um dos países do mundo com a maior taxa de homicídios femininos, segundo o estudo Mapa da Violência, realizado pelo professor Julio Jacobo Waiselfisz, do Instituto Sangari. É o sétimo país com a maior taxa, para ser exato. Estamos atrás apenas de El Salvador,Trinidad e Tobago, Guatemala, Rússia, Colômbia e Belize.:)

Referindo-se ao mesmo assunto de pesquisa Amaral (2012) observa que o Estado com maior número de homicídios de mulheres no Brasil é o Espírito Santo, superando duas vezes a média nacional, com grande número de mulheres mutiladas, que perderam o feto em razão de espancamentos, expulsas de casa, que perderam os movimentos de pernas e braços condenadas a cadeira de rodas, idosas vítimas do completo abandono, entre outras graves formas de violência. Segundo dados do portal G1 o segundo estado com mais casos de violência contra a mulher no Brasil é o Estado do Pará. Tais dados foram levantados com base nas informações constantes no serviço de atendimento a mulher Ligue 180).

De acordo com Pinheiro (2013), Piauí é o terceiro Estado em que as mulheres mais sofrem violência doméstica, relata que:

[...] o terceiro estado do país com maior número de mulheres agredidas no âmbito de seus lares é o Piauí, dados relatam que cerca de 59 % das mulheres sofreram violência dentro de seus lares, dados levantados pelo Conselho Nacional de Justiça.

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O Mapa da Violência de 2012, que é publicação do Instituto Sangari, trouxe informações sobre o homicídio de mulheres no Brasil e mostra ser muito alto o índice de assassinatos de mulheres no país. De acordo com a pesquisa, baseada em informações do sistema DATASUS, de 1980 a 2010, aproximadamente 91mil mulheres foram assassinadas, sendo 43,5 mil apenas na última década. O Espírito Santo lidera o

ranking nacional, com taxa de 9,4 homicídios para cada 100 mil mulheres.

(WAISELFISZ, 2012).

Segundo o mesmo estudo, encontram-se na sequência os Estados de Alagoas (8,3), Paraná (6,3), Paraíba (6,0) e Mato Grosso do Sul (6,0). Ainda segundo o Mapa da Violência, 68,8% dos incidentes acontecem na residência, o que leva a conclusão de que é no âmbito doméstico onde ocorre a maior parte das situações de violência experimentadas pelas mulheres. No ano de 2010 a taxa geral de homicídio de mulheres no pais era de 4,4 mulheres assassinadas por 100.000 habitantes, o que representa significativo aumento, pois em 1980, primeiro ano da pesquisa, a taxa era de 2,3 mulheres assassinadas para cada grupo de 100.000 habitantes. Referindo-se a esta realidade Waiselfisz (2012, p. 03) observa que

Nos 30 anos decorridos a partir de 1980 foram assassinadas no país perto de 91 mil mulheres, 43,5 mil só na última década. O número de mortes nesses 30 anos passou de 1.353 para 4.297, o que representa um aumento de 217,6% – mais que triplicando – nos quantitativos de mulheres vítimas de assassinato. Também podemos observar (...) que o crescimento efetivo acontece até o ano de 1996, período em que as taxas de homicídio feminino duplicam de forma exata. A partir daquele ano, as taxas permanecem estabilizadas em torno de 4,5 homicídios para cada 100 mil mulheres. Pode-se observar também que, no primeiro ano de vigência efetiva da lei Maria da Penha4, em 2007, as taxas experimentam um leve decréscimo, voltando imediatamente aos patamares anteriores.

As mulheres mudaram o contexto de seu papel dentro da sociedade contemporânea. Atualmente buscam estudar para inserção no mercado de trabalho a ponto terem várias funções: do lar, dos estudos, do trabalho sendo uma espécie de revolução cultural dentro do ambiente doméstico se colocando por vezes em situação superior a de seus companheiros Quase metade das mulheres brasileiras são chefes de família e isto bate de frente aos costumes machistas e patriarcais capazes de impor diferenças de gênero.

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30 No Brasil o poder da mulher chegou ao seu ponto máximo frente aos homens na eleição de 2010, quando foi eleita a primeira mulher Presidenta da República Dilma Rousseff, que com os poderes a ela inerentes nomeou nove ministras observando se o empoderamento financeiro/econômico das mulheres, enfrentando assim a violência de gênero. (GROSSMANN, 2013)

As mulheres brasileiras mobilizam-se nos mais variados movimentos de nível nacional e internacional e, no entanto, os índices de violência contra ela não recuam, como bem demonstram os dados acima mencionados. Neste aspecto, parece que para sustentar as conquistas femininas e assegurar redução da violência, se exige maior fiscalização de todos os níveis tanto federal, estadual como local.

Segundo Galvão(2009), organização não governamental, sem fins lucrativos, sediada na cidade de São Paulo e que tem por objetivo desenvolver projetos sobre direitos da mulher e meios de comunicação de massa, no país

(...) a cada 15 segundos uma mulher é espancada dentro de sua própria casa e os mecanismos legais existentes para sua proteção nem sempre são suficientemente conhecidos. Observa-se que passada a raiva a mulher agredida esquece a dor e acaba se reconciliando, retirando a queixa deixando o Estado sem condições de agir, não prosseguindo com a investigação sem a devida punição concreta ao agressor.

Observa-se que a violência doméstica contra as mulheres está ligada á desigualdade de poder entre mulheres e homens e a alto índice de uso de drogas proibidas ou permitidas como álcool, cigarros, ansiolíticos, antidepressivos entre outros. Galvão (2003) entende que embora muitas vezes o álcool, drogas ilegais e ciúmes sejam fortes indicadores que favoreçam a violência contra a mulher, esta não é a principal causa da violência contra a mulher.

Segundo Stela Nazareth MeneghelI e Vania Naomi HirakataII (2011, p. 575)

Aproximadamente 20 mil mulheres morreram por agressão no Brasil entre 2003 e 2007, um coeficiente de mortalidade médio padronizado de 4,1 óbitos/100.000. Espírito Santo, Pernambuco, Mato Grosso, Rio de Janeiro, Rondônia, Alagoas, Mato Grosso do Sul, Roraima e Amapá apresentaram os maiores coeficientes no período.

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Como se viu anteriormente, em 30 anos foram assassinadas 91,9 mil mulheres no Brasil, sendo que os feminicídios acontecem geralmente na esfera doméstica e quase a metade dos crimes é perpetrada pelo parceiro ou ex-parceiro da mulher.

Segundo a Revista de Saúde Pública (2011), no Brasil, investigações sobre o tema mostram que os feminicídios predominam entre mulheres jovens, brancas, com nível fundamental de ensino, profissões não qualificadas, enquanto os agressores são jovens, geralmente com menor grau de escolaridade que as mulheres, casados, com antecedentes criminais, envolvimento repetido em brigas e conduta de ameaças e violências dirigidas contra as mulheres.

Dados do IBGE(2009) apontam as principais características das mulheres agredidas no país, indicando que os agressores são companheiros, cônjuges, namorados, ex-namorados ou ex-maridos, ex-companheiros. Os registros de violência relatados ao Ligue 180 em são os seguintes:

.

GRÁFICO – Referente ás Organizações das Mulheres e Políticas públicas de Governo.

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32

Ao observar dados do gráfico acima podemos concluir que quase 70% dos agressores são os maridos ou companheiros, que a maioria das vítimas tem entre 20 e 34 anos de idade, e que a dependência financeira é um fator relevante fazendo com que as mulheres continuem nesta situação de risco.

De acordo com IBGE no primeiro semestre do ano de 2012 foram feitos 47.555 registros de atendimento na Central de Atendimento a Mulher. Por meio do Ligue 180 se recebe diariamente denúncia de maus tratos contra as mulheres, sendo oferecido por meio da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, este serviço funciona 24 horas por dia nos 7 dias das semanas incluindo finais de semana e feriados, de domingo a domingo.

TABELA – ATENDIMENTO DAS MULHERES -2009/2012

Podemos depreender dos gráficos extraídos do IBGE que a violência física e psicológica está significativamente acima dos outros tipos de violência, apesar dos novos mecanismos de combate a violência ela continua em nosso meio social.

Referências

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