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Análise da assistência de média e alta complexidade em odontologia no Sistema Único de Saúde no estado de Minas Gerais, Brasil

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE PIRACICABA

VINICIO FELIPE BRASIL ROCHA

ANÁLISE DA ASSISTÊNCIA DE MÉDIA E ALTA

COMPLEXIDADE EM ODONTOLOGIA NO SISTEMA ÚNICO

DE SAÚDE NO ESTADO DE MINAS GERAIS, BRASIL

Piracicaba

2020

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VINICIO FELIPE BRASIL ROCHA

ANÁLISE DA ASSISTÊNCIA DE MÉDIA E ALTA COMPLEXIDADE

EM ODONTOLOGIA NO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE NO ESTADO

DE MINAS GERAIS, BRASIL

Tese apresentada à Faculdade de Odontologia de

Piracicaba da Universidade Estadual de Campinas como

parte dos requisitos exigidos para a obtenção do título de

Doutor em Odontologia, na Área de Saúde Coletiva.

Orientador: Prof. Dr. Marcelo de Castro Meneghim

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA TESE DEFENDIDA PELO ALUNO VINICIO FELIPE BRASIL ROCHA E ORIENTADA PELO PROF. DR. MARCELO DE CASTRO MENEGHIM.

Piracicaba

2020

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Ficha Catalográfica

Universidade Estadual de Campinas

Biblioteca da Faculdade de Odontologia de Piracicaba Marilene Girello - CRB 8/6159

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Faculdade de Odontologia de Piracicaba

A Comissão Julgadora dos trabalhos de Defesa de Tese de Doutorado, em sessão pública realizada em 11 de Fevereiro de 2020, considerou o candidato VINICIO FELIPE BRASIL ROCHA aprovado.

PROF. DR. MARCELO DE CASTRO MENEGHIM

PROFª. DRª. MARIA HELENA RIBEIRO DE CHECCHI

PROF. DR. ALESSANDRO APARECIDO PEREIRA

PROFª. DRª. DENISE DE FÁTIMA BARROS CAVALCANTE

PROFª. DRª. LUCIANE MIRANDA GUERRA

A Ata da defesa, assinada pelos membros da Comissão Examinadora, consta no SIGA/Sistema de Fluxo de Dissertação/Tese e na Secretaria do Programa da Unidade.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a DEUS, por me mostrar a cada dia o caminho, e ter me dado dons, para que eu pudesse fazer a diferença no mundo.

À minha esposa Ed Mara, por sua paciência, apoio e amor incondicional em todos os momentos. Aos nossos filhos que me mostram o verdadeiro sentido da vida.

Aos meus pais Valdir e Maria Angélica e irmãos por serem meus incentivadores e pelo exemplo que me dão diariamente de luta pelos nossos ideais.

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AGRADECIMENTOS

À Universidade Estadual de Campinas na pessoa do seu Magnífico Reitor, o Dr. Marcelo Knobel e à Faculdade de Odontologia de Piracicaba representada pelo seu Diretor, o Professor Dr. Francisco Haiter Neto, a Coordenadora de Pós-Graduação, Dra. Karina Gonzales Silvério Ruiz e pela Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Odontologia, Dra. Michelle Franz Montan Braga Leite, minha gratidão pela possibilidade de muito aprender e conviver neste centro de excelência de ensino e pesquisa.

Ao Dr. Marcelo de Castro Meneghim pela orientação na condução deste trabalho, por me ensinar com atenção e disponibilidade os caminhos da ciência, hoje quando estou com meus alunos nas atividades da Universidade procuro me espelhar em você, querido professor.

Aos Professores da Faculdade de Odontologia de Piracicaba, em especial os Doutores Antônio Carlos Pereira e Fábio Luiz Mialhe e da Universidade Federal de Alfenas, Dr. Alessandro Aparecido Pereira, grandes exemplos de profissionais, verdadeiros mestres e amigos que contribuíram substancialmente com minha formação humana e profissional.

À Universidade José do Rosário Velano (Unifenas) que me possibilita contribuir diariamente, por meio do exercício da docência, com a construção de uma sociedade melhor mais justa e fraterna.

(7)

RESUMO

As práticas avaliativas em saúde são importantes para a qualificação da gestão, uma vez que permitem manter ou corrigir rumos, visando o adequado emprego de recursos. O objetivo dessa pesquisa foi realizar uma pesquisa avaliativa sobre a assistência de média e alta complexidade em odontologia, ofertada no Sistema Único de Saúde, no estado de Minas Gerais. Para isto, foram avaliados os atendimentos prestados em três contextos: Centros de Especialidades Odontológicas (CEO); oferta de próteses dentárias totais e parciais removíveis; e atendimentos odontológicos hospitalares sob anestesia geral ou sedação para Pessoas com Necessidades Especiais (PNE). Trata-se assim, de um estudo analítico retrospectivo, utilizando-se de dados relativos aos atendimentos realizados e registrados no Sistema de Informação Ambulatorial e Hospitalar, referente aos anos de 2008 a 2018, tabulados por meio do Tabnet e Tabwin do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde. Uma parcela significativa dos CEO avaliados, não cumpriram as metas estabelecidas nas especialidades odontológicas pelo Ministério da Saúde. Melhores desempenhos foram encontrados nos serviços sediados em municípios pólo de macrorregião de saúde e com maior Índice de Desenvolvimento Humano. O número de próteses dentárias totais e parciais removíveis ofertadas em Minas Gerais aumentou no período pesquisado, assim como os atendimentos as PNE sob sedação/anestesia geral em ambiente hospitalar até o ano de 2016. A maior parte das reabilitações foram com próteses totais e dentre estas, a maxiliar teve predominância. Foram observadas diferenças entre o acesso por município e a taxa de próteses confeccionadas para cada 1.000 habitantes, entre as regiões ampliadas de saúde. A cobertura estimada de procedimentos reabilitadores em saúde bucal esteve inversamente associada ao Produto Interno Bruto da região. Conclui-se assim, que os CEO sediados em municípios maiores e mais desenvolvidos apresentaram melhor performance no cumprimento de metas. O número de próteses dentárias removíveis ofertadas aumentou no período pesquisado. Foram observadas diferenças no acesso e taxa de próteses ofertadas por habitante, nas macrorregiões de saúde, a cobertura estimada de procedimentos reabilitadores em saúde bucal esteve inversamente associada ao Produto Interno Bruto. Os atendimentos hospitalares aos PNE, se capilarizaram para todas as regiões do estado, bem como se percebeu um aumento gradativo, mas não constante nos atendimentos realizados. Iniquidades na cobertura e no acesso a estes atendimentos, entre os municípios das regiões mineiras, foram observadas.

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ABSTRACT

Evaluative practices in health are important to the qualification of management by enabling the adequate use of resources and the determination as to whether the current course should be maintained or corrected. The aim of the present study was to analyze medium- and high-complexity dental care offered in the public healthcare system of the state of Minas Gerais, Brazil. For such, care was evaluated in three contexts: Dental Specialty Centers, the offer of complete or partial removable dentures and hospital dental care under general anesthesia or sedation for people with special needs. An analytical retrospective study was conducted with data from 2008 to 2018 registered in the Clinical and Hospital Information System tabulated using the Tabnet and Tabwin programs of the Informatics Department of the public healthcare system. A significant portion of the Dental Specialty Centers did not meet the goals established by the Health Ministry. Better performances were found at services in larger municipalities of the health macro-regions and those with a higher Human Development Index. The number of total and partial removable dentures offered in the state increased in the period analyzed. Care offered to people with special needs under sedation/general anesthesia in the hospital setting increased up to 2016. A large portion of the rehabilitations were with complete dentures, among which maxillary dentures predominated. Differences were found for access per municipality and the rate of dentures fabricated for each 1000 residents among the health regions. The estimated coverage of rehabilitating procedures was inversely associated with the gross domestic product of the region. In conclusion, Dental Specialty Centers in larger and more developed municipalities performed better at meeting goals. An increase was found in the number of removable dentures offered during the period analyzed. Differences were found in access to and the rate of dentures offered per resident among the health macro-regions. The estimated coverage of rehabilitating procedures in oral health was inversely associated with the gross domestic product. Hospital care for people with special needs was extended to all regions of the state, with a gradual but not constant increase in this form of care. Inequities were found in coverage and access to dental care among the municipalities of the state of Minas Gerais.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 10

2 ARTIGOS 12

2.1 Artigo: Avaliação do desempenho dos Centros de Especialidades Odontológicas em um estado do Sudeste do Brasil. 12

2.2 Artigo: Análise dos procedimentos de próteses dentárias totais e parciais removíveis ofertadas no Sistema Único de Saúde em um estado do Sudeste do Brasil 29

2.3 Artigo: Avaliação dos serviços de atendimento odontológico hospitalar para pessoas com necessidades especiais no Sistema Único de Saúde em um estado do Sudeste do Brasil 43 3 DISCUSSÃO 57 4 CONCLUSÃO 59 REFERÊNCIAS 60 APÊNDICES 63

APÊNDICE 1 - Certificado de Menção Honrosa EPATESPO 2019 63

APÊNDICE 2 - Comprovante de submissão à revista Ciência & Saúde Coletiva 64

APÊNDICE 3 - Comprovante de publicação na revista Kairós - Gerontologia 65

APÊNDICE 4 - Comprovante de publicação na revista Ciência & Saúde Coletiva 66

ANEXOS 67

ANEXO 1 – Verificação de originalidade e prevenção de plágio 67

ANEXO 2 - Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa 68

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1 INTRODUÇÃO

A incorporação de práticas de avaliação em saúde é uma premissa básica para qualificação da gestão, uma vez que permite manter ou corrigir rumos, visando o adequado emprego de recursos (Berreta et al., 2011; Donabedian, 1981). Fatores como mudanças significativas no perfil epidemiológico e demográfico do país, assim como a exigência cada vez maior do controle dos investimentos no setor público, podem ser apontados como aspectos envolvidos no interesse crescente em avaliação de políticas, programas e serviços de saúde e em pesquisas no campo da economia da saúde (Tanaka e Tamaki, 2012; Pereira et al., 2016).

A despeito da existência na literatura nacional de estudos que se debruçaram sobre a avaliação da atenção secundária e terciária em saúde bucal, por meio da análise da produção presente nos sistemas de informações do Ministério da Saúde, esta área ainda carece de evidências que possam subsidiar a tomada de decisão e adequada condução de políticas de saúde bucal (Araújo et al., 2012; Santos et al., 2015; Araújo et al., 2017), uma vez que a maior parte das pesquisas disponíveis, se propuseram a analisar somente os Centros de Especialidades Odontológicas (CEO) e com um recorte transversal (Chaves et al., 2011; Góes et al., 2012; Magalhães et al., 2012; Pontes et al., 2013).

Diante deste contexto, estudos avaliativos que se debrucem sobre os serviços que prestam atenção especializada de média e alta complexidade em odontologia podem ser relevantes, na medida em que permitem identificar nós críticos e aspectos positivos, de modo a subsidiar a condução de políticas baseadas em evidências, amparadas por critérios de eficácia, eficiência e efetividade (Ditterich e Moysés, 2012; Pontes et al., 2013).

Pesquisas têm apontado para a necessidade de melhor avaliar a implantação, distribuição e cobertura de serviços de saúde entre as diferentes regiões e municípios do país, bem como as variáveis demográficas e políticas envolvidas e o impacto destas, na saúde das populações (Medina et al., 2009; Peres et al., 2012). Estudos prévios já apontaram à existência de desigualdades na distribuição de especialistas, sendo que estes se concentram preponderantemente em capitais e grandes centros econômicos e financeiros (Watt, 2012; Moysés, 2014).

Neste sentido, este estudo contribui com a reflexão a respeito dos parâmetros e o estabelecimento de critérios para condução e implementação da atenção especializada em odontologia, bem como sua avaliação no Estado de Minas Gerais ao longo de 11 anos.

(11)

O presente trabalho teve por objetivo realizar uma análise da assistência de média e alta complexidade em odontologia no estado de Minas Gerais no que se refere à produção dos CEO, a oferta de próteses dentárias totais e parciais removíveis e os atendimentos de pacientes especiais sob anestesia geral ou sedação em ambiente hospitalar.

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2 ARTIGOS

2.1 Avaliação do desempenho dos Centros de Especialidades Odontológicas em um estado do Sudeste do Brasil.

Performance evaluation of Dental Specialty Centers in a state of Southeastern Brazil. ROCHA VFB (FOP-UNICAMP) - ORCID: 0000-0002-8855-5080

RAIMUNDO ACS (FOP-UNICAMP); LEME PAT (FOP-UNICAMP); PEREIRA AC (FOP-UNICAMP); VEDOVELLO SAS (FHO); MENEGHIM MC (FOP-UNICAMP).

RESUMO

Os Centros de Especialidades Odontológicas foram instituídos como parte de um modelo de cuidado integral em saúde bucal, por meio da oferta de assistência especializada, pública e gratuita, no sistema de saúde brasileiro. Considerando o relativo grau de autonomia administrativa que os centros possuem, é oportuno avaliar seu desempenho. O objetivo deste estudo foi avaliar a prestação de serviços de média complexidade em odontologia, no estado de Minas Gerais, quanto ao cumprimento de metas para cada especialidade, propostas em nível federal, em virtude do tipo de centro, de variáveis pertinentes aos estabelecimentos de saúde e inerentes ao nível municipal. Trata-se de um estudo analítico retrospectivo, que utilizou dados relativos à produção de procedimentos odontológicos realizados e provenientes de um sistema de informação ambulatorial do sistema de saúde brasileiro, relativos aos anos de 2008 a 2018. As variáveis independentes foram relativas à classificação dos estabelecimentos e as características dos municípios sede. Os resultados permitiram observar diferenças na relação de CEO por população entre as regiões de saúde do estado. Os serviços de maior porte, com mais equipamentos e profissionais, apresentaram performance superior no cumprimento das metas estabelecidas proporcionalmente. Evidenciou-se um crescimento na oferta de procedimentos odontológicos especializados ao longo dos 11 anos estudados. Apesar deste incremento, a maior parte dos serviços não conseguiu cumprir as metas preconizadas em nível federal. Melhores desempenhos foram encontrados em municípios pólo de macrorregião de saúde e com maior IDHM. Palavras-chave: Serviços de saúde bucal. Especialidades odontológicas. Avaliação de Serviços de Saúde.

ABSTRACT

The Dental Specialist Centers were established as part of a model of comprehensive oral health care, through the provision of free and specialized public assistance in the Brazilian health system. Considering the relative degree of administrative autonomy that the centers

(13)

have, it is appropriate to evaluate their performance. The objective of this study was to analyze the provision of services of medium complexity in dentistry, in the state of Minas Gerais, regarding the fulfillment of goals for each specialty, proposed at the federal level, due to the type of center, variables relevant to health facilities. and inherent at the municipal level. This is a retrospective analytical study that used data related to the production of dental procedures performed and from an outpatient information system of the Brazilian health system, from 2008 to 2018. The independent variables were related to the classification of establishments. and the characteristics of the host municipalities. The results allowed to observe differences in the relation of centers by population in the different regions of the state. Larger services, with more equipment and professionals, outperformed the proportionately established targets. There was a growth in the supply of specialized dental procedures over the 11 years studied. Despite this increase, most services failed to meet the federal goals. Better performances were found in municipalities with health macroregion and higher IDH. Keywords: Oral health services. Dental specialties. Health Services Evaluation.

Introdução

As práticas avaliativas em saúde são fundamentais para a qualificação da gestão, uma vez que permitem manter ou corrigir rumos, visando o adequado emprego de recursos1. Fatores como mudanças significativas no perfil epidemiológico e demográfico do país, assim como a exigência crescente de controle dos investimentos em saúde, podem ser apontados como motivos para o interesse em avaliação de políticas, programas e serviços de saúde no Brasil2,3.

A avaliação dos serviços pode ser compreendida em duas perspectivas, sendo que o tipo mais frequente utiliza indicadores gerais de monitoramento, buscando subsidiar ações que garantam a melhoria da qualidade, enquanto que na outra, da pesquisa avaliativa, o objetivo seria estudar o desempenho dos serviços e produzir recomendações que orientem soluções para os problemas identificados5,6.

Pesquisas avaliativas em saúde bucal e mais especificamente de serviços de atenção especializada, como é caso dos Centros de Especialidades Odontológicas (CEO), são recentes e estão em fase de acúmulo de evidências7-10. A maior parte dos estudos empreendidos se voltou para a descrição da produção ambulatorial realizada11-15, satisfação do usuário16 e avaliação da qualidade dos tratamentos executados17.

(14)

Neste sentido, a realização de pesquisas de caráter avaliativo, não somente normativo, pode ter implicação direta sobre a implementação de políticas públicas de saúde, na medida em que revelam o comportamento de variáveis que podem facilitar ou dificultar a oferta de atenção especializada em saúde bucal, ou que aumentem a compreensão sobre os fenômenos imbricados na gestão e condução destes serviços, podendo servir, inclusive, de subsídio para revisão de portarias ministeriais, bem como para melhores práticas de gestão, representando alto impacto econômico e social2,3.

Segundo o Ministério da Saúde (MS), até o mês de outubro de 2019, haviam no país 1152 CEO habilitados e que deveriam ofertar, minimamente, atenção na área de diagnóstico bucal com ênfase na detecção do câncer de boca, periodontia especializada, cirurgia oral menor dos tecidos moles e duros, endodontia e atendimento a Portadores de Necessidades Especiais (PNE)18-22. De acordo com as diretrizes estabelecidas por meio das portarias em vigor23 os CEO podem ser configurados nos tipos I, II ou III, que diferem com relação ao número de cadeiras odontológicas e carga horária de atendimento, sendo, respectivamente, 3, 4 a 6 e acima de 7 o número de cadeiras, devendo cada equipo proporcionar minimamente 40 horas semanais de atendimento.

Visando atualizar e regulamentar a produção mensal a ser realizada pelos CEO, foi publicada, em 24 de junho de 2011, a portaria federal nº 1464, que estabeleceu a necessidade de realização mínima de procedimentos, de acordo com a modalidade de habilitação I, II ou III, de respectivamente 60, 90 e 150 procedimentos do rol de periodontia; 80, 90 e 170 de cirurgia; 35, 50 e 95 de endodontia e 80, 110 e 190 de procedimentos básicos em PNE23 .

As principais diferenças entre esta portaria23 e a anterior (nº 600 de 23 de março de 200620) são a maior definição da carteira de procedimentos especializados, necessidade de realização mínima de 20% de procedimentos de endodontia em dentes com três raízes ou mais e 50% de procedimentos de dentística em PNE.

Assim, consideram-se oportunas as pesquisas que possam revelar o desempenho dos CEO quanto ao cumprimento das metas propostas pelo Ministério da Saúde, a distribuições dos serviços pelas macrorregiões de saúde e a relação entre o cumprimento de metas e variáveis relativas ao porte do serviço e características municipais.

O presente estudo teve por objetivo realizar uma análise da média complexidade em odontologia num grande estado do sudeste brasileiro (Minas Gerais), quanto ao cumprimento das metas propostas para cada tipo de CEO e especialidade odontológica, em função de variáveis referentes aos estabelecimentos de saúde e inerentes ao nível municipal.

(15)

Material e Métodos

Este estudo analítico de caráter retrospectivo utilizou-se de dados da série histórica da produção de procedimentos odontológicos especializados (quantidade apresentada), realizados nos Centros de Especialidades Odontológicas do estado de Minas Gerais, extraídos do Sistema de Informação Ambulatorial do Sistema Único de Saúde (SIA/SUS), referentes aos anos de 2008 a 2018.

O presente projeto foi apresentado ao comitê de ética local, tendo sido dispensado de outros procedimentos por utilizar dados secundários e públicos, por meio do ofício CEP/FOP nº 016/2019.

Para a coleta de dados foi utilizado, conforme explicitado no quadro 1, o banco disponibilizado pelo Departamento de Informática do SUS (DATASUS), sendo os referidas informações tabuladas através do programa Tabnet32 e Tabwin33, verificando-se os procedimentos odontológicos das áreas de Periodontia, Endodontia, Endodontia de três ou mais raízes, Cirurgia Oral Menor, Atendimento a Pacientes Especiais e Procedimentos Restauradores em Pacientes Especiais, segundo os códigos explicitados na portaria 1464/201123. Com base nestes dados, calculou-se a média mensal de procedimentos realizados na série histórica, multiplicado por 100, dividido pela meta estabelecida segundo a portaria 1464/201123. A variável independente cobertura de equipes de saúde bucal, também for retirada do Tabnet32, sendo calculada as médias de cobertura no período analisado, por município.

A variável “tipo de CEO” foi obtida por meio do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) e portarias de credenciamento. Os dados relativos à população e Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) foram retirados do banco do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e a alocação do município nas macrorregiões de saúde foi aferida por meio do Plano Diretor de Regionalização (PDR) de Minas Gerais34.

Os dados foram exportados para o programa Microsoft Office Excel, versão 2007 (Microsoft Corp.), para a consolidação e agrupamento de acordo com as variáveis em análise. Para verificação da possível associação de variáveis foi utilizado o Statistical Analysis System (SAS), considerando um nível de significância de 5%, sendo realizado o teste de qui-quadrado e exato de Fisher. O gráfico de geoprocessamento foi construído utilizando-se de ferramentas do Tabwin33.

(16)

Quadro 1: Variáveis dependentes e independentes e fonte de coleta de dados

Tipo Variável Descrição e categorias Fonte de Dados

Dependentes

Procedimentos de Endodontia

Códigos e metas segundo

Portaria 1464/11 SIA/DATASUS Procedimentos de endodontia em

Trirradiculares ou mais

Códigos e metas segundo

Portaria 1464/11 SIA/DATASUS Procedimentos de Periodontia

Códigos e metas segundo

Portaria 1464/11 SIA/DATASUS Procedimentos de Cirurgia

Códigos e metas segundo

Portaria 1464/11 SIA/DATASUS Procedimentos em PNE

Códigos e metas segundo

Portaria 1464/11 SIA/DATASUS Restaurações em PNE

Códigos e metas segundo

Portaria 1464/11 SIA/DATASUS Independentes

Tipo de CEO I; II; III CNES/DATASUS

Posição do Município no PDR Pólo ou não pólo PDR-MG População População por macrorregião IBGE Índice de Desenvolvimento Humano 0,6-0,69; 0,7-0,79; 0,8-0,9 IBGE Cobertura de Saúde Bucal na

Atenção Básica < 50% e > 50% CNES/DATASUS

Resultados

Foram analisados 100 Centros de Especialidades Odontológicas do Estado de Minas Gerais, que estavam habilitados no período de recorte da pesquisa. Destes, 37 eram do tipo I, 58 do tipo II, 5 do tipo III. O gráfico 1 aponta a distribuição geográfica dos serviços. Os mesmos estão presentes nas 13 macrorregiões de saúde mineiras, segundo o Plano Diretor de Regionalização, e em 90 municípios, sendo que dois pólos de macrorregiões não possuem o serviço habilitado: Barbacena (região centro-sul) e Divinópolis (região oeste).

O gráfico 2 demonstra a razão do número de CEO habilitados por habitantes, o mesmo apresenta diferenças entre as regiões, sendo as piores relações encontradas no Leste do Sul (1 CEO: 693.810 habitantes), Centro (1: 330.562), Nordeste (1: 277.610) e Triângulo do Norte (1: 258.293), a melhor relação foi evidenciada no triângulo do sul (1: 97.724).

(17)

Gráfico 1: Distribuição dos Centros de Especialidades Odontológicas no Estado de Minas Gerais, Brasil, 2019.

Gráfico 2: Razão de número de CEO por habitantes, distribuído pelas macrorregião de Saúde de Minas Gerais, 2019.

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A tabela 1 apresenta a frequência de procedimentos realizados nas diferentes especialidades odontológicas, segundo os critérios de agrupamentos de metas expressos na portaria 1464/201123. Os dados indicam que, de 2008 a 2018, houve aumento gradual dos procedimentos odontológicos realizados, com exceção do ano de 2012.

Na avaliação da especialidade de endodontia nota-se um aumento de 594% na série histórica analisada. Quando considerados os tratamentos endodônticos em dentes com três ou mais raízes, este aumento foi de 641%. Não obstante o crescimento, nos anos de 2012, 2013 e 2014 houve decréscimo, na oferta, em relação a 2011, voltando a crescer de 2015 em diante. Na área de periodontia o incremento foi de 815%, havendo decréscimo somente no ano de 2012. Já os de cirurgia oral menor apresentaram expansão de 881%, com declínio nos anos de 2012 e 2013, voltando a aumentar a partir desta data. Por fim, quando se verifica a quantidade de procedimentos executados em Pacientes Portadores de Necessidades Especiais de 2012 a 2018, constatou-se um aumento linear, maior que 250 vezes na série histórica analisada.

A análise do cumprimento de metas por especialidade (tabela 2) em função do tipo de CEO, demonstrou que, quando considerada a especialidade de endodontia, houve diferença estatisticamente significante entre os diferentes tipos de serviços, sendo maior o percentual de cumprimento nos CEO tipo III, onde 60% dos estabelecimentos cumpriram, em contraposição a 12,1% (p<0,01) dos de tipo II. Especificamente no que se refere à endodontia de dentes com três raízes ou mais, verificou-se que 100% dos CEO Tipo III, atingiram esta meta, em contraposição a 54,1% do tipo I (p=0,05) e 41,4% do tipo II (p=0,01).

Tabela 1. Distribuição da frequência de procedimentos odontológicos nas diferentes especialidades, em função do ano. Minas Gerais, Brasil, 2008-2018.

Ano Endodontia Endodontia trirradicular ou +

Periodontia Cirurgia PNE Restaurações

PNE Total 2008 7.095 2.164 17.869 10.598 0 0 37.726 2009 13.828 4.452 40.619 20.481 0 0 79.380 2010 17.916 5.289 47.240 28.816 0 0 99.261 2011 23.049 5.753 60.010 35.921 0 0 124.733 2012 19.632 5.306 55.128 32.833 558 164 113.621 2013 17.227 5.207 64.275 35.280 7.210 2.354 131.553 2014 19.674 5.396 67.643 37.424 29.993 8.693 168.823 2015 23.975 7.168 78.067 47.785 57.131 13.472 227.598 2016 33.452 10.750 98.549 62.508 96.527 25.227 327.013 2017 34.279 11.080 108.353 74.784 117.946 32.839 379.281 2018 42.132 13.867 145.711 93.338 142.354 41.637 479.039 Total 252.259 76.432 783.464 479.768 451.719 124.386 2.168.028

(19)

Tabela 2. Análise do cumprimento de metas por especialidade em função covariáveis dos serviços e da esfera municipal, Minas Gerais, Brasil, 2019.

Endodontia

Endodontia

trirradicular ou + Periodontia Cirurgia PNE

Restaurações PNE Todas Meta N (%) N (%) N (%) N (%) N (%) N (%) N (%) cumprida p-valor p-valor p-valor p-valor p-valor p-valor p-valor CEO I Não 26 (70,3) 17 (45,9) 18 (48,6) 29 (78,4) 30 (81,1) 33 (89,2) 35 (94.6) Sim 11 (29,7) 0,178 20 (54,1) 0,05 19 (51,4) 0,04 8 (21,6) 0,365 7 (18,9) 0,391 4 (10,8) 0,551 2 (5,4) 0,234 II Não 51 (87,9) 34 (58,6) 14 (24,1) 37 (63,8) 34 (58,6) 52 (89,7) 55 (94,9) Sim 7 (12,1) 0,005 24 (41,4) 0,01 44 (75,9) 0,213 21 (36,2) 0,866 24 (41,4) 0,348 6 (10,3) 0,510 3 (5,1) 0,192 III Não 2 (40,0) 0 (0,0) 0 (0,0) 3 (60,0) 4 (80,0) 4 (80,0) 4 (80,0) Sim 3 (60,0) 1 5 (100,0) 1 5 (100,0) 1 2 (40,0) 1 1 (20,0) 1 1 (20,0) 1 1 (20,0) 1 PDR Não 16 (64,0) 8 (32,0) 5 (20,0) 12 (48,0) 17 (68,0) 21 (84,0) 23 (92,0) Pólo Sim 9 (36,0) 0,03 17 (68,0) 0,03 20 (80,0) 0,01 13 (52,0) 0,01 8 (32,0) 1 4 (16,0) 0,356 2 (8,0) 0,627 Não 63 (84,0) 43 (57,3) 37 (49,3) 57 (76,0) 51 (68,0) 68 (90,6) 71 (94,7)

Não Pólo Sim

12 (16,0) 1 32 (42,7) 1 38 (50,7) 1 18 (24,0) 1 24 (32,0) 1 7 (9,4) 1 4 (5,3) 1 IDHM 0.6-0,69 Não 17 (77,3) 14 (63,6) 8 (36,3) 18 (81,8) 15 (68,2) 20 (90,1) 21 (95,4) Sim 5 (22,7) 0,04 8 (36,4) 0,02 14 (63,7) 0,147 4 (18,2) 0,09 7 (31,8) 0,187 2 (9,9) 0,530 1 (4,6) 0,664 0,7-0,79 Não 61 (82,4) 37 (50,0) 24 (32,5) 47 (63,5) 49 (66,2) 65 (87,8) 69 (93,2) Sim 13 (17,6) 0,01 37 (50,0) 0,05 50 (67,5) 0,171 27 (36,5) 0,135 25 (33,8) 0,158 9 (12,2) 0,548 5 (6,8) 0,591 0,8-09 Não 1 (25,0) 0 (0,0) 0 (0,0) 4 (100,0) 4 (100,0) 4 (100,0) 4 (100,0) Sim 3 (75,0) 1 4 (100,0) 1 4 (100,0) 1 0 (0,0) 1 0 (0,0) 1 0 (0,0) 1 0 (0,0) 1 Cobertura SB < 50% Não 28 (75,7) 0,532 20 (54,0) 0,640 9 (24,3) 0,207 25 (67,6) 0,812 16 (43,2) 0,501 34 (91,9) 0,479 35 (94,6) 0,848 Sim 9 (24,3) 17 (46,0) 28 (75,7) 12 (32,4) 11 (56,8) 3 (8,1) 2 (5,4) >50 % Não 51 (80,9) 1 31 (49,2) 1 23 (36,5) 1 44 (69,8) 1 42 (66,6) 1 55 (87,3) 1 59 (93,6) 1 Sim 12 (19,1) 32 (50,8) 40 (53,5) 19 (30,2) 21 (33,4) 8 (12,7) 4 (6,4) MG Não 79 (79,0) 51 (51,0) 42 (42,0) 69 (69,0) 68 (68,0) 89 (89,0) 94 (94,0) Sim 21 (21,0) 49 (49,0) 58 (58,0) 31 (31,0) 32 (32,0) 11 (11,0) 6 (6,0)

O mesmo se percebe na especialidade de periodontia e atendimentos à PNE, sendo que os CEO de tipo III foram os que mais atingiram a meta proposta em comparação com os de tipo I (p<0,05). No que se refere à execução das metas de cirurgia e tratamento restaurador

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em pacientes especiais, não foram encontradas diferenças estatisticamente significantes entre os serviços.

Quando se avalia a execução das metas e a localização do CEO em um município que é sede de macrorregião de saúde, os resultados apontam que estes apresentaram melhor performance no cumprimento das metas de endodontia (36%), endodontia de três ou mais raízes (68%), periodontia (80%) e cirurgia (52%), em comparação com os não pólos, onde os percentuais de estabelecimentos que cumpriam as metas foram respectivamente 16%, 42,7%, 50,7% e 24%, com diferença estatisticamente significante.

Na associação entre o cumprimento de metas e o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), percebeu-se que os CEO sediados em municípios com maior IDHM, foram superiores no cumprimento das duas metas relacionadas à endodontia de modo estatisticamente significante. Não foram encontradas associações estatisticamente significativas entre o cumprimento de metas em cada uma das especialidades e o percentual de cobertura de saúde bucal na atenção básica do município.

De modo geral, a maioria dos CEO de Minas Gerais não cumpriram todas as metas estabelecidas na Portaria Ministerial23 no período analisado, somente 6% dos estabelecimentos conseguiram cumprir a meta mensal de procedimentos preconizados para todas as especialidades, em todos os anos de acompanhamento deste estudo. Quando analisadas de forma individualizada, por cada grupo de procedimentos, as metas de periodontia foram mais atingidas pelos estabelecimentos (58%), seguidas da endodontia de três ou mais raízes (49%), procedimentos em PNE (32%), cirurgia oral menor (31%), endodontia (21%), sendo a menos atingidas a de tratamentos restauradores em PNE, onde somente 11% dos estabelecimentos conseguiram cumprir no período pesquisado.

Discussão

Estudos avaliativos que se propõem a analisar a implantação de Políticas Públicas de Saúde são ferramentas para a manutenção ou correção de rumos, sobretudo quando se considera o investimento público empregado e o potencial dos mesmos em melhorar o quadro de saúde das populações. O presente estudo, ao analisar o desempenho dos Centros de Especialidades Odontológicas de Minas Gerais por suas características quantitativas de produção, pretendeu fornecer uma forma de análise de serviços, não obstante segundo diversos autores6,9,10,11, esta seja apenas uma faceta das múltiplas dimensões a serem

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consideradas no processo avaliativo, que deveriam envolver estrutura e processo e não somente o resultado finalísticos de oferta de procedimentos, além de características qualitativas da produção do cuidado16, 17.

A existência de estabelecimentos de saúde e a produção de procedimentos curativos não significa, necessariamente, melhoria nos indicadores de saúde e qualidade de vida. Entretanto, no caso específico da saúde bucal no Brasil, que historicamente se pautou em modelos assistenciais mutiladores, a oferta de serviços de média complexidade em odontologia, por meio dos Centros de Especialidades Odontológicas, representa um importante elemento para a oferta de um cuidado mais integral, e, de certa maneira, também a indução de uma prática clínica voltada para limitação do dano e reabilitação9.

Neste sentido, quando se analisa a implantação destes serviços em Minas Gerais, considerando a questão do acesso em termos de população referenciada e distância geográfica, sobretudo nas regiões Leste do Sul, Centro e Nordeste, é possível evidenciar desigualdades regionais, com uma relação bastante desfavorável de população para cada serviço, sendo este mesmo aspecto encontrado por outros autores em nível nacional35,36,37.

A ausência ou sobrecarga de um CEO pode levar a um comprometimento nas possibilidades de cuidado em rede, com dificuldade do estabelecimento de mecanismos adequados de referência e contrarreferência, o que consequentemente acarreta dificuldades para a prestação de uma assistência integral e piora nos indicadores epidemiológicos em saúde bucal. Assim, faz-se necessária uma maior indução por parte, sobretudo dos entes Federal e Estadual em possibilitar a implantação de serviços nas regiões com maiores vazios assistenciais, subsidiados por avaliações de necessidade, segundo critérios epidemiológicos e de vulnerabilidade.

O resultado encontrado de maior predomínio de CEO do tipo II, seguido do tipo I e tipo III, corrobora o encontrado em outros estudos no país9,20,27. Tal preferência de implantação desta modalidade parece estar relacionada a características relativamente mais vantajosas de financiamento, não obstante o custeio federal não seja suficiente para corresponder ao gasto total empregado com a manutenção mensal de um serviço27, que deveriam em tese contar com financiamento tripartite. Neste sentido, reforça-se, a necessidade de que o dimensionamento da modalidade de serviços a ser instituído se dê por estudos prévios de população referenciada, demanda reprimida e características epidemiológicas e menos pelo víeis de maior ou menor repasse financeiro.

No que diz respeito ao quantitativo de procedimentos odontológicos ofertados, observa-se um aumento gradual nos anos de 2008 a 2018, não obstante um decréscimo tenha

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sido evidenciado no ano de 2012. Uma hipótese para retomada do crescimento na oferta de procedimentos odontológicos que coincide com este marco temporal é a instituição do Programa de Melhoria do Acesso e da Qualidade (PMAQ-CEO)4 no ano de 2013, que previa a avaliação do cumprimento de metas pactuadas como uma das dimensões avaliativas, fomentando, pela indução financeira, um maior número de procedimentos a serem realizados pelos serviços. Já o declínio em 2012 pode ser parcialmente explicado em decorrência da edição de portarias pelo Ministério da Saúde no ano de 2011 que modificaram os critérios necessários para registro da produção ambulatorial, com a obrigatoriedade da inserção de regra contratual no CNES por parte dos estados e municípios gestores de CEO23, sendo que o não cumprimento desta legislação pelos mesmos, pode ter influenciado o processamento da produção ambulatorial apurada no referido ano.

Também resultado que corrobora com estudos anteriores9,11,12,15 é que os procedimentos da área de periodontia, cirurgia e procedimentos básicos em PNE são os mais executados e com maior facilidade de cumprimento das metas estabelecidas. Tal constatação remete, conforme já apontado por outros autores9,27, para uma possível alteração no rol de procedimentos preconizados para serviços de média complexidade e que deveriam, a priori, estar dentro da carteira de serviços da atenção primária, como raspagem corono-radiculares e procedimentos básicos em PNE.

Por outro lado, a amplitude do conceito de PNE, poderia induzir o encaminhamento inadequado para o CEO de casos passíveis de resolução na atenção básica. Seguindo esta linha de raciocínio, redes de saúde não muito estruturadas, com atendimento a demanda espontânea nos CEO, sem clareza de fluxos e protocolos de encaminhamento, poderiam mais facilmente cumprir estas categorias de meta.

É interessante notar também que aspectos relacionados à capacidade de gestão, organização de serviços e economia de escala, podem influir positivamente no cumprimento de metas. Isto justifica, pelo menos parcialmente, o resultado encontrado de melhor desempenho dos estabelecimentos do tipo III, conforme já apontado por outros autores9,uma vez que estes serviços possuem sete ou mais cadeiras odontológicas e maior número de especialistas por área. Um estudo realizado recentemente com CEO da região sudeste27 encontrou melhor desempenho nos de tipo I. Entretanto, esta diferença pode ser explicada pela metodologia empregada, uma vez que o presente estudo se debruçou sobre a produção ambulatorial de 11 anos, enquanto a citada pesquisa, baseou-se na avaliação somente do ano de 2012 e excluindo da amostra estudada, todos os 5 CEO tipo III de Minas Gerais.

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Outro resultado encontrado foi o de melhor performance no cumprimento de algumas metas de endodontia, endodontia de três ou mais raízes, periodontia e cirurgia em estabelecimentos localizados em pólos de região de saúde. Já as duas metas relacionadas à endodontia obtiverem melhor desempenho em estabelecimentos sediados em município com maior IDH, coerentemente a outros estudos prévios7,8,9 , tais resultados podem ser explicados pelas possíveis características relativas a melhor capacidade de gestão, organização, apoio institucional e investimentos na rede de saúde bucal presentes nestes municípios pólos e com melhor IDHM7,9,27.

Vale destacar também, no que se refere à edição de Portarias Federais com estabelecimento de metas, como a 1464/ 201123 que, apesar dos avanços desta na normatização de procedimentos odontológicos especializados, a mesma é alvo de críticas, sobretudo no que se refere à descrição dos procedimentos endodônticos pela contagem do número de raízes, ao invés do número de canais radiculares, que seria o mais condizente com a natureza e complexidade do procedimento, sendo necessário assim, a revisão da mesma, bem como a alteração na tabela de procedimento do SUS.

Outra readequação sugerida, refere-se à meta de 50% de procedimentos restauradores em PNE, pela sobrevalorização da realização de restaurações em pacientes especiais, a despeito de ser uma tentativa de contrabalancear os procedimentos de exodontias, historicamente preponderante neste público alvo. Percebe-se que a mesma foi atingida por somente 11% dos CEO de Minas Gerais. Neste sentido, segundo o presente estudo, um valor sugerido como meta para estes procedimentos restauradores seria de 20%, mais compatível de ser atingido pelos estabelecimentos, promovendo o adequado equilíbrio entre procedimentos mais mutiladores, como as exodontias, e preventivos, como aplicações de flúor segundo risco, evidenciação de placa bacteriana e raspagens periodontais. Poder-se-ia também cogitar a revogação total desta meta, na medida que a mesma possui um forte víeis curativista e não preventivo e com possibilidade de induzir a execução de procedimentos iatrogênicos.

Por fim, aponta-se como um fator limitante do presente estudo a utilização de dados secundários de sistema de informação, que podem ser sobre ou subalimentados pelos municípios, não obstante, haja monitoramento desta informações pelo Ministério da Saúde, que, inclusive, pode descredenciar serviços que não o alimentam adequadamente ou cumpram as metas estabelecidas por três meses alternados ou dois consecutivos, no prazo de um ano. Tal monitoramento pela instância Federal pode ser considerado como um indutor de maior garantia e confiabilidade das informações obtidas.

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Convém ressaltar também, que avaliações somente pautadas em dados quantitativos podem não desvelar todas as variáveis envolvidas no processo de qualidade dos serviços, por não incorporar dimensões subjetivas dos trabalhadores, gestores e usuários, sinalizando assim, a necessidade de outros estudos de natureza qualitativa sobre este fenômeno.

No entanto, há diversas vantagens apontadas na utilização destes sistemas de informação, como a coerência desta metodologia com o objetivo do presente estudo, a existência de diversas pesquisas anteriores que utilizaram esta mesma base favorecendo a comparação de resultados, bem como o fomento para que os gestores nas diversas instâncias possam se apropriar e utilizar desta ferramenta disponível no Sistema Único de Saúde para avaliação das políticas públicas de saúde implementadas.

Conclusão

Há diferenças na relação população de referência para cada Centros de Especialidades de Odontológicas (CEO) nas diferentes macrorregiões de Saúde de Minas Gerais. Quanto ao tipo de serviços, os CEO tipo III apresentaram performance superior no cumprimento de metas de endodontia e periodontia. Evidenciou-se também um crescimento na oferta de procedimentos odontológicos especializados ao longo dos 11 anos estudados, não obstante este incremento, a maior parte dos serviços não conseguiu cumprir as metas estabelecidas. Melhores resultados foram encontrados nos serviços sediados em municípios pólos de macrorregião de Saúde e com melhor IDHM.

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2.2 Análise dos procedimentos de próteses dentárias totais e parciais removíveis ofertados no Sistema Único de Saúde em um estado do Sudeste do Brasil.

Analysis of total and partial removable dental prosthesis procedures offered in the Unified Health System in a state of Southeast Brazil

Revista: Ciência & Saúde Coletiva

ROCHA VFB (FOP-UNICAMP)- ORCID 0000-0002-8855-5080

RAIMUNDO ACS (FOP-UNICAMP), MIALHE FL (FOP-UNICAMP), PEREIRA AC (FOP-UNICAMP), MENEGHIM MC (FOP-UNICAMP).

RESUMO

Os últimos levantamentos epidemiológicos realizados no país apontaram uma elevada necessidade de próteses dentárias na população brasileira. O objetivo desse estudo foi realizar uma avaliação dos procedimentos de próteses dentárias totais e parciais removíveis ofertadas no estado de Minas Gerais. Este estudo analítico retrospectivo analisou dados provenientes de Sistemas de Informação em Saúde entre os anos de 2008 e 2018 e Plano Diretor de Regionalização. Para verificação da associação de variáveis foi utilizado o Statistical Analysis System, considerando um nível de significância de 5%. Foram realizados no período analisado, um total de 447.247 próteses dentárias, sendo as mesmas ofertadas em 324 municípios mineiros (38%). A maior parte das reabilitações se deu com próteses totais e dentre estas, a maxiliar teve predominância. Foram observadas desigualdades estatisticamente significantes na cobertura e taxas de próteses para cada 1.000 habitantes, nas regiões ampliadas de saúde. A cobertura estimada de procedimentos reabilitadores em saúde bucal esteve inversamente associada ao Produto Interno Bruto per capita da região.

Palavras-chave: Avaliação de Serviços de Saúde. Saúde Bucal. Prótese Dentária

ABSTRACT

The last epidemiological surveys conducted in the country have showed an increase, in the Brazilian population, of the necessity of wearing dental prostheses. The aim of this research was to analyse the procedures for total dental prostheses and removable partial prostheses offered by the state of Minas Gerais. This analytical research investigated data from the Unified Health System between the years of 2008 and 2018, as well as the Regionalization Director’s Plan. In order to check the variables, we used the Statistical Analysis System,

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considering a significance level of 5%. A total of 447,247 dental prostheses were done during the period we analysed, and they were offered in 324 cities (38%). Most part of the rehabilitations occurred with total dental prostheses and, among these, the maxillary was predominant. Some significant inequalities were observed in the coverage and the quantity of prostheses per each 1,000 inhabitants in the Extended Regions of Health. The estimated coverage of the rehabilitation procedures in oral health was inversely associated to the per capta Gross Domestic Product of the region.

Keywords: Health Services Evaluation. Oral Health. Dental Prosthesis

Introdução

Os últimos levantamentos epidemiológicos de saúde bucal realizados no país apontaram para uma elevada necessidade de próteses dentárias na população brasileira1. O edentulismo parcial ou total, prevalente sobretudo em populações mais vulneráveis, como pardos, negros e idosos, revela iniquidades em saúde, com causalidade atribuída ao modelo hegemônico de atenção odontológica prestada, eminentemente mutiladora e excludente2.

Diversos estudos3-6 têm apontado o impacto na qualidade de vida das pessoas, decorrente de perdas dentárias e ausência de reabilitação, afetando sobremaneira sua saúde, no que tange a mastigação, nutrição, fonação, gustação e dores orofaciais, além de influir de forma significativa no seu relacionamento social7.

De maneira a responder esta demanda histórica no Brasil, em 2004, por meio da portaria 15708 o Governo Federal instituiu o incentivo a instalação de Laboratórios Regionais de Próteses Dentárias (LRPD), como eixo estratégico da Política Nacional de Saúde Bucal. Sucessivas legislações se seguiram como as Portarias 2374/099 e 1825/1210 no intuito de aumentar o financiamento destes tratamentos e realizar o pagamento por faixas de produção e não apenas por procedimento. Neste mesmo sentido, em 2012, foi redigida nota técnica11 sobre credenciamento e repasse de recursos para os LRPD de modo a esclarecer as gestões municipais sobre o processo de implantação e registro dos atendimentos realizados, possibilitando o adequado financiamento dos serviços e evitando o descredenciamento dos mesmos, por não alimentação dos Sistemas de Informação Ambulatorial (SIA) e do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES).

Por ser tratar de uma política pública relativamente recente, a mesma carece de estudos sobre os critérios, formas de implantação e impactos na melhoria da saúde bucal da

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população. Uma pesquisa realizada em Belo Horizonte apontou os desafios empreendidos para execução e descentralização da oferta de próteses dentárias na atenção primária12.

Os poucos estudos disponíveis evidenciaram pequeno incremento na realização de próteses dentárias no Brasil13, devido a deficiências no financiamento, na capacitação dos cirurgiões dentistas para realização dos procedimentos12, carência de profissionais especializados como Técnicos de Prótese Dentárias14 e distribuição desigual de LRPD pelo país1,13,15.

Não obstante os avanços na ofertas deste serviço no Brasil, à implantação desta política pública carece de estudos avaliativos que possam subsidiar a tomada de decisão e promover um monitoramento das ações empreendidas e investimentos realizados. A forma como vêm sendo credenciando os LRPD pelo país, parece não se nortear por critérios de necessidade e epidemiológicos. Neste sentido, o objetivo do presente estudo foi realizar uma análise dos procedimentos de próteses dentárias totais e parciais removíveis ofertadas no Sistema Único de Saúde de Minas Gerais, de forma a contribuir para construção de evidências que possam auxiliar gestores no enfrentamento do edentulismo, enquanto prevalente problema de saúde pública.

Material e Métodos

Este estudo analítico de caráter longitudinal e retrospectivo utilizou-se de dados provenientes do Sistema de Informação Ambulatorial (SIA), relativos aos procedimentos de prótese dentária, aprovados no Estado de Minas Gerais, sendo estes, Prótese Total Mandibular (07.01.07.012-9), Prótese Total Maxilar (07.01.07013-7), Prótese Parcial Maxilar Removível (07.01.07.010-2) e Prótese Parcial Mandibular Removível (07.01.07.009-9) 16, referentes aos anos de 2008 a 2018, conforme quadro 1. Os procedimentos de prótese fixa foram excluídos do desenho amostral, uma vez que o objetivo do presente estudo foi avaliar a execução de prótese removíveis.

Por se tratar da utilização e análise de dados do Departamento de Informática do SUS (DATASUS), publicações do Estado de Minas Gerais e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o presente projeto foi dispensado de submissão ao comitê de ética em pesquisa, por meio do ofício CEP/FOP número 016/2019.

Para a coleta foi utilizado o banco disponibilizado pelo Departamento de Informática do SUS (DATASUS), tabulados através dos programas Tabnet 17 e Tabwin 18.

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Os dados relativos à população por faixa etária e o Produto Interno Bruto foram obtidos com base nas informações disponibilizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)19 e no Tabnet17. Já as alocações dos municípios nas regiões ampliadas de saúde se basearam no Plano Diretor de Regionalização (PDR) de Minas Gerais20.

Para fins de cálculo da necessidade estimada de confecção de próteses dentárias em Minas Gerais, utilizaram-se dos dados da Pesquisa das Condições Bucais da População Mineira de 201221 que apontou na faixa etária de adolescentes e jovens (15-19 anos), a necessidade de confecção de uma prótese dentária em 7,4% desta população, para a faixa de adultos (35-44 anos) uma prótese em 31,2% e duas próteses em 26,1%, já para a de idosos (65-74 anos), o percentual foi de 19,4% uma prótese e 45,9% duas. Calculando que segundo o IBGE 19, a população de adolescentes e jovens corresponde a 34,07% da população mineira, a de adultos 35,07% e de idosos 8,06%, estimou-se a necessidade geral de prótese, encontrando-se a fração de 0,407 da população.

Após a coleta dos dados pelo Tabnet e demais bancos utilizados, os mesmos foram exportados para o programa Microsoft Office Excel, versão 2007 (Microsoft Corp.), para a consolidação e agrupamento de acordo com as variáveis em análise. Para verificação da possível associação de variáveis foi utilizado o Statistical Analysis System (SAS), considerando um nível de significância de 5%, utilizando como teste de associação, o qui-quadrado e o de correlação de Pearson. O gráfico de geoprocessamento foi construído utilizando-se de ferramentas do Tabwin 18.

Quadro 1: Variáveis dependentes e independentes e fonte de coleta de dados

Tipo Variável Descrição e categorias Fonte de Dados

Dependente Procedimentos de Prótese Prótese Total Mandibular (07.01.07.012-9), Prótese Total Maxilar (07.01.07013-7), Prótese Parcial Maxilar Removível (07.01.07.010-2) e Prótese Parcial

Mandibular Removível

(07.01.07.009-9)

SIA/DATASUS

Independentes

Necessidade de prótese Cálculo de necessidade estimada 0,407

SB- MINAS 21 Municípios por

Macrorregião 13 macrorregiões de Saúde

PDR-MG População População por faixa etária e

macrorregião

IBGE Produto Interno Bruto Valor em R$ do PIB Per capita

por macrorregião

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Resultados

Foram realizados no período de estudo um total de 447.247 próteses dentárias, sendo uma média anual de 40.658 e uma taxa mensal de produção por 100.000 habitantes, de 16,1. Conforme demonstrado no gráfico 1, as reabilitações foram realizadas em 324 municípios (38%), sendo os pacientes provenientes de 584 (68,5%) cidades mineiras e os atendimentos se deram em todas as 13 regiões ampliadas de saúde.

A tabela 1 aponta um crescimento de 939% no número de próteses dentárias confeccionadas em Minas Gerais no período analisado, sendo este acréscimo constante, com exceção do ano de 2009 e 2017 que apresentaram produção inferior a dos anos de 2008 e 2015 respectivamente. Quando se avalia o tipo de prótese, observa-se que as totais foram as mais realizadas, correspondendo a 73,3% das confeccionadas, sendo que a total maxilar correspondeu a 41,4% do total de reabilitações.

Gráfico 1: Distribuição por Geoprocessamento do número de próteses dentárias realizadas por município de 2008 a 2018, Minas Gerais, Brasil.

Referências

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