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As jornadas de agroecologia da Bahia: a sua relevância como espaços de educação não formal / Bahia's agroecology days: their relevance as spaces of non-formal education

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Academic year: 2020

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 10, p. 77856-77867, oct. 2020. ISSN 2525-8761

As jornadas de agroecologia da Bahia: a sua relevância como espaços de

educação não formal

Bahia's agroecology days: their relevance as spaces of non-formal education

DOI:10.34117/bjdv6n10-277

Recebimento dos originais: 08/09/2020 Aceitação para publicação: 14/10/2020

Carlos dos Santos Viana

Especializando em DRS- IFBAIANO

Especialista em Educação do Campo pela UESC-BA

Graduado do em Ciências Sociais - UESC. Técnico em Agropecuária- IFBAIANO Técnico em Agroecologia – CEEPCMS, Diretor do Instituto de Apoio ao Desenvolvimento Ambiental e Humano – IDEAH, Membro da Teia dos Povos, integrante do Grupo de Estudos

Movimentos Sociais, Diversidade e Educação do Campo e Cidade - Gepemdecc/CNPq E-mail: viana.carlossantos@gmail.com

Arlete Ramos dos Santos

Pós-Doutorado em Educação e Movimentos Sociais pela UNESP Doutora e Mestre em Educação (FAE/UFMG)

Professora Titular da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia

Professora do Programa de Pós-Graduação, Mestrado em Educação da UESB (PPGEd/Uesb) Profa. do PPGE/UESC

Coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em Movimentos Sociais, Diversidade e Educação do Campo e Cidade – Gepemdecc/CNPq

E-mail: arlerp@hotmail.com

Igor Tairone Ramos dos Santos

Mestre em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGED/UESB) Graduado em Relações Internacionais pela UFPB

Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Movimentos Sociais, Diversidade e Educação do Campo e Cidade (Gepemdecc/CNPq)

E-mail: ramosdossantosigortairone@gmail.com

Emerson Antônio Rocha Melo de Lucena

Professor Adjunto do Departamento de Ciências Biológicas da Unicersidade Estadual de Santa Cruz (UESC), Doutorado em em Biologia Vegetal pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), representante da UESC no Comissão Interinstitucional de Educação Ambiental (CIEA) e foi representante no processo de construção do Programa de Educação Ambiental da Bahia

(PEA-BA), Coordenador da COINC/UESC E-mail: lucenaemerson@yahoo.com.br

Diego Pita Ramos

Mestre em Planejamento Territorial pela Universidade Estadual de Feira de Santana Especialista em Administração Mercadológica pelo Centro Universitário Leonardo Da Vinci Professor do ensino superior no Instituto de Ensino Superior de Ituberá, Faculdade de Educação

Social da Bahia

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 10, p. 77856-77867, oct. 2020. ISSN 2525-8761 Conselheiro do Instituto de Apoio ao Desenvolvimento Ambiental e Humano – Ideah

E-mail: dpitaramos@gmail.com

Marcelino Pinheiro dos Santos

Especialista em Psicologia Social pela UESC

Especialista em Ensino de Ciências e Matemática pela UESC Especialista em Educação do Campo pela UESC Membro do Grupo de Pesquisa GEPEMDC/UESC

Professor da Educação Básica

RESUMO

A crise na lavoura cacaueira levou o Sul da Bahia a mudanças significativas em suas bases produtivas no campo, principalmente no que diz respeito ao acesso à terra e nas relações de trabalho no campo e na cidade. No entanto, os povos tradicionais e o campesinato apresentaram dentro desse contexto histórico ações contra-hegemônicas, dentre as quais destacamos a I Jornada de Agroecologia da Bahia, que reuniu diversas comunidades de povos tradicionais, agricultores familiares, indígenas, acampados e assentados, pescadores, mulheres, juventude, movimentos sociais e entidades pensaram em criar um espaço permanente e, por isso, constituíram uma rede chamada Teia de Agroecologia dos Povos (Teia dos Povos). Os principais objetivos desse trabalho foram identificar e mapear de que forma as Jornadas Agroecologias da Bahia se caracterizam enquanto práticas vinculadas à conceituação da Educação Não Formal. O presente estudo se caracteriza como uma pesquisa qualitativa, cujo o seu o método de abordagem se deu por meio do estudo de caso, onde as informações analisadas nesta pesquisa se deram mediante vivência de campo, com dados levantados a partir de fontes primárias, por meio da participação em reuniões, através do procedimento da técnica de observação estruturada, direta e participante, complementadas por uma a pesquisa bibliográfica/documental, utilizando como fonte os documentos internos da Teia dos Povos. Com base nos resultados aqui obtidos, foi possível descrever e observar as dinâmicas dos espaços onde e como foram ocorridas algumas práticas educacionais, identificando-os como espaço de “Educação Não Formal”, com base, inclusive, em conceitos e abordagens contidas em diversos outros estudos. A Teia dos Povos originou-se a partir dos diálogos continuados da I Jornada de Agroecologia da Bahia, realizada no ano de 2012, no Assentamento Terra Vista, em Arataca-BA. Criada e organizada até os dias atuais em formato de rede, possui o papel de traçar a agenda de ações anuais que auxiliam no empoderamento, desenvolvimento e emancipação das comunidades e elos que a integram. Estes espaços não formais têm cunho político e pedagógico de instrumentalização dos povos do campo, que diante destes momentos durante a realização dessas jornadas pensam não só um campo a partir de suas práticas agroecológicas, mas também, tal campo como um espaço de reprodução das condições sociais e culturais e da vida como um todo. Com base nos resultados aqui obtidos podemos concluir que a Teia dos povos é um importante espaço onde ocorre as interações entre os diversos povos, cada um com suas práticas, tradições e vivências, criando este e neste relevante espaço, denominado “a Teia dos Povos”, um fórum popular e classista onde acontece um amplo debate, um relevante espaço de vivência e de Educação Não Formal, proporcionando dentre outras coisas, uma discussão profunda da necessidade de uma proposta de Educação própria e contra-hegemônica, tendo como uma das suas principais bases, a Agroecologia.

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ABSTRACT

The crisis in the cocoa crop led the South of Bahia to significant changes in its productive bases in the countryside, mainly with regard to access to land and in the labor relations in the countryside and in the city. However, the traditional peoples and the peasantry presented, within this historical context, counter-hegemonic actions, among which we highlight the First Journey of Agroecology in Bahia, which brought together diverse communities of traditional peoples, family farmers, indigenous, encamped and settled, fishermen, women, youth, social movements and entities, in general, people that thought of creating a permanent space and, for this reason, they formed a network called the People's Agroecology Web (Teia dos Povos). The main objectives of this work were to identify and map how the Agroecologies Journeys in Bahia are characterized as practices linked to the conceptualization of Non Formal Education. The present study is characterized as a qualitative research, whose method of approach was given through the case study, where the information analyzed in this research was given through field experience, with data collected from primary sources, through participation in meetings, through the procedure of structured, direct and participant observation technique, complemented by bibliographic / documentary research, using internal documents from the People's Web. Based on the results obtained here, it was possible to describe and observe the dynamics of the spaces where and how some educational practices took place, identifying them as a “Non Formal Education” space, based, also, on concepts and approaches contained in several others studies. The People's Web originated from the ongoing dialogues of the 1st Agroecology Day in Bahia, held in 2012, at the Terra Vista Settlement, in Arataca-BA. Created and organized to the present day in network format, it has the role of setting the agenda of annual actions that assist in the empowerment, development and emancipation of the communities and links that integrate it. These non-formal spaces have a political and pedagogical nature to instrumentalize the people of the countryside, who, faced with these moments during the course of these days, think not only of a field based on their agroecological practices, but also, such a field as a space for the reproduction of social conditions. and cultural and life as a whole. Based on the results obtained here, we can conclude that the People's Web is an important space where interactions between different peoples occur, each with their practices, traditions and experiences, creating it and in this relevant space, called “the People's Web”, a popular and class forum where a wide debate takes place, a relevant space for living and non-formal education, providing, among other things, a deep discussion of the need for a proposal of its own and counter-hegemonic education, having as one of its main bases, the Agroecology.

Keywords: Non-formal education, Agroecology Days, People's Web. 1 INTRODUÇÃO

No enfrentamento da crise da lavoura cacaueira que assolou o Sul da Bahia, a qual modificou radicalmente as bases produtivas, do acesso à terra e das relações de trabalho, e diante do enorme esvaziamento dos espaços do campo (êxodo rural) na região, o que só agravou ainda mais opressões e desigualdades socioeconômicas. Pensando em propor saídas contra-hegemônicas para os campesinos e os povos tradicionais, imbuídos nesse contexto histórico, foi proposta primeira Jornada de Agroecologia da Bahia, que se gestou de maneira coletiva com a participação de diversos movimentos sociais do campo e de comunidades tradicionais, visando organizar propostas coletivas que pensassem as saídas e alternativas que possibilitassem o enfrentamento desta crise.

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Esta coletivo buscou apontar possibilidades e alternativas na construção da vida em uma dimensão onde o homem, o território e a natureza de forma integrada e integrante, perpassando pelo acesso e construção de espaços de socialização da educação, que prepare efetivamente estes sujeitos, ou seja, emponderando-os frente ao novo paradigma, de modo a que assuma um papel revolucionário a partir do recorte das bases educacionais e agroecológicas (VIANA, 2017; VIANA; SANTOS; RAMOS, 2017; SANTOS; VIANA, 2018).

De acordo com Gohn (2006), a educação não-formal apresenta um importante papel no processo educativo mais geral, pois apesar da referida autoria considera-la como uma área de conhecimento ainda em construção, a mesma, neste seu estudo, a considera como um importante processo com várias dimensões, dentre as quais destacam-se:

“[...] a aprendizagem política dos direitos dos indivíduos enquanto cidadãos; a capacitação dos indivíduos para o trabalho, por meio da aprendizagem de habilidades e/ou desenvolvimento de potencialidades; a aprendizagem e exercício de práticas que capacitam os indivíduos a se organizarem com objetivos comunitários, voltadas para a solução de problemas coletivos cotidianos” (GOHN, 2006, p. 28).

Para tanto, analisamos a ocorrência dos espaços da Educação Não Formal e como estes se configuraram nas edições das Jornadas de Agroecologia da Bahia, pois acredita-se que baseado nestes espaços foi possível a idealização e a construção de uma proposta pedagógica de Educação no Campo dentro da Teia de Agroecologia dos Povos. De modo que, as discussões travadas nos espaços de Educação Não Formal, buscavam contribuir com a construção de um diálogo contínuo e permanente entre a academia e os povos tradicionais, visando a cultura do bem viver e a perspectiva utópica de criar um “novo homem”, que ancorado em projeto de educação “por eles mesmos” edificasse saídas e soluções frente aos problemas sociais, organizacionais e econômicos das comunidades que atuam em rede dentro da Teia de Agroecologia dos Povos (VIANA, 2017; VIANA; SANTOS; RAMOS, 2017; SANTOS; VIANA, 2018).

Este estudo contribuiu tanto para o entendimento de novas práticas dentro da Teia, quanto para uma nova concepção da Educação do Campo, a partir da dinamização e análises das Jornadas como espaço de Educação Não Formal (no campo), baseada nos pressupostos teóricos e metodológicos da agroecologia, que por hora norteará os currículos e formação dos educandos e educadores numa constante troca e na formação de consciência mais ativa enquanto atores sociais. A primeira Jornada de Agroecologia da Bahia (realizada em 2012 no Assentamento Terra Vista em Arataca - Bahia) se apresentou inicialmente como meio para pensar as saídas e alternativas que possibilitassem o enfrentamento da crise da lavoura Cacaueira, em que fosse permitida a

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construção da vida em uma dimensão onde o homem, o território e a natureza dialogassem de forma integrada e integrante. A jornada é fruto histórico do desencadeamento das discussões travadas dentro do Território de Identidade Litoral Sul da Bahia, protagonizado pelas diversas comunidades de povos tradicionais, agricultores familiares, indígenas, mulheres, juventude, acampados e assentados, pescadores, movimentos sociais, dentre outros (Ibidem)

Posteriormente à primeira jornada, diversas comunidades de povos tradicionais, agricultores familiares, indígenas, acampados e assentados, pescadores, mulheres, juventude, movimentos sociais e entidades pensaram em criar um espaço permanente e, por isso, constituíram uma rede chamada Teia de Agroecologia dos Povos.

Desta maneira, os integrantes da referida Teia, entenderam que as Jornadas sinalizaram caminhos práticos para as diversas demandas dos grupos, dentre elas, pensar e realizar uma educação no campo de forma alternativa, onde o espaço político de encontros dos povos e dos atores sociais, o fortalecimento dos territórios, das organizações pela agroecologia, da soberania alimentar, da liberdade e soberania do pensar educacional (onde o papel político, cidadão e solidário de cada integrante estão em jogo). Assim, esse estudo pretende identificar e mapear de que forma as Jornadas Agroecologias da Bahia se caracterizam enquanto práticas vinculadas à conceituação da Educação Não Formal.

2 MATERIAL E MÉTODOS

O presente estudo se caracteriza como uma pesquisa qualitativa, sendo que o método de abordagem utilizado se deu por meio do estudo de caso. As informações analisadas nesta pesquisa se deram mediante vivência de campo, cujos dados foram levantados de fontes primárias, por meio da participação em reuniões, através do procedimento da técnica de observação estruturada, direta e participante. Por meio desta técnica foram realizados registros planejados em um caderno de anotações, os quais ocorreram durante as reuniões ocorridas e organizadas pela Coordenação da Teia dos Povos, nos seguintes locais de estudo: Assentamento Terra Vista (município de Arataca), Casa do Boneco (Município de Itacaré), Aldeia Catarina Paraguaçu (município de Pau Brasil) e Aldeia Serra do Padeiro (município de Buerarema), todos localizados no estado da Bahia. A metodologia da observação participante, adotada aqui neste estudo, segue o que foi primeiramente proposto por Malinowski (1922), a qual segundo este autor permite ao pesquisador, principalmente antropólogo, alcançar esse entendimento empático e registrá-lo de forma rigorosa e científica. Porém, adotamos a técnica de observação direta participante total, que denominamos como aquela cujo observador adota uma postura completamente ativa, se envolvendo com o fenômeno a ser

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analisado, que neste caso, também assumiu a forma natural, uma vez que um dos autores deste estudo (o primeiro), realizou os principais registros e pertence a uma das comunidades.

Para Gohn (2006), na educação não-forma o método é originado por meio da problematização da vida cotidiana, de onde surgem os conteúdos e estes derivam a partir dos temas que se colocam como carências, necessidades, obstáculos, desafios ou ações empreendedoras a serem realizadas por estas comunidades, ou seja, estes conteúdos não são dados a priori, porém, são construídos durante todo processo. Dessa forma, ainda segundo esta autora, “o método” passa pela sistematização dos modos de pensar e agir no mundo que circunda as pessoas, perpassando pelo simbólico, das orientações e representações que conferem sentido e significado a todas as ações da humanidade, supondo a existência da motivação das pessoas que participam desse processo metodológico, sem se prender às estruturas burocráticas. Portanto, fica evidente que esta metodologia é dinâmica, objetivando, em todo caminhar desse processo, a formação integral dos indivíduos nele envolvidos(as), demonstrando seu enorme caráter humanista.

Além da observação participante, adotou-se também a pesquisa qualitativa de caráter bibliográfico. Segundo Stumpf (2006, p. 51) entende-se por pesquisa bibliográfica o planejamento inicial de qualquer trabalho de pesquisa, “que vai desde a identificação, localização e obtenção da bibliografia pertinente sobre o assunto”, de forma mais específica, é um conjunto de ações que tem por objetivo identificar informações bibliográficas, reunir documentos referentes ao tema analisado e em seguida fazer anotações ou fichamentos. Enquanto para Leite (2008), este tipo de pesquisa apresenta fundamental importância, pois serve de base para as pesquisas descritiva e experimental.

Para a pesquisa bibliográfica/documental foram analisados os documentos internos da Teia dos Povos, como: relatórios de atividades e de reuniões, planejamento tático e estratégico, e comunicações internas, que foram obtidos diretamente na sua secretaria executiva, localizada no Assentamento Terra Vista, a qual autorizou o livre acesso para esta pesquisa. Os principais documentos utilizados nesta análise foram: os projetos das jornadas, as propostas dos trechos, os princípios orientativos, as cartas políticas e os folders. Para analisar e pesquisar as informações, foram realizadas frequentes visitas na secretaria executiva, sempre com a presença de um representante dos elos da Teia dos Povos, os quais tornaram-se responsáveis pela guarda e zelos deste acervo documental. Também foi objeto de pesquisa, todo material da Teia dos Povos publicados nas mídias sociais como blogs, sites e páginas de Facebook.

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3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Durante as Jornadas de Agroecologia da Bahia foi possível observar e descrever as dinâmicas dos espaços onde e como foram ocorridas algumas práticas educacionais e identificar estes, como espaço de “Educação Não Formal”, inclusive com base em conceitos e abordagens contidas em diversos trabalhos (GOHN, 2006; 2011; SEARA FILHO, 1987) . Segundo Gohn (2011, p. 108): “Os espaços onde desenvolvemos ou se exercitam as atividades da Educação Não Formal, são múltiplos”.

No entanto, de acordo com os ricos e vastos documentos aqui pesquisados, a Teia dos Povos foi criada a partir dos diálogos continuados da I Jornada de Agroecologia da Bahia, realizada no ano de 2012, no Assentamento Terra Vista, em Arataca-BA. Originada e organizada até os dias atuais em formato de rede, possui o papel de traçar a agenda de ações anuais que auxiliam no empoderamento, desenvolvimento e emancipação das comunidades e elos que a integram. Dentre esses elos, destacam-se: povos indígenas; povos de terreiro e quilombolas; povos ribeirinhos e pescadores; acampados e assentados e da reforma agrária (MST, MLT, etc); os e as estudantes e os e as professores(as) dos mais variados níveis; agricultoras e agricultores, pesquisadores de diversas instituições e toda população engajada na defesa dos territórios, das águas, da floresta e da Agroecologia (VIANA, 2017; VIANA; SANTOS; RAMOS, 2017; SANTOS; VIANA, 2018). Para Gil (2002, p. 03), a vantagem da pesquisa bibliográfica, reside no fato de sua amplitude ser ilimitada “essa vantagem torna-se particularmente importante quando o problema de pesquisa requer dados muito dispersos pelo espaço”. Concordamos com este autor, pois se não fosse por meio deste tipo de pesquisa não teríamos encontrado a riqueza de relatos e informações que encontramos, evidenciando a importância desse espaço para pensarmos um caminho que busque e construa uma educação plural e popular.

Para se ter a ideia da pluralidade deste espaço, bem como a sua importância, basta observar a sua riqueza étnico-racial, de gênero, culturas, socioambientalistas/ecossocialistas, línguas e territórios que nela estão contidos. Do mesmo modo, para compreender sua diversidade e criticidade, vamos resumir essa constatação nas “Quatro Grandes Escolas”, que seus participantes/militantes propõem: 1) Escola do Arco e da Flecha; 2) Escola dos Quilombolas, Tambores e Terreiros; 3) Escola das Águas e dos Mares; 4) Escola da Floresta, do Cacau e do Chocolate. Percebe-se evidentemente que a pedagogia que orienta este espaço é a pedagogia histórico-crítica, que pretende preparar a classe trabalhadora para se reconhecer como explorada, encontrar saídas e mecanismos que lhe permitam autonomia, sobreviver e criar alternativas de desenvolvimento, emprego e renda para sua classe, levando-a a lutar pelos seus direitos e contra

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quem lhe explora. Para Pinheiro (2016), a pedagogia histórico-crítica se contrapõe diretamente aos interesses da burguesia, pois compreende que por meio da escola, que a classe burguesa pretende manter a classe explorada no seu local de dominação.

Esse espaço é inclusive um local para construção de agenda de lutas em defesa dos direitos dos povos que a compõe. Um exemplo disso é que, nos registros obtidos por esta pesquisa, encontramos que a Teia dos Povos, juntamente com 11 Movimentos Sociais do Campo e da Cidade, dentre eles, Movimento de Luta pela Terra (MLT), Pastoral Rural, Movimento pelo Teto e Terra (MPTT), Frente dos Trabalhadores Livres (FTL), União da Resistência Camponesa (URC), Polo de Unidade Camponesa (PUC), Via do Trabalho, Movimentos dos Acampados, Assentados e Quilombolas, Movimento CETA, MRC, MCR, MST, assentados, indígenas Pataxó Hãhãhãe, Pataxó, Tupinambá e quilombolas, realizaram no dia 28 de março de 2016, a ocupação da sede regional do Incra em Salvador, realizando reivindicações conjuntas deliberadas em reuniões organizativas da Jornada de Lutas da Teia dos Povos. Para Gohn (2006), o desafio da Educação Formal e Não Formal é:

Construir cidadãos éticos, ativos, participativos, com responsabilidade diante do outro e preocupados com o universal e não com particularismos, é retomar as utopias e priorizar a mobilização e a participação da comunidade educativa na construção de novas agendas. Essas agendas devem contemplar projetos emancipatórios que tenham como prioridade a mudança social, qualifiquem seu sentido e significado, pensem alternativas para um novo modelo econômico não excludente que contemple valores de uma sociedade em que o ser humano é centro das atenções e não o lucro, o mercado, o status político e social, o poder em suma. A educação não - formal é um campo valioso na construção daquelas agendas, e para dar sentido e significado às próprias lutas no campo da educação visando à transformação da realidade social (GOHN, 2006, p. 37).

A Teia tem como princípios fundantes: I) Terra e alimento como princípio filosófico e de vida, que se constrói através da solidariedade irrestrita aos movimentos pela defesa da territorialidade, tendo como instrumento a pedagogia do exemplo; II) O trabalho e o estudo para liberdade que possibilite a construção de um novo modo de vida, desconstruindo a herança dos modelos capitalista, racista e patriarcal; III) Reafirmar o olhar ancestral na edificação de um novo tempo, contextualizado à nossa forma.

Nesse sentindo, podemos dizer que estes espaços foram criados e pensados a partir das concepções políticas, culturais e sociais da Teia dos Povos, e que esta, imprime nestas reuniões/encontros uma “intencionalidade” uma vez que, em sua metodologia fundada em especial, no “relato das experiências” é possível colher dos sujeitos/atores sociais as falas e os saberes que um dia foram silenciados, suprimidos, presos, encaixotados e guardados pelo processo de exploração do sistema capitalista, que aos poucos utiliza as ferramentas da educação escolar, para

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suprimir os reais valores que estão por trás do processo de exploração, criando para estes atores/sujeitos um mundo desconectado da sua realidade. De acordo com Crehan (2018, p. 132), o filósofo Gramsci durante toda sua vida buscou de maneira continua as narrativas que as pessoas usam para dar sentido às realidades que estas enfrentam em seu cotidiano, particularmente as narrativas dos grupos subordinados e oprimidos, os quais chamou de subalternos. Para esta autora, na maioria das vezes, intelectuais progressistas acreditam saber exatamente o que os subalternos pensam.

Dessa forma, se os que realmente vivem a desigualdade e a opressão enxergam as coisas de forma diferente, estes então estariam sofrendo de “consciência falsa” e seria tarefa dos intelectuais iluminá-los. Os nossos registros aqui obtidos têm total concordância com a afirmação de Chehan (2018), pois muitas vezes, foi possível registrar falas como:

“precisamos respeitar os nossos mestras e mestras, pois neles também existem saberes, e não qualquer saber, mas um saber ancestral, trazidos pelas práticas de suas lutas por soberania, sobrevivência e respeito a natureza e aos seus semelhantes, o que muitas vezes a academia ignora ou diminui, servindo apenas de meros informantes” (Membro).

Estes sujeitos, de acordo com o que pensa o coletivo Teia dos Povos (2015), ao entenderem o seu papel como um ser pensante, reflete e age a partir da realidade concreta. Nesse sentido, a agroecologia seria um dos caminhos para estabelecer o respeito devido aos mesmos, bem como ser um dos instrumentos dessa transformação, luta e empoderamento dos povos tradicionais, valorizando um modo de vida que resgate e mantenha um convívio harmônico e dialógico com os saberes ancestrais, proporcionando uma relação menos impactante na natureza, sobre os seres humanos e que busque um melhor meio de reproduzir seu modo de vida e suprir as suas necessidades. Para Guzmán Casado et al. (2000, p. 81), a Agroecologia possui um enfoque sistêmico, que adota o “agroecossistemas” como a unidade de análise, apresentando como propósito, em última instância, proporcionar as bases científicas (princípios, conceitos e metodologias) para subsidiar todo o processo de transição entre o atual modelo de agricultura convencional, para estilos de agriculturas mais sustentáveis.

Desta forma, muito mais do que apenas uma disciplina específica, a Agroecologia se constitui num campo de conhecimento que congrega diversas “reflexões teóricas e avanços científicos, oriundos de distintas disciplinas” que têm contribuído para conformar a sua base teórico-metodológica. Porém, com base nos registros obtidos nesta pesquisa, o conceito de Agroecologia que mais se assemelha com os princípios defendidos e discutidos nas jornadas de Agroecologia da Teia dos povos é o de Gliessman (2000, p. 12), o qual menciona que: “o enfoque agroecológico

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pode ser definido como a aplicação dos conceitos e princípios da Ecologia no manejo e desenho de agroecossistemas sustentáveis, dentro de um horizonte temporal, partindo do conhecimento local já estabelecido sobre esse manejo, visando a integração deste ao conhecimento científico, proporcionando à construção e expansão de novos saberes socioambientais, retroalimentando assim, de maneira permanente e contínua, o processo de transição agroecológica”.

Contudo, estes espaços não formais têm cunho político e pedagógico de instrumentalização dos povos do campo, que diante destes momentos durante a realização dessas jornadas pensam não só um campo a partir de suas práticas agroecológicas, mas também, tal campo como um espaço de reprodução das condições sociais e culturais e da vida como um todo. No entanto, é importante destacar que, para a Teia dos Povos, em seu ideário político-ideológico, inclusive com forte viés contra hegemônico, entende-se que educar os povos e as comunidades perpassa a compreensão e respeitar a sua história, as suas origens, as suas raízes (processos ancestrais), o seu modo de vida.

4 CONCLUSÕES

A partir dos resultados da pesquisa entendemos que, para os mestres e mestras, as velhas práticas só terão condições reais de serem superadas a partir do apoderamento da agroecologia pelos povos como ferramenta de prática política, social e cultural, da ressignificação dos territórios e do campo como espaço de reprodução e socialização da vida e do bem viver e de uma educação por e para eles mesmos; onde o trabalho guie o entendimento e compreensão do mundo a partir das práticas e modos de vidas dos povos que compõe esta Teia. Para tanto, é imprescindível a permanência e continuidade dos espaços de educação, em especial a importância e o desdobramento das práticas de Educação Não Formal que vêm ocorrendo nas jornadas, bem como a efetivação da criação das “Quatro Grandes Escolas”.

Estes processos de Educação Não Formal fazem com que os indivíduos se configurem sujeitos ativos de suas trajetórias dentro dos elos e das comunidades, compreendendo o seu papel social e histórico no mundo, ou seja, ao conhecer uns aos outros no processo de interação e integração social com as experiências contadas, narradas e ouvidas, com as histórias de lutas e conquistas, com as falas de resistências, com saberes que antes estavam silenciados.

Nesse sentido, por meio das vivências e registros obtidos em campo neste estudo, ficam evidentes os apontamentos e a intencionalidade da formação pela agroecologia nestes espaços de Educação Não Formal, uma vez que esses sujeitos retornam às suas diferentes bases locais e étnico culturais, compartilhando e difundindo esses ensinamentos, que inclusive serão alinhados com toda produção do conhecimento já produzido historicamente pela sua comunidade e toda humanidade.

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Sendo assim, este importante espaço coletivo que é a Teia, estimula estes sujeitos a começarem a compreender que também fazem e produzem experiências/relatos importantes, que geram conhecimentos e que de certa forma grande parte da academia, bem como outros espaços educacionais formais, geralmente os desprezam. Afinal, um movimento político-ideológico desta magnitude, não só deveria repercutir em muitas pessoas, bem como ser transferido para os espaços de Educação Formal, mas acima de tudo sua compreensão de mundo deveria emergir principalmente do próprio conhecimento desses povos “subalternos”.

Dessa maneira, fica evidente a importância das interações entre os diversos povos, cada um com suas tradições e práticas de vivências, criando este e neste relevante espaço, denominado “a Teia dos Povos”, um fórum popular onde acontece um amplo debate, sendo inclusive, com base nos resultados aqui obtidos, um relevante espaço de vivência e de Educação Não Formal, proporcionando dentre outras coisas, uma discussão profunda da necessidade de uma proposta de Educação da Teia dos Povos, tendo como uma das suas principais bases, a agroecologia.

Este cenário apresenta um rico campo de estudo ainda a ser melhor investigado e conhecido, demonstrando que a Educação no Brasil precisa ser repensada e é de igual modo importante considerar o conhecimento prévio dos múltiplos sujeitos que a compõe, principalmente na área da Educação do Campo na Bahia. Foi possível perceber e vencer os mais variados problemas e obstáculos que a Educação no Brasil enfrenta atualmente, inclusive no que se refere ao fazer, pensar e ressignificar a Educação Não Formal, principalmente ao que tange seus conceitos, práticas, ações, público alvo e os diferentes preconceitos que lhe circundam. Desta forma, concordamos com diversos outros trabalhos aqui citados e discutidos a enorme dificuldade que ainda existe para considerar a Educação Não Formal, seus conceitos, objetivos e principalmente práticas como um vasto e ainda inexplorado campo de conhecimento, e que se tratando da Teia dos Povos como objeto de estudo, as pesquisas neste espaço estão apenas começando.

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REFERÊNCIAS

CREHAN, K. Antônio Gramsci: em busca de um marxismo etnográfico. Revista Outubro, n. 30, p. 129-142, 2018.

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