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O Baixo Guadiana durante os séculos VI e V a. n. e.

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(1)

DE

AE

SP

A

XLVI

Javier Jiménez Ávila

(Editor)

SIDEREUM ANA I

El río Guadiana en época post-orientalizante

ARCHIVO ESPAÑOL

ARQUEOLOGÍA

DE

(2)

SUMARIO

PRESENTACIÓN...9

I. ALTO GUADIANA-ALTO GUADIANA

El Horizonte Ibérico Antiguo en el Alto Guadiana

Mar Zarzalejos Prieto – Carmen Fernández Ochoa...15

Un espacio de culto del siglo V en el Cerro de las Cabezas (Valdepeñas, Ciudad Real)

Julián Vélez Rivas – J. Javier Pérez Avilés...37

El Oppidum de Alarcos en los siglos VI y V a. C.

Mª Dolores Macarena Fernández Rodríguez...61

El período Ibérico Antiguo en La Bienvenida y su entorno

Germán Esteban Borrajo – Patricia Hevia Gómez...81

II. GUADIANA MEDIO-GUADIANA MÉDIO

El Final del Hierro Antiguo en el Guadiana Medio

Javier Jiménez Ávila...101

Paleoambiente y Paleoeconomía en la Cuenca del Guadiana durante el Hierro I

Ana Mª Hernández Carretero...135

El territorio de Medellín en los siglos VI-V a. C.

Martín Almagro-Gorbea – Alfredo Mederos Martín – Mariano Torres Ortiz...149

El Oppidum de Badajoz en época post-orientalizante

Luis Berrocal Rangel...177

O Post-Orientalizante da margem direita do regolfo de Alqueva (Alentejo Central)

Manuel Calado – Rui Mataloto...185

O pós-orientalizante que nunca o foi. Uma comunidade camponesa na Herdade da Sapatoa

(3)

Rui Mataloto – Maia Langley – Rui Boaventura...283

BAJO GUADIANA-BAIXO GUADIANA

O Baixo Guadiana durante os seculos VI e V a.n.e.

Ana Margarida Arruda...307

“Castro” da Azougada (Moura, Portugal): percursos do Pós-Orientalizante no Baixo Guadiana

Ana Sofia Tamissa Antunes...327

Reflexões sobre os Complexos Arquitectónicos de Neves-Corvo, na Região Central do Baixo Alentejo, em Portugal

Maria Garcia Pereira Maia...353

Topografia e orografia dos habitats proto-históricos do Sudoeste

Manuel Maia...365

As armas e os barões assinalados? Em torno das necrópoles monumentais do «Ferro de Ourique»

Jorge Vilhena...373

Mértola durante os séculos VI e V a.C.

Pedro Barros...399

El final del Hierro Antiguo en la provincia de Huelva (siglos VI-V a. C.)

Francisco Gómez Toscano...415

O Castelo de Castro Marim durante os séculos VI e V a.n.e.

Ana Margarida Arruda – Vera Teixeira de Freitas...429

Produção e consumo de cerâmica manual no Castelo de Castro Marim nos séculos VI e V a.n.e.

Carlos Filipe Pereira Pinto de Oliveira...447

CONCLUSIONES-CONCLUSSÕES

(4)

Anejos de AEspA XLVI, 2008, pp. 307-325

RESUMO

O Baixo Guadiana não corresponde a uma unidade regional unívoca do ponto de vista geográfico, tudo indicando que, durante os séculos VI e V a.n.e., existem variações importantes ao nível da cultura material e de implantação no vasto território que compreende a área terminal da bacia hidrográfica do Guadiana. Os dados que aqui foram analisa-dos permitem presumir que a diversidade prevalece sobre a unicidade, havendo elementos que possibilitam pensar que o Guadiana, pelo menos nos últimos troços do seu curso, se constituiu, em meados do 1º milénio a.n.e., mais como fronteira do que como eixo estruturante ou de ligação entre as duas margens. Os espólios e as arquitecturas dos sítios do Guadiana português foram analisados e as relações tipológicas entre eles verificadas. Essa análise permitiu avançar com propostas de unidades culturais específicas e diferenciadas, que, nem sempre correspondem às que, do ponto de vista paisagístico, puderam ser identificadas.

RESUMEN

El Bajo Guadiana no corresponde a una unidad regional unívoca desde el punto de vista geográfico, coincidiendo con las diferencias en la Cultura Material y de implantación que se observan en el vasto territorio que comprende el tramo final del valle del Guadiana. Los datos analizados permiten presumir que la diversidad prevalece sobre la unidad, exis-tiendo elementos que permiten pensar que, al menos el los últimos tramos de su curso, a mediados del I Milenio el río funcionó más como frontera que como eje estructurador o de relación entre las dos orillas. Los conjuntos arqueológi-cos y arquitectóniarqueológi-cos del territorio portugués y las relaciones que se verifican entre ellos permiten avanzar algunas pro-puestas de unidades culturales específicas y diferenciadas que no siempre corresponden a las que pueden identificarse desde el punto de vista paisajístico.

ABSTRACT

Low Guadiana doesn’t make a regional unity if considered from a geographical point of view. In the same way, we can observe important differences on the archaeological evidence from the extensive area agreeing to the river final stretch and his valley. Archaeological data allow’s propose that diversity prevails against unity, and there are some ele-ments which get us to think that, mainly in the latest river’s trenches, in the middle of the 1stMillennium BC, Guadiana

makes more a border than a structuring or relationship axe between the two opposed shores. The South-Portugal ar-chaeological an architectural sets and their verified relationships make able advance the proposal of specific and dif-ferentiated cultural unities which do not correspond necessarily with the landscape ones.

O BAIXO GUADIANA DURANTE OS SÉCULOS

VI

E

V A.N.E

Ana Margarida ARRUDA

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condições naturais de defesa, tendo sido, contudo, possível verificar a existência de várias tipologias no interior desse grupo, segundo as dimensões das áreas ocupadas e também através da própria crono-logia das ocupações (Fig. 3). Como já referi, no con-junto destes sítios existe alguma variedade, havendo uns com alguma dimensão e várias fases construti-vas, e outros menores, com apenas uma fase. Por outro lado, alguns são de curta duração, enquanto outros permanecem ocupados durante um tempo mais longo. Uns são fundados num momento rela-tivamente antigo, mas em outros, porém, o início da ocupação ocorre apenas no século V.

A estrutura do povoamento dos séculos VI e V no Alentejo Central merece ainda alguns comentá-rios. Por um lado, destaca-se o número de sítios e a sua concentração. Com efeito, ao longo da mar-gem direita do rio, por exemplo, estes «montes» su-cedem-se «a intervalos que oscilam entre os 200 m e 1 km» (Calado et al. 1999). Tal como os autores que têm vindo a estudar a região, não posso deixar de notar a dissemelhança observada entre esta mar-gem do Guadiana e a esquerda, onde esta tipologia de povoamento parece estar ausente quer em terri-tório português, quer na Extremadura espanhola. Os trabalhos de minimização de impactos sobre o património arqueológico da barragem do Alqueva, que na margem direita deram estes resultados, per-mitiram verificar a ausência de sítios com estas ca-racterísticas na margem esquerda, que parecem inexistentes também no lado espanhol, onde, por outro lado, estão presentes extensos povoados, como Palomar (Jiménez Ávila e Ortega Blanco, 2001), e edifícios monumentais e singulares, como La Mata (Rodriguez Díaz e Ortiz 1998, Rodríguez Díaz 2004) e Cancho Roano (Maluquer 1981; Ma-luquer e Pallarés 1980; MaMa-luquer de Motes et al. 1986, 1987; Celestino 1991, 1992, 1994, 1995, 1997; Celestino e Jiménez Ávila 1993, 1997; Ce-lestino e Martín 1996), inexistentes na margem di-reita. Não quero também deixar de recordar que o melhor paralelo para a situação verificada no Alen-tejo Central é aquele que se verificou na região de Ourique, onde se documentou, na mesma época,

El horizonte post-orientalizante del valle medio del Guadiana presenta, en lo que a modelos de pobla-miento y organización social se refiere, fuertes diferencias con respecto a las zonas que lo rodean por el sur, este y norte áreas ocupadas respectivamente por el mundo turdetano e ibérico y por un novedoso e intere-sante horizonte cultural que comienza a bosquejarse en la actual provincia de Cáceres.

J. Jiménez Ávila: Los Complejos Monumentales Post-orientalizantes del Guadiana … (1997).

1. INTRODUÇÃO

O Guadiana português, que me coube tratar, corresponde a uma bacia hidrográfica vasta (Fig. 1), tendo áreas muito diferenciadas, que podem cor-responder a pelo menos três unidades de paisagem distintas: 1) da foz ao Pulo do Lobo; 2) o Baixo Alentejo; 3) o Alentejo Central.

O conceito de Baixo Guadiana é assim, e ainda do ponto de vista estritamente geográfico, vazio de conteúdo, não correspondendo a uma realidade uní-voca e a um território bem definido.

Como se verá, as três unidades que defini nesta bacia, apresentam, nos meados da Idade do Ferro, uma acentuada diversidade no que se refere aos modelos de implantação, bem como no que diz res-peito aos próprios conteúdos artefactuais ou mesmo à funcionalidade, ainda que, naturalmente, uma ma-triz mediterrânea esteja subjacente a todas elas. Assim, dentro destas três unidades são detectáveis, em alguns casos, diferenças significativas, mas também semelhanças assinaláveis, que importa dis-cutir e perspectivar.

2. O ALENTEJO CENTRAL

Graças aos trabalhos que Rui Mataloto e Ma-nuel Calado têm levado a efeito na região, são já muitos os dados disponíveis para o período que agora nos importa (Calado et al. 1999, no prelo; Mataloto, 2004a, 2004b).

Estando certa que o trabalho dos meus colegas Manuel Calado e Rui Mataloto, neste mesmo vo-lume, fará, melhor do que eu farei, o balanço siste-mático desses dados, não posso deixar de avançar com algumas considerações.

Na região da Serra d’Ossa/Évora e na área inun-dada pelo regolfo do Alqueva (Fig. 2) foi detectado um povoamento de características peculiares, muito concentrado, vinculado, aparentemente, à actividade agrícola, e cujas origens podem remontar ao século VII a.n.e. Esse povoamento é composto, em termos gerais, por sítios implantados em cotas baixas, sem

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um povoamento caracterizado pela agregação de populações em pequenos sítios de habitat, verifi-cando-se que estão completamente ausentes preo-cupações de ordem defensiva, sendo típica a escolha de uma cota baixa, inserida num meandro do rio, ficando desprezados os pontos proeminen-tes. As semelhanças encontram-se também ao nível da cronologia das ocupações. Em ambas áreas, al-guns sítios prolongam-se até ao século III, mas tudo indica que os séculos VI e V correspondem ao mo-mento de maior densidade populacional. A dife-rença da área baixo alentejana em relação ao Alentejo central manifesta-se ao nível do cenário da morte, que no caso de Ourique é de grande im-pacto visual, muito monumentalizado e próximo dos lugares de habitat, e que, no Alentejo central, permanece invisível.

Se até há pouco tempo era possível defender que o início da Idade do Ferro do Alentejo se tinha iniciado com este tipo de ocupação (Arruda 2001), é hoje inquestionável que a ocupação sidérica do interior alentejano, pelo menos na área central, se iniciou de acordo com um outro modelo de im-plantação. Tal situação ficou demonstrada pela es-cavação do alto de São Gens, um sítio alto e bem destacado na paisagem, onde Rui Mataloto esca-vou, sobre níveis do Bronze Final, estratos onde re-colheu ânforas 10.1.2.1. e pithoi, e que poderão datar-se na segunda metade do século VII (Fig. 4). Esta ocupação não teve, ao que parece, seguimento no tempo, tendo o sítio sido abandonado, num mo-mento em que o povoamo-mento nas cotas baixas se iniciou. Também no Castro dos Ratinhos (Mourão), níveis da Idade do Ferro sobrepõem-se aos do

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Antunes permitiu conhecer melhor a cronologia do sítio, bem como fornecer contornos mais explícitos à hipótese já formulada por outros autores de que o chamado Castro da Azougada correspondeu a um santuário.

O início da ocupação da Azougada deve locali-zar-se no século VI, muito possivelmente no seu final, sendo portanto de descartar as hipóteses que colocavam alguns bronzes e certas cerâmicas em épocas mais antigas, concretamente os séculos VIII e VII. A presença de cerâmica ática de figuras ver-melhas (integrável no grupo do Pintor de Viena 116), publicadas por Rouillard, indiciava já a per-duração do sítio até aos primeiros decénios do sé-culo IV, o que viria a ficar comprovado com outros conjuntos cerâmicos.

O carácter sacro do Castro da Azougada é hoje indesmentível, e as relações com o mundo do Gua-diana Médio são estreitas. Com efeito, é notória a similitude da cultura material do sítio e das que foram reconhecidas em Cancho Roano ou em la Mata.

No entanto, não pode deixar de se referir que, ao nível da implantação, há dissemelhanças assi-naláveis, uma vez que a Azougada ocupa um pe-queno cabeço, enquanto que quer Cancho Roano (Maluquer de Motes 1981; Maluquer de Motes e Pallarés 1980; Maluquer de Motes et al. 1986, 1987; Celestino 1991, 1992, 1994, 1995, 1997; Ce-lestino e Jiménez Ávila 1993, 1997; CeCe-lestino e Bronze Final (Silva e Berrocal 2005), parecendo,

contudo, que a datação proposta para aqueles, o sé-culo VI a.C., deverá recuar para o sésé-culo VII.

A existência de povoados orientalizantes de al-tura não está, por agora, demonstrada para a região de Ourique. Contudo, a situação verificada na Serra d’Ossa poderá vir a ser comprovada para outras re-giões.

3. O BAIXO ALENTEJO

A Idade do Ferro que pode ser associada ao Guadiana, no Baixo Alentejo, é hoje conhecida em dois territórios diferenciados, um na margem es-querda e outro na margem direita.

Relativamente ao primeiro, destaca-se, pela im-portância, o Castro da Azougada (Fig. 5). O sítio foi escavado nas décadas de 40 e 50 do século XX e alguns materiais foram sendo divulgados, sobre-tudo os mais exóticos e importados, concretamente os bronzes (Schüle 1969; Gomes 1983; Gamito 1988; Silva e Gomes 1992) e a cerâmica ática (Fig. 6), (Rouillard 1975, 1991; Gamito 1988). Até há pouco tempo, contudo, era muito pouco o que se conhecia do sítio, situação que foi recentemente colmatada pelo estudo exaustivo das cerâmicas que nele se recolheram, (Antunes 2005). Continuamos, no entanto infelizmente, a desconhecer os contex-tos de recolha dos espólios. O estudo de Ana Sofia

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Fig. 3.– 1.- A ocupação proto-histórica do Guadiana na área do Alqueva. 1: Rocha do Vigio-2; 2: Monte do Outeiro; 3: Cocos 12; 4: Miguens 10; 5: Moinho da Cinza; 6: Moinho Novo de Baixo; 7: Monte da Estrada 2; 8: Espinhaço de Cão; 9: Fonte da Calça; 10: Forno da Cal; 11: Malhada das Taliscas 4; 12: Monte da Chamibé 18; 13: Gato; 14: Mus-gos 10; 15: Malhada dos GaMus-gos; 16: Casa da Moinhola 3; 17: Malhada das Mimosas; 18: Monte da Tapada 39. 2.-Malhada das Taliscas. 3.-Planta do Espinhaço de Cão (segundo Calado e Mataloto).

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Na margem direita do Guadiana, a região de Castro Verde destaca-se pela sua importância du-rante a Idade do Ferro. Também neste caso, as mi-nhas observações têm apenas por base os dados que estão publicados (Maia e Maia 1986; Maia 1987 e 1988; Maia e Maia 1996).

Um numeroso conjunto de sítios foi identifi-cado, sítios esses implantados em cotas baixas, com escassa visibilidade. Foram interpretados como po-voados e necrópoles, mas parecem corresponder, pelo menos em parte, a espaços cultuais por exce-lência (Fig. 8). Num artigo publicado em 2001, tive já oportunidade de analisar, com detalhe, a evidên-cia arqueológica recuperada no actual couto mi-neiro de Castro Verde. Pude então justificar não só a cronologia tardia (século VI e V a.C.), como a funcionalidade de Corvo I e Neves I.

Com efeito, tendo em consideração o espólio divulgado, parece possível deduzir que a Idade do Ferro da região de Castro Verde data, de uma ma-neira geral, de meados do 1º Milénio a.C., mais concretamente numa data centrada em meados do século V. É o que as cerâmicas áticas (taças Cás-tulo), recolhidas em Neves I e as ânforas de tipo Mañá Pascoal A4 (11.2.1.4) encontradas também em Neves I, Corvo I e Neves II (Fig. 9), deixam an-tever, sendo também esta a datação sugerida pelos arqueólogos responsáveis por estes trabalhos para estes mesmos sítios. Em alguns dos sítios mencio-nados, como Neves I e Neves II, não é, no entanto, improvável que os níveis imediatamente anteriores àqueles em que se recolheram materiais com estas cronologias se possam datar ainda da 1ª metade do 1º milénio a.C.. Essa data não poderá, em minha opinião, e atendendo à leitura possível dos perfis e plantas apresentados, recuar para momentos ante-riores aos finais do século VI a.C..

Permito-me, ainda, nesta breve síntese, refe-renciar que a função religiosa parece muito prová-vel em Corvo I, sítio interpretado como habitat, mas onde, apesar de tudo, foi considerada a exis-tência de uma área específica destinada ao culto (Maia 1988; Maia e Maia 1996). Neste caso, para além dos elementos fornecidos pela análise da ar-quitectura e técnicas de construção, é também o es-pólio que remete para esta possibilidade. A aparente quantidade e diversidade de objectos re-lacionados directamente com o culto, concreta-mente as terracotas zoomorfas e antropomórficas, tanto de argila como de pedra, associadas às abun-dantes taças Cástulo e anforiscos de pasta vítrea (Ibidem) são os elementos em que me baseei para esta atribuição (Arruda 2001), mas o apareci-mento, na área central deste espaço, de um Ker-Martín 1996), quer La Mata (Rodríguez Díaz e

Ortiz Romero 1998), se localizam na planície, ainda que uma mesma função religiosa possa ser reclamada para todos os casos nomeados.

Como referiu já Ana Sofia Antunes (2005), o carácter de santuário guia, que pode ser atribuído à Azougada, terá determinado a instalação num pe-queno cabeço sobranceiro ao Guadiana, podendo imaginar-se outras funções para os da Extremadura, sem que, no entanto, as diversas funcionalidades específicas impeçam que se aceite a integração de todos num mesmo universo religioso, e mesmo eventualmente político.

As relações deste sítio com a área do Guadiana Médio são, como já se disse, fortes e estreitas, o mesmo não se podendo afirmar para a região loca-lizada entre o Pulo do Lobo e a foz. Com efeito, e para além de alguns objectos supra regionais, como é o caso da cerâmica ática, e algumas situações pontuais, nomeadamente as taças «margarita» (Fig. 7), de qualquer forma escassíssimas em Castro Marim (Oliveira 2006 e neste mesmo volume), e certas taças de cerâmica cinzenta, a cultura material de ambos sítios não é paralelizável nesta época, nem, aliás, em qualquer outra. E o mesmo se pode-ria dizer para Mértola se por ventura soubéssemos mais sobre o sítio. Mas este é assunto a que volta-rei na conclusão.

Fig. 4.– Espólio cerâmico de São Gens (segundo Mata-loto 2004).

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Anejos de AEspA XLVI O BAIXO GUADIANA DURANTE OS SÉCULOS VIEV A.N.E 313

nos, de fabrico manual, reforça esta hipótese

in-terpretativa.

Para Neves I, os dados que apontam para uma funcionalidade religiosa são também numerosos, concretamente a forma de «lingote chipriota», ou de pele de boi estendida, que as tampas dos

larna-kes reproduzem (Fig. 10), e o facto de ambos terem

sido encontrados quase sobrepostos, na mesma po-sição relativa, no centro do compartimento princi-pal (ibidem). E ainda que saiba que a forma de pele de boi está representada também em ambiente fu-nerário, como por exemplo em los Villares – Alba-cete (Blanquez 1992) e em Pozo Moro (Almagro Gorbea 1983), e em vários suportes, parece-me que para Neves I pode defender-se a hipótese de os dois

larnakes representarem altares, dada a

singulari-dade da planta do edifício em que foram encontra-dos, ainda que, neste momento, não descarte a possibilidade de se tratar de urnas.

Torna-se desnecessário, por redundante, expor aqui todos os argumentos em que assenta a hipó-tese da relação existente entre a forma de pele de boi estendida e o mundo religioso mediterrâneo.

Mas, uma vez que a interpretação de Neves I tem justamente por base esta ligação, parece útil recor-dar que são múltiplos os lugares, quer orientais, quer ocidentais, onde a forma está presente em con-texto religioso. E esta relação é particularmente ex-pressiva na Península Ibérica, justamente em áreas onde a orientalização foi intensa, como, há pouco tempo, houve oportunidade de evidenciar (Arruda e Celestino, no prelo).

Mas, quer se trate de altares, quer de urnas fu-nerárias, os larnakes de Neves I estão relacionados com um universo conhecido no baixo Guadalquivir em época bem mais antiga, e com a Extremadura, em momento coevo.

Idêntica função religiosa pode ser atribuída a Neves II, onde também Maria Maia já referiu a existência de compartimentos destinados ao culto no seio de um habitat.

O que ressalta dos dados que existem sobre a ocupação da Idade do Ferro da região de Castro Verde é o facto de parecer que esta correspondeu a uma área eminentemente religiosa, se bem que dis-seminada por vários monumentos.

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atrás referi, que, na região de Castro Verde, o culto estaria disseminado por vários locais, ao contrário do que se passa em Cancho Roano e na Azougada, onde um único edifício centralizaria a função reli-giosa, o que significa que a organização do culto era distinto entre as duas margens do Guadiana, mesmo que o povoamento estivesse, nas três re-giões, organizado em torno de edifícios religiosos. Por outro lado, não parece que a cultura material de Neves Corvo esteja relacionada com a que foi re-conhecida naquela área. Infelizmente, o espólio da região baixo alentejana é ainda, em grande parte, desconhecido, pelo que é obrigatória prudência na avaliação das relações com as regiões limítrofes. Mas os conjuntos quer de Cancho Roano, quer de Azougada, parecem ter correspondência, em Neves Corvo, apenas nos artefactos supra regionais, como é o caso da cerâmica grega, em especial a do século V a.C., como é o caso da Taças Cástulo. Mas as ân-foras, pelo contrário, são de tipo Mañá Pascoal A4 e não de tipo Cancho Roano, como no sítio epónimo e na Azougada, o que poderia aproximar cultural-mente Neves Corvo do estuário do Guadiana e não da margem esquerda do rio.

4. O ESTUÁRIO DO GUADIANA: DO PULO DO LOBO A CASTRO MARIM

4.1. Mértola

Pouco sabemos da ocupação da Mértola sidé-rica (Fig. 12). Os escassos dados existentes permi-tem contudo perceber a importância do sítio durante os séculos VI a III a.C. Da fase mais antiga da ocupação, existem duas «urnas» de tipo Cruz del Negro recolhidas nas escavações que, no século XIX, Estácio da Veiga conduziu nesta vila alente-jana (Veiga, 1880; Barros, no prelo). A morfologia e as características de fabrico de ambas peças per-mitem pensar que se trata de exemplares datáveis do século VI a.C., ainda que uma delas possa re-cuar para os finais da centúria anterior. Aparente-mente também recolhido nas escavações de Estácio da Veiga, um prato de engobe vermelho de bordo largo está depositado no MNA (Barros, no prelo). As suas características tipológicas permitem que o situemos entre os finais do século VII e o século VI, dada a obliquidade do lábio e a relação entre a largura deste e o diâmetro do bordo, podendo assim defender-se a sua contemporaneidade em relação às urnas.

Das escavações promovidas pelo Campo Ar-queológico, é proveniente um amplo conjunto de

Fig. 7.– Taças Margarita do «Castro» da Azougada, se-gundo Antunes, 2005.

Os dados que atrás enunciei permitem ainda al-gumas considerações, concretamente as que se prendem com as relações desta área com outras do mesmo rio e da mesma sincronia.

Em primeiro lugar, parece possível afirmar que entre esta realidade e a que foi encontrada na área de Ourique não há, pelo menos no século V, gran-des semelhanças. Na bacia do Mira, o povoamento não parece estar organizado em função de edifícios religiosos, como julgo ser o caso de Castro Verde. Por outro lado, se em alguns aspectos existem semelhanças com a situação verificada na Extre-madura, a verdade é que há diferenças que se devem ter em consideração no momento de avaliar relações entre os sítios do Baixo Guadiana em época pós orientalizante.

Com efeito, se os larnakes de Neves I podem ser, em termos estritamente morfológicos, paraleli-záveis ao altar de Cancho Roano B (Maluquer de Motes 1981; Maluquer de Motes e Pallarés 1980; Maluquer de Motes et al. 1986, 1987; Celestino 1991, 1992, 1994, 1995, 1997; Celestino e Jiménez Ávila 1993, 1997; Celestino e Martín 1996), a ver-dade é que as peças apresentam características que as diferenciam daquele, ainda que o conteúdo sim-bólico e ideológico possa ser o mesmo. Também já

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4.2. Castro Marim

A ocupação dos séculos VI e V a.C. do Castelo de Castro Marim é alvo de artigo específico neste volume.

Adianto, no entanto, que no sítio, escavado em extensão numa área de cerca de 500 m2, foi

possí-vel recolher abundante informação quer arquitec-tónica, quer do ponto de vista da cultura material, estando os séculos VI e V bem representados na longa diacronia que foi possível verificar (Fig. 14). Parece, contudo, importante acrescentar que as ocupações sidéricas da 1ª metade do 1º milénio a.n.e. foram marcadas pelas relações estabelecidas entre este sítio e o mundo fenício ocidental e o uni-verso dito tartéssico, relações materializadas num vasto espólio de características orientalizantes, que englobam importações de produtos manufactura-dos (cerâmica do Coríntio Médio, por exemplo, Ar-ruda 2003, 2005a) e alimentares envasados em ânforas oriundas área de Málaga.

O início do século VI é marcado por algum apo-geu e vitalidade, evidenciados por um conjunto de importações e de construções. Mas, no final desse

Fig. 9.– Ânfora Mañá Pascoal A4 (11.2.1.4.) de Neves II

(segundo Maia 1988). Fig. 10.– Larnakes de Neves I.

cerâmica que abarca uma cronologia situada entre a segunda metade do século V e o primeiro quartel do IV (Fig. 13), sobressaindo os vasos gregos (Ar-ruda, Barros e Lopes 1998; Luís 2003; Rego et al. 1996). O grupo do século V compõe-se por taças Cástulo e o do IV incorpora, fundamentalmente, taças de verniz negro, mas as figuras vermelhas também estão presentes, decorando kilikes e

krate-res (Ibidem)

As relações entre Mértola e a foz do Guadiana, concretamente Castro Marim, e que se podem ava-liar pelos conjuntos artefactuais conhecidos de ambos sítios, são notáveis, e ganham ainda mais consistência chamando-se aqui à colação também os dados do século IV e III. Os pratos de engobe vermelho, bem como as urnas Cruz del Negro, no século VI, e a cerâmica ática, as ânforas, as cerâ-micas de tipo Kuass e os «lebrillos», dos séculos V, IV e III a.C. recuperados em Mértola (Barros, no prelo; Rego et al. 1996) e em Castro Marim (Ar-ruda 1997, 2000, 2003, 2005; Sousa 2005) revelam grandes similitudes, o que permite pensar numa re-lação intensa e mesmo na integração numa mesma entidade cultural e económica.

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tornam possível tecer ainda algumas considerações finais a propósito do papel que o rio representou na ocupação humana ao longo da sua bacia inferior.

Tendo sempre presente que os elementos que pude avaliar não correspondem à amostra total e que, por isso mesmo, reflectem uma imagem muito parcial do que terá sido essa ocupação, não posso deixar de notar, desde logo, que ficou patente a existência de uma considerável diversidade de si-tuações em termos arqueológicos, que poderá re-sultar de distintas modalidades de instalação em diferentes cenários. Mas essa diversidade dever-se-á também, certamente, à existência de padrões cul-turais diferenciados e não paralelizáveis, apesar da sua evidente sincronia.

Assim, é possível deduzir que entre a área com-preendida entre o Pulo do Lobo e a foz do Guadiana há uma unidade evidente ao longo do 1º milénio, parecendo clara a existência de uma entidade cul-tural comum, que é, aliás, partilhada também com os territórios litorais da Andaluzia Ocidental, desde Lepe até, pelo menos, à Baía de Cádiz.

Não parece, contudo, que este mundo do estuá-rio do Guadiana e da Andaluzia Ocidental, a que, pelo menos a partir da 2ª metade do V, podemos chamar turdetano, tenha extensões para montante do já referido estrangulamento do rio conhecido por Pulo do Lobo (Fig. 17), pelo menos na margem es-querda. Com efeito, a realidade detectada, durante o século VI e V a.C. na Azougada ou, mais para Norte, na Extremadura (por exemplo em Cancho Roano ou la Mata), não evidencia qualquer espécie de relação material com a foz do Guadiana, pare-cendo, porém, que o território das margens do Ar-dila se pode já integrar culturalmente na realidade do Guadiana Médio. E não me parece que essa rea-mesmo século, e à semelhança do que se passou em

muitos outros sítios ocidentais, nota-se uma redu-ção da área habitada e o cessar das importações (Arruda 2005a, 2005b, no prelo, Arruda, Freitas e Oliveira, no prelo). A crise parece instalar-se, crise que é ultrapassada em meados do século V.

Sobre os derrubes das construções erguidas no início do século VI, são edificadas novas áreas, que representam uma ruptura em relação ao urbanismo anterior. Os espólios evidenciam uma forte inte-gração no universo da Andaluzia Ocidental, sendo abundantes as importações do baixo Guadalquivir e da Baía de Cádiz (Fig. 15). A renovação urbana é acompanhada por um evidente crescimento econó-mico, sendo neste momento quase consensual que esta renovação e este crescimento devem relacio-nar-se com o re-centrar da economia da Turdetânia, explorando-se agora os recursos agrícolas e, sobre-tudo, os piscícolas.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os dados que enunciei e em parte já discuti ao longo do texto sobre os sítios do vale do Guadiana

Fig. 11.– Castro Marim e Mértola, no Baixo Guadiana.

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Fig. 15.– Cerâmicas do século V do Castelo de Castro Marim.

pação de territórios interiores, situação que me pa-rece suceder igualmente nos séculos VI e V, ainda que, neste caso, o litoral português não possa ser chamado à colação. Mas a ligação ao litoral meri-dional, que sempre se pretendeu instituir como res-ponsável pelo fenómeno do pós orientalizante extremenho, e agora também do português da mar-gem esquerda, parece-me de descartar por com-pleto, tendo em consideração as realidades que pude analisar.

As propostas que defenderam as relações entre a Extremadura e o Baixo Guadalquivir e o chamado mundo tartéssico foram construídas com base em espólios, arquitecturas e simbólicas que foram de facto elaboradas na última região, mas dois sécu-los antes, e, portanto, num outro contexto social e económico e mesmo simbólico.

Tudo indica portanto, como já referiu Maria de Belén (2005), que as situações observadas no Gua-diana Médio traduzem uma reelaboração extempo-rânea, pelas sociedades do interior, de uma estética orientalizante muito anterior e da ideologia que a suportava. Ainda de acordo com a professora de Se-vilha, trata-se da introdução retardada de uma ar-quitectura de matriz oriental, bem como de rituais e símbolos de carácter religioso. Se estas manifes-tações, como disse extemporâneas e retardadas, se podem vincular a movimentos populacionais oca-sionados pela difícil conjuntura que marcou o final de Tartessos, é uma questão a discutir em um outro contexto. De qualquer modo, o pós-orientalizante parece tratar-se de um epi fenómeno, que não tem paralelo no litoral, nem na forma nem no conteúdo, e que com esse litoral não parece estar directamente relacionado, o que não significa que não houvesse, entre as duas áreas, através ou não da via fluvial, qualquer contacto.

Mas a relação com o Guadalquivir pode efecti-vamente equacionar-se se pensarmos no Alto Gua-dalquivir e no mundo ibérico, como aliás já foi intuído para La Mata (Rodríguez Díaz e Ortiz Ro-mero 1998, Rodríguez Díaz 2004), e para o Castro da Azougada (Antunes 2005). E, de facto, é no mundo ibérico que encontramos altares em forma de lingote chipriota em contexto do século VI e V, como em El Oral (Alicante), para além do facto da cerâmica pintada, quer do Guadiana Médio, quer da Azougada, poder relacionar-se com o mundo ibérico, cujo o papel tem sido de alguma forma obs-curecido pelo protagonismo que o mundo fenício ocidental e o baixo Guadalquivir ganharam nos úl-timos 20 anos. E afinal esta não é sequer uma hi-pótese que prime pela originalidade, uma vez que é de alguma maneira o retomar de uma tese do Pro-lidade cultural se possa compreender através dos

contactos com o estuário do rio. Até porque, é bom dizer-se, o pós–orientalizante não existe aqui, ainda que o Orientalizante seja real, e nem Mértola nem Castro Marim tenham sido abandonados. Com efeito, entre os espólios dos sítios estuarinos e os dos da Extremadura e da margem esquerda do Gua-diana existem diferenças que não podem ignorar-se e que foram já indicadas nas páginas anteriores, mesmo que existam alguns objectos supra regio-nais, ou não, que coincidem, como é o caso da ce-râmica ática, ou ainda outros (taças manuais com decoração no fundo afim do tipo «Margarita» ou taças cinzentas decoradas com caneluras), que, aliás, são quase sempre apenas vestigiais. A esta si-tuação não deve ser alheio o facto da intransitabili-dade do rio no Pulo do Lobo, nunca sendo demais recordar que a Serra Morena é uma barreira física difícil de transpor.

Em 2003, justamente também em Mérida, de-fendi que a orientalização da Extremadura espa-nhola e do Alto Alentejo, plasmada por exemplo em Medellín, Palomar ou Alcazaba de Badajoz, e agora também em São Gens, poderia ser interpretada num quadro que privilegiasse o Tejo em detrimento do Guadiana (Arruda, 2005a). Esta hipótese baseava-se em evidências materiais detectadas, por exem-plo, em Medellín e Alcáçova de Santarém (Ibidem). No século VII, portanto, e na minha perspectiva, não é o rio do sul que ganha protagonismo na

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O BAIXO GUADIANA DURANTE OS SÉCULOS VIEV A.N.E

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Fig. 16.– Cerâmicas gregas do século V do Castelo de Castro Marim. 1: Taça ática de Figuras vermelhas; 2: Taça ática da classe delicada.

1

2

as relações com o mundo extremenho parecem ine-xistentes no segundo dos casos e ténues no pri-meiro.

É verdade que as tampas dos larnakes e as ca-racterísticas cultuais de Neves/Corvo parecem in-tegrar-se no universo simbólico descrito para a Extremadura, mas também é certo que a reinter-pretação dessa simbólica é aqui evidente, ainda que pressuponha algum tipo de ligação. Em Castro Verde, as relações com estuário do Guadiana pare-cem existir, até mesmo pelos tipos anfóricos repre-sentados, não sendo de descartar a possibilidade de, neste caso, as taças Castulo terem aí chegado atra-vés de Castro Marim e de Mértola. Castro Verde pode, justamente, ter funcionado como uma char-neira entre os dois territórios, que o Guadiana se-parou, mais do que aproximou. E essa separação é também evidente em outras áreas. Com efeito, a margem direita do Guadiana é quase um deserto no que à ocupação da 1ª metade do 1º milénio diz res-peito, entre Mértola e o limite Sul do regolfo do Al-queva, bem como aliás a esquerda, entre o Pulo do Lobo e o Estuário

Já atrás fiz referência, que uma idêntica situação pode ser rastreada no Alentejo Central, onde o denso povoamento rural da margem direita não tem paralelo a Este, faltando por completo, na Extre-madura, os pequenos sítios vinculados à actividade agrícola dos séculos VII e VI a.C. que foram iden-tificados na área do Alqueva e na serra d’Ossa.

Durante a 1ª metade do 1º milénio a.C., o rio Guadiana parece ter-se constituído mais como uma fronteira, do que propriamente como um elemento estruturante dos territórios das duas margens. E o que ressalta dos dados actualmente disponíveis é a grande diversidade de situações na ocupação dos vários espaços que o rio moldou.

Naturalmente que a «regionalização», cultural, religiosa, social, e talvez mesmo política, não sig-nifica, muito pelo contrário, que os grupos sociais estejam virados exclusivamente sobre si próprios, alheados dos restantes que vivem em áreas mais ou menos próximas. Como parece evidente, os con-tactos inter-regionais e até os de longa distância existiram, com maior ou menor intensidade. O que se pretende negar é a existência de unidades políti-cas e sociais amplas, formatadas em unicidades que, do meu ponto de vista, os dados arqueológi-cos não permitem ler. As diversas unidades de pai-sagem que a geografia permite definir no Baixo Guadiana corresponderão a distintas unidades ter-ritoriais, onde diferentes grupos sociais estão ins-talados, ainda que a todos eles esteja subjacente uma matriz mediterrânea comum.

fessor Maluquer Motes, a famosa «Rota dos San-tuários» que tentava explicar a presença das cerâ-micas áticas dos séculos V e IV do interior através de uma percurso que, tendo início na região valen-ciana, atravessava o mundo ibérico pelos rios Jucar e pelo Alto Guadiana, ou, alternativamente, come-çada na região alicantina, penetrando pelo Segura e alcançando o Alto Guadalquivir pelo Guadilamar (Maluquer 1981).

Na margem direita, no interior alentejano, as realidades de Castro Verde e de Ourique podem ser equacionadas em outros termos. Se é verdade que, à semelhança do que se passa na margem esquerda e no Guadiana Médio, ambas terminam nos finais do século V (ainda que em Ourique possa haver prolongamento esporádico até ao III), também pa-rece certo que a estrutura funcional é diversa. Mas

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O BAIXO GUADIANA DURANTE OS SÉCULOS VIEV A.N.E

Imagem

Fig. 2.– O regolfo do Alqueva.
Fig. 3.– 1.- A ocupação proto-histórica do Guadiana na área do Alqueva. 1: Rocha do Vigio-2; 2: Monte do Outeiro;
Fig. 4.– Espólio cerâmico de São Gens (segundo Mata- Mata-loto 2004).
Fig. 5.– O «Castro» da azougada visto do Ardila (segundo Antunes, 2005).
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