• Nenhum resultado encontrado

Benefício assistencial como instrumento de defesa da dignidade da pessoa humana

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Benefício assistencial como instrumento de defesa da dignidade da pessoa humana"

Copied!
74
0
0

Texto

(1)

PAMELA SOARES MASSAFRA

BENEFÍCIO ASSISTENCIAL COMO INSTRUMENTO DE DEFESA DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

Ijuí (RS) 2020

(2)

BENEFÍCIO ASSISTENCIAL COMO INSTRUMENTO DE DEFESA DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Conclusão de Curso - TCC.

UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS- Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientadora: MSc. Eloisa Nair de Andrade Argerich

Ijuí (RS) 2020

(3)

Dedico este trabalho à minha família, pelo apoio, pelo incentivo, pelo amor a mim dados em todos os momentos da minha jornada.

(4)

AGRADECIMENTOS

Ao longo destes cinco anos e meio, onde tive a oportunidade de me dedicar ao curso de Direito, muitas pessoas fizeram-se presentes. Venho agradecer com muito amor e sinceridade a todos que participaram desse momento e que contribuíram de alguma forma para a concretização deste sonho.

Agradeço primeiramente aos meus pais que durante estes 23 anos, todos os ensinamentos foram de suma importância, que mesmo com todos os empecilhos vividos, sempre demostraram coragem, humildade e honestidade, que muitas vezes abriram mão dos seus sonhos para a realização dos meus e juntos conseguiram construir uma linda família, vocês são exemplos a serem seguidos. Essa conquista não é apenas minha, mas nossa!

A minhas irmãs Patrícia e Paloma, pelo apoio e carinho ao longo da caminhada. Vocês me ensinaram que com a diferença e dificuldade também podemos crescer, e me ajudaram a me tornar uma pessoa melhor. Amo vocês!

Ao meu namorado Guilherme, te agradeço pela paciência, força e compreensão no decorrer destes anos, nos conhecemos no primeiro ano da graduação e permanecemos juntos até o final com muita persistência, dedicação, luta e ambições, saiba que você foi essencial para o meu crescimento. Obrigada Gui!

Agradeço a professora Eloísa Argerich pela honra de ser minha orientadora, pela sua paciência, confiança, dedicação e calma que me transmitiu ao longo da construção deste trabalho, e também pelo encorajamento. Você ficará pra sempre em meu coração.

(5)

Lute com determinação, abrace a vida com paixão, perca com classe e vença com ousadia, porque o mundo pertence a quem se atreve e a vida é muito bela para ser insignificante.”

(6)

O presente trabalho de conclusão de curso tem por objetivo analisar o Benefício de Prestação Continuada, como instrumento de defesa da dignidade da pessoa humana, previsto na Constituição Federal de 1988 e na Lei Orgânica da Assistência Social, principalmente no que diz respeito ao requisito de miserabilidade. Á luz da doutrina, lei, códigos e jurisprudências o objetivo principal é evidenciar os embates que cercam esse assunto, com o intuito de demonstrar que a assistência social é dever do Estado, devendo este auxiliar a quem dela necessitar. Também se apresenta o atual entendimento acerca do conceito de miserabilidade, isto é, qual a renda per capita familiar e seus requisitos, discutindo-se a evolução e aspectos gerais da Seguridade Social, seus princípios e pilares, com ênfase nas peculiaridades do Benefício Assistencial. Aborda-se, ainda sobre o Benefício de Prestação Continuada, critérios econômicos para sua concessão, bem como o caráter de essencialidade dos Centro de Referência Especializada de Assistência Social -CREAS- à distribuição dos referidos Benefícios. Por fim, conclui-se que o critério de miserabilidade, viola o princípio da dignidade da pessoa humana e os cidadãos que se encontram nesta situação, não podem ficar desamparados, em face à sua vulnerabilidade econômica e social.

Palavras-Chave: Benefício de prestação continuada. Miserabilidade. Dignidade da pessoa humana. Centro de Referência Especializada de Assistência Social.

(7)

The objective of the present course conclusion work is to analyze the Continuous Cash Benefit, as an instrument of defense of the dignity of the human person, foreseen in the Federal Constitution of 1988 and in the Organic Law of Social Assistance, mainly with regard to the requirement of miserability. In light of the doctrine, law, codes and jurisprudence, the main objective is to highlight the clashes that surround this issue, in order to demonstrate that social assistance is the duty of the State, which should assist those who need it. It is also presented the current understanding about the concept of miserability, that is, what is the family per capita income and its requirements, discussing the evolution and general aspects of Social Security, its principles and pillars, with emphasis on the peculiarities of the Assistance Benefit. It is also discussed about the Continuous Benefit, economic criteria for its concession, as well as the essentiality of the Specialized Social Assistance Reference Center -CREAS- to the distribution of the referred Benefits. Finally, it is concluded that the criterion of miserability, violates the principle of human dignity and the citizens who find themselves in this situation, cannot be left helpless, due to their economic and social vulnerability.

Keywords: Continuous benefit benefit. Miserability. Dignity of the human person. Specialized Social Assistance Reference Center.

(8)

ADPF - Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental AGU - Advocacia Geral da União

BPC – Benefício de Prestação Continuada

CF/88 - Constituição da República Federativa do Brasil

CREAS - Centro de Referência Especializado de Assistência Social DDHC - Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão

HIV - Infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INSS – Instituto Nacional do Seguro Social

INPS - Instituto Nacional da Previdência Social LOAS - Lei Orgânica da Assistência Social OMS - Organização Mundial da Saúde ONU - Organização das Nações Unidas

PETI – Programa de Erradicação do Trabalho Infantil PCD - Pessoa Com Deficiência

PNPD – Política Nacional de Pessoas com Deficiência REsp – Recurso Especial

REx- Recurso Extraordinário STF – Supremo Tribunal Federal STJ – Superior Tribunal de Justiça

TNU – Tribunal Nacional de Uniformização TRF- Tribunal Regional Federal

(9)

1 ASPECTOS GERAIS DO SISTEMA ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL. 13

1.1 Origem e evolução da assistência social. ... 14

1.2. Evolução constitucional da assistência social ... 16

1.3 A LOAS e aspectos relativos ao idoso e ao portador de deficiência... 26

1.3.1. Princípio da solidariedade e proteção à luz da reserva do possível. ... 30

1.4 Compreendendo a Política Nacional do Idoso e do Portador de Deficiência. ... 34

2 BENEFÍCIO ASSISTENCIAL COMO INSTRUMENTO DE DEFESA DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA ... 44

2.1 Conceito de Benefício da Prestação Continuada ... 47

2.1.1 Beneficiários do BPC ... 50

2.1.2 Critérios econômico para concessão do BPC ... 52

2.2 A importância dos Centro de Referência Especializado de Assistência Social- CREAS- para a distribuição dos Benefícios de Prestação Continuada – BPC. 54 2. 3 Posicionamento dos Tribunais Superiores quanto aos critérios financeiros para a concessão do BPC. ... 58

CONCLUSÃO ... 68

(10)

INTRODUÇÃO

Preliminarmente, é importante esclarecer que a escolha deste tema se justifica, em face deste se encontrar em uma posição relevante de contribuição social e promoção da dignidade humana, ao possibilitar aos indivíduos que se encontram em situações de vulnerabilidade uma ampliação do acesso aos direitos e deveres inerentes à cidadania. Outro importante fator, se trata da positiva experiência pessoal e profissional junto ao Instituto Nacional de Seguridade Social – INSS, quando realizado estágio no período de Maio/2017 a Abril/2019, completando dois anos nessa autarquia, que proporcionou um acompanhamento mais próximo quanto ao fornecimento de benefícios sociais e à elevada necessidade desses serem efetivamente disponibilizados à todos que enfrentam dificuldades socioeconômicas e buscam ter os seus direitos humanos respeitados e garantidos, em conformidade com a nossa Constituição Cidadã.

Por conseguinte, para desenvolver essa temática foi utilizado o método de abordagem hipotético-dedutivo, observando a seleção de bibliografia e documentos afins ao assunto, bem como utilizando-se no seu delineamento a coleta de dados em fontes bibliográficas disponíveis em meios físicos e na rede de computadores. Para tanto, divide-se a pesquisa em dois capítulos.

Em um primeiro momento, estuda-se a Lei Orgânica da Assistência Social - LOAS- Lei 8.742/93, e a Constituição da República Federativa do Brasil- CF/88, possuem um papel fundamental na história de redefinição da assistência social no nosso país.

Logo a seguir, aborda-se também, aspectos da Seguridade Social, bem como da Assistência Social que são de extrema relevância no enfrentamento da miserabilidade e da desigualdade social, notadamente daqueles cidadãos hipossuficientes, tais como os idosos e portadores de necessidades especiais, por ex., que se enquadram nos requisitos de cobertura da assistência social.

(11)

Apresenta, ainda, nesta primeira parte, que o benefício assistencial é dever do Estado e direitos de todos os cidadãos necessitados, que fazem jus à sua concessão, visando a garantia de atendimento as necessidades básicas, ao provimento dos mínimos sociais para uma vida digna, com a aplicação de políticas públicas afirmativas dotadas de um cunho totalmente social.

Observa-se que o BPC é apenas um benefício paliativo para o idoso e portador de deficiência, pois não possibilita que esses indivíduos possam viver com dignidade, uma vez que o Salário Mínimo a eles concedido não é suficiente para atendimento do mínimo existencial. No entanto, percebe-se que as políticas públicas implementadas no país, não dão conta de atender todas as demandas que são encaminhadas para suprir essas necessidades.

No segundo e último capítulo, a abordagem está voltada especificamente para o Benefício de Prestação Continuada – BPC- examinando suas peculiaridades e requisitos exigíveis para a sua concessão. Observa-se que o BPC não é vitalício e tem como característica a intransferibilidade, uma vez que tanto o idoso quanto o portador de deficiência mesmo necessitando de cuidados esse benefício não pode ser utilizado por seus familiares como instrumento que garanta a subsistência de toda a família, mesmo que a transferência mensal seja de 1 (um) salário mínimo ao idoso, com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais, e à pessoa com deficiência, de qualquer idade, com impedimentos de longo prazo, de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, que comprovem não possuir meios para prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família.(BRASIL, 1993).

Cabe referir, que em razão do princípio da solidariedade observa-se que este serve como meio de realização da dignidade da pessoa humana, de modo a atender os fins da justiça social e, desse modo, o Poder Público, não pode utilizar-se do princípio da reserva do possível para obstaculizar a implementação de políticas públicas e o pagamento dos Benefícios de prestação Continuada

(12)

Por último, o estudo contempla o posicionamento das Cortes superiores, quais sejam, o Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justiça, pois o entendimento de ambos não é convergente quanto ao critério econômico para concessão do benefício previsto no inciso V do artigo 203 da CF.

(13)

1 ASPECTOS GERAIS DO SISTEMA ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL

O tema que será abordado merece atenção e estudo detalhado, no entanto, para melhor compreender os aspectos gerais do Sistema Assistência Social no Brasil, sua origem e evolução constitucional, é fundamental iniciar a pesquisa verificando a importância que o Benefício da Prestação Continuada (BPC), no contexto da Constituição da República Federativa do Brasil, mais precisamente no Capítulo I, Título II, que trata Dos Direitos e Garantias Fundamentais e Dos Direitos Sociais, uma vez que o BPC está disposto no Título III, da Ordem Social e esta tem “[...] como base o primado do trabalho, e com objetivo o bem-estar e justiça sociais.” (BRASIL, 2019).

Quando se trata de direitos e garantias fundamentais é necessário que se entenda que os direitos sociais fazem parte desse rol de direitos, e um dos grandes problemas decorrerem da falta de compreensão adequada dos direitos fundamentais, notadamente no que se refere a efetivação dos denominados direitos a prestações sociais, que por sua vez remetem à concretização dos objetivos fundamentais do Estado brasileiro, pois, não há como assegurar uma vida digna sem que haja a implantação de políticas de proteção social que contribua para amenizar as diferenças entre os indivíduos.

Supõe-se que o princípio da dignidade da pessoa humana é o princípio norteador que confere consistência ao próprio texto constitucional, assegurando o mínimo existencial para a sobrevivência dos indivíduos necessitados e vulneráveis, destacando-se o idoso e o portador de deficiências. No entendimento de Karine da Silva Cordeiro (2012, p.18) “Este, por sua vez, enquanto concretização da dignidade da pessoa humana em sua dimensão positiva, apresenta-se como critério material constitucionalmente adequado de justiciabilidade dos direitos sociais prestacionais.”

Nesse intento, pretende-se abordar, também nesta pesquisa, os aspectos gerais do Sistema de Assistência Social que apresentam as diretrizes

(14)

necessárias para dar suporte ao BPC como instrumento a serviço da dignidade da pessoa humana, nesse caso, o idoso e o portador de deficiência.

Estuda-se ainda, a origem e evolução da assistência social à luz do princípio da dignidade da pessoa humana associado ao princípio da solidariedade para compreender a importância do Benefício da Prestação Continuada a eles assegurada, por meio da Lei Orgânica da Assistência Social.

1.1 Origem e evolução da assistência social.

A referência, ainda que breve, à origem e a evolução da assistência social se constitui em etapa essencial para o desenvolvimento desta pesquisa. Com efeito, com as manifestações dos trabalhadores por melhores condições de trabalho e subsistência, já no século XIX, a preocupação efetiva com a proteção social os indivíduos, se tornou importante dentro da ordem jurídica. (CASTRO; LAZZARI, 2011). No entanto, quanto à história da assistência social.

Até o século XVIII, não havia sistematização de qualquer forma de prestação estatal, pois, de um modo geral não se atribuía ao estado o dever de dar assistência aos necessitados. A exceção registrada na História, a Poor Law, editada em 1601na Inglaterra, instituída contribuição obrigatória para fins sociais, com intuito assistencial. Na Idade Moderna havia um fosso imenso separado a classe operária da classe dos meios de produção. E o Estado Moderno, dentro da concepção liberal, limitação à autonomia pessoal. Desse modo, a proteção ao trabalhador, até então voluntariamente feita por aqueles que se preocupavam com a dignidade humana, muitas vezes só existia sob a forma de caridade. (CASTRO; LAZZARI, 2011, p.38).

Sustentam, portanto, Carlos Alberto Pereira de Castro e João Batista Lazzari (2011, p.37) que “A proteção social, portanto, é o conjunto de medida de caráter social destinadas a atender certas necessidades individuais; mais especificamente, às necessidades individuais que, não atendidas, repercutem sobre os demais indivíduos e, em última análise, sobre a sociedade”.

(15)

Na verdade, os supracitados autores esclarecem que o sistema de proteção social, no início do século XIX, era prestada como caridade e não como um direito subjetivo garantido pela sociedade e Estado, como ocorre atualmente.

Destaca-se, ainda, que a proteção social sempre existiu e esteve presente nas civilizações, uma vez que a incapacidade para o trabalho e a perda de capacidade de subsistência do homem implicaria em prejuízo para o próprio trabalhador e seu empregador. (CASTRO; LAZZARI, 2011).

Há muito pouco tempo que a sistematização de qualquer forma de prestação estatal faz parte da assistência social, uma vez que “[...] a intervenção estatal, no período do liberalismo econômico, limitava-se a prestar benefícios assistenciais, ou seja, oferecia pensões pecuniárias e abrigo aos funcionários carentes.” (CASTRO; LAZZARI, 2011, p.38).

Percebe-se, assim, que o amparo aos indivíduos, teve seu reconhecimento no período liberal, “[...] em que predomina a assistência aos pobres enquanto uma preocupação do Estado”, pois como adverte Daniel Machado da Rocha (2014, p.28) “[...] as manifestações assistenciais de até então tinham ínsito o caráter de mutualidade, mas não o de seguro, não havendo garantia plena de proteção em caso de necessidade.”

É interessante referir que, foi na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, em 1789 que surge o princípio da seguridade social como direito subjetivo segurado a todos. Conforme o texto da Declaração, o Preâmbulo apresenta as intenções daquela época. Veja-se:

Os representantes do povo francês, constituídos em ASSÉMBLEIA (sic) NACIONAL, considerando que a ignorância, o esquecimento ou o desprezo dos direitos do homem são as únicas causas das desgraças públicas e da corrupção dos Governos, resolveram expor em declaração solene os Direitos naturais, inalienáveis e sagrados do Homem, a fim de que esta declaração, constantemente presente em todos os membros do corpo social, lhes lembre sem cessar os seus direitos e os seus deveres; a fim de que os atos do Poder legislativo e do Poder

(16)

executivo, a instituição política, sejam por isso mais respeitados; a fim de que as reclamações dos cidadãos, doravante fundadas em princípios simples e incontestáveis, se dirijam sempre à conservação da Constituição e à felicidade geral. (DDHC, 2019).

Assinala-se que, foi com a DDHC de 1789, que ocorreu uma mudança substancial referente a proteção dos indivíduos, pois, já no próprio Preâmbulo, percebe-se que há destaque para os direitos e deveres dos cidadãos, sem no entanto, deixar de mencionar a ocorrência da corrupção dos governos e as arbitrariedades cometidas em razão do poder dos governantes.

Cumpre dizer que ao apresentar a evolução constitucional brasileira, visa- se a obtenção de maiores esclarecimentos sobre aspectos referentes aos benefícios concedidos pela LOAS aos idosos e portadores de deficiência.

1.2. Evolução constitucional da assistência social

Com respeito a evolução constitucional brasileira da assistência social, cabe informar que as Constituições brasileiras tratam de maneira geral sobre aspectos relacionados ao socorro público.

A Carta Imperial de 1824, documento este outorgado por Dom Pedro II, evidencia no art. 179, inciso XXXI que:

Art. 179. A inviolabilidade dos Direitos Civis, e Politicos dos Cidadãos Brazileiros, que tem por base a liberdade, a segurança individual, e a propriedade, é garantida pela Constituição do Imperio, pela maneira seguinte.

XXXI. A Constituição tambem garante os soccorros publicos.

Nesse período, a assistência social era considerada um direito individual e foi apenas em 1850 que, no Brasil, por meio do Código Comercial há expressa proteção ao indivíduo trabalhador, demostrando que não havia muita preocupação em dar atendimento ao cidadão, pois, a proteção elencada no texto vigente a época a considerava como mera norma programática, ou seja, não haviam programas ou políticas públicas. (CASTRO; LAZZARI, 2012).

(17)

Não há como deixar de mencionar que, em 1891, com a primeira Constituição Republicana, adota-se expressão “aposentadoria”, porém, somente fariam jus os funcionários públicos que não estivessem em condições para o trabalho, ou seja, os considerados inválidos. Chama a atenção o fato de que aos demais trabalhadores não era assegurado o direito a aposentadoria e nem a garantia de proteção social. Significa dizer que o trabalhador no período de 1891 até a promulgação da Constituição de 1934, decorridos 69 anos, não possuíam direitos referentes a aposentadoria e a assistência social. (IBRAHIM, 2012).

Antes da promulgação da Constituição de 1934, é fundamental informar que algumas leis sobre a previdência social e a proteção social surgiram com a finalidade de assegurar alguns direitos aos cidadãos trabalhadores e contribuintes que participassem do sistema vigente efetuando o pagamento necessário para cobrir as despesas decorrentes da aposentadoria e de benefícios que receberia.

Acentua-se que para João Ernesto Aragonês Vianna (2012, p.12):

Foi em 1923, foi publicada a Lei Eloy Chaves, marco fundamental da previdência social no país. Essa lei criou caixas de aposentadorias e pensões para os trabalhadores das estradas de ferro, com tríplice forma de custeio: trabalhadores, empresas e Estado. Posteriormente, surgiram muitas outras caixas, mas sempre atreladas à ideia de mutualismo, pois vinculadas a certas categorias profissionais ou grupos de empresas - professores, bancários, marítimos etc.

Percebe-se que o marco fundamental da previdência social, já em 1923, preocupava-se com as contribuições dos trabalhadores, criando caixas de pensões e aposentadoria, uma vez que Lei Eloy Chaves, fez dos ferroviários, no setor privado, os precursores do direito a um pagamento mensal durante a velhice.

Em 1931, com o Decreto nº 20.465/31, e com a Lei Eloy Chaves, foi acrescentada aos trabalhadores dos demais serviços públicos explorados ou

(18)

atribuído pelo Governo para concretizar a legislação referente às Caixas de Aposentadoria e Pensões. Desde então, os empregados, eram incluídos na Previdência Social, ainda que por categoria profissional (VIANNA, 2012).

Em 1934, com a promulgação da constituição do Estado Novo, começa a ser considerada a manutenção da previdência social, ou seja, a tríplice forma de custeio, qual seja com a obrigatoriedade de contribuição dos empregados, para o equilíbrio financeiro do sistema (VIANNA, 2012).

Entre 1930 a 1945 Getúlio Vargas governou o Brasil, dando início a Era Vargas nesse período também com as caixas de pensões e aposentadorias, que anteriormente eram regidas por empresas e a partir de então passaram a ser regulamentadas por categorias profissionais (VIANNA, 2012).

Ressalta Ibrahim (2012, p. 58):

A Constituição de 1946 foi a primeira a utilizar a expressão previdência social, substituindo a expressão seguro social. Sob sua égide, a Lei nº. 3.807, de 26/8/1960, unificou toda a legislação securitária, e ficou conhecida com a Lei Orgânica da Previdência Social - LOPS. Na verdade, a unificação da legislação foi um passo premeditado no sentido da unificação dos institutos. Essa tarefa ficaria sensivelmente facilitada, se todos se submetessem a um mesmo regime jurídico.

Em 1966, com a promulgação do Decreto-Lei 72, foi criado o Instituto Nacional da Previdência Social (INPS), com natureza jurídica autárquica, entidade de administração indireta da União, possuindo ainda regalias, privilégios da união, bens, imunidades, ações e serviços (IBRAHIM, 2012).

Com o fundo de Assistência e Previdência do Trabalhador Rural, foi criada a proteção social aos ruralistas em 1963, o mesmo contava com uma contribuição de 1% do valor em relação aos produtos comercializados, quantia esta recolhida pelo próprio agricultor (IBRAHIM, 2012).

(19)

Em 1988, surge a nova Constituição Federal, na qual oi criado um amplo rol de direitos sociais tanto por meio de princípios quanto por determinações positivas do Estado, com caráter eminentemente social, a CF/88 está voltada ao mínimo existencial, no qual os direitos sociais e o princípio da dignidade da pessoa humana nas palavras de Marcelo Leonardo Tavares (2019)

[...] resulta a obrigação de o Estado garantir um mínimo de recursos materiais suficientes para que a partir daí, a pessoa possa exercer sua própria autonomia. A dignidade humana ao servir de princípio fundamentador dos direitos prestacionais, consolida o conceito de mínimo social e gera, por consequência, a incorporação dos direitos prestacionais mínimos à concepção material de direitos fundamentais.

Ainda em 1988, o legislador constituinte, elenca os preceitos da Seguridade Social, assim discriminando-os, in verbis:

Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social.

Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade social, com base nos seguintes objetivos:

I - universalidade da cobertura e do atendimento;

II - uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais;

III - seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços;

IV - irredutibilidade do valor dos benefícios;

V - eqüidade na forma de participação no custeio; VI - diversidade da base de financiamento;

VII - caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do Governo nos órgãos colegiados. (BRASIL, 2019, sic).

Esse conjunto de ações integradas devem ser realizadas tanto pelo Estado, quanto pela sociedade, pois no supramencionado artigo fica evidente que a saúde, assistência social e previdência não podem ser arcados apenas por uma das partes mencionadas, pois há, sem sombra de dúvida, entre nós, um princípio bem maior; a solidariedade.

(20)

No entendimento de Castro e Lazzari (2012, p.72):

A Constituição Federal de 1988 estabeleceu o sistema de Seguridade Social, como objetivo a ser alcançado pelo Estado brasileiro, atuando simultaneamente nas áreas da saúde, assistência social e previdência social, de modo que as contribuições sociais passaram a custear as ações do Estado nestas três áreas, e não mais somente no campo da Previdência Social. Porém, antes mesmo da promulgação da Constituição, já havia disposição legal que determinava a transferência de recursos da Previdência Social para o então Sistema Único Descentralizado de Saúde - SUDS, hoje Sistema Único de Saúde - SUS.

É importante referir que na Constituição Cidadã de 1988 a proteção social em seu artigo 201 da Carta Magna, não abrangia toda a sociedade, ou seja, somente aqueles que contribuíam faziam jus aos benefícios previdenciários (CASTRO; LAZZARI, 2012).

Em 1991, após a promulgação da Constituição Federal, foram publicadas as Leis nº 8.212 e 8.213, respectivamente a organização do Regime da Previdência Social, e também o plano de pagamento dos benefícios, quais sejam o Plano de benefício da Previdência Social. (VIANNA, 2012)

Observa-se, assim que em 1999, com o Decreto nº 3.048/99, que está em vigor até hoje, foi ratificado o Regulamento da Previdência Social (VIANNA, 2012).

Portanto, a seguir discorre-se sobre o assunto com a intenção de esclarecer aspectos da LOAS- Lei de Organização da Assistência Social com relação ao idoso e portador de deficiência, para posteriormente adentrar em pontos significativos para a compreensão da Prestação de Benefício Continuada e as Política Nacional do Idoso e do Politica Nacional do Portador de deficiência à luz do princípio da solidariedade e da reversa do possível.

Ao realizar uma leitura atenta da Lei Orgânica da Assistência Social – Lei nº 8742/ 93, percebe-se que esta apresenta-se como a base dos serviços

(21)

assistenciais prestados pelo governo à população em situação de pobreza e vulnerabilidade social no Brasil, na qual se inclui os beneficiários que serão objeto desta pesquisa. Ou seja, os idosos e portadores de deficiência.

É imprescindível que se entenda o significado de assistência social no contexto da CF/88 para que se possa desenvolver aspectos relacionados como a Concessão do Benefício de Prestação Continuada. “De acordo com a Constituição Federal de 1988, a assistência social é uma política pública, ou seja, é um dever do Estado e direito dos cidadãos que necessitem desse apoio”, sustenta Bruno Cordeiro, advogado previdenciário (BRASIL, 2019).

Segundo o referido acima, portanto, os indivíduos que atenderem aos requisitos expressos na lei devem receber serviços, benefícios, participar de programas e projetos a fim de superar suas dificuldades e melhorar a qualidade de vida.

Argumenta Cordeiro que:

Nesse sentido, a instituição da LOAS, em 7 de dezembro de 1993, foi um dos principais marcos da assistência social no país. A legislação regulamentou o serviço assistencial, aprovando um orçamento para que as ações fossem postas em prática.

O documento também foi a base para a construção da Política Nacional de Assistência Social (PNAS), aprovada em 2004 e que descreve as iniciativas práticas do setor.

A LOAS é um dos elementos que compõem o tripé da seguridade social brasileira, que inclui também Saúde e Previdência, com o objetivo de oferecer condições de vida dignas à população.

Além de fazer referência à Lei 8.742/93, a sigla LOAS é bastante utilizada como sinônimo do BPC (Benefício de Prestação Continuada), um dos principais assuntos tratados no documento.

Explica-se de uma forma bem simples: Essa legislação regulamenta o disposto no art. 203, inciso V da Constituição Federal, que aborda o papel da assistência social no país. Veja-se:

(22)

Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:

V- - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei.

Evidencia-se, que esse benefício é assegurado constitucionalmente para garantir a renda de idosos e pessoas com deficiência que tenham limitações para se inserir no mercado de trabalho, mas que nunca contribuíram com o INSS (ou perderam a qualidade de segurado). (CORDEIRO, 2019)

Ressalta-se que a LOAS deixa claro que os idosos em situação de pobreza ou vulnerabilidade podem solicitar o Benefício de Prestação Continuada, a fim de complementar a renda da família. Nesse caso, homens e mulheres devem ter 65 anos ou mais – idade utilizada para o enquadramento como idoso pelo governo.

Outro ponto interessante a ser mencionado diz respeito não apenas a idade mínima, mas o requerente, idoso precisa comprovar que não possui meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família. Significa que a renda per capita, que não deve ultrapassar um quarto do salário mínimo por mês.

Quanto as pessoas portadoras de deficiências, a LOAS define como pessoas com deficiência de natureza física, mental, intelectual ou sensorial que impeça sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições também podem se beneficiar do BPC (CORDEIRO, 2019).

De outra banda, não se pode deixar de acrescentar que o Estatuto da pessoa com deficiência, a Lei nº 13.146/2015, art. 2º,

Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na

(23)

sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. (BRASIL, 2015).

Um fator que deve ser considerado quando se trata de pessoa portadora de deficiência é a sua comprovação. Os requerentes podem ter nascido ou adquirido a deficiência ao longo da vida, em decorrência, por exemplo, de um acidente de trabalho e, ainda precisam ser enquadrados na regra da miserabilidade ou vulnerabilidade, sem esquecer que a renda per capita mensal deve ser inferior aos R$ 249,50. (BRASIL, 1993).

Na realidade, a comprovação da deficiência é um dos requisitos mais importantes, pois o requerente, ou tem a deficiência congênita ou adquirida e isso por si só é um dos elementos que poderá auxiliar no enquadramento necessário para fazer jus ao benefício.

Para compreender melhor o significado de miserabilidade ou vulnerabilidade, utiliza - se o que comumente a sociedade entende como tal. Então, em situação de miserabilidade e/ou vulnerabilidade, compreende-se aquela pessoa que não dispõe de nenhum recurso financeiro para sua mantença, que não consegue acesso às políticas socais dos governos federal, estadual e municipal para suprir as necessidades básicas ou que não possui renda alguma e está fragilizada nos aspectos social, afetivo, psicológico, entre outros.

Neste sentido, Michelly Eustáquia do Carmo e Francini Lube Guizardi (2018, p. 02) explicam que:

A concepção de vulnerabilidade denota a multideterminação de sua gênese não estritamente condicionada à ausência ou precariedade no acesso à renda, mas atrelada também às fragilidades de vínculos afetivo-relacionais e desigualdade de acesso a bens e serviços públicos.

A vulnerabilidade está presente na área da saúde e da assistência social, demonstrando a estreita conexão entre ambas. Carmo e Guizardi (2018, p. 14) ressaltam que:

(24)

O ser humano vulnerável, por outro lado, é aquele que, conforme conceito compartilhado pelas áreas da saúde e assistência social, não necessariamente sofrerá danos, mas está a eles mais suscetível uma vez que possui desvantagens para a mobilidade social, não alcançando patamares mais elevados de qualidade de vida em sociedade em função de sua cidadania fragilizada. Assim, ao mesmo tempo, o ser humano vulnerável pode possuir ou ser apoiado para criar as capacidades necessárias para a mudança de sua condição. É com base nessa última afirmação que concordamos que não se trata, a vulnerabilidade, apenas de uma condição natural que não permite contestações. Isso porque percebemos que o estado de vulnerabilidade associa situações e contextos individuais e, sobretudo, coletivos.

O estado de vulnerabilidade está interligado às situações individuais ou coletivas, nas quais evidencia-se a falta de condições para uma vida mais digna.

Não se pode perder de vista o que o Tribunal Regional Federal da 1ª Região “decide que situação de vulnerabilidade social é identificada em elementos constantes do processo”, ao analisar o recuso do INSS no processo nº 0031793-10.2018.4.01.9199/MG, julgado em 07/08/2019 e publicado: 28/08/2019, com a seguinte tese:

É garantido o benefício de um salário mínimo à pessoa deficiente e ao idoso que comprovem não ter meios de prover sua

própria subsistência ou tê-la provida pela sua família.

Nesses termos, a Primeira Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) negou provimento à apelação do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) da sentença que julgou procedente o pedido da autora de concessão do benefício desde a data do requerimento administrativo (TRF, 2019, grifo nosso).

Uma das condições que é defendida pelos magistrados seria os gatos pertinentes à condição do beneficiário, dentre eles saúde e alimentação. Veja- se o julgado do TRF 4ª Região:

[...] A condição concreta de miserabilidade é aferida pelas mínimas condições de sobrevivência da entidade familiar, observando-se as condições de moradia, alimentação, vestuário, saúde e gastos com medicamentos ou essenciais despesas extraordinárias. [...] (TRF4, AC 2003.04.01.037618- 6/RS, Rel. Des. Federal Otávio Roberto Pamplona, Quinta Turma, j. DJU nº 106, 05/09/19, p. 921).

(25)

Evidencia-se que as condições mínimas de sobrevivência da família referentes ao mínimo existencial por si não bastam para comprovar a miserabilidade e a consequente vulnerabilidade para que possa fazer jus ao benefício da prestação continuada. Diante de todas as discussões à cerca de miserabilidade e vulnerabilidade, a Constituição Federal insculpiu como um dos fundamentos da República Federativa do Brasil a dignidade da pessoa humana, entendendo-a como um valor absoluto inerente a toda e a qualquer pessoa.

Nesse sentido, os ensinamentos de Alexandre Moraes (2005, p.48) é pertinente quando afirma que

A dignidade da pessoa humana é um valor espiritual e moral inerente a pessoa, que se manifesta singularmente na autodeterminação consciente e responsável da própria vida e que traz consigo a pretensão ao respeito por parte das demais pessoas, constituindo-se em um mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico deve assegurar, de modo que apenas excepcionalmente possam ser feitas limitações ao exercício dos direitos fundamentais, mas sempre sem menosprezar a necessária estima que merecem todas as pessoas enquanto seres humanos.

Acentua-se que a dignidade da pessoa humana corresponde às condições necessárias e básicas que possibilitam ao ser humano manter-se dentro dos padrões mínimos exigíveis para ter uma vida decente. À saúde, educação, moradia, segurança entre outros direitos fundamentais são imprescindíveis para o desenvolvimento do ser humano em sua plenitude.

Destaca-se, ainda, que alguns aspectos relativos ao idoso e ao portador de deficiência precisam ser observados para que possam receber por parte do Estado o BPC.

(26)

1.3 A LOAS e aspectos relativos ao idoso e ao portador de deficiência.

Evidentemente, o que se entende por miserabilidade e vulnerabilidade é o que comumente o senso comum explica, ou seja, é uma situação de miséria, pessoa excessivamente pobre, bem como a vulnerabilidade é uma situação de fragilidade, de derrota, seja social ou econômica. (DICIO, 2019).

Aquele que, por si ou com auxílio de sua família não possui condições de fazer frentes aos gastos mínimos com saúde, alimentação, moradia, entre outros, é uma pessoa em situação de vulnerabilidade. Por isso, uma das condições que é defendida pelos magistrados são os gastos pertinentes à condição do beneficiário, dentre eles saúde e alimentação. Veja-se o julgado do TRF 4ª Região:

[...] A condição concreta de miserabilidade é aferida pelas mínimas condições de sobrevivência da entidade familiar, observando-se as condições de moradia, alimentação, vestuário, saúde e gastos com medicamentos ou essenciais despesas extraordinárias. [...] (TRF4, AC 2003.04.01.037618- 6/RS, Rel. Des. Federal Otávio Roberto Pamplona, Quinta Turma, j. DJU nº 106, 05/09/19, p. 921).

Certamente que ao referir-se às condições de sobrevivência o magistrado está se referindo a sobrevivência digna. Segundo Ingo Wolfgang Sarlet (2001, p. 32, sic) a dignidade é um valor inerente à existência do ser humano e a conceitua como sendo uma

[...] qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existentes mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa e co-responsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os demais seres humanos.

(27)

Neste sentido, é que a assistência social mencionada no texto constitucional vem ao encontro das necessidades dos indivíduos que não possuem condições de manter-se e, muito menos, à sua família. Portanto, ressalta-se que o benefício assistencial da LOAS é fundamental para assegurar ao idoso e ao portador de deficiência o mínimo para sua subsistência e assim ter sua dignidade mantida e preservada.

Corroborando estas considerações Ivan Kertzman (2015, p. 457) menciona que:

O benefício assistencial da LOAS corresponde à garantia de um salário-mínimo, devido à pessoa portadora de deficiência e ao idoso com 65 anos ou mais que comprove não possuir meios de prover a própria manutenção e também não possa tê-la provida por sua família.

O salário mínimo assegurado como benefício às pessoas portadora de deficiência e idosas significa muito, pois na maioria das vezes, isto é uma renda necessária para retirá-las da situação de miserabilidade em que se encontram, uma vez que não possuem condições de manter-se trabalhando e o BPC contribui para a composição dos rendimentos das suas famílias.

Merece destaque, as informações referentes a idade cronológica para considerar a pessoa idosa e apta a receber o benefício, sendo as lições de Kertzman (2015, p. 457) elucidativas:

A idade para considerar pessoa como idosa já foi objeto de mudanças, conforme segue: a) No período de 01/01/9 a 31/12/97, a idade mínima para o idoso era de 70 anos; b) A partir de 01/01/98 e, até 31/12/03, a idade mínima para o idoso passou a ser de 67 anos; .c) Com a aprovação do Estatuto do Idoso, Lei 10.741/03, a partir de 01/01/04, a idade mínima para o idoso passou a ser de 65 anos; d) A Lei 12.435/2011 atualizou o art. 20, da Lei 8.742/93, trazendo a idade mínima de 65 anos para o idoso fazer jus a benefícios assistenciais. [...]

(28)

Percebe-se, assim, que a legislação apresenta requisitos para o

estabelecimento da idade cronológica para qualificação de uma pessoa idosa.

Da mesma forma, o Estatuto do Idoso – Lei nº 10.741/03, apresenta no art. 34 o que segue:

Art. 34. Aos idosos, a partir de 65 (sessenta e cinco) anos, que não possuam meios para prover sua subsistência, nem de tê-la provida por sua família, é assegurado o benefício mensal de 1 (um) salário-mínimo, nos termos da Lei Orgânica da Assistência Social – Loas.

Parágrafo único. O benefício já concedido a qualquer membro da família nos termos do caput não será computado para os fins do cálculo da renda familiar per capita a que se refere a Loas.( BRASIL, 2003, grifo do autor).

O dispositivo supracitado, determina que se considere, para fins de concessão do BPC, a idade cronológica de 65 anos ou mais.

No mesmo rumo, sobre a idade cronológica do idoso, as disposições legais constantes da Lei n. 8742/93, no art. 20, deixa claro que:

Art. 20. O benefício de prestação continuada é a garantia de um salário-mínimo mensal à pessoa com deficiência e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família.

[...]

Com efeito, para a concessão do BPC para pessoas portadoras de deficiência, Kertzman (2015, p. 457, grifo nosso), assevera que:

Até a edição da Lei 12.435/2011, alterada posteriormente pela Lei 12.470/2011, considerava-se pessoa portadora de deficiência aquela incapacitada para a vida independente com a publicação do citado diploma legal, passou-se a considerar

pessoa com deficiência aquela que tem impedimentos de longo prazo de natureza física, intelectual ou sensorial, os

quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de

(29)

condições com as demais pessoas (art. 20, §2°, da Lei 8.742/93).

Não é diferente o que consta no §2º, do art. 20, Lei n. 8742/93. Veja-se:

Art. 20: [...]

§ 2o Para efeito de concessão do benefício de prestação continuada,

Considera - se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. (BRASIL, 2003).

Analisando o dispositivo supracitado verifica-se que a concessão do benefício leva em consideração a necessidade da realização de avaliação da deficiência, o grau e o período da referida.

Neste aspecto, Kertzman (2015, p. 457) lembra que:

Considera-se impedimento de longo prazo aquele que produza efeitos pelo prazo mínimo de 2 anos. A concessão do benefício ficará sujeita à avaliação da deficiência e do grau de impedimento mediante avaliação médica e avaliação social realizadas por médicos peritos e por assistentes sociais do Instituto Nacional de Seguro Social - INSS. Note-se que tanto o deficiente físico quanto o mental podem receber o benefício assistencial, desde o nascimento.

Sem dúvida, o benefício assegurado aos portadores de deficiência e ao idoso está associado não apenas com a dignidade da pessoa humana, mas também com o princípio da solidariedade.

Registra-se que a dignidade da pessoa humana, tal qual consagrada pela Constituição Federal de 1988, no art 1º, III, é expressão da realização do exercício dos direitos fundamentais e objetivos do Estado brasileiro que juntamente como a solidariedade social é o elo que deve fortalecer as relações entre as pessoas.

(30)

Nessa quadra, ponderam Paulo André Stein Messetti e Dalmo de Abreu Dallari ( 2018, p. 12) que

A dignidade humana constitui fundamento de todos os direitos, tais quais os da liberdade, da igualdade, da justiça e da paz no mundo e deve nortear inclusive os direitos e deveres de regulação social. A (DUDH/1948) revela claramente a preocupação com a promoção e a proteção da dignidade humana e indica os benefícios e condições a que todo ser humano tem direito de acesso.

Nessa ponderação, constata-se que o Estado tem o dever de oferecer condições para que todos os cidadãos em situação de miserabilidade tenham acesso aos serviços e atendimento da Assistência Social e lhes seja concedido um benefício assistencial para assegurar a sua dignidade.

1.3.1. Princípio da solidariedade e proteção à luz da reserva do possível. Pode-se dizer sem medo de contradizer os doutrinadores previdenciários que o princípio da solidariedade é fundamental para assegurar direitos e garantias fundamentais, seja na área da saúde, da previdência social ou da assistência social.

O princípio da solidariedade é o pilar de sustentação do regime previdenciário. Não é possível a compreensão do sistema sem que o conceito de solidariedade esteja consolidado: observe-se, contudo, que este princípio não é específico da seguridade social. não estando esculpido do parágrafo único, do artigo 194, da Constituição, onde estão todos os outros princípios aqui estudados. Trata-se de objetivo fundamental da República Federativa do Brasil (art. 3°, 1, CF/88). Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária. (KREZTMANN, 2015, pp. 52-52).

Evidencia-se, portanto que a sustentação à concessão dos benefícios às pessoas idosas e portadoras de deficiência é respaldado pela sociedade que por meio das contribuições sociais oferecem aos cidadãos necessitados a busca da melhoria da sua condição de vida.

(31)

Nesta senda, o princípio da solidariedade pode ser definido como:

[...] o espírito que deve orientar a seguridade social de forma que não haja, necessariamente, paridade entre contribuições e contraprestações sec1:1ritárias. Através dele, tem-se em vista, não a proteção de indivíduos isolados, mas de toda a coletividade. Este princípio pode ser analisado sob a ótica horizontal ou vertical. Horizontalmente, representa a redistribuição de renda entre as populações (pacto intra- geracional) e verticalmente significa que uma geração deve trabalhar para pagar os benefícios das gerações passadas (pacto inter-geracional). Este sistema somente é possível nos regimes previdenciários de repartição simples. (KREZTMANN, 2015, p. 53, sic).

Percebe-se, uma intima relação entre o princípio da solidariedade e a manutenção da ordem social, pois por meio das contribuições realizadas pelos cidadãos brasileiros há uma repartição equilibrada das coisas materiais, efetivando o mandamento da justiça, ou seja, dando a cada um o que é seu. Ainda, há uma estreita relação com o princípio da dignidade humana, pois a sociedade como um todo contribui para que àqueles que não têm renda própria possam viver com decência e não sofrer mais limitações em seus direitos.

Neste ponto reside a importância da distribuição de recursos da União e dos Estados para que os municípios possam dar conta de suas atribuições na manutenção de ações que contribuam para a melhoria das condições dos idosos e portadores de deficiência.

O princípio da reserva do possível1 não pode se constituir em obstáculo para a concretização das prestações materiais estatais necessárias para a sobrevivência de pessoas tão vulneráveis quanto os idosos e portadores de deficiência.

1 O princípio da reserva do possível surgiu na Alemanha, em 1972, fruto de uma ação impetrada por alunos que pleiteavam o direito de ingresso na Universidade Pública, no curso de medicina. A alegação utilizada para justificar tal direito foi baseada na Lei Fundamental Alemã em seu artigo 12, I, onde estabelece que, “todos os alemães têm o direito de livremente escolher profissão, local de trabalho e de formação profissional.” (SARLET et. Al, 2008).

(32)

É evidente que para realizar tais prestações o Estado deve possuir receitas, reservas orçamentárias e dessa forma atender aos anseios constantes no Preâmbulo da CF/88, qual seja, a construção de:

[...] um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança,

o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça

como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista

e sem preconceitos […] (BRASIL, 2019, grifo nosso).

Sobre o ponto de vista orçamentário, destaca-se que a decisão de gastar em determinadas áreas é uma decisão política e nesse sentido o administrador ao elencar os gastos com as ações que irão beneficiar essas duas categorias de pessoas, tem o dever de apontar os meios que disponibilizará para efetuar os gastos.

Nesse aspecto, Ricardo Lobo Torres (2000, p. 110) explica, anotando que:

O relacionamento entre políticas públicas e orçamento é dialético: o orçamento prevê e autoriza as despesas para a implementação das políticas públicas; mas estas ficam limitadas pelas possibilidades financeiras e por valores e princípios como o do equilíbrio orçamentário […].

Dessa forma é possível observar que o desenvolvimento das políticas públicas está condicionado ao elemento “financeiro” do Estado. Portanto, se o Poder Público não possui reservas orçamentárias, a concretização de políticas públicas hábeis a suprir e concretizar os direitos fundamentais fica comprometida (AMARAL,2001).

Deve-se se ter o maior cuidado ao tratar da implementação de políticas públicas, pois a escassez de recurso tem sido um dos maiores empecilhos à sua implementação, no entanto, essa alegação não pode persistir quando se

(33)

refere aos direitos fundamentais sociais e às prestações materiais a que o Estado está obrigado pela Constituição Federal de 1988.

A tese da reserva do possível, nesse caso, não pode persistir, pois

3. Esse estado de escassez, muitas vezes, é resultado de um processo de escolha, de uma decisão. Quando não há

recursos suficientes para prover todas as necessidades, a decisão do administrador de investir em determinada área implica escassez de recursos para outra que não foi contemplada. A título de exemplo, o gasto com festividades ou

propagandas governamentais pode ser traduzido na ausência de dinheiro para a prestação de uma educação de qualidade. 4. É por esse motivo que, em um primeiro momento, a reserva

do possível não pode ser oposta à efetivação dos Direitos Fundamentais, já que, quanto a estes, não cabe ao administrador público preteri-los em suas escolhas. Nem

mesmo a vontade da maioria pode tratar tais direitos como secundários. Isso, porque a democracia não se restringe na vontade da maioria. [...] (BRASIL, 2019, grifos do autor).

Dessa feita, acentua-se que ao Poder Público carece a possibilidade de utilizar-se da reserva do possível para impossibilitar aos idosos e portadores de deficiência o pagamento do BPC, pois se assim o fizer está acentuando mais a desigualdade existente entre esses e os demais cidadãos brasileiros.

Nesse seguimento, a tese desenvolvida pelo Superior Tribunal de Justiça, no REsp Nº 1.185.474 – SC, em 2010, deixa muito claro que:

[...]

5. Com isso, observa-se que a realização dos Direitos Fundamentais não é opção do governante, não é resultado de um juízo discricionário nem pode ser encarada como tema que depende unicamente da vontade política. Aqueles direitos que

estão intimamente ligados à dignidade humana não podem ser limitados em razão da escassez quando esta é fruto das escolhas do administrador. Não é por outra razão que se

afirma que a reserva do possível não é oponível à realização do mínimo existencial.

6. O mínimo existencial não se resume ao mínimo vital, ou seja, o mínimo para se viver. O conteúdo daquilo que seja o mínimo existencial abrange também as condições socioculturais, que, para além da questão da mera

(34)

sobrevivência, asseguram ao indivíduo um mínimo de inserção na "vida"social.

[...] (BRASIL, 2019).

Frente ao posicionamento do STJ, é nítido que o Poder Público, não pode se valer da reserva do possível, salvo motivo objetivamente mensurável, pra exonerar-se do efetivo cumprimento das obrigações constitucionalmente impostas.

Cabe referir que o princípio da solidariedade serve como meio de realização da dignidade da pessoa humana, de modo a atender os fins da justiça social e, a reserva do possível não pode obstaculizar a implementação de políticas públicas e o pagamento dos Benefícios de prestação Continuada.

1.4 Compreendendo a Política Nacional do Idoso e do Portador de Deficiência.

Para compreender a Política Nacional do Idoso e do Portador de deficiência é muito importante que se inicie a abordagem, analisando o significado de envelhecimento em vários contextos e o ritmo com que isso vem ocorrendo nos vários contextos da sociedade.

O Dicionário on line de Português (2019) apresenta o envelhecimento como “ato ou efeito de envelhecer”, que significa dizer que o envelhecimento está relacionado com a idade cronológica, a passagem do tempo, ou seja, é um processo da vida, é uma das fases da vida, assim como a infância, adolescência e a maturidade.

A literatura científica apresenta distintos conceitos para o envelhecimento. Tais conceitos têm considerado diferentes aspectos do desenvolvimento humano, passando pelos campos biológico, social, psicológico e cultural. Contudo, ainda não é possível encontrar uma definição de envelhecimento que envolva os complicados caminhos que levam o indivíduo a envelhecer e como este processo é vivenciado e representado pelos próprios idosos e pela sociedade em geral (Carvalho Filho; Papaléo Netto, 2006; Uchôa, 2003).

(35)

Indubitavelmente deve-se considerar que a LOAS é uma legislação quer possibilita aos portadores de deficiência a possibilidade de receber um BPC e dessa maneira ter uma vida mais decente e digna.

A partir dessa perspectiva, objetiva-se desenvolver no segundo capítulo aspectos relacionados com o benefício assistencial como instrumento de defesa da dignidade da pessoa humana, no contexto da LOAS e das necessidades dos beneficiários.

Quando se trata de abordar a velhice a partir do contexto social e psicológico as lições de E.F.A. Costa e S.R.M Pereira citados por Rodolfo Herberto Schneider; Tatiana Quarti Irigaray (2008, p.4) são explicativas:

A idade social é definida pela obtenção de hábitos e status social pelo indivíduo para o preenchimento de muitos papéis sociais ou expectativas em relação às pessoas de sua idade, em sua cultura e em seu grupo social. Um indivíduo pode ser mais velho ou mais jovem dependendo de como ele se comporta dentro de uma classificação esperada para sua idade em uma sociedade ou cultura particular.

Frente a postura do autores (2003), a idade social corresponde às mudanças que ocorrem nas relações do idoso(a) e à sociedade, pois constantemente estão sendo avaliados para verificar “[...] o grau de adequação de um indivíduo ao desempenho dos papéis e dos comportamentos esperados para as pessoas de sua idade, [...]” expressam Rodolfo Herberto Schneider; Tatiana Quarti Irigaray ( 2008, p.4).

Com efeito, se for efetuado uma leitura da sociedade brasileira com relação à inserção do idoso nas mais diversas atividades laborais ou sociais, constata-se que nem mesmo a criação do Estatuto do Idoso, ou com a implementação de políticas públicas e sociais, esse é valorizado e tem sua dignidade resguardada, pois “a partir do momento em que deixa o mercado de trabalho, isto é, quando se aposenta e deixa de ser economicamente ativo”, recebe o rótulo de improdutivo e inativo. (SCHNEIDER et.al. 2008, p.15)

Quanto ao critério cronológico, Fernanda Paula Diniz (2011, p. 5) aduz que:

(36)

Seguindo o critério temporal ou cronológico, seria considerado idoso aquele que atingisse determinada idade, comprovada através de certidão de nascimento ou casamento ou documento assemelhado. Para critério psicobiológico, seria considerado idoso aquele que dispusesse de determinadas condições física e intelectual.

Verifica-se, pelo exposto que, no caso do Brasil, o estabelecimento da velhice se dá através do critério cronológico, adotado pela lei. (DINIZ, 2011, p.6).

Assim sendo, a velhice como fenômeno não muda a estrutura de personalidade, mas pode acentuar ou amenizar certos traços ou tendências como as depressivas, paranoias ou histéricas. (NOVAES, 2000, p.25).

É interessante explicar que o envelhecimento pelo critério psicológico possibilita que se realize uma análise a partir das habilidades adaptativas dos indivíduos para se adequarem às exigências do meio, incluindo-se a memória, a aprendizagem das novas tecnologias, o controle emocional, entre outros fatores e, isso impede por vezes que o idoso, homem ou mulher, seja afastado do meio social, provocando a doenças crônicas, distúrbios emocionais e até depressão. (SCHNEIDER et. al, 2008).

Nesse ponto, verifica-se a importância que assumem os serviços oferecidos pela Assistência Social, por meio dos Centros de Referência Especializada e, a concessão de Benefício de Prestação Continuada aos idosos necessitados.

Observa-se, que na maior parte do mundo, as mulheres vivem, em média, quatro anos mais que homens. No Brasil, de acordo com a OMS, a expetativa de vida é de 68 anos para os homens e 75 anos para as mulheres. (BUCCI, 2019).

A institucionalização da velhice aparece relacionada ao desenvolvimento de práticas institucionais de assistência à pobreza, ao longo do século XIX. No início do século XX, como resultado da eleição da velhice como objeto de práticas assistenciais, florescem as instituições filantrópicas, os chamados

(37)

asilos. A imprensa da época destaca o drama da velhice desamparada situação em que a pobreza seria dramaticamente agravada pela decadência e degeneração física e mental - e enaltece o papel dessas instituições. (BUCCI, 2006).

Os idosos tendem a apresentar capacidades regenerativas decrescentes, o que pode levar, por exemplo, à fragilidade, um processo de crescente vulnerabilidade, predisposição ao declínio funcional e, no estágio mais avançado, a morte. Ademais, mudanças físicas ou emocionais também podem comprometer a qualidade de vida dessas pessoas. (BUCCI, 2006).

Além dos sinais mais visíveis do envelhecimento rugas e manchas na pele, mudança da cor do cabelo para cinza ou branco ou, em alguns casos, alopecia — idosos tendem à diminuição da capacidade visual e auditiva, diminuição dos reflexos, perda de habilidades e funções neurológicas, como raciocínio e memória diminuídas. Inclusive, podem desenvolver incontinência urinária e incontinência fecal, além de doenças como Alzheimer, demência com corpos de Lewy e Parkinson (BUCCI, 2006).

O fato é que a sociedade brasileira possui um alto índice populacional com idade superior a 65 anos, pois segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em pesquisa realizada no item Características Gerias do Domicílios e Moradores 2018, divulgado em maio de 2019 mostra que “a população brasileira com 65 anos de idade ou mais cresceu 26% entre 2012 e 2018, ao passo que a população de até 13 anos mostrou recuo de 6%” (IBGE, 2018, grifos do autor).

Destaca-se que a população residente no Brasil em 2018 foi estimada em 207, 8 milhões de pessoas e as pessoas com 65 anos de idade ou mais representam 10,5% desse total, o que corresponde a 21, 872 milhões de pessoas, demostrando que o governo federal terá que tomar providencias com relação ao número de contribuintes, pois cada vez mais são concedidos os

(38)

benefícios, bem como aposentadorias aos aposentados e dessa forma a pesquisadora Adriana Beringuy, pesquisadora do IGBE, enfatiza que

A mudança do perfil demográfico reforça a importância da reforma da Previdência. Com o declínio da população em idade ativa a tendência é de menor numero e contribuintes para sustentar os benefícios dos aposentados. Vai ser preciso aumentar a produtividade dos jovens para compensar isso (IBGE, 2018).

Essa mudança de perfil populacional fica evidente no gráfico que abaixo se colaciona:

Fonte: IBGE, 2018.

Percebe-se a partir da análise do gráfico acima que a parcela de idosos da população brasileira tem aumentado de maneira acentuada e o número de jovem decresce. Esse aumento populacional de idosos, credita-se pelo aumento da expectativa de vida que, na atualidade, cresceu para 72 anos e 5 meses para os homens e 79 e 4 meses para as mulheres. Esse aumento da expectativa de vida acarreta o aumento de gastos com benefícios e aposentadorias pago pelo governo federal (IBGE, 2018).

(39)

Desse modo, as políticas públicas, bem como a legislação voltada para esses indivíduos que se encontram no ápice da sua maturidade, “[...] deve atentar para existência de elementos elementares, os quais devem servir de baliza para aplicação do Direito do Idoso”.

Ademais, não se pode deixar de mencionar que além dos idosos, se tem um número elevado de cidadãos portadores de deficiência, que segundo o IBGE, conforme o último Censo Demográfico 2010, o Brasil possui, por grupos de idade os seguintes números: De 0 a 14 anos 7,5; 15 a 29 anos 12, 9; 30 a 39 anos 17,0; 40 a 59 40, 3; e 60 anos ou mais 63, 4%. Destaca-se que esses números constantes na Nota Técnica 01/2018, que abaixo são explicados:

Fonte IBGE, 2010.

Sem dúvida, é uma realidade que demonstra que as pessoas portadoras de deficiência vêm crescendo gradativamente e por isso a exigência por demandas nas áreas dos direitos fundamentais sociais.

(40)

No que se refere a Política Nacional da Pessoa com Deficiência, a Lei Federal n° 13.146/2015, que regulamenta internamente as disposições da Convenção da ONU, prevê em seu artigo 2º:

Art. 2º Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.

Fica evidente cada vez mais que as pessoas com deficiência necessitam de maior atenção da sociedade, pois ao longo dos últimos anos, o movimento de inclusão dessas tem alcançado alguns avanços que efetivamente demostram um maior amadurecimento a esse tema tão sensível e importante.

Pode-se observar que essa maturidade social em torno do tema que envolve os portadores de deficiência, envolve muitas pessoas, assim, como o governo federal que tem pautado suas ações, planos e programas em função do resultado da PNPD. Ressalta-se que, inclusive, a realização das Conferências Nacionais sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência que ocorrem anualmente desde 2006, em Brasília, representa um avanço significativo para possibilitar um modelo de gestão destinados as pessoas com deficiência e sua acessibilidade como compromisso.

Por outro lado,

O novo parâmetro de deficiência baseado nos direitos humanos traz um novo modelo de visão social, onde o próprio ambiente influencia diretamente na liberdade na pessoa com deficiência, necessitando de estratégias políticas, jurídicas e sociais, que excluam os obstáculos e as discriminações. (CUNHA, 2017).

Como consequência desse novo parâmetro, o que, conforme se destacou, surge o artigo 53 do PNPD, que estabelece acessibilidade como direito humano fundamental.

(41)

Nesse sentido, as lições de Reginaldo Bezerra Cunha (2017, p.21) são de suma importância para esclarecer sobre a acessibilidade. Veja-se:

O art. 53 do Estatuto consolida a acessibilidade como princípio e direito humano fundamental: “A acessibilidade é direito que garante à pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida viver de forma independente e exercer seus direitos de cidadania e de participação social.

Falar em acessibilidade não é uma tarefa fácil, pois seguidamente, os meios de comunicação apresentam notícias que mostram que há ainda muitos osbstáculos que impedem que às pessoas com deficiência tenha mais mobilidade em seu dia-a-dia.

Registra-se, que mesmo com a Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 200022 que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, mediante a supressão de barreiras e de obstáculos nas vias e espaços públicos, no mobiliário urbano, na construção e reforma de edifícios e nos meios de transportes e de comunicação. (TAGLIARI et.al., 2014)

No que tange a acessibilidade, há de se destacar que a acessibilidade é sem dúvida direito

[...] que garante à pessoa com deficiência viver de forma mais digna, independente, exercendo com total plenitude seus direitos de cidadania, de participação social. Precisamos respeitar os deficientes, ter todo um cuidado especial no sentido que eles não sejam excluídos do convívio social. Acessibilidade torna-se um instrumento que permite esse respeito aos deficientes, possibilitando a essas pessoas, dar o acesso aos mesmos bens e serviços disponíveis a todos os cidadãos. (CUNHA, 2017, p. 21).

Certamente, que a implantação de políticas públicas voltadas as pessoas com deficiência é uma obrigatoriedade dos governos federal, estadual e

2 Lei n. 10.098/2000.Estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências. (BRASIL, 2000).

Referências

Documentos relacionados

Neste tipo de situações, os valores da propriedade cuisine da classe Restaurant deixam de ser apenas “valores” sem semântica a apresentar (possivelmente) numa caixa

De seguida, vamos adaptar a nossa demonstrac¸ ˜ao da f ´ormula de M ¨untz, partindo de outras transformadas aritm ´eticas diferentes da transformada de M ¨obius, para dedu-

Este trabalho buscou, através de pesquisa de campo, estudar o efeito de diferentes alternativas de adubações de cobertura, quanto ao tipo de adubo e época de

A prova do ENADE/2011, aplicada aos estudantes da Área de Tecnologia em Redes de Computadores, com duração total de 4 horas, apresentou questões discursivas e de múltipla

O enfermeiro, como integrante da equipe multidisciplinar em saúde, possui respaldo ético legal e técnico cientifico para atuar junto ao paciente portador de feridas, da avaliação

insights into the effects of small obstacles on riverine habitat and fish community structure of two Iberian streams with different levels of impact from the

A versão reduzida do Questionário de Conhecimentos da Diabetes (Sousa, McIntyre, Martins & Silva. 2015), foi desenvolvido com o objectivo de avaliar o

Nessa situação temos claramente a relação de tecnovívio apresentado por Dubatti (2012) operando, visto que nessa experiência ambos os atores tra- çam um diálogo que não se dá