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Embriaguez ao volante e as limitações do artigo 306 CTB

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GRANDE DO SUL

DOUGLAS DE ALMEIDA BERTOLLO

EMBRIAGUEZ AO VOLANTE E AS LIMITAÇÕES DO ARTIGO 306 CTB

Ijuí/RS 2014

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DOUGLAS DE ALMEIDA BERTOLLO

EMBRIAGUEZ AO VOLANTE E AS LIMITAÇÕES DO ARTIGO 306 CTB

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Curso - TC.

UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS- Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientador: MSc. Sergio Luiz Fernandes Pires

Ijuí/RS 2014

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Dedico este trabalho a todas as pessoas que com ele simpatizarem e, de alguma forma, com seu espírito se identifiquem.

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AGRADECIMENTOS

À família, sempre junto, apoiando, mesmo quando a chance de fracassar parecia desproporcionalmente grande.

Aos mestres, que desde os pequenos gestos e palavras, até os grandes ensinamentos, me fizeram gente, humano e razoavelmente emancipado.

Aos amigos, idem, acrescentando-se aí seu alento inspirador nos momentos fantásticos que compartilhamos.

Ao meu orientador, Sergio Pires, pelos diálogos elucidativos, bem como pelas lições nas cadeiras de Direito Penal e Criminologia, que tiveram indubitável influência na concepção deste trabalho.

Outrossim, à professora Anna Zeifert, pelo inestimável incentivo e conforto espiritual, assim como a certeira orientação técnica.

Ao pessoal do Fórum, do Ministério Público e do Eleitoral, que colaboraram sempre, com boa vontade e generosidade, enriquecendo o meu aprendizado.

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“Não adianta prender Não adianta bater Não adianta matar Vocês tem que entender” (Damião Experiença)

“eu não vejo nenhuma razão para perder nenhuma liberdade civil ou espiritual, por menores que elas já andem agora.” Charles Bukowski

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RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso faz uma análise do tratamento da problemática da embriaguez ao volante no Brasil. Ainda que o foco principal seja a questão criminal dentro do presente contexto, gize-se o artigo 306, da Lei nº 9.503/97, que instituiu o Código de Trânsito Brasileiro, bem como suas alterações posteriores em 2008 e 2012, cabe abranger o assunto para além da esfera penal, esboçando também alguns aspectos administrativos, sociais e políticos da situação. Outrossim, aponta pontos controversos na lei, cujo rigor crescente tem colocado em risco a manutenção de direitos e garantias, assim como o equilíbrio da própria justiça, que tem sua aplicação prejudicada pela ampla gama de situações distintas previstas no tipo legal. Finaliza esboçando os bastidores do processo de endurecimento legislativo e o papel dos meios de comunicação de massa nestas mudanças.

Palavras-Chave: Embriaguez. Trânsito. Direito Penal. Criminologia. Política Criminal. Mídia.

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The present writing analyzes the drunken driving situation on Brazil. Despite the main focus is the criminal point of view of the system, quoted on the art. 306, from the law nº 9.503/1997, which instituted the Brazilian Traffic Law, as well as its modifications in 2008 and 2012, it goes beyond the criminal law, showing administrative, social and political views on the theme. Otherwise, it spots the controversial points of the law, whose rising appeal for punishing has putting in risk several civil rights and guarantees, as the abstractness of the text may cause misinterpretations on the appliance of the law. Finalizes approaching the backstage of the legislative process and the role of the media in its changes.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO… ... 8

1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA EMBRIAGUEZ… ... 9

1.1 Panorama histórico da proibição… ... 9

1.2 A evolução do texto e seus pontos controversos… ... 12

2 LEI SECA: TEORIA E PRÁTICA… ... 20

2.1 Aspectos criminológicos e político-criminais do atual paradigma… ... 20

2.2 Os meios de comunicação e o artigo 306 na prática… ... 26

CONCLUSÃO… ... 31

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho apresenta um estudo acerca do atual panorama da legislação de trânsito e sua aplicação na sociedade, em especial no que refere ao tratamento do problema da embriaguez ao volante, pela chamada “lei seca”, assim como sua eficácia e seus resultados, dentro de um grupo humano bastante heterogêneo, que é a população brasileira. Esse questionamento é necessário frente a pouca discussão que se seguiu da criação e alteração da legislação pertinente, a qual abriu possibilidades perigosas de aplicação, no sentido de violar direitos e garantias, sob a alegação de preservar um suposto “bem comum” altamente abstrato.

Para a realização deste trabalho foram efetuadas pesquisas bibliográficas por meios físicos e eletrônicos, analisando também as propostas legislativas doutrinárias e jurisprudenciais em andamento, a fim de enriquecer a coleta de informações e argumentos, permitindo aprofundamento no tema.

Inicialmente, no primeiro capítulo, foi feita uma abordagem histórico-evolutiva do entorpecimento e de sua proibição, bem como a evolução dos textos referentes à embriaguez ao volante no Brasil.

Posteriormente, aborda-se a questão na prática, observando-se a influência de teorias criminológicas e político-criminais no processo legislativo e na aplicação da lei e em seus resultados, assim como o papel dos meios de comunicação dentro deste contexto.

A partir desse estudo se verifica a necessidade de revisar a legislação de trânsito no tocante à questão da embriaguez ao volante.

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1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA EMBRIAGUEZ

A embriaguez ao volante ganhou amplo destaque nos meios de comunicação nos últimos anos, bem como nos debates quotidianos. Da entrada em vigor da Lei nº 12.760/2012, a qual aumentou significativamente o rigor contra condutores embriagados, dados da Polícia Rodoviária Federal referem que o número de prisões nas rodovias federais aumentou em 91% (2013, p. 2).

Observa-se que ao longo dos tempos a dicotomia entorpecimento/sobriedade foi uma constante no desenvolvimento humano.

1.1 Panorama histórico da proibição

Historicamente, a humanidade sempre fez uso de substâncias psicoativas. O álcool, por exemplo, é consumido desde a história antiga, sendo amplamente utilizado pelos povos mediterrâneos e babilônicos. No antigo Egito, a agricultura centrada na produção de cereais tornou a cerveja bastante popular. Com efeito, segundo Garattoni (2008) “Cada um dos trabalhadores que construíram as pirâmides de Gizé, no Egito, ganhava cinco litros de cerveja por dia. […] um alimento fundamental para que os operários pudessem aguentar a jornada”

Na Grécia o álcool era também muito popular, vez que as condições do terreno eram muito propícias à produção de vinho. Pois vejamos:

Como a vinha, a oliveira se adaptou bem aos terrenos secos e a figueira crescia um pouco em toda parte. A abundância do produto foi tão grande que Sólon chegou mesmo a permitir-lhe a exportação. Já o mesmo não aconteceu com os cereais, cuja escassez levou uma lei do início do século VI a.C. a proibir que fossem exportados. Na realidade a insuficiência de cereais e a abundância de vinho e de azeite são as características permanentes da agricultura grega (GIORDANI, 1967, apud ZEIFERT, 2004, p. 44).

Desse modo, a fartura de bebida criou tradição de consumo regular de álcool naquela população, existindo, inclusive, em sua mitologia a figura do deus Dionísio, patrono do vinho e da festa (SOUTO MAIOR, 1978, p. 97).

Ainda, conforme dados do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool, estudos recentes dão conta de que o imperador Alexandre da Macedônia, figura histórica no

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desenvolvimento da civilização ocidental, teria morrido em decorrência do abuso de álcool (CISA, 2013).

O primeiro registro em que há conotação negativa ao consumo de álcool aparece no antigo testamento, quando do episódio em que Noé se embriaga e é desonrado por seu filho Cam (GENESIS, 9:20-25). Salomão, contudo, posteriormente absolveu a substância, referindo que “O vinho alegra o coração do homem” (SALMOS, 104:15).

Nesse sentido, há ainda um enunciado islâmico em que se recomenda moderação: “Eles te perguntam, ó Maomé, sobre a bebida de álcool e o jogo. Diz „há nisso bastante de pecado e um pouco de benefício para os homens, mas o pecado costuma ser maior do que o benefício.” (CORÃO, 2:219).

Observa-se que a expansão do monoteísmo, estabelecido em formas organizadas de religião, resultou na elaboração de regras de convívio social mais restritivas no que tange aos prazeres terrenos, onde surgem mecanismos de controle social como por exemplo, o conceito de pecado.

Ainda, as apostasias que posteriormente distorceram estes credos produziram movimentos de caráter fundamentalista, que pregavam a proibição do consumo de entorpecentes, sob uma égide de defesa da moral, bons costumes, e adjacências.

Com efeito, observa-se que as políticas de proibição surgiram quase exclusivamente em lugares onde esse viés religioso era parte fundamental do lastro ideológico de legitimação do poder vigente, vindo posteriormente a abolir-se nos lugares onde a filosofia secular ocupou este espaço.

Nesse sentido, refere Habermas (2007, p. 27-28):

A história da teologia cristã da Idade Média, em especial a escolástica espanhola tardia, faz parte naturalmente da genealogia dos direitos humanos. Mas as bases legitimadoras de um poder ideologicamente neutro do Estado provêm, em última análise, das fontes profanas da filosofia dos séculos XVII e XVIII.

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11 Entre tais fontes, cabe citar Voltaire (2000, p. 23), que apregoou que a igreja não deveria meramente separar-se do estado, mas sim subordinar-se a este, a fim de que se garantisse um estado realmente tolerante. Outrossim, Locke (1987, p. 100-101), já havia proposto uma separação anteriormente, referindo que “o cuidado das almas não incumbe ao magistrado”, bem como que “quando se trata dos afazeres domésticos, de riquezas, ou da saúde do corpo, cada qual tem o pleno direito de decidir o que é do seu interesse.”

Ainda hoje, observa-se que a implantação de “Lei Seca” se dá majoritariamente em países e regiões onde fatores religiosos tem maior influência sobre a estrutura de poder vigente, como por exemplo, nos países islâmicos.

Há ainda outro ponto determinante na discussão acerca da proibição, que é o fator econômico. Segundo Garattoni (2008), os interesses comerciais também influenciaram leis proibicionistas:

Nessa mesma época, a produção de cachaça foi proibida no Brasil, pois Portugal queria garantir o mercado local para seus vinhos. […] Em 1764, a Inglaterra restringiu o comércio de bebida alcoólica, que os colonos americanos importavam e exportavam em grande quantidade.

Paradoxalmente, nos dias atuais, observa-se que é justamente o poderio econômico da indústria do álcool que inibe a adoção de medidas mais severas, em termos de proibição.

1.2 A evolução do texto e seus pontos controversos

No Brasil, a primeira legislação de trânsito, efetivamente, foi o Código Nacional de Trânsito, em 1941 (Decreto-Lei nº 3.651/41). Elaborado durante o governo Vargas, possuía alguns dispositivos bastante rigorosos, como por exemplo a proibição de pintar automóveis nas cores vermelha ou branca (artigo 54), embora a embriaguez ao volante acarretasse apenas a pena de apreensão temporária do documento de habilitação, de um a doze meses, sem a incidência de multa (artigo 129, inciso II, alínea e).

Tal medida, contudo, é coerente, vez que resolve o problema de maneira simples, sem lesar ao estado nem tampouco ao infrator, que poderia resgatar sua licença gratuitamente após o período em questão.

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Havia ainda no artigo 130, caput, a possibilidade de cassação da habilitação, se o condutor fosse devidamente diagnosticado com alcoolismo ou toxicomania.

Em 1966, novamente sob um regime de cunho ditatorial, entrou em vigor novo Código Nacional de Trânsito (Lei nº 5.108/66), tratando a questão da embriaguez de forma similar, em seu artigo 89, inciso III. Outrossim, inaugurou a possibilidade de cassação da habilitação por múltiplas reincidências do infrator.

Parece incongruente que logo em 1997, momento em que o Brasil vivia no gozo de sua plenitude democrática, o discurso oficial tenha tomado um viés repressivista, incluindo em suas diretrizes o conceito de “crimes de trânsito.” Tal mania descodificadora se revela incômoda uma vez que, ou os tipos em tela são de espécie que poderiam ser perfeitamente acolhidos pelos tipos já existentes no Código Penal, como o homicídio na condução de

veículo automotor (artigo 302) e lesões corporais na condução de veículo automotor (artigo

303), ou já foram abolidos pelos tribunais, caso da fuga de local do acidente (art. 305), revelando o ímpeto repressivo destes novos tempos. (grifo nosso).

Nesse sentido, é preciosa a lição de José Antonio Paganella Boschi (2000, p. 51-52):

Não é preciso muito esforço para demonstrar que o nosso país prioriza o direito penal e, desse modo, caminha na contramão do garantismo. Basta lembrar que a inflação legislativa brasileira, ao tipificar intensamente novas condutas e ao aumentar exagerada e desproporcionalmente as penas, culminou por evidenciar outro paradoxo em um país de paradoxos: o do avanço no sentido do aperfeiçoamento do direito penal comum nos períodos negros de Ditadura – Estado Novo e Golpe de 1964 – e os retrocessos depois de 1988 […] De um lado, os Códigos Penal e de Processo Penal, na década de 1940, e as Leis nºs 5.941/73, 6.416/77, 7.209/84 e 7.210/85, todas liberais e humanistas, que os modificaram em parte. Do outro a Lei dos Crimes Hediondos, a Lei do Porte de Armas, a Lei destinada ao eficaz combate ao crime organizado, a lei que instituiu a prisão temporária…

D‟outra luz, mesmo que a lei especial consiga conviver harmonicamente com o Código Penal, observa-se que a mesma padece com o estigma de ser uma Lei considerada menos séria. Nesse sentido, refere Salo de Carvalho (1996, p. 27):

Preambularmente, podemos fazer ao processo de descodificação crítica no que diz respeito à tendência, no Direito Penal nacional, de que leis especiais se convertam em direito de menor valor, frequentemente ignorado pela

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doutrina, academia (ensino jurídico) e tribunais. Desta forma, a perspectiva de manutenção de modelo unitário é lesada.

Assim, na prática, a aplicação real da lei serviria apenas para punir condutores que entregam veículo para pessoa não habilitada (artigo 310) e àqueles que conduzem veículo sob efeito de substância psicoativa (artigo 306), objeto do presente estudo.

O texto do artigo 306, em sua concepção original apregoava:

Art. 306. Conduzir veículo automotor, na via pública, sob a influência de álcool ou substância de efeitos análogos, expondo a dano potencial a incolumidade de outrem:

Penas – detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.

Como bem se depreende, a exemplo do delito tipificado no artigo 309 da mesma Lei (direção perigosa sem a devida permissão/habilitação), o norte do tipo era o risco concreto de dano, ou seja, na autuação deveria se provar que o motorista embriagado estava conduzindo o veículo de maneira perigosa, bem como que a condução prejudicada era, de fato, oriunda da embriaguez do condutor.

Mesmo assim, à época, Paganella Boschi (2000, p. 46-47) também alertava que tal definição era por demais vaga, vez que podia ser interpretada de maneira ambígua, desviando-a de seu objetivo:

A despeito disso, são freqüentes, em nosso meio, desde o Império até os dias atuais, leis penais definindo condutas em tipos abertos, impregnados de elementos ou valorativos, gerando dificuldade de compreensão e de aplicação. O recente Código de Trânsito Brasileiro […] considera, no artigo 306, ser crime a condução de veículo na via pública “sob influência do álcool” e, no artigo 311, ser crime o tráfego de veículos em “velocidade incompatível” próximo à escolas, hospitais, estações de embarque e desembarque, etc. No primeiro caso, a jurisprudência, provavelmente, terá de preencher o tipo […]

Definir a influência de álcool e substâncias análogas era, na década de 1990, algo de difícil constatação, ante a quase inexistência de métodos de detecção destas alterações. De tal modo, com o advento da Lei 11.705/2008, o texto passou a ser o seguinte:

Art. 306. Conduzir veículo automotor, na via pública, estando com concentração de álcool por litro de sangue igual ou superior a 6 (seis)

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decigramas, ou sob a influência de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência.

Neste ponto vem o cisma “espiritual” do artigo, pois ao suprimir a parte do expondo a

dano potencial a incolumidade de outrem, transferiu-se a conduta para a seara do perigo abstrato (grifei).

Assim, bastaria estar com a concentração de álcool no sangue acima dos níveis permitidos para incorrer no delito. Ocorre, contudo, que o efeito de seis decigramas de álcool por litro de sangue é imprevisível, vez que dentre a população brasileira encontram-se pessoas dos mais variados tipos físicos e com os metabolismos mais distintos. Nesse sentido, Nucci (2010, p. 1251) clama ao bom senso:

torna-se perigosa a punição de alguém, com base em um delito cuja pena pode atingir três anos de detenção, calcado em perigo abstrato, sem demonstração do grau de intoxicação do agente. Ilustrando, por comparação, sabe-se que transportar droga ilícita também é crime de perigo abstrato, mas não se pune o agente sem prova efetiva da materialidade (existência de substância entorpecente).

Nesse sentido, se lançariam as mesmas consequências tanto para o condutor que bebeu duas latas de cerveja, dirige de maneira responsável e foi abordado pela polícia em operação de rotina quanto para aquele condutor que ingeriu um litro de uísque e está completamente desorientado, efetuando manobras perigosas.

Contudo, o ímpeto repressivista do legislador esbarrou em um princípio geral de nosso ordenamento. Ora, a única maneira de se constatar o nível de álcool no sangue do condutor é se o mesmo fornecer voluntariamente amostra de ar alveolar ou sangue, produzindo prova contra si, o que, como é sabido, o mesmo não tem qualquer obrigação de fazer.

Tal entendimento, inclusive, não foi pacificado de pronto pelo Supremo Tribunal Federal, que somente o corroborou em 2011, após longas discussões.

Os grandes veículos de comunicação, aproveitando este gancho, passaram a fomentar seus noticiários com relatos escandalosos com direito a filmagens de motoristas supostamente embriagados, os quais, valendo-se de seus direitos, saíam impunes, restando o policial, vítima, impotente e com semblante triste, diante da injustiça que testemunhou. (grifei)

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Ainda, sempre que da ocorrência de um acidente de trânsito, observa-se a forma grotesca com que a imprensa sugeria que o condutor estava alcoolizado, cobrando mais

atitude das autoridades, prática que inclusive remanesce até os dias atuais. (grifei)

Com um roteiro tão bem elaborado, veiculado incessantemente, com personagens diferentes todos os dias, os jornalistas puderam inflamar a população contra as governanças, taxando-as de omissas e inertes diante da situação de anarquia que supostamente havia tomado conta das ruas do país.

Esta mercantilização do medo pelos meios de comunicação, contudo, será abordada mais adequadamente no próximo capítulo.

Grande apoiadora desta propaganda de terror, a bancada evangélica no congresso tomou a frente em defesa da moral, dos bons costumes e da vida. Assim, alegando a existência de um forte clamor popular, o deputado Hugo Leal, à época no PSC/RJ, sentiu-se livre para endurecer a norma, a qual, pela Lei nº 12.760/2012 passou a ter o seguinte texto:

Art. 306. Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência:

Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. § 1o As condutas previstas no caput serão constatadas por:

I - concentração igual ou superior a 6 decigramas de álcool por litro de sangue ou igual ou superior a 0,3 miligrama de álcool por litro de ar alveolar; ou

II - sinais que indiquem, na forma disciplinada pelo Contran, alteração da capacidade psicomotora. (grifo nosso)

Qual seja, no caso de o condutor recusar-se a oferecer prova contra si, estava legitimado o agente policial a declarar a embriaguez do mesmo, diante da observância de determinados sinais, que o Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN) posteriormente publicou na resolução nº 432, disciplinando o procedimento em questão:

Art. 3º A confirmação da alteração da capacidade psicomotora em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência dar-se-á por meio de, pelo menos, um dos seguintes procedimentos a serem realizados no condutor de veículo automotor: I – exame de sangue;

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II – exames realizados por laboratórios especializados, indicados pelo órgão ou entidade de trânsito competente ou pela Polícia Judiciária, em caso de consumo de outras substâncias psicoativas que determinem dependência; III – teste em aparelho destinado à medição do teor alcoólico no ar alveolar (etilômetro);

IV – verificação dos sinais que indiquem a alteração da capacidade psicomotora do condutor.

§ 1º Além do disposto nos incisos deste artigo, também poderão ser utilizados prova testemunhal, imagem, vídeo ou qualquer outro meio de prova em direito admitido.

§ 2º Nos procedimentos de fiscalização deve-se priorizar a utilização do teste com etilômetro.

§ 3° Se o condutor apresentar sinais de alteração da capacidade psicomotora na forma do art. 5º ou haja comprovação dessa situação por meio do teste de etilômetro e houver encaminhamento do condutor para a realização do exame de sangue ou exame clínico, não será necessário aguardar o resultado desses exames para fins de autuação administrativa.

ANEXO II

SINAIS DE ALTERAÇÃO DA CAPACIDADE PSICOMOTORA VI. Sinais observados pelo agente fiscalizador:

a. Quanto à aparência, se o condutor apresenta: i. Sonolência;

ii. Olhos vermelhos; iii. Vômito;

iv. Soluços;

v. Desordem nas vestes; vi. Odor de álcool no hálito.

b. Quanto à atitude, se o condutor apresenta: i. Agressividade; ii. Arrogância; iii. Exaltação; iv. Ironia; v. Falante; vi. Dispersão.

c. Quanto à orientação, se o condutor: i. sabe onde está;

ii. sabe a data e a hora.

d. Quanto à memória, se o condutor: i. sabe seu endereço;

ii. lembra dos atos cometidos;

e. Quanto à capacidade motora e verbal, se o condutor apresenta: i. Dificuldade no equilíbrio;

ii. Fala alterada (grifo nosso)

Com efeito, observa-se que o texto atual conferiu prerrogativas perigosas aos agentes da segurança pública ao dar peso de lei à sua palavra, atentando diretamente contra os princípios do contraditório e da ampla defesa.

Ora, é aceitável que os procedimentos policiais sejam de cunho inquisitorial. O que não se pode esperar é que os agentes policiais sejam efetivamente neutros e imparciais no curso destes procedimentos.

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17 Outrossim, surge a questão fundamental do tipo: Seria o agente policial devidamente capacitado para atestar alterações psicomotoras em pessoas com as quais ele jamais teve qualquer contato?

Em verdade, é importante observar que condições como sonolência, ironia, arrogância, olhos vermelhos, náusea e crises de soluço são inerentes a todos os seres humanos, em inúmeras condições de sua vida quotidiana, não se podendo atrelá-las exclusivamente ao estado de entorpecimento. Ou seja, pode-se reunir vários destes sintomas sem o consumo de qualquer substância psicoativa, o que abre margem para a detecção de uma série de falso-positivos pelo agente policial.

Outro ponto importante a se observar foi a remoção da condição via pública, que havia no texto anterior. Logo, em uma análise técnica, aplica-se a sanção também ao condutor que eventualmente conduza veículo automotor com a capacidade psicomotora alterada em via

privada, mesmo que seja uma vicinal dentro de propriedade rural que apenas o mesmo a

utilize.

Por fim, temos o elemento outra substância psicoativa, o qual abrange não apenas as substâncias ilícitas, mas qualquer medicação que o condutor venha a fazer uso, tais como barbitúricos (Rivotril, Gardenal), equilibradores neurológicos (Lítio, Ritalina) ou mesmo a nicotina, a qual, segundo lição de Içami Tiba (1997, p. 73-74), eminente neuropsiquiatria brasileiro, também causa alterações psicomotoras:

a nicotina pode provocar dependência psicológica e física. A física é responsável pela síndrome de abstinência, com os sintomas mais freqüentes de sensação de necessidade de fumar, inquietação, irritabilidade, ansiedade, nervosismo, fadiga, insônia, mudança do ritmo cardíaco, depressão, constipação intestinal, dificuldade de concentração e realização de trabalhos, mesmo os automáticos. A nicotina atinge o cérebro um minuto após a primeira tragada; em pequenas quantidades, pode ser estimulante, mas em doses maiores costuma ser depressiva […] A nicotina vicia mais rapidamente que o álcool e pode viciar ainda mais rápido que a heroína.

Desse modo, na teoria, mesmo um maço de cigarros seria suficiente para enquadrar o condutor no rol de sintomas da resolução nº 432, retrorreferida.

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Art. 165. Dirigir sob a influência de álcool ou de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência

Infração – Gravíssima

Penalidade – Multa (dez vezes) e suspensão do direito de dirigir por 12 (doze) meses

Medida administrativa – recolhimento do documento de habilitação e retenção do veículo […]

Ou seja, é o mesmo texto de 2008, acrescido das prerrogativas policiais de 2012.

Em suma, ainda que o condutor submeta-se ao teste de etilômetro e obtenha resultado inferior aos seis decigramas da configuração criminosa, hipótese do inciso I do parágrafo primeiro do artigo 306, mesmo assim incorreria em infração gravíssima, arcaria com a pesada multa de R$ 1.915,40 (mil novecentos e quinze reais e quarenta centavos) (PRF, 2013, p. 1) e perderia sua habilitação, podendo, após os doze meses referidos no artigo 165, dirigir-se até um Centro de Formação de Condutores e inscrever-se para assistir às aulas e tentar passar nos testes para obter nova habilitação.

Atualmente, segundo tabela do Departamento Estadual de Trânsito (DETRAN), no estado do Rio Grande do Sul tal procedimento custaria a partir de R$ 1.705,68 (mil setecentos e cinco reais e sessenta e oito centavos), considerando habilitação padrão AB, para motocicletas e veículos leves.

Abrem-se, portanto, dois precedentes que ferem o princípio da isonomia.

Primeiramente, sob as regras quantitativas abstratas, já referidas, em que se desrespeita a individualidade fisiológica de cada indivíduo ao impor condições irreais de sobriedade.

Em segundo lugar, sob um forte prisma sociológico, visto que as punições são por demais onerosas ao brasileiro médio, que raramente dispõe de R$ 3.621,08 (três mil seiscentos e vinte e um reais e oito centavos) sobrando em suas economias para suportar os encargos, tampouco de transporte público de qualidade, que permita uma vida digna como pedestre. É gritante o caráter elitista por trás destas medidas de controle social, vez que impacta somente àqueles que têm dificuldades para adquirir um automóvel e pagar os custos da habilitação. Isso quando o próprio trabalho do cidadão não é condicionado à investidura de uma habilitação AC, como muito tem se visto recentemente nos classificados de empregos.

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19 Nisso tudo, interessante constatar que nestes setenta e dois anos de evolução jurídico-legislativa a questão da embriaguez ao volante tenha andado círculos no que refere à satisfação das necessidades da população e da redução dos acidentes de trânsito, chegando a um ponto em que não se está necessariamente melhor do que estava em 1941.

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2 LEI SECA: TEORIA E PRÁTICA

Sabemos, como tratado anteriormente, que a legislação acerca da embriaguez no trânsito evoluiu de forma acidentada, sempre na tentativa de preencher lacunas muitas vezes inexistentes. Tal caráter afoito do processo legislativo, nesse caso, foi interessante no sentido de deixar transparecer com maior clareza os entendimentos criminológicos e político-criminais do legislador. Visões frequentemente em sintonia com doutrinas obscuras, que não necessariamente condizem com a realidade, quando não a distorcem a favor de seus argumentos, valendo-se muito também do marketing midiático.

2.1 Aspectos criminológicos e político-criminais do atual paradigma

O discurso oficial, nos termos do que refere a Polícia Rodoviária Federal, em parceria com o Ministério da Justiça, aduz que “o álcool aparece […] sendo responsável por 30% dos acidentes de trânsito” (PRF, 2013, p. 1). Ainda, em termos médicos, explana:

o álcool é um forte depressor do sistema nervoso central. Por isso, quem bebe e pega o volante tem os reflexos prejudicados. Fica mais corajoso, mas reage de forma lenta e perde a noção de distância. Quando é vítima de desastre de trânsito, resiste menos tempo aos ferimentos, já que as hemorragias quase sempre são fatais (PRF, 2013, p. 3).

O texto em questão refere-se à implantação da Lei nº 12.760/2012, bem como seus motivos e principais benefícios. Ocorre que o mesmo induz o leitor a maximizar as cifras com um discurso pretensamente científico, fazendo-o ignorar o fato de que se 30% dos acidentes são causados por condutores alterados em sua capacidade psicomotora, 70% dos acidentes são causados por motoristas completamente sóbrios.

Percebe-se neste discurso, a nociva retórica do movimento conhecido como Lei e Ordem, o qual é, segundo a lição de Carvalho (1996, p. 153):

[…] um dos hodiernos movimentos de Política Criminal ou uma ideologia em sentido positivo (plano de ação), cujo instrumento central é o mass media, que transmite ao senso comum, estado de perigo constante e iminente. A interação entre o movimento e o homem da rua (every day theories) funda-se numa premissa central passional, instaurando modelo repressivo de „guerra contra o crime e o criminoso‟. É modelo político autoritário que vê na

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implementação de estatutos penais e penalidades severas, as quais restringem direitos e garantias constitucionais.

Com efeito, tal movimento surgiu a partir da implantação de políticas neoliberais na Europa e nos Estados Unidos, a partir do final da década de 1970, as quais, culminadas com a recessão econômica no período e o amparo sensacionalista dos meios de comunicação, levaram muitos doutrinadores da época ao pensamento de que o modelo de estado de bem-estar social (Welfare State), bem como suas garantias, estavam superados, devendo ser abolidos, sob o seguinte argumento:

[…] a generosidade do Estado de bem-estar social no trato com a população carente seria a principal responsável pelo crescimento da pobreza, por recompensar a inatividade dos beneficiários das políticas públicas, conduzindo-os a um processo de degenerescência moral. (WACQUANT, 2001, apud CALLEGARI et al, 2010, p. 30)

Assim, partindo de pressupostos semelhantes, o direito penal serviu de escopo para as frustrações do período, vindo a expandir-se, com a criação de inúmeras leis que visavam aumentar o rigor repressivo, a fim de maquiar as sequelas da falta de investimento pretérito em ensino, lazer, cultura e habitação, criminalizando a miséria e estabelecendo um perverso sistema de controle social (GRECO, 2011).

Observando deste ponto, encontra-se, talvez, explicação para a recente obsessão punitiva do legislador brasileiro, referida no capítulo anterior, que anseia por endurecer as penas e encarcerar massivamente elementos indesejáveis, cuja existência causa desconforto ao dito cidadão de bem (grifei).

Com efeito, já se entende, nos dias atuais, que a criminalização de múltiplas condutas não necessariamente nocivas, bem como o encarceramento indiscriminado de populações

potencialmente perigosas, a fim de acabar com a criminalidade, são meramente um paliativo

que beira a estupidez, vez que não estanca as origens dos problemas destas populações.

Infortunadamente, vários brasileiros levam esse entendimento a sério, incluindo-se aí, muitos de nossos representantes no congresso. Salta aos olhos, nesse sentido a vertente de propostas legislativas com caráter endurecedor surgidas após a celeuma constitucional referente à Lei nº 11.705/2008, citada anteriormente, como os projetos de lei 3.809/2012 (Nilda Gondim – PMDB/SC), 4.607/2009 (Pedro Henry – PP/MT) e 5.594/2013 (Rogerio

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Mendonça – PMDB/SC), que propõem que se eleve ainda mais as penalidades dos artigos 165 e 306; dos projetos 5.006/2013 (Onyx Lorenzoni – DEM/RS) e 5.075/2013 (Major Fabio – DEM/PB) que propõem maior rigidez no caso de a outra substância psicoativa ser ilícita; e o projeto 5.441/2013 (Fabio Trad – PMDB/MS), que prevê a perda do veículo do condutor embriagado, se este envolver-se em acidente fatal, como se não bastasse ao autor do fato o sofrimento moral implícito na responsabilidade por uma morte (grifei).

Washington Reis (PMDB/RJ) vai ainda mais longe, e propõe a criação de um cadastro nacional de condutores embriagados, além de agravar as penas para a embriaguez (PL 3.679/2012), remetendo-nos aqui às discussões que, anos atrás, intentaram criar cadastro semelhante para criminosos sexuais.

As declarações parlamentares proferidas na imprensa oficial, também não são de melhor sorte. Por exemplo, observemos o depoimento do senador Reditario Cassol (PP/RO) à página eletrônica do Senado, em 25 de outubro de 2011:

A sociedade exige que tenhamos uma postura mais rígida. É crime e deve ser tratado como tal. Nossa população precisa de uma legislação rigorosa contra motoristas que usam seus veículos como arma contra gente indefesa. […] Castigo em cima dos malandros e em quem quer que seja, no ponto em que for!

Ana Amélia Lemos (PP/RS) também se posicionou nesse sentido:

[…] para que tiremos das ruas essa ameaça […] um motorista não precisa matar nem ferir ninguém para cometer um crime, mas colocar em risco a vida de outras pessoas já é suficiente para que essa pessoa se explique perante a lei e a sociedade.

Ainda, podemos observar algumas declarações similares do senador Ricardo Ferraço (PMDB/ES):

Após três anos de implantação [da lei seca], chegou o momento de implantar a tolerância zero para a embriaguez e quem insiste em colocar sua vida e a de outros em risco. Quero colocar fim a essa impunidade que tem grassado no trânsito brasileiro (em 22/06/2011).

Motorista bêbado ou drogado que provoca acidente comete crime doloso. É evidente. Afinal, ele assumiu um risco calculado de ferir ou matar alguém. (em 15/03/2011)

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23

O medo inicial de ser flagrado no teste do bafômetro vem sendo substituído pela certeza de que a fiscalização é falha e pela „esperteza‟ até mesmo de contornar as blitz, usando o Twitter e a rede social. A Lei Seca também corre o risco de ser esvaziada pela brecha legal segundo a qual ninguém é obrigado a produzir provas contra si (em 15/03/2011).

O projeto […] propõe que possamos ser mais rigorosos, que possamos não apenas intensificar as campanhas preventivas, mas que possamos ser mais duros, ser mais rígidos, para quebrarmos a impunidade a que estamos assistindo Brasil afora (em 15/03/2011).

É sob esse espírito que em 2012 foi promulgada a Lei nº 12.760. Note-se que ao utilizar adjetivos do porte de malandro e esperto, bem como expressões do tipo essa ameaça e impunidade, e depreciando as garantias legais, o legislador não vê o cidadão como pessoa, mas sim como um inimigo, em proporções que remetem à doutrina de Günther Jakobs e seu

direito penal do inimigo, pressupondo a existência de seres humanos que não seriam dignos

de ter direitos (grifei).

No entendimento de Jakobs, atribui-se a pecha de inimigo àquele que voluntária e maliciosamente opta por não seguir determinadas regras da sociedade, pondo em risco as bases da mesma e do estado de direito, devendo ser combatidos e eliminados. Ou, nas palavras do mesmo (2010, p. 40):

Indivíduos que devem ser impedidos de destruir o ordenamento jurídico, mediante coação. […] [vez que] Quem não presta segurança cognitiva suficiente de um comportamento pessoal não só não pode esperar ser tratado ainda como pessoa, mas o Estado não deve trata-lo, como pessoa, já que do contrário vulneraria o direito à segurança das demais pessoas.

Valendo-se dessa lógica egoísta e desumana, muitos legisladores incorporaram uma série de intervenções na lei penal no sentido de legitimar a existência de delitos de perigo abstrato. No tocante ao artigo 306, fica evidenciada no discurso do legislador, ainda que subliminarmente, a crença de que o condutor de veículo automotor alterado em sua capacidade psicomotora é, em verdade, um sabotador do Estado Democrático de Direito, alguém que está fortemente determinado a matar e morrer, devendo esse mesmo estado permanecer vigilante, averiguando, sempre que possível, a composição sanguínea dos condutores, para tirar esse perigo das ruas e jogar o inimigo na prisão, aplicando-lhe ainda pesado ônus financeiro (grifei).

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E tudo isso porque o cidadão possui em seu sangue alguma substância inadequada, que supostamente o transforma em uma máquina assassina. Desta vez, é Lew Rockwell quem clama ao bom senso (2008):

a reação imediata é mais ou menos assim: dirigir alcoolizado tem de ser algo ilegal porque a probabilidade de causar um acidente aumenta dramaticamente quando você bebe. A resposta é bem simples: […] o governo não deve lidar com probabilidades. A lei deveria lidar com ações e com ações apenas, e somente na medida em que estas causarem danos a pessoas ou à propriedade. Probabilidades são para as seguradoras, que devem avaliá-las em um ambiente […] voluntário

Rockwell (2008) vai ainda mais além, e propõe a efetiva descriminalização da conduta, alertando para a já existência de tipos penais que acolhem a situação fática:

Devemos colocar um fim imediato nesse modismo. Direção alcoolizada deveria ser legalizada. E, por favor, não me escreva dizendo: "Fiquei ofendido com sua insensibilidade porque minha mãe foi morta por um motorista bêbado". Qualquer pessoa responsável pela morte de uma outra deve responder por homicídio […] e deve ser punida de acordo. Mas é incorreto punir um assassino não por causa do seu crime mas por causa de alguma consideração biológica. É como dizer que o atropelador deve ser condenado pois tinha cabelo vermelho.

Afinal, observa-se que o presente modelo contribui apenas com o aumento da população carcerária, vez que, conforme referido anteriormente, as prisões aumentaram consideravelmente.

Sim, a prisão. Cabe lembrar que a conduta em tela prevê detenção de seis meses até três anos, com uma base vaga de critérios, vez que as hipóteses de circunstâncias agravantes e atenuantes previstas no Código Penal restam prejudicadas pelo caráter abstrato do delito.

Com efeito, inegável a dificuldade de conduzir veículo automotor com a capacidade psicomotora alterada por motivo fútil, à traição, contra ascendente, mediante abuso de poder e embriaguez preordenada, bem como fazê-lo por motivo de relevante valor social ou moral.

A multiplicidade crescente de condutas que visam tolher a liberdade do agente é mais um reflexo torpe do movimento lei e ordem.

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25 Ora, torpe, porquanto há muito se provou sua inutilidade, Com efeito, ainda no século XVIII, Beccaria já havia proferido preciosa lição nesse sentido (n/d, p. 126):

Se se proíbem aos cidadãos uma porção de atos indiferentes, não tendo tais atos nada de nocivo, não se previnem os crimes: ao contrário, faz-se que surjam novos, porque se mudam arbitrariamente as idéias ordinárias de vício e virtude

Ainda, na esteira de Beccaria, caberia compartilhar do protesto de Eugenio Zaffaroni, da inutilidade de querer-se eliminar os crimes através da proibição:

Una política criminal, que sueñe con que su objetivo sea la erradicación será absurda, porque el delito, en su contenido concreto, es un concepto cultural y, por ende, relativo, históricamente condicionado. Siempre habrá delitos, siempre habrá conductas juridicamente prohibidas y reprochables (ZAFFARONI, s/d, p. 22, apud CARVALHO, 1996, p. 137-138).

Voltando ao discurso legislativo, curioso ressaltar a expressão proferida pelo senador Ferraço, da necessidade de se implantar a tolerância zero no combate à embriaguez.

O símbolo maior do movimento lei e ordem provavelmente foi a chamada política da

tolerância zero, aplicada em Nova York, no início dos anos 1990 pelo então prefeito Rudolph

Giuliani. Segundo Callegari e Wermuth (2010, p. 28):

Tendo por base a sobredita teoria, o programa de tolerância zero no combate à criminalidade […] promoveu o fortalecimento da polícia, aumentando consideravelmente o número de policiais nas ruas, modernizando os equipamentos por eles utilizados e atribuindo-lhes novas prerrogativas no desempenho de suas funções, como a fiscalização ativa das zonas da cidade consideradas “de perigo” […] Entretanto, […] o que se busca, na verdade, é tão somente “mascarar” a famigerada arbitrariedade policial com um discurso dotado de credibilidade.

O que passa no Brasil, atualmente, é semelhante. Observa-se que concomitantemente à adoção de medidas mais rigorosas em relação às condutas ditas nocivas, houve notório investimento dos Estados no tocante à aparelhagem utilizada pelas forças policiais, evidenciado pela presença cada vez maior de etilômetros, decibelímetros, radares de velocidade, tazers, bem como viaturas mais potentes.

(27)

Naturalmente, havia, de fato, um incômodo déficit material na área da segurança. Contudo, observa-se que ao invés de promover-se a segurança, o que se incrementou foi, em verdade, a repressão estatal.

Importante ressaltar esse ponto, vez que o exemplo nova-iorquino apresentou resultado controverso, não somente pelas violações às garantias civis de seus cidadãos, ainda que os índices de criminalidade efetivamente tenham caído, mas sim pelo fato de que estes já estavam em queda três anos antes da adoção da política repressiva, bem como o fato de outras grandes cidades nos Estados Unidos, como Chicago, Boston e San Diego, apresentarem igual queda na criminalidade sem adotar qualquer medida repressiva, quando não o contrário (WACQANT, 2001, apud CALLEGARI et al, 2010, p. 28).

Some-se a isto o fato, constatado pelo Conselho Nacional de Justiça (2013), de que, no Brasil, mais de 10% da população carcerária estaria presa de forma indevida.

Dessa forma, impõe-se alertar que a absorção destas ideias desconexas pelo legislador brasileiro, tende desde já ao fracasso, assim como seu único resultado prático, na seara dos

crimes de trânsito, seria o de prender mais e mais condutores, jogando-os à mesma sorte dos

demais inimigos públicos já existentes (grifei).

2.2 Os meios de comunicação e o artigo 306 na prática

Conforme visto no capítulo anterior, existiu toda uma propaganda exagerada dos meios de comunicação de massa no sentido de que a problemática da violência no trânsito era fruto quase que exclusivo da embriaguez ao volante, discurso este comprado por legisladores que promoveram as recentes alterações no artigo 306, do Código de trânsito Brasileiro.

O sensacionalismo midiático tem utilizado de apelo emocional intenso para prender a atenção dos receptores de sua informação, mantendo-os em alerta para uma série de perigos supostamente iminentes a que todos estão correndo (grifei).

(28)

27 Nesta senda, proliferam-se aqueles pensadores e especialistas prontos a demonizar a

turma dos direitos humanos, cobrar atitude das autoridades e combater a impunidade que

assola o país, legitimando seu discurso vil em um pretenso entendimento no assunto (grifei).

Há pouco, referimos que um pilar do movimento Lei e ordem é o apoio dos meios de comunicação de massa. Nesse sentido, Zaffaroni denuncia:

[…] campanhas midiáticas de “lei e ordem” inspirados no modelo norte-americano que se utilizam de fatores como a invenção da realidade – por meio de estatísticas falaciosas e do aumento do tempo do espaço publicitário dedicado aos fatos relacionados ao crime -, a criação de profecias que se

auto-realizam – por meio de slogans como “a impunidade é a regra”, “os

presos entram por uma porta e saem por outra” e a produção de indignação

moral para reforçar os argumentos em prol da necessidade de cada vez mais

segurança (ZAFFARONI, 2001, apud CALLEGARI et al, 2010, p. 46).

Mesmo quando se trata de algum caso completamente isolado, faz-se crer que tal tipo de situação é corriqueira, devendo todos estarem atentos ao perigo e prontos para caçarem as

bruxas. Callegari e Wermuth (2010, p. 48) citam um exemplo interessante (grifei):

O caso Isabela Nardoni, no Brasil, bem ilustra a forma como a mídia de massa nacional explora o crime e a criminalidade: o caso isolado de uma menina que foi assassinada violentamente passou a ser visto como uma forma de criminalidade bastante frequente no país e, contrariando a realidade objetiva – visto que casos semelhantes são bastante raros no país -, serviu como “espetáculo” midiático por mais de dois meses consecutivos […]

Assim se procedeu no que diz respeito à violência no trânsito. As reportagens mencionadas anteriormente possuíam um caráter escandaloso, onde o mote era sempre tentar comprovar a embriaguez do condutor, publicando, ao lado das fotos de graves acidentes, fotos de garrafas de bebidas alcoólicas que teriam sido encontradas próximas do local do acidente. Ainda, praguejavam abertamente contra os condutores que se negavam a fazer o teste no etilômetro, clamando por políticas mais rigorosas que acabassem com essa impunidade perversa (grifei).

A grande mídia fez convencer da existência de grande clamor social pela tolerância

zero à embriaguez ao volante como única forma de reduzir os acidentes que ceifavam a vida

dos brasileiros, de tal maneira que muitos políticos abraçaram a causa, em busca de um

(29)

Observa-se aí, o populismo em sua forma mais repulsiva. Nesse sentido, Zaffaroni (2007, apud Callegari et al, 2010, p. 52) também alerta que “os políticos – presos na essência competitiva de sua atividade – deixam de buscar o melhor para preocupar-se apenas com o

que pode ser transmitido de melhor e aumentar sua clientela eleitoral.”

Callegari e Wermuth (2010, p. 52) aprofundam tal análise:

Isso porque o político que pretender confrontar o discurso majoritário acerca da criminalidade é logo desqualificado e marginalizado dentro do seu próprio partido, razão pela qual acaba por assumi-lo, seja por cálculo eleitoreiro, seja por oportunismo ou até mesmo por medo.

E assim, endureceu-se a lei, sob o argumento de que isto, e apenas isto, faria acabar com os acidentes de trânsito no país.

Hoje, quase um ano e meio após a entrada em vigor da Lei nº 12.760/2012, observa-se que a página de estatísticas no sítio eletrônico da Polícia Rodoviária Federal (prf.gov.br/PortalInternet/estatistica.faces) está fora do ar. A bem da verdade, desde setembro de 2013, quando iniciamos a pesquisa que culminou no presente trabalho, tal página já se encontrava fora do ar, de modo que fica difícil estabelecer conclusões estatísticas em nível nacional.

Entretanto, a página eletrônica do Comando Rodoviário da Brigada Militar (crbm.bm.rs.gov.br/resumo-de-acidentes) nos permite avaliar com clareza que, no Estado do Rio Grande do Sul, desde a implantação da referida lei, os acidentes, ao invés de diminuir, aumentaram.

Com efeito, tomando por data base o dia 21 de dezembro, data da entrada em vigor da Lei nº 12.760/2012, depreende-se que, enquanto de 21 de dezembro de 2011 até 20 de dezembro de 2012 ocorreram no Rio Grande do Sul 12.813 acidentes, no período de 21 de dezembro de 2012 até 20 de dezembro de 2013 esse número foi de 13.384 acidentes. Logo, demonstra-se um crescimento de 4,46% no número de acidentes após a implantação do novo texto.

(30)

29 Mesmo assim, em 2013, mais de onze mil pessoas foram presas nas rodovias federais por conduzir veículo automotor sob influência de álcool (PRF, 2013, p. 2).

Logo, a remoção de tantos criminosos das ruas não teve nenhum resultado prático.

Em que pese o argumento midiático de que o número de óbitos no trânsito tenha apresentado queda de 2% nesse ínterim, evidencia-se que em 2011, ano em que o Supremo Tribunal Federal pacificou o entendimento de que o condutor não estava obrigado a submeter-se ao teste do etilômetro, houve queda de 4% em relação ao ano anterior, 2010, onde o fantasma do bafômetro ainda assustava os motoristas.

Ora, o discurso dos grandes meios de comunicação deve ser avaliado com muita cautela, sob grande chance de se sair ludibriado de maneira tola.

Nesse sentido, colhe-se um curioso exemplo, que remete ares de fábula, não fosse real:

“A expectativa de vida nos Estados Unidos dobrou durante o século XX. […] No entanto, ouvimos que o número de pessoas seriamente doentes entre nós é fenomenal. Em 1996, Bob Garfield, jornalista de uma revista, analisou reportagens sobre doenças graves publicadas durante um ano no Washington

Post, New York Times e USA Today. Descobriu que, além dos 59 milhões de

americanos com doenças cardíacas, 53 milhões com enxaqueca, 25 milhões com osteoporose, 16 milhões com obesidade e 3 milhões com câncer, muitos americanos sofrem de males mais obscuros, como disfunção da articulação temporomandibular (10 milhões) e distúrbios cerebrais (2 milhões). Somando as estimativas, Garfield chegou à conclusão de que 543 milhões de americanos estão gravemente doentes – um número chocante em uma nação com 266 milhões de habitantes (GLASSNER, 2003, apud CALLEGARI et al, 2010, p. 43-44).

Outrossim, observa-se que o próprio agente policial encontra dificuldade em fazer cumprir a lei à risca, visto que todo o foco se dá acerca do álcool.

Com efeito, cabe mencionar o exemplo ocorrido no último verão, onde o setor de comunicação social da Brigada Militar publicou um vídeo1 na rede de computadores acerca de uma operação balada segura, ocorrida em Xangrilá/RS, estrategicamente posicionada na saída de uma danceteria rave, a qual flagrou o futebolista Douglas Costa efetuando retorno em local proibido, pelo que foi multado. Subsequentemente, após submeter o jogador ao teste

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do etilômetro, o qual apresentou resultado negativo para álcool, lhe solicitaram a dar uma mensagem sobre a importância de dirigir limpo, sendo que o desportista efetivamente dissertou pela responsabilidade e consciência dos condutores, bem como dos perigos do álcool no trânsito (grifei).

Nada de estranho, não fosse o fato de que o atleta apresentava sintomas de que estava sob efeito de substância psicoativa.

Não há aí, contudo, o que cobrar da polícia. O artigo 306, como bem observamos, aufere demasiada importância ao etilômetro no sentido de comprovar a sobriedade do condutor (inciso I). Pois o álcool é substância mais popular, aumentando-se a chance de capturar a presa. (grifei)

Infelizmente, fica evidenciado que o artigo 306, na prática, serve apenas de um mero caça-níqueis estatal, cuja função seria tão somente de intimidar e tomar dinheiro do cidadão, a fim de sustentar a obscura burocracia do departamento de trânsito, sem efetivamente cumprir com seu alegado propósito de acabar com a violência no trânsito.

Lamentável, outrossim, que todo esse esforço não esteja sendo aplicado na elaboração de alternativas não punitivas/repressivas, as quais certamente contribuiriam melhor no sentido de reduzir-se as fatalidades em nosso trânsito.

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31

CONCLUSÃO

Assim, o presente texto é um chamado à reflexão, depreendendo-se que o artigo 306, do Código de Trânsito Brasileiro (bem como o artigo 165 – seu equivalente na esfera administrativa), encontrou uma série de limitações em sua promessa de pacificar o trânsito no Brasil, vez que concebido e desenvolvido sob um conceito defeituoso, onde se buscou resolver seus problemas através do aumento do rigor punitivo e da repressão estatal, sem empenhar-se da mesma forma em outros fatores de influência mais direta na segurança do tráfego, como por exemplo, melhorias nas vias públicas, aprimoramento de dispositivos de segurança automotivos ou campanhas de conscientização.

Grande culpa do desvio do bom percurso neste tema, atribui-se aos meios de comunicação de massa e ao oportunismo político, os quais tradicionalmente trazem consigo discursos exagerados, que influenciam negativamente o homo medius e seu ambiente.

Quanto à solução para o paradigma atual, no momento, entende-se que é etérea, vez que a corrente proibicionista é majoritária na legislação de trânsito de vários países. Contudo, no caso brasileiro, poder-se-ia sugerir medidas paliativas, por ora, como um aumento no nível de alcoolemia tolerado, ou o retorno do tipo ao status de delito de perigo concreto. Eventualmente, sem prejuízo de divagação, caberia também militar pela efetiva descriminalização da conduta, seja totalmente, como proposto por Rockwell, ou parcialmente, aplicando-se apenas sanção administrativa similar à dos códigos de 1941 e 1966.

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