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Espaços do passado como solução do presente

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Academic year: 2021

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ESPAÇOS DO PASSADO COMO SOLUÇÃO DO PRESENTE

RECONVERSÃO E REABILITAÇÃO DO MONTE DO PEREIRO

EM HOTEL RURAL E ESTÂNCIA TERMAL E SPA

Ana Catarina Gamito Trigueiro

(Licenciada)

Projeto elaborado para a obtenção do Grau de Mestre em Arquitetura

Orientação Científica:

Professora Doutora Margarida Louro

Professor Doutor Francisco Oliveira

Júri:

Presidente: Prof. Doutor Paulo Almeida

Arguente: Prof. Doutor Ricardo Silva Pinto

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TÍTULO ESPAÇOS DO PASSADO COMO SOLUÇÃO DO PRESENTE

SUBTÍTULO Reconversão e Reabilitação do Monte do Pereiro em Hotel Rural e Estância Termal e SPA. DISCENTE Ana Catarina Gamito Trigueiro

ORIENTADORA Professora Doutora Margarida Louro ORIENTADOR Professor Doutor Francisco Oliveira

RESUMO

As estruturas agrícolas designadas pelos alentejanos de “montes” desempenharam um forte papel no desenvolvimento demográfico e agrícola do território além do Tejo, incluindo o concelho de Marvão. A Herdade do Pereiro foi das mais importantes devido à sua componente industrial em complemento à produção agrícola.

O projeto desenvolvido apresenta uma possível solução de reabilitação do conjunto edificado da aldeia e termas da Herdade do Pereiro, como unidades de funcionamento autónomo ou conjunto, cuja identidade e memória do lugar transparecem um forte significado para a construção funcional, concetual e programática do Hotel Rural e das Termas e SPA. A identificação dos elementos primários e estruturantes serviu de base para o desenvolvimento das restantes fases de planeamento e desenho.

A agricultura biológica e a exploração das águas termais da Fadagosa surgem como essência concetual para o funcionamento dos vários empreendimentos turísticos propostos, onde a procura do bem-estar físico e emocional, em contacto direto com o meio ambiente do Parque Natural da Serra de São Mamede, proporcionam ao visitante uma sensação de relaxamento e entrega à sua paz interior, distante de todas as confusões e stresses do quotidiano.

PALAVRAS-CHAVE

Marvão | Turismo Rural | Termas e SPA | Reabilitação | Memória

Mestrado Integrado em Arquitetura

Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa Lisboa, Dezembro de 2017.

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TITLE SPACES FROM THE PAST AS A SOLUTION TO THE PRESENTE

SUBTITLE Reconvertion and Rehabilitation of Monte do Pereiro to Rural Hotel and Thermal Baths and SPA.

STUDENT Ana Catarina Gamito Trigueiro ADVISOR Professora Doutora Margarida Louro ADVISOR Professor Doutor Francisco Oliveira

ABSTRACT

The agricultural structures called by alentejanos of “montes” played an important role in the demographic and agricultural development of the territory beyond the river Tejo, including the Council of Marvão. The Herdade do Pereiro was one of the most important, justified thtrough its industrial component in addiction to agricultural prodution.

The project developed presents a possible solution to rehabilitate the built complex of the village and termal baths of the Herdade do Pereiro, to be explored individually or as a partners, whose identity and memory of the place is being used as a strong meaning for the functional, concetual and programmatic construction of the Rural Hotel and the Termal Baths and SPA.

Organic farming and the exploration of the Fadagosa thermal waters appear as a concetual essence for the business performance of the several tourist developments, where physical and emotional well-being, in connection with the environment of “Serra de São Mamede Natural Park, provide to the visitor the feeling of relaxation and dedication to himself, away from all the confusions and stresses of everyday life.

KEY WORDS

Marvão | Rural Tourism | Thermal SPA | Rehabilitation | Memory

Master in Architecture

Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa Lisboa, December 2017.

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AGRADECIMENTOS

Concluir esta nova etapa significa para mim um passo muito importante na vida. A ambição de chegar ao fim do curso de Mestrado Integrado de Arquitetura manifestou-se em mim desde muito nova. Desde o ensino básico que a paixão pela arte de desenhar o espaço acentuava a força necessária para continuar a estudar, sempre dando o meu melhor. Contudo, não poderia deixar de agradecer a todos aqueles que fizeram parte do meu percurso. Sendo impossível mencionar todos os que gostaria, agradeço com maior destaque:

À minha família e amigos, que me deram uma força inigualável para superar todos os momentos mais difíceis, e que estiveram ao meu lado para celebrar as vitórias e conquistas felizes;

À minha prima Natércia Fernandes e tios Maria José Fernandes e João Fernandes por me terem dado a conhecer a Herdade e por todo o carinho e prontidão em receber-me nas suas casas sempre que precisei de trabalhar no local;

Ao Sr. Daniel Sequeira, proprietário da herdade, por toda a sua amabilidade e simpatia, bem como todo o cuidado que teve em disponibilizar o máximo de informação possível, que permitiu agilizar a execução do projeto;

Ao Sr. Manuel Seco pelo tempo disponibilizado, toda a sua amabilidade e conhecimentos partilhados; Ao Sr. João Sequeira e ao Dr. José Caldeira por todo o apoio prestado e informação disponibilizada;

Ao Sr. Presidente da Câmara Municipal de Marvão, Exmo. Victor Frutuoso, pelo tempo disponibilizado para me dar a entender quais as suas perspetivas da Câmara Municipal relativamente à Herdade do Pereiro;

Á Emília Mena (mais conhecida como Mila) pelo empréstimo de um livro antiquíssimo, cuja pertença se encontra na sua posse;

À Ana Lúcia, funcionária do Arquivo Municipal da Câmara Municipal de Marvão, por ter sido tão prestável na pesquisa de referências histórias do Concelho e da Herdade;

A todos os professores que fizeram parte do meu percurso académico, com destaque para a Professora Carla Caroça, que para além de professora, foi sempre uma amiga;

Ao Professor Miguel Batista Bastos e Pedro Rodrigues pelos seus comentários construtivos no acompanhamento do Projeto Final de Mestrado;

À Arquiteta Catarina Pinto, pela formação, atenção, disponibilidade e compreensão durante o período de estágio no seu atelier (Terrapalha), de modo a que fosse possível a conciliação do mesmo com a execução do Projeto Final de Mestrado;

E, por último, um forte agradecimento aos meus orientadores, Professora Margarida Louro e Professor Francisco Oliveira, pela qualidade da orientação conjunta e por terem sido tão atenciosos e sempre disponíveis.

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO ________________________________________ 3

ESTADO DA ARTE _____________________________________ 7

I | ANÁLISE DO TERRITÓRIO ___________________________ 11

1.1. LOCALIZAÇÃO E ENQUADRAMENTO DO TERRITÓRIO ________________________ 11 1.2. ENQUADRAMENTO HISTÓRICO E CULTURAL _______________________________ 12 1.2.1. Contextualização. O Concelho e a Herdade. __________________________ 12 1.2.2. Potencial Turístico do Concelho ____________________________________ 13 1.3. DOCUMENTOS REGULAMENTARES _______________________________________ 15 1.3.1. PDM | Plano Diretor Municipal ____________________________________ 15 1.3.2. POPNSSM | Plano de Ordenamento do Parque Natural da Serra de São Mamede _____________________________________________________________ 16 1.3.3. Legislação Relativa ao Alojamento Turístico __________________________ 17

II | O LUGAR ________________________________________ 19

2.1. CONTEXTUALIZAÇÃO ___________________________________________________ 19 2.1.1. Estância Termal da Fadagosa | Enquadramento Histórico _______________ 19 2.1.2. As Águas da Fadagosa | Caracterização _____________________________ 22 2.1.3. Aldeia da Herdade do Pereiro | Enquadramento Histórico________________ 22 2.1.4. Aldeia e Termas da Herdade do Pereiro | Enquadramento Funcional Síntese 25

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III | O PROJETO _____________________________________ 31

3.1. CONSTRUÇÃO DO PROGRAMA ____________________________________________31 3.1.1. Projetos de Referência ___________________________________________31 3.1.2. A Importância do Turismo no Alentejo ________________________________32 3.1.3. Pressupostos de Intervenção ______________________________________33 3.1.4. Conceitos e Termos | Definições ____________________________________34 3.2. O PROJETO URBANO ____________________________________________________35 3.2.1. Elementos Primários e Estruturantes ________________________________35 3.2.2. O Desenho Urbano ______________________________________________39 3.2.3. Estratégia de Seleção do Edificado __________________________________44 3.3. PROPOSTA DO EDIFICADO _______________________________________________45 3.3.1. Conteúdos Programáticos _________________________________________45 3.3.2. Diretrizes da Intervenção __________________________________________47 3.3.3. Materialidades e Estratégia Construtiva ______________________________49

VI | CONSIDERAÇÕES FINAIS ________________________ 53

VII | BIBLIOGRAFIA __________________________________ 55

VIII | ANEXOS_______________________________________ 59

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INTRODUÇÃO

“that spirit which is given only by the hand and the eye of the workman,

can never be recalled. (…) If you copy what is left, (…) how is the new work better than the old? There was yet in the old some life, some mysterious suggestion of what it had been, and of what is had lost; some sweetness in the gente lines which rain and sun had wrought. There can be none in the brute hardness of the new carving.”

John Ruskin, 1849

A problemática de requalificação do património tem sido das temáticas mais debatidas a nível mundial desde a primeira metade do século XX. Em 1933 foi publicado o primeiro documento que apresenta as conclusões do CIAM (Congresso Internacional de Arquitetura Moderna), denominado de Carta de Atenas, precisamente por ter sido essa a cidade anfitriã do respetivo congresso. Este documento apresenta a necessidade de reflexão acerca da arquitetura moderna e respetivas problemáticas, e ao mesmo tempo, manifesta-se como uma apresentação de um conjunto de regras éticas para a atuação em diferentes contextos. “La muerte, que no perdona a ser vivo alguno, alcanza también a las obras de los hombres. Entre los testimonios del pasado hay que saber reconocer y discriminar los que siguen aún com plena vida. No todo el pasado tiene derecho a ser perenne por definición; hay que escoger sabiamente lo que se debe respetar.” (Le Corbusier, Principios de Urbanismo – p. 104 – Tradução de Juan-Ramón Capella). Foi das primeiras vezes que o Património Histórico e das Cidades foi apresentado como um assunto de extrema relevância, onde é urgente a necessidade de identificar os princípios para intervir sob património existente e quais as razões que podem levar a alterar as condições atuais em que se encontram.

No âmbito da requalificação do património está contemplada uma área mais restrita designada de património rural. A desertificação e o despovoamento fazem parte de uma realidade dura de enfrentar por uma minoria que ainda hoje tenta dar algum significado ao que outrora sustentou um país. O património rural, onde parte do mesmo já atingiu a classificação de ruína, fez parte de um passado que agora se encontra incessantemente à procura de uma nova função, um novo futuro.

O abandono destes territórios é uma das causas de sofrimento daqueles que por lá passam e relembram os momentos de alegria, de partilha, de convívio, de um estilo de vida que a “geração da cidade” muitas das vezes desconhece. Segundo Fernando Távora, a arquitetura, diz-se, difere fundamentalmente da escultura pela criação de espaço interno, espaço que deve ser vivido, percorrido, para apreensão total do edifício (…) (in Da Organização do Espaço, p. 15), que de acordo com a realidade atual acaba por provocar questões incoerentes, quando deparados com a necessidade real de reabilitar ou reconstruir património abandonado (espaços que não estão a ser vividos). Para os arquitetos do nosso século, a ação de (re)habilitar ou (re)construir deve ser interpretada como o grande desafio atual. Conhecer, analisar, estudar, e

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reinterpretar o que presentemente faz apenas parte do passado e que poderá ser uma solução para o futuro, de acordo com as necessidades atuais de um município ou de um programa nacional ou internacional.

Com efeito, analisar e teorizar o contexto destes pequenos povoamentos reflete a visão atual de desenvolvimento do Turismo de Portugal. Segundo o plano que define as estratégias de turismo até 2027, o oitavo objetivo é “Assegurar a preservação e a valorização económica sustentável do património cultural e natural”, cuja intenção do presente projeto vai de encontro ao mesmo, pois de acordo com a Planta de Ordenamento do Território do Plano Diretor Municipal de Marvão, as Termas da Fadagosa e a Aldeia do Pereiro são considerados como “outros espaços culturais”.

A procura do território português como destino de eleição para períodos de férias tem vindo a aumentar cada vez mais. O património natural em união com o património edificado encontra-se em perfeita sintonia, razão pela qual muitos turistas estrangeiros e nacionais procuram despender os seus tempos de descanso nestas áreas mais afastadas das grandes metrópoles.

O Alentejo é altamente reconhecido pela sua capacidade de proporcionar a todos aqueles que o visitam uma conexão autêntica com a natureza. O “silêncio” ensurdecedor do meio natural proporciona ao expectador uma sensação de tranquilidade e paz interior que dificilmente se encontra nos grandes centros urbanos.

O trabalho desenvolvido apresenta uma possível solução para a Aldeia da Herdade do Pereiro e as Termas da Fadagosa, localizados em pleno Alto Alentejo e Parque Natural da Serra de São Mamede, no município de Marvão. O projeto de arquitetura visa a construção do conceito de Mente, Saúde e Bem-Estar, focado na procura do autêntico e da cura espiritual.

Tendo por base a história do local, a análise de projetos de referência e planos estratégicos de diversas entidades para a década seguinte (Turismo de Portugal, CIMA), assim como também a auscultação de várias entidades singulares e públicas, estabeleceu-se como principais objetivos de intervenção:

Encontrar uma possível solução funcional para o conjunto edificado da Aldeia do Pereiro e das Termas da Fadagosa, assente no respetivo valor patrimonial e histórico.

Reavivar o passado não é pressionar um botão e fazê-lo acontecer de novo, reavivar o passado é entendê-lo, estudá-lo, analisar o presente e utilizar o poder da adaptação. É nesta perspetiva que se pretende desenvolver o projeto de reabilitação da Aldeia da Herdade do Pereiro e das Termas da Fadagosa. Entender o passado e perceber aquilo que as descontinuidades não permitem percecionar a “olho nu”, para que o projeto, objeto de uma possível solução para o futuro, consiga espelhar o passado, rico em históricas, tradições, costumes, vivências, hábitos, entre outros.

Desenvolver um projeto de arquitetura que se desenvolva em torno de três conceitos: Saúde, Mente e Bem-Estar.

A Herdade do Pereiro apresenta excelentes e únicas condições para alojar um espaço de turismo rural ligado ao turismo de saúde e natureza. A estância termal é um elemento arquitetónico fulcral, onde os seus visitantes poderão desfrutar de toda uma envolvência autêntica, simples, natural e harmoniosa, e ao mesmo tempo, de

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um espaço que apresenta uma vasta gama de serviços que complementam o processo de relaxamento, assim como também a cura de algumas malicias, através das propriedades termais das águas da Fadagosa.

Preservar a relação com a natureza, não só no seu ambiente original, como no artificial.

Em contacto com a natureza, o ser humano consegue muito mais facilmente encontrar tranquilidade. Os espaços que estabelecem uma relação com o meio natural envolvente possuem um forte potencial quanto à sua capacidade de proporcionar uma sensação de bem-estar a quem o usufrui. Deste modo, os espaços interiores deverão, sempre que possível, procura esta relação.

O presente trabalho assenta sob uma estrutura de projeto teórico prático, onde a componente teórica será utilizada como base de fundamento à parte prática.

Num primeiro capítulo, em “Análise do Território”, inclui-se toda a informação e respetiva análise que procura inserir o local de intervenção num contexto de escala municipal, incluindo a contextualização histórica; a rede de atração turística do Município Marvanense; a análise de um conjunto de fatores climáticos, morfológicos e hidrográficos, que numa fase posterior terão um impacto direto no projeto de arquitetura; e por último, uma análise de diversos documentos regulamentares, que resultam no destaque de alguns pontos relevantes para o trabalho. Posteriormente, e ainda na parte de análise, é referida a história da Aldeia e das Termas da Fadagosa da Herdade do Pereiro. Todo um conjunto de vivências, costumes e tradições que deram sentido ao que hoje encontramos num pleno estado de abandono.

A fase de projeto propriamente dita tem início no terceiro capítulo, com a apresentação dos resultados da análise dos projetos de referência, cujos detalhes se encontram nos anexos I. Segue-se todo um conjunto de ferramentas que nos levam finalmente à construção do programa e respetivos pressupostos de intervenção.

Com todos os conteúdos de investigação organizados numa lógica de otimização da sua utilidade, segue-se a conceção de projeto com a identificação dos elementos primários e estruturantes do desenho urbano da Herdade, partindo então ao encontro de uma solução. Finalmente, são escolhidos alguns edifícios considerados relevantes para a demonstração das intenções de projeto. A fase de projeto é finalizada com o desenho de pormenores construtivos e detalhe das materialidades.

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ESTADO DA ARTE

A intervenção no património rural e cultural conduz a uma reflexão ponderada e à necessidade de compreender a importância e o significado de alterar o pré-existente, a ruína. Conservação, reabilitação e memória, são alguns dos conceitos diretamente ligados a este género de intervenções. Os lugares têm memória? Como se chega a tal julgamento? Qual a importância de perceber e reinterpretar o existente? Porque devem os edifícios históricos ou contemporâneos ser conservados ou reabilitados? Quais os motivos que validam a sua reabilitação? O que leva a ponderar a reabilitação em detrimento da demolição? São infinitas as questões que se levantam e inúmeras as possíveis conclusões.

A conservação1 do património é um dos temas bastante refletido desde o início do século XIX, preocupação emergente resultante de um crescimento exponencial dos aglomerados urbanos, primeiramente mais na Europa, mas rapidamente se espalhou por todo o mundo.

A partir do último terço do século XVIII, com o fervilhar de um dos acontecimentos que mais marcou a história da humanidade, o início da 1ª revolução industrial, foi permitido ao Homem dar um grande salto no conhecimento, impossibilitando o crescimento gradual das cidades a par com as grandes indústrias. “Passa-se, por vezes brutalmente, mas quase sempre através de transições lentas e dificilmente captadas, do velho mundo rural para o das cidades “tentaculares”, do trabalho manual para a máquina-ferramenta, da oficina ou da manufatura para a fábrica. (…). Pouco a pouco, todos os domínios da vida são atingidos e transformados: trabalho quotidiano, mentalidades e culturas. (Rioux, 1996). O início desta grande mudança da sociedade contemporânea originou o crescimento vertiginoso dos aglomerados urbanos (que) acarretou perigos que o entusiasmo inicial não deixara prever. Pequenas vilas e cidades transformavam-se desordenadamente em grandes centros industriais, e algumas conheciam extensões inconcebíveis. (Amaral, 1942) Esta mudança descontrolada deu origem a diversos movimentos que cada vez mais demonstravam preocupações em preservar o existente, para que toda uma realidade “atual” não destruísse o que ainda havia sido construído no tempo em que, segundo Francisco Keil Amaral, a dimensão económica não determinava a qualidade dos materiais utilizados nos edifícios.

Diversos autores defendem que as primeiras preocupações com a conservação do património remontam à Revolução Francesa em 1789, quando se verificou o desaparecimento e a acelerada degradação, por vandalismo humano, mas também, em alguns monumentos, por vandalismo de Estado, de muitas obras de artes e monumentos. (Aguiar, 2002).

Durante a primeira metade do século XX é elaborado um documento em torno da temática da conservação, designado Cartas de Atenas (1931), escrito com a finalidade de homogeneizar as diferenças entre as várias culturas e tradições de todo o mundo, produto do IV

1 “O termo conservação engloba todo o conjunto de ações destinadas a prolongar o tempo de vida duma dada

edificação histórica. Trata-se de uma designação de espectro alargado que pode englobar um ou vários dos conceitos seguintes (manutenção, reparação, restauro, reabilitação, reconstrução), (…). Cada um desses conceitos corresponde a um tipo de intervenção progressivamente maior, (…).” ((LNEC), 1990)

Conservação

Revolução Industrial

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Congresso Internacional de Arquitetura Moderna (CIAM). Atualmente, é um dos documentos de referência para qualquer pesquisa relacionada com a intervenção no património existente.

Contudo, a temática da conservação não se limita ao património histórico. Em pleno século XX, Bernard Tschumi publica um cartaz bastante controverso, onde estão implícitas as questões de conservação do património mais recente, como a Villa Savoye de Le Corbusier. Tschumi defende “Architecture only survives where it negates the form that society expects of it. Where it negates itself by transgressing the limits that history has set for it.” (Cunningham, 1998) O conjunto edificado da Herdade do Pereiro e das Termas da Fadagosa são exemplo do processo de abandono a que foram sujeitas inúmeras construções durante o século XX, e, que atualmente necessitam de reabilitação, que de acordo com o relatório do LNEC de 1990, reabilitação é o conjunto de operações destinado a aumentar os níveis de qualidade dum edifício, por forma a atingir a conformidade com exigências funcionais mais severas do que aquelas para as quais o edifício foi concebido. A reabilitação é utilizada sempre que se pretenda adaptar o edifício para uma utilização diferente daquela para que foi concebido ou, simplesmente, torna-lo utilizável de acordo com os padrões actuais.

Porém, intervir no existente, independentemente da sua época construtiva, invoca uma série de questões diretamente relacionadas com a memória.

São imensos os pensadores que refletiram e estudaram este tema, cada um formulando as suas próprias teorias. Walter Benjamin chega à conclusão de que nada daquilo que alguma vez aconteceu deve ser considerado como perdido para a história (Benjamin, 1992). Quem projeta o passado para o presente, fá-lo através da narração (seja esta sob a forma de escrita, construída, escultura ou pintura), independentemente da grandiosidade do acontecimento, feito ou simplesmente, o ato de viver insignificantemente. Os trabalhadores do Pereiro que já morreram, serão, na sua grande maioria personalidades anónimas que contribuíram para um grande feito, onde o personagem principal, João Nunes Sequeira, será aquele que acabará por ficar para sempre na memória da “terra”.

A arquitetura pode ser designada por um conjunto de formas que passa a ter valor e reconhecimento quando é capaz de responder ao propósito para a qual foi concebida, e quando o momento em que esse mesmo sentido perder a sua vicissitude, o construído deve ser capaz de superar as barreiras temporais e adaptar-se a uma nova função. Cada edifício possui o seu próprio ciclo de vida, desde que é construído; à sua utilização; até à fase em que deixa de ser capaz de responder às necessidades para o qual foi concebido, seja por motivos de degradação física ou por desadequação do conteúdo programático. Deste modo, deixa de ser utilizado e acaba por estar destinado a uma das seguintes opções: ser reabilitado para um novo fim ou prosseguir para a ação de demolição. Quando é tomada esta última decisão, dá-se então o fim do ciclo de vida de um edifício. Porém, a tomada da decisão mais invasiva e com uma forte capacidade de transformar o existente – a demolição – incorpora a análise profunda das questões relacionadas com a memória e o estado físico do imóvel.

Uma das hipóteses de abordagem sob o existente, tendo por base a memória no contexto contemporâneo da criação arquitetónica e urbana, assenta sob três premissas fundamentais: a memória e o sentido mítico, como inaugural na associação entre memória e criação; a memória como faculdade, no enquadramento psicológico da afirmação de existência; Fig. 1 | Publicidade de Arquitetura, 1976. Da

autoria de Bernard Tschumi.

Reabilitação

Memória

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e, a memória e reminiscência, pela consciência criativa e valorativa (Louro, 2009). Segundo Margarida Louro, os aspetos referidos previamente, entre outros que a autora explica no seu livro Memória da Cidade Destruída: Lisboa / Chiado – Berlim – Saravejo, são os necessários para estabelecer uma reflexão entre memória e o existente.

Na relação entre memória e arquitetura, a autora referenciada previamente enquadra a análise contemporânea com base na adição de um terceiro conceito – a história – que em conjunto com memória e arquitetura centram a problemática da situação pós-moderna estabelecida pela inclusão simultânea das diversidades ao nível dos (diferentes) pontos de vista (Louro, 2009). A oposição entre tradicional e moderno deparam-se com questões sob o modo de intervenção nas cidades contemporâneas, com bases de pensamento e atuação totalmente distintos, em que na cultura tradicional a produção (encontra-se) ligada a um sentido de longevidade, ao contrário da cultura modernista, destinada a um consumo rápido e imediato (Louro, 2009). Esta relação resulta na criação de dois mundos totalmente distintos um do outro, que coabitam na mesma base, assente no mesmo contexto temporal, mas com maneiras de pensar e agir totalmente distintas.

A dicotomia entre dois mundos aparentemente distintos mas verdadeiramente uníssonos resultam numa crise onde se valoriza a continuidade dos valores como universais, e o abandono de diretrizes absolutas (Louro, 2009), que apesar de tanta reflexão e debate com o objetivo de tentar perceber se algumas das linhas de pensamento poderá estar mais correta que a outra (ingloriamente conseguida devido à essência base do ser humano, causar divergência de modo a fazer a sua ideia prevalecer), acabarão sempre com a certeza de que A história não é todo o passado, mas também não é tudo aquilo que resta do passado. Ou, se o quisermos, ao lado de uma história escrita, há uma história viva que se perpetua ou se renova através do tempo e onde é possível encontrar um grande número dessas correntes antigas que haviam desaparecido somente na aparência. Se não fosse assim, teríamos nós o direito de falar em memória, e que serviço poderiam nos prestar quadros que subsistiram apenas em estado de informações históricas, impessoais e despojadas? (Halbwachs, 1990)

Segundo Maurice Halbwachs, trazer a história para o presente, permitindo que ela não se desvaneça na memória daqueles que a presenciaram ou viveram, pode ser feito de duas formas: a história que quiser tratar dos detalhes dos fatos, torna-se erudita e a erudição é a condição de apenas uma minoria. Se ela se limita, ao contrário, a conservar a imagem do passado que possa ainda ter o seu lugar na memória coletiva de hoje, ela apenas retém dela aquilo que ainda interessa às nossas sociedades (…) (Halbwachs, 1990).

Memória Coletiva é um conceito que deve ser compreendido quando se aborda a memória como forma de intervenção sob o existente. É uma corrente de pensamento contínuo, de uma continuidade que nada tem de artificial, já que retém do passado somente, aquilo que ainda está vivo ou capaz de viver na consciência do grupo que a mantém. (Halbwachs, 1990).

Talvez a incoerência entre as linhas de pensamento tradicional e moderno transpareçam para a atualidade por coexistir um grupo de pessoas para o qual a memória coletiva de um determinado monumento, edifício ou objeto continuem a fazer sentido nas suas consciências. Para outros, essa memória coletiva perdeu o seu valor e consequentemente, a necessidade de ser transposta para as gerações seguintes.

História

Tradicional / Moderno

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O núcleo edificado da Herdade do Pereiro, apesar de estar abandonado há algumas décadas, continua a permanecer na memória de muitos cidadãos do município de Marvão através da ligação a João Nunes Sequeira e a todo um desenvolvimento urbano e industrial, sobretudo na freguesia de Santo António das Areias. A evolução urbana e demográfica do concelho durante o século XX ficará para sempre registada para o futuro através da herança edificada. A influência da Herdade do Pereiro na história do concelho permanecerá para sempre como memória coletiva, podendo esta não ter registos escritos mas sim arquitetónicos.

Quando se coloca a hipótese de reabilitação de ambos os núcleos edificados da herdade – aldeia e termas – surge a questão de como adaptar os espaços a novas funções sem nunca colocar em risco a identidade do lugar e a sua autenticidade.

O aqui e agora do original constitui o conceito da sua autenticidade. (Benjamin, 1992). Porém, esta teoria incorpora uma necessidade de refutação, justificada pela impossibilidade de reabilitação do edificado através da manutenção total do existente. A arquitetura, como ferramenta e conhecimento base que sustentem todas as alterações propostas, deverá mantar a traça arquitetónica do existente em todas as modificações de fachadas ou desenho do espaço exterior. Assim, o tempo de vida do edificado sofrerá um aumento acentuado, permitindo trazer nova vida aos espaços que chegaram ao estado de ruína.

Torna-se relevante na presente intervenção o estudo do conceito genius loci, que segundo Christian Norberg-Schulz, estabelece a relação entre lugar e identidade associados ao estudo das características socioculturais, tradições e hábitos de um povo. A identidade das termas e da aldeia representam o seu sentido de existência no tempo, que marcam o presente através da sua herança edificada e da memória de algumas das pessoas que vivenciaram o lugar durante o seu funcionamento, e consequentemente, fizeram parte da construção do genius loci da herdade.

O estudo do território manifesta-se como uma ferramenta essencial para a intervenção no mesmo, assim como também a perceção das tendências atuais de investimento. O turismo apresenta-se cada vez mais como uma ferramenta importante para o desenvolvimento económico do território. De acordo com o relatório onde estão explicitadas as estratégias de turismo até 2027, o turismo em Portugal é o principal motor da economia e os resultados obtidos em 2016 vêm confirmar a importância de um forte investimento e de um trabalho articulado entre entidades públicas e privadas, iniciado há mais de uma década. (Turismo de Portugal, 2017). O presente projeto, para além da reflexão em torno dos conceitos referidos previamente no presente capítulo, apresenta-se como o resultado de uma construção programática coerente, que pretende preservar o carácter do lugar através da continuação da exploração agrícola, em paralelo com a construção de uma estrutura hoteleira e termal, com base no edificado existente.

O Hotel Rural permitirá colmatar as falhas de alojamento turístico em pleno concelho de Marvão, e as Termas da Fadagosa, denominadas de Termas do Pereiro no presente projeto, acrescentarão valor turístico ao concelho, uma vez que já são classificadas como património cultural Marvanense.

Autenticidade

Genius Loci

Turismo / Tendências atuais

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I | ANÁLISE DO TERRITÓRIO

1.1.

LOCALIZAÇÃO E ENQUADRAMENTO DO TERRITÓRIO

O concelho de Marvão enquadra-se na zona norte do Parque Natural da Serra de S. Mamede, no extremo norte do distrito de Portalegre. Os limites concelhios são marcados sobretudo por elementos naturais como linhas de cumeada, rios e ribeiras, sendo o mais significativo o Rio Sever, que faz a divisão entre o território português e espanhol.

Marvão encontra-se fisicamente dividido em duas grandes unidades sub-regionais, onde a metade sul corresponde a um relevo bastante irregular e declive acentuado, sendo o Vale da Aramenha e a plataforma dos Alvarrões os únicos constituídos por áreas mais planas. A vertente norte do concelho, com a cota máxima de 550 metros de altitude, caracteriza-se por declives por vezes acentuados e pontualmente acentuados, mas com predomínio claro de declives moderados (entre 5% a 15%). (p. 5, PDM)

A divisão do território em duas unidades sub-regionais está associada a diferentes zonas, designadas de Serra de São Mamede e plataforma de Portalegre, representadas na figura 1, extraída do antigo Plano Diretor Municipal de Marvão.

O estudo do relevo é significativo na análise do clima, pois na maioria da região do alto Alentejo as condições climáticas variam de local para local consoante a influência do mesmo. Esta informação verifica-se sobretudo na metade sul do concelho, onde as variações climáticas são particularmente sentidas devido às características de serra, e vão diminuindo para norte à medida que a distância aumenta da mesma.

Fig. 2 | Grandes Unidades Sub-Regionais.

Fonte: Antigo PDM de Marvão; Volume I - Sistema Biofísico. Edição: da autora.

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A Herdade do Pereiro localiza-se no limite noroeste do concelho, a poucos quilómetros de distância da fronteira entre Portugal e Espanha. Caracteriza-se sobretudo por uma zona relativamente plana, de acordo com a descrição transcrita previamente relativamente à metade norte do território. É pontualmente marcada por grandes núcleos rochosos e aleatoriamente com pedras graníticas de grandes dimensões, que acabam por interromper a continuidade dos campos agrícolas. Por vezes, a influência das pedras é tal que o valor do território acaba por diminuir devido à desvalorização das características do terreno para fins agrícolas.

1.2.

ENQUADRAMENTO HISTÓRICO E CULTURAL

1.2.1. CONTEXTUALIZAÇÃO. O CONCELHO E A HERDADE.

“Marvão vê-se de Castelo de Vide mas de Marvão vê-se tudo. O viajante exagera, mas essa é justamente a impressão que sente quando ainda lá não chegou, quando vai na planície e lhe surge, de repente, agora mais perto, o morro altíssimo que parece erguer-se na vertical. A mais de oitocentos metros de altitude, Marvão lembra um daqueles mosteiros gregos do Monte Athos onde só se pode chegar metido em cestos puxados à corda, com o abismo dos pés.

Não são precisas tais aventuras. A estrada sofre para atingir o alto, são curvas e curvas num arco de círculo que rodeia a montanha mas, enfim, o visitante pode pôr pé em terra e assistir ao seu próprio triunfo.

(…) É verdade. De Marvão vê-se a terra toda (…). Compreende-se que neste lugar do alto da torre de menagem do castelo de Marvão, o viajante murmure respeitosamente: “Que grande é o mundo”.

José Saramago

O concelho de Marvão, pertencente ao distrito de Portalegre, é um dos palcos portugueses onde todos os períodos da história da humanidade marcam a sua presença. Em harmonia com a natureza, cada monumento, seja este natural ou edificado, desempenha um papel diferente, retratando infinitas histórias acerca deste território.

Consta-se que a época mais atribulada para Marvão remonta ao tempo da conquista do território português. Os conflitos eram de tal maneira frequentes que a população se via obrigada a deslocar-se para os locais mais protegidos, como a Vila de Marvão, ponto de elevado potencial defensivo devido à sua morfologia e localização. Todo o território em seu redor acabava por não ser aproveitado e consequentemente desenvolvido, acabando por ser deixado ao abandono.

Mesmo após o Tratado de Zamora, em 1143, aquando foi declarada a paz entre D. Afonso Henriques e o seu primo, Afonso VII de Leão e Castela e consequentemente declarada a independência de Portugal, a proximidade fronteiriça levou a que durante mais de um século as invasões permanecessem frequentes, dando origem a um longo período de tempo em que a Fig. 5 | Vista da entrada do Castelo de

Marvão. Data? Autor: desconhecido.

Fig. 4 | Vila de Marvão. Foto atual (2017). Autor: Rui Cunha.

Fonte: www.visitportugal.com (10.08.2017 às 11h58)

Fig. 3 | Localização. Fonte: Esquema da autora.

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população se via obrigada a “deixar os campos desertos e incultos” (in Terras de Odiana, p. 186).

Apenas durante o reinado de D. Dinis (1279-1325) foi sentido um período de paz contínuo, o que permitiu ao rei direcionar os seus esforços para a administração do território de Odiana (Região Alentejana). Finalmente, após o tratado da Paz estabelecido com Castela, começou-se a observar um lento desenvolvimento do território Marvanense, marcado pela ocupação gradual dos campos dos “termos da vila” e respetiva exploração agrícola.

Após este período de grande turbulência, é claramente visível o desenvolvimento populacional e agrícola do Concelho: “É tão íntimo o laço que une os dois termos, população e agricultura, que quase confunde e torna sinónimas as ideias que eles traduzem e representam” (in Terras de Odiana, p. 185).

É então durante o reinado de D. Afonso V que se encontra a primeira referência à atual Herdade do Pereiro, cujo nome nem sempre foi o mesmo. “O título constitutivo do aludido coutamento é datado de Santarém a 23 de Março de 1474, e passado a favor de Henrique de Albuquerque, alcaide-mor de Marvão e fidalgo da casa do Duque de Bragança D. Diogo” (in Terras de Odiana, p.205). Na carta de coutamento é referida uma Herdade do termo da vila até então conhecida pelo nome de Maria Viegas, cuja designação advém da Fonte Maria Viegas ou da Fadagosa, localizada na zona dos edifícios da estância termal.

“Dom Affonsso etc. A quamtos esta nossa carta de coutamento virem fazemos saber que amrrique dalbuquerque fidalgo da casa do duque dom diogo meu muy prezado e amado sobrinho e alcayde moor da nossa villa de maruam nos disse que elle comprara huua erdade e terra que se chama de maria viegas que era em termo da dita villa, a quall partia de huua parte com a coutada do azinhal que era do conçelho de castell de vide e hya rriba fumdo emtestar em seeuer terra de Castella.”1

1 Carta de Coutamento de 23 de Março de 1474, In Terras de Odiana, p. 205

1.2.2. POTENCIAL TURÍSTICO DO CONCELHO

Quando se aposta no desenvolvimento de projetos de grandes dimensões que implicam um financiamento de vários milhões de euros, há que justificar a respetiva viabilidade. No caso deste projeto ser real, teria de ser realizado um estudo financeiro por profissionais qualificados com o objetivo de se analisar o investimento a ser feito e o respetivo retorno a curto, médio e longo prazo, baseado nos serviços que o hotel rural e as termas e SPA poderão oferecer; na produção agrícola; vinícola; de azeite; na recolha de cortiça dos inúmeros sobreiros que se encontram espalhados por toda a Herdade; bem como na criação de programas turísticos que tenham por base a aposta no turismo rural e de natureza.

Para além dos serviços internos, que no caso particular do conjunto arquitetónico da aldeia da Herdade do Pereiro e das Termas da Fadagosa abrangem um leque de opções bastante diversificado, o Concelho de Marvão dispõe de uma oferta cultural e natural vasta e reconhecida a nível nacional.

(24)

Segundo estudos realizados em 2015, a sub-região do Alto Alentejo possuiu apenas 14,1% de dormidas em relação às restantes sub-regiões alentejanas (Lezíria do Tejo – 7,5%; Alentejo Central – 33,1%; Alentejo Litoral – 31,3% e Baixo Alentejo – 13,9%). Contudo, durante os últimos dez anos, a região do Alentejo apresentou uma taxa de aumento de dormidas por todo o território, o que demonstra um aumento significativo na procura desta zona do interior do país.

A atração turística do Concelho de Marvão deve ser suficientemente vasta visando a satisfação de diferentes interesses. O turismo rural e de saúde da Herdade do Pereiro deverá complementar a oferta que o território já possui, não só bela sua beleza natural como também pelas variadas intervenções humanas que representam os diferentes períodos da história da humanidade.

Deste modo, apresentam-se assim algumas das atrações turísticas de natureza arquitetónica mais significativas localizadas no território Marvanense e, consequentemente, em pleno Parque Natural da Serra de São Mamede:

Vila de Marvão, aglomerado urbano classificado como imóvel de interesse público;

Castelo de Marvão, classificado como Património Arquitetónico Classificado – Monumento Nacional;

Antigo Lagar e atual Museu António Picado Nunes;

Museu Municipal;

Pelourinho de Marvão, classificado como imóvel de interesse público;

Cruzeiro Manuelino, também classificado como Património Arquitetónico Classificado – Monumento Nacional;

Ponte Quinhentista, vulgarmente conhecida como Ponte Romana da Portagem, assim como também a Torre que se encontra junto à mesma. São ambas classificadas como conjunto de interesse público;

Moinhos (Engenhos) ao longo do Rio Sever, cuja maioria se encontra num estado de degradação avançado e de difícil acesso;

Cidade Romana da Ammaia, também classificada como Património Arqueológico Classificado – Monumento Nacional;

Caleiras da Escusa, antigos fornos de cal que se encontram ao abandono, colocando em risco a preservação dos mesmos devido à sua apropriação inadequada para fins agrícolas. São também classificadas como Património Arqueológico Classificado – Monumento Nacional;

Antas;

Menires;

Choças, casas que fazem parte da arquitetura vernacular marvanense, localizadas na Aldeia de Cabeçudos;

Chafurdões ou Furdões, são casas com uma forma muito semelhante às choças, mas com uma estrutura totalmente distinta, cuja função e data de Fig. 7 | Pelourinho de Marvão

Autor: Vitor Oliveira

Fonte: www.flickr.com (02.08.2017 às 09h52)

Fig. 6 | Cidade da Ammaia Autor: desconhecido

Fonte: www.visitalentejo.pt (02.08.2017 às 09h44)

Fig. 8 | Caleiras da Escusa Autor: desconhecido

Fonte: www.icnf.pt (02.08.2017 às 10h11)

Fig. 9 | Chafurdões ou furdões Autor: desconhecido

Fonte: www.cm-marvao.pai.pt (02.08.2017 às 10h17)

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construção permanece desconhecida. Existem cerca de quinze chafurdões no Concelho de Marvão;

Igreja do Calvário, localizada na parte baixa da Vila de Marvão;

Convento Nª Sra. Da Estrela, localizado à saída da Vila de Marvão e classificado como imóvel de interesse público;

Igreja do Espirito Santo, localizada em plena Vila de Marvão;

Igreja de Sta. Maria, localizada junto ao Castelo de Marvão;

Igreja de São Tiago, localizada em plena Vila de Marvão;

Para além de toda a oferta cultural edificada, o Concelho é também reconhecido pela sua beleza natural, onde os seus visitantes poderão disfrutar da tranquilidade e serenidade proporcionadas pelo meio ambiente. Exemplo disso são:

Formações geológicas relevantes, dispersas por todo o Concelho;

Uma vasta rota de trilhos, que deslumbram única e somente pela sua beleza natural. Existem documentos que se encontram disponíveis online e apresentam toda a informação acerca dos mesmos;

Praia Fluvial da Portagem, em pleno Rio Sever (afluente do Rio Tejo);

Barragem da Apartadura e respetivas zonas envolventes.

Durante todo o ano, o concelho oferece ainda uma lista de eventos bastante diversificada, dentro os quais o Festival Internacional de Música de Marvão é considerado um dos mais emblemáticos, originando a vinda de pessoas de todo o mundo única e exclusivamente para ouvir alguns dos músicos clássicos mais conceituados à escala nacional e mundial. São organizados muitos outros eventos, cujo sucesso é publicamente reconhecido, dos quais podemos destacar: a Feira da Castanha, produto típico da região; a Almossassa, feira medieval em homenagem a Ibn Maruan; as Quinzenas Gastronómicas; e, por último, o Festival Internacional de Cinema. Ao longo dos vários meses do ano são ainda organizadas festas e/ou eventos temáticos ou em homenagem a uma entidade santa, associadas a cada uma das freguesias.

É deste modo reconhecido o potencial turístico de Marvão, cuja existência vem reforçar a capacidade de criação de diversos pacotes, em complemento com o alojamento e atividades de entretenimento e lazer no Monte do Pereiro.

1.3.

DOCUMENTOS REGULAMENTARES

1.3.1. PDM | PLANO DIRETOR MUNICIPAL

De acordo com a Planta de Ordenamento do Território, as áreas edificadas da Herdade do Pereiro (aldeia e termas) são designadas como “outros espaços culturais”. Quanto à zona envolvente ao edificado, encontramos zonas com as seguintes classificações: “outros espaços agrícolas I”; “outros espaços agrícolas II”; “espaços florestais – múltiplo I”; “espaços

Fig. 10 | Ponte Quinhentista ou Ponte Romana da Portagem

Autor: Custodio Canilhas Roque

Fonte:www.alentejoterraegente.blogspot.pt (02.08.2017 às 10h22)

Fig. 11 | Praia Fluvial da Portagem em pleno Rio Sever

Autor: João Almeida

Fonte: www.amantesdeviagens.com (02.08.2017 às 10h30)

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florestais – múltiplo II”; “espaços florestais – condicionados I” e “espaços florestais – condicionados II”. No Plano Diretor Municipal encontram-se todas as definições e respetivas condicionantes associadas a cada um destes parâmetros. Existe ainda uma área a sul da propriedade identificada como zona ameaçada por cheias.

É de salientar que para efeitos de execução do Plano Diretor Municipal, o solo urbano é dividido em duas categorias: solo urbano e solo rústico. Quanto ao primeiro, deve proceder-se segundo as normas previstas no RJUE (Regime Jurídico de Urbanização e Edificação). Contudo, a Aldeia e Termas da Fadagosa da Herdade do Pereiro localizam-se em solo rústico, pelo que a execução do Plano é feita segundo planos de pormenor. Tendo em conta que não existe nenhum para esta mesma área, teria de se proceder à execução do mesmo.

Quanto à demolição de edifícios, esta é apenas permitida caso o objeto arquitetónico em questão se enquadre num dos parâmetros referidos no artigo 92º, alínea 1 do PDM.

Por último, quanto ao artigo 7º, respeitante às Áreas Classificadas, é de salientar que todo o território Marvanense faz parte do Parque Natural da Serra de São Mamede, pelo que em algumas das intervenções é necessário obter o parecer por parte da instituição responsável pela atribuição do mesmo – ICNF. As alíneas que poderão implicar alguma atenção no projeto são:

B. iii. – Destruição de muros de pedra e sua substituição por soluções não tradicionais;

B. ix. – Instalação ou ampliação de explorações de recursos hidrogeológicos, nomeadamente de águas mineromedicinais e termais, quando impliquem edificação de novas construções e ampliação das existentes.

Todos os parâmetros do Plano Diretor Municipal de Marvão que poderiam implicar diretamente na estrutura do projeto foram previamente referenciados, bem como a localização no documento completo do plano diretor de toda a informação significativa que poderá condicionar em parte algumas das intenções de projeto.

1.3.2. POPNSSM | PLANO DE ORDENAMENTO DO PARQUE NATURAL

DA SERRA DE SÃO MAMEDE

O Plano de Ordenamento do Parque Natural da Serra de São Mamede abrange parte dos municípios de Arronches, Castelo de Vide e a totalidade do município de Portalegre. Este documento visa o estabelecimento de algumas linhas de orientação para a preservação e salvaguarda de recursos e valores naturais; a fixação “dos usos e o regime de gestão a observar na execução do Plano, com vista a garantir a manutenção e a valorização das características das paisagens naturais e seminaturais e a diversidade ecológica da respetiva área de intervenção.” (in Regulamento do POPNSSM).

O capítulo III apresenta quais os níveis de proteção das diversas áreas do Parque Natural da Serra de São Mamede, ordenadas por grau decrescente relativamente ao seu nível de proteção: áreas de proteção total; áreas de proteção parcial tipo I e II e áreas de proteção complementar tipo I e II. Neste mesmo capítulo, dividido em sectores e subsectores, é descrito o âmbito de cada parâmetro e respetivos objetivos e disposições específicas.

Fig. 12 | Extrato da Planta de Ordenamento do Território do PDM de Marvão sobreposta à planta de cadastro cedida pela C. M. Marvão. Edição: da autora.

OUTROS ESPAÇOS AGRÍCOLAS Outros Espaços Agrícolas I OUTROS ESPAÇOS AGRÍCOLAS Outros Espaços Agrícolas I ESPAÇOS FLORESTAIS Condicionado I ESPAÇOS FLORESTAIS Condicionado II ESPAÇOS FLORESTAIS Múltiplo I ESPAÇOS FLORESTAIS Múltiplo II ESPAÇOS CULTURAIS Outros Espaços Culturais ZONAS INUNDÁVEIS Zonas Ameaçadas pelas Cheias

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De acordo com as plantas síntese do POPNSSM, a área da aldeia da Herdade do Pereiro e as Termas da Fadagosa são classificadas segundo dois parâmetros comuns – proteção complementar tipo I e II – sendo o elemento diferenciador a atribuição da classificação de proteção parcial tipo II à aldeia, e de área de intervenção específica cultural e patrimonial aos edifícios pertencentes ao núcleo da estância termal.

Visando a criação de um campo de atuação estrategicamente orientado no Parque Natural, estão descritos no artigo 30º quais os usos e atividades que devem prevalecer. Destacam-se aqueles que vão de encontro aos objetivos de conservação da natureza e de uma correta gestão dos recursos naturais: agricultura e pastorício; caça; pesca; extração de inertes e minérios; floresta; edificações e infraestruturas; competições desportivas; atividades recreativas; percursos; locais de estada e turismo. No seguimento, o artigo trigésimo primeiro – alínea um, recomenda a utilização do Código de Boas Práticas Agrícolas para todas as atividades que estejam relacionadas com a agricultura e pastorício.

A importância da análise do presente regulamento relativamente ao trabalho final de mestrado assenta sob a necessidade de perceber quais as condicionantes de maior relevância que poderão ter impacto direto na conceção de projeto, como por exemplo, a proibição de execução de obras de construção e ampliação de edificações para fins habitacionais, comércio ou indústrias fora das áreas urbanas e a realização de novas operações de loteamento urbano ou industrial fora das áreas urbanas. São também apresentadas quais as medidas que estão sujeitas a autorização prévia por parte da comissão diretiva do Parque Natural, tais como a construção de obras de saneamento básico.

1.3.3. LEGISLAÇÃO RELATIVA AO ALOJAMENTO TURÍSTICO

De acordo com a portaria nº309/2015, de 25 de setembro, são explicitadas quais as condições que as unidades de alojamento turístico devem cumprir para que lhes seja atribuída uma classificação, ou quando pretendido, a dispensa da mesma.

Para cada categoria são estipulados determinados requisitos obrigatórios, sendo que para obter uma classificação a unidade hoteleira deve perfazer um número total de pontos, onde está incluída a pontuação base referente às alíneas obrigatórias, assim como a adição de alguns requisitos opcionais. Alguns dos requisitos utilizados são o número de quartos e a respetiva área mínima; os equipamentos necessários para cada quarto; os equipamentos e acessórios sanitários; os serviços exigidos como a limpeza ou distribuição de comida e bebidas quando solicitado pelo cliente; entre outros.

No desenho arquitetónico do projeto para a Herdade do Pereiro deverão ser tidos em conta os parâmetros que dizem respeito às áreas mínimas e espaços obrigatórios para a classificação de cinco estrelas, assim como também quais os espaços de lazer e negócios exigidos, que podem ser consultados no anexo IV da portaria referida previamente, e anexada no presente documento de trabalho. Estes mesmos anexos são uma republicação da Portaria 327/2008, de 28 de abril com as alterações efetuadas de todas as alterações que foram surgindo ao longo do tempo.

(28)
(29)

II | O LUGAR

2.1.

CONTEXTUALIZAÇÃO

2.1.1. ESTÂNCIA TERMAL DA FADAGOSA | ENQUADRAMENTO

HISTÓRICO

“J.R., - 17 annos, solteira, de Albuquerque.

Sem antecedentes, esta mulher é de uma constituição fraca e d’um temperamento lymphatico, era portadora d’uma rhinite eczematosa.

Sob a influencia de 18 banhos e de irrigações nasaes, feitas rotineiramente com aparelho improprio, apezar d’isso viu tão modificado o seu soffrimento que ao retirar-se retirar-se considerava curada.”

D. E. P., - 22 annos, solteiro, de Merida.

Sem antecedentes conhecidos, este individuo apresentava em todo o lábio superior e nas sobrancelhas, pústulas que em breve se cobriam de crostas amarelado-escuro e que destacadas deixavam uma ulceração.

A queda dos pellos dé regiões invadidas era considerável, se bem que novos pellos viessem substituir os que tinham cahido.

Por vezes a sensação bem nítida de queimadura.

Posto o diagnostico de sycosis, foram aconselhados 15 banhos frescos e frequentes ablusões, obtendo o doente com este tratamento a cura completa das lezões de que era portador.

M. M., - 56 annos, casado, de Valencia de Alcantara.

Tendo com o tratamento n’estas thermas conseguido a cura d’um eczema plantar, este cavalheiro vem agora por gratidão e a titulo de prevenção tomar aqui alguns banhos.

- Quando já anos diz o serviço d’esta Estação termal tive occasião de observar um caso de psoríase generalizada, de que era portador um homem de meio idade e cuja pelle, totalmente coberta de escamas espessas, tinha o aspecto da de alguns reptis. Sob a influencia de alguns banhos, este homem, farto de correr instancias termaes sem resultado, pelo menos aparente, viu a pelle completamente limpa e, o que lhe causou immenso prazer e grande espanto, a funcção sudural supprimida ha anos, quasi desde o inicio do seu mal, completamente restabelecida.

Se não foi curado, esse homem afirmava, ao fim do seu tratamento, não ter colhido em thermas algumas, das muitas portugueza, hespanholas e francezas por onde há largos annos peregrinava em cata da saude, resultados tão promptos e tão

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Este homem que nos annos seguintes voltava a estas thermas, onde via as suas esperanças attendidas por um êxito crescente, faltou este anno, porventura pela mais forte das razões – a morte.

(pág. 29 e 30)

Nas citações que antecedem o presente texto estão descritos alguns dos relatos de pessoas que usufruíram das águas das termas da Fadagosa de Marvão. As propriedades termais destas águas eram de extrema importância para aqueles que sofriam de diversas malicias, sejam estas de pele, digestivas ou reumáticas. Contudo, nas análises químicas e estudos feitos chegou-se à conclusão que eram sobretudo indicadas para aqueles que sofrem de reumatismo e doenças de pele.

Não se consegue precisar a data em que estas águas começaram a ser utilizadas para fins medicinais, mas consta-se que os Romanos foram os primeiros a usufruir das mesmas, apesar de não existem certezas pois as escavações nunca foram levadas adiante. “Os relevos d’uma ou d’outra cantaria que tem aparecido nas excavações lembram o cinzel paciente e obstinado dos romanos”. Pág. 43

O primeiro registo que confirma o uso das águas desta nascente remonta ao ano de 1780, através de uma “pedra de granito faceada com a seguinte inscrição: Feita á custa do concelho, sendo Juiz de Fora o dr. José Thomaz Miranda e Costa no anno de 1780.” Pág. 43 Nos textos antigos, esta fonte é designada de Fonte Maria Viegas, devido ao primeiro nome da herdade em que a mesma se encontra.

Durante mais de um século, as termas da Fadagosa foram utilizadas com falta de condições de higiene e segurança. De acordo com relatos desse tempo, as infraestruturas de apoio existentes eram descritas como simples achacados semelhantes à forma de um poço, mas pouco profundo. Apesar de as condições não serem muitas, os resultados eram mais do que evidentes, e como tal, as águas da Fadagosa continuaram a ser utilizadas para libertar os doentes das suas malícias.

Segundo se consta, Joaquim Vicente Mouzinho foi o primeiro proprietário privado do terreno onde está localizada a nascente. Contudo, apesar de a mesma se encontrar no seu território, permitiu sempre que os doentes recorressem às águas para se puderem curar.

Durante os anos que se seguiram, surge um segundo apaixonado pelos terrenos da Fadagosa, incluindo a sua nascente. José Xavier Mouzinho da Silveira era um estadista, jurisconsulto e político português (uma das personalidades mais significativas durante a revolução liberal), e foi durante três anos consecutivos Juiz de Fora de Marvão (entre 1809 e 1912). Era proprietário de diversos terrenos em redor da Fonte Maria Viegas, pelo que desde cedo demonstrou um claro interesse em apropriar-se da área por onde emerge a água, para aí construir um estabelecimento termal. Contudo, a sua vida política extremamente atribulada levou-o a exilar-se fora do país, nunca permitindo que se focasse neste seu objetivo pessoal.

Em 1842, Joaquim Vicente Mouzinho acaba por falecer, deixando escrito no seu testamento que era intenção dele entregar o terreno em questão à câmara, assim como Fig. 14 | Termas da Fadagosa. Vista para o

jardim central e para o edifício principal. Fonte: A. Pimenta Freire, 1912, A Estação

Thermal da Fadagosa - Epoca Balnear de 1911 (Julho, Agosto e Setembro).

Fig. 15 | Um aspecto da installação das aguas medicinais de Fadagoza de Marvão (Legenda original).

Fonte: A. Pimenta Freire, 1912, A Estação

Thermal da Fadagosa - Epoca Balnear de 1911 (Julho, Agosto e Setembro).

Fig. 16 | Vista Geral da Fadagoza (tomada do Lado Norte) (Legenda Original). Fonte: A. Pimenta Freire, 1912, A Estação

Thermal da Fadagosa - Epoca Balnear de 1911 (Julho, Agosto e Setembro).

Fig. 17 | Fonte no pátio do jardim central. Fonte: A. Pimenta Freire, 1912, A Estação

Thermal da Fadagosa - Epoca Balnear de 1911 (Julho, Agosto e Setembro).

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também oito contos, na condição de que metade destes deveriam ser utilizados na construção de um abrigo para os pobres que procuravam as águas da Fadagosa. Contudo, um dos seus testamenteiros possuía uma intenção totalmente distinta: “João Mousinho d’Albuquerque, que era n’esse tempo presidente da câmara de Castelo de Vide, pretendeu que esta fosse a administradora do estabelecimento de banhos da Fadagoza” (pág. 44). Após várias contestações a este mesmo pedido, a câmara de Marvão, que tinha como presidente “o mais patriota que esta terra tem tido” (pág. 45) – Dr. Joaquim José Mattos Magalhães, conseguiu manter na posse da câmara de Marvão estas mesmas termas. João Xavier Mouzinho da Silveira ficou desapontado com todas estas decisões e decidiu dirigir um requerimento a “S. M. Rainha”, a 15 de março de 1843, a demonstrar toda a sua indignação, cujo resultado foi nulo.

Apesar das intenções do antigo proprietário terem sido as melhores, acabaram por não ser as mais benéficas para as Termas. Como propriedade pública, puderam continuar a ser usadas por todos aqueles que destas águas necessitavam. Contudo, o desleixe por parte da Câmara de Marvão no que diz respeito à manutenção destes espaços fez-se sentir da pior maneira, pois o grau de degradação atingiu um patamar tal que “A propria arca da agua medicinal, atulhada de lodo, de pedra e de hervas em petrufacção, jazia escondida a um canto d’este despreso geral, d’este abominável descaramento. Mal corria a agua, gottejava apenas!” (pág. 51).

Passadas várias décadas, em 1873, a câmara acaba por se consciencializar da necessidade urgente de realizar obras nas termas, pelo que solicitou auxílio à Junta Geral do Distrito com a intenção de se proceder à elaboração de um projeto de melhoramentos e reedificação, tarefa entrega diretamente ao Engenheiro Civil João Emygdio da Silva Dias. Apesar de todos os esforços, a câmara de Marvão não dispunha de fundos de maneio suficientes para avançar com tal projeto. Passados dez anos, com uma outra vereação, foi deliberado “que se vendesse a posse das águas e ruinas da Fadagoza”.

Durante a sessão de câmara de 4 de outubro de 1885, as termas foram concessionadas a António Mattos Magalhães, que rapidamente avançou com as obras do mesmo estabelecimento termal. Em agosto de 1886, tendo as obras começado a 15 de junho, o local já cumpria com as condições de saneamento mínimas para o seu funcionamento. Durante as obras foi descoberta uma nova nascente, com a capacidade de produção de 35 000 litros a cada vinte e quatro horas, cuja surpresa foi extremamente positiva para o atual proprietário: “Estava dissipado um dos grandes receios da empreza. A agua da antiga nascente, apesar de depois de desobstruída ter augmentado muito mais o seu volume, não seria sufficiente nem mesmo para os banhistas que a casa já comportava.” (pág. 52).

O edifício principal foi construído em dois pisos segundo uma estrutura simétrica que teve como referência base o eixo do corredor central. No piso inferior estavam localizadas as salas de tratamentos e os banhos de imersão de 1ª e 2ª classes, ambas com banheiras de pedra mármore maciça. No segundo andar foram construídos os quartos de 1ª classe e duas salas de jantar, cuja confeção das refeições era feita num edifício anexado à parte, por trás do edifício principal. Para além do anexo ser utilizado como cozinha, servia também para aquecer as águas dos banhos através de uma grande caldeira.

Fig. 19 | Edifícios de alojamento da plataforma superior, junto ao estradão de acesso às termas.

Fonte: Fotografia da autora. Dezembro 2016.

Fig. 20 | Vista para o jardim central. Fonte: Fotografia da autora. Dezembro 2016.

Fig. 18 | Exemplar original do preçário e serviços disponíveis nas Termas da Fadagosa durante o seu período de funcionamento. Fonte: A. Pimenta Freire, 1912, A Estação

Thermal da Fadagosa - Epoca Balnear de 1911 (Julho, Agosto e Setembro).

(32)

O sucesso das Termas da Fadagosa foi significativo. Consta-se que vinham pessoas de todos os pontos do país e além-fronteiras. Vinham à procura não só de tratamentos, como também de espaços de lazer onde pudessem relaxar e usufruir do agradável e belíssimo território Marvanense. Para além do estabelecimento termal, em 1893, António Mattos Magalhães mandou edificar um edifício que acabou por ser o primeiro casino licenciado em Portugal, cuja roleta ainda permanece em muito bom estado na posse de um dos filhos de João Nunes Sequeira, o Sr. João Sequeira. Em 1905, com o aumento do número de visitantes, construiu três novos edifícios destinados ao alojamento de 2ª e 3ª classes.

A 23 de Novembro de 1918 é passado um alvará de transmissão de António Mattos Magalhães a favor de Maria Teresa Fausto de Magalhães, e a 2 de outubro de 1942, João Nunes Sequeira acaba por adquirir o mesmo, apesar de as suas intenções serem um pouco distintas dos proprietários anteriores.

João Nunes Sequeira era desde 1931 o proprietário da Aldeia do Pereiro, localizada a cerca de quatrocentos metros deste conjunto termal. Apesar de inicialmente as termas terem sido utilizadas para o fim para o qual foram concebidas, passados alguns anos, os espaços de alojamento começaram a servir para receber os trabalhadores do Pereiro, que chegavam consoante a quantidade de trabalho agrícola.

As termas da Fadagosa foram oficialmente encerradas em 1971.

2.1.2. AS ÁGUAS DA FADAGOSA | CARACTERIZAÇÃO

De acordo com as análises químicas realizadas em 1891 pelo Sr. Santos e Silva, as águas da Fadagosa são classificadas como frias, hipossalinas, bicarbonatada-sódicas, sulfúricas, siliciosas e férreas. Caracterizam-se pelo seu cheiro e sabor levemente sulfuroso, que atinge a superfície com uma temperatura média de 22ºC, cujas indicações terapêuticas gerais são reumatismo; escrofulose; linfatismo; anquiloses; úlceras; doenças de pele e mucosas; doenças do estômago, fígado e intestinos; entre outras. Contudo, as águas eram especialmente indicadas para o tratamento de problemas reumáticos e doenças de pele, potencialidades demonstradas através do sucesso de diversos tratamentos que foram relatos e escritos no relatório de 1911 de A. Pimenta Freire, e transmitidos oralmente pelos frequentadores das termas.

2.1.3. ALDEIA DA HERDADE DO PEREIRO | ENQUADRAMENTO

HISTÓRICO

O Pereiro, ao contrário das Termas da Fadagosa, possui uma história relativamente mais recente. Parte do edificado da aldeia já existia quando em 1931, João Nunes Sequeira decide comprar parte da herdade em hasta pública à Caixa Geral de Depósitos. Segundo se consta, bastaram dois anos para que o custo da herdade fosse totalmente coberto pelos rendimentos que a mesma gerava. Não existe nenhum documento que comprove na totalidade a finalidade dos edifícios que já existiam na aldeia.

Fig. 21 | Vista aérea da Aldeia. Fonte: Fotografia da autora. Dezembro 2016.

Imagem

Fig. 1 | Publicidade de Arquitetura, 1976. Da  autoria de Bernard Tschumi.
Fig. 2 | Grandes Unidades Sub-Regionais.
Fig. 12 | Extrato da Planta de Ordenamento  do Território do PDM de Marvão sobreposta  à  planta  de  cadastro  cedida  pela  C
Fig. 14 | Termas da Fadagosa. Vista para o  jardim central e para o edifício principal
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Referências

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