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Hierarquia entre os Princípios Constitucionais: a dignidade da pessoa humana perante o interesse público

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HIERARQUIA ENTRE OS PRINCÍPIOS

CONSTITUCIONAIS: A DIGNIDADE

DA PESSOA HUMANA PERANTE

O INTERESSE PÚBLICO*

DÉBORA CRISTINA ISRAEL DE SOUSA**

VITOR HUGO JARDIM CAIXETA***

Resumo: o presente artigo tem por objetivo o estudo dos princípios constitucionais, de

forma a verificar a existência entre eles de uma organização escalonada da mesma for-ma que ocorre com as defor-mais norfor-mas do direito. E ainda, será realizada ufor-ma análise em relação a normatividade e aplicação desses princípios aos casos concretos.Portanto, inicialmente, cuidará da análise dos princípios segundo as lições iniciais do Direito. A seguir passa-se ao estudo mais preciso dos princípios da dignidade da pessoa humana e do interesse público, a fim de se entender como eles se relacionam no mundo jurídico e ainda observar se existe uma relativização entre eles quando aplicados simultaneamen-te. Por fim, é analisada a aplicação conjunta dos princípios constitucionais, trazendo divergências doutrinárias e jurisprudências, para que se possa solucionar, de um modo mais justo, conflitos envolvendo os princípios específicos da dignidade da pessoa humana e do interesse público.

Palavras-chave: Princípios. Hierarquia. Dignidade da Pessoa Humana. Interesse

Pú-blico. Aplicação.

* Recebido em: 02.08.2014. Aprovado em: 23.08.2014.

** Acadêmica do Curso de Direito da Pontifícia Universidade Católica de Goiás. E-mail: deboraucg@yahoo. com.br

*** Especialista em Direito Público pela Universidade Anhanguera. Advogado.

T

endo em vista a organização escalonada do ordenamento jurídico brasileiro, sendo este composto por um conjunto de normas, organizadas ao longo do tempo de forma sistematizada, cujo objetivo é formar um todo harmônico que defenda or-dem social e jurídica. O presente trabalho visa analisar esse sistema hierárquico- normativo em relação aos princípios constitucionais. Será possível a aplicação do modelo normativo, hierárquico-piramidal, proposto por Hans Kelsen e trazida pelo legislador constituinte, em relação aos princípios constitucionais.

É certo que o ordenamento jurídico é composto por fontes primárias e secundárias de Direito, e que se vale de princípios gerais que são os norteadores de todo esse sistema, e,

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ainda que juntos formam a sua base, sendo aplicados sempre que há lacunas, ou ainda con-flitos entre normas.

Tendo em vista a importância dos princípios no âmbito jurídico, visto que estes são guias no momento da efetivação do direito positivo brasileiro, e considerando o eterno im-passe quanto à existência ou não de uma hierarquia entre eles, faz-se necessário a abordagem do tema através do presente trabalho.

Contudo, não se esgotará tentando somente resolver o questionamento acerca da hierarquia principiológica constitucional, pois, dada a relevância do tema, será feita também uma análise comparativa entre dois princípios fundamentais no Direito, são eles: Principio da Dignidade da Pessoa Humana e Supremacia do Interesse Público. De fato, torna-se im-possível abordar esse tema sem mencionar esses dois princípios, que de fato, se comprovada à existência de um escalonamento, estes, estariam no vértice da pirâmide.

É importante frisar que na vida prático-profissional depara-se constantemente com conflitos entre as fontes do Direito, porém, quando se trata de princípios, e principalmente, quando o conflito é entre a dignidade da pessoa humana e o interesse público, chegar a uma solução justa é ainda mais difícil, pois diferentemente das normas, não há regras para a so-lução desses impasses, por isso fica sempre uma dúvida quanto a essa questão. Desse modo, como foi dito anteriormente surge uma grande necessidade acerca do tema.

Desse modo, o objetivo principal deste artigo é analisar a normatividade, a apli-cação separada e conjunta dos princípios constitucionais e, de forma especifica tratar dos princípios da dignidade da pessoa humana e do interesse público.

A fundamentação teórica do presente trabalho demonstra o conhecimento acerca da literatura básica do tema em destaque, que traz como dito anteriormente, a análise da hierarquia principiológica constitucional, e ainda faz um comparativo entre os princípios da dignidade da pessoa humana e o interesse público.

Tendo por base esse tema, o desenvolvimento do trabalho se dará a partir de concei-tos, espécies, contexto histórico, comparações e por fim, a pesquisa a ser desenvolvida. PRINCÍPIOS DO DIREITO

Conceito, Aplicação e Normatividade dos Princípios Gerais do Direito

A Constituição Federal de 1988, no seu art.59, estabelece o processo legislativo e organiza as fontes primárias do Direito segundo um escalonamento hierárquico. Con-tudo, as fontes são se esgotam somente nesse rol. Existem ainda as fontes secundárias do Direito, que foram consagradas na Lei de Introdução ao Código Civil, e que merecem grande destaque, entre eles podem ser citados os costumes e os princípios gerais do di-reito. Porém, os princípios gerais do direito demonstram valor ímpar dado o seu elevado sentimento de justiça.

Realle (2006, p. 304) define princípios da seguinte forma:

Enunciações normativas de valor genérico, que condicionam e orientam a compre-ensão do ordenamento jurídico, quer para sua aplicação e integração, quer para a elaboração de novas normas. Cobre desse modo, tanto o campo da pesquisa pura, quanto o de sua atualização prática.

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A palavra “princípio”, derivada do latim, se refere a início, origem, base. No dicio-nário Aurélio Buarque de Holanda1 princípio é definido da seguinte maneira:

s.m. Começo, origem, fonte. / Física. Lei de caráter geral que rege um conjunto de fenômenos verificados pela exatidão de suas consequências: princípio da equiva-lência. / &151; S.m.pl. Regra da conduta, maneira de ver. / Regras fundamentais admitidas como base de uma ciência, de uma arte etc.

Desse modo, em termos gerais, a palavra princípio relaciona-se com regras funda-mentais, que consiste na diretriz de alguma coisa. Para o Direito em especial, princípio é a pedra angular do sistema, ou seja, a fonte das fontes.

Conforme De Plácido e Silva (2001, p. 639) princípios são:

Princípios, no plural, significam as normas elementares ou os requisitos primordiais instituídos como base, como alicerce de alguma coisa [...] revelam o conjunto de regras ou preceitos, que se fixam para servir de norma a toda espécie e ação jurídica, traçando, assim, a conduta a ser tida em qualquer operação jurídica [...] exprimem sentido mais relevante que o da própria norma ou regra jurídica [...] mostram-se a própria razão fundamental de ser das coisas jurídicas, convertendo-as em perfeitos axiomas [...] significam os pontos básicos, que servem de ponto de partida ou de elementos vitais do próprio Direito.

Realle (2006, p. 303) afirma que se trata de:

[...] verdades fundantes de um sistema de conhecimento, como tais admitidas, por serem evidentes ou por terem sido comprovadas, mas também por motivos de or-dem prática de caráter operacional, isto é, como pressupostos exigidos pelas neces-sidades da pesquisa e da práxis.

Como visto, no mundo jurídico, os princípios possuem uma validade enorme, sen-do inquestionável sua supremacia perante as demais normas sen-do ordenamento.

Pelo caráter geral, eles são utilizados de várias formas: para suprir lacunas; para orientar a produção legislativa; para solucionar conflitos entre normas;

De acordo com Bastos (2000, p. 55-6) os princípios possuem um enorme valor: [...] nos momentos revolucionários, resulta saliente a função ordenadora dos princí-pios. [...] Outras vezes, os princípios desempenham uma ação imediata, na medida em que tenham condições para serem auto-executáveis. Exercem, ainda, uma ação tanto no plano integrativo e construtivo como no essencialmente prospectivo. [...] Finalmente, uma função importante dos princípios é a de servir de critério de inter-pretação para as normas. Se houver uma pluralidade de significações possíveis para a norma, deve-se escolher aquela que a coloca em consonância com o princípio, porque, embora este perca em determinação, em concreção, ganha em abrangência. Como destacado pelo autor, os princípios constitucionais, possuem importância ímpar, visto que eles são cobertos por um profundo senso de justiça e valores que regem todo

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o sistema, por isso, são diretrizes obrigatórias para a interpretação e aplicação das normas jurídicas.

É certo, que todas as normas, devem se adequar perfeitamente aos princípios, para juntos formarem um todo harmônico.

Bonavides (2001, p. 229) completa a afirmação trazendo a generalidade e força normativa dos princípios: “Princípios são verdades objetivas, nem sempre pertencentes ao mundo do ser, senão do dever-ser, na qualidade de normas jurídicas, dotadas de vigência, validez e obrigatoriedade”.

É inquestionável a força normativa dos princípios do direito. Como pondera o doutrinador, assim como as normas, são dotados de validade, vigência e, são sem dúvida, obrigatórios.

O art. 4º da Lei de Introdução ao Código Civil estabelece a aplicação dos princípios gerais do direito sempre que a lei for omissa nos seguintes termos: “Art. 4o Quando a lei for omis-sa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito”.

Não é raro encontrar no mundo jurídico situações que não foram pensadas an-teriormente pelo legislador, por isso, em situações que não há previsão legal aplicam-se os princípios. Contudo, como dito anteriormente, os princípios, não são usados somente para suprir lacunas ou omissões deixadas pelo legislador, existem situações que são aplicados como verdadeiras normas.

A ementa abaixo do Superior Tribunal de Justiça demonstra a aplicação do princípio da dignidade da pessoa humana frente à lacuna deixada pela lei civil, uma vez que o legislador não se preocupou em resguardar o direito dos casais homoafetivos com o devido cuidado:

DIREITO CIVIL. FAMÍLIA. AÇÃO DE RECONHECIMENTO DE UNIÃO HOMOAFETIVAPOST MORTEM. DIVISÃO DO PATRIMÔNIO ADQUI-RIDO AO LONGO DORELACIONAMENTO. EXISTÊNCIA DE FILHO ADOTADO PELO PARCEIRO FALECIDO. PRESUNÇÃO DE ESFORÇO COMUM.

1. Despida de normatividade, a união afetiva constituída entrepessoas de mesmo sexo tem batido às portas do Poder Judiciário antea necessidade de tutela. Essa circunstância não pode ser ignorada,seja pelo legislador, seja pelo julgador, que devem estar preparadospara regular as relações contextualizadas em uma socie-dadepós-moderna, com estruturas de convívio cada vez mais complexas, a fim de albergar, na esfera de entidade familiar, os mais diversos arranjos vivenciais.

2. Os princípios da igualdade e da dignidade humana, que têm comofunção prin-cipal a promoção da autodeterminação e impõem tratamentoigualitário entre as diferentes estruturas de convívio sob o âmbitodo direito de família, justificam o reconhecimento das parceriasafetivas entre homossexuais como mais uma das várias modalidades deentidade familiar.

3. O art. 4º da LICC permite a equidade na busca da Justiça. Omanejo da analo-gia frente à lacuna da lei é perfeitamente aceitável para alavancar, como entidades

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familiares, as uniões de afeto entrepessoas do mesmo sexo. Para ensejar o reconhe-cimento, como entidadesfamiliares, de referidas uniões patenteadas pela vida social entreparceiros homossexuais, são de rigor a demonstração inequívoca dapresença dos elementos essenciais à caracterização de entidadefamiliar diversa e que serve, na hipótese, como parâmetro diante dovazio legal - a de união estável - com a evidente exceção dadiversidade de sexos.

4. Demonstrada a convivência, entre duas pessoas do mesmo sexo, pública, contí-nua e duradoura, estabelecida com o objetivo deconstituição de família, sem a ocor-rência dos impedimentos do art. 1.521 do CC/02, com a exceção do inc. VI quanto à pessoa casada separada de fato ou judicialmente, haverá, por consequência, o reconhecimento dessa parceria como entidade familiar, com arespectiva atribuição de efeitos jurídicos dela advindos.

5. Comprovada a existência de união afetiva entre pessoas do mesmosexo, é de se reconhecer o direito do companheiro sobrevivente à meação dos bens adquiridos a título oneroso ao longo dorelacionamento, em nome de um apenas ou de ambos, sem que se exija,para tanto, a prova do esforço comum, que nessescasos, é presu-mida.

6. Recurso especial não provido.

(STJ .REsp 1199667 MT 2010/0115463-7 Relatora: Ministra NANCY ANDRI-GHI Julgamento:19/05/2011 Órgão Julgador:T3 - TERCEIRA TURMA.DJe 04/08/2011, grifo nosso).

Como visto, embora sejam bem mais gerais que as normas, os princípios, possuem normatividade própria capaz de vincular assim como as leis.

Acerca da normatividade dos princípios Silva Júnior (2008, p. 57) completa: Toda norma atesta a existência de um principio, da qual aquela retira sua valida-de, assim, se aquela possui normatividade junto ao sistema jurídico pátrio, não há como afastar tal característica desta, vez que a prática do mais induz a realização do ato de menor valor.

Diante da expressividade normativa, e do forte senso de justiça dos princípios do direito, é fundamental a sua utilização frente os conflitos de interesses.

HIERARQUIA ENTRE OS PRINCÍPIOS DO DIREITO

As normas, no Brasil, são organizadas segundo o modelo proposto por Kelsen (2009, p. 215):

O fundamento de validade de uma norma apenas pode ser a validade de outra norma. Uma norma que representa o fundamento de validade de outra norma é figurativa-mente designada como uma norma superior, por confronto com uma norma que é,

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em relação a ela, a norma inferior. Na verdade, parece que se poderia fundamentar a validade de uma norma com o fato de ele ser posta por qualquer outra autoridade, por um ser humano ou supra-humano: assim acontece quando se fundamenta a validade dos Dez Mandamentos com o fato de Deus, Jeová, os ter dado no Monte Sinai. Desse modo, de acordo com o modelo de Kelsen, as normas se posicionam de for-ma sistemática, onde o fundamento de validade de ufor-ma, é a validade de outra. Isso porque estão distribuídas hierarquicamente, como se estivessem disposta sem uma pirâmide.

Assim sendo, o ordenamento jurídico brasileiro é composto por um conjunto har-mônico de normas escalonadas que formam um sistema que busca a defesa da ordem social e jurídica. Esse sistema é organizado em forma piramidal, ou seja, através de um escalonamento hierárquico, de modo que, no vértice da pirâmide encontra-se a norma fundamental, aquela de maior valor, ou seja, a Constituição Federal, da qual deriva as demais normas.

Essa organização normativa hierárquico-piramidal, proposta por Hans Kelsen, foi consagrada na Constituição Federal Brasileira nos seguintes termos:

Art. 59. O processo legislativo compreende a elaboração de: I emendas à Constituição;

II leis complementares; III leis ordinárias; IV leis delegadas; V medidas provisórias; VI decretos legislativos; VII resoluções.

Contudo, como foi visto anteriormente, o ordenamento jurídico também é com-posto por princípios que formam a base, e que são as diretrizes de todo o sistema.

Não restam dúvidas acerca da validade e normatividade dos princípios gerais do direito. Contudo, permanece um impasse acerca da organização destes.

Questiona-se a possibilidade de organizá-los da mesma maneira que as normas, ou seja, poderia os princípios ser distribuídos de forma sistemática em uma pirâmide? Mais precisamente, existe hierarquia entre os princípios?

Pois bem, a resposta é não. A mesma hierarquia não existe entre os princípios gerais do direito. Estejam eles explícitos ou implícitos na Constituição Federal, o certo é que cada princípio possui o seu próprio valor.

O que existe são campos distintos de atuação. Cada princípio visa uma determina-da proteção, ou seja, o campo de aplicação de um distingue-se do outro.

Embora, muitas vezes, pareça haver uma superioridade de um principio em relação a outro, de fato, todos possuem o mesmo valor jurídico. O que se pode observar entre eles é uma diferença quanto à aplicação. Ou seja, alguns possuem uma utilização mais ampla, constituindo conceitos abertos, e são usados para dirimirem diversos conflitos, por exemplo, o principio da supremacia do interesse público, da segurança jurídica, do devido processo legal, etc.

Esses princípios, cuja aplicação é mais ampla, em um primeiro momento demons-tram uma superioridade em relação aos demais, porém por emanarem da mesma fonte (CF /88) essa superioridade não prossegue.

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Contudo, esse entendimento não está pacificado, e por isso gera posicionamentos contrários. A corrente contrária considera que por serem normas, os princípios jurídicos são hierarquicamente escalonados. Nesse sentido contrário, Geraldo Ataliba afirma:

O sistema jurídico [...] se estabelece mediante uma hierarquia segundo a qual algumas normas descansam em outras, as quais, por sua vez, repousam em princípios que, de seu lado, se assentam em outros princípios mais importantes. Dessa hierarquia decorre que os princípios maiores fixam as diretrizes gerais do sistema e subordinam os prin-cípios menores. Estes subordinam certas regras que, à sua vez, submetem outras [...].2

Data vênia, o presente artigo vai de encontro com este entendimento, por isso, afir-ma que inexiste subordinação entre os princípios presentes no corpo constitucional quando tratados isoladamente. De maneira geral, os princípios estão dispostos lado a lado.

A colisão entre os princípios somente ocorre quando convocados a dirimir conflito no mesmo caso concreto. Por isso, quando isolados, não há preponderância de um em detri-mento do outro.

Segundo Silva Júnior (2008, p. 60): “Ideologicamente, pode-se afirmar que não há hie-rarquia entre os princípios constitucionais, desde que analisados isoladamente, de forma abstrata”. O INTERESSE PÚBLICO E A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

Restou demonstrado que não há hierarquia entre os princípios quando tratados isoladamente. O que existe é, tão somente, um maior campo de aplicação. Ou seja, existem princípios mais genéricos, com uma maior amplitude junto ao caso concreto, por alcançarem mais situações que outros. É indiscutível, por exemplo, que o devido processo legal possui maior abrangênciaque o principio do juiz natural.

Tendo em vista, esse campo de aplicação, dois grandes princípios são trazidos à análise: O Interesse Público, também chamado de Supremacia do Interesse Público, e a Dig-nidade da Pessoa Humana. Será possível definir qual possui maior amplitude? Passamos ao estudo de cada um.

DEFINIÇÃO DE INTERESSE PÚBLICO

Interesse público pode ser considerado um dos conceitos mais abstratos do Direito. Não se sabe ao certo qual a melhor definição, o que se pode afirmar com certeza é que, em-bora indefinido, este princípio norteia todo o ordenamento.

Também denominado de principio da finalidade pública, este princípio, está intima-mente ligado ao Direito Administrativo, pois é o fundamento que guia a elaboração e execução das leis que regeramà Administração Pública. Trata-se de um princípio voltado à proteção do bem comum, finaliza resguardar os direitos do maior número de pessoas, ou seja, da coletividade.

Segundo Di Pietro (2006, p. 82): “Ele inspira o legislador e vincula a autoridade administrativa em toda a sua atuação”.

O princípio da finalidade pública é a diretriz das leis de direito público, contudo, há exceções, como por exemplo, as normas referentes ao direito de família, que, muito embora, sejam normas de direito privado, são, inegavelmente baseadas no principio em destaque.

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Meirelles (2006, p. 103) ensina:

O princípio do interesse público está intimamente ligado ao da finalidade. A pri-mazia do interesse público sobre o privado é inerente à atuação estatal e domina-a, na medida em que a existência do Estado justifica-se pela busca do interesse geral. Em razão dessa inerência, deve ser observado mesmo quando as atividades ou ser-viços públicos forem delegados aos particulares.

O princípio em destaque, talvez seja o de maior amplitude. Destacam-se as infinitas situações em que o interesse público é convocado a solucionar conflitos.

Mello (2005. p. 61) define Interesse Público assim:

O interesse público deve ser conceituado como o interesse resultante do conjunto dos interesses que os indivíduos pessoalmente têm quando considerados em sua qualidade de membros da Sociedade e pelo simples fato de o serem.

Dada essa enorme abrangência, às vezes, parece que o mesmo está acima dos de-mais, por isso é tratado até mesmo como “supremo”, porém, ele é mais aplicado devido à ten-dência atual do direito de sobrepor o público ao privado, mas o interesse público, analisado como princípio do direito, não se encontra no ápice do ordenamento, por isso a nomencla-tura dada a ele é equivocada.

O Interesse Público, embora seja um princípio de grande relevância dentro do sis-tema jurídico brasileiro, encontra limites nas garantias fundamentais. Assim sendo, como afir-mado anteriormente, não pode ser chaafir-mado de “supremo”, pois existe uma relativização do mesmo quando contraposto a uma garantia individual. Desse modo, em meio a um conflito de interesses, o interesse público não sobrepõe automaticamente ao privado, é preciso preponde-rar aplicando a razoabilidade e a proporcionalidade para alcançar um resultado justo.

Assim sendo, o Interesse Público está voltado à coletividade e tem como objetivo principal o comprometimento com o bem comum, porém é definido erroneamente como sendo um princípio superior.

O fundamento do Interesse Público é bastante aplicado pelos Tribunais Supe-riores no Brasil. Não são raras as decisões baseadas unicamente na visão do magistrado acerca do que é melhor para a coletividade, e que do seu ponto de vista atende a finalidade pública. A lei prevê atos administrativos fundamentados no Interesse Público, como exemplo se tem: a requisição, a servidão, o tombamento, entre outros. Contudo, o exemplo clássico em que ocorre a aplicação do princípio do Interesse Público, em desvantagem do interesse individual, é a desapropriação.

Prevista no art. 5°, XXIV c/c o art. 184 da Constituição Federal, na desapropriação, a propriedade privada é relativizada, tendo em vista a função social da mesma.

A jurisprudência abaixo revela a preponderância do público sobre o privado no caso da desapropriação:

AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE DESAPROPRIAÇÃO - SUSPEN-SÃO DA LIMINAR DE IMISSUSPEN-SÃO DE POSSE - DIFERENÇA EXPRESSIVA ENTRE OS LAUDOS DO ASSISTENTE TÉCNICO DO MUNICÍPIO E DO

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PERITO JUDICIAL - INDÍCIOS DE SUPERVALORIZAÇÃO DO IMÓVEL - QUESTÕES A SEREM ENFRENTADAS NO DECORRER DO PROCESSO - PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE - DEPÓSITO PRÉVIO DE 50% DA AVALIAÇÃO PROVISÓRIA - CONTINUAÇÃO DA OBRA PÚBLICA -

SU-PREMACIA DO INTERESSE PÚBLICO SOBRE O PRIVADO - RECURSO PRO-VIDO. O princípio da indenização prévia e justa do imóvel desapropriado deve sempre estar conciliado com o do interesse público, a fim de se evitar transtornos às necessida-des e planos traçados pela Administração Pública. Dessa forma, havendo declaração

de urgência, juntamente com as peculiaridades do caso concreto, mostra-se mais acertado conceder a imissão provisória na posse mediante depósito prévio de 50% (cinquenta por cento) do valor encontrado pelo perito judicial, nos termos do art. 3º do Decreto-Lei n. 1.075/70. “A norma do art. 3º do Decreto-Lei nº 1.075/70, que permite ao desapropriante o pagamento da metade do valor arbitrado, para imitir-se provisoriamente na posse de imóvel urbano, já não era incompatível com a Carta precedente (RE 89.033 - RTJ 88/345 e RE 91.611 - RTJ 101/717) e nem o é com a atual. Recurso extraordinário não conhecido” (STF. RE n. 141795/SP, j. 4/8/95 e RE n. 164186/SP, j. 19/11/96, rel. Min. Ilmar Galvão).(TJ-SC - AI: 72110 SC 2003.007211-0, Relator: Rui Fortes, Data de Julgamento: 27/06/2003, Terceira Câmara de Direito Público, Data de Publicação: Agravo de Instrumento n. , de São José).

Salienta-se que a desapropriação é precedida de justa indenização paga pelo Estado ao particular, proprietário ou possuidor do imóvel. Porém, não se pode negar,que se trata de uma medida bastante dolorosa e rude, haja vista que no momento da retirada do particular de seu imóvel, a Administração Pública não considera motivos pessoais, ou seja, aqueles de caráter afetivo que não são passíveis de valoração.

DEFINIÇÃO De DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

Diferentemente do principio do Interesse Público, a Dignidade da Pessoa Humana é um principio individualista, que sobrepõe o interesse privado sobre o público. A finalidade do principio em tela, é resguardar os interesses do individuo, porém é tão abrangente quanto o tratado anteriormente.

A Dignidade da Pessoa Humana confronta-se com o principio do Interesse Públi-co, pois é uma forma de proteção do Homem como ser merecedor de respeito em todos os aspectos.

O legislador constituinte tratou do presente princípio no início do texto constitu-cional, no título I, nos seguintes termos:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Es-tados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

I a soberania; II a cidadania;

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IV os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V o pluralismo político.

O princípio em tela é uma diretriz para o Legislativo, Executivo e Judiciário. Segun-do Pinho (2005, p. 398):

A dignidade da pessoa humana, pois, é um princípio norteador de todo o ordena-mento jurídico brasileiro, busca a valorização da pessoa, do cidadão enquanto in-dividualidade, do ser com capacidade própria de raciocínio. A dignidade da pessoa humana é a garantia das condições mínimas de sobrevivência para que o homem possa exercer os direitos oportunizados pela garantia de ser cidadão. Ou seja, numa perspectiva de um Estado Social, a dignidade da pessoa humana encontra expressão em um Estado ativo, atuante no sentido de proporcionar à comunidade o pleno respeito aos direitos humanos de segunda geração.

Ainda completa o autor quanto à dignidade da pessoa humana:

[...] o sistema constitucional não se pode afastar do principio essencial de que toda ordem jurídica deve gravitar em torno das bases insertas no art. 1°, da Constituição Federal de 1988, em especial a prevista no seu inciso III, segundo a qual a Repú-blica Federativa do Brasil tem como um dos fundamentos a dignidade da pessoa humana (PINHO, 2005, p. 396).

O mundo contemporâneo passou a valorizar o ser humano e vê-lo como um fim em si mesmo. E hoje, nas constituições modernas, é tido como premissa e objeto de proteção nos textos constitucionais atuais.

A respeito da concepção moderna da pessoa humana Pinho (2005, p. 397) defende: São atualmente duas as concepções da pessoa humana que procuram dar suporte à ideia de sua dignidade: a concepção insular, ainda dominante, fundada no homem como razão e vontade, segundo uns, e como autoconsciência, segundo outros, que se tornou evidentemente insuficiente; e a concepção própria de uma nova ética, fundada no homem como ser integrado à natureza, participante especial do fluxo vital que a perpassa há milhões de anos, e cuja nota específica não está na razão e na vontade, que também os animais superiores possuem, ou na autoconsciência, que pelo menos os chimpanzés também têm, e sim, e muito diferentemente, na capa-cidade do homem de sair de si, reconhecer no outro um igual, usar a linguagem, dialogar e, ainda, principalmente, na sua vocação para o amor, como entrega espi-ritual a outrem. A primeira concepção leva ao entendimento da dignidade humana como autonomia individual ou autodeterminação; a segunda, como qualidade do ser vivo, capaz de dialogar e ser chamado à transcendência.

Desse modo, as ações por parte do Estado, dado seu caráter democrático, devem ser avaliadas, visando não colidir com a dignidade da pessoa humana, sob pena de qualquer ato que atente ao princípio ora destacado, ser declarado inconstitucional, pois, como se sabe,

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cada pessoa, independentemente de cor, credo, condição financeira, é dotada de dignidade, devendo ser, portanto, colocada pelo Estado como um paradigma avaliativo e um dos ele-mentos imprescindíveis de atuação deste.

A Constituição Federal de 1988, ao declarar que a dignidade da pessoa humana é fundamento da República Federativa do Brasil, afirmou que o Estado existe em função de todas as pessoas e não o contrário. Enfatiza-se que na Constituição atual as garantias funda-mentais foram colocadas em um capítulo anterior ao da organização do Estado, e por isso é reconhecida como a “Constituição Cidadã”.

Muito embora a dignidade da pessoa humana esteja expressamente no rol das ga-rantias fundamentais, muitas vezes está é relativizada por colidir com algum outro direito ou principio, por isso, não se trata de um principio absoluto, cuja aplicação seja automática. Ao contrário, trata-se de um principio também sujeito a colisão, desse modo, somente no caso concreto é possível avaliar sua precedência. O que se pode afirmar com convicção é que, mes-mo tendo que se submeter à apreciação de forma concreta quando em conflito, o princípio da dignidade da pessoa humana, assim como o princípio do interesse público, possui um campo de aplicação que o distingue dos demais princípios do direito.

Assim, o princípio da dignidade da pessoa humana se refere às exigências básicas do ser humano para que esse possa manter uma existência digna e propiciar condições para que esse desenvolva suas potencialidades enquanto ser dotado de inteligência e sentimentos.

A ementa abaixo demonstra a aplicação concreta do principio da dignidade da pes-soa humana em nossos tribunais:

Processo civil. Direito civil. Execução. Lei 8.009/90. Penhora debem de família. Devedor não residente em virtude de usufrutovitalício do imóvel em benefício de sua genitora. Direito à moradiacomo direito fundamental. Dignidade da pessoa humana. Estatuto doidoso. Impenhorabilidade do imóvel.

1. A lei 8.009/1990 institui a impenhorabilidade do bem de famíliacomo um dos instrumentos de tutela do direito constitucionalfundamental à moradia e, portan-to, indispensável à composição de ummínimo existencial para vida digna, sendo certo que o princípio da dignidade da pessoa humana constitui-se em um dos baluartes

da República Federativa do Brasil (art. 1º da CF /1988), razão pela qual deve nortear a exegese das normas jurídicas, mormente aquelasrelacionadas a direito fundamental.

2. A carta política, no capítulo VII, intitulado ‘da família, da criança, do adolescen-te, do jovem e do idoso’, preconizou especial proteção ao idoso, incumbindo desse mister a sociedade, o estado e a própria família, o que foi regulamentado pela lei 10.741/2003 (estatuto do idoso), que consagra ao idoso a condição de sujeito de todos os direitos fundamentais, conferindo-lhe expectativa de moradia digna no seio da família natural, e situando o idoso, por conseguinte, como parte integrante dessa família.

3. O caso sob análise encarta a peculiaridade de a genitora do proprietário residir no imóvel, na condição de usufrutuária vitalícia, e aquele, por tal razão, habita com sua família imóvel alugado. Forçoso concluir, então, que a Constituição Federal alçou

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o direito à moradia à condição de desdobramento da própria dignidade humana, razão pela qual, quer por considerar que a genitora do recorrido é membro dessa entidade familiar, quer por vislumbrar que o amparo à mãe idosa é razão mais do que suficiente para justificar o fato de que o nu-proprietário habita imóvel alugado com sua família direta, ressoa estreme de dúvidas que o seu único bem imóvel faz jus à proteção conferida pela lei 8.009/1990.

4. Ademais, no caso ora sob análise, o tribunal de origem, com ampla cognição fático-probatória, entendeu pela impenhorabilidade do bem litigioso, consignando a inexistência de propriedade sobre outros imóveis. Infirmar tal decisão implicaria o revolvimento de fatos e provas, o que é defeso a esta corte ante o teor da súmula 7 do STJ.

5. Recurso especial não provido. (STJ - resp: 950663 sc 2007/0106323-9, Relator: Ministro Luis Felipe Salomão, data de julgamento: 10/04/2012, t4 - quarta turma, data de publicação: Dje 23/04/2012, grifo nosso).

APLICAÇÃO SIMULTÂNEA DOS PRINCÍPIOS DO DIREITO E A SOLUÇÃO PARA OS CONFLITOS SURGIDOS

A Colisão entre os Princípios

Diante das afirmações anteriores, resta demonstrada a inexistência de qualquer gra-duação entre os princípios constantes do ordenamento jurídico pátrio.

Desse modo, quando tratados de forma abstrata, verifica-se que os mesmos estão dispostos lado a lado, de forma que não haja escalonamento entre eles. Até mesmo aqueles que aparentam certo grau de superioridade por possuírem uma aplicação imediata maior,na realidade encontram-se no mesmo nível dos demais. Neste sentido merece destaque os prin-cípios da Dignidade da Pessoa Humana e do Interesse Público, que embora pareçam estar no topo da ordem jurídica, possuem como dito em páginas anteriores, tão somente um maior campo de aplicação em relação aos demais princípios, porém, essas características não os tor-nam “supremos”.

A normatividade existente nos princípios do ordenamento jurídico também foi confirmada em páginas preteridas. Entretanto, para consolidar esse entendimento merecem destaque os ensinamentos de Bonavides (apud ESPÍNDOLA, 1999, p.57):

Os princípios gerais são, a meu ver, normas fundamentais ou generalíssimas do sistema, as normais mais gerais. O nome de princípios induz em engano, tanto que é velha questão entre juristas se os princípios são ou não são normas. Para mim não há dúvida: os princípios gerais são normas como todas as demais. E esta tam-bém é a tese sustentada pelo estudioso que mais amplamente se preocupou com a problemática, ou seja, Crisafulli. Para sustentar que os princípios são normas, os argumentos vêm a ser dois e ambos válidos: antes de tudo, se são normas aquelas das quais os princípios gerais são extraídos, através de um procedimento de genera-lização sucessiva, não se vê por que não devam ser também normas eles: se abstraio

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de espécies animais, obtenho sempre animais, e não flores ou estrelas. Em segundo lugar, a função para a qual são abstraídos e adotados é aquela mesma que é cumpri-da por tocumpri-das as normas, isto é, a função de regular um caso.

A dúvida que ainda permanece é, uma vez distribuídos de forma igualitária em nosso ordenamento, distinguindo-se basicamente pelo campo de aplicação, como deve o operador do direito se posicionar frente a uma aplicação conjunta dos princípios, em que um anula o outro, de forma a se colidirem frontalmente? Vale ressaltar, que este, se trata do questionamento central do presente trabalho: Como solucionar um conflito entre princípios haja vista que diferentemente das normas não existem regras preestabelecidas a esse respeito?

Pois bem, ocorrendo divergências entre normas é simples solucioná-las, uma vez que existem parâmetros para isso. Ruy Espíndola chama esse conflito aparente de normas de “antinomia jurídica própria”, e o conflito entre princípios de “antinomia jurídica imprópria”. E segundo Espíndola (1999, p. 69):

Pela primeira confrontação, a das regras em si, exclui-se do sistema jurídico a regra conflitante, em face da incompatibilidade entre essa e outra norma situada no mesmo plano de validade, pertencentes ao mesmo ordenamento. Ou seja, é na dimensão da validade que se resolve o problema entre as regras conflitantes. Essa decisão de se afastar a regra incompatível dá-se por critérios afixados em cada ordem jurídica [...]. E ainda completa:

Pelo segundo contraste, a colisão entre princípios – antinomias jurídicas impróprias-

não conduz à exclusão da ordem jurídica de uma das normas conflitantes. Há

incom-patibilidade não exclusão. Nesses casos, segundo Dworkin, o aplicador do Direito opta por um dos princípios, sem que o outro seja rechaçado do sistema, ou deixe de ser aplicado a outros casos que comportem sua aceitação. Ou seja, afastado um princípio colidente, diante de certa hipótese, não significa que, em outras situações, não venha o afastado a ser aproximado e aplicado em outros casos.

Desse modo, embora pareça absurdamente complexo solucionar um conflito entre princípios, haja vista seu status de igualdade no ordenamento, para isso basta o uso dos prin-cípios da razoabilidade e proporcionalidade. Ou seja, uma vez presentes no caso concreto dois princípios antagônicos, naquele momento apenas um será útil, de forma que o outro não será invalidado, mas resguardado para outra ocasião, pois, embora ele não se amolde àquele caso concreto, o mesmo continua plenamente válido.

Ressalta-se que a opção pela aplicação de determinado princípio em detrimento de outro, não gera desobediência ao afastado, pois, nesse momento, os mesmos se sobressaem em relação ao peso naquela relação jurídica, já que somente princípios válidos podem colidir.

Para Grau (1990, p. 116):

Isso significa que, em cada caso, se armam diversos jogos de princípios, de sorte que diversas soluções e decisões, em diversos casos, podem ser alcançadas, umas privile-giando a decisividade de certo princípio, outras a recusando.

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Por fim, cumpre novamente citar Grau (1990, p. 134):

[...] é preciso anotar, que as regras são concreções dos princípios; são especificações regulatórias desses; são desdobramentos normativos dos mesmos. Assim, cumpre observar que não se manifestam antinomias, conflitos, colidências entre princípios e regras. Desta forma, quando em confronto dois princípios, um prevalece sobre o outro, e as regras que dão concreção ao que foi desprezado são afastadas, e essas não se aplicaram a determinada hipótese, ainda que permaneçam integradas, vali-damente, no ordenamento jurídico.

CONCLUSÃO

Diante do exposto, conclui-se que a função dos princípios, sejam eles implícitos ou explícitos, dentro do ordenamento jurídico pátrio ultrapassa o que comumente é pensado. Pois, conforme a análise realizada, os mesmos não têm como única finalidade suprir lacunas, de modo a serem usados de forma subsidiária, mas, pelo contrário, funcionam como verda-deiras diretrizes a qual se alicerça toda a ordem jurídica de nosso país. Trata-se, pois, da fonte primária que inspira o Legislador, o aplicador do Direito, e, até mesmo, o Executivo.

Entretanto, o que ocorre quase sempre é o uso secundário dos princípios, fato esse que ocorre devido o caráter abstrato dos mesmos, o que acaba gerando insegurança a quem se atreve a utilizá-los. Mas por outro lado, os princípios possuem uma característica peculiar bastante favorável, que, a propósito os diferem das normas, trata-se da maleabilidade. O que se nota, é que são bem mais ajustáveis aos casos concretos, haja vista que fogem da taxativi-dade das leis.

Os princípios humanizam o Direito, porque, como dito, retiram a rigidez das nor-mas, e são movidos por um enorme senso de justiça, por essa característica humanística, não é possívelidentificar entre eles hierarquia.

O que se vê em relação aos princípios é que são utilizados de modo substancial, cada um possuindo de sua maneira o seu valor e seu campo de aplicação. Assim, quando trazidos ao caso concreto, é necessário através da proporcionalidade e razoabilidade preponderá-los, para que possam ser utilizados simultaneamente.

Enfatiza-se que, a aplicação conjunta de princípios, assim como a solução para os conflitos aí surgidos, é solucionada pelas regras da ponderação. Desse modo, em determi-nadas situações há a preponderância de um em detrimento do outro, o que não retira a sua validade, pois em outro caso concreto poderá ser aplicado.

Desse modo, tendo em vista todas as considerações anteriores, é possível afirmar que os princípios, embora sejam a base do ordenamento, funcionam como válvula de escape, pois somente são utilizados de forma suplementar. Entretanto, seria um grande avanço, se fosse deixado de lado um pouco à legalidade e a taxatividade das normas, a fim de se funda-mentar mais decisões usando os princípios, haja vista que se amoldam melhor a realidade. De fato, essa fonte do direito merece um maior destaque no ordenamento.

HIERARCHY AMONG THE CONSTITUTIONAL PRINCIPLES: THE DIGNITY OF THE HUMAN PERSON FACE THE PUBLIC INTEREST

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Abstract: this article aims at the study of constitutional principles in order to verify the existence

among them of a tiered organization the same way as occurs with other provisions of law. And yet, an analysis will be carried out for normalizing and applying those principles to specific cases. So initially, oversees the analysis of the principles according to the initial lessons of law. Then move on to the more precise study of the principles of human dignity and the public interest in order to understand how they relate to the legal world and still see if there is a relativity between them when applied simultaneously. Finally, we analyzed the joint application of constitutional prin-ciples, bringing doctrinal and jurisprudential differences, so that we can solve, more fairly, conflicts involving the specific principles of human dignity and the public interest.

Keywords: Principles. Hierarchy. Dignity of the Human Person. Public Interest. Application.

Notas

1 Disponível em: <http:/www.dicionariodoaurelio.com.br>.

2 Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/6824/o-papel-dos-principios-no-ordenamento-juridi-co/2>. Acesso em: 03 maio 2013.

Referências

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Referências

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